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Curso de Engenharia Civil Estruturas de Concreto II Prof. Nelson Alves

Dimensionamento a força cortante – 17/04/2020


e-mail : nelsonalves@umc.br

1. DIMENSIONAMENTO DE VIGAS DE CONCRETO ARMADO A FORÇA CORTANTE

As barras prismáticas, de concreto armado, além dos modelos de ruptura por flexão, podem
atingir a ruptura sob efeito das forças cortantes.
No dimensionamento de uma viga de concreto armado, geralmente o primeiro cálculo feito é o de
determinação das armaduras longitudinais para os momentos fletores máximos, seguido pelo
cálculo da armadura transversal para resistência às forças cortantes.
Até agora analisamos o efeito do momento fletor de maneira isolada, no cálculo do cisalhamento,
vamos analisar o efeito conjunto dessas duas solicitações, com destaque para o cisalhamento,
uma vez que a força cortante é derivada do momento, ou seja, não existe força cortante sem
momento, não existe cisalhamento sem flexão. Desta forma, sempre com as tensões tangenciais,
atuam tensões normais, formando um estado duplo de tensões.
A ruptura de uma viga por efeito de força cortante é violenta e frágil, devendo, portanto, ser
evitada, faz-se, então, que a resistência a força cortante seja superior a resistência a flexão. A
armadura de flexão deve ser dimensionada de tal modo que, se vier a ocorrer a ruptura, que seja
por flexão, que ocorre de maneira lenta e gradua, de forma suficientemente avisada, alertando aos
usuários.

1.1 Tensões normais e tangenciais


Considerando a viga com material homogêneo, sem consideração da armadura, ou seja, no
estádio I, podemos calcular as tensões atuantes utilizando os conceitos de resistência dos
materiais.
Dessa forma, podemos calcular as tensões atuantes da seguinte forma:
Supondo uma viga bi-apoiada submetida a carga uniforme

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Isolando o ponto B temos:

Sendo:
M – momento fletor
I – momento de inércia da seção
z – distância do CG ao ponto considerado
Ms – momento estático da área da seção homogênea situada acima da fibra de ordenada y
em relação a linha neutra
bw – largura da seção

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Importante lembrar que quem solicita a peça são as tensões principais, ou seja, combinação
dos esforços normais e tangenciais.
E ainda de acordo com a resistência dos materiais temos a determinação das tensões
principais através da seguinte expressão:

As tensões principais também podem ser calculadas graficamente através do círculo de Mohr.
Em um elemento solicitado por tensões normais e tangenciais sempre é possível encontrar um
plano com inclinação  no qual as tensões tangenciais são nulas e as normais atingem seus
valores máximos e mínimos, que são as tensões principais.

Considerando a viga abaixo e isolando dois elementos infinitesimais, pontos A1 e A2,


podemos verificar seus estados de tensões assim como os respectivos círculos de Mohr.

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Ponto A1:

Ponto A2:

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Se calcularmos várias seções podemos ter as trajetórias de tensões e as isostáticas de tensões


de tração e compressão. Abaixo figura das trajetórias de tensões no Estádio I.

1.2 Comportamento resistente

Considere agora uma viga de concreto bi-apoiada, submetida a duas forças concentradas P
iguais e de pequena magnitude, permanecendo a viga inteira no Estádio I. Com o aumento da
intensidade das forças P e consequente aumento das tensões principais, no instante em que a
tensão de tração supera a resistência do concreto à tração, surgem a primeira fissuras no
trecho central de flexão pura, essas fissuras são chamadas de fissuras por flexão.
As fissuras por flexão, se iniciam na fibra mais tracionada e seguem em direção a linha neutra
de maneira perpendicular ao eixo longitudinal da viga.
O trecho fissurado passa, então, do Estádio I para o Estádio II, e trecho sem fissuras,
extremidades da viga, permanecem no Estádio I.

Aumentando mais o carregamento P, novas fissuras de flexão surgem e as anteriores


aumentam de abertura e caminham em direção ao topo da viga. Nos trechos de extremidade,
entre os apoios e as forças P, as fissuras começam a se inclinarem função das tensões
principais de tração I. Essas fissuras são chamadas fissuras por flexão com força cortante.
Já bem próximo aos apoios, o momento fletor é pequeno, sendo as fissuras apenas por
cisalhamento.

Essa evolução pode ser vista na figura a seguir retirada de Leonhardt & Monnig, 1982.

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a)

b)

c)

d)

e)

f)

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a) armação da viga e diagramas de M e V;


b) trajetórias das tensões principais de tração e compressão na viga não fissurada;
c) surgimento das primeiras fissuras de flexão;
d) tensões e deformações nos Estádios I e II;
e) estado de fissuração pré-ruptura;
f) deformações e tensões na ruptura

As tensões de tração inclinadas na alma exigem a colocação da armadura de transversal,


composta normalmente de estribos verticais fechados. A posição dos estribos na vertical é de
ordem prática, uma vez que as tensões ocorrem com inclinação de aproximadamente 45.
A armadura transversal evita a ruptura prematura das vigas e, além disso, possibilita que as
tensões principais de compressão possam continuar atuando entre as fissuras inclinadas
próximas aos apoios.

1.3 Analogia de treliça de Morsch


A partir dessas observações Morsch apresentou sua analogia de funcionamento de uma viga
de concreto armado fissurado com uma treliça.
Esse modelo clássico de treliça, idealizado no início do século XX, considerando uma viga bi-
apoiada de seção retangular, Mörsch admitiu que, após a fissuração, seu comportamento é
similar ao de uma treliça como a indicada na Figura abaixo, formada pelos elementos:

 banzo superior → zona de concreto comprimido por flexão;


 banzo inferior → armadura longitudinal de tração;
 diagonais comprimidas → bielas de concreto entre as fissuras com inclinação de 45;
 diagonais tracionadas → armadura transversal (de cisalhamento).

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Sendo z a distância entre as forças de tração e compressão, podemos simplificar a treliça da


seguinte forma:

No caso do estudo do cisalhamento por flexão, nos interessam os valores das diagonais Cc e Ts.
Simplificadamente, podemos dizer que basta verificar se as bielas de compressão não
ultrapassam os limites de compressão do concreto e calcular a quantidade de aço necessário para
resistir à tração.
No caso da armadura, estribos verticais, podemos dizer que quanto menor o espaçamento dessa
armadura, menor a possibilidade de ruptura provocada pelas fissuras de cisalhamento não
interceptadas por armação.

1.4 Principais mecanismos de ruptura por cisalhamento


a) Escoamento da armadura transversal
Corresponde a uma ruína por cisalhamento, decorrente da ruptura da armadura transversal. É o
tipo mais comum de ruptura por cisalhamento, resultante da deficiência da armadura transversal
para resistir às tensões de tração devidas à força cortante, o que faz com que a peça tenha a
tendência de se dividir em duas partes.

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b) Esmagamento do concreto da biela


No caso de seções muito pequenas para as solicitações atuantes, as tensões principais de
compressão podem atingir valores elevados, incompatíveis com a resistência do concreto à
compressão com tração perpendicular (estado duplo). Tem-se, então, uma ruptura por
esmagamento do concreto.

c) Falha na ancoragem da biela junto ao apoios


A armadura longitudinal é altamente solicitada no apoio, em decorrência do efeito de arco. No
caso de ancoragem insuficiente, pode ocorrer o colapso na junção da diagonal comprimida
com o banzo tracionado, junto ao apoio. A ruptura por falha de ancoragem ocorre
bruscamente, usualmente se propagando e provocando também uma ruptura ao longo da
altura útil da viga.

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2. MODELOS DE CÁLCULO

A NBR 6118, item 17.4.1, admite dois modelos de cálculo, que pressupõem analogia com
modelo de treliça de banzos paralelos, associado a mecanismos resistentes complementares,
traduzidos por uma parcela adicional Vc.

- Modelo I
Bielas com inclinação de 45
Vc constante e independente de Vsd

- Modelo II
Bielas com inclinação entre 30 e 45
Vc diminui com aumento de Vsd

Será apresentado o modelo de cálculo I

1 - Verificação da biela de compressão:


Vsd ≤ Vrd2
Vsd – Força cortante de cálculo
Vrd2 – Força cortante resistente de cálculo das diagonais comprimidas
A expressão que determina o valor de Vrd2 é:

Vrd2 = 0,27v2 x fcd x bw x d

Onde v2 = (1 – fck/250); sendo fck em MPa

2 – Cálculo da armadura transversal:


Vswd ≤ Vrd3 = Vc + Vsw

Vrd3 – Força cortante resistente de cálculo relativa a tração diagonal


Vc – Parcela de força cortante absorvida por mecanismos complementares aos da treliça
Vswd – Parcela de força cortante absorvida pela armadura transversal

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Observações experimentais mostram que as tensões efetivas na armadura transversal eram


menores que as calculadas.

Vc então, foi determinado de maneira empírica através dos resultados dos ensaios.

Para cálculo vamos fazer:


Vsw = Vrd3
 Vsw = Vsd – Vc

Sendo:
Vsw = (Asw / s)x 0,9d x fywd (sen + cos)

Asw – Área de aço da armadura transversal


s – espaçamento longitudinal da armadura transversal
fywd – tensão da armadura transversal (43,5 kN/cm2)
 - ângulo de inclinação da armadura transversal (em geral 90)

Dessa forma temos:

Vsw = (Asw / s)x 0,9d x fywd

A forma mais comum de escrever a expressão é isolar a armadura, que é o que queremos
calcular:
(Asw / s) = Vsw / 0,9d x fywd
(Asw / s) = (Vsd - Vc) / 0,9d x fywd

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A expressão apresentada na norma NBR 6118 para determinação de Vc é:


Vc = 0,6 x fctd x bw x d
fctd = 0,21fck2/3 / 1,4

Armadura transversal mínima


sw = Asw / (bw x s x sen) ≥ 0,2 fctm / fywk
fctm = 0,3 fck2/3

 A taxa de armadura mínima depende das resistências do concreto e do aço

fck (MPa) 20 25 30 35 40
sw min (%) 0,09 0,10 0,12 0,13 0,14
v2 0,92 0,90 0,88 0,86 0,84
0,6 x fctd (MPa) 0,66 0,77 0,87 0,96 1,05

Asw min = sw min x bw

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3. PARÂMETROS DE DETALHAMENTO

– Diâmetro do estribo
5 mm ≤ t ≤ bw/10

– Espaçamento entre os Estribos na longitudinal


A fim de evitar que uma fissura não seja interceptada por pelo menos um estribo, os estribos
não devem ter um espaçamento maior que um valor máximo, estabelecido conforme as
seguintes condições (NBR 6118, 18.3.3.2):

s s
s

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- Espaçamento Máximo entre os Ramos Verticais do Estribo


O espaçamento transversal (st) entre os ramos verticais sucessivos dos estribos não pode
exceder os seguintes valores (NBR 6118, 18.3.3.2):

O espaçamento transversal (st,máx) serve para definir qual o número de ramos verticais deve
ser especificado para os estribos, principalmente no caso de estribos de vigas largas. Nas
vigas correntes das construções, com larguras geralmente até 30 cm, o estribo mais comum
de ser aplicado é o de dois ramos verticais.

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4. REDUÇÃO DA FORÇA CORTANTE

Ensaios experimentais com medição da tensão nos estribos mostram que o modelo de treliça
desenvolvido para as vigas é efetivamente válido após uma pequena distância dos apoios, pois se
constatou que os estribos muito próximos aos apoios apresentam tensão menor que os estribos
fora deste trecho. Em função desta característica, na região junto aos apoios, a NBR 6118 (item
17.4.1.2.1) permite uma pequena redução da força cortante para o dimensionamento da armadura
transversal, segundo a prescrição: “no caso de apoio direto (se a carga e a reação de apoio forem
aplicadas em faces opostas do elemento estrutural, comprimindo-o), valem as seguintes
prescrições:
a) no trecho entre o apoio e a seção situada à distância d/2 da face de apoio, a força cortante
oriunda de carga distribuída pode ser considerada constante e igual à desta seção;
b) a força cortante devida a uma carga concentrada aplicada a uma distância a ≤ 2d do eixo
teórico do apoio pode, nesse trecho de comprimento a, ser reduzida, multiplicando-a por a/(2d).
Todavia, esta redução não se aplica às forças cortantes provenientes dos cabos inclinados de
protensão. As reduções indicadas nesta seção não se aplicam à verificação da resistência à
compressão diagonal do concreto. No caso de apoios indiretos, essas reduções também não são
permitidas.”
A redução da força cortante junto aos apoios, como descrita, não é feita na prática por muitos
engenheiros estruturais, por questão de simplicidade e a favor da segurança.
As Figuras abaixo apresentam o caso a) e o caso b).

Caso a)

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Caso b)

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