Você está na página 1de 24

Direito Fiscal – 4.

º Ano – Turma A
Exame Escrito de Coincidências Época de Recurso – Ano Letivo de 2020/2021
Regência: Professora Doutora Ana Paula Dourado
Colaboradores: Mestres Nuno de Oliveira Garcia, Sónia Martins Reis, Sérgio Varela Alves e Daniela Pessoa Tavares

15 de abril de 2021 – Duração 90 minutos

Leia com atenção e comente de forma fundamentada e sucinta, invocando as Leis, Jurisprudência e
Doutrina que tenha por convenientes
I

Para fazer face à grave situação financeira atual, o Governo aprovou, em 15 de janeiro de 2021, por Decreto-Lei simples,
um pacote de medidas fiscais, sendo de destacar o aumento da alíquota de IRC para 25%, para os anos de 2020, 2021 e
seguintes, aplicável aos sujeitos passivos cujos lucros auferidos nesses anos não tenham sido afetados pela situação
epidemiológica provocada pelo coronavírus SARS-CoV-2. Nesse mesmo Diploma, é também definido que, por Portaria do
Ministro das Finanças, serão posteriormente criados e densificados os critérios de determinação dos sujeitos passivos “cujos
lucros não tenham sido afetados situação epidemiológica provocada pelo coronavírus SARS-CoV-2”.

II

“A” é advogada especialista em direito fiscal e auferiu, em 2020, rendimentos no montante de 35 mil euros a título de
honorários. Nesse mesmo ano recebeu rendimentos decorrentes da alienação de ações que detinha numa pequena sociedade
portuguesa não cotada. Além disso, recebeu ainda rendimentos resultantes do arrendamento de um imóvel localizado na
Serra da Estrela de que é proprietária, para o qual comprou, também nesse ano, dois novos eletrodomésticos e ainda três
quadros de decoração.

“B”, cônjuge de “A”, é Professor Universitário e auferiu, em 2020, um rendimento anual no valor de 40 mil euros. Para
melhor estruturar os seus investimentos, “B” solicitou ao departamento de contabilidade da Universidade em que leciona
que não efetuasse a retenção na fonte mensal sobre o seu salário, o que se verificou. Em acréscimo, “B” recebeu também,
nesse ano, juros avultados de um depósito a prazo pagos por instituição de crédito localizada no Panamá.

III

A empresa “ERC S.A.”, com sede em Lisboa, que se dedica à atividade de revestimento de pavimentos e de paredes,
celebrou vários contratos de prestação de serviços, alguns com empresas espanholas suas participadas, e outros com uma
empresa localizada nas Ilhas Cayman, tendo pago, pelos serviços que lhe foram prestados, um total de 350 milhões de euros.

Adicionalmente, e não obstante a empresa “ERC S.A.” ter tido prejuízos fiscais no exercício anterior (2020), os
administradores dessa empresa decidiram aprovar a realização de arranjos no exterior do edifício da sede da empresa “ERC
S.A.”, incluindo a colocação de pavimentos de alta qualidade e de valores muito consideráveis. A Autoridade Tributária e
Aduaneira que se encontra atualmente a fazer uma inspeção à empresa “ERC S.A.” verificou o seguinte:

1. Que o preço fixado pelos serviços prestados pelas empresas com sede em Espanha e nas Ilhas Cayman
apresentavam desconformidades;
2. Que os gastos incorridos com os arranjos no exterior eram manifestamente elevados;
3. Que estavam registadas na contabilidade da empresa várias multas e encargos não documentados;
4. Que a empresa incorreu em despesas com viagens e espetáculos oferecidos a clientes.

Quid iuris?

Grupo I – 6 valores; Grupo II – 8 valores; Grupo III – 6 valores


Grelha de Correção

i. Alteração da alíquota de IRC pelo Governo através de Decreto-Lei simples: violação dos artigos 165, n.º 1, alínea i), e
165, n.º 2, 1ª parte, da CRP – inconstitucionalidade orgânica.
ii. Aumento da taxa de IRC para o ano de 2020: caracterização do IRC enquanto imposto periódico, de formação sucessiva.
Situação de retroatividade autêntica / forte de uma norma oneradora, proibida nos temos do artigo 103.º/3 da CRP.
iii. Aumento da taxa de IRC para o ano de 2021: situação de retroatividade inautêntica / retrospetividade, admissível à luz
do artigo 103.º/3 da CRP. Referência à posição do TC - Acórdão n.º 128/2009 do TC e análise da conformidade com o
princípio da proteção da confiança (na vertente segurança jurídica), à luz do artigo 2.º da CRP. Discussão sobre relevância
do interesse público.
iv. Remissão para Portaria: Inadmissibilidade de remissão para Portaria a criação e densificação dos critérios de determinação
dos sujeitos passivos “cujos lucros não tenham sido afetados situação epidemiológica provocada pelo coronavírus SARS-CoV-2”, porquanto
respeita às regras de incidência do imposto, o que contende com o artigo 165.º, n.º1, alínea i), e 103.º/2, 1.ª parte, ambos da
CRP.

II

i. Incidência pessoal de IRS: Caracterização de “A” e “B” enquanto sujeitos passivos de IRS, residentes em território
português e aí auferindo rendimentos (artigos 13.º, n.º 1 e 16.º, n.º 1, alínea a), do CIRS), tributados pelo seu rendimento
mundial “worlwide income” (artigo 15.º, n.º 1, do CIRS), integrando o mesmo agregado familiar “A” e “B” (artigo 13.º, n.º 4,
alínea a), do CIRS. Opção pela tributação conjunta (artigo 13.º, n.ºs 2 e 3, do CIRS), aplicando-se nesse caso o quociente
familiar (artigo 69.º, n.ºs 1 e 3, do CIRS).
ii. Incidência real de IRS: rendimentos auferidos pelo sujeito passivo “A”:
 Honorários: Rendimentos da categoria B (artigo 3.º, n.º 1, alínea b) e artigo 151.º do CIRS); Portaria 1011/2001.
Determinação dos rendimentos com base no regime simplificado (artigo 28, n.º 1, alínea a), e n.º2, e artigo 31.º, ambos do
CIRS), podendo optar pelo regime da contabilidade organizada, aplicando-se as alíquotas constantes da tabela geral do
artigo 68.º do CIRS.
 Alienação de ações: Rendimentos da categoria G (artigo 9.º, n.º1, alínea a), e n.º 4, alínea a), e artigo 10.º, n.º1, alínea b),
todos do CIRS), tributados nos termos do artigo 43.º do CIRS, sendo considerado apenas 50 % valor do saldo, por se
tratar de pequena empresa não cotada em mercado regulamentado. Aplicação da taxa especial de 28% (artigo 72.º, n.º1,
alínea c), do CIRS). Opção pelo englobamento (artigos n.ºs 72.º, n.º 13 e 22.º, n.º 3, alínea b), do CIRS).
 Rendas: Rendimento da Categoria F (artigo 8.º, n.º1, do CIRS), tributados nos termos do artigo 41.º do CIRS, aplicando-
se a taxa especial de 28% (artigo 72.º, n.º1, alínea e), do CIRS, sendo de referir o disposto no n.º2 mesmo artigo). Opção
pelo englobamento (artigos n.ºs 72.º, n.º 13 e 22.º, n.º 3, alínea b), do CIRS). Referência à possibilidade de dedução ao
rendimento bruto dos gastos documentalmente comprovados efetivamente suportados e pagos pelo sujeito passivo para
obter ou garantir aquele rendimento, excluindo, contudo, os gastos com a compra de eletrodomésticos e de artigos de
quadros para decoração (artigo 41.º, n.º1, CIRS).
iii. Incidência real de IRS: rendimentos auferidos pelo sujeito passivo “B”:
 Salário: Rendimento da Categoria A (artigo 2.º, n.º 1, alínea a), e n.º 2, do CIRS), determinado nos termos do artigo 25.º e
ss. do CIRS, sujeito a englobamento obrigatório (artigo 22.º, n.º 1 e n.º 3, alínea b) a contrario do CIRS), aplicando-se as
alíquotas constantes da tabela geral do artigo 68.º do CIRS. Rendimento sujeito a retenção na fonte por conta do imposto
devido ao final (artigos n.ºs 98.º, n,º1, 99.º, n.º 1, alínea a) do CIRS).
 Juros: Rendimentos da categoria E (artigo 5.º, n.º 2, alínea b) do CIRS), tributados nos termos do artigo 43.º, n.º1, do
CIRS, à taxa especial de 35% (artigo 72.º, n.º 17, alínea a), do CIRS). Referência ao Panamá enquanto território com um
regime fiscal claramente mais favorável, constando da Portaria n.º 150/2004, de 13 de fevereiro, ex vi artigo 63.º-D, n.º 1,
da LGT.
iv. Responsabilidade tributária: Referência à Universidade enquanto entidade obrigada à retenção na fonte, porquanto
substituto tributário e, por essa via, sujeito passivo (artigos 18.º, n.º 3, e 20.º, ambos da LGT). Identificação de uma situação
de responsabilidade tributária, sendo a mesma originária do substituído e subsidiária do substituto (artigos 22.º, 23.º e 28.º,
n.º 2, todos da LGT).

III

i. “ERC S.A” enquadramento enquanto sujeito passivo de IRC (artigos 1.º e 2.º, n.º 1, alínea a), ambos do CIRC), tributada
pelo seu lucro (artigo 3.º, n.º 1, alínea a), do CIRC), determinado de acordo com o artigo 17.º, n.º 1, do CIRC, que concretiza
o princípio da tributação do rendimento real, consagrado no artigo 104.º, n.º 2, da CRP. Aplicação da alíquota de 21% (artigo
87.º, n.º 1 do CIRC).
ii. Preços de transferência: Referência à regra específica antiabuso em matéria de preços de transferência do artigo 63.º do
CIRC. Identificação da existência de relações especiais quer no caso das empresas participadas localizadas em Espanha (artigo
63.º, n.º4, alínea a), do CIRC), quer no caso da empresa localizada nas Ilhas Cayman (artigo 63.º, n.º4, alínea h), do CIRC).
Referência às Ilhas Cayman enquanto território com um regime fiscal claramente mais favorável, constando da Portaria n.º
150/2004, de 13 de fevereiro, ex vi artigo 63.º-D, n.º 1, da LGT). Ajustamento do lucro tributável (artigo 63.º, n.º9, do CIRC).
iii. Discussão sobre a dedutibilidade do gasto incorrido com os arranjos no exterior na sede da empresa ERC S.A. à luz do
business purpose test (artigo 23.º, n.º1, do CIRC).
iv. Não dedutibilidade do gasto referente ao apagamento dos serviços prestados pela sociedade com sede nas Ilhas Cayman
(artigo 23 A, n.º 1, alínea r), do CIRC.
v. Quanto às despesas não documentadas e multas: não dedutibilidade das despesas não documentadas e das multas (artigo
23.º A, n.º 1, alíneas b) e e), do CIRC). Sujeição da tributação autónoma das despesas não documentadas, à alíquota de 50%,
(artigo 88.º, n.º 1, do CIRC), podendo em ano de prejuízos ser agravada em 10 pontos percentuais (artigo 88.º, n.º 14, do
CIRC).
vi. Quanto às despesas com viagens e espetáculos oferecidos a clientes da empresa: despesas de representação sujeitas a
tributação autónoma, à alíquota de 10% (artigo 88.º, n.º 7, do CIRC), podendo em ano de prejuízos ser agravada em 10
pontos percentuais (artigo 88.º, n.º 14, do CIRC).

Grupo I – 6 valores; Grupo II – 8 valores; Grupo III – 6 valores


Direito Fiscal – 4.º Ano – Turma A
Exame Escrito da Época de Recurso – Ano Letivo de 2020/2021
Regência: Professora Doutora Ana Paula Dourado
Colaboradores: Mestres Nuno de Oliveira Garcia, Sónia Martins Reis, Sérgio Varela Alves e Daniela Pessoa
Tavares
09 de Abril de 2021 – Duração 90 minutos

Leia com atenção e comente de forma fundamentada e sucinta, invocando as Normas, Jurisprudência e
Doutrina que tenha por convenientes.

O António residiu nos últimos 10 anos em França e passou a residir em Portugal em Janeiro de 2021. Ele prevê
auferir em 2021 exatamente os mesmos rendimentos que auferiu em 2020, sendo que pretende saber a diferença
de tributação que terá em Portugal no ano de 2020 e 2021 em sede de IRS, bem como se haverá algum regime de
tributação mais favorável que se lhe possa aplicar. O salário de 40.000,00 €/ano que recebia em França do exer-
cício de uma atividade de elevado valor acrescentado passou em Janeiro a ser recebido em Portugal, mas continuará
a receber os juros que já recebia de duas contas de depósito a prazo no Crédit Agricole em França e na Caixa Ge-
ral de Depósitos em Portugal, bem como as rendas de um imóvel que sempre teve arrendado em Lisboa.

II

A “XPTO, Lda.” é uma Fábrica que se encontra em dificuldades financeiras fruto da pandemia Covid-19. Assim
sendo, teve prejuízo e não lucro no exercício de 2020 e é necessário saber como será tributada em sede de IRC
em relação a algumas despesas efetuadas e, nomeadamente, em relação às despesas não documentadas que efetuou.
A “XPTO, Lda.” também não entregou as quotizações para a Segurança Social nem o IRS retidos do salário dos
seus trabalhadores, nos últimos quatro meses e num valor total inferior a 7.500,00 €.

Por Decreto-Lei simples o Governo pretende em 2021 aumentar todas as alíquotas de IRS do artigo 68.º do CIRS,
a produzir efeitos a partir do dia de hoje e, ainda, criar um novo escalão de IRS com uma alíquota de 60% para os
rendimentos coletáveis superiores a 100.000,00 €.

O Bento esteve desempregado 2020 e sem auferir quaisquer rendimentos, mas adquiriu um imóvel por 500.000,00
€ sito no Porto e transferiu para Portugal 100.000,00 € que tinha numa conta de depósito num Banco das Bahamas.

Grupo I – 10 valores Grupo II – 10 valores


Grelha de Correção

(pontos essenciais a serem abordados)

António é sujeito passivo de IRS quer em 2020 como em 2021, pois em 2020 auferia rendimentos em território
português e em 2021 reside em Portugal, cf. o artigo 13.º, n.º 1 do CIRS. Em 2020 o mesmo será tributado em
Portugal pelo seu rendimento fonte, cf. o artigo 15.º, n.º 2 do CIRS, já em 2021 pelo seu rendimento mundial, cf.
o artigo 15.º, n.º 1 do CIRS. A sua residência é determinada em ambos os anos nos termos do artigo 16.º do CIRS.

(2 valores)

O salário é um rendimento da Categoria A, cf. o artigo 2.º, n.º 1, alínea a) e n.º 2 do CIRS. Em 2020 e porque obti-
do no estrangeiro o mesmo não será tributado em Portugal, já em 2021 será sujeito a englobamento, cf. o artigo
22.º, n.º 1 e n.º 3, alínea b) a contrario do CIRS, bem como às alíquotas que resultarem da aplicação da tabela do
artigo 68.º do CIRS, encontrando-se sujeito a retenção na fonte por conta do imposto devido ao final, cf. o artigo
99.º, n.º 1, alínea a) e 99.º-F, n.º 1 do CIRS.

(2 valores)

Os juros são um rendimento da Categoria E, cf. o artigo 5.º, n.º 1 e n.º 2, alínea b) do CIRS. Em 2020 apenas
serão tributados em Portugal os que auferiu da Caixa Geral de Depósitos e a uma alíquota de 28%, cf. o artigo
71.º, n.º 1, alínea a) do CIRS, acrescendo a estes e tão-só em 2021 os que aufira do Crédit Agricole, também a uma
alíquota de 28%, mas desta feita ex vi artigo 72.º, n.º 1, alínea d) do CIRS. Apenas em 2021 poderá optar pelo en-
globamento de ambos, cf. os artigos 71.º, n.º 8 e 72.º, n.º 13 do CIRS. Somente os rendimentos do artigo 71.º es-
tão sujeitos a retenção na fonte a título definitivo, já os do artigo 72.º do CIRS não estão sujeitos a qualquer reten-
ção na fonte.

(2 valores)

As rendas são um rendimento da Categoria F, cf. o artigo 8.º, n.º 1 do CIRS. Quer em 2020 como em 2021 as
mesmas estarão sujeitas a uma alíquota de no mínimo 28% e dependendo da duração do contrato de arrenda-
mento, cf. o artigo 72.º, n.º 1, alínea e) e n.º 2 e ss. do CIRS, mas tão-só em 2021 poderá ser feita a respetiva op-
ção pelo seu englobamento, cf. o artigo 71.º, n.º 8 do CIRS.

(2 valores)

Em 2021 poderá António ter lugar ao crédito de imposto do artigo 81.º, n.º 1 do CIRS, sendo que o regime de tri-
butação mais favorável referido é o do “residente não-habitual”, cf. o artigo 16.º, n.º 8 e ss. do CIRS, caso em que
se aplicará uma alíquota de 20% ao salário e nos termos do artigo 72.º, n.º 10 do CIRS, com lugar à retenção na
fonte do artigo 99.º, n.º 8 do CIRS, bem como à isenção de tributação em Portugal de determinados rendimentos
auferidos no estrangeiro, cf. o artigo 81.º, n.ºs 4 e 5 do CIRS.

(2 valores)
II

A “XPTO, Lda.” é sujeito passivo de IRC, cf. o artigo 2.º, n.º 1, alínea a) do CIRC, sendo tributada em sede de
IRC pelo seu lucro, cf. o artigo 3.º, n.º 1, alínea a) do CIRC, nos termos do artigo 17.º, n.º 1 do CIRC, que concre-
tiza o princípio da Tributação do Rendimento Real consagrado no artigo 104.º, n.º 2 da CRP.

(1 valor)

As despesas não documentadas não são dedutíveis, cf. o artigo 23.º-A, n.º 1, alínea b) do CIRC, estão sujeitas a
uma alíquota de tributação autónoma de 50%, cf. o artigo 88.º, n.º 1 do CIRC, não sendo o quantum específico de
tributação autónoma dedutível, cf. o artigo 23.º-A, n.º 1, alínea a) do CIRC, podendo em ano de prejuízos ser
agravada a referida alíquota em 10 pontos percentuais, cf. o artigo 88.º, n.º 14 do CIRC.

(2 valores)

Como houve retenção, mas não entrega dos valores retidos, aplicar-se-á o artigo 28.º, n.º 1 da LGT, ficando os
trabalhadores (substituídos) desonerados de qualquer responsabilidade no pagamento dos tributos, sendo respon-
sável tributária a “XPTO, Lda.” (substituto). Sobre os sujeitos da relação jurídico-tributária vide o artigo 18.º da
LGT, sobre a reversão do processo de execução fiscal o artigo 23.º, n.ºs 1 e 2 da LGT e, ainda, sobre a respon-
sabilidade dos membros dos órgãos sociais o artigo 24.º da LGT. No caso nunca será possível ilidir a culpa funcio-
nal porque teremos verificada a prática do crime de “Abuso de confiança contra a Segurança Social”, cf. o artigo
107.º do RGIT e mesmo não se verificando o de “Abuso de Confiança” simples do artigo 105.º, n.º 1 do RGIT.

(2 valores)

O Governo não pode alterar as alíquotas (taxas) de um Imposto por Decreto-Lei simples, tendo-se uma inscons-
titucionalidade orgânica e formal, cf. os artigos 165.º, n.º 1, alínea i) e 103.º, n.º 2, 1.ª parte da CRP. Sendo o IRS
um Imposto periódico ou de formação sucessiva, cujo facto tributário se constituiu a 01 de Janeiro de 2021, mas
que tão-só se extinguirá a 31 de dezembro de 2021, só não será admissível o aumento das alíquotas do artigo 68.º
do CIRS se houver uma violação do princípio da Proteção da Confiança, cf., e.g., o Acórdão n.º 128/2009 do TC,
bem como o Princípio do Estado de Direito plasmado no artigo 2.º da CRP versus a proibição da retroatividade
consagrada no artigo 103.º, n.º 3 da CRP. A alíquota de 60% a incidir sobre a matéria coletável poderá consubstan-
ciar uma eventual situação de confisco, que configurará uma violação do artigo 62.º da CRP, cf. o Acórdão do
TEDH Gálls vs Hungria.

(3 valores)

No caso do Bento temos duas manifestações de fortuna, cf. o artigo 87.º, n.º 1, alínea d) e n.º 2 da LGT, a conjugar
com a tabela constante do n.º 4, do artigo 89.º-A da LGT, não auferindo ele quaisquer rendimentos e sendo as
Bahamas um Paraíso Fiscal, cf. a Portaria n.º 150/2004, atualizada à data. Não havendo lugar a prova em contrário
da parte do sujeito passivo teremos então rendimentos da Categoria G em sede de IRS, cf. os artigos 89.º-A, n.º 4
da LGT e 9.º, n.º 1, alínea d) do CIRS, in casu tributados a uma taxa de 60%, ex vi artigo 72.º, n.º 16 do CIRS.

(2 valores)
Direito Fiscal – 4.º Ano – Turma A
Exame Escrito de Coincidências da Época Normal – 2020/2021
Regência: Professora Doutora Ana Paula Dourado
Colaboradores: Mestres Nuno de Oliveira Garcia, Sónia Martins Reis, Sérgio Varela Alves e
Daniela Pessoa Tavares
26 de janeiro de 2021 – Duração 90 minutos

Leia com atenção e comente de forma fundamentada e sucinta, invocando as Leis,


Jurisprudência e Doutrina que tenha por convenientes
I

O Conselho de Administração da XPTO, S.A., composto pelo António, a Beatriz e o Carlos,


decidiu contrair um empréstimo com juros elevadíssimos para financiamento da ABC, LDA.,
uma empresa detida a 100% pela XPTO, S.A., e com o intuito de salvar ambas as empresas,
bem como pela não entrega do IRS retido sobre o salário dos seus trabalhadores. Esta mesma
decisão contou com o voto contra de Beatriz, voto esse que ficou exarado por escrito em ata
de reunião do respetivo órgão social, com o fundamento (1.º) da não dedutibilidade dos juros
do empréstimo e (2.º) para que Beatriz se eximisse de quaisquer responsabilidades tributárias
em relação à não entrega do IRS. Acontece, todavia, que volvidos 6 meses o valor de IRS re-
tido e não entregue já perfaz 20.000,00 € e Beatriz foi demandada pela AT para o pagamento
integral da dívida tributária. A XPTO, S.A., detém também a 100% a empresa “DEF, Ltd.”,
cuja atividade consiste na exploração de Hotéis nas Bahamas, sendo que também lhe contrata
a prestação efetiva de serviços regulares de consultadoria a preços normais de mercado.

II

A Ana e o Bento, unidos de facto há vários anos, terminaram no ano civil transato as suas
Licenciaturas. Ana, encontra-se agora como estagiária a “recibos verdes” num escritório de
Advocacia em Lisboa onde aufere 1.000,00 €/mês e, Bento, tem um contrato de trabalho
como médico estagiário num Hospital privado em Sintra de 1.200,00 €/mês. Ambos recebem
rendas de um imóvel situado em Benfica, onde realizaram extensas obras antes de o arrendar,
por contrato de arrendamento de 5 anos e optaram pela entrega conjunta da sua declaração
de IRS. Em Julho de 2021, o Governo decide igualmente aumentar o valor das quotizações
para a Segurança Social, por Decreto-lei simples e com efeitos a 1 Janeiro de 2021, tendo-se
como racional o aumento dos gastos com prestações sociais e fruto da Pandemia Covid-19.

Grupo I – 10 valores Grupo II – 10 valores


Grelha de Correção Grelha de Correção

(pontos essenciais a serem abordados)

As sociedades comerciais XPTO, S.A., e ABC, LDA., são sujeitos passivos de IRC, cf. o arti-
go 2.º, n.º 1, alínea a) do CIRC, incidindo o tributo sobre o seu lucro, cf. o artigo 3.º, n.º 1,
alínea a) do CIRC, determinado de acordo com o artigo 17.º, n.º 1 do CIRC, que concretiza
o princípio da tributação do «rendimento real» consagrado no artigo 104.º, n.º 2 da CRP.
Esse mesmo lucro é depois cometido a uma alíquota de 21%, cf. o artigo 87.º, n.º 1 do CIRC.

(2 valores)

No que respeita à dedutibilidade dos juros, temos que os mesmos não serão dedutíveis pela
XPTO, S.A. É verdade, que o artigo 23.º, n.º 2, alínea c) do CIRC prevê a priori a sua dedutibi-
lidade, contudo, “os custos previstos naquele art.23.º têm de respeitar à própria sociedade”
e não outra e mesmo que participada, cf., e.g., o Acórdão do STA n.º de processo 0246/02,
de 10.07.2002, denotando-se apenas a ressalva das SGPS’s, em que a concessão de
empréstimos às sociedades participadas se integra na sua atividade, cf. o artigo 5.º, n.º 1,
alínea c) e n.º 2 do Decreto-lei n.º 495/88, de 30 de dezembro, que «define o regime jurídico
das» SGPS’s.

(2 valores)

No que respeita à retenção e não entrega do IRS temos como sujeito ativo o Estado, cf. o
artigo 18.º, n.º 1 da LGT e, como sujeitos passivos, os trabalhadores enquanto substituídos,
a empresa enquanto substituto e, eventualmente, estes e os administradores como responsá-
veis tributários, cf. o artigo 18.º, n.º 3 da LGT. Acontece, que como houve retenção e não
entrega temos que os trabalhadores ficam desonerados «de qualquer responsabilidade no seu
pagamento», respondendo como devedor principal o substituto, apenas se podendo deman-
dar os devedores subsidiários por via da «reversão do processo de execução fiscal», se o patri-
mónio da empresa for insuficiente ou inexistente para o cumprimento da obrigação tributária
e com lugar ao «benefício da excussão» prévia, cf. os artigos 23.º, n.ºs 1 e 2 e 28.º, n.º 1 da
LGT. Todavia, e em relação aos administradores, ter-se-á de analisar da sua culpa funcional,
sendo-lhes exigida uma diligência máxima no exercício das funções e uma vez que gerem
património alheio, devendo igualmente ser criteriosos e ordenados, cf. o artigo 64.º, n.º 1,
alínea a) do CSC. Assim, não se terá por diligente quem contraia um empréstimo “com juros
elevadíssimos […] para salvar ambas as empresas”, denotando-se, daqui, uma conduta teme-
rária ou demasiado arriscada, não sendo também impossível ilidir a culpa funcional aquando
da prática de um crime, e.g., e no caso, se transitada em julgado a sentença de condenação
dos administradores por «Abuso de Confiança», cf. o artigo 105.º, n.º 1 e n.º 4, alínea a) do
RGIT. Acresce, que o ónus da prova da culpa funcional recai sobre os administradores e nos
termos do artigo 24.º, n.º 1, alínea b) da LGT, bem podendo Beatriz carrear a ata como prova
de que não é culpada e eximir-se desde modo da responsabilidade tributária, sendo António
e Carlos devedores solidários entre si.

(2 valores)

Em relação à “DEF, Ltd.”, cuja atividade consiste na exploração de Hotéis nas Bahamas”,
temos um território com um regime fiscal claramente mais favorável (vulgo, um paraíso fis-
cal), constando o mesmo da Portaria n.º 150/2004, de 13 de Fevereiro, ex vi artigo 63.º-D,
n.º 1 da LGT. Assim, o lucro da “Ldt.” será imputado à XPTO, LDA., por força do estipula-
do no artigo 66.º, n.º 1 e n.º 6, alínea a) do CIRC que sagra esta cláusula específica anti-abuso.

(2 valores)

Por último, a XPTO, LDA., também contrata a prestação de serviços de consultoria à “DEF,
Ltd.”, razão pelo qual se poderia equacionar da aplicação da cláusula específica anti-abuso do
artigo 23.º-A, n.º 1, alínea r) do CIRC, que resultaria não só na não dedutibilidade do gasto,
mas também, na sua sujeição a tributação autónoma à alíquota de 35%, cf. o artigo 88.º, n.º
8 e n.º 1 do CIRC, todavia, e uma vez que temos “a prestação efetiva de serviços regulares
de consultadoria a preços normais de mercado”, a operação não tem um «caráter anormal ou
um montante exagerado», razão pela qual o gasto será dedutível e não sujeito à referida alí-
quota de tributação autónoma, cf. o artigo 23.º, n.º 2, alínea a) do CIRC.

(2 valores)

II

A Ana e o Bento são sujeitos passivos de IRS, pois não só residem em território português
como aqui obtêm rendimentos, cf. os artigos 13.º, n.º 1 e 16.º, n.º 1, alínea a) do CIRS (pois
trabalhando ambos em Portugal, também aqui terão residência), sendo então tributados pelo
seu rendimento mundial (“worlwide income”), cf. o artigo 15.º, n.º 1 do CIRS. Uma vez que vi-
vem em união de facto podem efetivamente optar pela “entrega conjunta da sua declaração
de IRS”, cf. o artigo 13.º, n.ºs 2 e 3 do CIRS, caso em que se aplicará o «quociente familiar»
do artigo 69.º, n.ºs 1 e 3 do CIRS, fazendo ambos parte do mesmo agregado familiar, cf. o
artigo 13.º, n.º 4, alínea a) do CIRS.

(2 valores)

A Ana enquanto advogada a “recibos verdes” aufere um rendimento da Categoria B, cf. o


artigo 3.º, n.º 1, alínea b), bem como o CAE 6010 «da tabela de atividades do artigo 151.º»,
todos do CIRS. O rendimento líquido da Categoria será determinado nos termos do artigo
28.º e ss. do CIRS, com base no «regime simplificado» em que se aplicará um coeficiente de
despesa de 0,75, cf. o artigo 28.º, n.º 1, alínea a) e 31.º, n.º 1, alínea b) do CIRS, ou por opção,
«com base na contabilidade» e uma vez que não auferiu «no período de tributação imediata-
mente anterior um montante anual ilíquido de rendimentos desta categoria» de 200.000,00 €,
caso em que se aplicariam as regras do CIRC e por remissão do artigo 32.º do CIRS, cf. o
artigo 28.º, n.º 1, alínea b) e n.º 2 do CIRS. O rendimento em causa encontra-se sujeito a
englobamento, cf. o artigo 22.º, n.º 1 do CIRS, bem como cometido á alíquota que resultar
da aplicação da tabela do artigo 68.º do CIRS, estando também sujeito a retenção na fonte,
ex vi artigo 101.º, n.º 1, alínea b) e ss. do CIRS.

(2 valores)

Já Bento tem um “contrato de trabalho” pelo que aufere um rendimento da Categoria A, cf.
o artigo 2.º, n.º 1, alínea a) do CIRS, cujo rendimento líquido da Categoria será determinado
nos termos do artigo 25.º e ss. do CIRS, rendimento esse que se encontra sujeito a engloba-
mento, cf. o artigo 22.º, n.º 1 do CIRS, bem como cometido á alíquota que resultar da aplica-
ção da tabela do artigo 68.º do CIRS, estando igualmente sujeito a retenção na fonte, mas
desta feita ex vi artigo 99.º, n.º 1, alínea a) e ss. do CIRS.

(2 valores)

No que respeita às rendas que ambos recebem “de um imóvel situado em Benfica”, as mes-
mas perfazem um rendimento da Categoria F, cf. o artigo 8.º, n.º 1 do CIRS, cujo rendimento
líquido da Categoria é determinado nos termos do artigo 41.º do CIRS, tendo-se que no caso
as “extensas obras” serão a priori dedutíveis e se cumprindo com o preceituado no artigo 41.º,
n.º 7 do CIRS, estando cometido a uma alíquota de 23%, cf. o artigo 72.º, n.º 1, alínea e) e
n.º 3 e em virtude do “arrendamento de 5 anos”, apenas sendo englobado por opção do res-
petivo titular, cf. os artigos 72.º, n.º 13 e 22.º , n.º 3, alínea a) do CIRS.

(2 valores)
Findamos com o “Decreto-lei simples” aprovado pelo Governo, “com efeitos a 1 Janeiro de
2021” e que padece de inconstitucionalidade orgânica e formal. No que concerne à inconsti-
tucionalidade orgânica, temos que se tratando o tributo de uma contribuição financeira uni-
lateral e precisamente porque não bilateral, quer Ana Paula Dourado como José Casalta Na-
bais o cometem a reserva de lei, havendo uma violação do artigo 165.º, n.º 1, alínea i) e n.º 2
da CRP, não se tendo qualquer LAL. Já em relação à material, e tratando-se as “quotizações
para a Segurança Social” de um facto tributário de obrigação única, não pode a LN aplicar-
se para o passado e abarcar factos tributários que já tenham tido lugar, tendo-se uma situação
de retroatividade forte, proibida expressamente no artigo 103.º, n.º 3 da CRP e de acordo
com a interpretação que do mesmo é feita pela TC, cf., e.g., o Acórdão n.º 575/14, de 3 de
Setembro.

(2 valores)
DIREITO FISCAL – 4.º ANO – TURMA A
Exame Escrito da Época Especial – Ano Letivo de 2020/2021
Regência: Professora Doutora Ana Paula Dourado
Colaboradores: Mestres Nuno de Oliveira Garcia, Sónia Martins Reis, Sérgio Varela Alves e Daniela Pessoa Tavares
8 de Setembro de 2021 – Duração 90 minutos

Leia com atenção e comente de forma fundamentada e sucinta, invocando as Normas, Jurisprudência e
Doutrina que tenha por convenientes.

I
Francisco e Clara, casados há 6 anos, decidiram mudar-se em 2018 para o Sul de Itália. Filipa, irmã de Francisco,
que sempre viveu em Arganil, decidiu juntar-se à viagem, trocando o rio Alva pelo mar mediterrâneo. Apesar da
mudança para o Sul de Itália:

a) Francisco manteve o seu cargo de administrador na empresa TURISMO-INTERIOR S.A., com sede em
Arganil, tendo auferido, em 2020, rendimentos no valor de 40.000 € a título de remuneração pelo exercício de
funções no órgão estatutário daquela empresa;
b) Francisco manteve-se proprietário de uma casa em Piódão, tendo procedido à alienação da mesma em dezembro
de 2020, por um montante de 250.000 €;
c) A empresa TURISMO-INTERIOR S.A. deixou de efetuar retenção na fonte sobre os rendimentos pagos a
Francisco desde 1 de janeiro de 2020.

II

Filipa regressou a Portugal dois anos depois, em maio de 2020, tendo aí permanecido o resto do ano. Nesse ano,
Filipa auferiu 7.000€ resultantes da venda das ações que detinha, desde 2010, na empresa MAISLUCRO S.A.,
sociedade portuguesa não cotada, com sede em Setúbal.

No mesmo ano, em dezembro de 2020, a legislação fiscal foi alterada, passando a prever que as mais-valias mobiliárias,
independentemente do momento da aquisição das ações e do período de detenção, passariam a ser tributadas em sede
de IRS, com efeitos a 1 de janeiro de 20201.

III

Em 2021, a sociedade MAISLUCRO S.A., que apurou prejuízos fiscais nos anos anteriores, foi objeto de uma
inspeção fiscal, tendo-se verificado que aquela sociedade:

a) Celebrou vários contratos de prestação de serviços com empresas localizadas nos Emirados Árabes Unidos,
pretendendo deduzir como gasto o avultado montante de 400.000 € pago como contraprestação pelos
serviços que lhe foram prestados;
b) Tinha registadas diversas despesas não documentadas e também multas;
c) Pagou bónus aos administradores em valor superior a 30.000 € pelo seu desempenho excecional.

Quid iuris?

Grupo I – 7,5 valores; Grupo II – 7,5 valores e Grupo III - 5 valores.

1 Deverá ficcionar-se, para efeitos do presente enunciado, que, até à alteração legislativa ocorrida em dezembro 2020 indicada no enunciado - não se
encontrava prevista, na legislação portuguesa, a tributação em sede de IRS das mais valias-mobiliárias decorrentes da alienação de ações detidas pelo
seu titular durante mais de 12 meses.
Grelha de correção

Grupo I – 7,5 valores; Grupo II – 7,5 valores e Grupo III - 5 valores.

I
i. Incidência pessoal de IRS: caracterização de Francisco enquanto sujeito passivo de IRS, não residente em
território português e aí auferindo rendimentos (artigos 13.º, n.º 1 e 16.º do CIRS), tributado apenas pelos
rendimentos obtidos em Portugal (artigos 15.º, n.º 2, e 18.º do CIRS). (1 valor)
ii. Incidência real de IRS:
a. Rendimentos auferidos a título de remuneração pelo exercício de funções em órgãos estatutários:
rendimentos da categoria A (trabalho dependente), nos termos do disposto no artigo 2.º, n.º 3, alínea a), do
CIRS, pagos por sociedade comercial com sede em Portugal a um sujeito passivo de IRS não residente em
território português e, portanto, aí sujeitos a tributação (artigo 15.º, n.º 2 e artigo 18.º, n.º 1, alínea b), ambos
do CIRS). Rendimentos determinados nos termos do artigo 25.º e ss. do CIRS, sujeitos a retenção na fonte
com a natureza definitiva e liberatória, nos termos do disposto nos artigos 2.º, n. º3, alínea a) e 71º, n.º 4,
alínea a), ambos do CIRS, à alíquota de 25% (não sendo aplicáveis as alíquotas constantes da tabela geral
do artigo 68.º do CIRS, nem sendo possível o englobamento (artigos 22.º, n.º 3 e 71.º, n.º 8 do CIRS)); (2
valores)
b. Mais-valia imobiliária: ponderar eventual rendimento da categoria G – mais-valia imobiliária (artigos 9.º,
n.º 1, alínea a) e 10.º, n.º 1, alínea a) do CIRS), obtido em Portugal e aí sujeito a tributação (artigo 15.º, n.º
2 e artigo 18.º, n.º 1, alínea h), ambos do CIRS), não sendo aplicável o regime do reinvestimento previsto
no artigo 10.º, n.º 5 do CIRS. Rendimento determinado nos termos do artigo 43.º do CIRC e sujeito à taxa
especial de 28% prevista no artigo 72.º, n.º 1, alínea a), do CIRS (não sendo aplicáveis as alíquotas constantes
da tabela geral do artigo 68.º do CIRS, nem sendo possível o englobamento (artigos 22.º, n.º 3 e 72.º, n.º 13
do CIRS). (2 valores)
iii. Responsabilidade tributária em caso de substituição: identificação da sociedade TURISMO-INTERIOR S.A.
enquanto substituto tributário e, por essa via, sujeito passivo de IRS (artigos 18.º, n.º 3, e 20.º, ambos da LGT). A
responsabilidade originária pelas importâncias não retidas é do substituto tributário (TURISMO-INTERIOR S.A.)
e a responsabilidade tributária subsidiária é do substituído (artigos 23.º e 28º, n. º3 da LGT). Discutir possível
responsabilidade subsidiária dos administradores (artigos 23.º e 24.º da LGT). (2,5 valores)

II
i. Incidência pessoal de IRS: caracterização de Filipa enquanto sujeito passivo de IRS, residente em território
português no ano de 2020 (artigos 13.º, n.º 1 e 16.º, n.º 1, alínea a), do CIRS), sujeita a tributação em Portugal pelo
seu rendimento mundial “worlwide income” (artigo 15.º, n.º 1, do CIRS). (1 valor)
ii. Incidência real de IRS: ponderar eventual rendimento da categoria G – mais-valia mobiliária (artigos 9.º, n.º 1,
alínea a) e 10.º, n.º 1, alínea b) do CIRS), tributado nos termos do artigo 43.º do CIRS, sendo considerado apenas
50 % valor do saldo, por se tratar de pequena empresa não cotada em mercado regulamentado (artigo 43.º, n.º 3, do
CIRS). Aplicação da taxa especial de 28% (artigo 72.º, n.º1, alínea c), do CIRS). Opção pelo englobamento (artigos
n.ºs 72.º, n.º 13 e 22.º, n.º 3, alínea b), do CIRS); (2 valores)
iii. Retroatividade fiscal: discussão sobre a proibição da retroatividade fiscal da lei que passou a determinar que as
mais-valias mobiliárias, independentemente do momento da aquisição das ações e do período de detenção,
passariam a ser tributadas em sede de IRS, com efeitos a 1 de janeiro de 2020. Para o efeito: (a) caracterização do
facto tributário (facto tributário complexo de formação sucessiva ao longo de um ano vs. facto tributário de
obrigação única, que nasce e se esgota no momento da alienação e realização da mais-valia) e (b) identificação das
consequências em sede de aplicação no tempo da lei fiscal (retroatividade inautêntica / retrospetividade, admissível
à luz do artigo 103.º, n.º 3, da CRP, com inerente análise da conformidade com o princípio da proteção da confiança
(na vertente segurança jurídica), à luz do artigo 2.º da CRP (sendo de referir evolução da jurisprudência a este respeito
- e.g, Acórdãos n.ºs 18/2011; 310/2012 e 617/2012 , todos do TC) vs. retroatividade autêntica / forte de uma norma
oneradora, proibida nos temos do artigo 103.º, n.º 3, da CRP. Referência à posição da jurisprudência sobre a
aplicação da lei no tempo no caso de mais-valias obtidas com a alienação onerosa de participações sociais (e.g.,
Acórdão do STA n.º 5/2017), assim como a posição da Regência. (4,5 valores)

III

i. Incidência pessoal e real de IRC: enquadramento da sociedade MAISLUCRO S.A. enquanto sujeito passivo de
IRC (artigos 1.º e 2.º, n.º 1, alínea a), ambos do CIRC), tributada pelo seu lucro (artigo 3.º, n.º 1, alínea a), do CIRC),
determinado de acordo com o artigo 17.º, n.º 1, do CIRC, que concretiza o princípio da tributação do rendimento
real, consagrado no artigo 104.º, n.º 2, da CRP. Aplicação da alíquota de 21% (artigo 87.º, n.º 1 do CIRC). (1 valor)
ii. Determinação da matéria coletável de IRC:
a. Pagamento pelos serviços prestados: não dedutibilidade do gasto referente ao pagamento pelos serviços
prestados pela sociedade com sede Emirados Árabes Unidos, país com um regime fiscal claramente mais
favorável (artigo 63.º-D da LGT e Portaria n.º 150/2004, atualizada à data (artigo 23.º-A, n.º 1, alínea
r), do CIRC); (1 valor)
b. Despesas não documentadas e das multas: não dedutibilidade das despesas não documentadas e das
multas (artigo 23.º A, n.º 1, alíneas b) e e), do CIRC). Sujeição da tributação autónoma das despesas não
documentadas, à alíquota de 50%, (artigo 88.º, n.º 1, do CIRC), agravada em 10 pontos percentuais em ano
de prejuízos fiscais (artigo 88.º, n.º 14, do CIRC), não sendo o quantum de tributação autónoma dedutível,
cf. o artigo 23.º-A, n.º 1, alínea a) do CIRC; (2 valores)
c. Bónus aos administradores: Sujeição a tributação autónoma do pagamento de bónus aos administradores
em valor superior a 30.000 €, à alíquota de 35%, nos termos do artigo 88.º, n.º 13, b), do CIRC, agravada
em 10 pontos percentuais em ano de prejuízos fiscais (artigo 88.º, n.º 14, do CIRC), não sendo o quantum
de tributação autónoma dedutível, cf. o artigo 23.º-A, n.º 1, alínea a) do CIRC. (1 valor).
Direito Fiscal – 4.º Ano – Turma A
Exame Escrito – Recurso – 2019/2020
Regência: Professora Doutora Ana Paula Dourado
Colaboradores: Professora Doutora Paula Rosado Pereira, Mestre Nuno de Oliveira Garcia, Mestre
Sónia Martins Reis e Dr. Sérgio Varela Alves

14 de fevereiro de 2020 – Duração 90 minutos

Leia com atenção e comente de forma fundamentada e sucinta, invocando os preceitos legais e a
jurisprudência relevante
I

António, aluno finalista na FDUL, trabalha numa loja para poder pagar os seus estudos. O mesmo
aufere um salário de 700 €, a que acrescem 10 € diários de subsídio de alimentação atribuído em vale (um
valor que excede em muito o limite legal), bem como diversas “gorjetas” dos clientes da sua entidade pa-
tronal. Uma vez que decidiu viver em Lisboa, vendeu também por 2.000 € uma Scooter que comprara por
1.000 €, que a somar a outros 1.000 € que recebeu de um prémio literário, lhe permitirá frequentar o Mes-
trado em Direito na FDUL.

Entretanto, recebeu dinheiro de uma herança e adquiriu um imóvel por 300.000 euros.

A empresa ABC, Lda., vendeu parte do seu stock pelo dobro do preço de mercado à XYZ, Lda.,
detida por si a 100% e com o intuito de reduzir prejuízos. Tudo isto, num ano em que teve diversas des-
pesas não documentadas, gastos com ajudas de custo e despesas de representação. Acresce, que teve de
pagar diversas coimas por excesso de velocidade, relacionadas com veículos de que é proprietária.

II

A Câmara Municipal de Lisboa decidiu criar uma “Contribuição de Melhoria”, a ser paga pelos
proprietários de imóveis lisboetas e calculada em função do seu valor patrimonial, dando como justificação
para o tributo, a melhoria das infraestruturas da cidade que valorizou os respetivos imóveis. Todavia, criou
uma isenção para os proprietários com mais de 65 anos e pensões de valor inferior ao salário mínimo.

Por Decreto-Lei simples e a 14.02.2020, o Governo decide aumentar todas as alíquotas do artigo
68.º do CIRS em 5%, bem como reduzir em 3% a alíquota de 21% do artigo 87.º do CIRC, uma alteração
a produzir efeitos a 01.01.2020. E, aproveitando o momento, alterou também o regime da responsabilidade
tributária dos membros de corpos sociais e responsáveis técnicos, consagrado no artigo 24.º da LGT.

Grupo I – 10 valores Grupo II – 10 valores


Grelha de Correção

(pontos essenciais a serem abordados)

António
Determinação da incidência pessoal:
● Artigo 13.º, n.º 1 do CIRS: Reside em território português (“Lisboa”) e aqui obtém rendimentos.
● Artigo 16.º, n.º 1, alínea a) do CIRS: Sendo residente quem nele permanece mais de 183 dias.
● Artigo 15.º, n.º 1 do CIRS: Caso em que se é tributado pelo rendimento mundial (worldwide income).
Determinação do rendimento líquido por Categoria:
● Categoria A: Salário (artigo 2.º, n.º 1, alínea a) e n.º 2 do CIRS); Subsídio de Refeição (artigo 2.º, n.º 3,
alínea b), n.º 2 do CIRS); Gratificações (artigo 2.º, n.º 3, alínea g) e 72.º, n.º 7 do CIRS). Retenção na fonte
do salário e do excesso do subsídio, mas já não das gratificações, cf. o artigo 99.º, n.º 1, alínea a) do CIRS,
englobamento ou não e nos termos do artigo 22.º, n.º 1 e n.º 3, alínea b) do CIRS, bem como a sujeição
ou não às taxas gerais do artigo 68.º do CIRS.
● “Scooter”: As mais-valias resultantes da alienação de coisas móveis não são tributadas em IRS, cf. a contr-
ario o artigo 10.º do CIRS.
● “Prémio Literário”: Excluído de tributação nos termos do artigo 12.º, n.º 2 do CIRS.
● “Aquisição do imóvel por 300.000 euros”: Manifestação de fortuna (artigo 87.º, n.º 1, alínea d) e 89.º-A,
n.º 4 da LGT), elidível pelo recebimento do “dinheiro de uma herança”.
ABC, Lda.
Determinação da incidência:
● Artigo 2.º, n.º 1, alínea a) do CIRC: Sociedade Comercial (“Lda.”).
● Artigo 3.º, n.º 1, alínea a) e 17.º, n.º 1 do CIRC, bem como 104.º, n.º 2 da CRP: É tributada pelo lucro
tributável ou rendimento real.
Preços de transferência:
● Artigo 63.º, n.º 4, alínea a) e n.ºs 1, 2 e 3, alínea a), bem como o n.º 9 do CIRC: Correção do lucro tribu-
tável pela AT, pelo montante que teria sido obtido se as operações se tivessem efetuado numa situação
normal de mercado e por entidades independentes.
Dedutibilidade dos gastos:
● Despesas não documentadas: Não dedutíveis (artigo 23.º-A, n.º 1, alínea b) do CIRC) e sujeitas a tributa-
ção autónoma (artigo 88.º, n.º 1 do CIRC).
● Ajudas de custo: São a priori dedutíveis (artigo 23.º, n.º 2, alínea d) do CIRC), mas sujeitas a tributação
autónoma (artigo 88.º, n.º 9 do CIRC) cujo quantum não é dedutível (artigo 23.º-A, n.º 1, alínea a) do CIRC).
● Despesas de representação: São a priori dedutíveis (artigo 23.º, n.º 1 do CIRC), mas sujeitas a tributação
autónoma (artigo 88.º, n.º 7 do CIRC) cujo quantum não é dedutível (artigo 23.º-A, n.º 1, alínea a) do CIRC).
● Coimas “por excesso de velocidade”: não dedutíveis (artigo 23.º-A, n.º 1, alínea e) do CIRC).
I

“Contribuição de Melhoria”
● Tributo ad valorem (“em função do seu valor patrimonial”), discussão sobre imposto versus contribuição
unilateral e o prescrito no artigo 4.º, n.º 3 da LGT.
Princípio da Legalidade
● Sendo o tributo supra ad valorem, quer a Professora Ana Paula Dourado como o Professor Casalta Nabais
defendem, a sua sujeição à reserva de lei, ex vi artigo 165.º, n.º 1, alínea i) e 103.º, n.º 2 da CRP.
● A criação de Benefícios Fiscais está cometida à reserva de lei, cf. o artigo 103.º, n.º 2, 2.ª parte da CRP.
● O Governo ao alterar as taxas dos artigos 68.º do CIRS e 87.º do CIRC, contende com o quantum (“taxa”)
do artigo 103.º, n.º 2, 1.ª parte da CRP, e ao alterar o regime da responsabilidade tributária do artigo 24.º
da LGT, contende com o an (“incidência”) do artigo 103.º, n.º 2, 1.ª parte da CRP.
● Dissenso doutrinário sobre a sujeição ou não à reserva de lei de normas fiscais desoneradoras, cf. os
Professores Casalta Nabais e Vieira de Andrade versus Professora Ana Paula Dourado.
Aplicação da Lei no Tempo
● Temos dois factos tributários de obrigação periódica que ainda não se extinguiram, logo, duas situações
de retrospetividade que somente serão admissíveis se não violarem o princípio da proteção da confiança.
Análise da violação desse mesmo princípio, ex vi artigo 2.º da CRP e dos critérios do Ac. do TC n.º 128/09,
bem como da admissibilidade da aplicação retroativa das normas fiscais desoneradoras.
Direito Fiscal – 4.º Ano – Turma A
Exame Escrito – 2019/2020
Regência: Professora Doutora Ana Paula Dourado
Colaboradores: Professora Doutora Paula Rosado Pereira, Mestre Nuno de Oliveira Garcia, Mestre Sónia
Martins Reis e Dr. Sérgio Varela Alves
16 de janeiro de 2020 – Duração 90 minutos

Leia com atenção e comente de forma fundamentada e sucinta, invocando os preceitos legais e a
jurisprudência relevante
I

Anabela e Bernardo, casados e residentes em Lisboa, têm um filho Carlos de 22 anos, que vive com eles e
é aluno finalista na FDUL. Todos auferem diversos rendimentos em Portugal e no estrangeiro, sendo que Carlos
recebe um pequeno salário por trabalhar em part-time em Lisboa, de 300 euros por mês.

Anabela, é advogada na “XPTO & Associados”, onde aufere 40.000 euros por ano. Acontece, que as des-
pesas de todo o escritório têm que ser pagas por si, razão pela qual está a pensar em optar pela determinação do
rendimento com base na contabilidade. Só de renda do escritório paga 10.000 euros por ano (25% do rendimento
auferido), a que acrescem outras despesas, razão pela qual se pergunta sobre se a opção é a mais acertada.

Bernardo, é gerente na “Esquemas, Lda.”, onde aufere 25.000 euros por ano. Sucede, que a Lda. contraiu
um empréstimo bancário que foi integralmente gasto numa outra empresa do grupo, procedeu ao pagamento de
serviços de consultoria de uma entidade sediada nas Bahamas, bem como adquiriu uma viatura ligeira de passagei-
ros híbrida plug-in, pelo valor de 30.000 euros e com a qual a Lda. tem diversos encargos. Bernardo, pensa que
todos os gastos são dedutíveis, mas gostaria de ter uma segunda opinião sobre o assunto.

Carlos, também acha ser injusto ter de pagar 28% sobre uns juros que recebe de um depósito a prazo na
Suíça, de uma conta que lá lhe abriram quando ele era mais novo, pois com o seu pequeno salário gostaria de saber
se há alguma maneira de poder pagar menos de IRS sobre os mesmos.

II

A Câmara Municipal do Porto, decidiu criar uma “Taxa de Poluição Automóvel”, a ser cobrada pela entra-
da de veículos automóveis no centro da cidade, como um modo de combater as alterações climáticas e a poluição.
Todavia, o valor da mesma varia consoante o nível de poluição dos veículos em CO2 g/Km, algo que os munícipes
das cidades vizinhas contestam, assim como não perscrutam qualquer contraprestação que lhes seja prestada.

Por Decreto-Lei simples, o Governo decide também aumentar os prazos de prescrição e caducidade que
constam da LGT, com aplicação imediata a todos os processos e procedimentos tributários em curso. As Assem-
bleias Legislativas Regionais dos Açores e da Madeira, decidem extinguir nos respetivos arquipélagos, diversos im-
postos estaduais aprovados pela Assembleia da República, porque desadequados às especificidades das regiões.

Grupo I – 12 valores Grupo II – 8 valores


Grelha de Correção

(pontos essenciais a serem abordados)

A, B e C, residindo em PT e aqui obtendo rendimentos, são tributados em PT pelo seu rendimento mundial
(worldwide income), incluindo os rendimentos obtidos no estrangeiro, cf. os artigos 13.º, n.º 1 e 15.º, n.º 1 do CIRS.
Quanto ao agregado familiar, temos que A e B fazem parte do mesmo, cf. o artigo 13.º, n.º 4, alínea a) do CIRS,
mas não C, não se considerando C dependente nos termos do artigo 13.º, n.º 5, alínea b) do CIRS, pois aufere por
ano uma rendimento superior ao salário mínimo nacional. A e B podem optar pela tributação conjunta dos seus
rendimentos, nos termos dos artigos 13.º, n.ºs 2 e 3 e 69.º, n.ºs 1 e 3 do CIRS, tendo-se a tributação individual co-
mo a regra e a conjunta como opcional.

A aufere um rendimento da Categoria B, ex vi artigos 1.º e 3.º, n.º 1, alínea b) do CIRS, cujo rendimento líquido é
determinado nos termos do artigo 28.º e ss. do CIRS, constando a sua atividade profissional da tabela de ativi-
dades do artigo 151.º do CIRS com o CAE 6010. No que respeita à determinação do rendimento líquido da Ca-
tegoria B, A pode efetivamente optar por ter contabilidade organizada, sendo a mesma obrigatória tão-só para os
casos do artigo 28.º, n.º 2 do CIRS, constando a respetiva opção do seu n.º 3. Com base no regime simplificado,
cf. os artigos 28.º, n.º 1, alínea a) e 31.º, n.º 1, alínea b) do CIRS, temos uma presunção de despesa de 25% (na
prática, apenas 15% sem o comprovativo das despesas e encargos efetivamente suportados, em concordância com
o artigo 31.º, n.ºs 13 e ss. do CIRS). Com base na contabilidade, ter-se-á que aferir se os gastos são ou não dedu-
tíveis nos termos do CIRC, na decorrência dos artigos 28.º, n.º 1, alínea a) e 32.º do CIRS, sendo o gasto com ren-
das a priori dedutível ex vi artigo 23.º, n.º 2, alínea d) do CIRC. Assim, e como para além do gasto das rendas A
tem outras despesas, tem-se por mais acertada a opção da determinação do rendimento com base na contabilidade.

B aufere um rendimento da Categoria A, na decorrência do artigo 1.º e 2.º, n.º 3, alínea a) do CIRS, cujo rendimento
líquido é determinado nos termos do artigo 25.º e ss. do CIRS. Já a Lda., é sujeito passivo de IRC, ex vi artigo 2.º,
n.º 1, alínea a) do CIRC, sendo tributada pelo seu lucro conforme o artigo 3.º, n.º 1, alínea a) do CIRC, correspon-
dendo o lucro tributável do artigo 17.º, n.º 1 do CIRC à tributação do rendimento real, consagrada no artigo 104.º,
n.º 2 da CRP. Apenas serão dedutíveis os gastos indispensáveis para a empresa (business purpose), cf. a interpretação
que é feita do artigo 23.º, n.º 1 do CIRC por Ana Paula Dourado ou pelo STA no Acórdão do processo n.º 779/12,
de 24 de setembro de 2014, sendo que a indispensabilidade dos gastos deve ser aferida através da relação desses
com a atividade da empresa, entendida em sentido amplo e não apenas de atividade produtiva, excluindo-se outras
sociedades do grupo, e.g., igual para o STA no Acórdão do processo n.º 0171/11, de 30 de maio de 2012.

Deste modo, os juros do empréstimo que a priori são dedutíveis nos termos do artigo 23.º, n.º 2, alínea c) do CIRC,
não o serão por via do artigo 23.º, n.º 1 do CIRC. Em relação às Bahamas, temos um paraíso fiscal que consta da
Portaria n.º 150/2004, de 13 de fevereiro de 2004, a que se refere o n.º 1 do artigo 63.º-D da LGT, pelo que será
de aplicar a cláusula específica anti-abuso do artigo 23.º-A, n.º 1, alínea r) do CIRC, sendo que o gasto não será
dedutível, se o sujeito passivo não provar que a operação foi efetivamente realizada, sem carácter anormal ou com
montante exagerado, pelo que sendo esse o caso, acrescerá a taxa de tributação autónoma de 35% do artigo 88.º,
n.º 8 do CIRC. Por último, os encargos com a viatura são tributados autonomamente à alíquota de 10%, ex vi arti-
go 88.º, n.º 3, alínea b) e n.º 17, sendo a despesa a priori dedutível, cf. o artigo 23.º, n.º 2, alínea d), mas nunca o
quantum de tributação autónoma, conforme o artigo 23.º-A, n.º 1, alínea a) do CIRC.

C aufere um rendimento da Categoria A, na decorrência do artigo 1.º e 2.º, n.º 1, alínea a) do CIRS, cujo rendimento
líquido é determinado nos termos do artigo 25.º e ss. do CIRS, bem como um rendimento da Categoria E, cf. os
artigos 1.º, e 5.º, n.º 2, alínea b) do CIRS, ao qual se aplica efetivamente uma alíquota de 28%, ex vi artigo 72.º, n.º
1, alínea d) do CIRS, pois provindo os juros da Suíça, não estão sujeitos à retenção na fonte a título definitivo do
artigo 71.º do CIRS. Sendo residente pode optar pelo englobamento dos juros, cf. o artigo 72.º, n.º 12 do CIRS,
pelo que em concordância com a tabela do artigo 68.º do CIRS e não sendo o seu valor muito elevado, os mesmos
poderão ser tributados a uma alíquota inferior a 28%.

Englobados os rendimentos da Categoria A e B, cf. o artigo 22.º, n.º 1 do CIRS, e da Categoria E, cf. o artigo 22.º,
n.º 3, alínea b), aplicar-se-á a alíquota correspondente do artigo 68.º do CIRS, podendo A e B optar pela tributação
conjunta e como já se referiu supra, havendo ainda lugar às deduções à coleta do artigo 78.º e ss. do CIRS. No
que concerne às retenções na fonte dos rendimentos da Categoria A, temos o artigo 99.º e ss. do CIRS, do da Ca-
tegoria B o artigo 101.º, n.º 1, alínea b) do CIRS, não havendo lugar à retenção na fonte dos rendimentos do artigo
72.º do CIRS e nomeadamente dos juros in casu da Categoria E.

II

A criação de taxas não se encontra cometida a reserva de lei, sendo as mesmas estruturalmente bilaterais ou sina-
lagmáticas, tendo-se o seu quantum determinado pelo princípio da cobertura do custo, e.g., para Ana Paula Dourado,
ou não podendo tão-só haver uma manifesta desproporcionalidade para o TC, cf. o Acórdão n.º 640/95, de 15 de
novembro de 1995. No caso das autarquias locais, é de referir o seu Regime Geral das Taxas que consta da Lei n.º
53-E/2006, de 29 de dezembro de 2006, sendo o seu poder tributário derivado e não originário, conforme ao arti-
go 238.º, n.º 4 da CRP. As taxas, encontram-se também consagradas no artigo 3.º, n.º 2 da LGT, tendo-se como
seu pressuposto a prestação de um serviço público, a utilização de um bem do domínio público ou a remoção de
um obstáculo jurídico, ex vi artigo 4.º, n.º 2 da LGT, devendo a contraprestação ser igualmente presente e indivi-
dualizável. No caso sub judice, não temos um qualquer tributo ad valorem, porque o seu valor tão-só varia consoante
o nível de poluição dos veículos e como a distinção entre as classes de veículos nas portagens, não se tendo, por-
tanto, nem um imposto nem uma contribuição financeira unilateral. Também, não teremos uma contribuição
financeira bilateral, porque não há qualquer consignação da receita. Como contraprestação no caso em apreço, te-
mos o bem público “estradas” ou similar, porque não há uma qualquer licença e remoção de um obstáculo jurídico,
bem podendo o tributo seguir uma finalidade extrafiscal, leia-se, outra que não a de arrecadação de receitas.

Os prazos de prescrição e caducidade, estão cometidos ao princípio da legalidade tributária, como resulta do artigo
8.º, n.º 2, alínea a) da LGT, pese embora esta não ter valor reforçado, mas como já resultaria in fine do artigo 103.º,
n.º 2, 3.ª parte da CRP. Assim, temos uma inconstitucionalidade orgânica, por violação deste mesmo preceito
constitucional. Também, mas desta feita de acordo com o artigo 12.º, n.º 3 da LGT, temos que as normas sobre
procedimento e processo são de aplicação imediata, contudo, sem prejuízo das garantias, direitos e interesses legí-
timos anteriormente constituídos dos contribuintes, maxime se já decorreu o prazo de prescrição e caducidade, ou
se determinada decisão transitou em julgado, ou seja, a LN poderá ter aplicação imediata, mas com as ressalvas
indicadas. Quanto às Regiões autónomas estas já têm um poder tributário originário, porque resulta diretamente
da Constituição e do seu artigo 227.º, n.º 1, alínea i) da CRP. Todavia, e quer se tenha uma posição mais centralista
ou regionalista, não podem as Assembleias Legislativas Regionais extinguir tributos criados pela Assembleia da
República, um órgão de Soberania ex vi artigo 110.º, n.º 1 da CRP, o que não exclui o seu poder de adaptação des-
ses mesmos tributos às especificidades das regiões, cf. o artigo 227.º, n.º 1, alínea i) da CRP, o que resulta inclusiva-
mente da sua Lei das Finanças Regionais, a Lei n.º 2/2013, de 02 de setembro de 2013, e nomeadamente do artigo
56.º da mesma.
Direito Fiscal – 4.º Ano – Turma A
Exame Escrito – Coincidências de Recurso – 2019/2020
Regência: Professora Doutora Ana Paula Dourado
Colaboradores: Professora Doutora Paula Rosado Pereira, Mestre Nuno de Oliveira
Garcia, Mestre Sónia Martins Reis e Dr. Sérgio Varela Alves
20 de fevereiro de 2020 – Duração 90 minutos

Leia com atenção e comente de forma fundamentada e sucinta, invocando os preceitos


legais e a jurisprudência relevante

André, residente em Lisboa, é jurisconsulto numa firma de consultadoria, ao abrigo


de um contrato de prestação de serviços e onde aufere 250.000 euros por ano. Acontece, que
fruto do exercício dessa mesma atividade, ele tem inúmeras deslocações de Norte a Sul do
país, sendo que adquiriu um veículo a gasóleo por 30.000 euros para o efeito.

Ele aufere também, dividendos de uma empresa sediada em Paris, bem como de uma
outra sediada no Panamá, sendo que ainda compra e vende uns livros antigos como hobby.

A empresa “XPTO, Lda.”, detém a 100% uma empesa sediada nas Bahamas, que por
sua vez tem lucros avultados que não distribui. Nas suas instalações, contruiu igualmente um
ginásio para uso gratuito dos seus funcionários e respetivas famílias, tendo a “XPTO, Lda.”
como seu objeto social, o “fabrico e distribuição de produtos farmacêuticos”.

II

Benedita, gerente da “XYZ, Lda.”, não reteve na fonte nem entregou os valores res-
peitantes às quotizações para a Segurança-Social dos seus trabalhadores, sendo que a empresa
está insolvente e o Carlos que lá trabalha há 10 anos também. Acresce que Diogo, contabilista
da “XYZ, Lda.”, alterou os livros contabilísticos da mesma com o recurso a “faturas falsas”.

No dia 20.02.2020 a Assembleia da República decide aumentar as alíquotas do IVA,


uma alteração legislativa a produzir efeitos a 01.01.2020. Decidiu também, mas somente para
o futuro, aumentar a alíquota do último escalão do artigo 68.º do CIRS para 60%.

Grupo I – 12 valores Grupo II – 8 valores


Grelha de Correção

(aspetos ESSENCIAIS a serem abordados)

1. André é sujeito passivo de IRS uma vez que reside em Portugal e aqui obtém rendimentos,
cf. o artigo 13.º, n.º 1 do CIRS, aferindo-se a residência pela regra geral do artigo 16.º, n.º 1,
alínea a) do CIRS (não havendo outros dados disponíveis), situação em que será tributado
pelo seu rendimento mundial (“worldwide income”);

2. André aufere um rendimento da Categoria B, ex vi artigo 3.º, n.º 1, alínea b) do CIRS, com
o CAE 6011 (cf. a tabela anexa ao artigo 151.º do CIRS), tendo que ter contabilidade organi-
zada e uma vez que aufere mais de 200.000 euros brutos por ano, cf. o artigo 28.º, n.º 2 do
CIRS, caso em que o seu rendimento líquido da Categoria B será determinado nos termos
do CIRC, em conformidade com o artigo 32.º do CIRS.

3. Quanto ao veículo automóvel, este será dedutível via critério do business purpose test, cf. a
interpretação que é feita por certa doutrina e jurisprudência do artigo 23.º, n.º 1 do CIRC,
sendo a sua aquisição e os gastos relacionados com o mesmo sujeitos à taxa de tributação au-
tónoma de 20%, em conformidade com o artigo 73.º, n.º 2, alínea b) do CIRS.

4. Os dividendos constituem-se como rendimento da Categoria E, cf. o artigo 5.º, n.º 1, alínea
h) do CIRS, sendo que os provenientes de França são tributados à alíquota de 28% do artigo
72.º, n.º 1, alínea d) do CIRS, e os provenientes dos Panamá à alíquota de 35% do artigo 72.º,
n.º 16, alínea a) do CIRS, podendo os primeiros ser englobados e os segundos não, cf. o arti-
go 72.º, n.º 12 do CIRS, porque o Panamá consta da Portaria n.º 150/2004, ex vi artigo 63.º-
D, n.º 1 da LGT.

5. Não se tributam as mais-valias resultantes da alienação de coisas móveis, cf. a contrario o


artigo 10.º do CIRS e no que respeita à compra e venda de livros antigos, como hobby.

6. As Bahamas constam da Portaria n.º 150/2004, pelo que será de aplicar a cláusula especí-
fica antiabuso do artigo 66.º do CIRC (“CFC rules”), sendo os seus lucros imputados à empre-
sa “XPTO, Lda.”, cf. o artigo 66.º, n.º 1 do CIRC.

7. O gasto com o ginásio será dedutível, via critério do business purpose test, cf. a interpretação
que é feita por certa doutrina e jurisprudência do artigo 23.º, n.º 1 do CIRC (≠ da doutrina
dos atos ultra vires).
Nota: A valorizar a referência do que esteja cometido a retenção na fonte e a que título, en-
globamento e às taxas gerais do artigo 68.º do CIRS, bem como da possibilidade de terem
lugar deduções à coleta, ex vi artigo 78.º e ss. do CIRS. Ainda, a determinação da incidência
do CIRC.

II

1. Identificação da retenção na fonte a título definitivo e respetiva aplicação do artigo 28.º,


n.º 3 da LGT. Possibilidade de reversão do processo de execução fiscal, cf. o artigo 23.º, n.ºs
1 e 2 da LGT, sendo que não havendo culpa da empresa, mas culpa funcional de Benedita,
ex vi artigo 64.º, n.º 1, alínea a) do CSC, esta poderá ser responsável tributária, recaindo sobre
si o ónus da prova do artigo 24.º, n.º 1, alínea b) da LGT.

2. Diogo poderá ser responsável tributário nos termos do artigo 24.º, n.º 3 da LGT, na senda
do § anterior, não sendo sequer a sua culpa ilidível, se provado o crime de Fraude Fiscal do
artigo 103.º, n.º 1, alínea a) do RGIT.

3. Para efeitos de aplicação da lei fiscal no tempo, o IVA é um facto tributário de obrigação
única. Logo, temos uma situação de retroatividade forte, proibida pelo artigo 103.º, n.º 3 da
CRP e de acordo com a interpretação que do preceito é feita pelo TC, e.g., no Ac. n.º 129/09.

4. Temos uma eventual situação de confisco que contende com os artigos 61.º e 62.º da CRP,
cf. o Ac. do TEHD Gálls vs Hungria.

Você também pode gostar