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ODONTOLOGIA PARA BEBÊS

A Odontologia para bebês é destinada à primeira infância (0-3 anos de idade). Durante muito
tempo essa faixa etária ficou desassistida porque imaginou que a criança só deveria ir ao dentista quando
tivesse dentes permanentes ou quando precisasse realmente fazer algum procedimento, o que de fato era
um erro de entendimento. Só depois de muito tempo, em meados da década de 80 começou-se a
entender que quanto mais cedo a criança chega ao dentista, mais rapidamente ela se acostuma a rotina de
ir ao consultório.
Então, a Odontologia para bebês não é uma especialidade (como a Odontopediatria). Ela é
estudada dentro do curso de especialização em Odontopediatria, mas existem cursos de aperfeiçoamento
voltados somente para a Odontologia para bebês na ABO e nas universidades, com duração de 6-8 meses.
Existem algumas particularidades dessa faixa etária que diferem um pouco do tratamento da
criança que é feito da Odontopediatria.

 O estudo da Odontologia para bebês envolve esses 5 pontos:


Por que existe a Odontologia para bebês?
Quais as características dos bebês?
Quais as alterações mais frenquentes?
Como prevenir a doença no bebê?
Quais as sequelas deixadas pelos hábitos de sucção?

 Sinonímia:
Odontologia para bebês; Odontologia materna-infantil; Odontologia intrauterina(?)

 Definição: É a antecipação dos cuidados odontológicos para instalar hábitos saudáveis e assim
evitar doenças.

A Odontologia para bebês começa na vida intrauterina. Só a título de curiosidade: os dentes começam a se
formar na vida intrauterina (todos os decíduos e alguns permanentes) e por volta do 4º mês de vida
intrauterina está se desenvolvendo o paladar das crianças, por isso, tudo que a mãe come tem uma
repercussão na instalação de hábitos alimentares saudáveis ao longo da vida do bebê. Alterações
sistêmicas na mãe tem íntima relação más formações dentárias do bebê (e a hipoplasia é a principal
repercussão de uma infecção urinária, ou febre, etc). E também a saúde bucal da mãe é extremamente
importante para o bebê em formação. Mães que criam mais cárie tem filhos que tem mais cárie, pois essa
é uma doença transmissível que é passada principalmente da mãe para o bebê, pois é a pessoa que tem
um contato mais íntimo com a criança; e quanto mais infectada a boca da mãe, mais cedo a criança tem
cárie.
Por isso devemos ter essa atenção precoce, a intenção do cirurgião dentista no momento da vida
intrauterina é cuidar da mãe (semelhante ao pré-natal médico), para que tenha como consequência uma
melhor saúde bucal do bebê, pois a principal forma de evitar doenças é tendo conhecimento. Essa é a
intenção de programas como o “Saúde da Família”, dando assistência multiprofissional e transmitindo
conhecimento para as famílias.
Também à título de curiosidade: estudos afirmam que mães com doenças periodontais tem 7 vezes
mais chances de ter crianças prematuras com baixo peso. Depois, outras pesquisas vieram e mostraram
que não é tanto assim, mas a relação de fato existe. (Ela falou também de uma pesquisa do mestrado dela
na Maternidade Januário Cicco, comparando mães com doença periodontal e mães normais, levando em
conta também uma série de fatores sistêmicos, mostrando que existe sim uma repercussão na saúde do
bebê).
O condicionamento da criança e a psicologia no consultório odontológico é muito melhor e mais
fácil de ser feito quando essa criança é acompanhada desde a vida intrauterina, pois ela já está
naturalmente familiarizada com o ambiente. Nos bebês, até a irrupção dos molares decíduos, eles aceitam
tranquilamente a manipulação da boca pelo profissional e pela mãe (desde que ela domine a técnica e
saiba como manusear a boquinha do bebê), pois é prazeroso para eles. Depois da irrupção dos molares
decíduos eles ficam um pouco resistentes ou defensivos, que é uma época de maior agressividade do
bebê; por isso ele vai se manifestar mais pelo choro, mas devemos alertar os pais que aquele choro não
deve impedir o tratamento, pois é normal e é apenas uma forma do bebê se comunicar seja pra pedir
alimento, carinho, atenção, etc. Esse choro não quer dizer que esteja misturado com birra, com
agressividade ou má educação, ou coisas que exijam contenção física ou outros recursos de manejo da
criança na consulta odontológica.

 Tríade: mãe-criança-profissional
E para que a Odontologia para bebês aconteça, tem que haver essa tríade em sintonia. A criança
ainda não tem autonomia ou autoridade e nem entendimento para saber o que é importante pra ela, por
isso precisa ter uma mãe sensibilizada, consciente, instruída para levar a criança ao dentista para
prevenção e não somente para regressão da doença. E um profissional preparado e que saiba lidar com o
que possa acontecer.
Quando o paciente chega aos 16 anos sem atividade de cárie, grosso modo, nós completamos a
nossa missão enquanto Odontopediatras, pois a cárie é uma doença infectocontagiosa cuja aquisição do
microrganismo cariogênico é precoce. Normalmente a gente não passa a vida inteira isento do
microrganismo cariogênico, só que ele pode ou não ser dominante no microambiente bucal. A aquisição,
assim como os hábitos (que são determinantes para que esse microrganismo se proliferem), vão regular as
janelas de infectividade da cárie. Por exemplo, quando surgem os primeiros molares permanentes surgem
novas janelas de infectividade, pois esses dentes tem sulcos altamente retentivos e ainda não atingiram
sua maturação pós-eruptiva (período em que ele está mais vulnerável à doenças). Dessa forma, a dentição
permanente se completa por volta dos 12-13 anos, mas os dentes só atingirão sua maturidade pós-
eruptiva 3 anos depois, na faixa dos 15-16 anos.

 A importância dos decíduos:


Os dentes decíduos são importantes não só para a estética da criança, mas também para que eles tenham
uma boa alimentação e esteja mais bem nutrida; para o aprendizado da fala e para manter espaço para os
dentes permanentes.

 Antes do nascimento:
E antes do nascimento, o que a gente pode fazer por aquele bebê, para que ele tenha dentes mais
saudáveis? O cirurgião dentista age na mãe e isso indiretamente repercute na saúde da criança.
Primeiramente há o preparo para a amamentação, mudar hábitos errôneos da mãe (que é fissura da
áurea(?), porém a gestação é um período em que as mães estão muito ávidos à mudanças, porque querem
que os filhos sejam saudáveis). Nos programas de pré-natal odontológico, é imprescindível instruir sobre a
importância de uma amamentação natural adequada para a saúde bucal do seu filho. Há uma série de
fatores que a OMS prega que são importantes para amamentar a criança, como por exemplo o custo do
leite artificial, a temperatura, os componentes e a disponibilidade do leite natural, o fato de ser estéril, de
fortalecer o sistema imune do bebê (principalmente o colostro), importância psicológica e de afeto para a
criança, ajuda a mãe a emagrecer, reduz a probabilidade de câncer de colo do útero e de mama, etc. Para a
boca, a amamentação retarda o contato da criança com alimentos artificiais, doces e retentivos, a
apreensão da mama treina a respiração correta, fortalece a musculatura diminuindo a probabilidade da
criança ser um respirador bucal e diminui as chances de uma maloclusão.
Porém, problemas podem acontecer durante a amamentação. Mães com herpes de mamilo,
aidéticas, mastite, cirurgia de mama e mais uma série de fatores podem dificultar o processo da
amamentação. Por isso, devemos saber instruir as mães sobre os meios de fortalecer a mama, como
exposição ao sol, massagens em clínicas de estética, pomadas à base de lanolina e bicos de silicone para
rachaduras de mamilos, etc. E mesmo havendo um insucesso na amamentação, existem formas de fazer
com que o aleitamento artificial tenha benefícios aproximados ao aleitamento natural: mudar hábitos
alimentares e principalmente hábitos de higiene bucal da mãe (que além de presença física e proximidade
com o bebê, podendo transmitir microrganismos, também é ela a responsável pela doação dos primeiros
anticorpos; então hábitos da mãe irão repercutir diretamente na saúde do bebê, então os microrganismos
vão ter mais ou menos capacidade de se instalar na boca do bebê porque seu sistema imune s assemelha
ao da mãe). E antigamente se achava que tinha que dar muito Flúor para a mãe tomar, para que entrasse
no organismos da mãe, passasse pela placenta e chegasse no dente em formação do bebê, prevenindo a
cárie. Essa valorização do Flúor sistêmico (bebendo, tomar vitaminas ou gotas Flúor, fazendo a
hidroxiapatita ser substituída pela Fluorapatita e o dente ao invés de se formar com 92% de hidroxiapatita,
se formaria com Fluorapatita e seria mais resistente ao ataque ácido e a desmineralização) é inadequada,
pois hoje sabe-se que o Flúor é importante quando está na cavidade bucal diariamente absorvido na
superfície do dente (e não incorporado, absorvido pelo dente) e a apatita fluoretada não é constituída
100% de fluorapatita e o seu teor de solubilidade é semelhante ao da hidroxiapatita. O que acontece é que
se o dente tiver Flúor em sua superfície na forma de Fluoreto de Cálcio (na hora que a gente escova o
dente com Flúor ou aplica o Flúor em gel na boca dos pacientes, esse Fluoreto de Cálcio ainda recebe uma
“camada protetora” por cima dele), quando tiver uma desmineralização, esse sistema será desorganizado
e o Flúor será liberado para ser reincorporado ao dente e remineralizado. E essa troca e esse dinamismo
que é o motivo do Flúor não precisar ser tomado pela gestante lá pelo 2º mês de gestação. Os complexos
vitamínicos tomados pela gestante tem todas as vitaminas que ela precisa e o Flúor é altamente reativo
(principalmente ao Cálcio) e pode reagir aos elementos que seriam essenciais à saúde do bebê e da
gestante.

 Após o nascimento:
É muito frequente o cirurgião dentista receber mães com encaminhamento para o Odontopediatra porque
os bebês apresentam uma série de alterações fisiológicas que confundem os leigos e os profissionais com
relação a anatomia da região bucal. Além de tudo, devemos saber como conduzir essa consulta, porque o
manejo do bebê no consultório é diferente de uma criança. Primeiramente, devemos saber a quem nos
dirigir (no caso, os pais são os acompanhantes mais frequentes). Também devemos criar um ambiente
agradável, adaptado e tranquilo para o bebê, com Odontoconforto, etc. Não se angustiar com o choro e
antecipar essa informação aos pais, pois o choro é perfeitamente normal e conduzir a consulta
normalmente. Começar pela região perioral, massageando a face da criança (tendo uma proximidade
maior do que o carinho que se faz com uma criança maior).

Quando o bebê deve ir pela primeira vez ao Odontopediatra?


Estando tudo ok, normalmente a primeira consulta coincide com a irrupção do primeiro dente, que é por
volta dos 6 meses. Mas se antes disso surgir alguma alteração (aumento de volume, região machucada ou
com alteração de cor) deve-se leva-lo assim que puder.
No atendimento, nunca se deve deixar a criança solta na cadeira odontológica porque causa o risco
e desconforto pra criança; ela precisa ser abraçada pela mãe ou acompanhante. Se não for no ambiente do
consultório, usar a técnica do joelho-à-joelho. E não perder tempo com condicionamento verbal, pois a
criança ainda não tem entendimento sobre o que vai acontecer; mas se for na faixa dos 2-3 anos já se pode
começar o condicionamento com bichinhos de pelúcia, etc.
Normalmente, deve-se usar técnicas rápidas, curtas, confortáveis, tudo muito planejado com
sessões com no máximo 20 minutos em cadeira. No consultório, leva-se 1 hora na consulta como um todo
porque envolve muita conversa com os pais. E aí quando tá maiorzinho as necessidades geralmente já
estão mais presentes, pois há uma retenção maior de biofilme, as sessões são mais demoradas na cadeira
e aí entram todas aquelas técnicas de manejo e condicionamento.

 Estruturas anatômicas e as alterações:

a) Alterações estruturais mais comuns:


Algumas duvidas comuns nessa época: “Dra, meu filho baba demais, vive com a língua pra fora,
empurra a comida com a língua”. O bebê não tem o anteparo natural para a língua (que são os dentes),
então há um aspecto de macroglossia. Está havendo a maturação das glândulas salivares da criança, por
isso a tendência é que ela salive muito. Nesses casos, não há necessidade de intervenção nenhuma, a não
ser que a criança use chupeta, aí deve-se evitar o acúmulo de saliva na chupeta para evitar dermatites no
vermelhão do lábio e ângulo da boca. “Dra, eu acho o queixo do meu filho muito pequeno”: aí entram as
instruções sobre a posição correta de amamentação. Quanto menos desenvolvida a mandíbula da criança,
mais estímulo deve ser feito. A posição ideal é que a barriguinha do bebê esteja em contato com a barriga
da mãe e ela esteja mais verticalizada do que deitada (para hiperextender o pescoço em busca da sucção,
consequentemente, estimulando mais durante a amamentação). Então, crianças com histórico familiar de
Classe II por deficiência mandibular, deve-se adotar essa posição ortoestática para que haja um
desenvolvimento forçado, acentuado da mandíbula. “Dra, o lábio do meu filho é pontudo e tem uma
carninha que as vezes fica bem gordinha e branquinha”: O nome disso é “sulco ptti(?)”, ele é um recurso da
natureza para favorecer a pegada do mamilo, ajudando na vedação do ar e na sucção e que desaparece
depois do período de aleitamento. Ele fica esbranquiçado devido a fricção da boca da criança no mamilo
durante a amamentação. “Dra, no lugar do dente do meu filho tem uma carinha levantada e quando eu
passo a mão sinto que é bem durinho. Será que é porque já tá nascendo?” Isso se chama cordão fibroso.
Ele facilita a sucção, fazendo uma força muito grande para estimular a produção e a sucção do leite. É
importante frisar que o doce em si não estimula a produção de leite, mas sim a água e o estímulo pela
sucção. E ele também serve de guia para o cirurgião dentista saber se os dentinhos estão perto ou não de
irromper, pois quando ele está menos definido e fibroso e mais abaulado e esbranquiçado significa que o
dente está perto de chegar. “Dra, eu to achando tão branco o céu da boca do meu filho!” Normalmente a
língua acumula muito leite devido a frequencia maior de alimentação do bebê e precisa ser higienizado
com uma gaze umidecida em toda essa região de tecido mole. Sendo candida, deve-se procurar uma
infecção, um quadro viral, etc, orientando a limpeza e fazer tratamento com antifúngico.
Região abaulada, esbranquiçada, durinha, porém sem formado de dente. Essas manifestações
podem ser “dentes natais”, que são dentes que já nasceram em boca ou nos 30-45 dias após o nascimento
(dentes neonatais), ou podem ser nódulos conhecidos como Nódulos de Balm; se tiver na região de palato
são a mesma coisa, mas denominados Pérolas de Epstein. Se forem realmente dentes, a gente tem que
saber em relação a implantação desses dentes, se são da série normal ou supranumerários, se a criança
está com dificuldade de se alimentar, se criou alguma úlcera embaixo da língua durante o hábito da sucção
(úlcera de Lighfelter(?). Dentes poucos implantados com risco de serem aspirados e com dificuldade de
alimentação em crianças com carências nutricionais são indicados para a exodontia. Se forem dentes bem
compactos, durinho, mas a criança está com dificuldade para se alimentar devido a úlcera causada
embaixo da língua, indica-se o abaulamento da superfície desse dente com um disco Solflex.

b) Doenças mais prevalentes: (1:02:40)


Em termos de doenças, as mais prevalentes na primeira infância são as viroses. Envolvendo a
cavidade bucal, dentre as doenças virais mais conhecidas na infância (as que podem repercussão na
cavidade bucal, como a varicela, etc, já são mais contornadas pelas vacinas) está a gengivoestomatite
herpética. Ela é causada pelo vírus do Herpes, só que assume um aspecto totalmente diferente do Herpes
simples recidivante. Essa primeira manifestação do Herpes atinge principalmente crianças aos 2 anos de
idade, mas não necessariamente vai ser nessa idade, vai depender da exposição da criança (normalmente
se inicia quando a criança começa a ter contato social nas creches). Uma vez infectada, trata-se a
sintomatologia e orientar os pais de que aquele vírus não tem cura e vai ficar alojado no organismo
podendo voltar alguns anos depois manifestando-se na forma do Herpes recidivante sempre que houver
diminuição da capacidade imunológica, grande exposição ao sol, aumento do nível de stress, tpm e
traumas na região perioral, voltando ao normal com o restabelecimento do sistema imunológico. As
consequências da gengivoestomatite herpética são muita dor, dificuldade de se alimentar, febre, salivação
exagerada, inapetência, prostração, podendo evoluir para desnutrição, desidratação, podendo até levar ao
internamento. Tratamento é sintomático: para dor, analgésico; para febre, antitérmico; hidratação, evitar
frutas cítricas; compressas de chá de camomila para banhar a região; tratamento farmacológico, mas como
é uma condição viral ela tende a desaparecer de 3-7 dias após o início, podendo ficar até 10 dias
dependendo do sistema imune de cada um. Mas as vezes esse período se prolonga mais devido a infecções
oportunistas, daí o cirurgião dentista tem que entrar com antifúngicos para quando a infecção oportunista
já está presente (Nistatina ou Daktarin Gel); e antibióticos. E existe uma solução que se pode mandar
manipular para diminuir a sintomatologia dolorosa chamada “VASA”, á base de violeta geneciana 600mg,
anestesina A 2% 1,5ml, sacarina S 0,5ml e água q.s.p. 30ml. Ela deve ser aplicada em um cotonete ou
algodão embebido na solução nas regiões ulceradas normalmente antes das refeições. E tem também no
mercado anestésicos em spray, mas Isabelita não considera adequado fazer o jato de anestésico na boca
do bebê porque dá uma sensação de asfixia.

 Desenvolvimento da oclusão:
A irrupção do primeiro dente é um momento importante na vida dos pais e do bebê e que também deve
ser valorizado pelo cirurgião dentista. A partir desse momento deve-se orientar como é que abre e limpa a
boca do bebê tratando diretamente com a pessoa que cuida da criança, seja ela a mãe ou a babá (que
também deve estar presente na consulta).
Deve-se posicionar o bebê corretamente. Não há um rigor de horário (como escovar os dentes 3x
ao dia) é mais quando já se tem molares em boca. Quando já se tem dentes em boca, como são estruturas
duras e mais retentivos, já são responsáveis por reter s PECs, por isso precisamos fazer a higienize correta
da boca. Quando ainda não se tem dentes em boca, apenas tecidos moles, a limpeza é esporádica, porém
diária. O segredo é sempre associar a limpeza da boca ao banho do bebê. Quando não tem dente ou tem
apenas os anteriores, limpa-se com uma gaze enrolada no dedo (mãos limpas e unhas sempre cortadas
para não machucar o bebê) e massageia com o dedo indicador envolto por uma gaze, fralda ou paninho,
desde que seja limpo e úmido (porque se não estiver úmido fica muito áspero) com água filtrada.
Associado a limpeza, deve-se sempre fazer uma observação se o dente tá apresentando alguma
manchinha, se quebrou por algum motivo, se tá sangrando, inchado, com cor diferente, se a posição tá
correta, etc.

a) Alteração na sequência de irrupção:


A inversão da ordem de irrupção do IC pelo IL pode acontecer e não é grave. A inversão da ordem
só é preocupante quando envolve elementos que irrompem em momentos muito distintos. A orientação
para os pais deve ser que a massagem com gaze umedecida da região do dente que ainda não irrompeu
deve acelerar o processo.

b) Alteração de número e/ou de forma:


A alteração de número geralmente só é percebida mais adiante quando a dentição está completa.

c) Cisto/Hematoma de erupção:
Um dos grande motivos de procura dos pais pelo consultório da Odontopediatria é pelo surgimento
dos cistos ou hematomas de erupção, que são sinônimos e acontecem quando há um extravasamento de
sangue ou de líquido quando o dente está erupcionando, já ultrapassou a barreira óssea e está envolto
apenas por tecido mole. Não tem o que fazer, o tratamento é massagear com o dedo ou o mordedor, pois
alivia a angústia da criança e a erupção faz desaparecer o hematoma.

d) Irrupção dentária: sintomas e tratamento


Existem duas correntes: uma que é bem taxativa e que diz que a irrupção dos dentes é fisiológica e
não tem sintoma nenhum; e outra que diz que o ato da erupção, o dente vai romper uma mucosa e vai
haver uma inflamação transitória. Essa inflamação transitória traz coceira, irritação, inapetência, aumento
de temperatura, discreto aumento de volume e todos aqueles sintomas associados com inflamação
qualquer. O tratamento é alívio da sintomatologia com massagem digital para tranquilizar o sono da
criança. As pomadas não são aconselháveis porque são anestésicas (como o anestésico tópico) porque a
ação é local, a mucosa tem que estar seca ou então a criança vai ficar deglutindo e o seu efeito é curto
(além de haver muitos casos na literatura de alergias). Hoje uma alternativa para aliviar esses sintomas é o
uso da “Camopirina C” (não sei se o nome é realmente esse!), que é um calmante natural à base de
camomila. Para o estado febril que se manifesta em algumas crianças, quando ele se prolonga ou quando
há febres altas, geralmente está associada a infecções com otites. Além disso, a inapetência e diarreias são
sintomas que podem ser confundido com comprometimentos sistêmicos, pois são muito comuns nessa
fase da vida. Outra alteração que também é muito comum é a salivação, que pode ser relevada, devido o
fato de as glândulas salivares estarem em maturação nesse período e normalmente o bebê já salivar
bastante.

 Artigos adequados para o uso do bebê:


 Gaze estéril, úmida;
 Luvas de limpeza não são indicados porque precisam ser lavadas a cada limpeza, deixando de
ser higiênico.
 Mordedores com gel gelado, mordedores em formato de escova, etc;
 Chupetas com gel gelado, chupetas ortodônticas;
 Pomadas anestésicas não são indicadas;
 Camopirina C é indicada pois é à base de camomila.

 Cárie precoce da infância:


A cárie, quanto mais cedo instalada, mais rápido ela avança por causa de aspectos relacionados com o
bebê que o torna mais susceptível a desenvolver cáries severas. Hoje, a Academia Americana de
Odontologia Pediátrica divide a cárie em Cárie Precoce da Infância e Cárie Severa da Infância, porque os
dentes são pouco mineralizados, estão passando pela fase de maturação pós-eruptiva, o bebê depende de
terceiros para higienizar a sua boca, os leigos não entendem que é necessário higienizar a boca do bebê
tendo só dentes de leite e mamando só no peito, normalmente o bebê se alimenta em uma frequencia
muito maior que uma criança crescida e se alimenta durante o sono, quando as glândulas salivares
diminuem sua produção de saliva, deixando a boca mais seca e o alimento mais retentivo. O sinal
(patognomônico) característico da cárie precoce da infância, em função da amamentação do peito ou da
mamadeira, o leite vai estar mais em contato com a região ântero superior, o bico fica entre a língua e os
dentes anteriores, fazendo com que o leite fique mais retido nessa região e destrua os dentes dessa região;
muitas vezes ela é progressiva e destrói todos os dentes da criança, ficando apenas a bateria ântero
inferior sem lesões cariosas devido a proteção da língua durante a sucção. O que leva a situação? A
amamentação prolongada e a falta de higiene. Ela é causada pelo mesmo agente infeccioso da cárie
normal, mas tem fatores agravantes agregados a ela, como o uso inapropriado e prolongado da
mamadeira, o uso de medicamento à base de xaropes, chupetas meladas no mel, etc, associado a falta de
higiene.
Obs.: Lembrar que o leite do peito tem um teor de lactose (açúcar do leite) maior do que o leite
comum. O problema é que na mamadeira o leite se torna mais agressivo por causa dos aditivos, como o
açúcar, o nescau, etc. Mas independente se o leite for do peito ou da mamadeira, a livre demanda
associada a falta de higiene vai gerar cáries precoce da infância. As manifestações clínicas são sempre as
manchas brancas iniciais que vão cavitando e comprometendo os dentes dos bebês e evoluindo
rapidamente. Importante saber: o mecanismo biológico que leva à cárie precoce da infância é igual ao de
qualquer tipo de cárie e o tratamento também é o mesmo (abordagem, mudança de hábitos, reforço com
flúor, adequação do meio e interromper o fator etiológico e os fatores determinantes).

 Amamentação:
Existem algumas fatores que são relevantes e precisam ser comentados, como: o leite materno
também tem potencial cariogênico, por isso a higiene precisa ser feita; a amamentação é um ato
imprescindível na vida do bebê e só deverá ser substituída pelo leite normal quando realmente necessário;
a posição deve ser sempre verticalizada; o furo do bico da mamadeira tem que ser adequado a idade do
bebê e nunca deve ser ampliado (porque não deve fluir sem que a criança faça força); nunca ser dado a
própria criança para segurar, pois a posição da mamadeira também é importante.
Durante os 6 primeiros meses a criança deve mamar exclusivamente no peito, não precisando nem
de água. A partir dos 6 meses até 1 ano, com a irrupção dos primeiros dentes, pode-se começar a
introduzir alimentos (como frutas, legumes) e é feito o desmame gradativo. Para os dentes, é importante
que a criança sinta a consistência dos alimentos, por isso inicialmente a fruta deve ser amassada, depois
apenas cortada. É importante também evitar a adição de açúcares artificiais, por isso deve-se evitar o suco
de frutas cítricas.
O ideal seria sair do peito e passar para copos e colheres, mas nem sempre o aleitamento materno
se faz exclusivo nos 6 primeiro meses e a mãe começa a introduzir a mamadeira nesse meio tempo (o furo
do bico não deve ser grande demais, evitar a passagem de ar durante a deglutição, o plástico deve ser livre
de DTA(?).

 Higiene:
Sem dentes e apenas com dentes anteriores, limpeza com gaze molhada. A partir do nascimento
dos primeiros molares decíduos, usa-se escova dental com creme dental em uma porção de um grão de
arroz. Esse contato com o flúor é uma medida preventiva criteriosa para que não se tenha cárie. Como a
criança não saber cuspir, deve-se tirar o excesso com uma gaze, fraldinha ou guardanapo. É importante
que as escovas tenham uma melhor apreensão, cerdas pequenas, as pastas contenham flúor e que sejam
colocadas em pequena quantidade e a escovação seja sempre motivada pelos pais.

 Hábitos de sucção:
O bebê tem uma necessidade de sucção, que é a preparação da criança para o que é vital. Porém, nem
sempre essa sucção é exitosa, pois gera o hábito difícil de largar e a criança vai buscar sugar qualquer coisa
que tiver pela frente. O hábito de chupar o dedo é muito prejudicial porque ele está disponível o tempo
inteiro para a criança e você não tem como controlar a frequencia. Deve-se sempre substituir pela chupeta
para favorecer a retirada do hábito depois. A mãe não deve incentivar o hábito da sucção, mas se a criança
sentir a necessidade daquilo não se deve impedir. O cuidado deve ser quanto a frequencia e a oferta (por
exemplo, quando a criança soltar a chupeta, não precisamos força-la a pegar de volta). Se a criança
prolongar esse hábito até depois dos 3 anos de idade, a principal alteração observada é a mordida aberta.
Deve-se evitar correntes na chupeta para que ela não fique muito à disposição da criança e também
porque essas correntes pesam e isso pode auxiliar no estabelecimento de uma má oclusão. As sequelas
advindas de um hábito de sucção prolongado são inúmeras, dentre elas a mordida aberta e a mordida
cruzada.

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