EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA __ VARA
FEDERAL DA CIRCUNSCRIÇÃO JUDICIÁRIA DE ______________ - ___.
ASSOCIAÇÃO _____________, associação civil de finalidade
social, sem fins lucrativos, de utilidade pública, em caráter suplementar às atividades do Estado, com sede a Rua ____________, nº ___, bairro ____________, CEP ______-___, na cidade de ____________, UF, inscrita no CNPJ sob nº _________, e-mail __________, vem, respeitosamente perante Vossa Excelência, por seu procurador, à presença de Vossa Excelência, propor:
AÇÃO CIVIL PÚBLICA, com PEDIDO DE LIMINAR (Tutela
Específica), Contra:
UNIÃO FEDERAL, representada por seu procurador que
poderá ser encontrado na ______________, nº ___, Bairro _______, ______________ ; ______________, representado por seu procurador que poderá ser encontrado na ______________, nº ___, Bairro _______, ______________ ;
___________________________________, representada por seu
representante legal que poderá ser encontrado a Rua ____________, nº ___, bairro ____________, CEP ______-___, na cidade de ____________, UF;
________________________ S.A., com sede a Rua ____________,
nº ___, bairro ____________, CEP ______-___, na cidade de ____________, UF, inscrita no CNPJ sob n. ___________; ______________ ___________S.A., com sede a Rua ____________, nº ___, bairro ____________, CEP ______-___, na cidade de ____________, UF, consoante os seguintes fundamentos de fato e de direito:
DOS FATOS
Trata-se de ação civil pública que visa discutir a
legitimidade da fixação de prazo de validade para a utilização dos créditos adquiridos pelos usuários do Serviço Móvel Celular (Pré-Pago), em vista dos princípios que regem o tema, notadamente o da continuidade da prestação do serviço público.
O sistema do Plano de Serviço móvel celular pré-pago
caracteriza-se pelo pagamento, por parte do usuário, previamente à utilização efetiva do serviço público ofertado.
O sistema funciona, por meio de cartões associados a valor.
As normas da ANATEL sobre o tema prejudicam
sobremaneira os direitos do consumidor, ferindo, ainda, o princípio da intervenção mínima do Poder Público, os benefícios são absurdos e favorecem apenas as concessionárias do serviço, em total prejuízo dos usuários/consumidores.
É cristalina a ilegalidade do referido sistema de telefonia.
O sistema supracitado afronta o princípio de que o valor
pago deve corresponder exatamente ao serviço prestado, seja público ou privado.
A abusiva restrição temporal imposta aos usuários do
sistema, equivale a obrigar o consumidor ao uso do serviço de telefonia móvel celular sem que haja necessidade, contrariando, assim, a essência do serviço público.
Os tribunais de todo o país estão decidindo como indevido o
corte de energia elétrica quando o usuário do serviço público está inadimplente. No presente caso a atitude das Rés é ainda mais execrável, pois vêm cancelando o serviço público ofertado ao sem aviso prévio e, pior, sem que estejam inadimplentes.
DO DIREITO
Os serviços de telefonia são relações de consumo, devemos
considerar como fornecedor a concessionária de telecomunicações, e os usuários são consumidores.
O serviço de telefonia é serviço público essencial,
subordinado ao princípio da continuidade, na forma do art. 22 do CDC, da mesma forma que os serviços públicos de energia elétrica e abastecimento de água, por exemplo[7].
A noção de serviço público mais moderna engloba o bem-
estar público e social, passando a se consubstanciar em uma obrigação atribuída ao Estado, sendo um dever e não um direito.
Vale frisar que a Portaria nº 03/99 da Secretaria de Direito
Econômico do Ministério da Justiça, reconheceu como serviço essencial o fornecimento de telefonia.
Vejamos o art. 22 e seu parágrafo único do Código de
Defesa do Consumidor: [...]"os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias, permissionárias ou sob qualquer outra forma de empreendimento, são obrigados a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais contínuos." O art. 4º do CDC estabelece a Política Nacional das Relações de Consumo, cujo objetivo é atender as necessidades dos consumidores, respeitando à sua dignidade, saúde e segurança, providenciando a melhoria de sua qualidade de vida, sempre com base na boa-fé e equilíbrio nas relações entre consumidores e fornecedores. (art. 4º, inc. III, do CDC).
A Constituição da República Federativa do Brasil, com
relação à prestação de serviços públicos, assim determina:
"Art. 175 - Incumbe ao Poder Público, na forma da lei,
diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, sempre através de licitação, a prestação de serviços públicos. Parágrafo único - A lei disporá sobre: [...] IV - a obrigação de manter serviço adequado."
A Lei n. 8.987/95, que dispõe sobre o Regime de Concessão
e Permissão da Prestação de Serviços Públicos previsto no art. 175 da Constituição Federal, estabelece em seu art. 6º, o seguinte:
[...] "toda concessão ou permissão pressupõe a prestação de
serviço adequado ao pleno atendimento dos usuários"[...]
Devemos salientar que, segundo a referida Lei:
[...]"não se caracteriza como descontinuidade do serviço a
sua interrupção em situação de emergência ou após prévio aviso, quando: motivada por razões de ordem técnica ou de segurança das instalações; e por inadimplemento do usuário, considerado o interesse da coletividade (art. 6º, § 3º, inc. I e II, da Lei n. 8.987/95).
Os cancelamentos do serviço público ofertado na área de
telefonia celular, modalidade pré-pago, não vêm ensejando prévio aviso, muito menos se legitimam em qualquer hipótese descrita em lei, pois não se caracteriza em situação de emergência ou inadimplemento do usuário/consumidor, tal condição portanto é avessa ao direito e ao mandamus da legislação em vigor.
E ainda, na Lei n. 9.074/95, que Estabelece Normas para
Outorga e Prorrogações das Concessões e Permissões de Serviços Públicos, diz que: [...] "Na aplicação dos artigos 42, 43 e 44 da Lei nº 8.987, de 1995, serão observadas pelo poder concedente as seguintes determinações: garantia da continuidade na prestação dos serviços públicos" (art. 3º, inc. I). Também como na Lei n. 9.472/97, que dispõe sobre a Organização dos Serviços de Telecomunicações, preceitua o seguinte:
[....] Art. 3º - O usuário de serviços de telecomunicações tem
direito: (...) VII - à não suspensão de serviço prestado em regime público, salvo por débito diretamente decorrente de sua utilização ou por descumprimento de condições contratuais;[...]
Ainda na mesma lei:
[...] Art. 79 - A Agência regulará as obrigações de universalização e de continuidade atribuídas às prestadoras de serviço no regime público. (...) § 2º Obrigações de continuidade são as que objetivam possibilitar aos usuários dos serviços sua fruição de forma ininterrupta, sem paralisações injustificadas, devendo os serviços estar à disposição dos usuários, em condições adequadas de uso."
É entendimento pacífico tanto na jurisprudência quanto na
doutrina que se a Administração não estiver cumprindo as obrigações básicas de adequação, eficiência, segurança e continuidade, o consumidor é legitimado para exigir na justiça o seu cumprimento. A título de complemento, vejamos como se manifesta a jurisprudência pertinente a matéria: (xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx)
Portanto, se depreende um único pensamento, o caráter
público dos serviços de telefonia obriga à reparação do dano moral causado pela LIMITAÇÃO ILEGAL do uso dos créditos adquiridos pelos usuários do serviço.
A situação é extremamente constrangedora pois a
concessionária de telefonia móvel procede o cancelamento do serviço prestado enquanto adimplente o usuário, ou, melhor dizendo, enquanto o usuário ainda possui créditos aptos para serem utilizados.
Como já dito, o serviço de telefonia é um serviço público
essencial. O seu cancelamento acarreta o direito de o consumidor postular sua continuidade em Juízo. Importa assinalar que tal medida judicial tem em mira a defesa de um direito básico do consumidor, a ser observado quando do fornecimento de produtos e serviços (relação de consumo), a teor do art. 6º, VI, X e art. 22 do CDC.
Abaixo transcrevemos a Norma 3/98 da ANATEL:
[...]"4.6 Prazo de Validade dos Créditos.
4.6.1 O usuário do Plano de Serviço Pré-Pago que: a. ativou o crédito, ou b. terminou o seu crédito, ou c. usou parcialmente o mesmo, terá, no mínimo, 90 (noventa) dias, contados a partir da ativação do crédito do serviço, para usar os seus créditos remanescentes ou inserir novos créditos. Após esse prazo, o serviço será bloqueado imediatamente para chamadas originadas. A partir desse bloqueio, o usuário do Plano de Serviço Pré-Pago terá mais, no mínimo, 30 (trinta) dias contínuos para receber chamadas, podendo ligar para a prestadora do SMC para ativar novos créditos. Após esses 30 (trinta) dias, o serviço será totalmente bloqueado para originar e receber chamadas, sendo permitido somente ligação para a prestadora do SMC para ativar novos créditos. Após mais, no mínimo, 30 (trinta) dias e completados, no mínimo, 150 (cento e cinquenta) dias da ativação dos créditos, o serviço será cancelado. 4.6.1.1 Sempre que o usuário do Plano de Serviço Pré-Pago adicionar créditos ao saldo existente, o novo saldo de crédito será revalidado por um novo período de, no mínimo, 90 (noventa) dias. 4.7 Nos Planos de Serviço Pré-Pagos podem ser oferecidos planos diferenciados contendo valores e estruturas próprias, destinados a segmentos específicos de usuários. 4.8 Os Planos de Serviço Pré-Pagos serão codificados para identificação dos mesmos junto à Agência Nacional de Telecomunicações."[...]
É flagrante a ilegalidade cometida pela ANATEL.
Mesmo aqueles que entendem e seguem o princípio do
intervencionismo mínimo, devem entender que os serviços prestados pelas concessionárias do poder público, como também as agências reguladoras devem obediência ao interesse coletivo.
Realmente, a norma editada pela ANATEL demonstra que
não possui nenhuma legitimidade, e que seu grau de distanciamento do interesse coletivo é absurdo, sem contar com sua incontestável ilegalidade e reflexa inconstitucionalidade.
A Norma n. 03/98 da ANATEL na realidade está praticando
autêntico retrocesso ao direito do consumidor, haja vista que o art. 22 do CDC afirma que os fornecedores de serviço essencial são obrigados a fornecer serviços adequados, eficientes e CONTÍNUOS.
As normas de proteção e defesa do consumidor são de
ordem pública e de interesse social, não podendo sua aplicabilidade ficar sujeita à vontade das concessionárias de serviços públicos ou do próprio Estado. DO PEDIDO
Diante do exposto, requer-se:
A concessão da antecipação da tutela liminarmente,
conforme art. 84, § 3º, do CDC, a fim de determinar que a ____________ TELECOM e ___________ CELULAR se abstenham de impor restrição temporal à utilização dos créditos ativados no sistema do plano de serviço móvel celular pré-pago de todos os usuários abrangidos pela Circunscrição Judiciária de ______________;
Que Vossa Excelência comine pena de multa diária em
valor a ser estipulado, na forma do § 4º, do art. 84, do CDC, em caso de descumprimento da liminar pleiteada;
Que Vossa Excelência determine ao Ministério Público
Federal para que, por seus órgãos competentes, fiscalize o exato cumprimento da decisão liminar, devendo, portanto, em caso de descumprimento por parte da ____________ TELECOM e ________ CELULAR, certificar e denunciar a este respeitável Juízo, a fim de que possam ser aplicadas penalidades cabíveis;
A devida intimação do Representante do Ministério Público
Federal para que acompanhe o feito, na qualidade de custos legis, até decisão final;
Que Vossa Excelência determine a citação dos Réus, para
que, querendo, apresentem resposta, sob pena da ocorrência dos efeitos da revelia;
Que Vossa Excelência julgue TOTALMENTE PROCEDENTE
a presente ação, confirmando a antecipação da tutela acima requerida, reconhecendo e declarando a ilegalidade da Norma nº 03/98 da ANATEL e determinando que ___________ TELECOM e ____________ CELULAR se abstenham de impor restrição temporal à utilização dos créditos ativados no sistema do plano de serviço móvel celular pré-pago;
Em caso de resistência aos pedidos a condenação dos Réus,
ao pagamento de honorários advocatícios, despesas processuais e custas judiciais.
Protesta provar o alegado por todos os meios admitidos pelo