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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

Número do 1.0024.19.118878-8/001 Númeração 1188788-


Relator: Des.(a) Henrique Abi-Ackel Torres
Relator do Acordão: Des.(a) Henrique Abi-Ackel Torres
Data do Julgamento: 16/12/2021
Data da Publicação: 24/01/2022

EMENTA: APELAÇÃO CRIMINAL - TRÁFICO DE DROGAS - RECURSO


DEFENSIVO - DESCLASSIFICAÇÃO DA CONDUTA PARA O PORTE PARA
CONSUMO PESSOAL - NECESSIDADE - INSUFICIÊNCIA DE PROVAS
ACERCA DA DESTINAÇÃO MERCANTIL DO ENTORPECENTE - IN DUBIO
PRO REO - ISENÇÃO DE CUSTAS - INVIABILIDADE - SUSPENSÃO DA
EXIGIBILIDADE DO PAGAMENTO - MATÉRIA ATINENTE AO JUÍZO DA
EXECUÇÃO. Diante da insuficiência de provas quanto à destinação mercantil
do entorpecente apreendido, afigura-se inviável a confirmação da
condenação do agente pela prática do crime de tráfico de drogas, conforme
determina o artigo 386, VII, do Código de Processo Penal. Por certo, a mera
suspeita, por mais forte que seja, não é apta a embasar eventual
condenação, sob pena de flagrante violação ao princípio constitucional do in
dubio pro reo. Se a natureza e a quantidade da substância apreendida, bem
como o local e as condições em que se desenvolveu a ação demonstram que
a droga apreendida destinava-se a consumo pessoal, impõe-se a
desclassificação para a infração inserta no artigo 28 da Lei de Drogas. É
incabível a isenção de custas, sendo possível apenas a suspensão da
exigibilidade do pagamento, cujo pleito deve ser formulado perante o Juízo
da Execução.

APELAÇÃO CRIMINAL Nº 1.0024.19.118878-8/001 - COMARCA DE BELO


HORIZONTE - APELANTE(S): RONALD WENDEL FARIAS SILVA -
APELADO(A)(S): MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a 8ª CÂMARA CRIMINAL do Tribunal de


Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata

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dos julgamentos, em DAR PROVIMENTO AO RECURSO.

DES. HENRIQUE ABI-ACKEL TORRES

RELATOR

DES. HENRIQUE ABI-ACKEL TORRES (RELATOR)

VOTO

Trata-se de Apelação Criminal interposta por RONALD WENDEL FARIAS


SILVA contra a respeitável sentença de fls. 129/131v, proferida pelo MM. Juiz
de Direito da 3ª Vara de Tóxicos, Organização Criminosa e Lavagem de
Bens e Valores da Comarca de Belo Horizonte/MG, que julgou procedente a
pretensão acusatória e condenou o réu, pela prática do crime previsto no art.
33, caput, da Lei nº 11.343/06, à pena de 07 (sete) anos de reclusão, a ser
cumprida em regime inicial fechado, e de 700 (setecentos) dias-multa, no
mínimo valor unitário.

Foram negados os benefícios dos arts. 44 e 77 do Código Penal (CP),


mas concedido o direito de recorrer em liberdade.

De acordo com a exordial acusatória, em 13/10/2019, por volta de


22h51min, o denunciado trazia consigo e mantinha sob guarda, para fornecer
a terceiros, 06 (seis) porções de maconha e 14 (quatorze) porções de
cocaína, drogas que determinam dependência física ou psíquica, agindo sem
autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar.

A denúncia foi recebida em 19/02/2020 (fls. 107/107v).

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Concluída a instrução criminal, foi proferida a sentença de fls. 129/131v,


publicada em 02/02/2021.

Inconformado, o sentenciado interpôs Apelação à fl. 136 e, nas razões


recursais de fls. 138/145, a combativa Defensoria Pública pugna pela
desclassificação da conduta do apelante para a infração do art. 28 da Lei nº
11.343/06. Subsidiariamente, requer a redução da pena-base aplicada. Pede,
ainda, a isenção das custas processuais.

Contrarrazões ministeriais às fls. 146/150, pelo conhecimento e


desprovimento do recurso defensivo.

A douta Procuradoria-Geral de Justiça, por meio do parecer de fls.


156/162, opina pelo conhecimento e parcial provimento do apelo defensivo,
para que seja diminuída a pena-base aplicada ou modulado o seu grau de
exasperação.

É o breve relatório.

ADMISSIBILIDADE

Presentes os pressupostos legais de admissibilidade e processamento,


conheço do recurso.

MÉRITO

Inicialmente, destaco que nenhuma dúvida se apresenta acerca da


materialidade e autoria delitivas, mesmo porque a irresignação recursal
defensiva cinge-se à finalidade da droga apreendida, de modo que, por
entender que o entorpecente se destinava a consumo pessoal, a combativa
Defensoria Pública requer seja desclassificada a conduta do apelante para a
infração prevista no art. 28 da Lei nº

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11.343/06.

Analisando detidamente os autos, entendo que merece ser acolhida a


pretensão recursal defensiva.

Narra a denúncia que:

"[...] Na ocasião, os policiais militares avistaram o denunciado Ronald na


companhia de Davi Medeiros da Silva, em local de mercancia de
entorpecentes, tenho efetuado abordagem dos suspeitos.

Submetidos a busca pessoal, constatou-se que o denunciado Ronald trazia


consigo, entre os dedos do pé, 04 pinos de cocaína, a quantia de R$50,00 e
um aparelho celular e, em posse de Davi, a quantia de R$44,00 e um
aparelho celular.

Em buscas no local, com auxílio de cão farejador, foram localizados 10 pinos


de cocaína, semelhantes ao apreendido com Ronald, e 06 (seis) buchas de
maconha.

Importante ressaltar que o denunciado e Davi Medeiros são conhecidos no


meio policial pelo envolvimento com o tráfico de drogas, frequentemente
vistos nas adjacências da boca de fumo onde foram abordados. [...]" (fl. 03-
D).

Para verificar se a droga destinava-se a consumo próprio, o art. 28, §2º,


da Lei nº 11.343/06 estabelece que "o juiz atenderá à natureza e à
quantidade da substância apreendida, ao local e às condições em que se
desenvolveu a ação, às circunstâncias sociais e pessoais, bem como à
conduta e aos antecedentes do agente". Impõe-se, pois, a análise de toda a
prova coligida aos autos.

O autor, na fase investigatória, disse que:

"[...] estava na Rua Principal sozinho e os policiais chegaram, realizando a


abordagem; QUE com o conduzido foi encontrado 04 pinos contendo
substância semelhante a cocaína, que estavam em seu

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pé, pois os soltou no chão; QUE também estava de posse de R$50,00 e seu
celular Samsung; QUE perguntado respondeu que quando os militares
chegaram, havia parado para conversar com o conduzido DAVI; QUE ambos
foram abordados; QUE alega que não conhecia o conduzido DAVI; QUE
alega que adquiriu os pinos de cocaína naquela favela, de pessoa que não
conhecia; QUE não comprou os pinos com DAVI; QUE pagou a quantia de
R$10,00 em cada pino e que eram para seu uso; QUE o dinheiro que estava
com o conduzido é de sua propriedade e que recebeu R$550,00 quando saiu
da cadeia, em maio deste ano e estava guardando; QUE mora perto do local
onde foi abordado; QUE informa que os militares encontraram as demais
substâncias entorpecentes em um beco que fica nas proximidades do local
onde foram abordados, não sabendo precisar a distância; QUE nega
envolvimento no tráfico de drogas; QUE mora com sua mãe e tem um filho
de 03 anos que mora com a mãe e não tem problemas de saúde; QUE não
se encontra lesionado fisicamente. [...]" (fl. 06).

Em juízo (mídia audiovisual de fl. 119), voltou a afirmar que as quatro


porções de cocaína, de sua propriedade, foram adquiridas em outro local e
destinavam-se a consumo próprio. Afirmou que foi abordado juntamente com
Davi, sendo que os policiais militares encontraram outras drogas no local,
que não lhe pertenciam.

O policial militar Leimarque da Silva Júnior, condutor do flagrante, relatou,


perante a autoridade policial, que:

"militares abordaram os conduzidos RONALD WENDEL FARIAS SILVA e


DAVI MEDEIROS DA SILVA, que estavam em local conhecido como ponto
de venda de entorpecentes; QUE os conduzidos são conhecidos pelos
militares pelo envolvimento com o tráfico de drogas; QUE em busca pessoal
foi localizado com RONALD a quantia de R$50,00, um aparelho celular da
marca Samsung e entre os dedos do seu pé, foi localizado um invólucro
plástico contendo 4 microtubos de substância semelhante à cocaína; QUE
com o conduzido DAVI foi localizada a quantia de R$44,00 e um aparelho
celular da marca Motorola; QUE por ter conhecimento do modus operandi
dos suspeitos, os militares realizaram varredura, nos becos próximos, com o
apoio da Rocca o

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cão farejou e localizou mais 10 microtubos de substância semelhante a


cocaína, sendo que 7 destes microtubos apresentavam as mesmas
características dos encontrados com RONALD, e foram localizados também
6 buchas de substância semelhante à maconha; QUE estes materiais foram
encontrados juntos, no mesmo invólucro, próximo a um mato nas
proximidades da garagem de uma residência, cerca de 30 metros de onde os
conduzidos foram abordados; QUE perguntado respondeu que os
conduzidos foram abordados juntos, já que um conversava com o outro
quando os militares chegaram; QUE mais ninguém foi abordado no local dos
fatos [...]." (fl. 02).

Sob o crivo do contraditório (mídia audiovisual de fl. 119), o policial militar


Fernando Ferreira dos Santos ratificou o teor do histórico do boletim de
ocorrência, frisando que o local em que ocorreu abordagem é conhecido pelo
intenso tráfico de drogas que lá ocorre. Pontou que, quando da passagem da
guarnição pelo local, o apelante mostrou-se inquieto, razão pela qual foi
abordado juntamente com Davi.

Ressaltou que, com Ronald, foi localizada quantia, aparelho celular, além
de porções de cocaína, que estavam entre os dedos de seu pé. Asseverou
que o restante dos entorpecentes apreendidos foi localizado por cão
farejador, não se recordando o depoente do local exato em que tais
substâncias ilícitas se encontravam, tampouco a distância em relação ao
ponto em que ocorreu a abordagem.

Perguntado, respondeu que o recorrente é conhecido no meio policial,


por fazer parte da "gangue dos ratos". Ressaltou, por fim, que não foi
realizada monitoração prévia e que não foram abordados usuários na
ocasião.

A policial militar Danubia Narciso da Silva, na fase judicial (mídia


audiovisual de fl. 119), informou que Ronald permaneceu preso por um
período e, depois, passou a ser visto com frequência em ponto de venda de
drogas localizado no Morro do Papagaio. Salientou que, diante da suspeita e
do anterior envolvimento do autor no tráfico de drogas, a guarnição o
abordou e, em busca pessoal, encontrou

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algumas porções de cocaína.

Afirmou que as porções de maconha apreendidas estavam logo à frente


do beco em que ocorreu abordagem, a cerca de sete metros de distância do
agente, não sabendo a depoente precisar o local em que as demais porções
de cocaína foram encontradas.

Pois bem.

Conforme se depreende dos autos, foram encontradas, com o apelante,


entre os dedos de seu pé, quatro porções de cocaína, enquanto os demais
entorpecentes apreendidos (dez porções de cocaína e seis porções de
maconha) foram localizados por cão farejador.

Acerca da distância entre o local da abordagem de Ronald e o ponto em


que foram encontrados os demais entorpecentes, há divergências entre os
depoimentos colhidos. O policial militar Leimarque da Silva Júnior, condutor
do flagrante, afirmou, na fase de inquérito, que a distância equivaleria a 30
(trinta) metros, enquanto a castrense Danubia Narciso da Silva frisou,
perante a autoridade judicial, que as porções de maconha estavam a cerca
de 07 (sete) metros do recorrente.

Não suficiente, embora Leimarque tenha asseverado que todas as


substâncias ilícitas encontradas pelo cão farejador estavam em um mesmo
invólucro, Danubia salientou que as porções de cocaína e de maconha
estavam separadas, sabendo ela precisar apenas o local dessas últimas.

Diante de tais inconsistências, não é possível atribuir a propriedade das


substâncias ilícitas encontradas pelo cão farejador ao recorrente, ainda que
considerado que algumas delas apresentavam características similares às
porções apreendidas com Ronald, como sustentado pelos policiais militares.

Ora, a abordagem ocorreu em local conhecido como ponto de

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venda de drogas, não sendo possível concluir dos elementos dos autos que
os demais entorpecentes apreendidos pertenciam ao apelante, e não a um
terceiro.

Esclarecido tal ponto, resta apenas apurar a finalidade das quatro


porções de cocaína, encontradas com o autor.

A quantidade é, sem dúvidas, compatível com uso. A abordagem policial


não decorreu de notícia-crime específica e, em que pese a substância ilícita
pertencer a Ronald, não foram apreendidos quaisquer apetrechos próprios
do narcotráfico, além de que a quantia encontrada em poder do agente,
assim como ocorre com a quantidade da droga, é diminuta. Ademais, não
houve monitoramento prévio, sendo certo que os castrenses não avistaram
qualquer movimentação típica da traficância, não bastando, para a
condenação, a alegação de que o local é conhecido como ponto de venda de
drogas.

Não se desconhece que os depoimentos dos policiais devem ser


considerados idôneos e capazes de embasar uma condenação, porém, neste
caso, entendo que o teor deles não é capaz de indicar a destinação mercantil
da substância ilícita.

Ressalto ainda que, em que pese os militares afirmarem que Ronald é


conhecido pelo envolvimento no tráfico de drogas, não consta, na CAC de fls.
70/71, qualquer outro registro pela suposta prática do citado crime.

Com efeito, entendo que não há provas suficientes acerca da finalidade


mercantil do entorpecente apreendido com o autor, de maneira que não é
possível admitir eventual condenação pelo crime de tráfico de drogas, sob
pena de flagrante violação ao princípio do in dubio pro reo, previsto no art. 5º,
LVII, da Constituição da República.

Por certo, a mera suspeita, por mais forte que seja, não é apta a
fundamentar eventual condenação.

Sobre o tema, ensina Sérgio Rebouças (2017, p. 114 e 115):

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"De acordo com a segunda vertente do princípio do estado de inocência, por


sua vez, a garantia impõe que o ônus probatório quanto à materialidade e à
autoria do fato recaia inteiramente sobre o acusador. Cuida-se da regra de
julgamento, ou regra probatória, segundo a qual só a prova cabal e
inequívoca, pelo acusador, dos fatos constitutivos de responsabilidade penal
poderá elidir o estado de inocência do imputado. Nessa perspectiva, tem-se
que o princípio in dubio pro reo emana precisamente, em última análise, da
regra probatória da garantia do estado de não culpabilidade." (REBOUÇAS,
Sérgio. Curso de Direito Processual Penal. Salvador: Juspodivm, 2017, p.
114 e 115).

Destarte, entendo que o Ministério Público, enquanto parte, não cumpriu


com o ônus probatório que lhe incumbia, de forma que se impõe a
desclassificação da conduta do agente para a infração prevista no art. 28,
caput, da Lei nº 11.343/06.

Sobre essa subsunção, muito embora o entendimento deste Relator seja


no sentido de que pairam dúvidas sobre a constitucionalidade do art. 28 da
Lei nº 11.343/06, nos moldes do voto proferido pelo eminente Ministro Gilmar
Mendes, em sede do RE 635.659, o posicionamento jurisprudencial em vigor
é no sentido da sua constitucionalidade.

Ora, ainda que o supracitado Recurso Extraordinário esteja sob a


sistemática da repercussão geral, seu julgamento ainda não se encontra
concluído. Assim, em atenção ao art. 97 da Constituição da República, e ao
art. 297, §1º, do Regimento Interno deste egrégio Tribunal de Justiça,
somente após decisão final do Supremo Tribunal Federal é que se pode,
eventualmente, analisar o tema.

Diante da reincidência do autor, não se revela possível a aplicação do


instituto despenalizador previsto no art. 89 da Lei nº 9.099/95. Logo, e em
observância às diretrizes do art. 28 da Lei nº 11.343/06, estabeleço, em
desfavor do apelante, a medida de prestação de serviços à comunidade, pelo
prazo de 05 (cinco) meses, conforme

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condições que serão estabelecidas pelo Juízo da Execução.

Por derradeiro, considero incabível a isenção de custas requerida na


peça recursal, sendo possível, apenas, a suspensão da exigibilidade do
pagamento, conforme determina o art. 98 do Código de Processo Civil.

O beneficiário da gratuidade de Justiça fica obrigado ao pagamento dos


ônus de sucumbência, aí incluídas as custas, cuja exigibilidade, no entanto,
resta suspensa pelo prazo de 05 (cinco) anos, contados do trânsito em
julgado da condenação, findo o qual, subsistindo a situação de
hipossuficiência do condenado, a correlata obrigação será extinta.

Nesse sentido, já decidiu o egrégio Supremo Tribunal Federal, conforme


se observa abaixo:

"[...] 1. De acordo com a jurisprudência do STF, as custas dos serviços


forenses se dividem em taxa judiciária e custas em sentido estrito.
Precedentes. 2. O art. 12 da Lei 1.060/50 foi recepcionada quanto às custas
processuais em sentido estrito, porquanto se mostra razoável interpretar que
em relação às custas não submetidas ao regime tributário, ao "isentar" o
jurisdicionado beneficiário da justiça gratuita, o que ocorre é o
estabelecimento, por força de lei, de uma condição suspensiva de
exigibilidade. [...]" (STF - RE 249.003 ED, Relator(a): Min.(a) Edson Fachin,
TRIBUNAL PLENO, julgamento em 13/12/2012, publicação da súmula em
06/02/2013).

Ademais, o Órgão Especial deste egrégio Tribunal de Justiça declarou,


no julgamento da AI 1.0647.08.088304-2/002, a inconstitucionalidade do art.
10, II, da Lei nº 14.939/03, que era amplamente utilizada como base legal
para o pedido e deferimento da isenção das custas.

Isso posto, o pleito de gratuidade de Justiça deve ser formulado perante


o Juízo da Execução, pois é possível a alteração financeira do apenado entre
a data da condenação e a execução do decreto

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condenatório.

Não é outro o entendimento do egrégio Superior Tribunal de Justiça:

"AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. ASSISTÊNCIA


JUDICIÁRIA GRATUITA. HIPOSSUFICIÊNCIA. JUSTIÇA GRATUITA.
DESPESAS PROCESSUAIS. SUSPENSÃO. EXIGIBILIDADE. JUÍZO DA
EXECUÇÃO. AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO.

1. É devida a condenação do réu, ainda que beneficiário da justiça gratuita,


ao pagamento das custas processuais, cuja exigibilidade poderá ficar
suspensa diante de sua hipossuficiência, nos termos do art. 98, § 3º, do
CPC.

2. Não é possível em recurso especial analisar o pedido de justiça gratuita


que visa suspender, desde já, a exigibilidade do pagamento das despesas
processuais, uma vez que o momento adequado de verificação da
miserabilidade do condenado, para tal finalidade, é na fase de execução,
diante da possibilidade de alteração financeira do apenado entre a data da
condenação e a execução do decreto condenatório.

3. Agravo regimental não provido." (AgRg no REsp 1.699.679, Relator(a):


Min.(a) Rogerio Schietti Cruz, SEXTA TURMA, julgamento em 06/08/2019,
publicação da súmula em 13/08/2019).

Rejeito, pois, a pretensão recursal de isenção de custas, devendo o


pedido de suspensão da exigibilidade do pagamento ser dirigido ao Juízo da
Execução.

DISPOSITIVO

Diante do exposto, DOU PROVIMENTO AO RECURSO, para


desclassificar a conduta atribuída a Ronald Wendel Farias Silva para aquela
prevista no art. 28 da Lei nº 11.343/06, ressalvado o meu

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entendimento pessoal sobre a sua atipicidade, aplicando-lhe medida de


prestação de serviços à comunidade, pelo prazo de 05 (cinco) meses,
conforme condições que serão estabelecidas pelo Juízo da Execução.

Deixo de comunicar a presente decisão ao Juízo da Execução, nos


termos do art. 1º, parágrafo único, da Resolução CNJ nº 113/10 (com a
redação dada pela Resolução CNJ nº 237/16), em razão de ter sido
concedido ao apelante o direito de recorrer em liberdade, encontrando-se
solto nestes autos, não havendo, assim, execução provisória em tramitação
na origem a ser atualizada.

Custas na forma da lei.

É como voto.

DESA. MÁRCIA MILANEZ (REVISORA) - De acordo com o(a) Relator(a).

DES. DIRCEU WALACE BARONI - De acordo com o(a) Relator(a).

SÚMULA: "DERAM PROVIMENTO AO RECURSO"

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