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Teste de avaliação
de conhecimentos
GRUPO I A

Lê o poema seguinte.

Áudio
«Tanto de meu estado me
acho incerto»
Tanto de meu estado
CD áudio • faixa 31 me acho incerto
- Tanto de meu estado me acho incerto,
- que em vivo ardor tremendo estou de frio;
- sem causa, juntamente choro e rio,
- o mundo todo abarco e nada aperto.

5 É tudo quanto sinto, um desconcerto;


- da alma um fogo me sai, da vista um rio;
- agora espero, agora desconfio,
- agora desvario, agora acerto.

- Estando em terra, chego ao Céu voando,


10
~
nu , hora acho mil anos, e é de jeito
- que em mil anos não posso achar u~’ hora.

- Se me pergunta alguém porque assim ando,


- respondo que não sei; porém suspeito
- que só porque vos vi, minha Senhora.

Luís de Camões, Rimas, Texto estabelecido e prefaciado por


Álvaro J. da Costa Pimpão, Coimbra, Almedina, 2005, p. 118.

Thomas Frank Heaphy, O poeta angustiado, 1866

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5 Luís de Camões, Rimas

Apresenta de forma clara e bem estruturada as tuas respostas aos itens que se seguem.

1. Comprova que o soneto se pode dividir em duas partes lógicas, justificando.

2. Tem em atenção o v. 5, «É tudo quanto sinto, um desconcerto;».


2.1 Explica de que modo este «desconcerto» é apresentado na primeira quadra.

3. Identifica o recurso expressivo presente nos dois últimos versos da segunda quadra que
contribui para acentuar o «desconcerto» do sujeito poético.
3.1 Justifica.

4. Indica os versos nos quais a referência ao tempo psicológico exprime o desconcerto in-
terior.

5. Tem em atenção o último terceto.


5.1 Explicita a função do advérbio conectivo «porém», v. 13.

6. Identifica o recurso expressivo com o qual termina o soneto.

B
Lê a primeira volta de um vilancete de Camões:

Eles verdes são, e


têm por usança na
cor, esperança
e nas obras, não.
Vossa condição
não é d’olhos verdes,
porque me não vedes.

Luís de Camões, Rimas, Texto estabelecido e prefaciado por


Álvaro J. da Costa Pimpão, Coimbra, Almedina, 2005, p. 17.

Partindo destes versos, e fazendo apelo à tua experiência de leitura da lírica tradicional de
Camões, expõe a visão do amor, da amada e do amador que encontraste na lírica tradi- cional
camoniana. Deves referir pelo menos um poema lido.

O teu texto deve ter no mínimo 120 palavras e no máximo 150.

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GRUPO II

Recordando Camões
- Mas vou reportar-me à minha infância, não por pendor egocentrista, creiam: só
- porque ela me testemunha a mim própria o que a fome do que é belo pode fazer
- acontecer – para o povo e para a criança. (…)
- Passava umas férias no Norte, onde viviam parentes paternos. Um deles, meu
5 tio-avô, era um modesto lavrador que tinha aprendido a ler – e nada mais. Delica-
- do, magrinho, loiro, de olhos azuis estremecidos: sempre uma beata mordida ao
- canto dos lábios. (…) Delicado, por compleição e por feitio, raridade de quem tinha
- as mãos todos os dias afeiçoadas à enxada e ao aguilhão1 dos bois, ganhou por tal
- raridade entre os da sua aldeia uma alcunha mimosa: Tio João Porcelana. (…)
10 Pois Tio João Porcelana, do primeiro andar da sua casa de granito, escuro pelo
- tempo e por tantos dias de boroas cozidas na chaminé, ali de uma janelinha qua-
- se do seu tamanho a fazer-lhe moldura, dizia de cor Os Lusíadas com a voz cheia
- de modulações que me embalavam; e dizia o que eu depois vim a saber que eram
- sonetos porque não mais se esquece que «o amor é fogo que arde… e se não vê»; e
15 dizia que «perdigão perdeu a pena» de tal maneira que a pena era mesmo perdida.
- Mas, acima de tudo, ficou nos meus ouvidos de criança o marulhar estranho dos
- versos épicos que ressoavam naquele pátio de aldeia improvisado com uma janela
- de granito escuro: ficava o escorrer triste e sereno da morte de Inês; ficava Vénus
- num monte doirado onde talvez as pinhas fossem acres maçãs de pele de sol.
20 Eu estava sentada na pedra que fazia de canteiro2 à cepa3 da latada4: era o meu
- balcão, ou antes plateia. Era tudo pobreza e sonho. Corriam assim as horas quentes
- de verão. Não receio de parecer ridícula se vos confessar uma coisa: há anos, quan-
- do pude visitar a casa atribuída a Shakespeare, casa de requinte histórico que por
- si só ergue um espaço teatral, lembrei-me, e poderosamente, do cenário pobre da
25 minha infância, feito de fumos, de sol saído pelas latadas, da velha e pequena figura
- de porcelana que dizia Camões, talvez mal, mas com a magia e com a música que se
- não apagaram. E a minha memória da infância é singularmente frágil, delida5. (…)
- O Tio João Porcelana dizia [Camões] com a paixão de quem contava uma histó-
- ria de família, uma história que eu, sem outras histórias, estava desejosa de saber.
30 Tantos anos se passaram!

Matilde Rosa Araújo, «Ler Camões com crianças e com jovens», in Estudos sobre Camões – Páginas do
Diário de Notícias dedicadas ao poeta no 4º centenário da sua morte,
Lisboa, INCM/Editorial Notícias, 1981, pp. 223-224.

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5 Luís de Camões, Rimas

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espécie de pau aguçado para espicaçar os bois; 2 suporte; 3 vide; 4 ramada; 5 apagada

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1. Para responder a cada um dos itens de 1.1 a 1.5, seleciona a única opção que permite
obter uma afirmação correta.
Escreve, na folha de respostas, o número de cada item e a letra que identifica a opção
escolhida.
1.1 A enorme necessidade que a narradora tinha de ouvir na infância o seu tio-avô a
declamar Camões é traduzida no primeiro parágrafo através de uma
(A) hipérbole. (B) comparação. (C) apóstrofe. (D) metáfora.

1.2 A alcunha do tio-avô da narradora – Tio João Porcelana – derivou do facto de


(A) gostar de dizer poesia de Camões.
(B) ter uma constituição física invulgar.
(C) ser física e psicologicamente delicado.
(D) ser psicologicamente delicado.

1.3 Com a expressão «Mas, acima de tudo,», l. 16, a autora pretende


(A) chamar a atenção para um facto que vai apresentar.
(B) acentuar a importância de um facto já apresentado.
(C) estabelecer um contraste entre dois factos.
(D) iniciar a explicação de um facto anteriormente apresentado.

1.4 A autora confessa, no quarto parágrafo, não recear parecer «ridícula», l. 22, apesar de
(A) ter associado a singela morada do seu avô a um espaço cultural ilustre.
(B) se ter lembrado do tio-avô ao visitar a casa de Shakespeare.
(C) se lembrar do tio-avô a recitar poesia quando visitou a casa de Shakespeare.
(D) se ter lembrado de uma infância pobre, num contexto de riqueza.

1.5 O conector que inicia a frase «E a minha memória da infância (…)», l. 27, só pode ser
substituído, mantendo a frase uma relação idêntica com a informação anterior, por
(A) uma vez que.
(B) no caso de.
(C) por isso.
(D) no entanto.

2. Responde de forma correta aos itens apresentados.


2.1 Indica um conjunto de palavras (pelo menos quatro) que pertençam ao campo lexi- cal
da agricultura presentes no texto.
2.2 Indica a função sintática da expressão destacada na frase «na pedra que fazia de
canteiro à cepa da latada (…)», l. 20.
2.3 Classifica a oração subordinada destacada na frase «(…) dizia de cor Os Lusíadas
com a voz cheia de modulações que me embalavam (…)», ll. 12-13.

GRUPO III
Escreve um texto no qual exponhas as tuas ideias sobre o amor, procurando apresentar
uma resposta à pergunta feita por Camões num célebre soneto: se o amor causa tantos
problemas às pessoas, porque é que se apaixonam?

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5 Luís de Camões, Rimas

O teu texto deve ter entre 200 e 300 palavras e deve estruturar-se nas três partes
habituais.

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