A Odontologia para bebês é destinada à primeira infância (0-3 anos de idade). Durante muito
tempo essa faixa etária ficou desassistida porque imaginou que a criança só deveria ir ao dentista quando
tivesse dentes permanentes ou quando precisasse realmente fazer algum procedimento, o que de fato era
um erro de entendimento. Só depois de muito tempo, em meados da década de 80 começou-se a
entender que quanto mais cedo a criança chega ao dentista, mais rapidamente ela se acostuma a rotina de
ir ao consultório.
Então, a Odontologia para bebês não é uma especialidade (como a Odontopediatria). Ela é
estudada dentro do curso de especialização em Odontopediatria, mas existem cursos de aperfeiçoamento
voltados somente para a Odontologia para bebês na ABO e nas universidades, com duração de 6-8 meses.
Existem algumas particularidades dessa faixa etária que diferem um pouco do tratamento da
criança que é feito da Odontopediatria.
Sinonímia:
Odontologia para bebês; Odontologia materna-infantil; Odontologia intrauterina(?)
Definição: É a antecipação dos cuidados odontológicos para instalar hábitos saudáveis e assim
evitar doenças.
A Odontologia para bebês começa na vida intrauterina. Só a título de curiosidade: os dentes começam a se
formar na vida intrauterina (todos os decíduos e alguns permanentes) e por volta do 4º mês de vida
intrauterina está se desenvolvendo o paladar das crianças, por isso, tudo que a mãe come tem uma
repercussão na instalação de hábitos alimentares saudáveis ao longo da vida do bebê. Alterações
sistêmicas na mãe tem íntima relação más formações dentárias do bebê (e a hipoplasia é a principal
repercussão de uma infecção urinária, ou febre, etc). E também a saúde bucal da mãe é extremamente
importante para o bebê em formação. Mães que criam mais cárie tem filhos que tem mais cárie, pois essa
é uma doença transmissível que é passada principalmente da mãe para o bebê, pois é a pessoa que tem
um contato mais íntimo com a criança; e quanto mais infectada a boca da mãe, mais cedo a criança tem
cárie.
Por isso devemos ter essa atenção precoce, a intenção do cirurgião dentista no momento da vida
intrauterina é cuidar da mãe (semelhante ao pré-natal médico), para que tenha como consequência uma
melhor saúde bucal do bebê, pois a principal forma de evitar doenças é tendo conhecimento. Essa é a
intenção de programas como o “Saúde da Família”, dando assistência multiprofissional e transmitindo
conhecimento para as famílias.
Também à título de curiosidade: estudos afirmam que mães com doenças periodontais tem 7 vezes
mais chances de ter crianças prematuras com baixo peso. Depois, outras pesquisas vieram e mostraram
que não é tanto assim, mas a relação de fato existe. (Ela falou também de uma pesquisa do mestrado dela
na Maternidade Januário Cicco, comparando mães com doença periodontal e mães normais, levando em
conta também uma série de fatores sistêmicos, mostrando que existe sim uma repercussão na saúde do
bebê).
O condicionamento da criança e a psicologia no consultório odontológico é muito melhor e mais
fácil de ser feito quando essa criança é acompanhada desde a vida intrauterina, pois ela já está
naturalmente familiarizada com o ambiente. Nos bebês, até a irrupção dos molares decíduos, eles aceitam
tranquilamente a manipulação da boca pelo profissional e pela mãe (desde que ela domine a técnica e
saiba como manusear a boquinha do bebê), pois é prazeroso para eles. Depois da irrupção dos molares
decíduos eles ficam um pouco resistentes ou defensivos, que é uma época de maior agressividade do
bebê; por isso ele vai se manifestar mais pelo choro, mas devemos alertar os pais que aquele choro não
deve impedir o tratamento, pois é normal e é apenas uma forma do bebê se comunicar seja pra pedir
alimento, carinho, atenção, etc. Esse choro não quer dizer que esteja misturado com birra, com
agressividade ou má educação, ou coisas que exijam contenção física ou outros recursos de manejo da
criança na consulta odontológica.
Tríade: mãe-criança-profissional
E para que a Odontologia para bebês aconteça, tem que haver essa tríade em sintonia. A criança
ainda não tem autonomia ou autoridade e nem entendimento para saber o que é importante pra ela, por
isso precisa ter uma mãe sensibilizada, consciente, instruída para levar a criança ao dentista para
prevenção e não somente para regressão da doença. E um profissional preparado e que saiba lidar com o
que possa acontecer.
Quando o paciente chega aos 16 anos sem atividade de cárie, grosso modo, nós completamos a
nossa missão enquanto Odontopediatras, pois a cárie é uma doença infectocontagiosa cuja aquisição do
microrganismo cariogênico é precoce. Normalmente a gente não passa a vida inteira isento do
microrganismo cariogênico, só que ele pode ou não ser dominante no microambiente bucal. A aquisição,
assim como os hábitos (que são determinantes para que esse microrganismo se proliferem), vão regular as
janelas de infectividade da cárie. Por exemplo, quando surgem os primeiros molares permanentes surgem
novas janelas de infectividade, pois esses dentes tem sulcos altamente retentivos e ainda não atingiram
sua maturação pós-eruptiva (período em que ele está mais vulnerável à doenças). Dessa forma, a dentição
permanente se completa por volta dos 12-13 anos, mas os dentes só atingirão sua maturidade pós-
eruptiva 3 anos depois, na faixa dos 15-16 anos.
Antes do nascimento:
E antes do nascimento, o que a gente pode fazer por aquele bebê, para que ele tenha dentes mais
saudáveis? O cirurgião dentista age na mãe e isso indiretamente repercute na saúde da criança.
Primeiramente há o preparo para a amamentação, mudar hábitos errôneos da mãe (que é fissura da
áurea(?), porém a gestação é um período em que as mães estão muito ávidos à mudanças, porque querem
que os filhos sejam saudáveis). Nos programas de pré-natal odontológico, é imprescindível instruir sobre a
importância de uma amamentação natural adequada para a saúde bucal do seu filho. Há uma série de
fatores que a OMS prega que são importantes para amamentar a criança, como por exemplo o custo do
leite artificial, a temperatura, os componentes e a disponibilidade do leite natural, o fato de ser estéril, de
fortalecer o sistema imune do bebê (principalmente o colostro), importância psicológica e de afeto para a
criança, ajuda a mãe a emagrecer, reduz a probabilidade de câncer de colo do útero e de mama, etc. Para a
boca, a amamentação retarda o contato da criança com alimentos artificiais, doces e retentivos, a
apreensão da mama treina a respiração correta, fortalece a musculatura diminuindo a probabilidade da
criança ser um respirador bucal e diminui as chances de uma maloclusão.
Porém, problemas podem acontecer durante a amamentação. Mães com herpes de mamilo,
aidéticas, mastite, cirurgia de mama e mais uma série de fatores podem dificultar o processo da
amamentação. Por isso, devemos saber instruir as mães sobre os meios de fortalecer a mama, como
exposição ao sol, massagens em clínicas de estética, pomadas à base de lanolina e bicos de silicone para
rachaduras de mamilos, etc. E mesmo havendo um insucesso na amamentação, existem formas de fazer
com que o aleitamento artificial tenha benefícios aproximados ao aleitamento natural: mudar hábitos
alimentares e principalmente hábitos de higiene bucal da mãe (que além de presença física e proximidade
com o bebê, podendo transmitir microrganismos, também é ela a responsável pela doação dos primeiros
anticorpos; então hábitos da mãe irão repercutir diretamente na saúde do bebê, então os microrganismos
vão ter mais ou menos capacidade de se instalar na boca do bebê porque seu sistema imune s assemelha
ao da mãe). E antigamente se achava que tinha que dar muito Flúor para a mãe tomar, para que entrasse
no organismos da mãe, passasse pela placenta e chegasse no dente em formação do bebê, prevenindo a
cárie. Essa valorização do Flúor sistêmico (bebendo, tomar vitaminas ou gotas Flúor, fazendo a
hidroxiapatita ser substituída pela Fluorapatita e o dente ao invés de se formar com 92% de hidroxiapatita,
se formaria com Fluorapatita e seria mais resistente ao ataque ácido e a desmineralização) é inadequada,
pois hoje sabe-se que o Flúor é importante quando está na cavidade bucal diariamente absorvido na
superfície do dente (e não incorporado, absorvido pelo dente) e a apatita fluoretada não é constituída
100% de fluorapatita e o seu teor de solubilidade é semelhante ao da hidroxiapatita. O que acontece é que
se o dente tiver Flúor em sua superfície na forma de Fluoreto de Cálcio (na hora que a gente escova o
dente com Flúor ou aplica o Flúor em gel na boca dos pacientes, esse Fluoreto de Cálcio ainda recebe uma
“camada protetora” por cima dele), quando tiver uma desmineralização, esse sistema será desorganizado
e o Flúor será liberado para ser reincorporado ao dente e remineralizado. E essa troca e esse dinamismo
que é o motivo do Flúor não precisar ser tomado pela gestante lá pelo 2º mês de gestação. Os complexos
vitamínicos tomados pela gestante tem todas as vitaminas que ela precisa e o Flúor é altamente reativo
(principalmente ao Cálcio) e pode reagir aos elementos que seriam essenciais à saúde do bebê e da
gestante.
Após o nascimento:
É muito frequente o cirurgião dentista receber mães com encaminhamento para o Odontopediatra porque
os bebês apresentam uma série de alterações fisiológicas que confundem os leigos e os profissionais com
relação a anatomia da região bucal. Além de tudo, devemos saber como conduzir essa consulta, porque o
manejo do bebê no consultório é diferente de uma criança. Primeiramente, devemos saber a quem nos
dirigir (no caso, os pais são os acompanhantes mais frequentes). Também devemos criar um ambiente
agradável, adaptado e tranquilo para o bebê, com Odontoconforto, etc. Não se angustiar com o choro e
antecipar essa informação aos pais, pois o choro é perfeitamente normal e conduzir a consulta
normalmente. Começar pela região perioral, massageando a face da criança (tendo uma proximidade
maior do que o carinho que se faz com uma criança maior).
Desenvolvimento da oclusão:
A irrupção do primeiro dente é um momento importante na vida dos pais e do bebê e que também deve
ser valorizado pelo cirurgião dentista. A partir desse momento deve-se orientar como é que abre e limpa a
boca do bebê tratando diretamente com a pessoa que cuida da criança, seja ela a mãe ou a babá (que
também deve estar presente na consulta).
Deve-se posicionar o bebê corretamente. Não há um rigor de horário (como escovar os dentes 3x
ao dia) é mais quando já se tem molares em boca. Quando já se tem dentes em boca, como são estruturas
duras e mais retentivos, já são responsáveis por reter s PECs, por isso precisamos fazer a higienize correta
da boca. Quando ainda não se tem dentes em boca, apenas tecidos moles, a limpeza é esporádica, porém
diária. O segredo é sempre associar a limpeza da boca ao banho do bebê. Quando não tem dente ou tem
apenas os anteriores, limpa-se com uma gaze enrolada no dedo (mãos limpas e unhas sempre cortadas
para não machucar o bebê) e massageia com o dedo indicador envolto por uma gaze, fralda ou paninho,
desde que seja limpo e úmido (porque se não estiver úmido fica muito áspero) com água filtrada.
Associado a limpeza, deve-se sempre fazer uma observação se o dente tá apresentando alguma
manchinha, se quebrou por algum motivo, se tá sangrando, inchado, com cor diferente, se a posição tá
correta, etc.
c) Cisto/Hematoma de erupção:
Um dos grande motivos de procura dos pais pelo consultório da Odontopediatria é pelo surgimento
dos cistos ou hematomas de erupção, que são sinônimos e acontecem quando há um extravasamento de
sangue ou de líquido quando o dente está erupcionando, já ultrapassou a barreira óssea e está envolto
apenas por tecido mole. Não tem o que fazer, o tratamento é massagear com o dedo ou o mordedor, pois
alivia a angústia da criança e a erupção faz desaparecer o hematoma.
Amamentação:
Existem algumas fatores que são relevantes e precisam ser comentados, como: o leite materno
também tem potencial cariogênico, por isso a higiene precisa ser feita; a amamentação é um ato
imprescindível na vida do bebê e só deverá ser substituída pelo leite normal quando realmente necessário;
a posição deve ser sempre verticalizada; o furo do bico da mamadeira tem que ser adequado a idade do
bebê e nunca deve ser ampliado (porque não deve fluir sem que a criança faça força); nunca ser dado a
própria criança para segurar, pois a posição da mamadeira também é importante.
Durante os 6 primeiros meses a criança deve mamar exclusivamente no peito, não precisando nem
de água. A partir dos 6 meses até 1 ano, com a irrupção dos primeiros dentes, pode-se começar a
introduzir alimentos (como frutas, legumes) e é feito o desmame gradativo. Para os dentes, é importante
que a criança sinta a consistência dos alimentos, por isso inicialmente a fruta deve ser amassada, depois
apenas cortada. É importante também evitar a adição de açúcares artificiais, por isso deve-se evitar o suco
de frutas cítricas.
O ideal seria sair do peito e passar para copos e colheres, mas nem sempre o aleitamento materno
se faz exclusivo nos 6 primeiro meses e a mãe começa a introduzir a mamadeira nesse meio tempo (o furo
do bico não deve ser grande demais, evitar a passagem de ar durante a deglutição, o plástico deve ser livre
de DTA(?).
Higiene:
Sem dentes e apenas com dentes anteriores, limpeza com gaze molhada. A partir do nascimento
dos primeiros molares decíduos, usa-se escova dental com creme dental em uma porção de um grão de
arroz. Esse contato com o flúor é uma medida preventiva criteriosa para que não se tenha cárie. Como a
criança não saber cuspir, deve-se tirar o excesso com uma gaze, fraldinha ou guardanapo. É importante
que as escovas tenham uma melhor apreensão, cerdas pequenas, as pastas contenham flúor e que sejam
colocadas em pequena quantidade e a escovação seja sempre motivada pelos pais.
Hábitos de sucção:
O bebê tem uma necessidade de sucção, que é a preparação da criança para o que é vital. Porém, nem
sempre essa sucção é exitosa, pois gera o hábito difícil de largar e a criança vai buscar sugar qualquer coisa
que tiver pela frente. O hábito de chupar o dedo é muito prejudicial porque ele está disponível o tempo
inteiro para a criança e você não tem como controlar a frequencia. Deve-se sempre substituir pela chupeta
para favorecer a retirada do hábito depois. A mãe não deve incentivar o hábito da sucção, mas se a criança
sentir a necessidade daquilo não se deve impedir. O cuidado deve ser quanto a frequencia e a oferta (por
exemplo, quando a criança soltar a chupeta, não precisamos força-la a pegar de volta). Se a criança
prolongar esse hábito até depois dos 3 anos de idade, a principal alteração observada é a mordida aberta.
Deve-se evitar correntes na chupeta para que ela não fique muito à disposição da criança e também
porque essas correntes pesam e isso pode auxiliar no estabelecimento de uma má oclusão. As sequelas
advindas de um hábito de sucção prolongado são inúmeras, dentre elas a mordida aberta e a mordida
cruzada.