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Como fazer o cálculo de unidades de

tratamento de esgoto residencial

Quem faz projeto hidrossanitário sabe que


tanque séptico, filtro anaeróbio e vala de
filtração são unidades de tratamento de esgoto
residencial. Enquanto o tanque faz a separação
do material, o filtro e a vala tratam o esgoto
com a ação de microorganismos.
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Depois de conhecer no post anterior os conceitos iniciais e normativos das


unidades de tratamento de esgoto, vamos conferir como é feito o
dimensionamento dessas unidades.

Dimensionamento do tanque séptico


Esse cálculo segue as disposições da NBR 7229/93. Para efetuar o
dimensionamento do volume útil do tanque séptico, é necessário aplicar a fórmula
V = 1000 + N*(C*T + K*Lf), sendo:

V = volume útil, em litros


N = número de pessoas ou unidades de contribuição
C = contribuição de despejos, em litro/pessoa x dia ou em litro/unidade x dia (ver
Tabela 1)
T = período de detenção, em dias (ver Tabela 2)
K = taxa de acumulação de lodo digerido em dias, equivalente ao tempo de
acumulação de lodo fresco (ver Tabela 3)
Lf = contribuição de lodo fresco, em litro/pessoa x dia ou em litro/unidade x dia
(ver Tabela 1)

Veja as tabelas necessárias para o dimensionamento do volume do tanque séptico.

Prédio Unidade Contribuição de esgotos (C)


e Lodo fresco (Lf)
1. Ocupantes permanentes
– Residência
padrão alto Pessoa 160 1
padrão médio Pessoa 130 1
padrão baixo Pessoa 100 1
– hotel (exceto lavanderia e Pessoa 100 1
cozinha)
Tabela 1 – Contribuição diária de esgoto (C) e de lodo fresco (Lf) por tipo de
prédio e de ocupante.
Prédio Unidade Contribuição de esgotos (C)
e Lodo fresco (Lf)
– alojamento provisório Pessoa 80 1

2. Ocupantes temporários
– fábrica em geral Pessoa 70 0,30
– escritório Pessoa 50 0,20
– edifícios públicos ou Pessoa 50 0,20
comerciais
– escolas (externatos) e locais Pessoa 50 0,20
de longa permanência
– bares Pessoa 6 0,10
– restaurantes e similares Refeição 25 0,10
– cinemas, teatros e locais de Lugar 2 0,02
curta permanência
– sanitários públicos ?A? bacia 480 4,0
sanitária
Tabela 1 – Contribuição diária de esgoto (C) e de lodo fresco (Lf) por tipo de
prédio e de ocupante.

Contribuição diária (L) Tempo de detenção


Dias Horas
Até 1500 1,00 24
De 1501 a 3000 0,92 22
De 3001 a 4500 0,83 20
De 4501 a 6000 0,75 18
De 6001 a 7500 0,67 16
De 7501 a 9000 0,58 14
Mais que 9000 0,50 12
Tabela 2 – Período de detenção dos despejos, por faixa de contribuição diária.

Intervalo entre Valores de K por faixa de temperatura ambiente


limpezas (anos) (t), em ºC
t = 10 10 = t = 20 t > 20
1 94 65 57
2 134 104 97
3 174 145 137
Tabela 3 – Taxa de acumulação total de lodo (K), em dias, por intervalo entre
limpezas e temperatura do mês mais frio.
Intervalo entre Valores de K por faixa de temperatura ambiente
limpezas (anos) (t), em ºC
4 214 185 177
5 254 225 217
Tabela 3 – Taxa de acumulação total de lodo (K), em dias, por intervalo entre
limpezas e temperatura do mês mais frio.

Vamos usar um exemplo para demonstrar a fórmula de dimensionamento de um


tanque séptico. Considere um edifício público com capacidade para 45 pessoas, um
restaurante no pavimento térreo para 100 refeições, sendo que a temperatura
ambiente da região é em torno de 22º C e intervalo de limpeza igual a 3 anos. Em
resumo, temos os dados:

Edifício público Restaurante


N= 45 N=100
C= 50 C= 25
Lf =0,2 Lf =0,1

Contribuição de esgoto = N*Cep + N*Cres = 45.50 + 100.25 = 4750 litros


Contribuição de lodo fresco= N*Lfep + N*Lfres = 45.0,2 + 100.0,1 = 19 litros
T= 0,75 (volume entre 4501 e 6000)
K= 137 (Temperatura maior que 20° e intervalo de limpeza de 3 anos)

V = 1000 + (4750*0,75 + 137*19)


V= 7165,5 litros

Dimensionamento do filtro anaeróbio


Essa unidade de tratamento de esgoto residencial utiliza a NBR 13969/97. O
dimensionamento do volume útil do filtro é efetuado com base na fórmula Vu =
1,6* N*C*T, sendo:

N = é o número de contribuintes
C = é a contribuição de despejos, em litros x habitantes/dia (ver Tabela 1, também
usada no tanque séptico )
T = é o tempo de detenção hidráulica, em dias (ver Tabela 4)

VazãoL/dia Temperatura média do mês mais frio


Abaixo de 15ºC Entre 15ºC e Maior que
25ºC 25ºC
Até 1500 1,17 1,0 0,92
Tabela 4 – Tempo de detenção hidráulica de esgotos (T), por faixa de vazão e
temperatura do esgoto (em dias).
VazãoL/dia Temperatura média do mês mais frio
Abaixo de 15ºC Entre 15ºC e Maior que
25ºC 25ºC
De 1501 a 3000 1,08 0,92 0,83
De 3001 a 4500 1,00 0,83 0,75
De 4501 a 6000 0,92 0,75 0,67
De 6001 a 7500 0,83 0,67 0,58
De 7501 a 9000 0,75 0,58 0,50
Acima de 9000 0,75 0,50 0,50
Tabela 4 – Tempo de detenção hidráulica de esgotos (T), por faixa de vazão e
temperatura do esgoto (em dias).

Veja um exemplo prático, considerando uma edificação multifamiliar de padrão


médio para 16 pessoas, com temperatura média do mês mais frio igual a 24° C.

Residência de padrão médio


N= 16
C= 130

Contribuição de esgoto = N*C = 16*130 = 2080 litros


T = 0,92 (volume entre 1501 e 3000, temperatura entre 15°C e 25°C)
Vu = 1,6*16*130*0,92
Vu = 3061,7 litros.

Dimensionamento da vala de filtração


O terceiro item do tratamento de esgoto residencial aqui apresentado,
também tem dimensionamento de acordo com a NBR 13969/97. A fórmula para a
vala de infiltração é L= C/Ta, sendo:

L = comprimento total da vala, em metros;


C = contribuição de despejos, em litros /dia;
Ta = taxa de aplicação do efluente, em L/dia*m².

A NBR 13969/97 determina que a taxa de aplicação do efluente proveniente do


tanque séptico não deve ser superior a 100 L/dia*m². Logo, considerando o
mesmo exemplo adotado para o filtro, no qual se tem uma contribuição igual a
2080 litros, e considerando que a base onde está assentada a tubulação de
distribuição deve ter 1m de largura, conclui-se que:

L= 2080/100
L= 20,80 metro

De acordo com a necessidade de digestão aeróbia de material retido na vala de


filtração e desobstrução dos poros do meio filtrante, deve-se considerar a operação
alternada da vala em um período não maior que três meses. Assim, é necessário
duplicar o resultado, devendo ser construído um comprimento total de vala igual a
41,6 metros.

Após conhecer os conceitos, as normas e as fórmulas de cálculo das unidades de


tratamento de esgoto residencial, é hora de avançarmos para o detalhamento
dessas unidades. Aguarde nosso próximo post.

Você tem alguma dúvida sobre unidades de tratamento de esgoto? Escreva nos
comentários.

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