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O conceito de alienação no jovem Marx

Francislayne Vieira Gomes

Instituto Federal Fluminense, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

O texto de José D’ Assunção Barros traz aspectos da obra do chamado “jovem Marx”, que
mais vai interagir com o tema da alienação, o principal abordado no artigo. Durante o texto o
autor também faz considerações sobre algumas influências iniciais que Marx sofreu, e explica
um pouco a passagem do "jovem Marx" para um Marx mais maduro.
Logo no início, Hegel já é colocado em questão como uma influência inicial para Marx,
inclusive um dos responsáveis pelo seu "acorde teórico", porém Marx não se considerava um
discípulo de Hegel, e até o criticava com comentários depreciativos, mas também fazia
agradecimentos. O principal ponto de discordância, entre os dois, é o fato da dialética de
Hegel ser idealista, considerando que nesta o mundo começa a se movimentar a partir do
espírito e das ideias, enquanto a dialética de Marx é materialista, e sustenta a hipótese de que
todo movimento histórico se impulsionaria a partir da base material de uma sociedade, ou de
suas condições imediatas e afetivas. Portanto a cisão entre Marx e Hegel acaba se dando pelo
menos de dupla maneira: em relação ao seu modo (idealista) de ver as coisas, e em relação a
seu modo (contemplativo) de estar entre as coisas.
A mais forte influência de Marx foi Engels e seus diálogos, nenhum deles se tornaria aquilo
que viriam a ser se não fosse a influência que um exerceu sobre o outro. Com Engels é que
Marx aproxima-se de uma nova vivência, relacionada com o mundo do trabalho industrial na
sua verdadeira concretude, e com esta vivência transmitida por Engels ele se identificará. A
influência de Engels será um divisor de águas na produção intelectual de Marx. Da alienação
em geral ele passa a se interessar pelo estudo mais específico do modo de produção
capitalista.
Durante o texto o autor também traz as ideias de “revolução” abordada por Marx. Marx tem a
sua ideia de "revolução", mas com uma visão diferente da daqueles autores que ele chama de
"socialistas utópicos". Esses socialistas acreditavam na possibilidade de convencer políticos e
indústrias a colaborar na implantação do socialismo. Na perspectiva, por exemplo, dos
saint-simonianos, os proletariados somente assistiriam passivamente a sua libertação, sem se
tornarem sujeitos de sua própria transformação. Já Marx acreditava que o proletariado que
tinha a missão de conduzir sua classe a missão do advento do socialismo. Marx entendia que
a última fase do antagonismo de classes corresponde ao confronto entre proletariados e
capitalistas, e essa última fase seria a mais extrema de todas e por isso a revolução deveria ser
o seu desenlace necessário. De acordo com ele o socialismo não é uma meta, mas sim um
destino da humanidade. E assim, com o socialismo instalado definitivamente, dirá Marx, é
que se inicia a verdadeira história. No caso, para Marx, a verdadeira história iniciaria com a
progressiva tomada de posse da natureza e que se encerra com socialismo, e com o fim
definitivo dos antagonismos de classe.
Seguimos finalmente para o tema da alienação, o primeiro tema que surgiu para Marx, de
fato, e que desempenhou um papel central na produção intelectual do "jovem Marx”. Para
Marx o homem muda literalmente a face da Terra, e para onde quer que olhemos, pode-se
dizer, não podemos mais deixar de enxergar a marca humana. Mas, ao mesmo tempo, ao lado
deste comovente encantamento diante da capacidade humana de “transformar o mundo e de
transformar a si mesmo”, Marx também encontrará a sua terrível sombra: a percepção de que
este mesmo homem, neste ponto de sua análise multiplicado pela infinidade de indivíduos,
também se perde na história, se "desumaniza" e se "desnaturaliza". Em uma palavra, “se
aliena”, tanto da natureza quanto de si mesmo. Tudo aquilo que fragmentava o ser humano,
tudo aquilo que o separava da consciência que deveria ter, que o transformava quase em uma
máquina ou em um “animal desnaturalizado”, tudo aquilo que o mergulhava em uma espécie
de sono do qual não parecia ser possível despertar, remetia em Marx ao âmbito da alienação.
E toda essa pequena trajetória do pensamento do “jovem Marx” no tema da alienação permite
que surpreendamos Marx em um sutil deslocamento que o conduzirá a um novo momento de
sua produção intelectual, no qual seria necessário se preparar para ir muito além do campo da
filosofia, alcançando a economia, a ciência política e a própria história.
Concluo assim que o autor do artigo, acredito eu, tenha seguido por muitos caminhos até
realmente chegar ao seu principal objetivo, que seria a alienação. Quando realmente o autor
chega de verdade no tema ele acaba se aprofundando pouco, e acredito que nesse ponto ele
tenha deixado a desejar. No geral todas as colocações do autor foram interessantes para nos
ajudar a compreender um pouco mais sobre a trajetória e a obra de Marx.

Referência bibliográficas
Artigo O conceito de alienação no jovem Marx. Tempo Social, revista de sociologia da USP,
v. 23, n.1, pp.223-245, 2011.

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