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ISVOUGA

Instituto Superior de Entre Douro e Vouga

DIREITO DA FAMÍLIA

Licenciatura em Solicitadoria

Sumário V

Ano letivo 2020/2021

Docente: Carla Marques Ribeiro, PhD

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Direito da Família

Aula n.º 10 (04/12/2020)


1.Direito matrimonial.
1.1. Noção e características gerais do casamento.
1.2. Modalidades de casamento.
1.3. Pressupostos da celebração do casamento.
1.4. Invalidade do casamento.

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Direito matrimonial

1. Direito matrimonial

Direito matrimonial
– Conjunto de normas jurídicas que disciplinam a celebração, os efeitos pessoais e
patrimoniais, a invalidade e a dissolução do casamento.

– Consagração nas ordens civil e canónica.


Código Civil Português;
Código do Registo Civil – DL n.º 131/95, de 6 de junho;
Concordata celebrada entre Portugal e a Santa Sé, de 18 de maio de 2004
(nova
Concordata);
Código de Direito Canónico (Codex Iuris Canonici – CIC) – Título VII do Livro IV, cânones
1055 a 1163.

1.1. Noção e características gerais do casamento

1.1.1. Noção de casamento


Contrato celebrado entre duas pessoas que pretendem constituir
família mediante uma plena comunhão de vida.
Art. 1577.º CC

Promessa de casamento
Contrato pelo qual duas pessoas prometem contrair casamento, mas
não atribui o direito a exigir a sua celebração, nem a reclamar, na falta de
cumprimento, outras indemnizações que não sejam as previstas no art. 1594.º
CC,
mesmo quando resultantes de cláusula penal.
Arts. 1591.º e segs. CC

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Direito Matrimonial

a) Incumprimento da promessa de casamento.


 O contraente que não cumpre a promessa de casamento não
responde pela totalidade dos prejuízos sofridos, nos termos gerais do
direito dos contratos ou pela cláusula penal convencionada, mas só
por certas despesas.

 Obrigação de indemnizar restrita às despesas realizadas e obrigações


contraídas na previsão do casamento.
 Na fixação da indemnização o contraente faltoso responde só por
algumas despesas, sem que as partes possam estipular cláusula
penal de montante superior, por isso, atende-se às despesas
e obrigações que se mostrem razoáveis, perante as circunstâncias
do caso e a condição dos contraentes.
Art. 1594.º, n.ºs 1 e 3 CC
 A indemnização pode ser exigida pelo promitente prejudicado,
pelos pais deste ou por terceiros que tenham agido em nome dos
pais.
 A indemnização é exigida ao nubente culpado, que rompeu a
promessa sem justo motivo ou que, por culpa sua, levou a que o
outro se retratasse.
Art. 1594.º, n.º 1 CC

 Obrigação de restituição dos donativos atribuídos devido à promessa e


na expectativa do casamento.
Arts. 1592.º e 1593.º CC
 Pelos promitentes culpado e não culpado, e em relação aos
donativos recebidos do outro promitente e de terceiro.
Arts. 1592.º e 1593.º CC

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Direito Matrimonial

 Se o casamento não se celebrar por morte de algum


dos promitentes, o promitente sobrevivo pode exigir
aos herdeiros do outro esposado os donativos que
tenha feito restituindo os que recebeu, mas pode também
conservar os donativos do falecido, perdendo o direito de
exigir os que por sua parte lhe tenha feito.
Art. 1593.º CC

 Prazo para a ação de pedido de indemnização e/ou restituição dos


donativos.
 1 ano a contar da data do rompimento da promessa ou da
morte do promitente.
Art. 1595.º CC

1.1.2. Características gerais do casamento


a) Contrato juridicamente vinculante.
 Negócio jurídico bilateral acordado entre as partes.
 Duas declarações de vontade convergentes.
 Falta de declaração de vontade de:
 Um nubente;
 Ambos os nubentes;
 Procurador de um nubente.
o Conduz à inexistência jurídica do casamento.

b) Negócio pessoal
 Celebrado entre os nubentes para constituição de uma relação
familiar.

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Direito Matrimonial

c) Negócio verbal e solene


 Casamento civil / católico.
 Forma de validade / existência do casamento.
 Cerimónia da celebração do ato.

d) Plena comunhão de vida em unidade e exclusividade, em que


os cônjuges estão reciprocamente vinculados pelos deveres
de respeito, fidelidade, coabitação, cooperação e assistência.
 O casamento baseia-se em direitos e deveres recíprocos
dos cônjuges.
Arts. 1672.º e segs. CC
 Se um ou ambos os cônjuges, por um ato de vontade pessoal,
não pretende(m) assumir ou há exclusão de um ou mais
deveres conjugais, o casamento é contraído invalidamente por
falta de consentimento matrimonial.

e) Tendencialmente perpétuo
 Não é uma característica absoluta do casamento civil, daí a
possibilidade da sua dissolução.
Art. 1773.º CC

f) Limitações ao exercício da autonomia privada no casamento


 Os efeitos pessoais são fixados imperativamente pela lei.

 Efeitos patrimoniais
 Liberdade de fixação do regime de bens.
 Em algumas situações, as partes não podem introduzir
derrogações ao regime de bens.

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Direito Matrimonial

g) Proibição de estabelecimento de uma condição ou termo para


o casamento.

h) A consumação do casamento civil não é relevante.


 Releva quando a impotência de um dos cônjuges
era desconhecida pelo outro, podendo, neste caso, ser
invocada a
anulabilidade do casamento.
Art. 1635.º CC

i) A procriação não é um fim absolutamente essencial no casamento


civil.
 Não consta da definição legal de casamento.
Art. 1577.º CC

1.2. Modalidades de casamento

1) Casamento civil
a) Noção e características gerais já enunciadas.

2) Casamento católico
a) Pacto matrimonial irrevogável, mediante o qual o homem e a mulher
constituem entre si a comunhão de toda a vida, ordenado pela sua natureza ao bem
dos cônjuges e à procriação e educação da prole.
Cân. 1055, parágrafo 1 CIC
 Natureza sacramental do matrimónio.
 Procriação e educação dos filhos como fim essencial do casamento.
 Unidade ou exclusividade e a indissolubilidade do casamento.
Cân. 1056 CIC

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Direito Matrimonial

 Relevância atribuída à consumação do casamento, porque a partir daí


goza de estabilidade e indissolubilidade.

b) O caráter perpétuo do casamento católico está mais presente do que no


casamento civil.

c) O casamento católico é disciplinado em vários aspetos por normas


de direito canónico diferentes das que regem o casamento civil.
 O Estado português reconhece as normas do direito canónico
que regem o ato matrimonial e a sua aplicação pelos
tribunais eclesiásticos, aos quais compete julgar, de acordo
com essas
normas, da validade ou nulidade do casamento católico.

d) Para a harmonização do sistema de registo do casamento civil com


o sistema de registo do casamento católico:
 O casamento católico está sujeito ao sistema de impedimentos do
direito canónico, mas também se exige a capacidade matrimonial civil
para a sua celebração, aplicando-se o sistema de impedimentos
dirimentes e impedientes do casamento.
Art. 1596.º CC
 Para a celebração de casamento católico é necessária a emissão
de certificado de capacidade matrimonial pelo conservador do
registo civil.
Arts. 1598.º, n.º 1 CC e 146.º, 151.º e 296.º, al. a) do n.º 1 CRC
 Obrigação do pároco enviar à conservatória do registo civil
competente o duplicado do assento paroquial para transcrição nos
livros do registo civil, como condição de eficácia civil do casamento,
não se permitindo que o casamento seja invocado, enquanto
não for lavrado o respetivo assento.
Arts. 1655.º, n.º 1 e 1669.º CC, 169.º e 296.º, n.º 1, al. c) CRC

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Direito Matrimonial

e) O direito canónico limita as situações em que permite a dissolução


do casamento católico.
 Morte de um dos cônjuges.
Cân. 1055, parágrafo 2 CIC

 Independentemente da morte de um dos cônjuges.


 Dispensa do casamento rato e não consumado.
 Anomalias físicas e psíquicas que impedem os cônjuges de
assumir as obrigações essenciais do casamento.
Câns. 1141 a 1150 CIC

Sistema matrimonial português


a) Harmonização do casamento civil com o casamento católico.

b) Sistema de casamento civil facultativo


 Nubentes que professam a religião católica.
 Podem escolher livremente entre o casamento civil a celebrar perante o
conservador do registo civil e o casamento católico a celebrar perante o
pároco.
 Atribuição de efeitos civis aos casamentos civil e católico.

 Nubentes que professam outras confissões religiosas radicadas em Portugal.


 Celebração do casamento civil com atribuição de efeitos civis.
 Ou possibilidade de celebração do casamento sob a forma religiosa
perante o ministro do culto de uma igreja ou comunidade religiosa radicada,
mas é apenas uma forma de celebração, pelo que fica sujeito às normas
pelas quais se rege o casamento civil e à atribuição de efeitos civis.
Art. 19.º Lei da Liberdade Religiosa – Lei n.º 16/2001, de 22 de junho

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Direito Matrimonial

 Nubentes que professam outras confissões religiosas não radicadas em


Portugal.
 Celebração do casamento civil com atribuição de efeitos civis.
 O casamento sob forma religiosa pode ser celebrado mas não
tem relevância e, por isso, não há atribuição de quaisquer efeitos civis.

1.3. Pressupostos da celebração do casamento

Requisitos substanciais
Fundamento para a celebração do casamento.

1) Consentimento dos cônjuges


a) Consentimento pessoal, simples, perfeito e livre, expresso no ato de
celebração.
 Vontade livre e esclarecida, com conhecimento do conteúdo do estado
de casado e dos efeitos do casamento.

b) Consentimento pessoal
 Consentimento pessoal expresso pelos próprios nubentes mediante
duas declarações de vontade convergentes no ato da celebração.
Art. 1619.º CC

Casamento por procuração


 Regra geral: vontade pessoal de cada nubente para
contrair casamento.
Art. 1619.º CC
 Exceção: admissibilidade do casamento através de procurador.

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Direito Matrimonial

 Um dos nubentes é representado na declaração por procurador.


Arts. 1620.º, n.º 1 e 44.º, n.º 1 CRC
 Não é permitida a representação de um nubente pelo outro
nubente.

 Conteúdo e forma da procuração


 Forma da procuração
 Instrumento público.
 Documento escrito e assinado pelo representado com
reconhecimento presencial da assinatura.
Art. 43.º, n.º 2 CRC
 Documento escrito e assinado pelo representado, se
emitido a favor de advogado ou solicitador.
Art. 43.º, n.º 3 CRC
 Conteúdo da procuração
 Procuração com poderes especiais para o ato na qual
se manifesta a vontade completa do nubente.
 A procuração deve fazer referência expressa ao
nubente com o qual o casamento será contraído.
 A procuração deve fazer referência expressa à modalidade
de casamento.
Arts. 1620.º, n.º 2 CC e 44.º, n.º 2 CRC

 Inexistência da procuração
 Procuração não outorgada pelo nubente que constitui procurador.
 O casamento foi celebrado depois de cessarem os efeitos da
procuração.
Art. 1628.º, al. d) CC

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Direito Matrimonial

 Nulidade da procuração
 Falta de concessão de poderes especiais para o ato.
 Falta de designação expressa do nubente com o qual
quer contrair casamento.

 Revogação da procuração
 Cessação de todos os efeitos independentemente de
ser levada ao conhecimento do procurador.
 Morte do constituinte.
 Morte do procurador.
 Acompanhamento de qualquer um deles, quando
a sentença que o haja decretado assim o determine.
Art. 1621.º, n.º 1 CC

 Recusa da celebração do casamento


 Procuração com referência expressa à obrigação
do procurador recusar a celebração do casamento.
 Quando tome conhecimento da alteração ou
superveniência de circunstância(s) ignorada(s)
pelo constituinte.
 Quando haja sérias dúvidas se o constituinte celebraria o
casamento tendo conhecimento da(s)
circunstância(s).
 Procuração com referência expressa à celebração
do casamento, sejam quais forem as circunstâncias.
 O procurador não se pode recusar legitimamente.

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Direito Matrimonial

c) Consentimento simples
 Não é possível apor uma condição ou termo ao casamento, dado
que este não é um contrato temporário.
Art. 1618.º, n.º 2 CC
 Se há condição ou termo para o casamento, considera-se como
uma cláusula não escrita.
 O casamento é válido como se fosse celebrado sem condição
ou termo, ou seja, como se o consentimento prestado tivesse
sido simples.

d) Consentimento perfeito
 Perfeição do consentimento para a celebração, com a concordância
entre a vontade e a declaração de vontade.
 A declaração de vontade emitida no ato da celebração constitui
uma presunção legal da liberdade e convergência do consentimento
de ambos os cônjuges para contrair casamento e que a sua vontade não
está viciada por erro ou coação.
Art. 1634.º CC
 Falta de vontade e vícios de vontade na celebração do casamento.
 Verificação de circunstâncias taxativas para a anulação do
casamento.
Art. 1627.º CC
 Verificação de falta de vontade.
Art. 1627.º CC
 Verificação de uma divergência entre a vontade
declarada e a vontade real.
Art. 1635.º CC

Simulação
a) A vontade dos cônjuges não visa a criação de um
vínculo matrimonial, com os correspondentes direitos e
obrigações.

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Direito Matrimonial

b) Ação de anulação do casamento com fundamento em


simulação.
 Legitimidade para requerer a anulação:
 Cônjuges.
 Quaisquer pessoas prejudicadas com o casamento.
Art. 1640.º, n.º 1 CC

 Prazo para requerer a anulação:


 Três anos subsequentes à sua celebração.
 Seis meses seguintes à data em que teve
conhecimento do casamento.
Art. 1644.º CC

c) Terceiros de boa fé
 A anulação do casamento simulado não pode ser
oposta a terceiros que julgaram de boa fé que o
casamento era válido.
Art. 243.º CC

Coação
a) O casamento celebrado sob coação moral afasta a presunção da
liberdade de consentimento.
Art. 1634.º CC

b) Pressupostos da relevância da coação.


Art. 1638.º CC
 Casamento celebrado sob coação moral, desde que seja
grave o mal com que o nubente foi ilicitamente ameaçado e
justificado o receio da sua consumação.

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Direito Matrimonial

 A coação é relevante quando a ameaça vise a cominação


de um mal dirigido à pessoa do nubente ou de
terceiro, independentemente da relação entre o declarante
coagido e terceiro.
 A coação é relevante quando a ameaça vise interesses
patrimoniais.
 A coação é relevante quer seja realizada pelo nubente que
coage ou por terceiro.

c) Ação de anulação do casamento com fundamento em coação


 Verificação dos pressupostos da coação.
Art. 1631.º, al. b) CC

 Legitimidade para requerer a anulação:


 Cônjuge coato.
 Se o autor falecer na pendência da causa, têm legitimidade
os parentes, afins na linha reta, herdeiros e adotantes.
Art. 1641.º CC

 Prazo para requerer a anulação:


 Seis meses subsequentes à cessação do vício.
Art. 1645.º CC
 Anulabilidade sanável mediante confirmação expressa
ou tácita.
Art. 288.º CC

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Direito Matrimonial

Erro
a) O erro recai sobre a pessoa com quem se celebra o casamento.
Art. 1636.º CC

b) Pressupostos da relevância do erro.


 É um erro próprio que recai sobre uma qualidade essencial da pessoa do
outro cônjuge, designadamente o seu estado civil ou religioso, a prática
de costumes desonrosos, a impotência, anomalias físicas
graves, doenças transmissíveis por herança ou contagiosas.
 É um erro desculpável segundo o qual e, perante as circunstâncias
do caso, uma pessoa normal recai nele e, como tal, pode ser invocado
como pressuposto da invalidade do casamento.
 É um erro essencial para o declarante na formação da sua vontade, dado
que a circunstância que conduziu ao erro foi determinante para a vontade
de contrair casamento.
Art. 1636.º CC

c) Ação de anulação do casamento com fundamento no erro


 Verificação dos pressupostos do erro.
Art. 1631.º, al. b) CC

 Legitimidade para requerer a anulação


 Cônjuge que incorreu no erro.
 Se o autor falecer na pendência da causa, têm legitimidade
os parentes, afins na linha reta, herdeiros e adotantes.
Art. 1641.º CC

 Prazo para requerer a anulação:


 Seis meses subsequentes à cessação do vício.
Art. 1641.º CC

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Direito Matrimonial

 Anulabilidade sanável mediante confirmação expressa


ou tácita.
Art. 288.º CC

Dolo
a) Irrelevância do dolo no casamento.
Art. 253.º, n.º 2 CC
 Permanência dos casamentos validamente celebrados.
 Não assume relevância, porque o legislador entende que no
casamento só é enganado dolosamente quem quer se deixar
ser enganado.

Estado de necessidade
a) Declaração de vontade matrimonial prestada pelo nubente, obtida
de forma ilícita por alguém, com a promessa de o afastar de um mal
fortuito ou causado por outrem.
Art. 1638.º, n.º 2 CC

2) Capacidade matrimonial
a) Celebração de casamento por pessoas com capacidade matrimonial.
Art. 1600.º CC
b) Abertura de um procedimento anterior à celebração do casamento
para averiguação da existência ou não de algum impedimento matrimonial.

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Direito Matrimonial

Incapacidade matrimonial
a) Impedimentos matrimoniais à celebração dos casamentos civil e católico.
Arts. 1601.º, 1602.º e 1604.º CC

b) Classificação de impedimentos matrimoniais

 Impedimentos dirimentes
 Conduzem à anulação do casamento.
Impedimentos impedientes
 Conduzem à aplicação de sanções menos gravosas que a
anulabilidade.

 Impedimentos absolutos
 A incapacidade matrimonial é fundada numa característica
da pessoa.
 Traduz-se num impedimento para contrair casamento com qualquer
pessoa.
Impedimentos relativos
 Constituem ilegitimidades fundadas na relação das pessoas com
outra(s).
 Traduz-se num impedimento que proíbe o casamento com uma
determinada pessoa.

 Impedimentos dispensáveis
 Perante as circunstâncias do caso concreto, uma entidade autoriza a
celebração do casamento, não obstante a existência de determinado
impedimento.
Impedimentos indispensáveis
 Constituem impedimentos que não admitem dispensa
para possibilitar a celebração do casamento.

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Direito Matrimonial

Requisitos formais
Procedimento para a celebração do casamento.

1) Processo preliminar de publicações


a) Os nubentes devem declarar a sua intenção de contrair casamento na
conservatória do registo civil.

b) Qualquer conservatória do registo civil tem competência para a organização


do processo preliminar de casamento.
Art. 134.º CRC

c) Para a celebração do casamento católico a declaração é prestada pelo


sacerdote competente para a sua organização.
Art. 135.º CRC

d) Há uma forma e conteúdo específicos da declaração.


Arts. 136.º e segs. CRC

e) À pretensão dos nubentes é conferida publicidade, designadamente


para que alguma pessoa se manifeste quanto à existência de
impedimentos
matrimoniais.
Art. 140.º CRC

f) No caso da existência de impedimentos matrimoniais:


 Declaração efetuada por qualquer pessoa até ao momento da
celebração do casamento.
 Declaração efetuada pelo funcionário do registo civil quando tenha
conhecimento da sua existência.
Art. 142.º, n.º 1 CRC
 O conservador do registo civil faz constar do processo de casamento
a declaração de um impedimento matrimonial.

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Direito Matrimonial

 Haverá suspensão do processo de casamento até à cessação, dispensa


ou improcedência por decisão judicial do impedimento matrimonial.
Art. 142.º, n.º 2 CRC

g) Fim do prazo de publicações


 O conservador do registo civil emite despacho favorável com a
autorização para a celebração do casamento pelos nubentes.
 Notificação do despacho aos nubentes.
Art. 144.º, n.º 4 CRC
 Dispõem do prazo de 6 meses para a celebração do casamento.
Art. 145.º CRC
 O conservador do registo civil decide pelo arquivamento do processo.
Art. 144.º, n.º 1 CRC

2) Celebração do casamento
a) O procedimento culmina no ato final de celebração do casamento.

b) Dia e hora do casamento.


Art. 153.º CRC

c) Forma legal de celebração pública do casamento.


Art. 155.º CRC

d) No ato de celebração do casamento estão presentes:


 Os nubentes.
 Um nubente e o procurador do outro.
Arts. 1620.º CC e 43.º, n.º 2 CRC
 O conservador do registo civil.

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Direito Matrimonial

 As testemunhas quando legalmente exigíveis ou o conservador do


registo civil entenda como necessário.
Art. 154.º CRC

3) Registo do casamento
a) Constitui a prova resultante do registo civil e é a única legalmente admitida
quanto a factos a ele sujeitos e ao correspondente estado civil.

b) O registo é obrigatório.

c) O registo não tem um caráter constitutivo, uma vez que não é necessário
para a existência ou validade do casamento.

e) Regra geral: É uma prova não ilidida por qualquer outra.


Exceção: Prova afastada por via das ações de estado e de registo.

f) Os efeitos do casamento produzem-se desde a data da sua celebração e


não só a partir da data do registo.
Arts. 1670.º CC e 188.º CRC

g) O registo pode ser lavrado por:


 Inscrição
 Casamento civil.
Art. 52.º, al. e) CRC
 Inscrição em livro próprio da conservatória do registo civil.

 Transcrição
 Assento do casamento católico.
 Assento de casamento urgente.

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Direito Matrimonial

 Casamento celebrado no estrangeiro perante as autoridades


legais competentes.
Arts. 6.º, n.º 4 e 53.º, als. b), c) e d) CRC

Especificidades do casamento católico


Aplicação do regime canónico e do regime do casamento civil.

Requisitos substanciais
a) Consentimento válido de ambos os nubentes.
Cân. 1057.º, parágrafo 1 CIC
b) Capacidade jurídica de ambos os cônjuges.
 O casamento católico está subordinado quer ao sistema de impedimentos
do direito canónico, quer ao sistema de impedimentos do direito civil.
Art. 1596.º CC
 .Para a celebração válida não devem verificar-se impedimentos
matrimoniais.
Câns. 1057.º, parágrafo 1 e 1073.º CIC

Requisitos formais
a) Observância da forma canónica.
Câns. 1108.º e segs. CIC

b) Forma do casamento regida pelo direito canónico e pelo direito civil.


Câns. 1108.º a 1115.º CIC

c) Processo preliminar para a celebração do casamento católico


 Declaração para casamento que pode ser prestada pelo pároco com
competência para a organização do processo canónico.
Art. 135.º, n.º 2 CRC

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Direito Matrimonial

 Emissão do certificado de capacidade matrimonial pelo conservador do


registo civil, no qual se declara que os nubentes podem
contrair matrimónio.
Arts. 146.º e 151.º CRC

d) Registo do casamento
 O assento paroquial é subscrito pelos cônjuges, testemunhas e
sacerdote.
 Envio do duplicado do assento paroquial à conservatória do registo civil.
Arts. 167.º e 168.º CRC

 Validade civil do casamento católico.


 O casamento é válido após a celebração da cerimónia religiosa.
 Por isso, o casamento é válido antes da transcrição, mas ainda não
produz efeitos civis.
 A transcrição do assento paroquial é a condição legal da eficácia civil
do casamento católico.

Especificidades do casamento urgente


a) Circunstâncias taxativas expressamente previstas na lei.
Arts. 1622.º CC e 156.º CRC

b) Casamento celebrado independentemente do processo de publicações.

c) O funcionário do registo civil menciona, por forma oral ou escrita, à porta da


casa onde se encontrem os nubentes, que vai ser celebrado o casamento.

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Direito Matrimonial

d) O casamento considera-se celebrado sob o regime imperativo de separação de


bens.
Art. 1720.º, n.º 1, al. a) CC

e) Casamento católico urgente


 Celebração do casamento católico urgente sem precedência do
processo de publicações.
 O casamento católico urgente considera-se celebrado sob o regime
imperativo de separação de bens.
Art. 1720.º, n.º 1, al. a) CC

Especificidades do casamento de portugueses no estrangeiro


a) Celebração de casamento no estrangeiro:
 Entre dois portugueses;
 Entre português e estrangeiro.
Arts. 161.º e segs. CRC

b) Abertura do processo de publicações, exceto se a lei permitir a sua dispensa


para a celebração do casamento.

c) Formas de celebração:
 Perante os ministros do culto católico.
 Perante os agentes diplomáticos ou consulares portugueses, na
forma estabelecida pela lei civil portuguesa
 Perante as autoridades legais competentes, na forma prevista pela lei do
lugar da celebração do casamento.

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Direito Matrimonial

Especificidades do casamento de estrangeiros em Portugal


a) Casamento celebrado segundo:
 Forma e termos previstos no CRC.
 Forma e termos previstos na lei nacional de qualquer dos nubentes.
Arts. 165.º e 166.º CRC
b) Instrução do processo preliminar.

c) Emissão do certificado de capacidade matrimonial pela autoridade


competente do país da sua nacionalidade.

1.4. Invalidade do casamento

Regime geral da invalidade dos negócios jurídicos previsto no Código Civil


1) Inexistência jurídica;
2) Nulidade;
3) Anulabilidade.
4) Consequente ineficácia do negócio jurídico.

Regime geral da invalidade no direito matrimonial civil


1) Inexistência;
2) Anulabilidade;
3) A lei civil não prevê a nulidade do casamento civil.

1) Inexistência do casamento
Arts. 1628.º e segs. CC
a) Circunstâncias:
 Celebração do casamento por quem não tem competência funcional para o
ato.

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Direito Matrimonial

 Celebração do casamento perante funcionário de facto sem


competência funcional para o ato, mas que exerce publicamente as
correspondentes funções e, deste modo, não será inexistente.
Art. 1629.º CC
 Verificação da falta de declaração de vontade dos nubentes ou de
um deles.
 A manifestação da declaração de vontade dos nubentes é essencial
para contraírem casamento, caso contrário o casamento
é juridicamente inexistente.
 É diferente da situação em não há falta de declaração de
vontade mas há uma declaração de um ou ambos os cônjuges com a
vontade viciada por erro ou coação.

b) Aplicação do regime da inexistência jurídica


 O casamento inexistente não produz quaisquer efeitos jurídicos.
 O casamento não produz efeitos putativos.
 A inexistência jurídica pode ser invocada a todo o tempo, por
qualquer interessado, independentemente de declaração judicial.
Art. 1630.º CC
 Se o casamento é inexistente não há a presunção de paternidade do
marido da mãe.

c) O regime da inexistência jurídica é aplicável na medida em que o regime de


anulabilidade é Insuficiente quando haja vícios muito graves no casamento.
 A anulabilidade não pode ser declarada oficiosamente pelo tribunal.
 A anulabilidade só pode ser invocada por determinadas pessoas.
 Há um prazo determinado para invocar a anulabilidade.
 A anulabilidade permite a produção de alguns efeitos jurídicos
designados por efeitos putativos.
Arts. 1647.º e 1648.º CC

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Direito Matrimonial

 Se o casamento é anulado, mantém-se a presunção da paternidade do


marido da mãe.

2) Anulabilidade do casamento
Arts. 1631.º e segs. CC
a) Casamento putativo
 Situações em que o casamento civil anulado, ou o casamento católico
declarado nulo, produzem efeitos jurídicos, não obstante a invalidade.
Arts. 1627.º e 1647.º CC

b) Situações de anulabilidade
 Enumeração taxativa.
Art. 1631.º CC

 Impedimentos para a celebração do casamento.


Arts. 1601.º, 1602.º e 1604.º CC
 Falta de idade nupcial.
 Demência notória:
 Verificação de perturbações mentais graves.
 Profunda diminuição da atividade psíquica.
 Incapacidade para administrar a sua pessoa e bens.
 Maior acompanhado, quando a sentença o determine.
 Relação anterior de responsabilidades parentais.
 Casamento anterior não dissolvido.
 Parentesco na linha reta, segundo grau da linha colateral e afinidade na
linha reta.
 Condenação por homicídio.

27
Direito Matrimonial

 Celebração de casamento com falta de vontade de um ou ambos os


nubentes:
 Sob coação física ou simulação.
 Sob incapacidade acidental.

 Celebração do casamento com vícios de vontade juridicamente relevantes:


 Erro-vício.
 Coação moral.

 Celebração do casamento sem a presença de testemunhas quando


legalmente exigidas.

c) Motivos temporários/permanentes de anulabilidade


 Motivos temporários
Celebração do casamento com falta de idade nupcial.
Demência notória e, entretanto, é decretada uma decisão judicial
de acompanhamento.
Casamento anterior não dissolvido.
Falta de testemunhas.

 A anulabilidade é sanável mediante o preenchimento de determinados


requisitos.
Art. 1633.º CC
 Não é permitido requerer a anulação depois de desaparecer o motivo da
anulabilidade.

 Motivos permanentes
 Casamento celebrado com impedimentos de parentesco na linha reta e
segundo grau da linha colateral ou afinidade em linha reta.
 Relação anterior de responsabilidades parentais.

28
Direito Matrimonial

 Condenação por homicídio.

 A anulabilidade é insanável.

 Aplicação do regime geral da anulabilidade dos negócios jurídicos.


 No caso da celebração de casamento simulado.
Art. 1640.º CC

d) Aplicação do regime da anulabilidade


 A anulabilidade não funciona ipso iure.
Art. 1632.º CC

 Legitimidade para requerer.


Arts. 1639.º a 1642.º CC
 Cônjuges;
 Parentes em linha reta ou até ao 4.º grau da linha colateral;
 Herdeiros;
 Adotantes;
 Ministério Público.

 Proposição de ação de anulação só pelo Ministério Público.


 Circunstâncias:
 Celebração do casamento sem a presença de testemunhas.

 Proposição da ação de anulabilidade só por um dos cônjuges para proteger o


seu interesse.
 Circunstâncias:
 Incapacidade acidental.

29
Direito Matrimonial

 Outras causas que determinem a falta de consciência do ato, erro sobre a


identidade física do outro cônjuge, coação física, erro-vício e coação
moral.
 Requerimento da anulação só por esse cônjuge.

3) Nulidade do casamento católico


a) A lei civil não pode determinar a nulidade do casamento católico.

b) Competência dos Tribunais eclesiásticos.


 Os tribunais civis não podem declarar a nulidade do casamento católico.
Art. 1625.º CC
 Declarada a nulidade do casamento católico pelo tribunal eclesiástico, aplicar-
se-á o regime matrimonial civil quanto aos seus efeitos pessoais e patrimoniais
e eventualmente o instituto do casamento putativo.
Arts. 1647.º e 1648.º CC

Consequências da invalidade do casamento

Filhos
a) A celebração do casamento pelos cônjuges, de boa ou má fé, produz efeitos
favoráveis aos filhos nascidos no casamento.
 Mantém-se a presunção de paternidade segundo a qual o pai é o marido da
mãe.
Art. 1827.º CC

Cônjuges
a) Ambos os cônjuges estão de boa fé

30
Direito Matrimonial

 Produção de todos os efeitos entre os cônjuges até à data da declaração de


nulidade ou de anulação do casamento.
Art. 1647.º, n.º 1 CC
 São válidos os atos de administração corrente dos bens comuns
do casal, praticados por um dos cônjuges, mesmo sem o consentimento
do outro cônjuge.

b) Só um dos cônjuges está de boa fé


 Produção de efeitos que sejam favoráveis ao cônjuge de boa fé.
Art. 1647.º, n.º 2 CC

c) Ambos os cônjuges estão de má fé


 O casamento não produz efeitos em relação aos cônjuges.

Terceiros
a) Estabelecimento de relações dependentes da validade do casamento
dos cônjuges.

b) Não são objeto de proteção específica e direta pelo instituto do casamento putativo.
 Verificação da produção indireta ou reflexa dos efeitos decorrentes
da manutenção das relações entre os cônjuges, apesar da invalidade
do
casamento.

c) Ambos os cônjuges de boa fé


 Se o casamento é inválido, os efeitos produzem-se em relação a terceiros, até à
sentença de declaração de nulidade ou anulação.
Art. 1647.º, n.º 1 CC

31
Direito Matrimonial

d) Só um dos cônjuges está de boa fé


 A relação entre os cônjuges afeta terceiros.
 Designadamente a alienação de um bem por um dos cônjuges sem o
consentimento do outro.
 Produção de efeitos em relação a terceiros, conforme são favoráveis ou não ao
cônjuge de boa fé.
Art. 1647.º, n.º 2 CC

e) Ambos os cônjuges estão de má fé


O casamento não produz quaisquer efeitos entre os cônjuges e
consequentemente não produz efeitos em relação a terceiros.

32
Questões Teóricas

1) Distinga e justifique a sua resposta:

1.1) Impedimentos matrimoniais dirimentes e impedimentos impedientes.


Tópicos de resolução:
1) Noção de capacidade matrimonial.
2) Classificação dos impedimentos.
3) Enumeração de circunstâncias enquadradas em cada um dos
impedimentos.
4) Fundamentação legal.

1.2) Consentimento e capacidade matrimoniais


Tópicos de resolução:
1) Ambos são requisitos de fundo para a celebração do casamento.
2) Caraterização do consentimento dos cônjuges para contrair casamento.
3) Caraterização da capacidade matrimonial dos cônjuges.
4) Fundamentação legal.

1.3) Transcrição e inscrição do casamento


Tópicos de resolução:
1) Natureza do registo.
2) Noção de transcrição.
3) Noção de inscrição.
4) Registo e produção de efeitos para os cônjuges e terceiros.
5) Fundamentação legal.

33
Questões Teóricas

1.4) Falta de vontade e vícios de vontade no casamento


Tópicos de resolução:
1)Distinção à luz do requisito do consentimento para a celebração do casamento.
2)Identificar as situações juridicamente relevantes de falta de vontade e de vício
de vontade.
3)Consequências jurídicas para a validade do casamento.
4)Fundamentação legal.

34
Casos Práticos

Caso prático n.º 1


Anacleto e Justino foram adotados por famílias diferentes, uma residente no
Porto e outra em Évora.
No momento em que foi decretada a adoção plena, Anacleto tinha 1 ano
de idade e Justino 3 anos.
Os pais biológicos de Anacleto, Artur e Cremilde consentiram na adoção.
Os pais biológicos de Justino, Artur e Élia consentiram na adoção.
As duas famílias biológicas solicitaram ao tribunal que nunca fosse divulgada a
sua identidade.
Anacleto e Justino conheceram-se quando frequentavam a licenciatura em
Solicitadoria. Sempre manifestaram uma grande cumplicidade e, hoje, com 25 e
27 anos, respetivamente, pretendem casar civilmente.
Para o efeito, celebraram um contrato promessa de casamento, no
qual manifestaram as suas vontades e já trocaram alguns bens entre si.
Ambos sabem que foram adotados, por isso, para os preparativos do
casamento, requereram ao tribunal competente informações sobre os seus pais
biológicos e elementos da sua história pessoal.
Ambos ficaram inconformados quando souberam que, pelos
documentos apresentados, eram irmãos consanguíneos, uma vez que Artur é
pai de ambos. Perante este facto, ambos mantêm a vontade de casar e
afirmam que não conviveram na sua infância e, por isso, não há qualquer
impedimento para o ato.
Resolva a presente situação à luz da lei portuguesa.
Tópicos de resolução:
1) Noção de casamento civil.
2) Verificação do preenchimento dos pressupostos/requisitos para a celebração
do casamento.
3) Análise específica do requisito da capacidade matrimonial.
5) Noção de contrato promessa de casamento.
6) Consequências da eventual falta de celebração do casamento.
7) Fundamentação legal.

35
Casos Práticos

Caso prático n.º 2


Há 15 anos, Violeta casou com David, irmão de Beatriz.
Beatriz foi casada com Jacinto durante 10 anos.
Nos últimos dois anos, Violeta insatisfeita com o casamento devido ao facto de
David estar desempregado, não se interessar em procurar emprego, não
lhe prestar atenção e dormirem em quartos separados há mais de 5 anos,
requereu o divórcio.
O divórcio foi decretado por rutura da vida conjugal.
Violeta sempre teve um grande afeto pelo seu cunhado Jacinto, agora no estado
civil de viúvo de Beatriz, falecida há 2 anos.
Violeta e Jacinto juntaram-se, vivem em união de facto e pretendem casar
civilmente.
Entretanto, é diagnosticada um doença em fase terminal a Jacinto e,
mesmo assim, Violeta quer casar.
Será possível celebrar o casamento? Fundamente a sua resposta.
Tópicos de resolução:
1) Noção de casamento civil.
2) Preenchimento dos requisitos substanciais do casamento.
3) Análise específica da capacidade matrimonial.
4) Preenchimento dos requisitos formais do casamento.
5) Casamento civil urgente como exceção ao regime geral.
6) Viabilidade e fundamento para a celebração do casamento civil urgente entre
Violeta e Jacinto.
7) Fundamentação legal.

36
Casos Práticos

Caso prático n.º 3


Jacinta e Teotónio celebraram um contrato promessa no qual prometeram casar
catolicamente.
Ambos têm capacidade matrimonial, não se verificando nenhum impedimento.
No documento subscrito, ambos assumiram como obrigação recíproca a
de emitirem o consentimento matrimonial e fixaram como data para a
sua celebração, o dia 20 de julho de 2020.
Contudo, em meados de janeiro de 2020, as discussões entre ambos tornaram-
se frequentes, resultando em algumas denúncias criminais de Jacinta por
violência física praticada por Teotónio.
Jacinta resolveu não cumprir a promessa.
Teotónio veio exigir-lhe uma indemnização, assim como os pais deste que
já tinham comprado o fato de casamento do filho e, a título de sinal, entregaram
2.000,00 euros à gerente da quinta onde se celebraria o copo d’água e 400,00
euros para o aluguer da limousine.
Por seu turno, Jacinta pede a restituição do recheio de móveis que tem
guardado na casa dos pais de Teotónio e que seria utilizado na casa de morada
de família de ambos. E também a restituição de um quadro de Monet que tinha
adquirido numa leiloeira, tendo emprestado a Teotónio para decorar a sua loja
de ourivesaria.
Exige ainda os donativos oferecidos na expectativa da celebração do
casamento.
Resolva a presente situação à luz da lei portuguesa.
Tópicos de resolução:
1) Noção de contrato promessa de casamento.
2) Capacidade matrimonial para a celebração do contrato promessa de casamento.
3) Consequências do incumprimento da promessa de casamento aplicáveis ao caso
concreto.
4) Fundamentação legal.

37
Casos Práticos

Caso prático n.º 4


Gertrudes, de 20 anos, e Antonino, de 25 anos, namoraram durante 2
anos e resolveram casar catolicamente, no dia 10 de janeiro de 2021.
Após o casamento Antonino confessou a Gertrudes que tinha um problema de
saúde, é portador de HIV.
Gertrudes, incrédula, pretende anular o casamento, porque jamais casaria com
uma pessoa nesse estado e afirma que não quer ter uma plena comunhão de
vida com ele. Tanto que para ela o casamento é um sacramento, e o seu
objetivo essencial é a procriação.
No dia 11 do corrente, o duplicado do assento paroquial foi enviado
à Conservatória do Registo Civil competente, para efeitos de transcrição. Como
resolveria a situação? Fundamente a sua resposta.
Tópicos de resolução:
1) Noção de casamento católico.
2) Importância do ato de transcrição para produção de efeitos jurídicos entre cônjuges
e terceiros.
3) Ao casamento católico são atribuídos todos os efeitos civis.
4) Caraterização do consentimento e capacidade matrimoniais enquanto
requisitos substanciais para a celebração do casamento.
5) Constituem requisitos regulados quer pelo direito canónico quer pelo direito civil.
6) No que concerne ao requisito “consentimento” para contrair casamento, verifica-se
que a vontade de um dos cônjuges está viciada.
7) Identificar e explicar o vício de vontade presente no caso concreto.
8) Consequências jurídicas decorrentes do vício de vontade.
9) Fundamentação legal.

38
Casos Práticos

Caso prático n.º 5


Benilde, de 16 anos, e Cristóvão de 28 anos, contraíram casamento civil em 1 de
Setembro de 2015, sem convenção antenupcial. Os pais de Benilde prestaram o
respetivo consentimento.
Com o casamento Benilde pretendeu somente emancipar-se, libertando-se
do poder parental.
Cristóvão, por sua vez, viu nela uma oportunidade para uma vida melhor, tendo
em conta a fortuna e o prestígio social da família de Benilde.
Apesar de ambos terem conhecimento das respetivas intenções, estabeleceram
uma plena comunhão de vida e tiveram um filho em 2018.
Contudo, Benilde arrependeu-se de ter casado tão jovem e pretende agora
anular o casamento com base em impedimento matrimonial à data
da celebração do casamento.
Aprecie a viabilidade da pretensão de Benilde.
Tópicos de resolução:
1) Noção de casamento civil.
2) Caraterização do consentimento e capacidade matrimoniais enquanto
requisitos substanciais para a celebração do casamento.
3) Análise da capacidade matrimonial da menor para contrair casamento.
4) Validade da forma de suprimento da incapacidade matrimonial.
5) Viabilidade da anulação do casamento com base no impedimento matrimonial “falta
de idade nupcial” à data da sua celebração.
6) Fundamentação legal.

39
Casos Práticos

Caso prático n.º 6


Genoveva, de 40 anos, e Ismael de 45 anos, ambos no estado civil de solteiros,
vivem em união de facto há 10 anos, na cidade de Braga.
Genoveva sempre estranhou algumas alterações comportamentais de
Ismael, contudo, resolveram contrair casamento, até porque têm um filho em
comum, nascido há 6 anos.
Casaram na Conservatória do Registo Civil do Porto, no dia 21 de Setembro de
2020.
Genoveva é enfermeira há 15 anos e cuida diariamente de pessoas com
toxicodependência, tendo um vasto conhecimento na área.
Em novembro de 2020, em conversa com a sua mãe, disse-lhe que
descobriu que Ismael é consumidor de estupefacientes e confessa que nunca
desconfiou de nada enquanto viveram juntos.
Deste modo, não pretende continuar casada, por isso, pretende propor ação de
anulação do casamento.
Como resolveria a situação descrita.
Tópicos de resolução:
1) Noção de casamento civil.
2) Competência da conservatória do registo civil.
3) Caraterização do consentimento e capacidade matrimoniais enquanto
requisitos substanciais para a celebração do casamento.
4) Identificar e explicar o vício de vontade presente no caso concreto.
5) Viabilidade da ação de anulação do casamento.
6) Fundamentação legal.

40
Casos Práticos

Caso prático n.º 7


Dário, português, de 35 anos de idade, pretende casar com Cléo, brasileira, de
34 anos de idade.
Atualmente, Dário exerce funções de engenheiro de minas no Cazaquistão, ao
serviço da empresa portuguesa Quartzo.
Dado que já adiou várias vezes a celebração do casamento, e como não pode vir
a Portugal até maio de 2021, decidiu constituir seu procurador Dionísio,
solicitador.
Na procuração subscrita, Dário emitiu a sua declaração de vontade para contrair
casamento civil, identificou a nubente Cléo, e de acordo com a mesma,
estipulou o dia 1 de março de 2021, para a celebração.
Entretanto, Cléo teve conhecimento que o seu pai, com 78 anos, esteve
internado e necessita de cuidados até recuperação. Por isso, resolveu deslocar-
se ao Brasil, no dia 4 de dezembro de 2020, com viagem de regresso marcada
para 31 de março do corrente.
1) Analise a validade da procuração subscrita por Dário.
Tópicos de resolução:
1) Caraterização do consentimento enquanto requisito substancial para a
celebração do casamento.
Pressupostos da celebração do casamento
Requisitos substanciais
Fundamento para a celebração do casamento.
- Consentimento dos cônjuges
Consentimento pessoal, simples, perfeito e livre, expresso no ato de
celebração.
Vontade livre e esclarecida, com conhecimento do conteúdo do estado de
casado e dos efeitos do casamento.
Consentimento pessoal - Consentimento pessoal expresso pelos próprios
nubentes mediante duas declarações de vontade convergentes no ato da
celebração. Art. 1619.º CC

41
Casos Práticos

2) Excecionalmente é admissível o casamento por procuração.


A procuração é um ato que titula a existência de uma representação
jurídica voluntária.
Sede normativa - Arts. 1620 e 1621, 1628 alínea d) 43 a 44 do CRC e cânone
1105 do Código de Direito Canónico
Não há nenhum vício de consentimento no casamento celebrado por
procuração. Temos um caso de substituição de vontades na medida em que
há uma atuação por conta e no interesse do representado
Quanto à modalidade de procuração exige-se a procuração com poderes
especiais
3) Verificar se o conteúdo da procuração emitida por Dário prescreve todos os
elementos legalmente exigíveis
Em termos de requisitos especiais da procuração esta tem de conter
poderes especiais, designar em termos expressos o outro nubente e tem que
precisar qual é a modalidade de casamento i-e civil ou católico
4) Forma da procuração para casamento, emitida a favor de solicitador.
Perante inobservância de forma, deve entender-se que a procuração é nula
-art.220 CC, arrastando também a inexistência jurídica do casamento
Art.1628 alínea d) CC
Regime da procuração artº 262 a 269
Arts  a 

42
Casos Práticos

2) Mesmo sabendo que Dário não estará presente fisicamente


no casamento, Cléo emite procuração a favor do seu tio Casimiro,
residente em Portugal, para a representar no dia 1 de março do corrente.
Tópicos de resolução:
1) Possibilidade de emissão de procuração a favor do seu tio.
2) Elementos legalmente exigíveis que devem constar da procuração.
3) Forma da procuração para casamento, emitida a favor do seu tio.
4) Possibilidade legal de Dário e Cléo serem representados pelos procuradores
que designaram para a celebração do casamento no dia 1 de março do
corrente.
Só se admite o recurso à procuração por um dos nubentes. Não pode haver
casamento celebrado em termos bilaterais por procuração. isto compreende-se em
razão da natureza intuito personae do ato
.

43
Casos Práticos

Caso prático n.º 8


No dia 15 de outubro de 2020, Dolores, de 15 anos de idade, casou civilmente
com Eurico, de 30 anos de idade.
Para o efeito, entregaram uma cópia forjada do cartão de cidadão de Dolores,
fazendo-se passar por maior de idade.
Suponha que os pais de Dolores intentaram uma ação de anulação
do casamento contra Eurico com fundamento em incapacidade
matrimonial. Analise a viabilidade da referida ação.
Tópicos de resolução:
1) Noção de casamento civil.
2) Caraterização da capacidade matrimonial como requisito substancial do
casamento.
3) Verificar se, no caso concreto, existe algum impedimento matrimonial que obste à
celebração do casamento.
4) Indicar se os pais de Dolores têm legitimidade para requerer a anulação do
casamento.
5) Averiguar a viabilidade da ação de anulação do casamento.
6) Fundamentação legal.

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