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Obra: “DEUS”

Autor: Bruno Bertocco

AS FANTASIAS DO PENSAMENTO RELIGIOSO A RESPEITO


DAS VERDADES ESPIRITUAIS

Somente depois de ter chegado ao conhecimento da real


natureza do Universo Cósmico, pôde o ser humano perceber
evidentemente que Deus, Causa de toda existência, é
intelectualmente inconcebível. Também, enquanto não alcançar
primeiramente o reconhecimento de sua verdadeira natureza
intima, isto é. que realmente é um espirito incorporado num
invólucro material, de forma alguma poderá ele ir ao Seu
Encontro pelas vias da Espiritualidade.
Na senda da espiritualidade, são apresentadas ao neófito,
como base fundamental, instruções que o levam ao
reconhecimento do seu "Eu”, a verdadeira individualidade do ser
humano. Permanecerá ele no umbral do Templo da Ciência
Espiritual, enquanto não aprender esta primeira lição, a qual lhe
fornecerá os meios que o conduzirão ao encontro de si próprio,
experiência vivida, que o torna cônscio e convicto de que
realmente é uma entidade espiritual que vive independente do
corpo físico, realização, que obterá através da prática das
instruções recebidas do Mentor do plano imponderável.
Uma vez conquistada a primeira etapa do conhecimento
básico da verdade subjetiva, estará então o iniciado em
condições de prosseguir seus passos na estrada da super-
consciência.
Quando se fala em alma ou espírito, é preciso ter presente
que se trata de uma das idéias mais velhas que o ser humano
alimenta.
O pensamento da existência do espírito começou a ser
formulado desde que o homem despertou na consciência,

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portanto, por demais antigo, perdendo-se a sua origem na


voragem das idades.
Apesar de ser a idéia da existência do espírito
contemporânea à sua vida consciente, não tem a criatura
humana dela conhecimento esclarecido.
O grosso da Humanidade crê na existência do espirito, fala
do espirito como se fala das coisas de que se tem pleno
conhecimento, mas no entanto, estremece e fica apavorada,
quando se fala das suas manifestações e suas aparições.
Esta reação de medo que se produz na criatura humana em
tão somente pensar no caso de presenciar a visão de espírito de
uma pessoa que tenha deixado este mundo, mesmo que seja de
um ente querido, consiste no fato de que tal conhecimento não
ter realidade consciente e ser uma verdade que aceitou sem
nenhum fundamento experimental, por conseguinte, não possui
convicção de tal coisa.
Pensam no espírito, falam desta, também chamada alma do
corpo, porque assim aprenderam desde criança nos
ensinamentos das religiões, o que faz parte da crença geral que
cada religião administra aos seus fiéis. Porém, ter conhecimento
consciente, crer verdadeiramente que é um espírito encarnado
no corpo material e ter realmente convicção de sua intima
natureza espiritual, é uma exceção que se verifica raramente nos
meios religiosos.
Desde remotos tempos a Humanidade vem seguindo os
ensinamentos de suas religiões, com seus olhos voltados para
um Deus que a governa, "repreendendo-a", “castigando-a",
"galardoando-a”, e por ocasião da morte, fazendo "seus
despachos” para o céu, para o purgatório, ou para o inferno,
através de "seus emissários instituídos" aqui na Terra.

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Obra: “DEUS”
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Os grandes Mestres, os Mentores da Humanidade, que


foram surgindo concomitantemente às carências de ordem
evolutiva, eram espíritos preparados, de superado nível
evolutivo, em relação ao meio em que eram enviados.
A missão dos Mestres não foi a de instituir igrejas, de
estabelecer corpo de doutrina, repleto de obrigações e de
submissões a “concessionários do caminho do céu”, de fundar
dogmas para sustentar "mistérios impenetráveis”, de eleger
pontífices, representantes do Altíssimo, para serem venerados
pelos homens, mas. a de orientar a Humanidade com seus
ensinamentos espirituais, impulsionando-a para níveis mais
elevados.
Estes eminentes Guias, que foram verdadeiros fanais no seio
da Humanidade, através de seus ensinamentos, ressaltaram com
toda clareza que o caminho que conduz a criatura ao "céu" e a
estrada que a aproxima do seu Deus-Criador, é
incondicionalmente acessível somente por intermédio da própria
criatura humana.
Todos os ensinamentos que foram pregados à Humanidade
pelos verdadeiros Mestres da Espiritualidade, em sua essência,
soam em sintonia, estando seus princípios correspondentes em
perfeita harmonia de sentidos.
Todas as lições que foram administradas, giravam em torno
de pontos básicos: a existência da Essência fundamental da vida
— o Deus-Criador de todo o organismo cósmico: a existência de
uma imortal centelha espiritual, animadora do corpo físico: os
meios que levam cada um compreender o verdadeiro significado
da vida: as formas de solucionar os problemas da fenomenologia
hiperfísica: as regras do respeito recíproco entre os semelhantes
e do seu devido comportamento no seio da vida, enquadradas
nos elevados princípios de solidariedade e fraternidade humana:

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a orientação que transforma o estado de consciência, pré-


dispondo-a à venerar e adorar em espírito e em verdade, o
Supremo Princípio-Criador-Deus.
Pelo que se deduz, O Cristo foi o expoente máximo da
Espiritualidade, que passou pelo plano terráqueo, legando à
Humanidade ensinamentos filosóficos de uma sabedoria sem
precedente e uma sublime doutrina de amor.
Jesus pregava geralmente nas praças e nos campos. Foi
numa montanha que Ele proferiu o seu extraordinário e excelso
Sermão, cuja contextura, de iniqualável e insuperável riqueza
extraterrena, foi a mais preciosa dádiva que a Humanidade
recebeu. É ele uma verdadeira constelação de luzes que brilham
com intenso fulgor, orientando e guiando a todo viajor de boa
vontade. Ê também ele uma catadupa de água viva que sacia os
sedentos de amor, verdade e justiça, e não mais sentirão sede os
que dela beberem. E como transcendental figura, no seu
conjunto transparece também, simbolicamente, as
características de maravilhosas e exóticas flores, que se
conservam ainda nos dias de hoje, inalteradas como as verdades,
com todo o frescor da eternidade e com toda esplendorosa
beleza da perfeição a recender o inconfundível perfume do
Divino Amor, o qual atua célico poder de encantamento
espiritual, extraordinária influência que opera a conversão dos
sentimentos de todos os que delas se aproximarem.
Estas jóias da espiritualidade são de inestimável valor, cujo
cintilar, deslumbra e arrebata os que vão despertando do
indiferente e passivo estado da vida comum e vão abrindo seus
olhos para ver o lado extraordinário da vida real.
Na verdade, os que decididamente se esforçam para se
elevarem, locupletando-se com os valores das somas auferidas
da revelação do verdadeiro sentido das profundas e

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extraordinárias parábolas e das elevadas e preciosas máximas do


Evangelho, suas auras ficarão suntuosamente ornamentadas e
molduradas com belas nuances de luz; suas almas ficarão
invulneravelmente agasalhadas com as alvas vestiduras das
forças do bem. e dia chegará que se tornarão resplandecentes
como formosas estrelas, a ostentar as verdadeiras insígnias da
elevada nobreza espiritual.
Todavia, é preciso lembrar as dificuldades por que passaram
os Grandes Enviados, na pregação das “boas novas", pela
resistência encontrada por parte dos sustentadores dos
preconceitos das religiões, então reinantes.
Por esses embaraços se viu cercado o Mestre Jesus. Pois
que. desde o início de sua missão, foi perseguido pelos judeus
israelitas. Eram tais as circunstâncias criadas pelos observadores
da Lei e dos Profetas, que não lhe era possível falar abertamente
sobre os seus novos ensinamentos de filosofia e moral.
Falou o Cristo: "Não cuideis que vim destruir a Lei ou os
Profetas: não vim abrogar, mas cumprir. " ( Mat. 5:17). E
continuou mencionando muitos dos pequenos mandamentos,
dizendo: “ouvistes que foi dito aos antigos, e. eu, porém vos
digo", etc.. Como por exemplo, na citação do "olho por olho e
dente por dente", ele disse: "não resistais ao mal: mas. se
qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a outra”.
H no caso da mulher que foi apanhada em adultério (João,
8:2 a 21), foi Jesus interrogado a respeito de sua decisão, pois
teria Ele que aprovar que fosse apedrejada, segundo a Lei de
Moisés, ou desaprovar a Lei. dizendo que não o fizessem. Mas,
Jesus, com sua profunda sabedoria e com seus elevados
princípios de amor, confundiu os escribas e phariseus que
queriam pega-lo em contradição para o acusar, dizendo: "aquele

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que d’entre vós está sem pecado seja o primeiro que atire a
primeira pedra contra ela"
O mesmo sucedeu com a transgressão da guarda do sábado,
com o feito da expulsão de "demônios" (espíritos atrasados),
com a conversa que manteve em particular com Nicodemos etc..
Enfim, Jesus sempre justificava suas ações com argumentação
lógica, e as coisas que se prendiam a filosofia religiosa e os fatos
que se relacionavam à filosofia cientifica, Ele sempre esclarecia
tudo com bases fundamentadas, sem, contudo tratar
explicitamente do assunto. Em face da atitude adversa do
pensamento preconcebido dos religiosos, do formalismo dos
sectários, das consciências retardadas que alimentavam as
"veneráveis tradições", e mesmo da falta de preparo e
predisposição de certos indivíduos (para não chocar as
consciências e evitar transformações bruscas do estado mental
de certas criaturas: "ninguém deita remendo de pano novo em
vestido velho, por que semelhante remendo rompe o vestido,
faz-se maior o rasgão: Mat. 9:16). Jesus contornava as
circunstâncias sabiamente e falava sobre os pontos essenciais
dos seus ensinamentos, dissimulando o seu verdadeiro sentido.
São estas as razões por que muitas das verdades da sua
luminosa filosofia, foram apresentadas por parábolas e
revestidas com figuras.
Foi diminuta a parte dos que compreenderam o verdadeiro
significado da doutrina de Cristo. A maior parte não pôde
entender. E não tardou muito, com a partida dos mais chegados
(apóstolos e discípulos), tudo se foi desvirtuando.
Com o tempo, aquele corpo de doutrina simples, que
consistia unicamente na auto-educação das criaturas (que visava
melhorar suas condições evolutivas ) transfigurou-se, perdendo
completamente o seu aspecto. Formou-se um corpo de doutrina

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com jerarquias humanas, fundido com outras ideologias,


criando-se fantasias em torno das verdades, o que originou a
fundação de dogmas e a introdução de rituais.
Os Mestre em missão deixaram à Humanidade sua lição. Os
que puderam alcançá-la, esforçaram-se para viver de acordo com
os ensinamentos recebidos, e os que não estavam preparados,
confundiram o Mestre enviado com Aquele que o enviou, e
interpretaram o preparo e o esforço dos que se elevaram acima
dos meios da vida ordinária, como um galardão "do céu", que é
dado a certas criaturas "distinguidas" pelo Criador.
Os Mestres em missão deixaram à Humanidade sua lição,
verdades e se esforçaram para seguir verdadeiramente as
pisadas do Mestre foram santificados; e os homens passaram a
venerar e adorar seres humanos, representantes da Divindade.
A crença religiosa hodierna está ainda estribada na religião
do passado. Tem sua raiz ligada no terreno da crença antiga, a
tendência que o religioso ainda possui de eleger "seus santos e
suas santas" como patronos e patronas deste ou daquele lugar,
como protetores de classes de pessoas, como intermediários de
certas realizações importantes, etc..
É a velha bagagem religiosa que imprime este atavismo de
crença. São os restos da seiva das ideologias do antanho que
circulam nas raízes que alimentam o tronco das religiões
hodiernas, reproduzindo as vetustas características do
aconchego protetor dos gênios das mitologias. Tem também
suas raízes presas no terreno das velhas crenças, certas práticas
das religiões de hoje. Há semelhança com os costumes dos
credos de remotas épocas, as oferendas, as promessas feitas aos
"santos" das correspondentes seitas de nossos dias. A promessa,
o voto. que é sempre condicionada ao oferecimento de uma vela
ou outra coisa qualquer, não passa de um acordo que o crente

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estabelece com o seu “santo protetor", para receber um favor,


para a realização de um "milagre”, para ser ajudado na obtenção
de qualquer coisa, o que traduz a intenção de reconhecimento,
de querer pagar ou de fazer permuta.
O sentimento de crença (com todo o seu cortejo de idéias
fantásticas), gerado pelo corpo de pensamentos, estruturado
pelas ideologias humanas, quando, por influência de uma nova
crença abraçada, mesmo que seja ela fundamentada em
princípios de ordem superior, não sofre uma transformação
radical, e, é afetado somente de forma parcial, nele se produz
apenas um efeito relativo, causando somente um refinamento
do sentimento da velha ideologia, que se funde com o
sentimento dos novos princípios, em virtude das superficiais
modificações que se efetuaram nos antigos preceitos,
ministrados no passado, que a consciência alimenta.
E isto se verifica também nos meios da Doutrina Espiritual.
Muitos dos que são levados ao campo do espiritualismo cm
busca de algo. depois de fracassadas todas as tentativas dos
outros meios, e obtêm o que almejavam, evidentemente passam
a aceitar a nova doutrina, tornando-se adeptos do Espiritismo,
sem, contudo, abandonar a religião que receberam por herança,
já na infância. Assim se explica porque certas pessoas, que, por
fôrça das circunstâncias, são levadas à prática da fenomenologia
espiritual, e entretanto, conservam muitas das coisas que dizem
respeito à prática da crença seguida anteriormente. Situação que
pode durar pouco tempo, muito tempo, ou a vida toda da
presente encarnação, dependendo do grau evolutivo do
indivíduo.
É por esta razão que muitas pessoas com faculdades
espirituais desenvolvidas e já militantes na parte experimental,
sentem ainda necessidade de debruçar-se diante de um altar, e
chegam até mesmo erigi-los em suas próprias casas. Tem a

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mesma explicação, a incoerência constatada em certos centros


de trabalhos do Espiritismo, pela presença de imagens de "santas
e santos”, pertencentes às religiões que os dirigentes e
presidentes antes seguiam, e que alguns, parcialmente ainda
seguem.
Também por falta do devido esclarecimento (acanhada
evolução espiritual), outros com faculdades psíquicas
desenvolvidas, usam-nas exclusivamente para fins de seus
interesses materiais, fazendo desses elevados princípios um
verdadeiro comércio, se bem que as forças (entidades
espirituais) por eles movimentadas (com eles em contacto) são
de baixo nível de entendimento, isto é, estão em afinidade
evolutiva.
De um modo geral, quando a criatura não está
suficientemente preparada e não possui ainda um certo grau de
desenvolvimento em relação às coisas espirituais, a mudança de
religião é temporária, tornando a adotar nova crença, desde
que, em determinadas circunstâncias, por razões particulares,
seja influenciada por pensamentos de fundo religioso, que se lhe
afiguram mais persuasivos em relação a sua obdiência "às ordens
e à vontade” de Deus.
Assim tais criaturas permanecem movimentando-se na
periferia das Verdades Espirituais, até chegar o dia que lhes seja
possível realmente compreender o profundo sentido que
encerra o caminho espiritual, e a sua unidade fundamental.

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