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técnico-científica do ICPG
Vol. 3 n. 10 - jan.-jun./2007
ISSN 1807-2836 101
Resumo
Este artigo tem como objetivo a reflexão dos professores que trabalham nos centros de Educação Infantil, considerando a
importância do brincar neste contexto educacional. A atividade lúdica não se reduz ao ato de brincar. O brinquedo, a brincadei-
ra e o jogo são atividades diferenciadas e muitas vezes confundidas pelos educadores. Neste artigo, abordar-se-ão os conceitos
destes instrumentos educativos de forma a auxiliar os educadores a reconhecer a diferença entre eles e sua importância no
desenvolvimento das crianças que freqüentam a Educação Infantil. Utilizou-se como fundamentação estudos de Piaget, Vygotsky,
Leontiev, Kishimoto e outros autores, que revelam, em suas obras, a importância da utilização da atividade lúdica como recurso
pedagógico. Considerando as informações coletadas, percebe-se a necessidade de refletir sobre a prática pedagógica no cotidi-
ano das instituições de Educação Infantil no que se refere ao ato de brincar e modificá-la.
seus valores e modo de vida. No Brasil, termos como jogo, brin- Enfim, o brinquedo não é somente uma forma de gastar ener-
quedo e brincadeira ainda são utilizados como sinônimos, de- gias. É um instrumento muito importante e necessário, que con-
monstrando a falta de conhecimento sobre tais definições, con- tribui para o desenvolvimento da criança, sendo um elo integra-
forme afirma Kishimoto (1996, p. 17): “termos como jogo, brin- dor entre os aspectos cognitivo, socioafetivo e psicomotor, por-
quedo e brincadeira, são empregados de formas indistintas, de- que é brincando que a criança ordena o mundo a sua volta, assi-
monstrando um nível baixo de conceituação deste campo”. Abor- milando experiências e informações e, sobretudo, incorporando
da-se, a seguir a visão de alguns estudiosos sobre estes concei- atividades e valores.
tos. Outras vertentes definem o brinquedo, segundo Beart (apud
KISHIMOTO, 1996, p. 07), “como suporte da brincadeira, quer
2.1 BRINQUEDO seja concreto ou ideológico, concebido ou simplesmente utiliza-
do como tal”. O sentido dessa definição mostra que não só o
brinquedo criado pelo mundo dos adultos para brincadeiras in-
Desde a sua origem, o brinquedo é um objeto do adulto para fantis, mas também aqueles que a criança cria ou incorpora nas
a criança. Brinquedos antigos, como a bola, a pipa, e as rodas, suas brincadeiras, como colheres, pratos, panelas, cabos de vas-
permitiam o desenvolvimento das fantasias infantis. Os brinque- soura, adquirem o sentido lúdico, como instrumentos musicais,
dos são, sempre, suporte das brincadeiras, colocam a criança na cavalo, chapéu, etc.
presença de reproduções e substituem objetivos reais para que a
Em outra dimensão, pode-se compreender, conforme afirma
criança possa manuseá-los.
Forougere (apud KISHIMOTO, 1996, p. 08), que “é a função lúdi-
Segundo Kishimoto (1996, p.7): ca que atribui o estatuto de brinquedo ao objeto fabricado pelas
indústrias de brinquedos”. Se um brinquedo for colocado como
O brinquedo é um suporte da brincadeira. Diferindo do jogo, objeto de decoração na sala de casa, funcionará como tal. Se este
o brinquedo supõe uma relação íntima com a criança, ou mesmo objeto for colocado em local apropriado de uma sala de
seja, a ausência de um sistema de regras que organizam sua
aula, já será um objeto simbólico, estimulante de brincadeira para
utilização. O brinquedo estimula a representação, a expres-
são de imagens que enfocam aspectos da realidade.
crianças.
A palavra brinquedo não pode ser reduzida à pluralidade de
sentimentos dos jogos, pois, para as crianças, tem uma dimensão
O brinquedo preenche uma atividade básica, ou seja, é motivo material, cultural e técnica. Existem registros de brinquedos in-
para a ação. A criança possui uma grande necessidade de satisfa- fantis provenientes de diversas culturas que remotam às épocas
zer seus desejos imediatamente. Durante a fase pré-escolar, as cri- pré-históricas, demonstrando, assim, que é natural ao homem
anças não conseguem ter todos os seus desejos e tendências brincar, independente de sua origem e do seu tempo. Hoje, a
atendidos. Portanto, deveriam ser usadas as atividades lúdicas de imagem da infância é enriquecida, também, com o auxílio de con-
livre exploração nas quais predomina somente brincar, e não a cepções pedagógicas que reconhecem o papel do brinquedo no
busca por resultados. Sendo assim, Souza (1982, p. 48) afirma: desenvolvimento e na construção do conhecimento infantil.
(transformar o meio para que este se adapte às necessidades) e Como no foco de uma lente de aumento, os brinquedos con-
de acomodar (mudar a si mesma para adaptar-se ao meio) deverá têm, de maneira condensada, todas as tendências do desenvol-
ser sempre por meio do jogo. (PIAGET, 1988). vimento, sendo ele mesmo uma grande fonte de desenvolvimen-
A utilização do brinquedo com objetivos se transforma em to. Para Vygotsky (1984, p. 134 – 135), “o brinquedo cria uma
recursos didáticos de grande aplicação no processo ensino-apren- zona de desenvolvimento proximal da criança. No brinquedo, a
dizagem, pois propiciam o desenvolvimento integral do educan- criança se comporta além do comportamento diária; no brinque-
do. Segundo Piaget (1988, p. 59), “os métodos da educação da do, é como se ela fosse maior do que é na realidade”. A criança
criança exigem que se forneça à criança material conveniente, a transforma as atitudes do cotidiano em brincadeiras e, ao mesmo
fim de que, jogando, ela possa assimilar as realidades intelectu- tempo, aproxima-se de sua realidade para compreendê-la.
ais, que, sem isso, permanecem exteriores à inteligência infantil”. O brinquedo faz com que a criança aprenda a agir numa esfera
Por meio das atividades lúdicas, a criança age ativamente, cognitiva, pois a criação de uma situação imaginária pode ser
questiona, reflete, descobre, torna-se social, cria e respeita re- considerada como um meio para desenvolver o pensamento abs-
gras. Com isso, ela está, explícita ou explicitamente, buscando trato. É por meio da brincadeira que a criança aprende a se conhe-
novos conhecimentos. O jogo, o brinquedo e a brincadeira repre- cer, a conhecer as pessoas que a cercam, a relação entre as pes-
sentam, na maioria das vezes, uma situação-problema a ser resol- soas e os papéis que as pessoas assumem. Por meio do jogo, ela
vida pela criança, devendo a solução ser construída por ela mes- aprende sobre a natureza, os eventos sociais, a dinâmica interna
ma, de forma criadora e inteligente, pois não são apenas uma e a estrutura do seu grupo. Com o brinquedo, ela também conse-
forma de entreter ou de lhe proporcionar desgaste físico e cansa- gue entender o funcionamento dos objetos e explorar suas ca-
ço, mas de possibilitar seu desenvolvimento intelectual, confor- racterísticas físicas.
me esclarece Piaget (1988, p. 59): “Os jogos não são apenas uma Os jogos de faz-de-conta e os brinquedos didáticos ou es-
forma de entretenimento para gastar energias da criança, mas portivos, além de desenvolverem os movimentos amplos e finos
meios que contribuem e enriquecem o desenvolvimento intelec- do corpo, levam a criança a vivenciar inúmeras funções intelec-
tual.” tuais, tais como cálculo, posição, velocidade e equilíbrio, bem
Segundo a teoria de Piaget, o período infantil passa por três como normas de cooperação social determinadas pelas regras do
sucessivos sistemas de jogos: a) jogo de exercício, que aparece jogo. Pelo jogo, o ser humano dá vazão ao seu impulso de criar
nos primeiros dezoito meses de vida, por meio da repetição de formas ordenadas, pois o jogo é uma forma de ordenação, a co-
ações e manipulações realizadas com prazer derivado das ativi- meçar pela ordenação de tempo e espaço, tendo como origem as
dades motoras; b) o jogo simbólico, que aparece por volta dos regras do coletivo que, por sua vez, também estão presentes nas
dois anos de idade, juntamente com a representação da lingua- situações imaginárias.
gem, quando a criança vai além da manipulação e assimila a rea- O que a criança aprende brincando é de grande valor para ela:
lidade externa do seu eu, ou seja, vai reconhecendo sua própria suas necessidades são atendidas, seu relacionamento com o meio
subjetividade e fantasia para sua satisfação e superação de con- torna-se melhor. Sendo assim, é de grande importância o brin-
flitos, sendo que, quanto maior a idade, mais caminha para a quedo na Educação Infantil.
realidade; e c) o jogo de regras, que marca a passagem da ativida-
de individual para a socialização, não acontecendo antes de 4
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
anos e predominando dos 7 aos 11 anos. Com o jogo de regras, a
criança interage com as outras crianças e com o grupo social.
(PIAGET, 1988). Como os educadores são os principais agentes pela inserção
Em síntese, pode-se concluir que a criança, ao nascer, já está de seus alunos no mundo do conhecimento, devem aproveitar
em contato com a ludicidade, a qual a acompanha ao longo de ao máximo a atividade lúdica durante o processo de ensino-apren-
seu desenvolvimento psíquico e social. dizagem, pois facilitarão a compreensão e a disponibilidade men-
tal para o aprendizado, possibilitando um ensino prazeroso e de
qualidade.
4 AS ATIVIDADES LÚDICAS NA VISÃO DE VYGOTSTY A utilização do lúdico no cotidiano escolar sugere reflexões e
questionamentos. Como o tema é abrangente, uma vez conscien-
Para os sociointeracionistas, o brinquedo não pode ser con- tes de sua importância, é necessário que os educadores constan-
ceituado só como uma atividade que proporciona prazer à crian- temente realizem estudos que lhes forneçam subsídios para a
ça. Por meio do brinquedo, a criança satisfaz certas necessidades utilização adequada desse instrumento em sua prática educativa.
de agir em relação não apenas ao mundo dos objetos, mas tam- O lúdico, no desenvolvimento infantil, ainda não encontrou,
bém em relação ao mundo mais amplo dos adultos. na prática das escolas, a repercussão que merece. Não se pode
negar que muitas escolas têm o hábito da pintura, do desenho,
O brinquedo torna-se o tipo principal de atividade devido da modelagem e do brincar, mas, nem sempre, essas práticas têm
ao fato de o mundo objetivo do qual a criança é conscien- a sua importância devidamente reconhecida. Portanto, é neces-
te, estar continuamente expandindo-se. Este mundo in- sário que haja uma reformulação desse paradigma, uma maior e
clui não apenas os objetos que constituem o mundo ambi- melhor utilização do lúdico para que ocorra um verdadeiro cresci-
ental próximo da criança, os objetos com os quais ela
pode operar e de fato opera, mas também os objetos com mento e desenvolvimento da criança por meio dessas atividades.
os quais a criança ainda não é capaz, por estar além de sua A elaboração deste artigo permitiu perceber a importância de
capacidade física. (LEONTIEV, 1988, p. 125). o educador conhecer e fundamentar suas atividades lúdicas em
sala de aula, modificar sua prática e trabalhar com a educação
Revista de divulgação
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6 REFERÊNCIAS