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[OS MAIAS, EÇA DE QUEIRÓS - SÍNTESE] 11.

Ano - Português

SÍNTESE D'OS MAIAS


Capítulo I
Inicia-se com a descrição do Ramalhete, a «casa que os Maias vieram habitar em Lisboa,
no Outono de 1875», situando no espaço e no tempo aquela que será a intriga principal.
Esta é interrompida e há um recuo no tempo - 1820. Conhece-se, então, a juventude de
Afonso da Maia, o seu casamento com Maria Eduarda Runa, o nascimento de Pedro, o
exílio da família em Inglaterra por motivos políticos, a educação tradicional portuguesa
ministrada a Pedro contra a vontade de Afonso, o regresso da família a Portugal, a morte
de Maria Eduarda Runa, os amores de Pedro e de Maria Monforte, a oposição de Afonso
ao enlace do filho com Maria Monforte e a rutura entre pai e filho após o casamento
deste com Maria Monforte.
Capítulo II
Pedro e Maria Monforte viajam por Itália e Paris em lua-de-mel; após o regresso do casal
a Portugal, Maria Monforte, grávida, pressiona Pedro a reatar relações com o pai que se
mantém inacessível. Entretanto, nasce Maria Eduarda; Pedro da Maia e Maria Monforte
vivem faustosamente. Segue-se o nascimento de Carlos Eduardo. Mais tarde, por
intermédio do marido, Maria Monforte conhece Tancredo com quem acaba por fugir,
levando a filha com ela. Pedro, desesperado, reconcilia-se com o pai, deixa Carlos aos
seus cuidados e suicida-se. Afonso, abatido com a desgraça familiar, vai viver com o neto
para Santa Olávia.
Capítulo III
Afonso da Maia e o neto vivem felizes em Santa Olávia, onde recebem assiduamente
vários amigos. Vilaça visita-os, comove-se com a cumplicidade entre o avô e o neto,
conversa com as irmãs Silveira sobre a educação ministrada a Carlos, totalmente diferente
da imposta a Eusebiozinho que, a pedido da mãe, recita um poema ultrarromântico. No
final da noite, Vilaça informa Afonso sobre a situação de Maria Monforte e entrega-lhe uma
carta remetida por Alencar. Afonso mostra interesse em recuperar a neta e dá conta ao
procurador da carta que Pedro escrevera na noite em que se suicidara. Mais tarde, Vilaça
escreve a Afonso, comunicando-lhe que, segundo o que Maria Monforte dissera a
Alencar, a sua neta morrera em Londres, o que Afonso não consegue, de facto,
comprovar. Depois disto, Vilaça morre e o filho assume as funções de procurador da
família Maia. Entretanto, Carlos da Maia faz o seu primeiro exame com distinção.
Capítulo IV
É retratado o período de formação académica de Carlos, em Coimbra, no curso de Medicina,
vocação já manifestada na infância. Evidencia-se: o carácter diletante de Carlos, as
reuniões intelectuais em seu redor, a prática de atividades diversas e a vivência de casos

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amorosos fugazes. Carlos termina o seu curso e viaja, durante um ano, pela Europa. A
ação principal, nesse Outono de 1875 é retomada: Afonso encontra-se instalado no
Ramalhete, aguardando ansiosamente a chegada do neto, no paquete Royal Mail. Há um
jantar em honra de Carlos. Após a sua acomodação, Carlos traça vários planos de
trabalho, contudo dispersos; e aluga um primeiro andar no Rossio onde instala luxuosa e
requintadamente o seu consultório, faltando-lhe, no entanto, doentes. Ega visita-o no
consultório e ambos falam sobre os seus projetos. Carlos incita o amigo a aparecer no
Ramalhete, dizendo-lhe em linhas gerais como e com quem aí se passa o tempo. Ega
propõe a Carlos a organização de um Cenáculo, fala-lhe de Craft com admiração e
comunica-lhe a intenção de publicar as Memórias de um Átomo.
Capitulo V
Os amigos da família frequentam o Ramalhete, durante o serão: joga-■se bilhar, cartas e
conversa-se. Vilaça confidencia a Eusebiozinho que os Maias desperdiçam dinheiro
inutilmente. Carlos, quase sem pacientes, dispersa-se nas suas atividades. Entretanto,
ganha «a primeira libra» da família que é adquirida através do trabalho. Ega, enamorado
de Raquel Cohen, leva uma vida de dândi. Em sequência da leitura de um excerto de
Memórias de um Átomo, na casa dos Cohen, Ega é elogiado na Gazeta do Chiado. Carlos,
instigado por Ega, vai em vão ao Teatro de S. Carlos com o intuito de ver a Condessa de
Gouvarinho. Já em casa, no quarto, obtém de Baptista informações sobre os Gouvarinho
Carlos é apresentado, no Teatro de S. Carlos, por Ega ao Conde de Gouvarinho e
conhece a esposa.
Capítulo VI
Carlos visita Ega de surpresa, na Vila Balzac, ninho dos seus amores com Raquel Cohen.
Inconscientemente, Ega augura um futuro amoroso trágico para Carlos. Este é
apresentado por Ega a Craft, quando casualmente o encontram na entrada do Largo da
Graça. Sucede-se o Jantar no Hotel Central'28', organizado por Ega em honra de Cohen.
No peristilo do Hotel Central, Carlos, na companhia de Craft, vê Maria Eduarda pela
primeira vez e fica deslumbrado. Dâmaso é apresentado por Ega a Carlos, que lhe fala dos
Castro Gomes e do seu tio Guimarães. Ega apresenta Alencar a Carlos, que afirma ter sido
grande amigo de seu pai, Pedro da Maia. Cohen chega atrasado, Ega recebe-o com euforia e
apresenta-o a Carlos. Durante o jantar, a conversa recai sobre literatura - Alencar defende o
Ultrarromantismo, Ega o Naturalismo, Craft critica o Realismo, Carlos reage contra o
Naturalismo - e as finanças nacionais - a inevitável bancarrota do país. Entretanto, Ega e
Alencar desentendem-se violentamente numa discussão literária, acabando, contudo, por
se reconciliar. Após o jantar, Carlos e Alencar caminham juntos e este fala sobre o seu
passado. Já em casa, Carlos relembra o que Ega certo dia, completamente embriagado,
lhe revelara sobre a mãe e o que a seu pedido, mais tarde, o avô lhe contara, nomeada-

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mente a morte da mãe e da irmã em Viena. Nessa noite, Carlos sonha com Maria
Eduarda.
Capítulo VII
Depois do almoço, Afonso e Craft jogam uma partida de xadrez. Carlos tem poucos
doentes e vai trabalhando no seu livro. Dâmaso, à semelhança de Craft, torna-se íntimo
da casa dos Maias, seguindo Carlos para todo o lado e procurando imitá-lo. Ega anda
ocupado com a organização de um baile de máscaras na casa dos Cohen. Carlos, na
companhia de Steinbroken em direção ao Aterro, vê, pela segunda vez, Maria Eduarda
acompanhada do marido. Carlos desloca-se várias vezes, durante a semana, ao Aterro na
esperança de ver novamente Maria Eduarda. A condessa de Gouvarinho, com a
desculpa que o filho se encontrava doente, procura Carlos no consultório. Ao serão, no
Ramalhete, joga-se dominó, ouve-se música e conversa-se. Carlos convida Cruges a ir a
Sintra no dia seguinte, pois tomara conhecimento, por intermédio de Taveira, que Maria
Eduarda aí se encontrava na companhia do marido e de Dâmaso.
Capitulo VIII
Carlos vai com Cruges a Sintra. Aquele procura Maria Eduarda discretamente. Ambos
encontram, no Hotel Nunes, Eusebiozinho e Palma Cavalão» na companhia de Lola e
Concha, duas prostitutas espanholas. Carlos e Cruges decidem ir a Seteais em passeio;
entretanto, encontram Alencar que os acompanha; sobretudo Cruges e Alencar apreciam e
deslumbram-se perante aquela paisagem. De regresso a Sintra, Carlos dirige-se ao Hotel
Lawrence e, desiludido, constata que Maria Eduarda já partira. Em monólogo interior,
Carlos imagina Maria Eduarda «nas rendas do seu peignoir», em Lisboa. Depois de jantar,
«na Lawrence», os três amigos partem para a capital.

Capítulo IX
Na ausência dos Castro Gomes, Dâmaso, aflito, leva Carlos, ao Hotel Central, para
consultar a filha de Maria Eduarda que adoecera. Enquanto aguarda no «gabinete de
toilette», Carlos observa atentamente os objetos pessoais de Maria Eduarda; entretanto, é
levado à presença de Rosicler e conhece também Miss Sara. Nessa noite, Ega é expulso
por Cohen do baile de máscaras e aquele pede a Carlos que vá com ele aos Olivais
conversar com Craft, pois pretende desafiar Cohen para um duelo. Craft e Carlos
procuram acalmar Ega, dissuadem-no da sua intenção e aconselham-no a esperar que
Cohen o desafie. A Sr.ª Adélia, criada dos Cohen, chega com notícias: Raquel levara uma
tareia do marido e reconciliara-se com ele. Depois disto, Ega decide ir uns tempos para
Celorico, onde vive a mãe, para fugir aos sarcasmos de Lisboa. Em monólogo interior,
Carlos reflete sobre o fracasso dos projetos de Ega, considerando que também ele
próprio, até ao momento, nada fizera de produtivo. Carlos vê novamente Maria Eduarda

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com o marido. Passa algum tempo na companhia dos Gouvarinho e acaba por se
envolver com a Condessa.

Capitulo X
Carlos tem uma aventura amorosa com a Gouvarinho. Ela que fugir com ele, mas
Carlos dissuade-a. Em conversa com o marquês Carlos confidencia-lhe que Ega está a
escrever uma comédia em cinco atos, O Lodaçal, para se vingar de Lisboa. Carlos avista
Rosicler na companhia da mãe e cumprimenta-as, ficando novamente bastante perturbado
com a beleza de Maria Eduarda. Em monólogo interior Carlos idealiza uma visita à Quinta dos
Olivais com os Castro Gomes. No Ramalhete, conversa-se sobre as corridas: Afonso
defende as touradas como «sport próprio» da «raça» portuguesa; o marquês apoia-o-
Dâmaso considera que as corridas «tinham outro chique». Carlos expõe a Dâmaso o seu
plano para conhecer os Castro Gomes numa visita à Quinta dos Olivais; este, embora
desconfiado, acede, comprometendo-se a fazer o convite ao casal e a dar conhecimento
da resposta a Carlos. Carlos e o marquês veem Afonso a dar esmola a duas mulheres, o
que o deixa embaraçado por ter sido surpreendido na «sua caridade». Segue-se o
episódio das Corridas de Cavalos"9': Carlos e Craft vão juntos para o hipódromo; o
ambiente é tristonho, acabrunhado, monótono e ocioso; há uma discussão à entrada
do hipódromo entre um «dos sujeitos de flor ao peito» e um polícia; os dois amigos
apreciam o ambiente em redor e dirigem-se para a tribuna onde se encontram as
mulheres; Carlos conversa com D. Maria da Cunha; o rei D. Carlos é anunciado pelo
«Hino da Carta»; começam as corridas; continuam a chegar pessoas e Carlos, inquieto,
procura Dâmaso e Maria Eduarda no meio da multidão; Carlos, Craft e Clifford bebem
champanhe; instala-se uma desordem no hipódromo; discretamente, a Condessa de
Gouvarinho transmite a Carlos a sua intenção de ir aos anos do pai ao Porto e o plano
que arquitetou para que ambos pudessem ficar uma noite juntos; fazem-se apostas para a
corrida do «Grande Prémio Nacional» e Carlos, ao contrário do que seria de esperar,
ganha todas as apostas; finalmente, Carlos encontra Dâmaso através do qual fica a
saber que Castro Gomes partira para o Brasil e que Maria Eduarda estava instalada no
primeiro andar de uma casa da mãe de Cruges; Carlos é forçado a aceder ao capricho
da Gouvarinho; as corridas terminam e desaparece «todo o interesse fictício pelos
cavalos»; Carlos sai sozinho do recinto e passa pela rua de S. Francisco, onde fica a casa
alugada a Maria Eduarda. Ao chegar ao Ramalhete, Carlos toma conhecimento por Craft,
que as corridas acabaram com uma cena de murros; ao entrar em casa, um criado
entrega-lhe uma carta de Maria Eduarda, onde esta lhe pede para ir ver na manhã
seguinte «uma pessoa de família» que se encontrava doente.

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Capítulo XI
Carlos, na sua consulta a Miss Sara, conhece finalmente Maria Eduarda; ambos
conversam e esta despede-se com um «até amanhã» que deixa Carlos radiante. Este,
contrariado, vai ter com a Condessa à estação de Santa Apolónia; aqui encontra Dâmaso
que ia a Penafiel em virtude do falecimento de um tio; inesperadamente, a Condessa
aparece acompanhada pelo marido que, para gáudio de Carlos, assim lhe estraga o
«plano» de pernoitar com a amante. Com a desculpa da doença de Miss Sara, Carlos
convive diariamente com Maria Eduarda; fica a saber que ela considera Dâmaso
«insuportável» e que conhece o tio deste (Guimarães) por intermédio da mãe. Novamente
em Lisboa, Dâmaso visita Maria Eduarda que o recebe friamente. Ao ver Carlos na
companhia de Maria, Dâmaso pede-lhe, mais tarde, explicações. Depois de o
tranquilizar, Carlos informa-o sobre a chegada de Ega a Lisboa, no sábado seguinte, e
Dâmaso diz-lhe que também os Cohen tinham regressado de Southampton, dois dias
antes.

Capitulo XII
Ega regressa a Lisboa, instala-se no Ramalhete e confidencia a Carlos que a Condessa fala
«constantemente, irresistivelmente, imoderadamente» dele. Em conversa com Afonso, Ega
e Carlos justificam a sua inércia com a «prodigiosa imbecilidade nacional» e aquele,
apercebendo-se da sua falta de vontade, incita-os a fazerem «alguma coisa». Segue-se o
Jantar em casa dos Gouvarinho'301: Carlos e Ega vão juntos ao jantar; a Condessa
recrimina Carlos devido às suas ausências e fá-lo saber que, por intermédio de Dâmaso,
conhece as suas visitas assíduas à «brasileira» (Maria Eduarda). Durante o jantar, o Conde
denuncia a sua ignorância e falta de memória; a Condessa, «amuada com Carlos», dá
toda a atenção a Ega; D. Maria da Cunha na sua conversa com Carlos tece críticas
negativas a Ega; Sousa Neto, acossado por Ega, revela-se ignorante relativamente a
Proudhon; já reconciliada com Carlos, a Condessa simula um exame médico rápido ao
filho e rnarca um encontro amoroso com ele. Na tarde seguinte, em visita a Maria
Eduarda, Carlos declara-lhe o seu amor, que é correspondido ambos beijam-se pela
primeira vez. Mediante o desejo de Maria Eduarda de viver num lugar mais recatado,
com espaço ao ar livre Carlos compra a Quinta dos Olivais a Craft; Afonso aprova o
investimento, desconhecendo, contudo, o verdadeiro motivo do mesmo Carlos conta a
Ega «miudamente, difusamente, desde o primeiro encontro» o seu romance com Maria
Eduarda e a sua intenção de fugir com ela; Ega sente que esta mulher seria «para sempre,
o seu irreparável destino».

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Capitulo XIII
Carlos recebe uma carta da Condessa que, «num tom marca novo encontro com ele, ao
qual este decide não comparecer. Ega conversa com Carlos e informa-o que Dâmaso o
tem andado a difamar, bem como a Maria Eduarda, por todos os lugares frequentados
pelas pessoas importantes de Lisboa. Carlos vai aos Olivais proceder aos últimos
preparativos para a visita que Maria Eduarda fará, no dia seguinte. De regresso ao
Ramalhete, encontra Alencar que não via desde as corridas e confirma por este que
Dâmaso o anda a difamar. Maria Eduarda visita os Olivais; ela e Carlos cometem incesto
inconscientemente. No dia seguinte, festeja-se o aniversário de Afonso da Maia: Ega sabe
pelo marquês que Dâmaso tem sido visto na companhia de Raquel Cohen. A Condessa
procura Carlos e este separa--se dela definitiva e friamente.

Capítulo XIV
Afonso vai para Santa Olávia passar uns tempos. Maria Eduarda instala-se, com Rosicler
e seus criados, nos Olivais. Ega vai para Sintra no encalço de Raquel Cohen. Carlos
encontra Alencar à porta do Price que o informa sobre a estada dos Cohen em Sintra e
mostra-se interessado em lhe apresentar Guimarães, o que Carlos adia para outra altura.
Em monólogo interior, Carlos relembra «seu pai» e projeta a sua fuga com Maria Eduarda
para Itália, mostrando-se apreensivo com a reação do avô a esta «aventura absoluta».
Carlos e Mana Eduarda encontram-se diariamente na Quinta dos Olivais (Toca) e refugiam-
se, «numa intimidade mais livre» no quiosque japonês. Acidentalmente, Carlos descobre o
envolvimento secreto de Miss Sara com um homem que «parecia um jornaleiro», o que o
deixa bastante surpreendido e «atordoado». Maria Eduarda visita o Ramalhete na
companhia de Carlos; ela fala-lhe de sua mãe; Ega chega de Sintra. Carlos visita Afonso
em Santa Olávia. Castro Gomes vai ao Ramalhete falar com Carlos e, em tom irónico,
comunica-lhe que não é casado com Maria Eduarda, nem Rosicler é sua filha; Carlos fica
transtornado e vai à Toca pedir explicações a Maria Eduarda que, humildemente, lhe
revela toda a verdade e reafirma o seu amor por ele. Carlos, comovido, compreende e
perdoa-lhe a omissão e pede-a em casamento.

Capítulo XV
No quiosque japonês, Maria Eduarda conta detalhadamente a Carlos o que conhece da sua
vida passada. Dadas as circunstâncias, e sobretudo para poupar Afonso a esse
«desgosto», Ega convence Carlos a casar com Maria Eduarda apenas depois do
falecimento do avô. Ega vai jantar com Carlos e Maria Eduarda à Toca e conversam
sobre a ideia de criar o Cenáculo e uma revista que «dirigisse a literatura, educasse o
gosto, elevasse a política, fizesse a civilização, remoçasse o carunchoso Portugal...»;

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Maria Eduarda, enlevada, apoia esta intenção. Após este primeiro convívio, cria-se um
círculo de amizades que passa a frequentar a Toca. Carlos, incentivado por Maria
Eduarda, recomeça a escrever artigos de Medicina para a Gazeta Médica. Segue-se o
incidente relacionado com a Corneta do Diabo e A Tarde12'1: Ega envia a Carlos um
bilhete, juntamente com a Corneta do Diabo na qual vinha uma notícia escandalosa sobre
a sua vida pessoal, envolvendo também Maria Eduarda. Carlos e Ega procuram Palma
«Cavalão», diretor do jornal, e este denuncia Dâmaso, como autor do artigo, e
Eusebiozinho, como seu intermediário. Ega e Cruges vão a casa de Dâmaso a fim de o
desafiar para um duelo com Carlos devido ao artigo que tinha mandado publicar.
Dâmaso opta por escrever uma carta de desculpa a Carlos onde se declara bêbado
«incorrigível». Afonso regressa de Santa Olávia, Carlos vê-se obrigado a deixar os Olivais
e Maria Eduarda instala-se novamente na rua de S. Francisco. Depois de ver Dâmaso a
conversar intimamente com Raquel no Ginásio, onde decorria uma festa de beneficência,
Ega, despeitado e vingativo, faz publicar no jornal A Tarde a carta que aquele remetera a
Carlos. O Governo cai, forma-se um novo Governo e o Conde de Gouvarinho é eleito
ministro da pasta da Marinha. Dâmaso parte «para uma viagem de recreio a Itália».

Capitulo XVI
Ega e Carlos, este contrariado por deixar Maria sozinha, vão ao sarau da Trindade1"', no
qual se destaca a oratória superficial e bajuladora de Rufino, o recital de Cruges e a
declamação «patriótica» de Alencar... Guimarães é apresentado por Alencar a Ega;
aquele pede-lhe explicações sobre a carta de seu sobrinho (Dâmaso), que fora publicada
no jornal A Tarde; ao saber toda a verdade, e concordando que o sobrinho é um
mentiroso, troca «um rasgado aperto de mãos» com Ega. Carlos, ao avistar Eusebiozinho,
vai no seu encalço e, em virtude deste ter andado «metido nessa maroteira da Corneta»,
dá-lhe uma sova. Findo o sarau, Guimarães encontra Ega à porta do Hotel Aliança e diz-
lhe que tem em seu poder um cofre de Maria Monforte de quem fora íntimo em Paris, para
entregar a Carlos ou à irmã; Ega aterrorizado descobre casualmente a verdadeira
identidade de Maria Eduarda.

Capítulo XVII
Ega, transtornado com os acontecimentos do dia anterior, decide procurar Vilaça e
encarregá-lo de revelar a verdadeira identidade de Maria Eduarda a Carlos. Este,
angustiado com a fatídica notícia, interpela Afonso sobre o destino da neta, irmã de
Carlos, e constata que também o avô desconhece o que realmente se passou. Carlos vai
ter com Maria Eduarda a fim de lhe contar a desastrosa descoberta sobre as suas origens,
mas irresistivelmente comete incesto de forma consciente. Afonso apercebe-se desta

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fraqueza do neto e morre com o desgosto. Depois do funeral de Afonso, Carlos refugia -se
em Santa Olávia e encarrega Ega de revelar toda a verdade à irmã e de lhe pedir que parta
para Paris. Ega encontra-se no dia seguinte com Maria Eduarda na estação de Santa
Apolónia, ambos vão de viagem: ela segue para Paris e ele vai encontrar-se com Carlos
em Santa Olávia. No Entroncamento, despedem-se definitivamente.

Capítulo XVIII
Carlos e Ega fazem uma viagem pelo mundo, durante um ano e meio. Ega regressa a
Portugal, mas Carlos instala-se em Paris. Em 1886, Carlos passa o Natal em Sevilha e no
início do novo ano visita Portugal e reencontra vários amigos com quem combina um jantar
no Bragança. Segue-se o episódio do passeio final dos dois amigos'331: durante a
deambulação de Carlos e de Ega pela capital, destaca-se: a «estátua triste de Camões»,
Dâmaso que entretanto casara e era enganado pela mulher, um obelisco «com borrões
de bronze no pedestal», uma «geração nova e miúda que Carlos não conhecia», Charlie
(filho da Condessa de Gouvarinho) a vaguear numa vitória «com lentidão e estilo» e
Eusébio que casara com uma «avantesma» que «o derreia à pancada». Os dois amigos
vão ao Ramalhete e entristecem-se com o seu estado de abandono. Ambos concluem que
falharam e Ega afirma que são «Românticos: isto é, indivíduos inferiores que se governam
na vida pelo sentimento, e não pela razão...»; Carlos declara que a sua teoria de vida se
baseia no «fatalismo muçulmano. Nada desejar e nada recear... Não se abandonar a
uma esperança - nem a um desapontamento. Tudo aceitar, o que vem e o que foge, com
a tranquilidade com que se acolhem as naturais mudanças de dias agrestes e de dias
suaves.». Termina o capítulo com os dois amigos - que segundos antes afirmavam que
«não vale a pena fazer um esforço, correr com ânsia para coisa alguma» - a correrem
desesperadamente para apanhar o americano, a fim de chegarem a tempo ao convívio
marcado com «os rapazes» no Bragança.

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A ACÇÃO TRÁGICA NOS MAIAS


As personagens diretamente relacionadas com a ação principal d'Os Maias pertencem a um estrato
social elevado e, aparentemente, são agraciadas por uma sólida felicidade. Contudo, esta
estabilidade é abalada a partir do momento em que as leis da natureza - e o próprio destino - são
desafiados pelo protagonista: dois irmãos, separados quando ainda crianças, reencontram-se e,
sem o saberem, fatalmente, cometem incesto123'. De resto, a evolução da ação d'Os Maias, expõe
um conflito humano motivado pela força das paixões e abarca três elementos essenciais da
tragédia11"" clássica:
• a peripécia - Guimarães, que fora íntimo de Maria Monforte em Paris, revela casualmente a
Ega a verdadeira identidade de Maria Eduarda e entrega-lhe uma caixa com «papéis
importantes», que Monforte, em tempos, lhe pedira para guardar (capítulo XVI). Este facto, ao
tornar incestuoso o amor de Carlos e Maria Eduarda, altera inesperadamente o rumo da
ação;
• o reconhecimento - as declarações de Guimarães a Ega sobre as origens de Maria Eduarda,
bem como as fatídicas confidências na carta de Maria Monforte (capítulo XVII), são
igualmente dadas a conhecer a Carlos, a Afonso da Maia, a Maria Eduarda e, mesmo, a
Vilaça;
(23) O tema do incesto é característico da tragédia clássica, nomeadamente, Rei Édipo de Sófocles.
(24) Ver Elementos da tragédia clássica (pp. 147-148).
• a catástrofe - o desfecho é calamitoso: Afonso da Maia morre, Carlos e Maria Eduarda
separam-se definitiva e irreversivelmente, morrendo também um para o outro.

Note-se ainda que, ao longo do romance, há várias alusões ao destino - bem como a palavras da
família de fatum - que deixam entrever a sua força inexorável sobre a família dos Maias:
• Vilaça, em conversa com Afonso da Maia, «...aludia mesmo a uma lenda, segundo a qual eram
sempre fatais aos Maias as paredes do Ramalhete...» (capítulo I);
• Maria Monforte, baseando-se num romance que Alencar lhe emprestara para ler, escolheu para
o seu filho o nome de Carlos Eduardo porque, à semelhança do herói do livro, «...parecía-lhe
conter todo o destino de amores e façanhas.» (capítulo II);
• segundo Ega, Carlos e a «sua mulher (...) insensivelmente, irresistivelmente, fatalmente...»
marcham um para o outro (capítulo V);
• Carlos considera que a semelhança entre o seu nome e o de Maria Eduarda «Quem sabe se
não pressagiava a concordância dos seus destinos!» (capítulo XI);
• Ega, ao ouvir Carlos contar-lhe o desabrochar do seu amor por Maria Eduarda «...sentia-o
profundo, absorvente, eterno, e para o bem ou para o mal tornando-se daí por diante, e para
sempre, o seu irreparável destino.» (capítulo XII);
• Carlos considera que o passado de Maria se deve a «motivos complicados, fatais, iniludíveis...» e
que ela fora apanhada «dentro de uma implacável rede de fatalidades...» (capítulo XV);
• Afonso da Maia, ao tomar conhecimento de toda a verdade relativamente a Maria Eduarda, foi
«...vencido enfim por aquele implacável destino que, depois de o ter ferido na idade da força
com a desgraça do filho - o esmagava ao fim da velhice com a desgraça do neto.» (capítulo

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[OS MAIAS, EÇA DE QUEIRÓS - SÍNTESE] 11. Ano - Português

XVII)...

Não menos frequentes são também os presságios que indiciam a tragédia final:
• Afonso da Maia, ao avistar Maria Monforte com o seu filho, teve a impressão que a
«...sombrinha escarlate que agora se inclinava sobre Pedro, quase o escondia, parecia envolvê-
lo todo – como uma larga mancha de sangue alastrando a caleche sob o verde triste das
ramas.» (capítulo I);
• Ega compara Carlos a Don Juan, concluindo que o seu amian há-de «vir a acabar
desgraçadamente como ele, Dyniâjragédia infernal!» (capítulo VI);
• o herói do romance que inspirou a Maria Monforte o nome de Carlos Eduardo era «... o último
Stuart...» (capítulo VI);
• quando Carlos ganha as apostas na Corrida de Cavalos, a ministra da Baviera alude ao provérbio
«... heureux au jeu...» (capítulo XV)
• Craft, perante a afirmação de Carlos relativamente à «gente» nunca saber se «... o que lhe
sucede é, em definitivo, bom ou mau.» responde que «Ordinariamente é mau» (capítulo X);
• Carlos achava que nas caridades de Maria Eduarda havia «... semelhanças com o avô.»
(capítulo XI);
• no quarto de Carlos e Maria Eduarda (na Toca) «desmaiavam, na trama de lã, os amores de
Vénus e Marte» (eram irmãos) e o «leito de dossel» como que fora «... erguido para as
voluptuosidades grandiosas de uma paixão trágica do tempo de Lucrécia ou de Romeu.».
Num «painel antigo (...) uma cabeça degolada, lívida, gelada no seu sangue...» e «... uma
enorme coruja empalhada fixava no leito de amor, com um ar de meditação sinistra, os seus
dois olhos redondos e agoirentos...» impressionaram Maria Eduarda (capítulo XIII);
• Maria Eduarda diz a Carlos que ele se parece com a sua mãe, «... sobretudo certos jeitos, uma
maneira de sorrir...» (capítulo XIV).

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ESTILO E LINGUAGEM DE EÇA DE QUEIRÓS


Eça é, além do mais, um escritor particularmente representativo da sua época. A
sua sensibilidade era uma vibrátil antena recetiva de todos os estímulos artísticos.
(...) Nos temas, como na língua, encontramos elementos românticos, parnasianos,
realistas, naturalistas, simbolistas, pré-rafaélicos, impressionistas. O seu estilo
partilha de todas essas correntes, sem pertencer inteiramente a nenhuma delas.
Pode-se ver que, da rápida sucessão de escolas e tendências dessa época, ia ele
tomando aquilo que em cada uma delas satisfazia o seu temperamento; integrando
de tudo numa forma única, fiel apenas às suas exigências íntimas, à sua vontade
de estilo, revolucionária, «motora», e a0 seu seguro instinto estético.

0 adjetivo
O adjetivo assume extrema importância na obra de Eça de Queirós, sendo
frequente o contraste entre o nome concreto qualificado por um adjetivo abstrato
ou o inverso, o que cria uma relação subjetiva muito particular entre as entidades
nomeadas e as características que lhes são atribuídas. Por outro lado, Eça é
exímio no uso da dupla adjetivação, exprimindo, muitas vezes, as vertentes
objetiva e subjetiva da realidade.
A verdade é que os adjetivos abundam - quer na sua dimensão mais subjetiva
(normalmente antepostos), quer objetiva (pospostos) -, fornecendo com clareza e
singularidade o contorno das coisas ao mesmo tempo que despertam sensações
e emoções perante aquilo que é descrito.
N'Os Maias de Eça de Queirós: Exemplos:
• Por aquele sol macio e morno de um fim de Outono português, o Ega, o
antigo boémio de batina esfarrapada, trazia uma peliça, uma sumptuosa
peliça de príncipe russo...
• o Eusébio nem os viu, descaído e molengo, seguindo com as grossas
lunetas pretas o marchar lento da sua sombra.

0 advérbio
Eça de Queirós usa o advérbio de maneira profusa e única, de tal forma que chega
mesmo a criar novos advérbios de modo a partir de adjetivos aos quais acrescenta
o sufixo -mente. Assim, o advérbio é não só empregue com a função de
reiterar/intensificar o sentido do verbo, adjetivo ou outro advérbio; mas também
descritiva, adquirindo mesmo uma missão caracterizadora, caricatural e crítica.

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[OS MAIAS, EÇA DE QUEIRÓS - SÍNTESE] 11. Ano - Português

N'Os Maias de Eça de Queirós:


Exemplos:
• ... ficar-lhe beijando a orla do vestido, devotamente, eternamente, sem
querer mais nada...
• Falou de ti, constantemente, irresistivelmente, imoderadamente.

0 gerúndio
Eça de Queirós utiliza recorrentemente o gerúndio, o que confere Ur
na ideia de
continuidade/duração, com grande teor descritivo, aos acontecimentos
narrados. Não raro, o gerúndio surge associado à conjugação perifrástica.

0 neologismo
Os neologismos são igualmente frequentes na escrita de Eça que os forma a
partir do advérbio, com foi já referido, mas também do nome e do adjetivo, aos
quais acrescenta prefixos ou sufixos, criando assim, o efeito que pretende
transmitir.
N'Os Maias de Eça de Queirós:
Exemplos:
• Terça-feira vou-te buscar ao Ramalhete, e vamo-nos gouvarinhar.
• Maria afeiçoara-se àquele recanto, chamava-lhe o seu pensadoiro.

0 diminutivo
Na obra de Eça de Queirós, o diminutivo é usado não apenas com um sentido
carinhoso, afetivo; mas sobretudo com uma carga bastante pejorativa de tom
irónico e crítico.
N'Os Maias de Eça de Queirós:
Exemplos:
• Quase desde o berço este notável menino (...) com o crânio-zinho
calvo de sábio (...) de perninhas bambas (...) entre o pasmo da mamã e da
titi, passava os dias a traçar algarismos, com a linguazinha de fora.
• O Taveira e a Paca, juntinhos na mesma cadeira (...) debicavam
copinhos de gelatina.

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[OS MAIAS, EÇA DE QUEIRÓS - SÍNTESE] 11. Ano - Português

O estrangeirismo
Ao longo das páginas d'Os Maias predominam os estrangeirismos de origem
inglesa - anglicismos - e francesa - galicismos, não só pela necessidade de
preencher lacunas da língua portuguesa para desi nar determinadas
realidades; mas também com o intuito de criticar e mesmo, ridicularizar a elite
lisboeta pelo facto de, até na língua, Procurar imitar o estrangeiro.
N'Os Maias de Eça de Queirós:
Exemplos:
• Eu ainda hoje não pude cavaquear com a high life!...
• Mas Baptista oferecia a Carlos a chartreuse...

Os registos de língua
N'Os Maias de Eça de Queirós coexistem todos os registos de língua, situando
as personagens numa determinada classe social, ao mesmo tempo que é
criado um tom oralizante (pelo uso dos registos familiar e popular) que
estabelece uma relação de proximidade com o leitor.
N'Os Maias de Eça de Queirós:
Exemplo:
- E é isto um português forte - exclamou Carlos, travando-lhe
alegremente do braço.
- Eu sou piegas na garganta - replicou logo o marquês, desprendendo-
se dele e olhando-o com ferocidade. - E você é-o no sentimento. E o Craft
é-o na respeitabilidade. E o Damasozinho na tolice. Em Portugal é tudo
Pieguice e Companhia!

Recursos de retórica
Eça de Queirós é bastante profícuo no uso das mais variadas figuras de
retórica, sendo que as a seguir enumeradas são as que, sem dúvida, o seu
estilo privilegia.
- Adjetivação - Uma gente feíssima, encardida, molenga, reles, amarelada,
acabrunhada...
- Assíndeto - Sovados, humilhados, arrasados, escalavrados, tínhamos de
fazer um esforço desesperado para viver.
- Comparação - ... não tornaria mais a farejar a cidade como um rafeiro

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[OS MAIAS, EÇA DE QUEIRÓS - SÍNTESE] 11. Ano - Português

perdido...
- Hipálage -... a gente vadiando pelos bancos: e essa sussurração lenta de
cidade preguiçosa...
- Ironia - A boa titi, uma velha pequenina, chamada Miss Jones, era uma
santa, uma apóstola militante da Igreja Anglicana, missionária da Obra da
Propaganda; e todos os meses fazia assim uma viagem de catequização à
província, distribuindo Bíblias, arrancando almas à treva católica, purificando
(como ela dizia) o tremedal papista...
- Metáfora -... todo ele uma bola entufada de pêlo branco malhado de oiro...
- Personificação - O seu gabinete, no consultório, dormia numa paz tépida
entre os espessos veludos escuros...
- Sinestesia - Era uma manhã muito fresca, toda azul e branca...

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[OS MAIAS, EÇA DE QUEIRÓS - SÍNTESE] 11. Ano - Português

N'Os Maias de Eça de Queirós:


• Alencar- representa o Ultrarromantismo;
• Cohen - representa a alta finança, a burguesia poderosa, mas néscia-
• Conde de Gouvarinho - representa o poder político conservador decadente
e limitado;
• Condessa de Gouvarinho e Raquel Cohen - representam a mulher
portuguesa de educação romântica e com casamentos falhados -
• Craft - representa a formação britânica, a aristocracia inglesa;
• Cruges - representa o talento não reconhecido;
• Dâmaso - representa o egocentrismo, o exibicionismo dos novos ricos, a
decadência moral, a cobardia e a imoralidade;
• Eusebiozinho - representa a educação tradicional portuguesa;
• Palma «Cavalão» e Neves - representam o jornalismo degradado,
subornável, corrompido e parcial;
• Rufino - representa a oratória superficial e bajuladora;
• Sousa Neto - representa a administração pública culturalmente medíocre;
• Steinbroken - representa a diplomacia;
• Taveira - representa a aristocracia ociosa...

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[OS MAIAS, EÇA DE QUEIRÓS - SÍNTESE] 11. Ano - Português

ESPAÇO
O espaço não se resume apenas ao lugar onde o(s) evento(s) s realiza(m),
possuindo também uma dimensão social e psicológico importante para a
interpretação textual.
Espaço físico
Consiste no espaço real (geográfico; interior e exterior) onde os acontecimentos
ocorrem. As referências ao espaço físico conferem verosimilhança à história
narrada.
N'Os Maias de Eça de Queirós:
• Espaço geográfico - por exemplo, Santa Olávia, Coimbra e Lisboa (espaços
associados à personagem de Carlos em diferentes momentos da sua vida);
Sintra e os Olivais; referências ao estrangeiro (Inglaterra, Itália, França,
Áustria)...
• Espaço interior - por exemplo, o Ramalhete, o consultório de Carlos, os Teatros
de S. Carlos e da Trindade, a Vila Balzac, o Grémio, o Hotel Central, o Tavares,
a Havaneza, a casa dos Gouvarinho e o primeiro andar da casa que Maria
Eduarda habita (em Lisboa); o Nunes e o Hotel Bragança (em Sintra); a Toca
(propriedade de Craft n'Olivais, associada aos amores de Carlos e de Maria
Eduarda)...
• Espaço exterior - por exemplo, o quintal/jardim do Ramalhete e o da Toca; a
Rua de São Francisco; a Baixa, o Aterro, o Chiado, o Hipódromo no Campo
Grande (em Lisboa); o palácio da Vila, o Palácio da Pena, o Palácio de Seteais
(em Sintra)...

Espaço social
Consiste no ambiente social vivido pelas personagens (cf. Personagem-tipo - pp.
191-192) e cujos traços ilustram a atmosfera social (características culturais,
económicas, políticas...) em que se movimentam.
N'Os Maias de Eça de Queirós:
O espaço social está diretamente associado ao subtítulo da obra -«Episódios da
Vida Romântica» - que, ao nível da crónica de costumes, constitui uma ação
aberta"1. Os episódios, através de um processo narrativo de alternância31,
integram-se no desenrolar da intriga principal sem que haja, no entanto, qualquer
relação de dependência entre ambos; e visam não só, retratar, como também
criticar uma época (o Portugal da Regeneração) e o ambiente social vividos pela

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[OS MAIAS, EÇA DE QUEIRÓS - SÍNTESE] 11. Ano - Português

burguesia e alta aristocracia lisboeta:


• o jantar no Hotel Central (capítulo VI) - ambiente marcado pela ociosidade,
futilidade e depreciação da Pátria por parte da elite lisboeta; apresentando
uma visão crítica relativamente aos exageros do Ultrarromantismo (Alencar),
ao confronto literário eversivo [Ega (Realismo/Naturalismo) vs. Alencar], à
incompetência do diretor do Banco Nacional (Cohen) e às limitações da men-
talidade da alta sociedade lisboeta;
• as Corridas de Cavalos (capítulo X) - ambiente marcado pelo desajuste do
espaço, pela indolência e ausência de motivação, pelo desfasamento entre o
ser e o parecer, por comportamentos inapropriados; apresentando uma visão
crítica relativamente à mentalidade provinciana da elite da sociedade lisboeta
que, na sua ânsia de imitar o estrangeiro, acaba as corridas num «sopro gros-
seiro de desordem reles», «desmanchando a linha postiça de civilização e a
atitude forçada de decoro...»;
• o jantar em casa dos Gouvarinho (capítulo XII) - ambiente marcado pela
frivolidade e ociosidade da alta burguesia e aristocracia lisboeta; apresentando
uma visão crítica relativamente à mediocridade, ignorância e superficialidade da
elite social lisboeta, em geral, e incapacidade da classe política dirigente, em
particular;
• o incidente relacionado com a Corneta do Diabo e A tarde (capítulo XV) -
ambiente marcado pela incompetência e ausência de brio profissional dos
jornalistas da época; apresentando uma crítica relativamente à degradação
moral, à corrupção, à aceitação de subornos (Palma «Cavalão») e ao
jornalismo político tendencioso (Neves);
• o sarau literário do Teatro da Trindade (capítulo XVI) - ambiente marcado pela
ociosidade, ignorância e superficialidade da elite social lisboeta; apresentando
uma crítica à sustentação da poesia ultrarromântica (dissimulada por um
lirismo com conotações sociais), à eloquência vazia e bajuladora da oratória
política, aos comportamentos sociais afetados;
• o passeio final de Carlos e de Ega em Lisboa (capítulo XVIII) - ambiente
marcado pela degradação, ociosidade, indolência e pelo ridículo da sociedade lisboeta;
apresentando-se uma crítica à estagnação e incapacidade de desenvolvimento da
mentalidade portuguesa, que em dez anos não progrediu significativamente.

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