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Biografia de Martins Pena

Luís Carlos Martins Pena nasceu em 5 de novembro de 1815 no


Rio de Janeiro e ficou órfão de pai com apenas 1 ano. Seu pai era
desembargador, entretanto não possuía muitos bens. A mãe se
casou pela segunda vez com um militar, mas quando ele tinha
apenas 10 anos, ela faleceu no parto de sua segunda filha. O
padrasto deixou sua criação nas mãos de tutores que o
encaminharam para uma carreira comercial.

Se formou em comércio em 1835, a partir daí começou a dar voz a


sua vocação e ingressou na Academia Imperial de Belas Artes
onde estudou Arquitetura, Estuário, Desenho e Música e
dedicou-se também ao estudo de História, Literatura, Línguas e Teatro.

Motivado em criar um teatro tipicamente brasileiro, ele decidiu escrever peças utilizando a
comédia de costumes, onde através de sátiras era possível realizar uma crítica à moral e
aos problemas da época, além disso ele era um ótimo criador de perfis, dando um tom
caricato aos seus personagens ao enfatizar suas peculiaridades.

Escreveu peças de fácil compreensão já que a maior parte da população era analfabeta,
fez isso para que a cultura do teatro fosse ampliada, e não fosse frequentada somente por
membros da elite como era de costume.

Em 1838 tornou-se funcionário público e entrou no Ministério dos Negócios Estrangeiros.


Neste mesmo ano sua peça “O Juiz de Paz na Roça” estreou no Rio de Janeiro pela
primeira vez.

Um dos maiores apoiadores de Martins Pena foi o ator e empresário teatral mais
importante da época, João Caetano. Foi um grande impulsionador da profissionalização do
teatro brasileiro e o primeiro a encenar “O Juiz de Paz na Roça”, apresentado no Teatro de
São Pedro de Alcântara, pela companhia de teatro João Caetano. A peça satiriza os
costumes rurais dos pequenos proprietários, os personagens de Martins eram um retrato
das pessoas da sociedade carioca rural e urbana do início do século XIX. Mostrou através
da comédia a realidade de um país atrasado no momento em que se consolidava o
movimento romântico no Brasil.

A peça foi pioneira no Brasil no gênero comédia de costumes, fazendo com que ele
ganhasse fama de Molière Brasileiro (um apelido que o comparava com Jean-Baptiste
Poquelin, conhecido artisticamente como Molière, um francês considerado o criador da
comédia de costumes no século XVII), entretanto, inicialmente, ele não assinou a peça por
medo disso influenciar negativamente em sua carreira pública.

Acabou tendo uma carreira pública promissora onde exerceu vários cargos, como
amanuense da Secretaria dos Negócios Estrangeiros, em 1843, e adido à Legação do
Brasil em Londres, Inglaterra. Além disso, foi folhetinista e fez críticas teatrais no Jornal do
Commercio de 1846 até a sua ida para a Inglaterra, em 1847. Ainda em Londres teve a
grande honra de conhecer a Rainha Vitória e o Príncipe Alberto, depois de um tempo
contraiu tuberculose, fugiu do frio da Inglaterra e acabou falecendo aos 33 anos em 7 de
dezembro de 1848, em Lisboa, Portugal, onde passava a caminho do Brasil.

Martins Pena escreveu aproximadamente 30 peças, retratou em suas obras uma grande
quantidade de informação sobre a primeira parte do século XIX no Rio de Janeiro, foi o
primeiro teatrólogo a explorar histórias do povo brasileiro sendo o fundador do gênero da
comédia de costumes no Brasil. Graças a seu sucesso como dramaturgo e diplomata
ocupa a cadeira nº29 da Academia Brasileira de Letras, tendo sido indicado pelo próprio
fundador Artur Azevedo.

Algumas das peças mais famosas de Martins Pena: “A Família e a Festa na Roça” (1840),
“O Caixeiro da Taverna” (1845), “O Judas em Sábado de Aleluia” (1846), “Os Irmãos das
Almas” (1846), “Quem Casa Quer Casa” (1847), “D. Leonor Teles”, “Vitiza ou o Nero da
Espanha”, “O Noviço” (1853) e “Os Dois ou o Inglês Maquinista” (1871).

As Casadas Solteiras

Enredo/sinopse

A peça conta a história dos ingleses,


Bolingbrok, e John. Ambos se
apaixonam por duas irmãs, e o amor é
correspondido. Entretanto, o pai de
Clarisse e Virgínia, não permite que
elas se casem com ingleses. Os casais
decidem lutar por esse amor, e
planejam uma fuga para se casarem,
contam também com a ajuda de
Jeremias, um antigo amigo brasileiro de
John que vive fugindo de sua mulher
Henriqueta. Envolvidos em confusões e
desencontros, os personagens
prometem momentos de muita diversão.

Resumo da peça

PRIMEIRO ATO

No Rio de Janeiro, Clarisse e Virgínia estavam apaixonadas pelos ingleses John e


Bolingbrok. Eles também as amavam e vindos da Bahia, onde mantinham seus negócios,
prolongaram sua estadia para ficarem mais perto de suas amadas. Narciso, o pai das
moças, tinha uma verdadeira repugnância aos ingleses e não aceitava de modo algum uma
união entre suas filhas e eles.
Sendo dia de festa de São Roque, em meio às comemorações na cidade, Clarisse e
Virgínia escaparam do pai para se encontrarem com John e Bolingbrok. Ali também estava
Jeremias, amigo de John. Ele fugia de sua mulher, afirmando que a tal era pior que o diabo.
E assim, enquanto as meninas falavam com os ingleses, Jeremias vigiava, para o caso de
Narciso aparecer.

Entretanto, Jeremias acreditou ter visto sua esposa, Henriqueta, e se descuidou de sua
vigilância. Assim, o pai das meninas as encontrou e as levou embora. Jeremias em seguida
se explicou e pediu desculpas por seu descuido e falou a John um modo de ele ir ter
novamente com sua amada. Sugeriu que ele se disfarçasse de mágico e combinasse com
as irmãs um novo encontro.

Assim John fez e marcou com Virgínia um novo encontro. E ainda deu a Henriqueta a
indicação de que Jeremias estaria ali em pouco tempo.

SEGUNDO ATO

Sendo assim, Virgínia e John, Clarisse e Bolingbrok estavam casados e vivendo na Bahia.
Junto deles também estava Jeremias que havia escapado de sua mulher depois do
encontro que teve com ela graças às falas de John. Na Bahia, os ingleses tratavam suas
esposas como escravas e ambas viviam infelizes.

Nessas circunstâncias Henriqueta chegou à casa delas, vinha em busca de Jeremias, e


sabendo da infelicidade das irmãs contou a elas o que ocorria no Rio de Janeiro. Por lá as
pessoas falavam que o casamento delas não era legítimo pois, sendo católicas, o
casamento protestante realizado porque os ingleses assim o eram, não as tornava casadas,
mas apenas a John e Bolingbrok. Então Henriqueta combinou uma fuga para o Rio no barco
que partia pela madrugada, mas elas deveriam ajudá-la a convencer Jeremias de ir para o
caso de ela não conseguir fazer isso sozinha.

Virgínia e Clarisse saíram para arrumar suas malas, aproveitando que seus maridos não
estavam em casa. Henriqueta, que esperava lá embaixo, ao ouvir Jeremias vindo apagou
as velas e o esperou no escuro. Jeremias entrou pedindo luz ao criado e quando encontrou
Henriqueta, começaram uma discussão. Mas logo em seguida chegou uma carta para
Jeremias dizendo que seu negócio havia falido. Assim, restou a ele apenas a mulher, e
então se reconciliaram. Decidiram, então, seguir para o Rio junto a Clarisse e Virgínia.

TERCEIRO ATO

Lá as meninas foram recebidas pelo pai, que logo se adiantou para concretizar a anulação
do casamento das filhas. E ainda fez um único pedido, já que as recebera depois de terem
desobedecido e fugido: ele pedia que se casassem com Serapião e Pateleão, ao que não
deram resposta. A verdade é que os ingleses voltaram ao Rio para cortejá-las novamente e
elas nutriam esperança de que pudessem ser felizes com eles.

E assim tendo Narciso saído e ido jantar fora, elas convidaram os ingleses para um jantar
em sua casa, mas na verdade pretendiam vingar-se deles e tiveram a ajuda de Henriqueta.
Os trataram como escravos e submissos através de chantagem emocional, fizeram com
que eles fossem comprar verduras, empada e pão-de-ló para o jantar. O que não condizia
com o orgulho inglês. E assim enquanto eles estavam fora, Jeremias chegou, ele tratava
agora dos negócios dos outros que por acaso ficaram com a anulação do casamento de
Clarisse e Virgínia e tendo o papel em mão foi ter com elas para saber se de fato queriam
que ele levasse o processo adiante. Mas nenhuma das duas respondia, então Henriqueta
que via a esperança que elas tinham para com os ingleses, falou para o marido que
deixasse de lado aquela história.

Nesse tempo John e Bolingbrok chegaram e desta vez as meninas o fizeram tirar a casaca
e colocar a mesa. Enquanto eles faziam isso, elas iam olhar o jantar, mas em pouco tempo
voltaram correndo dizendo que Narciso estava em casa e que eles deveriam se esconder.
Propositadamente os fizeram entrar em pipas cheias de tinta. Elas não esperavam, mas de
fato Narciso tinha voltado para casa e junto com ele estavam Serapião e Pateleão.

Como estes se interessavam pelas meninas, John e Bolingbrok saíram das pipas com as
roupas tingidas e começaram a lutar com os amigos de Narciso. Este corria, tentando fugir,
achando que os genros eram o demônio.

Ao fim, John e Bolingbrok confessaram amar Clarisse e Virgínia, que disseram o mesmo.
Os ingleses, satisfeitos com Jeremias por ter rasgado a anulação do casamento, provando
a Narciso que as meninas ainda eram casadas, o declararam seu novo sócio nos negócios.

Personagens, assuntos retratados referente a época, foco, crítica e


abordagem

Jeremias: amigo de John desde a época do colégio, é neste personagem que encontra-se
o maior retrato crítico da sociedade brasileira do início do século XIX. Ele carrega em si o
total descaso com o casamento, pois vive a fugir da esposa, o que pode ser interpretado
como uma provável afronta ao religioso, já que o casamento é tido como instituição
sagrada, tradição que era levada mais a sério em meados do século XIX. Jeremias, além
disso, posta-se ao lado de quem mais lhe convém: ao longo dos atos, ele toma partido de
vários personagens. Tanto é assim que, mesmo ao fugir do matrimônio – falando
figurativamente – durante quase toda a peça, ocorre que ao ver-se falido, volta a morrer de
amores por Henriqueta, que na mesma cena chama-a de centopéia do diabo, peste,
demônio e víbora. Assim, Jeremias aparenta desligar-se do materialismo capitalista para
apegar-se à tradição. E além da crítica ao casamento, a personagem de Jeremias é
consciente da presença do estrangeiro e suas imposições culturais e exploração, contudo, é
resignado e mostra-se contaminado pelos costumes e deleites dos ingleses.

Henriqueta: esposa de Jeremias que vive à procura do marido, representa a tradição,


especialmente a religiosa – matrimônio. É ela quem faz uma alusão pela qual se pode
entender o título da peça. Tal fala se dá porque Henriqueta tenta convencer as filhas de
Narciso que se não foram casadas na igreja em que foram criadas, que é a Católica
Apostólica Romana (como é dito por Clarisse), sua união não será válida, visto ainda que
seus maridos são protestantes. Com isso, ela reforça a presença do sagrado e a cultura
passada de pai para filho.
Narciso: pai de Virgínia e Clarisse, figura paterna superprotetora, ligado à honra e aos
princípios, representa o patriarcalismo. Não suporta os ingleses e se opõe ao casamento
com suas filhas, arranjando um outro casamento com homens que considera de bem
(Pantaleão e Serpião), – casamento tratado como contrato e as filhas como mercadoria
(dote).

John e Bolingbrok: o autor demonstra as influências do estrangeiro – como fator de


alteridade tanto no cenário da obra quanto na literatura de uma maneira mais generalizada.
Em suas falas, têm-se alusões ao liberalismo e ao acúmulo de capital. Aqui os ingleses têm
sua própria imagem como pleno poder.

John: filho de ingleses, nascido e criado no Brasil familiarizado com a língua. Calmo,
educado, resiliente, formal. Personagem machista que julga a mulher como escrava,
submissa, incapaz de governar e manipuladora.

Bolingbrok: veio da Inglaterra há dois anos para estabelecer negócios/sociedade na Bahia


junto com seu sócio, John. Esses negócios o fez ter que viajar para o Rio de Janeiro, onde,
depois de concluir o trabalho, não quis ir embora após apaixonar-se por Clarice. Agressivo e
impaciente, é também muito influenciado por John. O modo de falar de Bolingbrok, sem
concordâncias e pouca preocupação, demonstram que esta personagem não deseja
adequar-se a outra cultura. A ideia de enriquecimento e sucesso financeiro tornam-se mais
importantes do que qualquer segunda ordem. Os estrangeiros sugerem que o brasileiro não
sabe fazer seus gastos e que não são capazes de gerenciar a própria economia. Esta
personagem é impregnada de preconceitos e apenas eleva o status dos ingleses como
exploradores. Tanto John como Bolingbrok não dão brechas para os desejos de suas
mulheres, sinal típico de conservadorismo: a mulher vista como propriedade.

Clarisse e Virgínia: filhas de Narciso, vivem uma tirania e são governadas


"britanicamente", onde a cultura inglesa lhes é imposta. No casamento, não possuem
liberdade para tomar as próprias decisões ou assumir as próprias vontades. Embora
possuam vontade e personalidade própria, pois decidiram fugir da casa do pai para ceder
às suas paixões como também decidiram fugir do casamento com os ingleses quando não
lhes era mais conveniente. De súbito, tomam consciência dessa exploração. A primeira
impressão fora de que a realidade ao lado do estrangeiro, ou seja, de outros costumes,
seria melhor. As irmãs sentem-se tratadas como escravas, sinal de que alimentavam um
amor tipicamente romântico, que fora modificado com a convivência. Então, seu amor “real”
gera fuga e vingança. Vingança esta que é tão amena quanto toda a obra tratada: as moças
passam a maltratar seus pretendentes de modo a fazê-los pagar pelos maus tratos. O que
aparentemente faz crer que os papéis de dominador e dominado se invertem. E neste jogo
de conquistas e interesses, fica no ar se há realmente amor entre estes casais. Entretanto,
o que tudo indica, é que apenas seja parte de um ciclo, onde os ingleses voltam ao domínio
e tratam suas esposas, as casadas não mais solteiras, como posse.
Cronologia da vida pessoal de Martins Pena

- 1815. Nasceu em 5 de Novembro no Rio de Janeiro, filho de um mineiro e uma


fluminense.
- 1816. Órfão de pai.
- 1825. Órfão de mãe (morreu dando à luz), seu padrasto o deixou sob a tutela de seu
avô e um tio materno, ambos do ramo do comércio.
- 1831. Abdicação de D. Pedro I, o episódio foi tema do seu conto de estréia na
literatura, "Um episódio de 1831", publicado em 8 de abril de 1838.
- 1832. Matricula-se na escola de comércio.
- 1834. Sua irmã se casa com um alto funcionário da Alfândega, Joaquim Francisco
Viana, que nesse mesmo ano se elege deputado da Província do Rio de Janeiro
pelo partido conservador.
- 1838. Amparado pelo cunhado, Martins de liberta da tutela do tio e ingressa na
Escola Imperial de Belas Artes. Estuda pintura, estatuária e arquitetura, mas
abandona e passa a estudar música e canto. Estudou inglês, francês, e italiano,
idiomas que chega a falar fluentemente.
- Nomeado amanuense da Mesa do Consulado da corte, cargo em que permaneceu
até 1843.
- Estreia de "Juiz de Paz na Roça".
- 1843. Nomeado amanuense da Secretaria de Estado dos Negócios Estrangeiros.
- 1845. Escrita de "O noviço" e "As casadas solteiras".
- 1846-7. Entre setembro de 1846 e outubro de 1847, publica folhetins sobre
espetáculos líricos no Jornal do Comércio. Embora nunca tenha se casado, sua filha
Julieta foi concebida nessa época, fruto de um romance com uma atriz.
- 1847- Em outubro embarca para Londres e deixa sua filha aos cuidados de sua irmã
e seu cunhado, logo é nomeado adido de 1º classe à Legação Brasileira em
Londres.
- Graças a tuberculose, faleceu em 7 de dezembro em Portugal.

Grupo: Julya, Marcos, Luna e Taynara.

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