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Faculdade de Direito de Lisboa – Ano letivo 2018/2019

INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO I

Casos Práticos- Meios de Autotutela

Caso Prático 1

Eram 5 da manhã e ANTÓNIO esperava o barco para casa no Cais do Sodré. Estava já
cheio de sono quando sente um objeto duro pressionado contra as suas costas. Nesse
momento, os seus pensamentos (ANTÓNIO não conseguia parar de pensar em como devia
ter passado a noite de sábado a estudar Introdução ao Direito) são interrompidos por uma
voz áspera: “dá-me a carteira ou eu mato-te”. Sem vontade nenhuma de ficar sem dinheiro para
voltar para casa, apesar de temer pela própria vida, ANTÓNIO vira-se repentinamente,
dirigindo um violento soco à cara do seu assaltante.
Tal não foi o seu espanto quando reparou que o suposto assaltante não era senão
BENTO, o seu colega da FDL conhecido pelas suas piadas de mau gosto e que o objeto que
lhe tinha sido pressionado contra as costas não era senão o telemóvel de BENTO.

Subhipótese I: Imagine que, na situação anterior, antes de BENTO ser atingido pelo soco
de ANTÓNIO, CARLOS – que acompanhava BENTO e que, até então, assistia divertida à
piada – salta para cima de ANTÓNIO, atirando-o ao chão. É lícita a conduta de CARLOS?

Subhipótese II: Imagine que em vez de um soco, ANTÓNIO (que andava sempre armado)
ao virar-se dispara um tiro sobre BENTO, na sequência do qual, este vem a morrer. Quid
iuris?

Caso Prático 2

D. QUIXOTE passeava pelo campo, quando se apercebe de um rebanho de ovelhas a se


dirigir contra ele para o atacar. Defensivo, e imaginando aquelas ovelhas como um exército
de soldados, decide enfrentá-las, em legítima defesa, e intromete-se entre as ovelhas, dando-
lhes cutiladas com a lança.
Os pastores, que acompanhavam o rebanho, gritaram-lhe que não fizesse aquilo e, vendo
que não os atendia, começaram a atingi-lo com pedradas. Apesar disso, ele só se deteve

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quando uma pedra lhe acertou a boca quebrando-lhe os dentes e outra, as costelas, fazendo-
o cair da montanha. D. QUIXOTE pretende agora responsabilizar os pastores.

Caso Prático 3

JUAN provoca um touro que investe contra si. Para evitar que o touro mate JUAN,
ARMANDO, que até o advertiu do perigo que representava inquietar o animal, abate-o a
tiros em estado de necessidade.

Caso Prático 4

HANS WILSDORF, fundador da rolex, vê um ladrão, que lhe havia furtado há 1 hora
atrás alguns relógios, preparar-se para entrar num carro e fugir. Assim, resolve furar-lhe os
pneus para evitar a fuga.

Caso Prático 5

Há vários anos que SCROOGE tem tendência para falar durante o sono, mas nunca lhe
tinha acontecido qualquer situação de sonambulismo. Recentemente, SCROOGE levantou-
se durante a noite e saiu, a dormir e em pijama, para a rua, pensando estar, no seu sonho, a
ser perseguido por alguém que o queria agredir. BOB passeava, como habitualmente, pelas
ruas desertas, quando viu SCROOGE em pijama no meio da rua, dirigindo-se
ameaçadoramente para ele, com uma faca de cozinha. BOB tentou impedir SCROOGE de
o agredir com a faca que trazia, dando-lhe um encontrão que o projetou no ar, tendo
SCROOGE embatido numa esquina do passeio.

Caso Prático 6

ARMSTRONG, automobilista, confrontado com um peão que lhe surge


inesperadamente pela frente, e não podendo já parar, guina a direção colidindo com outro
carro para evitar atropelá-lo.

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Caso Prático 7

SHERLOCK enquanto passeava por Baker Street, é abordado por MORIARTY, seu
antigo rival, que lhe aponta uma seringa, alegando estar infetada com uma doença mortal.
SHERLOCK, com a sua bengala, defere um golpe fatal na sua cabeça, deixando-o
inconsciente. MORIARTY, após sofrer um traumatismo craniano, pretende responsabilizar
SHERLOCK, alegando a desproporcionalidade do golpe, tendo em consideração que, na
realidade, a seringa continha apenas água.

Caso Prático 8

GANTI, empresa que entrara em insolvência (falência), detinha como único ativo as
máquinas e materiais de escritório, que permitia garantir o pagamento dos salários em atraso
dos trabalhadores. Quando o seu dono pretende retirar esses mesmos bens, os seus
trabalhadores impedem-no.

Caso Prático 9

NED STARK, confrontado por JAIME LANNISTER que pretendia matá-lo, em


legítima defesa, por ter insultado a sua irmã, atinge-o com um golpe da sua espada. Porém,
em tribunal, o juiz dá razão a JAIME, já que este poderia ter fugido como maneiro de evitar
maiores agravos.

Subhipótese: Considere que JAMIE tinha 10 anos.

Caso Prático 10

ARTUR COVELO, jovem estudante de Direito de Coimbra, decidiu preparar uma


surpresa romântica à sua namorada: acendeu um conjunto de velas que dispôs pela casa,
procurando desenhar um coração e no meio espalhou flores perfumadas. Porém, como não
há romantismo fora dos romances, as coisas acabaram mal: uma das velas ateou fogo aos
apontamentos de Introdução ao Estudo do Direito que os apaixonados, esquecidos da vida,
deixaram a um canto da sala e rapidamente grandes chamas ganharam terreno.

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Para impedir que o fogo alastrasse, ARTUR corre a casa do vizinho MELCHIOR para
lhe pedir o extintor que este tinha no quintal; só que, como o vizinho não o respondia, é
obrigado a arrombar o portão para o retirar. MELCHIOR, com medo de estar a ser assaltado,
dispara contra ARTUR que acaba por falecer.

Subhipótese I: Quando consegue finalmente “ganhar a batalha” contra o fogo


apercebe-se que a sua namorada desmaiara a um canto da casa, depois de ter inalado muito
fumo. De imediato chama uma ambulância, mas como a mesma tardava em chegar,
desesperado com o estado da amada, decide ele próprio transportá-la ao Hospital. Para o
efeito, e como não tinha carro, socorre-se de um carro de aluguer da “Carrinhos Lda.”, cujo
stand ficava mesmo em frente de sua casa. O carro em questão estava aberto e com a chave
na ignição, porque acabara de ser alugado por um cliente que preenchia os últimos “papéis”
necessários para poder arrancar, razão pela qual ARTUR não provocou danos materiais
alguns para o utilizar, vindo depois a devolvê-lo e dispondo-se a pagar o combustível
consumido.

Subhipótese II: Suponha que em vez de ser ARTUR a atuar é TEODÓSIO, um vizinho
“herói” que passava em frente a casa daquele e vê fumo sair por uma das janelas. Pensando
tratar-te de um incêndio, arromba o portão de MELCHIOR para retirar o extintor e a porta
da casa de ARTUR para apagar o fogo. Já lá dentro, apercebe-se que não havia incêndio
algum: na verdade era ARTUR que queimava as cartas de amor da sua namorada (que, depois
de descobrir que esta o traía) perto da janela, para que o fumo saísse mais facilmente e,
absorvido nas suas mágoas, não escutara TEODÓSIO perguntar “está aí alguém?” antes de
arrombar a porta
Quid iuris?

Caso Prático 11

AFONSO, agente policial treinado para atirar a matar, provoca ALFREDO, suspeito de
um crime gravíssimo, para que este, acossado, saque de uma arma para se defender.

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Caso Prático 12

BEAN, homem infortunado, destinado a se defender dos azares na sua vida, decide fazer-
se acompanhar de uma arma e aprender conhecimentos da modalidade de Kickboxe. Certo
dia, enquanto fazia a sua corrida matinal, é atacado por um cão que o morde o calcanhar.
Irritado, dispara contra o cão e acabar por matá-lo, em legítima defesa.
Enquanto almoçava, recebe uma mensagem corrente, a informar que MARTIM, ex-
namorado da sua namorada, iria invadir a sua casa com vista a matá-lo, pelo que decide matá-
lo preventivamente. Todavia, quando chega à casa de MARTIM, vê-o a beijar a sua
namorada, pelo que agride MARTIM, em legítima defesa. MARTIM sendo agredido por um
golpe na face, agride de volta, entrando em agressões mútuas durante toda a tarde, alegando
legítima defesa mútua.
Finalmente, quando regressava a casa, é abordado por um conhecido “maluquinho do
bairro”, que o ameaçava de assalto com uma arma. BEAN, em resposta, aplicou-lhe 206
golpes, partindo-lhe os ossos todos.

Caso Prático 13

LEONOR, rapariga da Vieira de Leiria, vendo na televisão os incêndios que fustigavam a


região e a velocidade com que se alastravam, esvaziou a água do poço da vizinha para
encharcar o prédio onde morava, de modo a não correr qualquer risco.

Caso Prático 14

Era meia-noite quando PEDRO, que passeava tranquilamente por uma rua da Baixa de
Lisboa, vindo do jantar de aniversário de um amigo, se depara, com um quadro de
Malangatana que estava à venda na montra de uma galeria de arte. PEDRO reconheceu de
imediato que o quadro era exatamente o mesmo que lhe tinha sido furtado há cerca de um
ano, quando lhe assaltaram o escritório – obra única e impossível de confundir, visto ter sido
pintado a pedido especial de sua mulher, que lhe ofereceu o quadro quando Malangatana não
era ainda famoso, como presente de casamento. Debaixo da indicação do preço –
relativamente mais baixo do que o que seria de prever para os padrões de mercado – constava
ainda a indicação “oportunidade única”.

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PEDRO ainda ponderou falar com o dono da loja para lhe expor a situação, mas tal era
impossível àquela hora da noite. Por outro lado, não passava nenhum polícia na rua nem
nenhuma autoridade a quem pudesse pedir ajuda para resolver o problema. Para piorar as
coisas, tinha uma viagem marcada para Paris no dia seguinte às 8 horas, onde ficaria uma
semana. E atendendo ao preço do quadro, receou que quando regressasse a Portugal e tivesse
oportunidade de ir à Galeria, já tivesse sido vendido.
Então, decidido a não perder definitivamente o quadro, partiu o vidro da montra a fim de
o retirar. Mas como só era possível aceder a essa parte da montra a partir do interior da loja,
acabou por ter que partir também o vidro da porta de entrada, para poder penetrar na Galeria
e retirar o quadro.
Aturdido com o barulho, FRANCISCO, dono da galeria, que morava no andar por cima
da loja, desceu imediatamente de arma em punho, decidido a impedir o assalto. Arma essa
que tinha comprado há pouco mais de dois dias (e que nunca tinha usado), justamente para
essa eventualidade, pois eram relativamente frequentes os assaltos à galeria, e “a polícia nunca
fazia nada”. A sua entrada em ação é “explosiva”: deparando-se com pedro que removia o
quadro nesse momento, dispara imediatamente um tiro procurando alvejá-lo na cabeça; só
que, como a pontaria não era das melhores, acaba por atingir SALVADOR, que passeava na
rua naquele momento e, apercebendo-se da ameaça, resolve empurrar PEDRO para se
desviar do tiro, fazendo-o cair e partir o braço.
Em consequência do disparo, SALVADOR veio a morrer. FRANCISCO, acusado de
homicídio, entende que a sua conduta é justificada, nomeadamente tendo em conta o facto
de os assaltos à galeria serem constantes (causando-lhe avultados prejuízos) e de, sendo baixo
e de fraca constituição física, ter recorrido a uma arma de fogo por não ter qualquer hipótese
numa luta “corpo a corpo”.
Além disso, pretende ser indemnizado pelos prejuízos causados na montra da loja e na
porta e ainda pelas despesas hospitalares em que incorreu em resultado da agressão de
PEDRO. Este, por seu turno, recusa tais pretensões, por acreditar que agiu licitamente,
requerendo uma indemnização aos familiares de SALVADOR pelas suas lesões no braço.
Veio ainda a descobrir-se que o quadro afinal não era autêntico, mas uma falsificação
encomendada a um pintor amador, embora praticamente idêntica ao original. Quid iuris?

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CARLOS DA MAIA passeava pela Praça do Duque da Terceira, quando viu o carro do
seu avô AFONSO (sem ninguém la dentro), a descer a praça em alta velocidade, quase
embatendo no Hotel Central. Assim, resolve largar uma bomba no Hotel Central, com vista
a não destruir o carro.

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