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p. 9-10, novembro/
Cadernos de Pesquisa, n. 120, novembro/ 2003 2003 9
Vanilda Paiva, Vera Calheiros e Giselia Potengy, tendo como pano de fundo
as transformações ocorridas na estrutura produtiva e no mercado de trabalho,
tomam para estudo diferentes grupos de profissionais na cidade do Rio de Janeiro
e lançam luz sobre novas estratégias de formação, geradas em meio à fragmenta-
ção das qualificações presente no início do século XXI.
No momento em que são rediscutidas a importância e as implicações da
avaliação nas políticas educacionais, vale a pena inteirar-se do estudo e da reflexão
feitos por Alfredo Macedo Gomes em sua tese de doutorado. O artigo que dela
decorre aborda os exames nacionais de cursos, identificando-os como uma mo-
dalidade privilegiada de política de regulação estatal do ensino superior no Brasil,
na gestão Fernando Henrique Cardoso.
Depois de uma leva de textos que procuraram esquadrinhar criticamente
os pressupostos da recente reforma do ensino médio no país, começam a apare-
cer os primeiros estudos que contribuem para se entender melhor o processo de
sua implementação. Nessa linha de investigações, Nora Krawczyk, partindo dos
principais eixos da reforma e de seus focos mais críticos, procura discutir as
tensões geradas pela intencionalidade das medidas preconizadas, realidade que se
quer transformar e resultados que têm sido efetivamente produzidos em escolas
de três estados brasileiros.
Ainda sobre esse mesmo tema, Eleny Mitrulis faz a resenha de dois estu-
dos sobre o ensino médio, oferecendo importantes indicações de leituras acerca
do que há de melhor em matéria de pesquisa sobre o assunto. O primeiro traba-
lho reporta-se a investigação financiada pela Unesco, na qual se descortina um
panorama abrangente e representativo da reforma nos diferentes estados brasi-
leiros. O segundo, um estudo de caso que recebeu o apoio da Fapesp, perscruta
os processos subjetivados pelos quais os jovens se relacionam com a escola e
com o conhecimento. Em torno da mesma problemática, a abordagem macro e
micro se complementam, enriquecendo a compreensão do fenômeno.
Convém ressaltar também a atualidade dos demais artigos que inteiram
este número de Cadernos de Pesquisa. O processo de municipalização do ensi-
no fundamental no Estado de São Paulo, com seus avanços e limitações, o ensino
de matemática, o papel formador da literatura possibilitam uma visão diversificada
das questões da área.
Esperamos que usufruam de sua leitura.
As Editoras
RESUMO
O objetivo deste artigo é dar uma visão geral do trabalho de Bernstein e de sua importante
contribuição para a teoria e a pesquisa no campo da sociologia da educação. Busca-se
também explicar as razões de algumas incompreensões de seus conceitos e de sua orienta-
ção teórica. Para isso, o artigo está dividido em três partes. A primeira, procura mostrar
como o trabalho de Bernstein é analisado no interior do campo acadêmico. A segunda,
explora como o autor desenvolveu sua teoria, de acordo com a meta de avaliação que faz
de seu trabalho. A terceira, volta-se para a análise de sua obra, baseada na extensa
literatura educacional.
BERNSTEIN, BASIL – SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO – TEORIA DA EDUCAÇÃO
ABSTRACT
Sua temática era na verdade a relação das palavras com as coisas, tradução,
interpretação/incompreensão, todas estas questões postas em uma grande
2. Estes aspectos serão mais aprofundados quando for apresentada a análise do autor
sobre o discurso pedagógico.
O dispositivo pedagógico
Teoria e pesquisa
Bernstein diz que os três volumes de Class, codes and control representam
um primeiro estágio no desenvolvimento de sua teoria sobre o discurso pedagó-
gico e as modalidades de controle social. Seu trabalho teve origem nos anos 50,
partindo de problemas empíricos sobre a razão do sucesso escolar e de suas
relações com os processos de socialização. Segundo o autor, ele não estava
satisfeito com as teorias sobre o processo de socialização que o explicavam
como um “processo místico de internalização ‘de valores, papéis e disposições’ ”.
Naquele momento, ele se sentia atraído pelo interacionismo simbólico de Mead
e com os primeiros trabalhos da Escola de Chicago, em que a comunicação tinha
um papel central e em que as culturas marginalizadas eram estudadas por meio de
estudos detalhados de orientação etnográfica. Durkheim e Cassirer forneciam
uma perspectiva kantiana que, de formas diferentes, chamavam-lhe a atenção para
a base social das formas simbólicas. Marx despertou seu interesse ao relacionar a
questão de classe com formas de consciência e suas relações com a divisão social
do trabalho e as relações de produção. Com esses elementos, Bernstein afirma
que teve condições de pensar no impensável, ligando a análise de Durkheim
sobre solidariedade mecânica e orgânica com relações de poderes diferenciadas
(1996a, p.91).
O autor começa, então, a estudar como diferentes posições de poder
criam diferentes modalidades de comunicação, que são valorizadas também de
3. Um diagrama que representa um modelo só pode ser bem entendido quando é visualizado.
Contudo, estão sendo apenas citados os elementos que fazem parte do diagrama para
ajudar na compreensão dos conceitos utilizados na “construção do discurso pedagógi-
co como uma gramática subjacente ao campo da produção, recontextualização e
prática pedagógica” (1996a, p.118).
Orientação teórica
ASGRANDESCONTRIBUIÇÕESDO AUTOR
4. Sendo acessíveis apenas a certos grupos, tem-se a impressão que esses tipos de códigos
não deveriam receber a denominação de universalista. Contudo, Bernstein usa o termo
particularista para indicar um código que tem significados bem específicos e maior
acesso, enquanto o código universalista tem um significado mais geral e um acesso mais
limitado. Assim, o paradoxo é apenas aparente (Halliday, 1995, p.129-130).
7. Atkinson cita especificamente uma afirmação de Bernstein, que funciona como tese
geral, com a qual responde a questão de como a distribuição de poder e princípios de
controle são transformados posicionando os sujeitos e criando a possibilidade de
mudança em tal posicionamento. Segundo Bernstein “as relações de classe geram,
distribuem, reproduzem e legitimam formas distintas de comunicação, que transmitem
códigos dominantes e dominados, e que os sujeitos são posicionados diferentemente
por estes códigos no processo de adquiri-los” (Bernstein, 1990, p.13).
8. Segundo Moore (2001), é irônico que os intelectuais franceses permaneçam incons-
cientes da influência do trabalho de Durkheim no campo intelectual, em que pensado-
res como Foucault mostram as marcas desta influência. A crítica de Dukheim ao
humanismo é que anuncia a morte do sujeito, apresentando-se como um dos cami-
nhos para que se desenvolvesse o niilismo de Nietzsche.
CONCLUSÃO
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RESUMO
Neste texto o autor procura elucidar o modo pelo qual Basil Bernstein utilizou e enriqueceu
a contribuição de Durkheim para a análise de questões abordadas pela sociologia da
educação.
BERNSTEIN, BASIL – DURKHEIM, EMILE – SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
ABSTRACT
Este texto foi publicado originalmente em inglês, em 1996, pela Ablex Publishing Corporation,
Norwood, New Jersey, às páginas 39 a 57 do livro Knowledge and pedagogy : the sociology
of Basil Bernstein, organizado por Alan R. Sadovnik, da Universidade de Adelphi.
1. Class, code and control [Classe, códigos e controle], volume 1 (1971), que abrangeu o
trabalho publicado entre 1958 e aquele ano, tinha uma introdução de 20 páginas. O
volume 2 (1973), que reuniu os trabalhos de pesquisa do Departamento de Pesquisa
em Sociologia, tinha 10 páginas tratadas de forma mais convencional, com o objetivo
de integrar os ensaios de outros autores no contexto. O volume 3 (1975) continha
trabalhos que remontavam a 1966 e tinha 33 páginas abordando a contextualização;
enquanto o volume 4 (1990), que compreende os anos 80, contém 10 páginas cujas
metáforas mais indicativas são aquelas relacionadas com a arte. O Bernstein do volume
1 tem a ver com o seu mal-estar em reunir trabalhos como uma forma de registro
contínuo. “Cada trabalho é uma tentativa de chegar a um acordo com uma idéia
persistente que não me sai da cabeça, que eu não podia entender completamente e da
qual não conseguia escapar. Sempre tive o sentimento de que o único trabalho digno de
ser lido era o próximo a ser escrito. O s trabalhos anteriores tornavam-se uma fonte de
constrangimento, um pouco como pinturas que não obtinham o resultado esperado e
que acabavam se tornando realidade por conta da pró pria natureza” (1971, p.1). No
volume 4, ele se refere aos processos de exposição e crítica textuais, distinguindo os
referenciais seletivos, o contexto secundário (inclusive esquizofrenia), a determinação
em excesso, o pontilhismo e a relocação criativa, “que produz todo o texto imaginário”
(1990, p.9). O que ele chama de volume 5, atualmente em circulação como um texto
datilografado de 78 páginas, intitulado Code theory and research [Teoria e pesquisa dos
códigos], é um ensaio cujo foco específico é a trajetória percorrida por suas teorias até
a realização empírica. Minha atenção concentrou-se especialmente sobre este trabalho.
2. Ver a narrativa lúcida de Atkinson (1985) e a pró pria opinião de Bernstein sobre sua
“responsabilidade por aquelas interpretações conflitantes” (1971, p.19).
3. Existiu toda uma geração de exegetas/seres atávicos bernsteinianos simplesmente ater-
radora. Mas mesmo quando se sabia que os alunos haviam sido ensinados de forma
correta, era surpreendente verificar a freqüência com que deturpavam o conteúdo de
sua obra em suas exposições. Acredito plenamente que isso só pode ser atribuído à
profundidade e à singularidade dos argumentos e à resistência que encontraram, isso
por si só concorrendo para comprovar a força da relação entre língua, estrutura e
identidade. Passadas várias décadas, a confusão criada pelos acadêmicos continua ainda
muito intensa. Harker e May (1993) citam, com evidente aprovação, a declaração de
Bourdieu “Para que o discurso pedagógico possa reproduzir o fetichismo da língua
legítima da forma como realmente ocorre na sociedade, basta seguir o exemplo de
Basil Bernstein, que descreve as propriedades do código elaborado sem relacionar esse
produto social com as condições sociais de sua produção e reprodução ou mesmo,
como seria de se esperar da Sociologia da Educação, com suas condições acadêmicas”
(p.174). Nesse contexto, é salutar mencionar a formulação de localização social (não
sua origem) das orientações dos códigos – “Q uanto mais simples a divisão social do
trabalho e quanto mais específica e local a relação entre o agente e a base material, mais
direta a relação entre os significados e uma base material específica e maior a probabi-
lidade de uma orientação restrita do código. Q uanto mais complexa a divisão social do
trabalho e quanto menos específica e local a relação entre um agente e a base material,
mais indireta a relação entre os significados e uma base material específica e maior a
probabilidade de uma orientação elaborada” (p.20) – mas a formulação apareceu ori-
ginalmente muito antes. Seriam as relações sociais mascaradas, transformadas em
fetiches por tal formulação? Não existe nenhuma referência à sua condição acadêmica na
assertiva que “A realização de códigos elaborados transmitidos pela família são eles
próprios regulados pela forma como são transmitidos na escola. Será que as pressupo-
sições de classe dos códigos elaborados vão ser encontradas na classificação e no
enquadramento do conhecimento educacional e na ideologia que expressam?”
4. É comum alguém se referir respectivamente às áre as educacionais prioritárias do
Relatório pós-Plowden (Departamento de Educação e Ciências, 1967) e, por exem-
plo, à discussão entre lingüistas e professores de inglês de Labov a Rosen e Stubbs (Ver
Atkinson, 1985, cap.6.)
5. A destruição das pretensões de Blum, Young e Esland realizada por Flew tem uma
característica particularmente arrasadora. Por exem plo, sobre a realidade e possibili-
dade de conhecimento de qualquer realidade independente, “Só é possível entender que
o comandante de um blindado dirija-o diretamente contra uma emboscada de armas
e minas pela explicação da relação, ou falta de relação entre o modo como se percebe
a situação e a situação real” (Flew, 1976, p.34). De um modo menos chauvinista, que
provém da classe de Bernbaum (1977), ele critica a “nova sociologia”, que viu surgir
do fracasso das políticas modificadas de acordo com a teoria dominante e da “inocên-
cia” da perspectiva voltada para a educação do período de Pós-Guerra, como algo
relativo ao milênio, romântico e perigosamente relativista, um “comprometimento”
circular com uma noção de engajamento social não pesquisada.
6. No que deve ser uma das mais terríveis gafes em toda essa área intelectual, eles
contradizem uma visão da “extraordinária sensibilidade a respeito da base social da
língua” de Bernstein com: “Todavia, o enraizamento do trabalho de Bernstein na vida
britânica suscita inevitavelmente uma questão embaraçosa: até que ponto suas formu-
lações gerais sobre o problema dos códigos lingüísticos e das classes sociais são
produtos das peculiaridades da sociedade britânica e até que ponto são universalmente
aplicáveis?” (Karabel, Halsey, 1977, p.63).
11. O lugar das regras na teorização de Bernstein é a questão básica levantada na obra-
prima sobre reconhecimento equivocado de Harker e May (1993). O s autores para-
fraseiam Snook (1990), concordando com ele, ao dizer que, no final “Não existem
regras, sociais ou lingüísticas, que sejam separadas de um grupo de pessoas com
planos e projetos” (p.176). Eles estão com Bourdieu, a propósito do que diz este autor
sobre agentes que têm uma queda pelo jogo em um mundo em que as regras “reco-
nhecem que existe um interesse em tocar a linha que pode ser a base de estratégias
destinadas a regularizar a situação do agente, colocando-o na posição correta de
vencer o grupo em seu próprio jogo, ao apresentar seus (sic ) interesses no disfarce
irreconhecível dos valores aprovados pelo grupo” (p.176, citando Bourdieu, 1990,
p. 109). As regras/códigos de Bernstein, vinculados ao seu projeto essencialmente
estruturalista, são rígidos, resultantes de estudos profundos, e é de se duvidar que
tragam consigo as possibilidades de contradição, desafio e mudança. Eles desejam
separar o flexível Bourdieu do rígido Bernstein com base numa suposta leitura comple-
ta do primeiro, mas, evidentemente, à custa de uma falta de leitura similar do segun-
do. Portanto, é fundamental compreender de que forma Bernstein utiliza as regras e
em relação a que regulação e em que condições. Não é uma questão de substituir as
coisas da lógica pela lógica das coisas. As regras de Bernstein são os meios aparente-
mente usados pelos grupos para determinar o jogo pe dagógico. Q uando Bernstein
escreve que vai enfocar o mensageiro (sua lógica social ), isso não significa que o
mensageiro esteja desvinculado do social, mas, sim, que ele busca focalizar o papel
fundamental do social em moldar e estabilizar o jogo para mostrar para onde as forças
da mudança devem ser direcionadas para que o jogo passe a ser outro. Assim, diferen-
tes regras estabelecem diferentes jogos, satisfazendo e legitimando diferentes interes-
ses, e, por sua vez, são estabelecidos por ocupantes de diferentes posições: regras
diferentes, jogos diferentes, estratégias diferente s, tendências diferentes. A pedagogia é
um projeto no tempo e no espaço, realizado por meio de diferentes racionalidades. O
contexto em que esse projeto é realizado, a prática pedagógica de acordo com Bernstein,
é regulada de acordo com o local de controle sobre o jogo pelos participantes; isto é,
por meio do enquadramento. Diferentes enquadramentos estabelecem diferentes are-
nas de prática, atuam seletivamente sobre estratégias de tocar a linha e sentir a forma.
A visão do próprio Bernstein sobre a relação entre código e habitus enxerga o código
como o fornecedor do princípio da especialização pe dagógica do habitus, porém dife-
rente do conceito de habitusem um aspecto importante – “princípios tácitos da desordenação
daquela ordem” estão incrustados no processo de aquisição dos códigos.Talvez devês-
semos prestar mais atenção no significado de uma teoria, na forma como sua lingua-
gem opera e no seu efetivo poder de descrição, em vez de focalizarmos uma análise
que estraga sua identidade à procura de uma identidade própria. Precisamos realmente
abandonar a mágica da posição perfeita, a busca pelo Santo Gral epistemológico.
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RESUMO
Este artigo busca demonstrar como o conceito de competência – que surgiu em dife-
rentes campos das ciências sociais – entrou na área da educação, em estreita relação
com o aparecimento das pedagogias invisíveis. Contrapondo-se a ele, definiu-se o
conceito de desempenho, articulado agora com as pedagogias visíveis. Analisam-se as
diferenças existentes na utilização desses conceitos, decorrentes do fato de que dife-
rentes fundamentos os alicerçam. Mostra-se, também, a relação entre as diversas for-
mas de desempenho e competência nos contextos educacionais mais amplos (que
abrangem processos escolares e não-escolares) e a construção de identidades, indican-
do como este último processo, tido como dinâmico, é perpassado por resistências e
oposições. Por último, procura-se identificar, na fase atual do capitalismo, o processo de
construção de identidades privilegiado pela educação escolar, bem como seus conflitos
com outros processos análogos que se dão fora da escola. A presença desses conflitos
abre, no entanto, a possibilidade de uma reavaliação crítica das instituições escolares e
dos princípios e dos aspectos focalizados em seus discursos.
PEDAGOGIAS– COMPETÊNCIAS– EDUCAÇÃO – EDUCAÇÃO NÃO FORMAL
Este texto foi traduzido da edição em inglês, intitulada Pedagogy, symbolic control and identity :
theory, research, critique, publicada por Taylor & Francis, Londres, em 1996, às páginas 54 a
81, com a permissão da Thomson Publishing Services (UK).
* Falecido em 2000 (N.da E.).
Títulos merecem ser estudados por eles mesmos, não como meras for-
mas estéticas, mas também como significadores das relações de poder no campo
intelectual. Assim, é bem provável que, na década de 1950, o título deste trabalho
fosse “Conhecimento e socialização: o caso da educação”, com acentuadas impli-
cações estruturais e funcionais. Nos anos 70, um título mais adequado talvez
fosse “Conhecimento e reprodução cultural”, com uma ressonância althusseriana.
Porém, na década de 80, talvez tivéssemos algo como “A construção pedagógica
do sujeito: uma tecnologia”, escolha nitidamente foucaultiana. Hoje, na década de
90, a escolha certamente recairia em “Conhecimentos e subjetividades: uma nar-
rativa pós-moderna”. Meu título, devo confessar, parece situar-se num meio-
termo – talvez uma tentativa de transmitir as ambigüidades epistemológicas con-
temporâneas.
Q uero agora examinar aquilo que poderia ser chamado de lógica social
desse conceito. Por lógica social refiro-me ao modelo implícito do social, o da
comunicação, da interação e do sujeito inerente ao conceito. Eu diria que uma
análise da lógica social de competência revela:
QUADRO 1
CON HECIMEN TO RECON TEX TUALIZADO
1. Discurso
Modelos de competência
O discurso pedagógico emerge na forma de projetos, temas, diversidade de
experiências, uma base de grupo em que os adquirentes aparentemente têm con-
trole significador sobre a seleção, seqüência e ritmo. As regras de reconhecimento
e elaboração de textos legítimos estão implícitas. A ênfase recai na concretização
de competências que os adquirentes já têm (ou considera-se que tenham). A
estratificação desloca as diferenças entre os adquirentes: a classificação é fraca.
Modelos de desempenho
O discurso pedagógico aqui provém da especialização dos sujeitos, habilida-
des, procedimentos que são nitidamente marcados com respeito à forma e fun-
ção. As regras de reconhecimento e elaboração de textos legítimos são explícitas.
Os adquirentes têm relativamente menos controle sobre a seleção, seqüência e
ritmo. São atribuídas notas aos textos dos adquirentes (desempenhos) e a estratificação
desloca as diferenças entre os adquirentes. As classificações são fortes.
Espaço
Modelos de competência
Existem poucos espaços pedagógicos especialmente definidos, embora os
locais facilitadores (por exemplo, um tanque de areia) possam ser claramente
determinados. Os adquirentes têm controle considerável sobre a construção de
espaços como locais pedagógicos e a circulação é facilitada pela falta de limites
regulatórios que restrinjam o acesso e a movimentação. A classificação é fraca.
Modelos de desempenho
O espaço e as práticas pedagógicas específicas são nitidamente marcadas e
explicitamente reguladas. Os interstícios para que os adquirentes construam seu
Tempo
Modelos de competência
Esses modelos selecionam o tempo presente como a modalidade tempo-
ral. O tempo não é explícita ou minuciosamente pontuado como marcador de
diferentes atividades: como conseqüência, a pontuação do tempo não constrói
um futuro. Por isso, o tempo presente é enfatizado. Além disso, o seqüenciamento
fraco e implícito das diferentes atividades (sem uma sucessão aparente) combina-
se com o ritmo fraco para enfatizar o tempo presente. Visto que a ênfase recai
naquilo que cada adquirente está revelando em um momento particular (que só o
professor sabe) e que isto é o significador daquilo que o professor deveria tornar
disponível, então a dimensão do tempo da prática pedagógica é o tempo presente
da perspectiva do adquirente.
2. Avaliação
Modelos de competência
Aqui, a ênfase é dada naquilo que está presente no produto do adquirente.
Tomemos como exemplo uma classe na qual um adquirente desenhou uma
imagem. Provavelmente o professor dirá “Que desenho encantador, fale-me so-
bre ele”. O s critérios de avaliação do discurso instrucional provavelmente são
implícitos e difusos. No entanto, os critérios do discurso regulador (critérios de
conduta, atitudes e relação) provavelmente são mais explícitos. Ver a seguir “con-
trole” para posterior análise.
Modelos de desempenho
A ênfase aqui está naquilo que está faltando no produto. Vamos considerar
uma classe na qual o adquirente terminou de pintar uma casa. Provavelmente o
professor dirá “Q ue casa graciosa, mas onde está a chaminé?” O u, se o aluno
desenhou uma pessoa, o comentário pode ser “Muito bem, mas seu homem só
tem três dedos!” Se a ênfase estiver naquilo que está ausente no produto do
adquirente, então os critérios serão explícitos e específicos, e o adquirente toma-
rá consciência de como reconhecer e realizar um texto legítimo.
Modelos de desempenho
O espaço, o tempo e o discurso originam classificações e enquadramentos
explícitos que, embora possam abrir espaços para disputas, constituem e trans-
mitem ordens. Esses enquadramentos e classificações são recursos do controle
posicional que, por sua vez, legitimam os enquadramentos e as classificações. O
próprio modo do discurso instrucional encerra os adquirentes em uma regulação
disciplinadora que confere alta visibilidade a qualquer desvio. A economia dos
modelos de desempenho, determinada por regras explícitas, faz do recurso a
modos de controle pessoal uma opção menos atraente, uma vez que esses
modos muitas vezes impõem comunicação prolongada em base individual. Devo
esclarecer que os adquirentes desenvolvem estratégias para subverter as ordens
tanto no modo de competência como no modo de desempenho, porém as
estratégias tendem a ser mais específicas.
4. Texto pedagógico
Modelos de competência
Aqui o texto não é tanto o produto de um adquirente, pois esse produto
indica algo mais além dele próprio. Revela o desenvolvimento da competência do
adquirente, de modo cognitivo-afetivo ou social, e esses são os enfoques. O
professor opera com uma teoria de leitura do produto que o adquirente lhe
oferece (ou não). Essa teoria de leitura marca a atuação profissional do professor
e constitui recontextualização das ciências sociais e psicológicas, as quais legiti-
mam esse modo pedagógico. Conseqüentemente, o significado dos signos de
um adquirente não está ao alcance do adquirente, apenas do professor.
5. Autonomia
Modelos de competência
Esses modelos requerem um campo e um nível de autonomia relativamen-
te amplos, embora os professores de qualquer instituição de ensino provavel-
mente tenham autonomia reduzida para sua prática pedagógica, uma vez que esse
modo requer práticas homogêneas. Embora a construção de um contexto e
prática específicos tenham aspectos em comum, qualquer contexto e prática par-
ticular também dependerão das características particulares dos adquirentes e seus
contextos. Como resultado, cada instituição requer um grau de autonomia para
que isso seja concretizado. Os recursos pedagógicos exigidos pelos modelos de
competência tendem a ser menos predeterminados na forma de livros didáticos
ou rotinas de ensino. Os recursos geralmente são elaborados pelos professores
e, para isso, é preciso ter autonomia. Em relação aos modelos de desempenho,
os modelos de competência não são tão suscetíveis a um exame minucioso e a
uma responsabilização por parte do público, uma vez que é mais difícil avaliar
objetivamente seus produtos. Por fim, os modelos de competência não foram
feitos para futuros especializados e são, portanto, menos dependentes e menos
regulados.
6. Economia
Modelos de competência
Os custos de transmissão desses modelos tendem a ser mais elevados do
que os custos dos modelos de desempenho. Os custos incorridos na formação
de professores tendem a ser altos em virtude da base teórica dos modelos de
competência. A seleção de alunos tende a ser mais rígida, uma vez que as qualifi-
cações necessárias sejam talvez mais restritas e tácitas do que no caso dos profes-
sores dos modelos de desempenho. Além disso, existem custos invisíveis refe-
rentes a aspectos necessários para que o modelo de competência seja bem-sucedido
em seus próprios termos. Os custos invisíveis referem-se ao tempo dispendido
Modelos de desempenho
Os custos de transmissão desses modelos são relativamente menores do
que os custos dos modelos de competência. No caso dos modelos de desempe-
nho, a formação requer uma base teórica muito menos elaborada, de forma que
essa base não exige tanta provisão de pessoal. O caráter explícito da transmissão
faz com que esses modos sejam menos dependentes dos atributos pessoais do
professor, o que significa um número maior de profissionais disponíveis. A res-
ponsabilização é facilitada pela “objetividade” do desempenho e, assim, os resul-
tados podem ser mensurados e otimizados. O s modelos de desempenho po-
dem muito bem recorrer a pacotes e algoritmos para reduzir os custos de formação,
aumentando assim o número de professores disponíveis. Geralmente, os mode-
los de desempenho são mais suscetíveis ao controle externo e seus aspectos
econômicos. Por fim, o planejamento e o monitoramento não geram custos
invisíveis como acontece com os modelos de competência, devido às estruturas
explícitas da transmissão e do seu progresso.
Nenhum dos pontos acima substitui a importância do comprometimento,
motivação e atributos pessoais do professor, porém essas qualidades operam
dentro de modelos particulares.
Singulares
Regiões
Genérico
FIGURA 1
O CAMPO DA RECON TEX TUALIZAÇÃO
Controle
Terapêutico (competência) Econômico (desempenho)
Populista
Especialista
Regionalizado
{ “autônomo”
(introjetado?)
dependente
Radical Genérico
construção da identidade Introjetado Projetado
Por fim, tenho considerado esses modelos e seus modos como descontínuos
e como originadores de formas distintas. É fundamental entender que nem sem-
pre é assim. Os modelos e modos podem originar aquilo que seria chamado de
pacote pedagógico em que podem ocorrer misturas. Um modo terapêutico pode
ser inserido em um modo econômico, mantendo seu nome e ressonâncias ori-
ginais e, ao mesmo tempo, originar uma prática oposta.
O ESTADO E A RECONTEXTUALIZAÇÃO
Identidades descentradas
Instrumental (mercado)
FIGURA 2
CAMPO CON TEMPORÂN EO DE IDEN TIDADE
Desmonte de identidades
fundamentalista elitista
(cultural)
religião nacionalista
populista
Identidades retrospectivas
Fundamentalista
Elitista
6. O que parece estar acontecendo no final do século XX é uma redução do espaço para o
sagrado. No início desse século, o sagrado estava centralmente localizado e informava a
base coletiva da sociedade por meio da inter-relação do Estado, da religião e da educa-
ção. Essa base coletiva se encontra, hoje, consideravelmente reduzida como recurso para
um sagrado centralizado. Atualmente, o sagrado manifesta-se em locais, movimentos e
dispersos. Sua fragmentação é menor, mas é maior a sua dispersão, localização e espe-
cialização. Talvez fosse útil aqui ampliar a relação entre identidades retrospectivas e
recursos religiosos fundamentalistas, na medida em que eles surgem das atividades de
diferentes grupos. No Oriente Médio, por exemplo, o avanço das religiões fundamentalistas
tem sido visto como um meio de recuperar uma identidade coletiva em face da política,
BARGH, C., SCOTT, P. The New management. The Times, 12 dec. 1994.
BERNSTEIN, B. Class and pedagogies: visible and invisible. London: Routledge, 1975/
1977/1990. v.3 revised, v.4.
HAY, C.; O’BRIAN, M.; PENNA, S. Giddens, modernity and self-identity, the “hollowing
out” of social theory. Arena, n.2, p. 45-75, 1993/1994.
JENKINS, C. The Professional middle class and the origins of progressivism: a case study
of the new educations fellowship 1920-1950. Core, v.14, n.1, 1990.
LABOV, W. The Logic of non-standard English. In: GIGLIONI, P. P. (ed.). Language and
social context. Harmandsworth: Penguin, 1972. (Penguin Modern Sociology Readings)
LANCASTER REGIONALISM GROUP. Localities, class and gender. London: Pion Press,
1985.
modernização e tecnologias ocidentais. Isso pode também ser um meio usado no Oci-
dente para que os grupos possam manter a sua identidade anterior, diante dos problemas
de assimilação por parte dos jovens e para servir como base política. O s movimentos
islâmicos nos Estados Unidos criam uma nova base para a identidade negra, para uma
nova política e para a formação de um espírito empreendedor. Nesse caso, a identidade
prospectiva provém da recontextualização de uma narrativa restrospectiva. O cristianis-
mo carismático pode surgir da falta de apoio dos jovens à ortodoxia institucional.
WHITTY, G. The New righ and national curriculum. In: MOORE, R.; OZGA, J. (eds.).
Curriculum policy. Oxford: Pergamon; Open University, 1991.
VERA CALHEIROS
Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro
veracalheiros@openlink.com.br
GISELIA POTENGY
Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de Pernambuco
giselia@idaco.org.br
RESUMO
Apoiado em pesquisas empíricas realizadas no Rio de Janeiro nos últimos anos, este relato
focaliza profissionaisconsiderados“potenciaisganhadores”, “potenciaisperdedores” e “ideológicos
alternativos em processo de integração” no contexto das transformações ocorridas na
estrutura produtiva e no mercado de trabalho dos últimos anos. Tem-se pesquisado seg-
mento profissional e sua característica, no que diz respeito à microeletrônica e aos novos
meios de comunicação (potenciais ganhadores), aos professores aposentados e profissionais
que entraram em Planos de Demissão Voluntária (potenciais perdedores); e professores
ativos, que complementam sua renda com atividades informais e pessoas ligadas a seg-
mentos dedicados a diferentes práticas alternativas no processo de integração à nova era
capitalista (terapeutas corporais, praticantes de “adivinhações” e de alimentação alterna-
tiva). O tratamento conjunto dos três grupos pretende oferecer uma visão ampla dos
processos que os afetam e suas contradições, focalizando também as novas estratégias
formadoras acionadas em meio à fragmentária qualificação nos anos mais recentes.
MERCADO DE TRABALHO – QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL – SOCIOLOGIA DO TRA-
BALHO
METODOLOGIA
REFERÊNCIASBIBLIOGRÁFICAS
PAIVA, V.; POTENGY, G. Gênero, trabalho doméstico e espaço privado como fonte de
produção de mercadorias e serviços. Contemporaneidade e Educação, Rio de Janeiro:
IEC, n.6, p.106-119, 1999.
RESUMO
ABSTRACT
Este artigo representa a adaptação do capítulo sexto de tese de doutorado (Gomes, 2000)
realizada na Universidade de Bristol, Inglaterra, no período de 1997-2000, com suporte financei-
ro da Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal de Nível Superior Capes. Foi apresentado
na 24a Reunião Anual da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação, (GT
Política de Educação Superior), realizada em Caxambu (MG), de 7 a 11 de outubro de 2001.
Os dados analisados neste artigo são de várias fontes. Parte foi coletada em
entrevistas abertas realizadas com pessoas que ocupam posições consideradas
estratégicas no MEC e com membros da Câmara de Educação Superior do Con-
selho Nacional de Educação. Outra parte consiste da legislação da educação supe-
rior, com especial referência para aquela produzida durante o Governo Fernando
Henrique Cardoso (que se iniciou em 1995). Também foram analisados docu-
mentos de política educacional tais como planos e programas, e informações
selecionadas de artigos, entrevistas e discursos publicados na imprensa sobre o
ensino superior no Brasil.
132
Fontes: Brasil (1993, 1994, 1995, 1996, 1996b); entrevistas.
* IES: Instituições de Ensino Superior; Inep: Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos.
punição, participação voluntária e legitimidade política (Brasil, 1994,1993) são
princípios que não fazem usualmente parte da agenda governamental para o ensi-
no superior, pelo menos recentemente. Isso porque, primeiro, estes princípios
são uma declaração de autonomia e, como tal, constituem uma proclamação
antiintervencionista por parte das universidades; segundo, eles elevam a auto-
avaliação à abordagem central e única do processo de avaliação; terceiro, tais
princípios básicos anunciam as missões e objetivos institucionais e, assim, a plena
liberdade da instituição para realizá-los, dado que a avaliação das suas atividades é
um produto de tais princípios e não um antecedente.
O contrário, todavia, pode ser deduzido dos princípios subjacentes ao
ENC (Quadro 1). Eles sugerem um grupo de mecanismos de controle a serem
exercidos por agências externas às universidades e às instituições de ensino supe-
rior não universitárias. Os princípios: indicadores de resultados, comparação
das performances das instituições, ranking dos cursos em forma de conceitos,
condicionalidade no uso dos resultados da avaliação e participação compulsória
dos estudantes são instrumentos de uma política de avaliação formulada central-
mente e implementada de cima para baixo. Isso porque, primeiro, exprimem o
ímpeto para medir e, assim fazendo, para comparar resultados medidos; segun-
do, princípios tais como participação compulsória e condicionalidade no uso
dos resultados anunciam um elevado grau ou potencial de controle e regulação
estatal; terceiro, a comparação pelos resultados leva, com raras exceções, a sua
publicação em formato de ranking ; e, por último, do ponto de vista da política do
Governo FHC para o ensino superior, a publicação dos resultados da avaliação
deve engendrar uma reação saudável por parte dos agentes do mercado do
ensino superior (estudantes-consumidores, pais e outros clientes) em relação às
instituições de ensino superior (leia-se qualidade dos serviços prestados) e,
como conseqüência, deve gerar práticas modernas de competição entre as IES.
Ambos os grupos de princípios do Paiub e do ENC (Provão), como se
pode concluir, respondem a diferentes objetivos e usam para tanto distintos pro-
cedimentos de avaliação. Mais importante, todavia, é que eles revelam projetos
educacionais, estilos e práticas de formulação e implementação de políticas que
são essencialmente divergentes.
6. Não se pode deixar de lembrar que os interesses dos diversos setores das universida-
des brasileiras são divergentes, marcados por significativas diferenças históricas entre
os setores público e privado. Contudo, em face do contexto de implantação do ENC
essas divergências foram consideravelmente silenciadas. Neste sentido, falando das
resistências ao ENC, Eunice Durham observava: Ah, sim, todo mundo resistia. Aliás,
a resistência no setor público foi mais organizada do que no setor privado. Acho que
no Brasil o setor privado age de uma forma muito espúria, no sentido que a sua
posição não se manifesta no grande debate. Ele se manifesta em termos de pressão
sobre o Congresso, pressão sobre o Ministério. É uma forma diversa de resistência.
Ao passo que o setor público é o setor no qual os professores se unem, se mobilizam
e se manifestam. No setor privado os professores não contam (entrevista realizada
em 5 de maio de 1998).
7. Vários depoimentos de membros do MEC apontavam que o Paiub era incapaz de gerar
dados que pudessem ser analisados de forma comparativa.
Eu acho que [o ENC] foi um mérito do ministro Paulo Renato, porque inter-
namente nós tínhamos dúvidas sobre o desenho do sistema de avaliação do
ensino superior e o ministro insistia que ele queria um exame ao final dos
cursos de graduação. Quer dizer, nós enquanto equipe técnica, em particu-
lar a professora Eunice e eu, e a professora Gilda Gouveia, nós tínhamos
dúvidas. Nós achamos que a avaliação tinha que trabalhar com os indicadores
globais de desempenho levantados pelo censo do ensino superior, com as
comissões de visitas e com a avaliação institucional, certo? E com os processos
de auto-avaliação interna das universidades. Mas nós tínhamos dúvidas com a
obstinação do ministro Paulo Renato em relação à implantação do Exame
Nacional de Cursos ao final dos cursos de graduação. E o ministro entendia
que era preciso ter um exame ao final de curso que seria quase que um
termômetro, um sinalizador de problemas e que esse termômetro ele se
conjugaria com os outros procedimentos de avaliação, como a avaliação ins-
titucional que tem uma complexidade muito maior... Então, o ministro diz
assim: não, nós temos que combinar indicadores globais da instituição como
um todo com indicadores dos cursos. O que eu quero saber é: como é que
está funcionando o curso x? Por que o curso x da faculdade tal, que não é uma
faculdade conhecida, funciona bem e o mesmo curso, vamos supor de direi-
to, de uma boa universidade funciona mal? Quais são os referentes que me
permitem fazer essa afirmação? (Entrevista realizada em 6 de julho de 1998)
Esse extrato de entrevista revela, primeiro, que mesmo este seleto e po-
deroso grupo de atores debatia-se a respeito dos procedimentos que iriam com-
por o sistema de avaliação do ensino superior e, segundo, que foi a obstinação
do ministro Paulo Renato Sousa que introduziu o ENC na agenda de atividades de
estudantes, professores, departamentos e instituições de ensino superior. Ele
objetivava identificar e expor, sobretudo, os indicadores de desempenho com
alto grau de especificidade pelos diversos setores do sistema de ensino superior,
8 . Gostaria de destacar que não é minha intenção promover o MEC a uma posição de
protagonista superior ao próprio Congresso Nacional. Na verdade, o MEC, como apare-
lho estatal diretamente subordinado ao executivo federal, conseguiu aprovar no Con-
gresso Nacional metas e objetivos que já haviam sido anunciadas em documento de
maio de 1995 (Brasil, 1995a). Por isso, pode-se argumentar que o MEC conseguiu
aliados importantes no Congresso Nacional que contribuíram para o sucesso da apro-
vação de medidas que vieram a facilitar a implementação da política de avaliação do
ensino superior, a qual, como demonstramos, foi altamente criticada pela comunidade
acadêmica.
Pode-se argumentar, pois, que a política de avaliação do MEC não pode ser
reduzida a um simples teste (Provão) como alguns dos seus críticos costumam
apontar. Com efeito, o ENC foi planejado para operar uma nova lógica da política
de controle, coordenação e acompanhamento das IES pelas agências estatais
reguladoras (MEC e CNE). A política de avaliação do MEC envolve manipulação
de complexos e variados mecanismos reguladores que produzem impacto sobre
o sistema de ensino superior como um todo. As condições estabelecidas (auto-
rização, credenciamento e recredenciamento), a possibilidade de punição para as
IES particulares (como, por exemplo, o descredenciamento), e mais a publicação
dos resultados obtidos pelas IES nas avaliações de cursos e das instituições, criam
juntos um poderoso instrumento de coordenação, controle e monitoramento
TABELA 1
NÚMERO DE CURSOS AVALIADOS PELO EXAME NACIONAL DE CURSOS
1996-1999
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
GOMES, A. M. The Cardoso governments project for higher education: procrustean solutions
in the management of change? Bristol, England, 2000. Tese (Dout.) University of Bristol,
Graduate School of Education.
SOUSA, P. R. Por uma nova universidade. Infocapes. Brasília: Capes, v.4, n. 4, 1996.
RESUMO
Este texto tem por objetivo analisar historicamente debate entre dois professores brasileiros
de matemática no início dos anos de 1930. Nessa época, foi criada a primeira lei nacional
de ensino – Reforma Francisco Campos – com um currículo nacional que caracterizava, pela
primeira vez no país, a disciplina denominada “Matemática”, resultado da integração dos
ramos independentes aritmética, álgebra e geometria. Os protagonistas da discussão fo-
ram os professores Júlio César de Mello e Souza (1895–1974) e Jacomo Stávale (1881–
1956). Com a análise da controvérsia, busca-se compreender como o cotidiano escolar
brasileiro apropriou-se da primeira proposta de internacionalização do ensino de Matemá-
tica, surgida há mais de vinte anos antes da polêmica.
MATEMÁTICA – REFORMA DO ENSINO – ENSINO DE MATEMÁTICA – CURRÍCULO
ABSTRACT
Nasci no Rio, nessa bela cidade que é o orgulho de todos os brasileiros, onde
todos nós nos sentimos bem, confortados pela gentileza e carinho da gente
carioca, e deslumbrados pelas maravilhas com as quais o bom Deus a dotou;
mas resido em São Paulo há quarenta anos e aqui, enrijando a minha fibra
moral ao contato da gente bandeirante, aprendi a não ter medo de lutar.
Respondamos, pois, ao Prof. Mello e Souza, linha por linha.
Malba Tahan:
À pág. 71 de sua Matemática escreve o ilustre Prof. Stávale: A primeira potên-
cia de um número é um produto constituído por um fator igual a esse número. Eis
aí um disparate que nem mesmo uma pessoa de reduzida cultura não pode
repetir. Como existir um produto com um único fator? Há erros que não
merecem os comentários da crítica. Esse é um deles.
Jacomo Stávale:
O ra, a transcrição feita pelo prof. Mello e Souza, não está completa. O que
eu escrevi no meu P.A.M. (3ª edição, pág. 71) foi o seguinte: A primeira
potência de um número é um produto constituído por um fator igual a este
número; é, portanto, o próprio número. A primeira potência de 24 é 24; a primeira
potência de 35 é 35. Portanto, o prof. Mello e Souza não é leal nas suas
transcrições. Todavia, na quarta edição do meu P.A.M., para evitar novos
dissabores, escreverei: Por analogia com as definições anteriores, deveríamos
dizer que a primeira potência de um número é um produto constituído por um
fator igual a este número; ora, não sendo possível existir um produto constituído
por um único fator, concluímos que a primeira potência de um número é o próprio
número. Por exemplo, a primeira potência de 25 é 25. E não há outro remédio...
O prof. Mello e Souza custa tanto a compreender... Agradecendo ao prof.
Mello e Souza esta correção, embora feita em tom pouco amável, aproveito
o ensejo para corrigir uma pequenina falta do seu artigo, no trecho acima
ditado. Diz o prof. Mello e Souza: Eis aí um disparate que nem mesmo uma
pessoa de reduzida cultura NÃO pode repetir. O prof. Mello e Souza deve
suprimir aquele pleonástico e dissonante NÃO, antes que Malba Tahan o
censure por tão grave erro de português.
Malba Tahan:
Seria melhor dizer: Segmento retilíneo é uma porção limitada da reta. Seria
melhor – repetimos –e mais correto.
André Rocha:
O ilustre crítico diz que seria melhor: “Segmento retilíneo é uma porção
limitada da reta” e nós afirmamos... É melhor. Nem por isso, atendendo ao
método seguido pelo Prof. Stávale, não nos sentimos com direito de criticá-lo
neste ponto, pois ele procura esclarecer lentamente para o principiante estas
noções de “linha reta e segmento retilíneo” tão baralhadas por muita gente
boa. Tanto é assim que, em seu livro Segundo ano de mathematica, página
239 em “O bservação”, assim diz: “Em rigor não é possível medir uma linha
reta, porque ela não tem começo nem fim. O que se pode medir é um
segmento retilíneo, mas em geral diz-se indiferentemente medir uma linha
reta ou medir um segmento”. Se isto é bastante para depor contra um livro,
deverão merecer menos os seguintes que escrevem “linha reta” quando, em
rigor, deveria ser “segmento retilíneo”: Clairaut, Elementos de geometria, 2ª
ed., 1909, pág. 2: “A linha reta é a distância mais curta que se pode tirar de
um ponto a outro, e por isso é a medida da distância entre dois pontos”.
O lavo Freire – 15ª ed., pág. 16 e seguintes. Legendre, Elementos de geome-
tria, 25ª ed., 1886, págs. 2 e A. Ferreira de Abreu, Apontamentos de geome-
tria, pág. 6: “Uma linha quebrada ou poligonal é uma linha composta de linhas
retas”. S. F. Lacroix, Elementos de geometria, ed. 1874, pág. 3, n. 4: “Mesurer
la distance de deux points ou la longueur d’une droite, c’est chercher le
rapport de cette droite à une autre prise pour unité”. F.I.C., Elementos de
geometria, pág. 2, números 4 e 5. A. Cunha Rosa, Prof. da Escola Industrial
Affonso Domingues, Elementos de geometria plana e no espaço, 2ª ed., pág. 3,
n. 9 e pág. 4, n. 12, F.T.D., Geometria elementar – 9ª ed., 1910, pág. 8, n. 6.
“Reunião de professores”, Geometria elementar, pág. 5, n. 5. Giuseppe da
Camin, Geometria: obra citada, vol. 2, pág. 8, n. 9. No entanto, são competentíssimos
tratadistas que não estão escrevendo para “1º ano ginasial” e, se assim escre-
veram, é porque acharam que não constitui isto falha.
Jacomo Stávale:
O prof. Mello e Souza continua a citar os meus erro s. Pág. 46. Segmento
retilíneo é uma linha reta que tem um comprimento determinado. Seria melhor
De outra parte, a editora dos livros de Stávale, Cia. Editora Nacional, pro-
duziu e distribuiu os livretos contendo a defesa de seu autor. Em muitos trechos
do livreto, Stávale procurou abertamente trazer a polêmica para o terreno comer-
cial, o que iria enfraquecer os argumentos de Mello e Souza diante do grande
público. Além do texto intitulado “Aos professores e estudantes do Brasil”, no
qual Stávale buscou rebater os erros apontados por Malba Tahan, outro texto foi
reunido no livreto. São comentários sobre a Revista Brasileira de Mathematica10.
O professor de Matemática de São Paulo menciona haver uma parceria entre Júlio
César de Mello e Souza e Salomão Serebrenick11 na editoria da revista. Destaca,
ainda, a existência de propaganda explícita dos livros de Mello e Souza no perió-
dico, e faz pilhéria sobre o texto dos anúncios das obras de Mello e Souza. A
propaganda afirmava serem as obras de seu rival, “o s livros mais interessantes
publicados até hoje, excedendo em clareza e precisão aos melhores compêndios
10. A crítica de Mello e Souza, publicada inicialmente no jornal A Nação, constituiu também
matéria da Revista Brasileira de Mathematica, em seu número de junho de 1933.
11. Salomão Serebrenick ingressou no curso de Engenharia Civil da Escola Polytechnica da
Bahia em 1926, concluindo-o em novembro de 1930. Após a sua formatura, mudou-
se para o Rio de Janeiro. Iniciou precocemente sua trajetória científica ainda na Bahia,
quando em 1927, aos 18 anos, publicou Demonstração do Postulado de Euclides;
depois vieram a Revista Brasileira de Mathematica, que durou de 1929 a 1932; Aspec-
tos da superfície do Sol, resultado de um estudo inédito sobre as manchas solares
observadas na primeira semana de 1930 (Dias, 2000, p.54).
REFERÊNCIASBIBLIOGRÁFICAS
MELLO E SOUZA, J. C. de. Um Livro ridículo e errado. A Nação. Rio de Janeiro, 2 abr.
1933.
12. No caso de Stávale, por exemplo, seus didáticos foram reimpressos muitas vezes,
totalizando mais de 150 edições, com um número aproximado de um milhão de
exemplares (Pfromm Netto, 1974, p.81). Relativamente ao livro de Malba Tahan,
escrito com Cecil Thiré, Mathematica: 1º ano, concorrente do P.A.M. de Stávale,
O liveira (2001, p.145) informa-nos que teve, pelo menos, 13 edições até 1941.
OLIVEIRA, C. C. de. Do Menino “Julinho” à “Malba Tahan”: uma viagem pelo oásis do
ensino de matemática. Rio Claro, 2001. Dissertação (Mest.) Unesp.
STÁVALE, J. Coisas da... mathematica. São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1933.
RESUMO
Este texto é de exclusiva responsabilidade da autora e foi produzido como subsídio para a
palestra inicial no Seminário Nacional de Ensino Médio, promovido pela Secretaria de
Ensino Médio e Tecnológico – Semtec – no Ministério da Educação nos dias 5 e 6 de junho
de 2003. Agradeço à Dagmar Zibas e à Raquel Brunstein pelos valiosos comentários na
análise dos dados.
SECONDARY SCHOOL: A SPACE WITHOUT CONSENSUS. This paper aims to discuss the
implementation process of secondary school reform through the analysis of data collected
by a research conducted in three Brazilian states. The purpose is to point out the main
aspects of state reforms and its most critical issues, starting with the study of the different
features and tensions generated between the purposes of the new strategies, the reality to
be transformed and what was actually achieved as a result of the proposed measures. The
main concerns refer to: the educational scenario in which old and new problems coexist,
highlightingthe expansion of lowquality secondary education, the privatization of itsadministration
and, simultaneously, the presence of a strong exclusion component; the fact that the reform
in progresshas significantly affected teachers’ work and the school’s institutional dynamics
and, to a lesser degree, the students’ educational reality. The study concludes that secondary
school current situation encompasses the following paradox: a complex curriculum reform
coexistin with the depreciation of intellectual work of the school as a cultural institution.
SECONDARYEDUCATION – EDUCATIONAL REFORM
3. Trata-se de programas que estão sendo implantados em todo o país, destinados aos
alunos fora da faixa etária apropriada para o ensino médio que permitem a sua
conclusão em, aproximadamente, 18 meses.
REFORMA CURRICULAR
Reorganização curricular
Recursos didáticos
4. As escolas não têm condições de reproduzi-las para todos, por isso as fotocópias
acabam sendo custeadas pelos próprios professores o u pelos alunos.
Avaliação
GESTÃO ESCOLAR
Conselhos de Escola
A gestão colegiada das unidades escolares, mediante conselhos de escola e
de outros mecanismos democráticos de gestão conquistados na década de 1980,
ocorre em associação com a implementação dos novos programas de gestão
escolar. De fato, na maioria das escolas, o Conselho foi finalmente constituído
pela exigência de alguns desses programas e, salvo alguns exemplos isolados, não
os encontramos inseridos na gestão da instituição; os professores e alunos nem
sabem de sua existência. Eles atuam isoladamente para tomar decisões orçamen-
tárias, principalmente a partir do aumento dos repasses de dinheiro diretamente
Gestão do financiamento
OSPROFESSORES
Formação docente
Definir o perfil do aluno de ensino médio, começando pela faixa etária, não
é tarefa fácil, e muito menos no ensino noturno, predominante na escola média
brasileira. Nos últimos anos, vem-se insistindo, no âmbito nacional e internacio-
8. A postura requerida pela sociedade pode ser considerada, sem dúvida, como parte das condi-
ções sociais de trabalho. Aqui colocamos a questão em termos de duas dimensões para efeito
de melhor compreensão do processo de ressignificação da valorização social no âmbito da
reforma.
CONSIDERAÇÕESFINAIS
10. Ação social de governar: movimento de constituição de esfera pública com mediação
do Estado.
REFERÊNCIASBIBLIOGRÁFICAS
RESUMO
ABSTRACT
Do conceito de literatura
Literatura de massa
Aqueles livros – uns cem no máximo – eram velhos companheiros que ela
escolhia ao acaso para lhes saborear um pedaço aqui outro além, no decorrer
da noite [...] Pegou o primeiro livro que a mão alcançou [...] Conceição
folheou devagar, relendo trechos conhecidos [...] Ao repô-los lastimava-se: –
Está muito pobre esta estante! Já sei quase tudo decorado. (O Quinze, p.4,
grifos meus)
Magali integra uma coleção de romances, muito popular, com ampla divul-
gação no Brasil, sob o título Coleção Biblioteca das Moças, de autoria de um casal
de irmãos franceses que utilizavam o pseudônimo M. Delly, autores de cerca de
35 dos romances desta coleção. Trata-se, segundo Cunha (1999), da chamada
“literatura cor-de-rosa”. Ela constata, baseada em pesquisa, que esse tipo de lite-
ratura, ao mesmo tempo que fornecia alimento para o imaginário da leitora, “di-
vulgava normas, valores e condutas que, apropriados, via leitura, se ligariam a uma
certa construção da sensibilidade romântica feminina” (p.101). Acrescenta que,
ao se trabalhar sentimentos universais como: amor, felicidade, vergonha, culpa e
afeição, contentamento, depressão, continuamente exaltados nas histórias ro-
mânticas, vai se educando a sensibilidade das leitoras. Assim, tais romances, lidos
na adolescência, não só alimentaram sonhos, mas também introjetaram um ideal
romântico de vida, envolvendo maneiras de amar, de se comportar, um modelo
ideal de ser mulher e ser homem que, de certa forma, “ajudavam a construir uma
sensibilidade romântica impossível de ser concretizada na vida cotidiana” (p.104).
Mesmo considerando a forte possibilidade de que essa literatura tenha
exercido influência na educação dos sentidos das leitoras, moldando/plasmando
uma certa visão de si próprias e do mundo, Cunha le mbra, citando Chartier,
sobre a possibilidade de não ocorrer uma interiorização total do que foi lido:
...a leitura é sempre uma prática criativa capaz de produzir outros sentidos
completamente singulares e que não se reduzem às intenções daqueles que
A autora ressalta que esse tipo de literatura desfrutado pela maioria das
internas apresenta um universo irreal, onde tudo é perfeito e atraente, que vai
servir de parâmetro para a compreensão da realidade do colégio e do mundo
exterior. Assim, quando as alunas se deparam com uma obra como Nada de novo
no front (1929), de Erich Remarque, a reação é totalmente negativa, porque a
imagem da guerra trazida não correspondia à realidade idealizada por elas, confor-
me destaca a protagonista: “A guerra só a compreendíamos com heróis esbeltos
[...] voltando, levemente mutilados e cobertos de medalhas, para os braços da
amada” (As Três Marias, p.25).
Pinto (1990) constata certa similaridade entre este romance e a própria
história de Guta. No romance de Remarque, são retratados jovens soldados que
se alistam para a guerra cheios de um idealismo que vai desaparecer rapidamente
em contato com a crueldade dessa realidade, tornando-se, física e psicologica-
mente, destroçados e precocemente envelhecidos. De forma semelhante, Guta
deixa o internato cheia de sonhos e ideais, que serão triturados pela estreita
realidade exterior. Desiludida e derrotada, ela retorna à casa paterna. Assim, a
recusa desse romance realista já antecipa sua rejeição à realidade da vida, muito
distinta da mostrada na literatura.
Ao longo das aventuras e desventuras da protagonista, fica implícito que sua
visão de mundo, ingênua e romântica, adquirida pela leitura de obras superficiais,
como ela própria declara, não corresponde à realidade concreta, conforme se
pode observar a seguir.
Nesta nova fase comecei a ler como adolescente [...] os livros que falassem
de amor, os eternos e róseos romancinhos franceses, em que homens cheios
de espírito e de tédio [...] se apaixonam pelas ingênuas de dezesseis anos. (As
Três Marias, p.24)
Foi então que notei um homem de cabeleira grisalha [...] Era feio, débil,
pequeno, mas tinha um ar de romance... (Idem, p.71)
Raul representava para mim, então, o amor, e como tal era puro, intangível,
acima de tudo e de todos, acima do bem e do mal... Em verdade, talvez o lado
romanesco, irregular e ilegal da aventura, era o que mais me seduzia. (Idem,
p.90, grifos meus)
– Afinal o que é que você queria? [...] Pensava que eu era um boneco, um
fantoche de pincel na mão lhe dizendo galanteios? [...]
– Você não é mais criança, quer ser emancipada, diz-se livre, e por que tem medo?
– Você queria a literatura, o fraseado sentimental... (As Três Marias, p.105)
CONSIDERAÇÕESFINAIS
CALVINO, Í. Por que ler os clássicos. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.
CAMPO S, M. H. Para ler literatura. In: PAULINO, G.; WALTY, I. (org.). Teoria da
literatura na escola: atualização para professores de 1º e 2º graus. Belo Horizonte:
UFMG/Fale, 1992. p.9-17.
KRAMER, S. Por entre as pedras : arma e sonho na escola. São Paulo: Ática, 1993.
MORAES, R. Análise de conteúdo. Educação, Porto Alegre, v.22, n.37, p.7-32, mar.
1999.
QUEIROZ, R. de. O Quinze. 25. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1979.
REMARQUE, E. M. All Quiet on the wester front. Boston: Litlle, Brown and Co., 1929.
VIEIRA, A. O Prazer do texto: perspectivas para o ensino de literatura. São Paulo: EPU,
1989.
RESUMO
O texto analisa alguns resultados de pesquisa mais ampla que avaliou a implementação do
convênio estado-municípios no que diz respeito aos serviços educacionais do ensino funda-
mental no Estado de São Paulo. Tomando como cenário o contexto político-adminitrativo e
dados de transferência da administração de escolas estaduais para o nível local, o estudo
original buscou investigar as características do processo gestor de dois municípios, escolhidos
com base nos índices de cobertura do ensino fundamental, nas características de suas
políticas de formação continuada e no seu perfil de arrecadação fiscal. Discutem-se, neste
artigo, apenas as características do processo de transferência de escolas, alunos e profes-
sores para as redes municipais de ensino.
POLÍTICAS PÚBLICAS GESTÃO MUNICIPALIZAÇÃO DO ENSINO ENSINO
FUNDAMENTAL
ABSTRACT
3. Ver, a esse respeito, a discussão realizada por Afonso (1998) sobre as diferentes
posturas assumidas por diversos autores que analisam o tema.
4. Ver, sobre o conceito de mudança em sociologia: Lipset (1977, p.191). O autor
destaca a importância da análise funcionalista, bem como as contribuições do estrutu-
ralismo para o conceito de mudança social, salientando que, embora preocupados com
os níveis de estabilidade dos sistemas sociais, os autores que se alinham a essas
correntes de pensamento admitem que todos esses sistemas são constituídos por
mecanismos estabilizadores e não estabilizadores. Exatamente por isso, é possível
administrar os conflitos surgidos em processos de mudança como decorrência natural
de mecanismos antagônicos que tendem a se acomodar de um modo ou de outro.
GRÁFICO 1
DISTRIBUIÇÃO DAS MATRÍCULAS DE ENSINO FUNDAMENTAL (1ª - 4ª SÉRIE)
SEGUNDO DEPENDÊNCIA ADMINISTRATIVA SÃO PAULO, 1996 - 2001
Fonte: Centro de Informações Educacionais CIE/ Secretaria de Estado da Educação de São Paulo
SEESP.
TABELA 1
PORCENTAGEM DE MUNICÍPIOS, SEGUNDO O ANO DE REPASSE
DAS ESCOLAS ESTADUAIS PARA A SUA ADMINISTRAÇÃO
SÃO PAULO, 1996 - 2001
Ano Municipalização
1996 1997 1998 1999 2000 2001 TOTAL
%(N=645) 6,7 30,4 6,7 18,1 1,9 4,2 67,9
TABELA 2
PORCENTAGEM DE MUNICÍPIOS QUANTO À MANUTENÇÃO
DAS ESCOLAS DE ENSINO FUNDAMENTAL
SÃO PAULO, 2001
Fonte: CIE/SEESP.
GRÁFICO 2
DISTRIBUIÇÃO DOS MUNICÍPIOS SEGUNDO
O ANO DE MUNICIPALIZAÇÃO E PORTE
SÃO PAULO, 1996 - 2001
POSSÍVEIS CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS