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UNIVERSIDADE EVANGÉLICA DE GOIÁS - UNIEVANGÉLICA

CURSO DE AGRONOMIA

EFEITO ALELOPÁTICO DO EXTRATO DE LEITEIRO NA


GERMINAÇÃO DO MILHO

Fernando Ribeiro Fernandes


Gabriel Pinto Lobo
Giovane Luís Ribeiro de Siqueira
Helder Nominato Pereira
Jaysson Henrique Teixeira e Silva
Joaquina Ivone Sobrinho
Marcelo Santos Ferraz Júnior
Raquel Menestrino Ribeiro
Rodrigo de Oliveira Araújo
Tiago Castro e Silva

ANÁPOLIS-GO
2021
1. INTRODUÇÃO
A interação das plantas com outros organismos pode ocorrer através de
substâncias aleloquímicas liberadas pelo seu metabolismo secundário, que podem
provocar efeitos na geminação e desenvolvimento dos organismos (LESSA et al.,
2019; POHLMANN et al., 2021. Tal fenômeno é conhecido por alelopatia.
As substâncias aleloquímicas são lançadas no ambiente através de lixiviação
e decomposição de folhas, ramos e frutos que se depositam na serapilheira
(FERREIRA; BORGHETTI, 2004). Essas substâncias são liberadas na fase aquosa do
solo ou por meio de substâncias gasosas volatilizadas no ar (FERREIRA; AQUILA,
2000).
Os aleloquímicos liberados podem ter sua ação restrita a plantas mais
sensíveis e dependendo do tipo de substância liberada e da planta com a qual
interage, pode ocorrer um efeito toxico ou estimulante, como também pode não
acontecer nada. Dessa forma, plantas daninhas podem exercer alelopatia sobre
plantas de cultivo, como o que ocorre com capim arroz (Echinochloa crusgalli)
exercendo efeito alelopático sobre milho (Zea mays) (DEUBER, 2003) e leiteiro
(Euphorbia heterophylla) apresentando efeito alelopático sobre repolho tomate e
rabanete (GUSMAN et al., 2011).
O leiteiro é uma das principais plantas invasoras de culturas agrícolas.
Distribuída pela região tropical, a espécie é considerada uma importante invasora em
mais de 28 países, causando sérios danos a culturas anuais (SATHLER et al., 2016).
Melo et al. (2001) relatou que o extrato aquoso do leiteiro reduziu em até 50% a
produtividade da soja.
Assim, o objetivo desse estudo foi avaliar o potencial alelopatico de E.
heterophylla sobre a germinação e o desenvolvimento inicial de milho branco (Zea
mays).

2. MATERIAIS E MÉTODOS

2.1. ENSAIOS
O experimento foi executado no laboratório de Biodiversidade, no Centro
Universitário de Anápolis – UniEvangélica, localizada na cidade de Anápolis – GO,
com as coordenadas geográficas Latitude 16º 19”36’ S e Longitude 48º27”10’ W e
altitude 1.017 m.
Foi conduzido um ensaio em delineamento inteiramente casualizado (DIC),
constituído de 5 tratamentos com 3 repetições. Os tratamentos estão descritos na
tabela 1.

Tabela 1. Tratamentos com Euphorbia heterophylla realizados em sementes de milho


branco.
Tratamentos
1 Controle (água)
2 Extrato concentrado de E. heterophylla
3 Extrato de E. heterophylla (2 mL 50 mL-1 de água)
4 Extrato de E. heterophylla (1 mL 50 mL-1 de água)
5 Extrato de E. heterophylla (4 mL 50 mL-1 de água)

A coleta do E. heterophylla foi realizada na fase vegetativa, sendo coletados


ao acaso 500 g das folhas da planta. Posteriormente foram realizados os extratos a
partir da secagem e maceração de 300 g das plantas secas.
As sementes de milho branco foram germinadas em papel germiteste, sendo
embebidas pelo extrato produzido. Para cada tratamento 15 sementes foram
submetidas a germinação, sendo 5 sementes por repetição.
Após a instalação, o experimento foi mantido em laboratório sob temperatura
ambiente e irrigado a cada 2 dias.

2.2. GERMINAÇÃO E PROMOÇÃO DE CRESCIMENTO


Após 7 dias as plântulas foram retiradas da gerbox e em seguida foram
realizadas as medições de comprimento de raiz (cm), de peso fresco de raiz (g) e
contagem da germinação (%).

2.3. ANÁLISE ESTATÍSTICA


Foi utilizado o delineamento experimental inteiramente casualizado, com três
repetições para cada tratamento. Os dados obtidos foram avaliados através da análise
de variância e as médias entre os tratamentos comparadas pelo teste de Tukey (p ≤
5%).

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na tabela 2 estão representados o comprimento radicular, o peso fresco e a
porcentagem da germinação. Apenas o comprimento radicular não foi afetado pelo
aumento nas concentrações do extrato aquoso de leiteiro. Na pesagem de massa
fresca, registrou-se um aumento no peso fresco com o aumento da quantidade de
extrato.

Tabela 1. Comprimento radicular, peso fresco e geminação de milho branco submetido


a diferentes doses de extrato aquoso de Euphorbia heterophylla.
Comprimento radicular Peso fresco
Tratamento Germinação (%)
(cm) (g)
1 1,04 a 0,1028 b 82,00 a
2 1,04 a 0,1187 b 75,33 b
3 0,99 a 0,1389 ab 82,66 a
4 1,16 a 0,1432 ab 79,33 ab
5 1,26 a 0,2309 a 82,66 a
CV (%) 7,54 5,21 8,03
Médias seguidas da mesma letra não diferem significativamente a 5% pelo teste de
Tukey.

Apesar do extrato de leiteiro não apresentar poder alelopático no


desenvolvimento de radícula, o mesmo contribuiu com o aumento no peso fresco das
plântulas. O mesmo comportamento foi observado por Pohlmann et al. (2021) ao
avaliar a influência alelopática do leiteiro na germinação inicial de aveia preta e
azevém.
Tal comportamento pode ser explicado pelo estimulado de crescimento
proporcionado por pequenas doses de diferentes moléculas, como as auxinas
(POHLMANN et al., 2021). Em contrapartida, altas doses de auxinas apresentam ação
herbicida, como o ácido diclorofenoxiacético (2,4 D), uma auxina sintética, bastante
explorada no controle de crescimento de plantas invasoras na agricultura do mundo
todo (SONG, 2014). Dessa forma, o efeito alelopático inibitório ou estimulantes pode
estar relacionado com a dose ou concentração do metabólito.
O extrato aquoso do leiteiro não inibiu a germinação das sementes de milho
branco com as diferentes concentrações utilizadas, exceto quando usado concentrado,
que comparado ao tratamento controle apresentou um efeito inibitório no percentual de
germinação (Gráfico 1 e Figura 1). Os maiores percentuais de germinação foram
observados tanto no tratamento controle quanto nos tratamentos que apresentavam
maior concentração de extrato diluído.

84
83 82% 82%
82%
82
Germinação (%)
81
80 79%
79
78
77
76 75%
75
74
1 2 3 4 5
Tratamentos

Figura 1. Porcentagem de germinação de sementes de milho branco submetidas a


diferentes dosagens de E. heterophylla.

Resultados semelhantes foram relatados por Vestena et al. (2016) ao avaliar


o efeito alelopático de diferentes doses do extrato de leiteiro na germinação de soja e
ervilha, observando que a alelopatia agia como estimulante da germinação dessas
espécies. Bittencourt et al. (2016) relatou que o extrato de leiteiro também não afetou
a germinação de plantas de alface quando usado em doses mais baixas, entretanto
para o tomate concentrações a partir de 10% de extrato aquoso foram suficientes para
inibir a germinação. Conforme Ferreira (2004), a fase da germinação se mostra menos
sensível aos aleloquímicos quando comparada com a fase de crescimento da plântula,
uma vez que o efeito toxico de extratos podem ocorrer sobre a velocidade de
germinação ou no processo do comprimento médio das raízes.

4. CONCLUSÃO
O leiteiro não apresentou efeito inibitório sobre o crescimento radicular das
sementes de milho branco, mas apresentou relação positiva para o peso fresco nas
quantidades de extrato mais concentrado.
A germinação não foi inibida pelo extrato aquoso do leiteiro e apresentou
efeito alelopático negativo apenas quando submetida ao extrato concentrado.

REFERENCIAS
BITTENCOURT, A. H. C., NÓBREGA, P. G., SATHLER, J. G., & VESTENA, S. Efeito
alelopático do extrato aquoso de Euphorbia heterophylla sobre a germinação de
tomate (Lycopersicon esculentum) e alface (Lactuca sativa). Revista Científica da
Faminas, v. 2, n. 1, 2016.

TRINDADE LESSA, B. F., DE ANDRADE, M. D. N., ANTUNES, M. R., REGES, A. M.,


DA SILVA MEDRADO, E., & DE OLIVEIRA, I. S. Efeito alelopático de Pityrocarpa
moniliformis na germinação do sorgo sacarino e plantas daninhas. Revista Cultura
Agronômica, v. 28, n. 1, p. 50, 2019.
DEUBER R. Ciência das plantas infestantes: fundamentos, 2. ed. Jaboticabal, 2003.

FERREIRA, A.G. Interferência: competição e alelopatia, In: FERREIRA, A. G.;


BORGHETTI, F. (Org.). Germinação: do básico ao aplicado. Porto Alegre: Artmed,
2004. cap. 16, p. 51-262.

FERREIRA, A. G., BORGHETTI, F. Germinação: do básico ao aplicado. Porto


Alegre: Artmed, 209 - 222. 2004

FERREIRA, A. G., & AQUILA, M. E. A. Alelopatia: uma área emergente da


ecofisiologia. Revista Brasileira de Fisiologia Vegetal, 12(1), 175-204. 2000.

GUSMAN, G. S.; YAMAGUSHI, M. Q.; VESTENA, S. Potencial alelopático de extratos


aquosos de Bidens pilosa L.,Cyperus rotundus L. e Euphorbia heterophylla
L.IHERINGIA, Série Botânica, v. 66, n. 1, p. 87 - 98. 2011.

POHLMANN, V., DA ROSA, C. A., DOS SANTOS, C. F., & OSORIO FILHO, B. D.
Influência alelopática de carqueja e leiteiro na germinação e crescimento inicial de
aveia preta e azevém. Revista Cultivando o Saber, v. 14, n. 1, p. 12-22, 2021.

SATHLER, J. G., NÓBREGA, P. G., BITENCOURT, A. H. C., & VESTENA, S.


Alelopatia de extratos aquosos de Euphorbia heterophylla L. na germinação de
sementes e no crescimento de quatro hortaliças. REVISTA CIENTÍFICA DA
FAMINAS, v. 3, n. 2, 2016.

SONG, Y. Insight into the mode of action of 2,4‐dichlorophenoxyacetic acid (2,4-


D) as an herbicide. Journal of integrative plant biology, v. 56, n. 2, p. 106-113.
2014.

VESTENA, S., NÓBREGA, P. G., SATHLER, J. G., & BITENCOURT, A. H. C. Efeito


alelopático do extrato aquoso do leiteiro (Euphorbia heterophylla L.) sobre a
germinação de sementes de soja (Glycine max (L.) Merr.) e de ervilha (Pisum sativum
L.). REVISTA CIENTÍFICA DA FAMINAS, v. 2, n. 2, 2016.

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