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Fake News de Napoleão

No livro "Revolução dos Bichos", de George Orwell, a Revolução Russa é


satirizada dentro de uma fazenda com animais. Napoleão, um porco que
representava Stalin, usava de mentiras para subverter a imagem populista e
igualitária de Bola de Neve, outro porco que simboliza Trotsky, conseguindo
assim mudar o cenário administrativo da fazenda de forma opressiva. Aludindo
ao livro, observa-se situações semelhantes na contemporaneidade, na medida
em que as fake news, notícias falsas, entram em evidência no cenário político
mundial, interferindo no senso crítico da população. Nesse sentido, entender
essa alienação informativa no cotidiano populacional, bem como analisar as
formas e consequências desse fenômeno que ferem com o modelo democrático
de direito, torna-se necessário para a dissolução dessa realidade nefasta.
Primeiramente, urge compreender o uso de fake news como uma manipulação
escancarada. De acordo com Michel Foucault, o poder articula-se em uma
linguagem que cria mecanismos de controle e coerção, as quais aumentam a
subordinação. Analogamente, quando o indivíduo é exposto ao modo coercitivo
das fake news, a sua noção básica de escolha é desvirtualizada, uma vez que
seu olhar limita-se a uma realidade irreal, influenciando diretamente em ações
inadequadas para o real, ou seja, seu senso crítico. Com isso, o cidadão é
oprimido com falsos norteamentos que inibem sua plena liberdade social.
Nesse sentido, o modo antiautoritário que operava no senso libertário desde o
iluminismo é reformulado nesse novo sistema opressor. Segundo Pierre
Bourdieu, aquilo que foi criado como instrumento de democracia não deve ser
convertido em mecanismo de opressão. Antagonicamente a esse viés, as mídias
digitais, que outrora institucionalizam a democratização do acesso à informação,
transfiguram-se, de forma progressiva, como ferramentas de manipulação
devido a exacerbação de notícias falsas. Com efeito, a possibilidade real de
mudanças do cenário político global com o uso dessas informações nada
verdadeiras, figuram-se simbolicamente como o rompimento do projeto
democrático aristotélico, permitindo a ascensão de governos ditatoriais como o
metaforizado na obra de Orwell.
Portanto, medidas são fulcrais para alterar essa mazela moderna. O
Ministério da Educação deve promover a inserção de discussões políticas nas
escolas. Isso deve ser feito mediante uma melhor distribuição orçamentária entre
a união de modo que essas verbas sejam direcionadas para a contratação de
professores de direito para as salas de aulas do ensino médio. Dessa forma,
aliando essas aulas específicas com filosofia e sociologia, os jovens
desenvolverão um senso mais crítico sobre os processos políticos, diminuindo
as possibilidades de manipulação por meio de fake news, minimizando a
significância do poder unitário da linguagem mentirosa, estudada por Foucaut.

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