Você está na página 1de 5

Classificação das Vozes 65

Cobertura dos Sons 69


A Prática Voca'
Apoio do Diafragma em Relação aos Ressoadores 73

O Ataque em Relação ao Apoio 77


T/ L grande o número de iniciantes que se desapontam com
Preceitos sobre a Meia-Voz 81 o estudo do canto, por acharem que em três ou quatro me-
ses podem conseguir cantar árias de óperas com facihda-
13 de. A ansiedade e o pouco estudo desses candidatos a can-
tor é que tem colaborado para o declínio da arte lírica e sua
Vocalises 85 fragmentação em diversas escolas formadas por opiniões
pessoais de incautos professores, que se nomeiam porta-
dores da "chave de ouro", e prometem em pouco tempo
Considerações Pedagógicas 89 transformar alunos iniciantes em grandes cantores, levan-
do-os à mediocridade artística e musical e, sobretudo, in-
terrompem uma carreira que parecia promissora.
O Desenvolvimento do Bel Canto: O Cantor Ator 93 Será necessário muito estudo, pois todo talento só
é desenvolvido com muito trabalho. Não obstante ter co-
16 nhecimento de uma boa técnica, o principal é saber aplicá-
la com consciência. A famosa cantora e professora Lili Leh-
Os Cuidados com a Saúde da Voz 103 mann (1848-1929) afirma ser necessário cinco a seis anos
para se formar uma voz. Aconselhamos, portanto, terem
17 paciência, dando tempo ao tempo e não se comprometen-
do com o calendário.
Conclusões 109 No início dos estudos, torna-se necessário que c
aluno adquira conhecimentos básicos da fisiologia da vo2
Bibliografia 113
16 VOZ ARTE LÍRICA A Prática Vocal 17
e como funciona seu mecanismo. As dificuldades se apre- Outro aspecto a ser observado é a pgatma do alu-
sentam. Lentamente, porém, o aluno passa a entender como no, seja corporal, seja facial, o que habitualmente se con-
impostar a voz, aliando a teoria à prática. O progresso é segue com o uso do espelho. O hábito de manter uma ati-
vagaroso e muitas vezes desanimador. Todavia, deve-se tude ereta, sóbria e descontraída transmite tranqiiilidade,
aguardar. Os resultados logo surgirão, de acordo com o segurança e bem-estar. Deve-se evitar a posição contraída
grau de assimilação de cada um, porque o canto é sensa- de "sentido" de um soldado. Conforme afirma Frederick
ção, portanto, é uma atitude mental. Tratando-se de instru- Matthias Alexander (1869-1955): "a manara de ficar de^j^é,
mento abstrato e não tangível, o trabalho é realmente pe- seria como se estivessijepímndo A^^íão^com os /pés, manten-
noso e, por isso, será preciso reunir uma série de fatores '"Hofl caheça ereta para assegurar o alongamento do corpo" (ver
complementares, além de bom material vocal, quais sejam: figura 1). Ao contrário, quando o corpo está na posição de
inteligência abandono, devido a curvatura da coluna vertebral e enco-
posiçãopara_aceit^ lhimento da gaiola torácica, diminui a capacidade respira-
Antes de começar as lições, o professor deve estar tória, predispondo a ausência do apoio vocal (ver figura 2).
cônscio de que o aluno está em boas condições psicológi- Nos primeiros meses, o aluno deverá fazer somen-
cas e intelectuais. O estado em que se encontra o órgão te vocalises preliminares com as vogais "i" e "ê" que, por
vocal é imprescindível, pois, em alguns casos, notamos que serem anteriores, facihtam o desenvolvimento da voz e são
o candidato é portador de alguma patologia, e é necessário, mais apropriadas para se encontrar o ponto focal dos res-
portanto, encaminhá-lo a um profissional especializado, soadores. Quando essas vogais já estiverem bem aponta-
para exames detalhados, a fim de salvaguardar a integri- das, trabalha-se com as posteriores "0^, "ô" e "u", que de-
dade do professor. vem ser sempre dirigidas ao mesmo ponto das anteriores,
Nas primeiras aulas, além dos conhecimentos bá- garantindo a uniformização de todas as vogais. É aconse-
. sicos de fisiologia, o professor deve esclarecer ao iniciante lhável moderar os exercícios, para que não se fixe na quan-
do canto os fundamentos da "respiração", exemplificando, tidade e sim na quahdade. Geralmente, a quaUdade sobre-
por meio de exercícios adequados, _a abertura das_costelas puja a quantidade, dependendo, logicamente, da orienta-
inferiores, participação dos músculosjntercostais e, sobre:: ção de um bom professor.
hido^;_do_^ jibdomjnais. Sendo iTrêspiração As consoantes também devem ser consideradas, le-
a base do canto, urge que o professorinsista nesse parti- vando-se em conta que as mesmas servem de trampolim
cular. O êxito da impostação dependerá, em grande parte, para projetarem as vogais. Alguns autores afirmam que se
do domínio da respiração para se cantar bem. articula com as consoantes e se canta com as vogais. O texto
Em seguida, esclarece-se ao aluno a importância torna-se inintehgível se as consoantes não forem bem-arti-
dos^ ressoadores,__do_prooed^ P^ra a descontração da culadas. A dicção, que é a arte de dizer, é produto de uma
laringe, do uso dos articuladores e tudo o mais que se faz perfeita articulação. Canta-se com a palavra, porque o canto
necessário para se conseguir uma emissão livre. é a extensão melódica da fala. A expressão acompanha a
voz ARTE LÍRICA A Prática Vocal 19

Fici:-^ 1 - A corrci;i postura, sóbria e ereta, porém descon- Figura 2 - Abandonar-se ao relaxamento do corpo dificulta a
tra..^'- facilita a emissão sonora e o caminhar no palco. F. emissão canora. A capacidade respiratória diminui pela ausên-
M.vi^^-iís Alexander [preconiza que esta postura elegante exer- cia do apoio abdominal.
cií.-.-;.-. diante do um espelho e estudada diariamente corrige
Os •.--•canismos doÍUIK ionamento vocal e respiratório. (Adap-
ta.i,- .-.o CD de Fril/. Wunderlich, 1965).
VOZ e. ARTE LÍRICA! A Prática Vocal
20 24
palavra, porque não se fala de amor e ódio com a mesma Toscanini (1867-1957) quais eram os meios que ele empre-
entonação. gava para decorar tantas partituras de orquestra. O gran-
o estudo do idioma italiano é de suma importân- de regente respondeu com a maior simplicidade: "decoro
/ c i a , por ser sonoro e pela valorização dos sons orais. É tam- com o coração".
bém importante por ser a língua makr do bel canto. Ou- Formadas essas concepções, o estudante precisa
tros idiomas devem ser igualmente estudados, pois é sem- ser alertado no que se refere à necessidade do aprendiza-
pre preciso saber o que se está dizendo, para se interpre- do da teoria musical e solfejo, pois se depreende que o can-
tar os textos com propriedade. tor desprovido desses conhecimentos dificulta o trabalho
Com a formação do ebco existente que liga o apara- dos pianistas repassadores e dos regentes de orquestras.
to respiratório e os ressoadores, forma-se a coluna sonora, Um cantor que não está preparado musicalmente dificil-
estabelecendo-se a união dos registros (veja capítulo 7, Re- mente conseguirá galgar um lugar de destaque entre os
gistro). O /exílio é de suma importância para se conseguir bons artistas. O aprimoramento musical define-se com a
refinamento no canto. Segundo a excelente soprano Rena- aplicação da dinâmica por ser esta a parte que trata da
ta Scotto: "o mesmo deve ser executado por cima das notas" diferença de intensidade. Enriquece o fraseado, dando be-
(Master Class, Pittsburgh, 1996) e não de outras formas leza e colorido a todo o trecho a ser cantado.
como entendem alguns orientadores vocais. Esse maravi- E na intensidade do som e em sua dinâmica que en-
lhoso refinamento, quando bem-delineado, demonstra o contramos o grau de força existente do som, que vai do mais
grau de potencialidade dos conhecimentos técnicos de um fraco ao mais forte. Durante o estudo, o aluno, por meio
cantor. Deve-se exercitar as escalas ascendentes e descen- de seu professor, aprenderá os indicadores para a devida
dentes, assim como os intervalos de terça, quintas, oitavas execução, estando as mesmas assinaladas nas partituras.
e nonas, seguidos do ataque, trinado, staccato, mezza voce No estudo do solfejo urge levar-se em conta o rit-
e demais vocalises, que enriquecem os harmónicos da voz, mo e a melodia. O sentido do ritmo e da métrica são im-
dando-lhe beleza, sonoridade, intensidade e ampUtude. portantes para se assegurar o cantar a tempo, levando-se em
O professor não deve jamais se impressionar com conta a pulsação cadenciada, como se fosse uma música
o volume da voz do aluno. Não existe voz grande e sim interna. A melódica serve para condicionar o ouvido à exa-
grandes vozes. Geralmente a riqueza não é sinal de boa ad- tidão das notas, seus intervalos e modulações.
ministração. Com o canto verifica-se o mesmo. Canta-se Após esse período, depara-se com um novo pano-
também com a_voz; é um antigo provérbio itaUano. rama, que deverá ser o estudo dos Métodos Vaccai, Conco-
Independentemente dos fatores já mencionados, o ne, Panofka ou Marchesi, por serem valiosos auxiliares do
cantor deve possuir boa memória, por ser um importante canto, pois foram estruturados por verdadeiros mestres
indicador. Memorizar ajuda o aluno a libertar-se da parti- dessa difícil arte, que conheciam a fundo todos os segre-
tura, evitando a dispersão, estando à disposição para pen- dos concernentes ao rendimento das vozes. Observa-se que
sar mais no mecanismo e, com isso, colher melhores resul- as primeiras lições são relativamente fáceis e adequadas a
tados. Certa vez, perguntaram ao insigne maestro Arturo um prinrini^ntp Nn àpcnvrp
VOZ e ARTE LÍRICA A Prática Vocal
22 23
vão-se apresentando, preparando os cantores para as comple- manter o equilíbrio do corpo e da cabeça, estabelecendo o
xidades que encontrarão nos diversos géneros de música. pé de apoio como um dos pontos de referência. Não pen-
O estudo das Arias Antigas, igualmente muito bem- sar em relaxamentos, pois essa atitude tende ao abando-
,> compostas, resultará em benefícios apreciáveis, bem como no. Cantar diante do espelho é o que leva ao condiciona-
os lieder alemães, canções francesas, compositores contem- mento do que acabamos de descrever.
'"^v porâneos e brasileiros, As árias de óperas devem ser acres- Por meio da assimilação, o cantor que entendeu as
centadas, obviamente, condizentes com as possibilidades regras da técnica vocal e as mecanizou cede espaço à ins-
de cada aluno. piração, que o levará ao rumo da boa interpretação.
As partituras devem ser minuciosamente estuda-
das. Luciano Pavarotti (em entrevista concedida ao jornal
O Estado de S. Paulo, 1997) afirma: "cjimido um cantor estu-
da uma ária, deve marcar quais os pontos mais importantes e
difíceis e se concentrar para cantá-los deforma clara. E por isso
que será preciso ensaiar cem vezes antes de cantá-la em públi-
co ". Deduz-se que se deverá repetir quantas vezes forem
necessárias, naturalmente com boa orientação, tirando van-
tagem da associação do conhecimento e da consciência.
Quando se está vendo um instrumento, o incenti-
vo para aprendê-lo é bem maior, porque está ao alcance de
todos. No aprendizado do canto, as situações são mais com-
plexas, por não serem tangíveis.fomente pela conscientiza-
_^_das_Lensjçêes ,é que se alcança o objetivo desejado.
Convencer-se de que se canta como se fala è a mais natu-^
ral maneira de se entender os princípios básicos da forma-
ção vocal.
O estudante que já possui predicados para se apre-
sentar em público, o que não deve acontecer prematura-
mente, obriga-se a estar tecnicamente seguro e musicalmen-
te preparado. Com esses requisitos evita-se, em grande
parte, o pânico ao se deparar com a plateia. A autoconfian-
ça, aliada a uma postura elegante, demonstra, no primeiro
contato, que se trata de um candidato a cantor que se pro-
pôs a encarar as situações com segurança e tranquilidade.
Pisar o palco com firmeza e determinação. Plantar-se para

Você também pode gostar