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Territorialidades

Poéticas
PG Alencar

DADOS CATALOGRÁFICOS
De todas as cidades que falei,
era de PIO IX que eu estava a falar!

Há uma passagem de “As cidades invisíveis’, de


Ítalo Calvino, que me encanta de modo muito particular:
ao ser aprisionado pelos mongóis, Marco Polo é levado
à presença do Kublai Khan e ali, após ser advertido de
que deveria contar histórias ao Kublai até que o mesmo
bocejasse, quando então deveria se retirar, Polo começa
a contar as cidades que conhecera: cidade baixa, cidade
alta, cidade esguia, cidade isto e cidade aquilo. Uma

Prefácio
viagem descritivamente belíssima. Depois de contar
inúmeras cidades, ansiando que o Kublai bocejasse e
que, enfim, ele pudesse se retirar, Polo queda-se cansado:
“nobre Kublai, eu já vos contei todas as cidades que
conheço. Não tenho mais cidades para contar”. O Kublai,
então, retruca: “sábio Marco, tu me contastes todas as
cidades mas esquecestes de uma!”. Surpreso, Marco
Polo pergunta: “de que cidade esqueci, nobre Kublai?”,
ao que o Khan lhe responde: “De Veneza. Tu me falastes
de todas as cidades mas esquecestes Veneza!”. Marco
Polo, então, aliviado, responde: “nobre Kublai, de todas
as cidades que falei, era de Veneza que eu estava a falar.
Eu tenho os olhos de Veneza, de modo que em todas as
cidades eu enxergo Veneza”.
O PG Alencar tem algo de Marco Polo. Se a
identidade é aquilo que nos sutura à realidade, nos
conectando a um sistema de racionalidade, parece
indubitável que ele queda-se prazerosamente suturado
a sua cidade natal, PIO IX, um longínquo município do
extremo leste do Piauí, encravado no centro do polígono
das secas. Em que pese ter-se constituído agrônomo,
mestre em desenvolvimento e meio ambiente com título
obtido no Núcleo de Referência em Ciências Ambientais o menino peralta que explorava as veredas de baladeira
do Trópico Ecotonal do Nordeste e estar presentemente em punho agora vê o homem que se constituiu intelectual
desenvolvendo estudos com vistas à elaboração de sua sem perder de vista as suas raízes. E que desenvolveu, a
tese de doutoramento, o que o coloca na condição de longo dos anos, um pensamento social comprometido
interlocução com os grandes centros urbanos do país, com a humanidade lato sensu. Nisto consiste o mais
PG Alencar segue sendo o garoto de baladeira em punho belo do livro ora apresentado: nas poesias aqui contidas
singrando pelas veredas de PIO IX. pode-se ouvir o rebuliçar da vida. No presente caso, a
vida sertaneja forjada entre vivências e livros. Evoé, PG
Minha terra não tem palmeiras Alencar! Com esta leitura, ouvindo imaginariamente
Mas o sabiá canta lá sangues-de-boi e fogo-apagou cantando sob o sol
Canta bem nas laranjeiras escaldante do sertão, garimpando uma sombra aqui e
E gorjeia como cá outra acolá, eu vou brindar à vida. Evoé, PG Alencar!

E esse estar ali, manter-se embebido na cidade


natal a despeito das promissoras imagens do fora, não
é algo fácil. Mas, ao mesmo tempo, é algo visivelmente
vigoroso e portador de rara potência criadora. A poesia,
assim como a arte de modo geral, é uma das linhas
que utilizamos para nos suturarmos à realidade. E, no
presente caso, PG Alencar se apresenta como “o homem
de responsabilidade mais ampla” ao qual se refere Edwar Castelo Branco
Nietzche em Além do bem do mal: ele não esgrime a Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
sua poesia como se fosse a verdade universal. Apenas Tecnológico – CNPq.
a apresenta como a sua verdade, o seu ponto de vista Universidade Federal do Piauí – UFPI.
sobre o mundo. Se Marco Polo enxergava com os olhos
de Veneza, ele enxerga com os olhos de PIO IX.

Caatinga seca da vida


Do sertanejo, um forte
Se existe desavença
É o latifúndio da morte
Que na indústria da seca Teresina, sob a pandemia, no quase verão de 2020.
Reproduz seu passaporte
A pequena cidade do leste do Piauí que viu nascer
Eu quero apenas
Pelo sim e pelo não
Através da poesia
Expandir meu sertão
Explicar meus amores
E o poder da paixão
Exaltar os mais simples
Numa subversão
Aplacar minhas dores
Que nos versos se vão
E gerar atrevido, no leitor
Alguma reflexão
Alma de poeta

Minha alma de poeta


Mesmo calma
Nunca se aquieta
Busca um fato
Uma musa
Um lugar
Na cidade
Ou no mato
Enxergando
Muitas vezes
Com olhar enviesado

Busca nas pessoas


O que inspira
Assim como o ar
Que se respira
E no mundo

Sobre
O que revolta
Ou maravilha
Para transcrever
De dentro da alma
O sentido da vida.

a poesia
Poesia, a companheira O poeta contemporâneo

Quando ela se fez presente Muita coisa mudou, evoluiu


Eu a ignorei por humildade A tecnologia ajuda o poeta
Quando ela aflorava Que escreve no smartphone
Eu a escondia por pudor Quase um computador de mão
Guarda ideias e esboços facilmente
Joguei fora seus rabiscos
Digitadas, em áudio e até filmadas
Sem apego e amor
Quando estava perdido A tecnologia ajuda, é verdade
Ela me reencontrou Mas o corre-corre desse mundo
Sem nenhum orgulho Diminuí o tempo para escrever
Ela, a Poesia, me sussurrou As montanhas de armaduras
Estarei sempre contigo De ferro, cimento, tijolos e asfalto
Na alegria e na dor. Diminui o verde e a inspiração

A violência diminui possibilidades


De olhar, contemplar, apreciar
Sem inspiração Para degustar o mundo em volta
O trânsito caótico mina a paciência
Faz com a memória uma violência
Dá ao dia-a-dia, o amargo do fel
As letras me abandonaram
Levaram junto palavras e rimas A tecnologia ajuda, é verdade
Esvaziaram as gavetas da imaginação A linguagem é mais compreensível
Secaram minha inspiração, Mais popular, muito mais acessível
as tintas das minhas canetas Mas, de Camões a Bráulio Bessa
e as forças das pontas dos dedos Ainda é a criatividade que diferencia
Vasculhei o sertão numa procura em vão O poeta, a poesia, a arte, o artista
Nos bares da vida, na casa dos amigos
A criatividade induz a inovação
Nas curvas sendeiras da perdição
Cria, renova, inova, melhora, muda
Nas ruas, calçadas e estradas de chão Bagunça as ideias, mas dá o norte
Simplesmente sumiram sem dar satisfação É a matéria prima básica da arte
Espero que sejam apenas férias breves Tecnologia imune ao obsoletismo
E que voltem animadas pra uma reconciliação. Da pedra lascada ao teletransporte.
Versos pra que te quero Musa perfeita

De repente, aparece
Amadurece renovada
Pra vida adoçar Apaixona-me, ilude
Pra ela encantar A cada olhada
Pra conquistar Assume formas
Pro tempo passar Inesperadas
E o sono chegar
Corpo escultural
Às vezes, sei lá....
Mágica, encantada
Ao meu desejo
Pra brincar Molda-se, numa piscada
Pra exercitar De cor, sem credo
Pra homenagear Satisfaz-me, empinada
Pra esculachar
Pra tudo... Olhos furta-cor
Pra nada... De cor variada
O ângulo define
A matiz visada
Olha-me cativante
Apaixonada

Fala de tudo
Liberada
Crítica, amável
Não recatada
Sexo, amor, política
Bem despachada

Sonho antigo
Como eu queria
Renova-se bela
A cada dia
Perfeita musa
Minha poesia.
Fluxo da arte A pena do poeta1

A arte de dentro
Aflora
A arte segue o mundo O poeta pena
Afora Quando falta tinta
A arte reflete o estado Na massa cinzenta
De agora E quando na pena
Tem tinta sobrando
A arte é um caminho O poeta tá penando.
Irrestrito
A dimensão da arte Se a tinta fluir
É o infinito Constante na pena
O feio da arte
É bonito Sem faltas ou sobras
Com cores e temas
O samba não é Feliz é o poeta
Do sambista Com a vida serena.
O quadro não é
Do pintor
A cena não é
Do ator
E a arte não existe
Sem amor (pela arte)

A arte não é
Do artista
As vezes vem
Da sua dor
Trás cheiro e luz
Movimento e cor
Sem nexo
Sem sexo
Com anonimato
Ou esplendor.

1 Interconexão com a música “Pena”, de Fernando Anitelli e Maíra de


Barros . (O Teatro Mágico).
Minhas belas
A segunda chegou dona
E me fez gato e sapato
Até hoje sempre faz
Desde o início as amei De bobo, besta e palhaço
Assim que pude e enxerguei E consegue o que quer
Desde as primeiras oitivas Num dengo, beijo ou abraço.
Das palavras entorpecentes
Que fazem poetas delirantes Essas duas mandam em mim
Apaixonados e errantes De uma maneira bem delas
Uma chafurda a cabeça
Vi que estariam pra sempre A outra me põe a cela
Na minha cabeça dura e quente Vão enfeitando minha vida
Me amolecendo, me moldando A poesia e a Gabriela.
Igual fogo e solda ardente
Me fazendo feliz, amado
Me fazendo sentir gente

A poesia veio primeiro


Sem pretensão, bem singela
Depois veio a Gabriela
Num tempo que ainda jogava
A primeira na janela
E me fizeram enxergar
O quanto a vida é bela

A primeira vem e vai


Em sopros, olhares, em sons
Com se quisesse traçar
Minha vida, dar meu tom
Só depois compreendi
E aceitei esse dom
Sobre a
múltipla

territorialidade
Exílio do Sertão 2

Minha terra não tem palmeiras


Minha terra tem marmeleiros
Mas o sabiá canta lá
Com semente de montão
Canta bem nas laranjeiras
Que atraem os avoantes
E gorjeia como cá
Quando cai chuva no chão
Espantados por uns brutos
Minha terra tem juazeiros
De cartucheira na mão
Onde comem os jacus
São verdes como as palmeiras
Belos como pés de umbu
Sob eles se encontram
Se na seca tudo seca
Casas de pebas e tatus
Deixando tudo cinzento
Ficam verdes o ano todo
Basta cair uma gota
Destoando do cinzento
No nosso solo sedento
Meio triste, avarento
Que o verde logo rebrota
Da nossa mata dormente
Acabando o desalento
Volta fartura e riqueza
Minha terra tem baraúnas e aroeiras
O sertão renova-se, opulento.
Onde cantam os cabeçudos
De um canto tão bonito
Que cabra de peia safado
Arma-se com um alçapão
Para prender em gaiola
Como fosse um camburão

2 Interconexão com Canção do Exílio de Gonçalves Dias.


Os “Gringos”

No final do ano
Um dia todos vão Se tudo der certo
A estiagem longa Voltam Tonho, Laley e Zé
Exclui do Sertão O Girunga e o Preta
O agricultor e o criador O Francisco e o Chico
A falta de oportunidade Os meninos de Ulisses
Empurra os sem labor Bastião e o Bode Zé
O imaginário de riqueza
Ilude o sonhador Sonhando em voltar
Vez em quando
Nas oportunidades Para cá terram os pés
Em outros lugares O reencontro no natal
Nascem outras identidades E no forró dos “Gringos”
O Crediarista Celebram a amizade
O “Gringo” A família e a vida
O Camelô E renovam essa fé
Em São Paulo ou no Rio
Fortaleza e Castanhal
Belo Horizonte e Recife
Feira de Santana e Coxim
Aracaju ou Salvador

Nascem outros sentidos


O sentimento de lá
Conflitante ou conciliado
Com uma vontade pulsante
De sempre voltar
Um pé lá
E uma saudade cá
Cantando meu canto

Outro canto cantaria


Cada qual com o seu canto Um canto menos penoso
Cante sempre seu lugar Mas traficante de mármore
De longe canto meu canto Leva o branco leitoso
Pra saudade aliviar Exporta lá da Quixaba
A lembrança da paisagem O minério precioso.
Dá vontade de voltar

Se eu pudesse cantaria Se o canto sai diverso


Seu canto no meu cantar Sigo a pura inspiração
Mas me faltaria tempo As vezes, mais pensativo
Pra meus cantos relembrar Outras cheio de emoção
Tao bonito como o seu Sem encobrir realidade
Chega chego a arrepiar Mas sem perder afeição
Cantar o meu canto exige
Água Branca é um dos cantos Pertencer de coração.
Que me ponho a delirar
Com o seu é parecido?
Pois é lindo o seu lugar
Se é meio cinza na seca
Basta uma chuva chegar
Que o verde verdejante
Se mostra espetacular
Andanças e lembranças
Por lá se encontra um pouco de tudo
Vim d’um pé de serra de brancas águas Do suco gostoso de maracujá brabo
Das pedras que protegem os mocós Dá móvel perfeito pra nunca acabar
Das farinhadas e do tacho de queijo E o fitoterápico, que se extrai de lá
Nos bons tempos dos meus avós Das cascas, raízes, das folhas, de tudo
Andei pelas matas, cinzas e verdes O puro remédio pra os males curá
Vi a “fogo-pagou”, juritis e socós
Vi muito rezador rezando com planta
Chupei a resina de baraúna e angico Pra curar doença ou um mal olhado
Umbu verde, de vez, ou maduro Pra curar verruga e dor de barriga
Bebi na cacimba e no caldeirão Quebranto, mau jeito e dedo triado
Como sertanejo no tempo mais duro Pra vento caído e picada de cobra
Comi o mel fino e doce do munduri É de muçambê, o galho abençoado
Andei em “varedas”, tranquilo e seguro
Nos chafarizes, vi as filas de latas
Subi pelas pedras que formam cavernas Enquanto a terra era seca e rachada
Vi as escrituras rupestres riscadas Espelhava nos abatidos semblantes
Olhei os morcegos de ponta cabeça O sofrimento da pele enrugada
As piscinas azuis nas pedras cortadas Que nem mesmo o bom tempo
A cachoeira linda, com e sem água Essa imagem da memória apaga
E o mármore branco da mina fechada
Nas roças de solos cultivados
Nas matas fechadas das serras azuis Senti o bom cheiro da terra molhada
Abertas para mandioca, caju e o feijão Os riachos, açudes e barragens
Estradas, comércios, indústrias e casas Sangram a alegria na gente animada
Encontrei o tatu, a cutia e o azulão Paiol, tubo de zinco e armazéns
Vi o veado, o bola, caititu e queixada Vi cheios de esperança guardada
E o bem-ti-vi valente espantar o falcão
Hoje, eu me perco em outros caminhos
Nessas ditas matas entrei noite e dia E pouco repito as trilhas passadas
Senti a urtiga causar comichão Conservo seus cheiros, imagens e sons
E o cipó fechado ferir o pescoço Na mente passeio nas velhas estradas
A dor com coceira de um cansanção E crio lembranças de novas andanças
Dormi sem esteira, deitado na terra Pra um dia contar nas encruzilhadas
Sem medo de cobra e de escorpião
Pelas ruas que ando Caminhada na Marechal
Não andei pelas ruas que Alceu procurou
Não sonhei em voar como Ícaro ou um condor
Nunca fui ao maracanã numa tarde de sol Na caminhada à beira rio
Nem a vi no seu banho lá no mar do farol Há prazer na liberdade
No mar de água azul não encontrei uma sereia A brisa toca na alma
Nem me perdi em labirintos de histórias alheias Tranquiliza a ansiedade
E torna a vida mais calma
Perambulo pelas ruas lá do meu sertão
Procuro uma cachaça pra morder o imbu
Aceito de bom grado um limão ou caju Na caminhada à beira rio
A gelada vai bem com qualquer um irmão Vejo uma linda mulata
Altas Horas, Aprígio, no Abrigo ou Maluco Observo a sua beleza
Só não me traga quente, que se não fico puto Sem nenhum desvio ou tara
Enxergo beleza no belo
Perambulo feliz aqui em Teresina Com a alma purificada
Sempre topo no olhar uma bela menina
E mesmo sem a brisa das tais serras gerais Na caminhada à beira rio
Vou até o Biss Bar tomar uma em paz
Vejo criança e idoso
Chego no Daniel Bar numa segunda-feira
O camarão sem casca abre a bebedeira Vejo ciclistas e corredores
Felinos brincam no parque
A picanha do Nelson ainda é a melhor E sinto o cheiro das flores
Cada canto daqui o prazer é maior
No domingo à noite vou ao Terraço Grill Na caminhada à beira rio
Levo a dama num xote, atrevido e gentil Passo por Iemanjá
E se bate uma fome lá pela madrugada Ou será uma santa d’água?
No Velha Guarda eu paro pra comer panelada Depende do seu olhar
Cada qual com o seu credo
Se o encontro exige um lugar requintado
Zona leste sempre tem um local adequado Eu não vou lá pra rezar
Se a grana tá curta e a fome bater
Em algum espetinho vou me satisfazer
E se der o cansaço e bater na fraqueza
Volto em paz pra casa pra curtir a moleza.
Viagem a Pio IX

Quatrocentos ou quinhentos?
Seis horas ou mais?
Na caminhada à beira rio
Não importa a distância
Viajo para o futuro
Vou é com gosto de gás
Faço projeto de vida
Na BR-316, Demerval e Lagoa
E traço mentalizando
Passo vexado demais
Um caminho mais seguro
Monsenhor Gil e Barro Duro
Na caminhada à beira rio
Com as matas de Cocais
Ativamos a memória
Até Passagem Franca
Frente às casas das leis
Vão ficando para trás
De tarde, já sem a escória
Um café em Elesbão
As paredes de concreto
Deixa aceso e fulgás
Escondem-nos triste história
Numa piscada de olhos
Na caminhada à beira rio
Vou passando de Valença
Árvores seguem seu passo
Observo a esquerda
Dos fósseis ao angico branco
A cidade bem serena
Vivemos em descompasso
Lembro-me boas farras
Pois na busca do progresso
Do Crovapi e as falenas
Só plantamos mais asfalto
Vejo Inhuma de relance
Da caminhada à beira rio
Em Ipiranga nem pisco
A camisa volta suada
Os seus brejos me encantam
A consciência tranquila
Na paisagem me inspiro
E a mente volta curada
E pé na tábua de novo
Nas reflexões profundas
Ronca forte em alto giro
Sinto a minh’alma lavada.
Por fora de Dom Expedito O posto Fortaleza II
Passo despercebido Fica logo na divisa
Na Serra da Mirolandia Chego na baixa do poço
Me aumenta a libido E já sinto aquela brisa
Pra comer uma castanha Com cuidado, entro à direita
Ou um caju escolhido Pouco antes da Capisa

Com cuidado e perícia Os projetos na estrada


Desço a Serra de Picos Passo cheio de amor
Nossa cidade modelo No São Luiz desço a serra
Atravesso atrevido E já sinto um bom calor
Bode assado no almoço Do povo que me espera
Mata bem o apetite Sempre cheio de humor

Cortando o sertão afora De longe avisto a igreja


Sigo a rota do caju Coração logo dispara
Entrando na BR-020 A sensação se repete
Vejo a linda serra azul Toda vez nessa estrada
Santo Antônio dá boas vindas Chego na terra querida
Com seu suco de caju E já me sinto em casa

Chico Santos e Monsenhor Quatrocentos ou quinhentos?


Passo só pela entrada Seis horas ou mais?
É o sinal que tá chegando Venho sempre a Pio IX
O fim da minha jornada Nunca deixo para trás
Subo a serra empolgado Meu sertão, minha cultura
E entro na terra amada E cada volta é o mesmo gás.
Nosso ambiente,
nossa cultura
e nossa gente
Caatinga
Mata branca dos Tapuias Amor, paixão e coragem
Campo dos bois mandingueiros Amizade e compaixão
Com tons, cores e visagens São bases do sertanejo
Fechada para os Vaqueiros Pra enfrentar o rojão
Dos versos do Patativa Falta enfrentar as causas
Da melosa com seus cheiros Que destroem nosso sertão

Mata verde do retorno A Caatinga do Gonzaga


Da asa branca e o avoante Do Acauã e Juazeiro
Da terra fértil e chã Todo junho sempre mostra
Clamando que nela plante Como é ser um festeiro
Semente, Honra e Justiça Mas falta se revoltar
Bases para ir avante Contra um tal de grileiro

A mata seca, dormente Se preparar pro domínio


Apresenta a esperança Da ciência, crença e medo
Do sono que acordará Enfiar num saco só
Pra mostrar sua pujança O coronel e o grileiro
Exemplo pra nós humanos Deixando chupando cana
Exigindo uma mudança O aristocrata e herdeiro

Caatinga seca da vida Caatinga da vida nova


Do sertanejo, um forte Que se recicla sem pena
Se existe desavença Mostrando pra o sertanejo
É o latifúndio da morte Que o errado é o sistema
Que na indústria da seca Penoso qual o lamento
Reproduz seu passaporte Do canto da Seriema.
Avefauna do meu sertão
No sertão a avefauna O cabeçudo cá do sertão
É uma grande riqueza É o cardeal-do-nordeste
São aves de todo tipo Às vezes é galo campina
Muitas de rara beleza Tem nome que só a peste
Da rapina de bom porte Chamam cabeça-vermelha
A pássaro de miudeza Pela cor que lhe reveste

Os nomes são apelidos Ave de água não falta


Que vem da criatividade Raxanã e mergulhão
Reproduz o som do canto Galinha d’água e marreca
Ou a sua sonoridade Alguns migram, outros não
A cor e as suas matizes Paturi e pato selvagem
Ou uma funcionalidade Em seus bandos, vem e vão

Tem pombas de vários tipos A garça é outra que migra


Rolinha cachecha e branca Faz seu charme na descida
Sangue-de- boi, fogo-apagou Mostra suas pernas longas
Todas tem uma semelhança Sem vergonha, bem despida
Da juriti ao o avoante Mas não perde uma piaba
E a maior delas, asa branca Ganha no bico sua vida

Pintassilgo e coleirinha Alguns ficam de butuca


Caboclinho e bico-de-prata Atrás do peixe de cada dia
Bigode e maria pretinha O pescador vem do alto
De longe se ouve na mata Mergulha na água fria
Todos são pequenininhos Socó-boi dá seu razante
Mas o canto bem destaca E não perde a pescaria
O cancão é zuadento A casaca é mais relaxada
Quando avista um perigo A estética não é conceito
Sem medo até de cobra Junta no alto da árvore
No canto sai o aviso Um balseiro de graveto
Preste atenção no alerta Tira o tempo para cantar
Desse pássaro amigo O seu canto sem defeito

Nosso craúno dá show Sabiá, sofreu e sanhasso


Preto das penas ao bico São chegados numa fruta
Alguns chamam chico preto Fura-manga pequenino
Com seu canto bem bonito Mela o bico bem astuta
Desculpa para sua sina Seus cantos bem adoçados
De ser preso por malditos De bem longe se escuta

Uns são bem organizados Seriema e codorniz


Na hora de fazer ninho Jacupemba e lambu,
Vejam o pequeno beija-flor Lembram até uma galinha
Tece com ramos fininhos Como o três-potes e o jacu
E deixa só uma entrada Na terra vivem espertas
No formato de biquinho E puxam vôo sem lundu

O joão-de-barro ganhou O senhor cá desses ares


A alcunha de pedreiro Não é o grande carcará
Faz a sua casa de barro Nem gavião ou urubu
Planeja como engenheiro Você não vai acreditar
Até a porta de entrada O bem-ti-vi bem miúdo
Não deixa entrar pingueiro Bota todos pra borrar
A turma dos papagaios
É também representada
Começa pelo sabacu
E a guinguirra espritada
Maracanã quase fala
Pense numa grande zuada

Azulão, xexéu, coã


Caboré e lavandeira
Mãe-da-lua e téu-téu
Carão e maria-faceira
Se arreparar direito
A coruja nem é feia
Chuva
Doutor quinco e zabelê
Andorinha e papa-sebo
Alma-de-gato e sem-fim
Anum do branco e do preto A chuva cai no sertão,
E o incrível pica-pau Levanta o ânimo, cria esperança
Fura a madeira no jeito A mata cinza transforma-se
Mostra-nos verde, sua pujança
O bacurau se encontra E a resistência e capacidade
No famoso oco do pau De renovação e mudança
Mas muitos já não se vê
Em seu habitat natural A chuva cai no sertão
Ema, urubu-rei e canário Enche de alegria o agricultor
Do sertão já deram tchau. Que com carinho fecunda a terra
Cultiva nela sonhos e o amor
De plantar-se na sua terra
Pra não colher êxodo e dor.
Memórias brincadas
“Roba” bandeira e bicheira
Nos tempos das lamparinas Correria e agitação
No mundo do meu sertão Se quiser uma calmaria
Menino soltava pipa Vem pra adivinhação
Junto com a imaginação Contos, causos e cordéis
Fazia carro de lata Prende logo a atenção
Construía carretão Pra assustar os mufinos
Com duas rodas e forquilha Histórias de assombração
Transportava a animação
O cavalo era de pau
Atirar de baladeira A galinha de pereiro
Era prova de atenção E o gado era de osso
Coração de beija-flor Não precisava dinheiro
Aumentava a precisão A moeda era de conto
Um fuminho na buanga Achava até no terreiro
Pro pai da mata acalmar Tudo virava brinquedo
E a reza de São Bento Sem choro e sem berreiro
Pra cascavel espantar
Nos riachos, nas barragens
Jogar bila nos buracos “Cama” de ar era a bóia
No triângulo ou no bitel Banhar de chuva, então
Liga, sabão e palito Pense numa coisa joia!
Juntos com um carretel Felicidade era pura
Viram peças de trator Sem nenhuma paranoia
Pra Toim ou pra Manel As memórias desse tempo
Palma da mão na peteca Os “zói” enche que se “móia”.
Manda ela lá pro céu

As carradas se formavam
Dos capuchos de algodão
Tal qual uma de verdade
Em cima de caminhão
Com algumas diferenças
O cabresto é a direção
Mola de zinco que é forte
De flandre não guenta não
Festas Juninas A feira de Pio IX3

Já findo maio de “urêa” em pé Vinham tropas do interior


Nas idas e vindas aumento o suntar De surrão abarrotado
Escuto sons de sanfonas no rádio Arroz, milho e rapadura
Só Xotes e baiões ponho pra tocar Vender na feira de sábado
As festas juninas criam expectativas Nesse dia o boi morria
Como um grande encontro familiar O negócio era animado

É automático, é internalizado Tinha todo o necessário


Como beber água e comer pão Fumo, goma e chocalho
Cultura fortalecida pela música Chapéu de couro, arreio
De Flávio, Petrúcio e Gonzagão E remédio para o gado
Nem sempre vou as fogueiras Roupa, tecido e fazenda
Mas elas se acendem no coração Era bem movimentado

Se acendem fogueiras no peito O dia era pra negócio


De catingueira verde, marcante E de confraternização
Queimam-se abóboras e traques Uns levavam a farinha
Na brasa vermelha, queimante E voltavam com feijão
A cinza se espalha ao vento No almoço a carne fresca
Marca minha cultura, fertilizante. Alimentava a união

A farmácia de Seu Elói


Era mais uma atração
A sala cheia de gente
Procurando solução
Remédio para o doente
E do inverno a previsão
Nos produtos da mandioca
Os Arruda eram destaque Quem não era de negócio
Seu Zuca e Zeca Bilóia Vinha pela boa prosa
No Mercado eram empate Tomar pinga nas budegas
Tinha aferição nas medidas Rir de conversa jocosa
Nada de roubo ou desfalque Ou arrumar namorada
Na feira maravilhosa
O pátio lá do mercado
Se enchia de caixão De Vertentes a Mercador
Com produtos variados Ainda tem feirante nato
Dava gosto e satisfação Só mudaram as medidas
No ouro branco, o forte Não se vende mais no prato
Era o bom Zezinho Antão São produtos de primeira
Desse meu povo arretado
Tinha produto da terra
E coisa que vinha de fora Nossa feira mudou muito
Do agreste, a rapadura Mas se mantém na história
Em animal sob espora Vá no sábado em Pio IX
De Picos, as tranças de alho Dia de encontro e de glória
Chegavam sem mais demora Interagir com os feirantes
Manter viva essa memória.
Queijo, manteiga-da-terra
Borracha de maniçoba
Pele de gado ou miunça
E outras coisas da roça
Alpargata de rabicho
Tinha tudo que era troça

Era um desfile de moças


Em suas celas montadas
De vestido ou saia longa
Pantalona completava
Tocador de “pe-de-bode”
Nos cafés se abancava 3 Texto em cordel baseado na releitura de “A feira de Pio IX”, de Zezinho
Bezerra, em informações do livro “Minha vida nos Baixios”, de Odon
Alencar, e entrevista com Audomi Alencar.
Farinhada
Beiju grosso e torresmo
Pé de porco e Munguzá
Enxadeco e cavador A linguiça com caçhaça
Bota força Arrancador Pro “dotô “apreciá”

Rapa a casca, Rapadeira A semana é muito dura


Bota a faca pra gastar Dia e noite sem parar
E raiz no caititu Já ralou a mandioca
Pra o Cevador ralar É hora de relaxar
Hoje é sábado, tem forró
Lava a massa Lavador Vamos juntos xotear.
Deixa a goma assentar
Puxa a massa seu Forneiro
Pra farinha cozinhar

Goma fresca no girau


Beiju na pedra bem quente
Hoje é sábado seu “dotô”
O forró vai ser ardente

O cevado tá no ponto
Sanfoneiro puxa o fole
A cachaça é da boa
Seu “dotô” tome um gole

Visitante vem chegando


Mistura na farinhada
Rapadeira e Lavador
Visitante e Cevador
Forneiro e Arrancador
Só fica naquele canto
Esse tal de seu “dotô”
Zezinho conta o Reisado Cultuam os três Reis Magos
Do evangelho de Mateus
Pio IX, no sertão do Piauí Que foram adorar o Cristo
É a minha terra natal O Novo rei dos Judeus
Lá eu vi desde pequeno Com ouro, incenso e mirra
Um mundo rico e plural Para o tal Filho de Deus
Onde poucos usam os olhos
Pra riqueza cultural No meus tempos de menino
Na Fazenda Tapaginha
Vi um Reisado bonito
Do folclore ao ambiente
Com Boi, Caipora e Burrinha
Merece nossa atenção
E o saber dos Caretas
Conservar e plantar bosques
Vencer troça e zombaria
São nossas obrigações
Abrigar nossos tatus Era o Grupo do Zé Barba
E restaurar tradições O mais famoso de lá
Depois que ele morreu
O reisado é uma dança Romão passou enfrentá
Que precisa renascer Levou a todos os cantos
Da cultura popular Até o vizinho Ceará
Rica de muito saber
É uma base necessária Lá pelos idos de 30
Para o povo florescer Um Reisado especial
Que passo agora a narrar
A dança veio de longe Numa visão bem geral
Do velho mundo, da Europa Elói recebeu o auto
Saiam os cantadores De uma forma cordial
Batendo de porta em porta
Anunciando a chegada Canto, danças com ritmo
Do Cristo, a boa nova E um boi original
Burra de saia rendada
Na forma tradicional
E o Caipora de Índio
Tudo dentro do normal
Lucilas
A cabroeira de casa
Inventou uma brincadeira
De Lucila: filhas, netas, bisnetas...
Manter a porta fechada
Inquietas.
Pra no grupo dá canseira
Professoras, vendedoras, doceiras
Só não previam a esperteza
Costureiras, profissionais de saúde
De uma certa cantadeira
Donas de casa, empresárias, trabalhadoras da terra
Empreendedoras
Foi Raimunda Cotó
Donas de Si
Que em trova improvisou
Pela filha Saboinha
Marias, Antonias, Anas, Luizas,
Na sua rima ela citou
Lúcias, Paulas, Fátimas, Lucilas...
E o coração do patriarca
Lindas como o broto da mais fértil terra
Na hora logo abrandou
Doces, se assim lhes permitirem
Duras, se assim for necessário
Porta se abriu para a festa
Com fartura e animação
Às vezes se fazem de igual com seus companheiros,
Tristeza só no lamento
Humildes como todo ser superior,
Dos caretas na canção
Superiores, como a Matriarca.
Na hora do boi morrer
Pelo matador ladrão.

Cá do céu, espero ainda ver


A tradição se restaurar
Nossas danças e cantorias
Para a cultura elevar
Que essa é a maior riqueza
De todo e qualquer lugar.
Rosa da Caatinga Sertaneja de Luz

Rosa linda A batalha mais dura


Da Caatinga Não é com um fuzil
Branca, qual capucho É no nosso dia-a-dia
Daqueles tempos Desumano e hostil
Que a guerreira combate
Da tal lavoura Com uma palavra gentil
De algodão
Do sertão Encontramos na frente
Sem pedir ou esperar
Generosa Um irmão precisado
Horrorosa Ou afogado no mar
Geniosa De escura águas turvas
Qual espinho Sem o futuro enxergar
Da Caatinga
Seus problemas diluem-se
Linda de se ver
Próximo de um irmão
Qual flor do ipê Não importa o tamanho
Nem tampouco a razão
Empresta os olhos O pensamento fraterno
Pra valorização Ocupa seu coração
Da Caatinga
Rima em fotos Não sabemos de onde
Compõe mosaicos Vem o suporte pra cruz
Canta em imagens Da sertaneja guerreira
Verdadeiro ser de luz
Por essas paragens
Ela diz que é de Deus
Cá na Caatinga A força que lhe conduz.
Lê singela, sensível
Nossas paisagens. Certamente sua força
Tem origem divina
A bondade que espalha
Não se acha na esquina
Vem do ente sagrado
A fé que lhe ilumina.
Para Érika
Sempre lhe reencontro
Um dia conheci um ser
Com o mesmo amor
Desses humanos, falíveis
Não mais aquele juvenil
Me chamou para ser seu par
Mas ainda deslumbrado
Numa festa junina
Capaz de me desviar
Olhei desconfiado
Da maior paixão
Para a dentuça menina
E do tesão mais arretado.
Superou expectativas
Me deu, como homem
Hoje, mulher forte
As primeiras lições
Me mostra que o fraco
É o sexo oposto
Tinha se apaixonado
E o preconceito do norte
Por uma camisa vermelha
E que o amor mais possível
Sempre que a encontrava
Envolve só o cultivo
Sorria, sorria
Nunca, nunca, a sorte.
De orelha a orelha

Um dia cresceu a mulher,


Forte, como Frida e Diniz
Com histórias e medos
Fatal, como Cotrofe e Isadora
Com decepções e emoções
Escondidas, como Tieta
E, lutadora
Como uma mulher preta
Pedro Antônia pra tudo
De origem do grego “Pétros”
Que veio do nome “petra”
Igual a rochedo, pedra O dia é todo corrido
De antes de Cristo Não dá nem pra relaxar
Do aramaico “cephas” E o descanso, à noite
Depois da missa e rezar
Começou em Portugal
Como codinome “Petrus” Se na reza “Ave Maria”
Na França virou “Piers” O Senhor seja convosco
E na Inglaterra “Peter” - Amanhã de manhã cedo,
Cá no sertão, com carinho Pra fazenda com Bosco!
E esse nosso “jeitim”
Pode ser “Peu” ou “Pedim”
Se vier uma chuva forte
Meu PP lembra o muleque De riacho transbordar
Inteligente e esperto Certeza que a “mãe-de-rio”
Das piadas do Joãozinho A enxurrada vai levar
Irreverente e aberto Tia Antônia sai na frente
Conquista logo o afeto
Do mais simples ao mais letrado Pra o bom exemplo mostrar
Qualquer tema ele discute - Que o trabalho do inverno
Com extenso vocabulário O bom Deus vai abençoar!

De cedo mostrou ser forte Se a seca é prolongada


Como a pedra ou o rochedo
De São Paulo e de São Pedro E algum bicho morrer
Mergulha no mar sem medo Trabalha mais duro ainda,
Contra ondas e tempestade Nada de esmorecer
Vive a vida com vontade De domingo à domingo
Nenhum dia ela descansa
Se pra o mundo ele é uma rocha
Seu coração tem pureza E ainda diz esperançosa:
E na vida desabrocha - Depois virá a bonança!
Com beleza de galã
Maleável como seda
Confesso com bem franqueza
Que de pai eu sou seu fã.
Se encontra um sobrinho
Se a vida é muito dura Bem no meio de uma farra
E o salário é muito baixo Dá-lhe puxão de orelha
Põe o leite e o açúcar Mas com jeitinho, sem marra
E mistura bem no tacho E diz com sabedoria,
Deixa o doce lá na forma - Meu filho, se comporte!
Para o tijolo moldar E por fim dá sua benção
- Corre logo, vem menino, - Deus te dê uma boa sorte!
Pega o tacho e vai raspar!
É a Antônia da Lucila
Se a festança é das grandes Da roça e costureira
E precisa de salgado E assim como sua mãe
O melhor é da Antônia Uma sertaneja guerreira!
Faça logo o contrato! A doceira mais decente
Passa a massa, rola o rolo Prendada, polivalente
E prepara o pastel Que ensinou os seus filhos
- Mas a massa sem o ovo, O que é que é ser gente
Eu fiz para o Samuel!
A Antônia que eu falo
Se o vestido é de festa Não é uma Antônia qualquer
E precisa de capricho Foi aqui nesse sertão,
Procure a Dona Antonia, Um exemplo de mulher
Que a “véia” é o bicho! Respeitada e conhecida
Se a menininha chora Como Antônia de Valdemir
E precisa de acalanto Mas agora infelizmente,
Ela lhe faz com carinho Pra tristeza da sua gente
Uma boneca de pano Também teve que partir.
Preta Caetana Ser humano de aço
Olhei para o céu cinzento Ser humano
E recobrei o passado Feito de aço
Lembrei que o hoje sombrio Corroer-se nas noitadas
Já foi um mundo enfeitado Nos fins de semana
Que à sombra da figueira Ao bel prazer
Por um anjo era olhado Sorrir com a boca
Cheia de fumaça
Nas taipas da Água Branca Sem temer o frio
Ainda hoje é presente Ou qualquer desgraça
Na sala, cozinha e sótão
E no aconchego do alpendre Viver com escolhas
Aquela Preta altiva Eternamente...
De longe protege a gente Antes da ressaca
Enquanto dure
Passo na velha estrada A alegria do gole
E não vejo mais mocó A paz do trago
Compreendi que a sua falta
Neles dava certa dó Morrer sem alternativa
Que a falta da tal Preta Sem tempo pra sofrer
Deixou uma tristeza só Ou se arrepender
De outros fortes, de aço
Aquela ponta de chão Ser lembrado
Nunca mais será igual Eternamente...
Ao tempo de Caetana E no futuro, o encontro
Um anjo angelical Tá marcado previamente.
Que espalhava o amor
Do Boqueirão ao Marçal.
A volta do Sertanejo Odon4 Voltou a sua terra, como um Asa Branca
Fez a primeira parada em Teresina
Dos baixios mais férteis do sertão Como bem planejado na sua sina
Onde crescem as árvores mais frondosas No rumo de volta para o sertão
O Juazeiro, a Baraúna, o Umbuzeiro Construiu relações fortes, rotarianas
Lá também nasceu o Sertanejo Odon E na academia fez seu assento
Apegado a sua cultura e a seu povo Distribuiu decência na vida pública
Mas não preso por suas raízes O que sempre teve na sua essência
Livre para alçar vôos, de idas e voltas
Como as pombas do sertão ao relampear Sentindo o ronco do trovão
Voltou a Pio IX, o seu torrão
Voou para perto, Crato e Recife, no Nordeste Mas incansável, fez mais história
Fez sua base, fortaleceu suas asas Sem se preocupar em levar glórias
Alçou voos maiores, Rio de Janeiro e Brasília Botou a mão na massa da produção
Voltou ao sertão a cada invernada Plantou pastagens, criou na Malhada
Lançou-se em penhascos, América e México Sem medo algum das empreitadas
Desviou obstáculos, hábil como um morcego Fez clínica e cirurgia veterinária
Fertilizou-se em outras terras e culturas Sem nada em troca, fez bem na prática
Aninhou-se e produziu bons frutos
A sua volta não foi em vão
Bebeu das fontes de alegria e sabedoria Nutriu cultura sem pretensão
Sentou-se nas rodas e compartilhou Cultivou saberes e conhecimentos
Experiências, discussões e histórias O artesanato de couro foi curtição
Ricas, diversas, profundas, comuns aos cultos Plantou árvores, fez filhas e livros
Manteve-se jovem respeitando as realidades Marcou a história do seu sertão
Deu amizade, exemplo e consideração Agora, planta-se enfim na sua terra
Arrancou de muitos, respeito e admiração Fertiliza em paz, o seu torrão.

4 Interconexão com “A volta da Asa Branca”, de Luiz Gonzaga e Zé


Dantas.
Elísios Quem fez o sino dobrar
Um grande homem Por muitos anos
De sorriso largo Ele fez o sino dobrar
De apetite grande Todos os dias
Para a amizade Na hora da ave-maria
Do cultivo fértil Ou em todas as horas
Para a sinceridade Das difíceis despedidas

Como o vento Ele sempre esteve lá


Teve leveza Como uma parte do todo
Na sua passagem Sem enxergar-se diferente
Se deixou algum peso Num sentido de cumprir
Foi só na balança Sua saga na comunidade
Na sua pesagem
Fez o sino dobrar
Um bom amigo Para ricos e pobres
Do bom café Tocou lento e ritmado
Um bom colega Mostrando a tristeza
De boa fé Do seu povo amado
Um bom companheiro
Um bom pai Tocou rápido e seguido
Um bom vivão Num alerta diário sagrado
Deu ritmo aos católicos
Desses que precisávamos Para prevenir os atrasos
Um tempo a mais por aqui Tocava a matraca
Um tempo proporcional Na missa da paixão enlutada
Ao tamanho do seu coração
Que não cabia
Em toda sua grandeza.
Tia Noeme
As dezoito horas
Ela sentiu que nos deixava
Arrastávamos as mãos
Mas não ficamos no vão
Em um “nome do pai”
Nos deixou um lindo legado
Ou em um “pelo sinal”
De amar cada um ente
Sempre com a certeza Como do seu ventre tirado
Que o João sacristão
Nos alertaria todo dia A labuta foi pesada
Para o fim da jornada Pra criar prole numerosa
Ou que de importante Mas depois do fim do dia
Viesse após o anoitecer O cansaço dissipava
Na calçada com uma prosa

A dureza exigia coragem


E entender de economia
Para produzir o sabão
Do uso no dia-a-dia
E cozinhar seu guisado
Transformando em iguaria

Se sua rotina foi dura


Sua sina foi pesada
Pois a cólera humana
Rasgou-lhe como facada
Tirando do seu coração
Parte da parte amada

A sua ferida não virou rancor


E o seu olhar sempre enxergou
Até numa estranha barriga
Um instante belo e acalentador
A sua calçada foi o ponto certo
Da distribuição do seu grande amor.
Da política as
questões
socioambientais
Carne podre Os vermes de cima dominam imunes
Mesmo nas disputas se mantém coesos
Enquanto a plebe disputa as migalhas
Os vermes que devoram nossa carne fresca
Cegos na alienação são eternos presos
Mas parecem insetos de uma organização
Tem castas, funções e hierarquias definidas
O enfermo forte resiste aos ataques
Que nos abrem rombos como as feridas
A 500 anos suporta a sangria desatada
E de quando em vez sofre novos baques
O mau cheiro apodrece o hemisfério sul
Com a voracidade larval descontrolada.
Sente-se aqui, nas Malvinas e até em Seul
E chega com vento até o velho mundo
D’onde veio o nosso substrato imundo

Nas ruas reclamam dessa podridão Soneto do lixo nacional


Mesmo os vermes baixos que na eleição
Viram por migalhas a base de sustentação
Da sociedade organizada da putrefação O luxo do congresso nacional fétido
Produz mais vermes que o lixo da lata
Os esquemas para sangrar o tecido vivo Vestido de terno e aparentando ético
Estão espalhados pelo corpo todo Produz a toxidez política que mata
Desda a cabeça aos membros inferiores
Sofre o macaco latino os piores horrores Das torres e plenário se espalham
O lixo mais tóxico que a radiação
A desfunção dos vermes é institucional Vetores alienantes os vírus propagam
Não escapa prefeitura, empresa e o senado Paralisam o povo com desinformação
Câmara de vereador, assembléia e judiciário
Até nas igrejas o mau cheiro é espalhado Para todo mal há sempre um agente
E para a doença, uma predisposição
Se reclama o infeliz verme da casta inferior A deseducação é o substrato quente
Porquanto só chegam restos do descarte
E enquanto sonha com a melhor parte Para a epidemia da alienação
Fura fila e se vangloria amigo do doutor. Enquanto o povo não abre os olhos
O lixo renova-se a cada geração.
Gadolonização Cidade Verde ontem, hoje e amanhã
Teresina é cidade verde
Desde a mais remota era
O gado seguiu o aboio Esse verde em teus parques
Do além mar ao sertão É uma vocação de vera
Pastou índios Volta lá ao teu passado
Ruminou negros O que teu futuro espera
Alimentou brancos
A história já mostrou
Espalhou conflitos
Que memória se preserva
Pavor e corrupção Não tá correto esquecer
Teu passado na reserva
Moldou o sertão Na floresta fossilizada
Do território à mesa Onde só lixo se enxerga
A couraça do trabalho
e as pegas da diversão Corrige agora o tempo
Pisoteou campinas Refaz tua trajetória
Criou coronéis Desde lá do permiano
Com o verde da memória
Arrotou erosão
Busca refazer teu plano
Para um futuro de glória
A alguns, deu riqueza
Pra o vaqueiro, a sorte A floresta petrificada
Junto com o latifúndio Resgata do esquecido
Gerou um consorte No saber paleontológico
Perpetuou a pobreza Busca o elo perdido
E espalhou a morte! E o verde antológico
Mescla ao fóssil científico.

E transforma esse slogan


Do teu nome de menina
Em uma nova estratégia
Para fugir dessa sina
De um lugar sem memória
Que a História abomina.
Terras do Sumidouro
Quando o Vaqueiro Negão
Vestido da cor da noite E governante do Estado
Com seu cachorro retinto Diz não pra o mundo agrário
Montou seu preto alazão Essa questão não existe
Correndo muito ligeiro Nem no seu dicionário
Sumiu na igreja de pedra No ouvido do deputado
Não era boi mandingueiro Diz sem medo de esculacho
Que queria pegar não - Nessa questão não me meto
Que terra de pobre e preto
Ele teve uma “visagem” Não dá dinheiro em campanha
E sumiu em disparada E um pouco pra minha conta
Entrou na igreja encantada Pra levar vida na manha
Pra não ver o sofrimento
Que os negros do Sumidouro - Ainda perco o prefeito
Ainda tinham pela frente Que me apoia na eleição
Valentim e sua gente Primo, cunhado e irmão
Sem terra e sem documento Dos brancos que ainda mandam
Em todo e qualquer chão
Já cem anos se passaram
E entra ano e sai ano Nas terras do Sumidouro
Nada de preto no branco Reconhecidas do Estado
Nem o preto lá da tinta Como terra devoluta
De caneta ou computador Sobra suor, sobra luta
Do Karnac e do Cartório Dos Negros lá da pedreira
Querem pintar papel branco E de Sessé e da Cleinha
Parece que deu foi cancro Nas rodas de capoeira
Na mão do digitador
Político ruim que dói

A música lá do vaqueiro
Mas nesse “Estado” de atraso
Podia ser diferente
Falta gestão e vontade
E escrachar com político
Pra encerrar essa saga
Esses da terra da gente
De Raimundo e Honorata
Que enxergam bem pouquinho
Pra reconhecer o certo
E não pensam lá na frente
Com cada qual no seu canto
Seja preto ou seja branco
Política no Piauí
Desbancando o mais esperto
É um bem familiar
A mulher e o filhinho
Que o vaqueiro que sumiu
Todos têm que trabalhar
Nas paredes da igreja
Se não sabe fazer nada
Escondido ainda veja
Político tem que virar
Essa questão acabar
Como se diz com o que é certo
O cargo de Deputado
Que seja preto no branco
No Piauí já ganhou
E não tem pra que espanto
Até um rebatimento
Terra para preto, é sim!
Veja só onde chegou
Pois já tem demais o branco
Meu filho é deputadinho
Pois FEDERAL eu já sou
Que o branco do papel
Receba o preto da tinta
Se já sou um deputado
Que o futuro governante
Meu filho também vai ser
Não seja ruim como pinta
Eu já tenho os currais
Sua caneta de assinante
Meu filho tem que aprender
Nem precisa ser de ouro
A cuidar do eleitor
Basta que devolva aos Negros
Que nem rebanho de gado
As terras do Sumidouro.
Dos tempos do seu avô
Nossa terra, nosso futuro
E se já for Senador
Enxergar dimensões diversas
A mulher tem que virar Num sentido holístico
Deputada Federal Ver o planeta como Gagarin
Que é pra nós não separar De fora, do alto, mas realístico
Viver juntinho em Brasilia No seu todo, mas como parte
No champanhe e caviar Esse deve ser o princípio

Mas para um Governador Entender nosso mundo


Também exige esse status Com uma visão diferente
Vê-lo como um ser vivo
Minha mulher tem que ter
É o desafio da gente
Qualquer coisa, algum cargo Pesar efeitos adversos
Uma vaga na Assembléia Antes do alívio do doente
Ou cargo no TCE
Sem perigo de embargo A ciência ajuda a pensar
Pra enxergar o sistema
Morar separado é fácil Mas a política atrapalha
O difícil é aceitar É um grande edema
Minha mulher sem um cargo O lucro extremo domina
Isso é que é de lascar As cabeças pequenas
Nem que more em Brasília O planeta azul agoniza
E eu governe por cá Com o lixo e a poluição
E nos países de centro
E assim a vida anda O consumo é o vilão
Nesse Estado de pobreza Cá nos países pobres
Essa situação corrói Tá virando um lixão
Tempo, trabalho e riqueza
Resta sempre a esperança Não se sabe se é possível
Mas nunca uma certeza Mudar nosso destino final
Mesmo com novas atitudes
Que descartem do Piauí
É uma incógnita geral
O político ruim que dói! Mas sem senso e consenso
Entraremos em fase terminal.
Bichos da Caatinga5
Se na sua terra faz doce
Se em sua terra chove,
com o açúcar pra adoçar
na minha apenas respinga.
a flor da Caatinga já dá
Se você é qualquer bicho,
o mel doce pra “ripunar”
eu sou bicho da caatinga.
mel de cana é veneno
Se você é bom de golpe,
pra seu “ninga” é salutar
eu sou melhor de mandinga!
Se a sua música é erudita
Se a sua terra tem soja,
no seu modo de pensar
a minha tem o macassar
nossa cultura é diversa
fejão de corda ou caupi
como o jeito de plantar
pra você não se enganar
forró, cordel, capoeira
é diverso até no nome
e a dança indígena toré
pra nós bom é misturar.
Plantamos de tudo um pouco
Se a sua terra tem laranja
fava, mandioca e guandu
Na minha tem o umbu
produzimos pra os viventes
abóbora, maxixe e pinha
festa e vida num angu
e a fruta do mandacaru
da farinha e farinhada
fruta pra todos os gostos
e a goma para o beiju
manga de fiapo e caju
Se o seu mato é o eucalipto
Se a sua terra tem a cana
a planta pra florestar
meu amigo, eu tenho é pena
nem passarinho que avoa
na Caatinga nunca teve
vai pousar nesse lugar
essa “prissiga”, esse endema
quando enxergar adiante
que escraviza, mata o povo
tudo em volta vai secar
esse sempre foi seu lema
Ainda não dá pra falar das flores
Por isso usamos de tudo
jurema preta, angico e sabiá
Como lembrar das flores nesse mundo cão?
dá cerca lá do roçado
ao xampu da raspa de juá Veja a conta de energia e os juros do cartão
birro, aroeira, umburana Veja o preço da gasolina e a política cretina
plantas pra males curá Só se vê descompromisso nos cargos de cima
Analise seu financiamento da casa própria
Nem tudo aqui é perfeito O quanto se amortiza por mês de forma bem mórbida
falta muito pra consertar Escute a altivez de um povo quando o time perde
mas o universo complexo E quando roubam seus direitos, ninguém se emputece
me faz sempre acreditar
que no diverso que aposto Um povo tão submisso num Brasil varonil
o mundo vai melhorar. Só a máfia vai contra o estado de forma hostil
Mas bem forte e alinhada com os mandatários
Vaqueiro, quilombola, sertanejo É a máfia na câmara, assembleia e no senado
todos bichos da Caatinga E os jovens se alienam num mundo a parte
todos fortes e adaptados Viram bobos de cara pintada nas telas da globo
acostumados com a jinga Enfeitam telejornais e acreditam no engodo
se na conversa não vai De passar o país a limpo se tornando “fôrro”
nunca falhou a mandinga.
Alforria desse povo, nem em esperança
Nego Bispo e PG Alencar Se votam no vereador até para deputado
Como esperar liberdade desse alienado?
Se o partido que ganha usa a mesma praxis
Só se troca as carapuças para o outro lado
Em frente as TVs e nas igrejas tudo dominado
Viva a sua vidinha brasileira, reclame do lado
Ou apele para Deus, mas bem conformado

5 Interação poética virtual com Nego Bispo, via Facebook (a primeira


estrofe que “puxa” o texto em cordel é de autoria de Nego Bispo”.
Piauí, terra queimada!
Se precisar urgente do serviço de saúde
Se prepare para as dores das filas lotadas
Já não dá pra falar de flores sem uma mortalha Pega fogo, Piauí!
Elas só combinam amarelas lá na funerária Do fósforo do criador de gado
Na educação o serviço é no mesmo nível Pela fogueira do caçador endiabrado!
De um puteiro vagabundo de beira de estrada Pega fogo, cabaré!
Mas de um povo submisso e conservador Não sobra Inhaúma, lambu
Ema, veado e pequizeiro em pé
Só se espera que se mude para outro opressor.
Bota fogo, ao longo das estradas
Sem um carro a fiscalizar
Bota fogo, para a miséria renovar
Envergonha Governo omisso
Em 19 de outubro
Nada para comemorar

Se o desenvolvimento é estéril
Fogo espalhado para esterilizar
Ignora o grileiro
Ao nosso povo expulsar
O Piauí segue esse rumo
Em 19 de outubro
As velas estão acesas
Queimando o cerrado
Para não comemorar.
Reflexões
cotidianas
Pelo sinal da amizade Compartilhar...
Que não nos falte a força Compartilhar...
Que não nos falte alegria Sonhos, versos e imagens
Que não nos falte esperança Sucesso, alegria e arte
E o pão de cada dia Risos, graças, molecagens
Que não nos falte humildade Amizade e gargalhadas
Antes de ir pra terra fria Trabalhos e malandragens

Que prevaleça o coletivo Compartilhar...


Que prevaleça a verdade Sons, ideias e cores
Que prevaleça o bem “Dicumê”, água e pinga
Sobre toda a maldade Sentidos, toques, sabores
Que prevaleça o amor Dança, música e ginga
Em toda humanidade Vida, projeto e amores

Que o divino impere Compartilhar...


Sobre toda a amizade Crenças, medos e pavores
E o cumprimento de mão Fé, esperança e sorte
Simbolize a lealdade Tristezas e dissabores
Que os espíritos do bem E na hora até da morte
Varram sempre a falsidade Pesadelos e horrores

Que a ambição dos fracos Compartilhar...


Não sobreponha a razão A beleza enganosa
Que os tempos de disputas Da juventude atrevida
Nunca separem os irmãos Com a experiência exitosa
Que ganhe sempre a nossa Da velhice esquecida
E nunca a minha opção. Cantar em verso e prosa
Veros sentidos pra vida.
Amém!
Viva a vida! Acorde um dia mais cedo
E acompanhe o amanhecer
Não aguento os martírios Ou aprecie no horizonte
De quem insiste em sofrer De tarde, o sol se esconder
Não aguento mais o drama Olhe o belo de mais ângulos
De quem não tem mais prazer Só você pode escolher
O meu lema é diferente
Bola pra frente, vamos viver Observe a mata branca
Que se refaz na dormência
Procure dentro de si Aproveite o seu exemplo
O que deixou no passado Na seca, de convivência
De bom, alegre e agradável Que na hora certa explode
E o que te deixa estressado Verde, alegre e intensa.
Mude dentro do alcance
Não fique desesperado

O que não pode mudar Anjo doce


Conviva com inteligência
Não deixe qualquer problema
Na mistura de cores
Acabar com a sua essência
Que simboliza a paz
Procure o que te faz bem
E na calma que espelha
Esqueça o que traz doença
Da sua terna brancura
Vejo desde sempre, nela
Procure o belo no mundo
Um anjo de candura
Sempre há pra contemplar
Sempre disponível e muito gentil
Se não chover tem o vento
O sorriso clareia a sua doçura
E a brisa pra refrescar
Se desperta o sentido paternal
Se o sol for escaldante
Inteligente mostra-se igual
Reflita a luz pra brilhar
E encortinando seu protagonismo
Cultiva a pura relação fraternal.
Meio norte, meio minas “Matemétrica” da vida

Eu a encontrei num tempo Olho pra frente, pro lado


Com seu jeito de menina Sinto meu conjunto vazio
Imaginei ainda frágil, franzina Lá atrás ainda enxergo
Numa impressão irreal Planos mal alinhavados
Ela falou do passado, dos sonhos Sonhos pontilhados
E de alguns micos medonhos Caminhos tracejados
Mas sem medo, até brincou Por traços quebrados

Logo vi o tamanho engano A linha sólida da vida


Para meu total espanto Segue outra ponta de seta
Se mostrou uma mulher forte Que encurva até na reta
Meio minas, meio norte Molda-se e refaz sua meta
Que sabe o que bem quer Em laços e loopings
Numa multicetriz incerta
Iluminou naquela noite de lua
Com seu olhar verde, à rua Triângulos não equiláteros
E tudo que mais focou Círculos de fogo diários
No meu olhar Cubos frios e quentes
Como laser penetrou E em seu plano superior
A minha alma encantou A simples face retangular
E minha visão clareou Para o tangente descanso
Ou o insano e oblíquo amor
E nesse encanto
O meu canto despertou Na contagem decrescente
Meu engano se acabou O conjunto da memória
E a enxerguei real Vagamente tende ao infinito
Como mulher e menina A contagem crescente
Meio norte, meio minas Parece cada vez mais finito
Pronta para o mundo mau. E a morte menos incógnita
Facebook Dicotomia

Ao face resisti muito Entre encontros e desencontros


Até um dia eu entrar Entre delicias e dissabores
Mas depois me viciei Entre o céu e o inferno
E não paro de postar Entre o prazer e as dores
O bicho ajuda muito
até mesmo a paquerar Entre o verão e o inverno
Entre os esquemas e amores
Quem tá nele não tá só
ajuda até quarentão Entre canções e a mudez
a sair do caritó Entre trovas e versos
é amigo, é namorada Entre a calma e estupidez
tecla-se com o mundo todo A concordância e o protesto
em qualquer hora e jornada Analiso com sensatez
Gosto, mas as vezes detesto
De beijinho a safadeza
tudo dá pra se fazer
lá no tal do bate-papo Entre o joio e o trigo
é pra crente se benzer Entre o luxo e a favela
vai foto de todo jeito Entre a preta e a branca
de vovô endurecer A Tiana ou a Cinderela
Escolha a passagem certa
A solidão que se cuide Entre a porta e a janela
e procure outro lugar
no coração do “feiceiro” Na dicotomia da vida
espaço não vai achar
Vejo caminhos fecundos
Há sempre amigo disposto
Pra curtir, comentar e teclar Sigo na busca do norte
Refletindo mais profundo
Se a distância separa Encontro a paz necessária
Facebook faz juntar Pra viver bem nesse mundo.
Se o negócio tá estreito
um vídeo dá pra enviar
do jeito mais gostosinho
pra qualquer casal gozar.
Lições para a vida
Dinheiro, bens e conforto
Já trilhei por muitas pedras Precisamos pra viver
Já vaguei na escuridão Mas não se apegue demais
Já me faltou chão nas pernas Por que se não vai sofrer
Mas nunca me faltou pão Pra manter o seu status
Nem coragem pra lutar Ou se um dia perder
Contra todo e qualquer cão
Ser alegre e ser feliz
É um jeito de viver
Às vezes, com palavras duras Passe um dia comigo
Tentam de dar empurrão Que lhe ajudo a compreender
Aproveite-as para o bem Cante, conte uma piada
Se acalme, dê seu perdão Que a vida, meu camarada
E da crítica mais negativa Só tem uma pra viver!
Tire sempre alguma lição

O que conta nessa vida


Não é o carro no portão
Nem a casa luxuosa
Toda no alto padrão
É o sorriso que carrega
Da felicidade interna
De se sentir bonachão
Amor,
desamor
e desejo
Brisa poética Soneto do amor real

Sinto a poetisa passar


Como vento vai embora Não posso te dar o que não tenho
Vai como a inspiração Então não prometo o sol e o mar
Instantânea, sem ter hora No que depender do meu empenho
Cá no meu canto, triste Terás amor eterno o tempo que durar
O coração sangra e chora
Te darei carinho manhã, tarde e noite
Tal como a brisa gostosa De mansinho, calmo, e às vezes viril
Das serras do meu sertão Roubarei teus beijos com açoite
Como já passaram poucas Sempre com surpresas, mas nada hostil
Sem saber se voltarão
Versos e poemas frescos Os nossos caminhos traçaremos à dois
Alimentaram a paixão Buscando viagens e boa diversão
Sem deixar conforto e paz para depois
Seu carinho é apaixonante
Sua escrita, inconfundível Que enquanto dure, seja infinito
Seu amor com liberdade E quando acabe nos sobre respeito
Apega de modo incrível Para assim, viver, o amor irrestrito.
Só não é possível ler
Seu pensamento ilegível

Espero vê-la de novo


Mesmo em algum sarau
Que seu livro seja aberto
Pra eu ler até o final
E me ache personagem
Mesmo sem ser principal.
Fórmula do prazer infinito Náufrago

De qualquer perspectiva Perdido em mar aberto


O ângulo é perfeito O porto seguro
Corpos sensuais perto Distante, incerto
Duas bocas num peito Náufrago à deriva
Um espectador pasmo Sem GPS, nem rumo certo
Ou feliz, o ativo sujeito Encontro ilhas vazias
Rochas brutas e icebergs
A visão é esplêndida
E as carícias são plenas As miragens iludem
Um rei grego abastado Alteram distâncias
Entre suas helenas Vento e sal corroem
Gozos concatenados Esperanças
Bem comuns as falenas Planos, sonhos
Lembranças
Se isolam pudores
E sentidos restritos O sol queima
Na regra matemática A pele, o rosto
Se quebram os mitos E a ternura
A soma um mais duas Mina a tolerância
Tende ao prazer infinito E no mar perdido, sigo
Náufrago, cheio de ânsia.
O trem passou Versos enlutados

Emboladas
Versos
O trem passou e eu não vi Repentes
Fiquei brincando e aí perdi Cantadas
Estou parado na estação Rimadas
Tal qual os trilhos, presos ao chão Trocadilhos
Com a vista longe a se perder Poemas
Vendo o dia escurecer Forrós
Xotes
Com a escuridão, me vem o frio Fraca poesia
Sinto tremores, dá calafrio De aprendiz
Sem maestria
Busco as forças pra me mover
Como num sonho, sinto prender Mas nada em vão
As pernas, braços e tudo enquanto Tudo inspirado
Só caem as lágrimas do meu pranto Na paixão viva
Sertaneja
Imóvel, preso na estação Desvelada
Plantado num mundo de ilusão
Espero o trem findar seu ciclo Hoje caminho
E andar de novo no meu sentido Meio triste
Capiongo
Essa esperança me enche a alma
Me acompanha
E me dar enfim, um pouco de calma. A parceira rima
Agora quebrada
Desanimada

E de braço dado
A saudade
Arretada
Substantiva
Concreta
Cortante
Feito facada.
Inspiração vacilante Refeição poética

Poeticamente ela quer me comer


Busquei no inconsciente Literalmente quero ser seu prato
Uma imagem consistente Me sirvo completo, na cama, no mato
Que me desse inspiração Lambendo seus lábios, me deixo engolir
Mas vi logo que era à toa E sinto prazer, qual maitri em servir
Por que a inspiração avoa No café, no jantar, na hora que pedir
Sem a verdadeira paixão
Também saboreio com gosto e desejo
Pode ser mulher mais bela Seu sumo, seu corpo, depois de mil beijos
Rapunzel ou Cinderela Do menu do verso me falta provar
Que versos não saem não Sua sobremesa antes de gozar
Procuro logo outro tema Se chego faminto, me dá sempre mais
Que sobre amor, esse lema Repito seu prato, safado e voraz.
Só uma é a inspiração

Tangencio pra outro tema Flor de veludo


Que com gata de esquema
A gente só se lambuza
Vou ficando encabulado Flor rosada
Pois poeta apaixonado Linda, fechada
Só enxerga sua musa Macia, aveludada
Abre-se cheirosa
E busco no meu sertão Quando tocada
Renovar minha inspiração
Lá o vento sopra a rima Polinizo feliz
Que energiza meu verso Igual mamangava
Num processo sem reverso Sugo o néctar doce
De longa e constante estima. Numa gostosa chupada
Me deleito no cálice
Nas saídas e entradas.
A solidão Saudade
Hoje ela veio foi forte
Dizem que a palavra saudade
E me bateu foi de cheio
Se não fosse sertanejo Só existe em português
Tinha partido ao meio Mas meu peito sertanejo
Sem caridade ou pena Só sente em nordestinês
Tremi e quase “bombeio” Não sinto em outra língua
Nem no universal inglês
A peste é dura e fria
Saia do meio, eu lhe digo Assim cumpro a minha sina
E não respeita ninguém De sertanejo sofrido
Nem “mãe-de-calor-de-figo” Carregando essa saudade
Nem raça, etnia ou cor
A satanás é um perigo No meu peito dolorido
Vou tentando conviver
Se apontar pra mim Com o amor não esquecido
Me dá até calafrio
Corro léguas de medo Lembro o som da sua boca
Por que o bicho é sombrio E seu modo de falar
Prefiro noites ao relento Lembro de cada detalhe
Dos queixos bater de frio Do lábios a se tocar
Me faz falta até o jeito
Segundo Alceu Valença
Altivo do seu discursar
Ela é uma fera, devora
Faz o relógio andar lento
Pois é amiga da hora Projeto no imaginário
Prima-irmã do tal tempo O seu cheiro sensual
Por isso tanto apavora Aquele cheiro gostoso
Que nunca achei um igual
Não pergunte o seu nome A saudade aperta o peito
Pois dela tenho pavor Numa dor fenomenal
Gosto da boa amizade
Que acaba esse temor
Desse cão da solidão
Que sem dó, só traz dor.
Surpresa

Surpreendente
Fecho os olho pra tentar Me surpreendeu
Esquecer um pouco dela Amante da liberdade
Mas sua imagem aparece Estranhamente
Com se abrisse uma janela Me prendeu
No meio do inconsciente Como uma sereia
Com seu canto
Me mostrando a face bela
Me encantou
E o sentido de ser
A sua cor me vem forte Do ser profundo
Como se fosse em novela me mostrou
Palpita no coração
A saudade cor de canela Como uma alma
Fixada na minha mente De vida passada
Da beleza em tudo dela. Leu códigos
E pensamentos
Deletou seus medos
E meus sofrimentos

Aninhou-se
No meu ninho
Me deu...
E sentiu carinho
Colou
Ficou juntinho
E ao me sentir
Gemeu baixinho

Me deu amor
Sem preconceito
Deitou o rosto
Sobre o meu peito
Chegou bem mansa
Devagarinho
E expandiu
Meu mundinho
Amor pagão

A fome na alma mina a calma


Meu amor, não tenha medo A fome do corpo me faz meio louco
Sinta a proteção, minha sombra Filmes e flashs repetem-se na mente
Sou teu arvoredo Estressada, amargurada, doente
Sinta meu corpo, meu calor Palavras duras saem inconsequente
Sou teu lençol, teu cobertor Das pontas dos dedos, num breve repente.
Te quero pronta para o amor
Depois da anestesia, com a cabeça fria
Te dou meu sangue como vinho Só o triste lamento do arrependimento
Meu corpo como uma hóstia E o sonho que letras e folhas virtuais
Sou o teu Cristo, tua religião pagã Também possam ser levadas pelo vento.
Tua seita livre, sem pecados
Sem dogmas ou regras impostas

Sou o que você quiser


Seu macho pra te comer
Seu homem pra te proteger
Seu padre pra te confessar
Seu Deus pra te perdoar
E seu Diabo pra te atentar.

Uma noite de cão


Numa noite de agonia
Nada restou da boa companhia
Só o companheiros versos
E rimas sem graça da triste poesia
Saudade, insônia, melancolia
E a esperança de um novo dia
Amor passageiro Fonte da loucura

Passam inspiradoras Dia corrido


Como nuvens passageiras Tempo sombrio
Alumiam uma temporada Trabalho, cansaço, fadiga
Como noite de lua cheia
Passam aprazíveis, gostosas Na tua hora
Quanto uma noite de ceia Mando tudo embora
Na boca carnuda
Cada uma com seu jeito Sugo a energia
Branca, loira, ruiva ou preta Que me revigora
Cada uma com seu credo
Católica, crente ou de seita Na pele morena
O que importa é a paixão Encontro a certeza
E a relação bem estreita Que a vida vale apena
Sem pensar na alma
Como se fosse a única Se é grande ou pequena
O olhar bate certeiro
O encanto não tem regra Nada de poesia
Não se imagina o roteiro Às vezes, heresia
Mas com o tempo se acalma Paixão, Tesão
Como se fosse um vespeiro Sem medida, sem regra

O romance é arrochado O tempo não para


Preenche o tempo inteiro O dia é corrido
É intenso enquanto dura Te vejo de novo
Como o fogo no palheiro Me sinto um louco
Deixa marcas, fica o carinho Um doido varrido.
Em todo amor passageiro.
Bloqueado Colheita pobre
Tempos amargos, duros
Da fome da alma
Ela já não curte nada meu Tempos da colheita pobre
No facebook, no instagran De sentir a falta
Não responde mais mensagens Do plantar mais puro
No zap, sms ou no telegram Da semente nobre

Já cansei de afundar Tempos difíceis


O dedo indicador no celular De colher o que plantou
Troquei o número, tentei de tudo A semente mal regada
Seu smartphone pra mim é mudo A flor abortou
Só fome na alma
Tô longe do seu mundo real Foi o que restou
E fora do seu universo virtual
Será que existo no pensamento? Tempos de estiagem
Ou só restou o meu lamento? De colheita escassa
Na previsão do tempo
Apagar, deletar, excluir Um céu de desgraça
Da memória, do chip, do cartão A única esperança
Bloquear além da ligação É que ele, tempo, passa.
Será possível no coração?

Me restará alguma parte


Depois de todo esse descarte?
Preciso urgente me formatar
Para enfim a vida, reiniciar!
A menina mulher A flor e o espinho

A beleza impressiona Desejo a flor da avenida


Não mais que seu estilo Aquela flor cheirosa e bela
De longe, a enxergo Será uma rosa encarnada,
A mulher na menina ou uma chanana amarela?
Parece-me madura Que abre e fecha cedo
Pelas suas expressões Como ela sai na janela

De longe, a enxergo Vejo sua beleza, de longe


A menina na mulher Falta-me seu cheiro, de perto
Parece-me criança No seu rumo fechado
Pelo terno sorriso Tento um caminho aberto
Admiro sem jeito E nele encontro espinho
Me confunde os sentidos Mas prossigo, esperto

Meu olhar acompanha Não quero uma qualquer


Lá da praça do abrigo Desejo a flor da avenida
Vejo a mulher na menina Inteira, cheirosa, bela
E acende os desejos e naturalmente despida
Bebo mais uma gelada Pra fazê-la esquecer
E sonho com seus beijos. as espinhadas da vida.
The end Amor com cerveja

Como o filme americano A nossa cerveja é PROIBIDA


Encerra o seu enredo Saboreio nos dias quentes
Com the end na última tela Até o gole final
Evitei ela por medo Lá do fundo PREMIUM
Com pause no meu DVD
Como o último santo apego Ela, CRISTAL, virou a estrela
Tal qual o SOL que me alumeia
Mas o play do outro lado Eu na BOEMIA, protejo-a
Prosseguiu sempre ativado Como a espuma, enquanto posso
Seu enredo foi rodando
Do meu filme separado Eu, poeta sertanejo ORIGINAL
Na minha cabeça passando Escrevo versos e rimas
Sonhos de desenho animado Pra ela, linda loira DEVASSA
Em nossos encontros quentes
Não adiantou muito a pausa Gelada, só mesmo a cerveja!
No time da minha filmagem
Os filmes seguiram a série
Eu fiquei na triagem
Como ator fora de moda
Em filme sem bilhetagem

Chegada a hora do fim


Do nossa longa metragem
O primeiro que abre a série
Sem ter o fim da contagem
E quem sabe nessa saga
Nos juntamos n’outra imagem.
Quanto me resta Encontro ardente

Quanto ainda me resta de muita besteira


Pra gargalhar num prazer sem medidas Seu olhar cruzou o meu
Pra se gastar em noites mal dormidas Ao meio de um café quente
Nas farras, cantorias e orgias passageiras Senti meu mundo mudar
Com seu olhar reluzente
Quantas mais serão minhas companheiras Atiçou os meus instintos
Quantas me virão com desejo ardente Tesão e paixão, de repente
Quantas provarão do meu fogo quente
Ou quantas serão minhas presas ordeiras O sabor da sua boca
Senti no seu beijo ardente
Não importa o tempo que ainda me resta Minha boca encontrou
Vou gastá-lo sempre da melhor maneira A carne macia e quente
Se vier a calma de uma noite banzeira Nos seus seios me perdi
Ou a paixão insana de uma louca seresta Mordiscando levemente

Quero gozar no tempo do bem e do bom Achei sua gruta molhada


Experimentar tranquilo o que se diz pecado Perfeita como uma rosa
Queimar no inferno pra os mais recatados Seu sumo experimentei
Mas sempre dançar na vida ao meu tom. Numa chupada gostosa
Explorei bem lá no fundo
Até gemer bem manhosa

A distância atrapalha
Mas ela é maravilhosa
Quando bate a saudade
Digita bem carinhosa
E com fotos sensuais
Faz minha vida prazerosa.
Morenice Olhar azul

Gosto do céu
Adoro as estrelas
Vi o azul do lago
Amo a Preta
E olhei pra o céu
Aguardo ansioso
Enxerguei a tinta
O crepúsculo do dia
Do meu papel
Para revê-la
Fitei teus olhos
Gosto da penumbra
Tirei o véu
Da noite enluarada
Senti bater
Amo a mulata
Na porta do céu
Brilhando linda
Ao meu lado
Abriu-se o horizonte
Qual brilho de prata
Exuberante
No teu olhar
Gosto da noite
Desconcertante
Adoro a lua
Amo a morena
Olhei com ternura
Na minha cama
De professor
Ou ao relento
Mas fraco homem
Toda nua
Perdi o pudor

O planeta azul
Mais se azulou
No teu olhar mágico
Encantador.
Viver só Lua prateada

Viver só Lua de lá
Sem um par Do luar do sertão
Desatado, sem nó De longe, vejo-te linda
Uns chamam solidão Virtualmente
No sertão é caritó Bem enluarada
Estado intermediário
Entre erros e acertos Lua atrevida
Apegos e desapegos Ofusca o sol
Amores e desesperos Bem prateada
Tempo de viver intenso Espelha daí
Seus amores verdadeiros A musa amada
Sua família e herdeiros
Tempo de ser egoísta Reflete pra cá
De olhar pra si mesmo Longe do sertão
De si amar inteiro A musa nua
De sair sem rumo Tal como a foto
De bar em bar De uma lua pelada
De puteiro em puteiro.
Amar e (ani)amar-se

Como o amor não enxergar?


Se até entre espinhos
Há flores
De todas as cores
A desabrochar

Como não amar?


Se até no desamor
Exige de si
Em si mesmo amar

Como não se animar?


Se sempre o amor
Espera em outra musa
A oportunidade
Pra me despertar.
Sobre o Autor

Paulo Gustavo de Alencar é natural de Pio IX, no


extremo leste do Piauí. Nasceu em 25 de abril de 1972,
filho de Jalda Antão e Geraldo Alencar, que desde cedo
o incentivaram a entrar no mundo da leitura. Cresceu
no sertão marcado pela cultura dos forrós, festas juninas,
farinhadas, contos de “causos” e cordéis e da mais
autêntica música nordestina. Fã dessa cultura, tornou-se
poeta inspirando-se no sertão, no cotidiano, em sua terra
natal e em temas agrários, ambientais, sociais e políticos,
sempre publicando versos e poemas bem humorados e
críticos nas redes sociais. A sua formação em agronomia
e o exercício da profissão no INCRA permitiu-o manter-
se vinculado ao fascinante mundo da cultura sertaneja.

Em 2015, lançou seu primeiro cordel inspirado na


turbulência da política e no conflito territorial municipal
(com Pimenteiras e um povo do Ceará) que ainda tem
aflorado discussões intensas sobre o amor e cuidado com
a terra natal. O texto em cordel e a poesia relacionada
ao cotidiano do sertão Semiárido ou dedicada aos atores
invisíveis são suas marcas poéticas. A cada passo, um
olhar sempre voltado para sua gente, com suas relações
políticas e sociais, suas simbologias e identidades,
as vezes com a crítica necessária, mas sem perder de
vista a ternura vital para a construção de um mundo
melhor. Atualmente se dedica também ao Doutorado em
Desenvolvimento e Meio Ambiente, realizando pesquisa
sobre a gestão fundiária no Piauí e seus reflexos nas
questões socioambientais.
Se a identidade é aquilo que nos sutura à realidade, nos
conectando a um sistema de racionalidade, parece indubitável
que PG Alencar queda-se prazerosamente suturado a sua
cidade natal, PIO IX, um longínquo município do extremo leste
do Piauí, encravado no centro do polígono das secas. [...] E esse
estar ali, manter-se embebido na cidade natal a despeito das
promissoras imagens do fora, não é algo fácil. Mas, ao mesmo
tempo, é algo visivelmente vigoroso e portador de rara potência
criadora. A poesia, assim como a arte de modo geral, é uma
das linhas que utilizamos para nos suturarmos à realidade. E,
no presente caso, PG Alencar se apresenta como “o homem de
responsabilidade mais ampla” ao qual se refere Nietzche em
Territorialidades
Além do bem do mal: ele não esgrime a sua poesia como se fosse
a verdade universal. Apenas a apresenta como a sua verdade, o
Poéticas
seu ponto de vista sobre o mundo. [...] A pequena cidade que viu PG Alencar
nascer o menino peralta que explorava as veredas de baladeira
em punho agora vê o homem que se constituiu intelectual sem
perder de vista as suas raízes. E que desenvolveu, a longo dos
anos, um pensamento social comprometido com a humanidade
lato sensu. Nisto consiste o mais belo do livro ora apresentado:
nas poesias aqui contidas pode-se ouvir o rebuliçar da vida. No
presente caso, a vida sertaneja forjada entre vivências e livros.
[...] Com esta leitura, ouvindo imaginariamente sangues-de-
boi e fogo-apagou cantando sob o sol escaldante do sertão,
garimpando uma sombra aqui e outra acolá, eu vou brindar à
vida. Evoé, PG Alencar!

Edwar Castelo Branco

Apoio:

EDITORA
Educando com amor, responsabilidade e compromisso
Se a identidade é aquilo que nos sutura à realidade, nos
conectando a um sistema de racionalidade, parece indubitável
que PG Alencar queda-se prazerosamente suturado a sua Territorialidades
cidade natal, PIO IX, um longínquo município do extremo
leste do Piauí, encravado no centro do polígono das secas. [...]
E esse estar ali, manter-se embebido na cidade natal a despeito
Poéticas
das promissoras imagens do fora, não é algo fácil. Mas, ao PG Alencar
mesmo tempo, é algo visivelmente vigoroso e portador de
rara potência criadora. A poesia, assim como a arte de modo
geral, é uma das linhas que utilizamos para nos suturarmos à
realidade. E, no presente caso, PG Alencar se apresenta como
“o homem de responsabilidade mais ampla” ao qual se refere
Nietzche em Além do bem do mal: ele não esgrime a sua
poesia como se fosse a verdade universal. Apenas a apresenta
como a sua verdade, o seu ponto de vista sobre o mundo.
[...] A pequena cidade que viu nascer o menino peralta que
explorava as veredas de baladeira em punho agora vê o homem
que se constituiu intelectual sem perder de vista as suas raízes.
E que desenvolveu, a longo dos anos, um pensamento social
comprometido com a humanidade lato sensu. Nisto consiste o
mais belo do livro ora apresentado: nas poesias aqui contidas
pode-se ouvir o rebuliçar da vida. No presente caso, a vida
sertaneja forjada entre vivências e livros. [...] Com esta leitura,
ouvindo imaginariamente sangues-de-boi e fogo-apagou
cantando sob o sol escaldante do sertão, garimpando uma
sombra aqui e outra acolá, eu vou brindar à vida. Evoé, PG
Alencar!

Edwar Castelo Branco


Apoio:

EDITORA

Educando com amor, responsabilidade e compromisso


Se a identidade é aquilo que nos sutura à realidade, nos
conectando a um sistema de racionalidade, parece indubitável
que PG Alencar queda-se prazerosamente suturado a sua
Territorialidades
cidade natal, PIO IX, um longínquo município do extremo
leste do Piauí, encravado no centro do polígono das secas. [...]
E esse estar ali, manter-se embebido na cidade natal a despeito
Poéticas
das promissoras imagens do fora, não é algo fácil. Mas, ao PG Alencar
mesmo tempo, é algo visivelmente vigoroso e portador de
rara potência criadora. A poesia, assim como a arte de modo
geral, é uma das linhas que utilizamos para nos suturarmos à
realidade. E, no presente caso, PG Alencar se apresenta como
“o homem de responsabilidade mais ampla” ao qual se refere
Nietzche em Além do bem do mal: ele não esgrime a sua
poesia como se fosse a verdade universal. Apenas a apresenta
como a sua verdade, o seu ponto de vista sobre o mundo.
[...] A pequena cidade que viu nascer o menino peralta que
explorava as veredas de baladeira em punho agora vê o homem
que se constituiu intelectual sem perder de vista as suas raízes.
E que desenvolveu, a longo dos anos, um pensamento social
comprometido com a humanidade lato sensu. Nisto consiste o
mais belo do livro ora apresentado: nas poesias aqui contidas
pode-se ouvir o rebuliçar da vida. No presente caso, a vida
sertaneja forjada entre vivências e livros. [...] Com esta leitura,
ouvindo imaginariamente sangues-de-boi e fogo-apagou
cantando sob o sol escaldante do sertão, garimpando uma
sombra aqui e outra acolá, eu vou brindar à vida. Evoé, PG
Alencar!

Edwar Castelo Branco

EDITORA

Educando com amor, responsabilidade e compromisso

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