Você está na página 1de 1

Todos passamos pelo trauma da castração, no qual nos tira da posição de objeto-bebê

que seria a chave para uma completude imaginária com a mãe. A mãe não tem seu
desejo exclusivamente direcionado ao seu bebê, por isso a importância de uma função
paterna que a faça estar ausente para esse bebê para que ele possa simbolizar essa
falta – é a partir da castração que nos tornamos sujeitos de linguagem e de desejo,
para lidar com esse objeto de completude imaginário que é a relação bebê-mãe. 
Dessa castração, cada um escolhe sua via de se estruturar diante dela. Os
neuróticos aceitam-a, mas tentam recalcar para o inconsciente e sua grande fonte de
sofrimento é se deparar com a castração durante a vida. Os psicóticos negam-a,
fazendo-os terem delírios e surtos psicóticos insibolizaveis justamente pelo
simbólico não ter sido gravado em seu psiquismo. O perverso aceita a castração em
primeira instância, porém faz o movimento de deslocar esse representante da lei,
que é o nome-do-pai, para o registro imaginário, permitindo a si mesmo praticar
atos perversos (que perverte a lei, não tem a ver com sexualidade), sem sentir-se
culpado por aquilo.
O depressivo está mais relacionado com as neuroses, mas a um passo antes de se
estruturar completamente. Ele não cria a rivalidade imaginária com o pai no qual
irá perder com certeza, pois sabe que irá perder, e recua diante desse impasse. Ele
aceita que é castrado, não se revoltando com isso de alguma maneira. Ante o dilema
imaginário "tudo ou nada", ele prefere ficar no nada. Por isso é um sujeito vazio
de sentido na vida. Ele aceita que é castrado e sabe muito bem disso mais que os
neuróticos bem estruturados, mas não teve como simbolizar essa castração, por isso
a sensação constante de impotência e inapetencia o acompanha em sua vida. 
Enquanto o sujeito neurótico sofre por excesso de sentido para tapar o buraco de
sua existência que é a castração, o sujeito depressivo sofre de uma profunda falta
de sentido, que faz a via de tratamento ser mais *pela via de porre* do que *pela
via de levare*. O inconsiente do sujeito depressivo é mais acessível justamente
pelos seus mecanismos de defesa já estarem enfraquecidos e suas fantasias não serem
tão consistentes.

Você também pode gostar