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OBJETIVOS
Ao finalizar esta unidade você deverá ser capaz de compreender o modo como as
diferentes concepções de língua e de linguagem podem direcionar de modos
distintos os processos de leitura e de escrita no âmbito escolar. Além disso,
esperamos que sejam esclarecidas as formas de fundamentar teórico-
metodologicamente a prática de leitura e de produção textual como eixos
norteadores do ensino de Língua Portuguesa. A proposta ainda busca a reflexão
sobre atividades de leitura e de escrita de um livro didático utilizado no ensino de
Língua Portuguesa nas séries finais do Ensino Fundamental II.
PLANO DE ESTUDO
Nesta unidade, serão abordados os seguintes tópicos:
O processo de leitura.
Concepções de língua e de linguagem, o texto e o processo de leitura.
Etapas.
A produção textual.
CONVERSA INICIAL
Geraldi (1997) considera que o texto, seja oral ou escrito, é o ponto de partida e o de
chegada do processo de ensino e de aprendizagem da língua. Consoante com essa
ideia, podemos encontrar vários outros estudiosos que ressaltam a importância de
ter o texto como norte do ensino, cujas práticas de leitura e/ou de produção devem
considerar os alunos como sujeitos historicamente situados.
Entretanto, essa concepção nem sempre foi a predominante no âmbito escolar. A
prática pedagógica sofreu, no decorrer da história, a influência de vários estudos e
correntes teóricas. E mesmo com toda a produção acadêmica que temos sobre o
assunto, ainda sim temos muitas discrepâncias entre a teoria e a prática.
Vamos, então, nessa unidade, destacar algumas concepções inerentes à prática de
leitura e de produção textual a partir de diferentes concepções de língua e de
linguagem. Além disso, abordaremos as etapas que compõem o processo de leitura
e de escrita. Ensinar a ler e a escrever é, pois, uma questão essencial para você,
caro aluno, que se prepara para a atuação em sala de aula.
Sensibilização
Retome o seu percurso escolar como aluno e reflita sobre:
As atividades de leitura:
(a) Você lia textos de gêneros diversos?
(b) Você lia apenas os textos do material didático?
(c) Que estratégias a professora utilizava para promover a leitura de um texto (voz
alta, individual, coletivo, em casa)?
(d) A professora indicava livros de literatura para ler? Havia prova sobre eles? Você
gostava de ler os livros indicados?
É neste sentido, que quando lemos precisamos refletir sobre a finalidade do que se
lê, porque podemos utilizar a leitura para fins de informação, conhecimento ou
prazer. A leitura informacional é voltada para manter o leitor informado dos
acontecimentos do mundo, o que permite a ele se posicionar criticamente diante dos
fatos. A leitura de conhecimento está voltada para a pesquisa e o estudo, tanto para
aprender sobre determinado assunto, quanto para colocar um equipamento novo em
funcionamento e, geralmente, está relacionada a área de atuação do sujeito na
sociedade. A leitura de prazer está ligada à literatura e ao prazer que a leitura nos
proporciona. Tais objetivos nos ajudam a estabelecer quais estratégias serão
abordadas durante o processo de construção do significado.
Como a leitura deve, então, ser feita? Viana (2004) nos auxilia explicando:
1
VIANA, Antonio Carlos (Coord.). Roteiro de redação: lendo e argumentando. São Paulo: Scipione,
2004.
Numa primeira leitura, temos sempre uma noção muito vaga do que
o autor quis dizer. Uma leitura bem feita é aquela capaz de
depreender de um texto ou de um livro a informação essencial. Para
isso, é preciso ter pistas seguras para localizá-la. Uma boa estratégia
é buscar as palavras mais importantes de cada parágrafo. Elas
constituirão as palavras-chave do texto, em torno das quais as outras
se organizam e criam um intercâmbio de significação para
produzirem sentidos [...] A tarefa do leitor é detectá-las, a fim de
realizar uma leitura capaz de dar conta da totalidade do texto.
(VIANA, 2004, p. 9)
Vale acrescentar que o ato de ler é imprescindível aos homens, pois proporciona
sua inserção no meio social e o caracteriza como cidadão participante. Logo, ler é
uma forma de nos ajudar a perceber, compreender e elaborar nossa própria
subjetividade, contribuindo para dar sentido ao mundo, a nós próprios e aos outros.
A leitura estabelece, nessa perspectiva, relações entre os conhecimentos prévios do
leitor e seus objetivos, diferenciando-o do sentido constituído pelo autor do texto. É
por esse motivo, como já foi mencionado, que diferentes significados podem ser
atribuídos para um mesmo texto, visto que a construção do sentido é elaborada de
forma individual. Sendo assim, o mesmo texto pode despertar em cada leitor e
mesmo em cada leitura uma visão diferente da realidade. Essa visão é provocada
pela presença do texto e depende exclusivamente da bagagem cultural de
experiências prévias (conhecimento prévio) que o leitor traz para a leitura. Todavia,
não é demais frisar, que isto não significa dar ao texto o sentido que lhe achar
melhor.
É preciso ressaltar, ainda, que a proficiência da leitura não está associada somente
à leitura de grandes obras clássicas, como se supõe, mas na experiência do leitor ao
processar o texto, já que envolve compreensão, percepção e assimilação do que é
lido e carece da mobilização dos conhecimentos prévios para atualizar o texto é
fazer com que ele tenha sentido, pois o significado, muitas vezes, não está
totalmente explícito no texto, mas está na relação com as informações que o texto
desencadeia na mente do leitor.
Aliás, ler com proficiência é familiarizar-se com diferentes textos produzidos em
diferentes esferas sociais (jornalística, artística, judiciária, científica, didático-
pedagógica, cotidiana, midiática, literária, publicitária, entre outras) para desenvolver
uma atitude crítica, que leve o leitor a perceber as vozes presentes nos textos e
torne-o capaz de posicionar-se diante delas.
Qualquer leitor experiente que conseguir analisar sua própria leitura
constatará que a decodificação é apenas um dos procedimentos que
utiliza quando lê: a leitura fluente envolve uma série de outras
estratégias como seleção, antecipação, inferência e verificação, sem
as quais não é possível rapidez e proficiência. É o uso desses
procedimentos que permite controlar o que vai sendo lido, tomar
decisões diante de dificuldades de compreensão, arriscar-se diante
do desconhecido, buscar no texto a comprovação das suposições
feitas, etc (BRASIL, 1997, p. 41) 2
Dentro dessa abordagem, o leitor constrói o sentido do texto partindo do fato de que
o texto apresenta os dados que são necessários a sua compreensão. Esses dados,
provenientes do texto, acionam outros dados provenientes do leitor e na medida que
os dados do leitor completam as lacunas encontradas no texto, dá-se a construção
do sentido.
Todavia, o leitor não só deve contribuir para completar o significado do texto, mas
deve fazê-lo adequadamente. Ora, ele não pode compreender algo sobre o qual
nada conhece, isto é, para ler proficientemente um texto sobre medicina, o leitor
precisa ter certos conhecimentos técnicos.
2
BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: Língua Portuguesa. Brasília: MEC, 1997. Disponível
em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro02.pdf. Acesso: 10/12/2014.
Além disso, o fato de que o mesmo texto pode proporcionar uma leitura diferente em
cada leitor e até que o mesmo leitor não fará leituras idênticas de um mesmo texto,
geram variadas discussões. Isso porque embora toda experiência com o texto
remeta o leitor a um determinado sentido, ainda que seja em princípio um ato de
leitura, há a necessidade de se limitar as possíveis interpretações de um
determinado texto.
Entra aí a releitura que oportuniza ao leitor a possibilidade de ampliar sua
compreensão, na medida em que torna possível explorar novas direções e
incorporar aspectos desconsiderados preliminarmente.
Diante disso, o leitor precisa conhecer o jogo que se interpõe entre ele e o texto, isto
é, ele precisa possuir, além da competência sintática, semântica e textual, uma
competência específica da realidade histórico-social refletida pelo texto.
Compartilhando desta mesma visão os PCNs esclarecem que:
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Indicação de leitura
Ler e compreender: os sentidos do texto
Fonte: https://blog.udemy.com/reading-comprehension-3rd-grade/
Fonte: https://blog.udemy.com/reading-comprehension-3rd-grade/
No primeiro caso, o foco é no leitor, que faz uso intensivo e dedutivo de informações
não visuais para partir da macro para a microestrutura (da função para a forma).
Segundo Kato (2007, p. 50-51) o leitor, no processo descendente, é aquele que
Fonte: https://blog.udemy.com/reading-comprehension-3rd-grade/
O texto deve ser considerado, assim, não apenas como uma unidade formal, mas
como uma unidade funcional. A leitura é um processo dialógico: não é totalmente
estanque, já que não é apenas reconhecimento e também não é totalmente livre.
Nem o autor, nem o leitor são, assim, fonte única dos sentidos produzidos no
processo de leitura. Conforme explica Geraldi (1997, p.167),
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Fique por dentro
Muito do que sabemos hoje sobre os aspectos cognitivos da leitura se deve à Psicolinguística. No
início dos estudos desse campo, as pesquisas centravam-se na leitura de textos em língua
estrangeira. Uma das pioneiras a perceber que as descobertas também se aplicavam à língua
materna foi Mary Kato, professora da Universidade Estadual de Campinas. Angela Kleiman e
Ingedore Villaça Koch também são estudiosas que se destacam por dar importantes contribuições
para o ensino da leitura no Brasil. Neste material e em outras disciplinas do curso, você encontrará
várias proposições dessas estudiosas, bem como a indicação de várias de suas obras. Aproveite
para aprofundar o assunto!
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3. ETAPAS
Vamos iniciar essa seção com um texto produzido pelo Laboratório Clínico de
Leitura da UFSC, que foi utilizado por Menegassi (1995) para demonstrar as
diferenças entre as etapas de leitura, sobretudo a de compreensão e de
interpretação. Reproduzimos o texto abaixo. Você consegue responder a todas as
perguntas?
Você achou essas palavras “estranhas”? Sim, elas não existem na Língua
Portuguesa. Mesmo assim, você conseguiu responder tudo? Provavelmente, você
não teve dificuldades até a questão 7, não é mesmo? Isso significa que você
conseguir “ler” o texto?
Na verdade, você conseguiu passar por algumas etapas de leitura. Menegassi
(1995) explica que há quatro momentos: o da decodificação, o da compreensão, o
da interpretação e o da retenção. Embora assim separadas, é importante lembrar
que elas podem ser acionadas concomitantemente pelo leitor.
Na primeira etapa, a da decodificação, o leitor reconhece o código utilizado,
associando o significado internalizado às palavras. Se a decodificação for
malsucedida, todas as outras etapas estão comprometidas. Dentre as dificuldades
que podem existir nesse primeiro momento, estão o nível ou a área do vocabulário e
as figuras de linguagem. No texto acima exposto, a princípio, mesmo não sabendo o
significado de várias palavras, é possível passar por alguns níveis de leitura,
inclusive o da decodificação, pois conseguimos fazer algumas inferências e deduzir
o significado literal das expressões.
A segunda etapa do processo de leitura corresponde à compreensão, que em
linhas gerais, diz respeito ao reconhecimento da temática do texto. Segundo
Menegassi (1995, p. 88), nessa fase
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Fique por dentro
Essas “etapas” de leitura podem ser reorganizadas dependendo da perspectiva teórico-metodológica
mobilizada. Um exemplo vem do campo da Análise de Discurso, de linha francesa. Para Eni Orlandi
(1988, 2001, 2007), que se filia nessa base epistemológica, a leitura passa, de um modo geral, por
três estágios: a inteligibilidade, que se refere à decodificação das palavras, a interpretação, fase
em que se atribui um sentido ao texto, buscando as informações que estão explícitas e a
compreensão, atividade complexa que considera a inscrição do texto no contexto histórico,
percebendo, assim, sua opacidade e que o sentido sempre pode ser outro.
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Agora que você já estudou alguns aspectos sobre o processo de leitura, vamos à
outra prática que deve fundamentar os encaminhamentos pedagógicos do trabalho
com o texto em sala de aula: a produção textual.
4. A PRODUÇÃO TEXTUAL
A escrita não está presente apenas no âmbito escolar. Considerando essa prática
como um objeto social, Pasarelli (2012) propõe pensar, primeiramente, sobre as
funções da escrita em nossa vida. Há pelo menos quatro grandes funções: a
comunicativa, a informativa, a utilitária (textos produzidos na escola, como resumos,
relatórios...) e a estética (textos escritos por prazer, para elogiar, sensibilizar...). A
autora destaca um quadro muito bem organizado para demonstrar, a partir do
propósito comunicativo, o para quê escrevemos (objetivo), tanto na vida escolar
quanto em nosso cotidiano. Reproduzimos o quadro aqui, para que você, aluno,
perceba a riqueza de gêneros (coluna da direita) que nós todos produzimos para
atender aos propósitos comunicativos (coluna da esquerda):
Geraldi (1997) corrobora com essa questão propondo uma interessante distinção
entre redação e produção de textos. No primeiro caso, ao fazer uma redação, o
aluno produz um texto PARA a escola, o que significa que ele seguirá uma tipologia
textual (narração, descrição e dissertação) para fazer um texto cujo destinatário é
sempre o professor.
Já na produção textual, o texto é produzido NA escola e sua finalidade é definida por
uma questão social específica. O professor ainda é o interlocutor real, mas também
é estabelecido um interlocutor virtual. Dessa forma, o professor não estará
preocupado apenas com a correção da norma padrão da língua no texto, mas estará
atento também para o modo de dizer, indicando alternativas mais adequadas para
dizer o que se quis dizer. Há, desse modo, uma relação interlocutiva, a partir de um
quadro de condições necessárias, em que:
a) Se tenha o que dizer;
b) Se tenha uma razão para dizer o que se tem a dizer;
c) Se tenha para quem dizer o que se tem a dizer;
d) O locutor se constitua como tal, enquanto sujeito que diz o que diz
para quem diz;
e) Se escolham as estratégias para realizar (a), (b), (c), (d).
(GERALDI, 1997, p. 137)
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Indicação de leitura
Discurso e Leitura
ANÁLISE
PARTE I
Escolha uma atividade de leitura proposta em um livro didático, utilizado nas séries
finais do Ensino Fundamental II. Geralmente, elas aparecem no início de cada
unidade. Reflita sobre as seguintes questões:
Qual concepção de linguagem fundamenta as atividades propostas?
Você consegue identificar se as atividades contemplam as etapas de
decodificação, de compreensão e de interpretação?
É possível afirmar que o texto está sendo utilizado como forma de interação
entre leitor-autor ou apenas como um pretexto para ensinar regras gramaticais? Há
exercícios em que, por exemplo, são retirados exemplos do texto para ilustrar
alguma noção da gramática normativa?
Considerando todo o processo de leitura, você acredita que as atividades
propostas pelo livro didático são suficientes?
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Reflita
A partir da análise da atividade de leitura proposta no livro didático, vamos pensar sobre a leitura de
outros tipos de linguagem. Observe o modo como o texto que você escolheu está exposto no livro
didático. Há imagens acompanhando o texto escrito? Qual é a função dessas imagens? Há
atividades que abordam a leitura específica de textos não verbais?
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PARTE II
Observe as atividades de produção textual propostas em algumas unidades do
livro e reflita:
Das etapas estudadas, quais são contempladas na proposta do livro didático?
São considerados vários gêneros, ou os alunos produzem apenas textos
dissertativos e narrativos?
As condições de produção são ressaltadas nos comandos das atividades (nos
enunciados)?
A proposta de produção textual aparece no final da unidade e segue a temática
trabalhada nas atividades anteriores?
AÇÃO
Elabore um relato sobre as reflexões realizadas no item anterior, avaliando como os
exercícios se estruturam considerando todos os conceitos estudados até aqui. Você
faria alguma adaptação nas atividades que você analisou? Se você tiver sugestões
de reorganização das atividades ou até mesmo se quiser propor novas
questões/ações que poderiam deixar as atividades de leitura e de escrita mais
eficientes, elabore sua sequência!
Lembramos, apenas, que essa é uma atividade hipotética. Se julgar necessário,
estabeleça um possível contexto de trabalho, para justificar a adaptação. O que
importa, neste momento, é tomarmos nosso lugar de professores!
Bom trabalho!
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Indicações de leitura
Indicação de filme
Central do Brasil é um drama, dirigido por Walter Salles, lançado em 1998. Dora (Fernanda
Montenegro) trabalha escrevendo e lendo cartas para analfabetos na estação Central do Brasil, no
Rio de Janeiro. A escrivã ajuda Josué (Vinícius de Oliveira), um garoto de 9 anos, a encontrar seu pai
no interior do Nordeste, depois que sua mãe foi atropelada. Além de abordar os deslocamentos
sociais e culturais provocados pela migração, o filme retrata as dificuldades e problemas sociais e de
relação familiar que as pessoas analfabetas enfrentam em seu cotidiano.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Chegamos ao final de mais uma unidade! Esperamos que você tenha compreendido
quão importante é o trabalho com leitura e produção textual na escola, seja na aula
de Língua Portuguesa, Estrangeira ou em qualquer outra disciplina. O processo de
leitura e de escrita é o mesmo, não importa o tipo/gênero de texto, nem a língua!
A partir do que foi proposto nessa unidade, esperamos, também, que você tenha
notado a importância de fundamentar suas escolas pedagógicas e metodológicas no
trabalho com a leitura e a escrita, já que filiar-se a uma perspectiva teórica leva a
procedimentos específicos de ensino e de aprendizagem. Isso não significa que
você deve seguir sempre a mesma linha. Tudo depende dos objetivos traçados. E
eles devem estar bem claros para você e para os alunos!
Ressaltamos, mais uma vez, a necessidade de se aprofundar no assunto a partir
das leituras sugeridas. Bons estudos!
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS