Você está na página 1de 14

AULA 2 ORTOPEDIA I - FRATURAS

Na aula passada focamos nas lesões articulares. Os torácico – protegendo órgãos vitais (coração,
principais formadores das articulações são os pulmões, grandes vasos)
elementos ósseos, mas focamos mais nas lesões dos
tecidos moles (ligamentos, meniscos, bursas...), • Apoio para o corpo
estruturas que se localizam nas articulações e são
responsáveis principalmente pela estabilização
óssea, que podem então serem lesionadas em 3 tipos • Base mecânica para o movimento
de situações:
Relembrando: quem forma a articulação é a superfície
- Contusões óssea articular, então tem uma grande importância na
movimentação.
- Entorse

- Luxação • Armazenamento de sais


Nessa aula iremos restringir ao tecido ósseo e sua
O osso armazena magnésio, cálcio, fósforo -
lesão: Fraturas.
substâncias essenciais para o funcionamento das
células.

↠ Definição de Fratura: lesão do tecido ósseo Patologias em decorrência da perda desses sais na
velhice que enfraquecem os ossos – osteoporose

• Osso •
• Suprimento contínuo de células sanguíneas novas -
medula óssea

É um órgão armazenador de sangue. As formações


das células sanguíneas se dão basicamente na medula
óssea

Os ossos esponjosos chatos (nãos os longos, de


suporte de carga – osso cortical), como o osso ilíaco,
escápula, ossos do crânio, clavícula, costela - tem uma
grande capacidade de armazenamento de sangue,
com processo de reparação contínua mais adequada

OBS: ossos corticais – tem medula óssea e um


entorno bastante espesso
O osso é um tecido conjuntivo conectivo vivo de
forma sólida altamente especializado e é o principal O osso ilíaco por exemplo tem capacidade de 2 a 3
tecido de apoio do corpo, sendo o grande formador litros, e em fraturas tem risco de grandes perdas
do nosso esqueleto. A partir do tecido ósseo que agudas de sangue.
todas as estruturas (órgãos, tecidos moles...) se Os ossos longos são mais resistentes, mas tem um
apoiam, por isso é um tecido duro/firme, justamente menor suprimento sanguíneo, e consequentemente,
para que ele possa exercer essa função de apoiar demoram um pouco mais para se reparar.
todos os demais tecidos e órgãos do nosso corpo.

→ Divisão:
→ Funções:
• Esqueleto axial (cabeça, coluna vertebral, tórax)
• Proteção para estruturas vitais (principal função)
• Esqueleto apendicular (membros superiores e
Por exemplo o tecido ósseo da cabeça - exercendo inferiores)
uma função de proteção do cérebro; arcabouço
AULA 2 ORTOPEDIA I - FRATURAS

Os ossos não nascem já formados, eles nascem de


uma forma imatura e ao longo do crescimento vai se
maturando até chegar à idade adulta. Em torno de 18
a 20 anos de idade há uma formação óssea definitiva.

Há diferença entre os diversos tipos de ossos: os da


coluna fecham seu crescimento em torno de 16 anos,
nas meninas em torno de 17 anos. Os longos vão até
os 19/20 anos, dependendo das taxas hormonais

→ Tipos: ➥ Osso de criança/adolescente X Osso adulto:

O que muda o osso de uma criança para um adulto


são as zonas epifisárias (zonas de crescimento),
geralmente sendo as zonas distais ou proximais dos
ossos longos.

• Compacto: osso mais longo, formado por uma


cortical bem espessa e em seu interior tem a cavidade
medular onde são produzidas as células sanguíneas
(medula óssea) Em exames radiológicos são vistos uma separação dos
ossos, parecidos com um traço de fratura. Essa faixa
que aparece como uma falha, é devido a não
• Esponjoso: não tem uma cortical envolta de uma
formação de um tecido ósseo maduro em uma criança
cavidade medular, se tem uma pequena camada de e sim um tecido cartilaginoso prévio à formação dos
osso compacto externamente e o interior é osteoblastos, tendo praticamente nenhuma
esponjoso. É um osso menos resistente a impactos, deposição de sais minerais, que vai acontecendo ao
mas tem capacidade muito grande de longo da vida até se transformar em um osso maduro.
armazenamento de sangue. Por isso o osso esponjoso São nessas zonas que os ossos crescem, a altura final
é considerado o grande armazenador sanguíneo do é dependente do crescimento que ocorre nessas
nosso corpo. zonas epifisárias dos ossos longos.

As zonas epifisárias são zonas muito especiais no


→ Desenvolvimento
momento do trauma: uma criança, que tem um
trauma ósseo, que está em pleno crescimento,
remodelando a todo tempo seu tecido, tem muito
mais chances de cicatrizar a lesão. Por outro lado, por
esse osso estar em crescimento, os traumas que
acometem as zonas epifisárias eles podem trazer, às
vezes, ao longo do tempo efeitos colaterais ao que diz
respeito ao crescimento definitivo dessa criança.

Então, as crianças tem uma grande capacidade de


reparação tecidual nesses osso ainda em formação,
AULA 2 ORTOPEDIA I - FRATURAS

mas ocorre o risco de que quando danificam essas • Trauma direto: sobre um determinado osso ou
zonas epifisárias, pode gerar alteração no crescimento região de um osso.
final delas.
Ex: indivíduo que leva um pontapé na região da perna
atingindo diretamente a diáfise da tíbia gerando um
traço de fratura, descontinuação tecidual.
• Fraturas •

↠ Definição: perda da continuidade de um osso,


total ou parcial. • Trauma indireto: é como foi visto na aula passada,
ou seja, uma lesão que ocorre a distante da região do
↠ História: começaram a ser estudadas a partir 1895 osso, mas gera um dano sobre ela. Pode ser por
pela introdução de técnicas radiográficas (raio-x) arrancamento ósseo ou por uma força gerada no
adequadas possibilitando entender as possibilidades mecanismo de entorse.
de evolução das fraturas, os tipos, quais as
possibilidades de evolução dessas lesões (graves ou Ex: é o indivíduo pisa em um buraco fazendo inversão
menos graves), as complicações, etc. de pé podendo sofrer entorse e de forma associada
sofre fratura do maléolo fibular.
O raio-x é o principal elemento de diagnóstico
complementar de uma fratura. Ele orienta qual a
conduta que devemos ter com cada tipo de fratura.

No início do séc. XX, principalmente no pós-guerra,


houve grande aumento e melhora da capacidade de
tratamento cirúrgico das fraturas, que antes eram
deixadas praticamente para se consolidar por si,
contando com a reação do organismo para consolidar
OBS: Indivíduo que bate uma bola na ponta do dedo e
essas fraturas, porém ocorriam muitas complicações,
faz uma hiperextensão e fratura a falange proximal –
por conta de antes não haver tantas técnicas
Trauma indireto. Seria direto se ele deixasse cair um
cirúrgicas. As grandes evoluções de tratamento das
objeto sobre a mão e consequentemente fraturasse
lesões traumáticas, sejam fraturas ou amputações,
esse mesmo osso.
ocorreram geralmente no pós-guerra pela grande
necessidade de encontrar tratamento adequado para
tratar os indivíduos lesionados. ➥ Microtraumas Repetidos (stress) - Trauma
Crônico

→ Causas:

OBS: As causas são similares aos traumas articulares,


musculares e tendíneos.

➥ Trauma: Direto e Indireto


- São as mais frequente

- Ocorrem em ossos íntegros ou sãos


AULA 2 ORTOPEDIA I - FRATURAS

- São mais frequentes em metatarsos, diáfise da tíbia Na seta, na imagem ao lado há a


e fíbula e colo femoral (ex: corrida) formação de um calo.

- O início da dor é gradual e insidioso e aumenta com O raio-x simples é atrasado para esse
atividade contínua, melhorando no repouso diagnóstico. Só o grau mais acentuado
de fratura por stress pode ser
- Raramente há desvio dos fragmentos
identificado no raio-x, portanto o
exame de ressonância magnética permite identificar o
São fraturas causadas por microtraumas repetidos ou traço de fratura ou casos ainda mais leves que não se
por “strees”. São mais frequentes em ossos sujeitos a tem o traço, apenas com o processo inflamatório
carga contínua, principalmente em membros ósseo.
inferiores – pés, joelhos, região do quadril – regiões
sujeitas a trauma de grande impacto, a repetição de A fratura por stress começa por um processo
traumas. inflamatório periostal, ou seja, por fora do tecido
ósseo, num segundo grau, grau intermediário, começa
Ex: indivíduos que começam a correr (que tem um a produzir um processo inflamatório intra ósseo, na
trauma maior no membro inferior) repetidas vezes, o medular do osso compacto, e só no terceiro estágio
impacto vai se acumulando e a partir de um aparece o pequeno traço de fratura.
determinado momento supera a capacidade de
resistência tecidual do osso gerando um traço de OBS: É difícil de identificar, sendo um diagnóstico
fratura no colo do fêmur. muito mais clínico onde se aproveita a história clínica
do paciente e o exame físico para identificar a
OBS: Não é possível prever quando vai acontecer, mas possibilidade de ocorrência de uma fratura por stress.
existe uma ideia clínica de quais os ossos e regiões são
mais acometidos, sendo possível rastrear na história
clínica do indivíduo a possibilidade da ocorrência ➥ Patológica
desse tipo de fratura – Fratura por stress - Ocorre em osso previamente enfraquecido por
O osso não fratura apenas por um trauma agudo, pois doença
existe essa segunda possibilidade de ocorrência de Ocorre com um trauma muito pequeno no ponto de
fratura através de um trauma crônico – Microtraumas vista de intensidade, mas mesmo assim pode gerar
repetidos uma fratura óssea.

Ex: osteoporose: perda de mineralização óssea –


perdendo sais minerais - que ocorre pela idade
deixando o osso previamente enfraquecido.

- Causas mais importantes: infecções, tumores


benignos, tumores malignos, cisto ósseo, pós
poliomielite...

OBS: infecção como a tuberculose que pode também


ser óssea.

Na seta vermelha na parte medial do platô vemos um


exemplo de fratura por stress. Na azul temos um
processo inflamatório ósseo – sendo um grau mais
leve de fratura por stress

Quando há uma fratura que ocorre em paciente


praticamente sem história de trauma, existe sempre a
AULA 2 ORTOPEDIA I - FRATURAS

suspeita de que o osso estivava previamente doente, O osso é um tecido inerte, que não tem bactérias, e
tratando de uma fratura patológica. no momento em que é promovido um contato com o
meio ambiente certamente algumas bactérias
- Outras causas importantes: osteogênese chegaram naquele tecido e a suscetibilidade de haver
imperfeita, osteoporose, síndrome de Cushing uma infecção é altíssima
(doença metabólica), raquitismo (deficiência de sais Para ser uma fratura aberta não necessariamente
minerais), doença de paget, tumores... precisa que o osso ultrapasse a pele e se torne visível,
Um dos lugares mais frequentes de fraturas quando ocorre isso chamamos de Fratura exposta.
patológicas é sem dúvida a coluna vertebral A fratura exposta é um subtipo da fratura aberta, já
OBS: a mais frequente é a desmineralização óssea – que a fratura aberta pode simplesmente ter um furo
Osteoporose na pele e no subcutâneo sem que o osso se
exteriorize, mas que permite um canal de ligação com
o meio externo. Já a fratura exposta tem ainda a
gravidade de haver um desvio de fragmentos que
promove a exteriorização do foco de fratura.

Isso muda completamente a abordagem terapêutica


das fraturas. Na fratura aberta sempre será
necessário realizar procedimento cirúrgico, seja para
atuar no foco de fratura, estabilizando com material
Então além de identificar e tratar fratura, deverá ser de osteossíntese, ou para limpar/esterilizar o foco de
buscada uma possível causa secundária. fratura, se não for feito, pode haver infecção
gravíssima ou necessidade de amputação do
membro se não tiver o tratamento adequado.
→ Classificação:
A classificação deve ser feita na fase aguda da lesão,
➥ Fechada ou Aberta (exposta) ou seja, saber se é fechada ou aberta, para definir
para onde o paciente deve ser encaminhado.

• Fratura fechada: por definição, é


➥ Tipos de Traço de fratura:
quando não tem a conexão do foco de
fratura com o meio ambiente,
consequentemente, não há nenhuma
lesão de tecido mole. O osso sofre a lesão
e não há nenhum dano no entorno do foco
de fratura. Então, os tecidos moles
permanecem íntegros.

• Fratura aberta: é justamente o contrário,


quando existe dano do tecido mole em
torno do foco de fratura e, Existem os mais variados traços e cada um deles é
consequentemente, há o contato com o variado de acordo com o tipo de trauma que o osso
meio externo com o foco de fratura. sofre.

Essa classificação é importante porque toda • Transverso, longitudinal e oblíquo: geralmente são
vez que há um osso em contato com o meio traumas angulares de baixa intensidade.
externo ele é potencialmente infectado.
• Oblíquo deslocado, espiral e cominutivo: são
fraturas mais graves que demandam trauma de
AULA 2 ORTOPEDIA I - FRATURAS

maior intensidade, geralmente com mecanismos 2. Oblíquo:


rotacionais (e não angulares) e são mais graves no
- Trauma em angulação de menor intensidade
ponto de vista de estabilidade, já que é mais fácil
manter os fragmentos ósseos fraturados em contato - Mais instável do que o transverso
com traços menores do que com grandes traços que
promovem deslocamento de fragmentos. - Maior cuidado no TTO e mais tempo

OBS: Isso nos permite avaliar se a fratura é mais


estável ou instável.

• Fratura em galho verde (na imagem é a penúltima):


é típica em crianças pois são ossos de tecido imaturo
altamente flexível que, sema traumas angulares ou
rotacionais, dependendo da intensidade do trauma,
em geral promovem traços de fratura que são
incompletos, apenas de um lado do periósteo.
É um pouco mais grave, sendo também causado por
OBS: é chamada de galho verde, pois quando se trauma em angulação, mas com maior intensidade.
quebra só um lado danifica, o outro fica intacto, pois é Mais instável que o transverso só pelo simples fato de
muito difícil quebrar completamente um galho verde. ser oblíquo, anatomicamente há uma chance maior de
Assim funciona com os ossos longos nas crianças escorregamento dos segmentos fraturados pela
própria ação da gravidade. Também há maior
1. Transverso ou Horizontal: possibilidade de desvio de fragmentos.

- Menos gravidade (mais simples), Requer maior cuidado, sendo necessário determinar
menor intensidade se é possível tratar sem possibilidade de
instabilidade/desvio para que não aconteça uma
- Trauma em angulação consolidação errada/viciosa com perda da anatomia
- Traço estável (com menor do osso. Devendo ser avaliados com um pouco mais
probabilidade de desvio) de critério quando formos optar pelo tratamento
definitivo.
Na imagem vemos a seta indicando esse traço
horizontal no punho. 3. Espiralada:

- Trauma em rotação, geralmente de grande


Fratura estável x instável: intensidade

Fratura estável: é aquela com menor possibilidade de - Instável (grande probabilidade de desvio)
desviar os fragmentos, ou seja, há o traço de fratura,
mas tem íntimo contato entre as superfícies ósseas
fraturadas. Além disso já que o traço é horizontal,
diminui as chances de escorregamento dos focos dos
segmentos fraturados. É considerada uma fratura
menos grave, o que influencia no tratamento. É
tratada de maneira conservadora (não-cirúrgico).

Fraturas instáveis: deverão ser tratadas


cirurgicamente, por ter necessidade de fixação do
foco de fratura através de material metálico É uma fratura mais grave com traumas rotacionais
(osteossíntese). que contorna o periósteo, como uma hélice (observe
AULA 2 ORTOPEDIA I - FRATURAS

a imagem) muitas vezes com mais de dois fragmentos,


mais de um traço (setas).

Sempre é considerada instável com grande


possibilidade de desvio. Em geral, as fraturas
rotacionais/helicoidais/espirais deverão ser tratadas
cirurgicamente.

4. Compressiva:

- Trauma em ossos esponjosos (flexão brusca de


tronco, amassa corpo vertebral) Tem mais de um traço de fratura (mais de dois
fragmentos – as setas na imagem), toda vez que tiver
- Pode ser estável (corpo vertebral) ou instável mais de 2 fragmentos ósseos chamaremos de
(corpo + arco posterior = SNC) cominutiva, pode ser oblíqua ou transversa ou
helicoidal.

É sempre considerada uma fratura grave e de


tratamento cirúrgico, sendo um trauma de maior
intensidade.

6. Galho Verde (subperiostal):

- Típica em crianças
É típica dos ossos esponjosos. O mecanismo de lesão
é a compressão, que acontece muito nas vértebras da - Ossos mais flexíveis e elásticos
coluna. Um exemplo clássico é o corpo vertebral que
- Geralmente afetam os periósteos e são estáveis
é totalmente formado de tecido ósseo esponjoso.
- Traumas mais frequentes: cotovelo, antebraço
O nome “compressiva”, vem do mecanismo de lesão
(distal), clavícula, tíbia e fíbula
dessa fratura, onde o indivíduo faz uma flexão brusca
do tronco e imediatamente ocorre uma compressão
(como um sanduiche), as vértebras imediatamente
superior e inferior se fletem, fazendo um
achatamento da vértebra intermediária, e fazem uma
compressão óssea (como observamos no raio-x),
formando uma vértebra em forma de triângulo
(cunha)

Em geral é uma fratura estável quando acomete


apenas o corpo vertebral. Se também fraturar o arco
posterior, aumenta o risco de instabilidade com o
escorregamento da vértebra. Mas a fratura exclusiva
do corpo vertebral em geral é estável.
Geralmente ossos longos e mais flexíveis de crianças,
5. Cominutiva: tendo só um periósteo fraturado e o outro íntegro,
que permite esse desvio porque é formado por tecido
- Mais graves e sempre instáveis imaturo, mais flexível, tendo a capacidade de se
- Trauma de maior intensidade (+ de 2 “dobrar” – só acontece em ossos jovens, de criança.
fragmentos/traços de fratura) Geralmente é de difícil diagnóstico, por ser um
pequeno defeito (como vemos nas setas da imagem).
AULA 2 ORTOPEDIA I - FRATURAS

No geral, é considerada estável, a não ser que tenha circulatório (cor, temperatura, pulsos arteriais,
um grande desvio de fragmentos. retorno capilar) para identificar possibilidade de
lesões associadas tanto de vasos como nervos e
eventualmente vísceras. No caso de uma fratura
→ Diagnóstico
instável o osso pode desviar e romper algum
Muitas vezes fazemos o diagnóstico sem a elemento importante, vascular ou neurológico –
necessidade de haver um exame complementar. lesões associadas. Por isso, é importante realizar um
exame físico.
➥ Clínico:
Ex: fratura da pelve que lesiona uma víscera ou o
aparelho urinário ou ginecológico. Ou uma fratura na
• História clínica costela que lesiona o pulmão ou a pleura – Tudo isso
Relembre: pode ser um trauma direto, indireto ou devemos abordar durante um exame clínico de uma
microtraumas repetidos possível fratura.

• Exame físico: dor, sangramento (hematoma - • Exame de imagem (complementar):

sangramento local organizado ou equimose – - Raio-x: sempre utilizado na confirmação do


sangramento dissociado e desorganizado) e diagnóstico
impotência funcional (tríade clássica). Deformidade,
crepitação e mobilidade anormal 1: Tipo de fratura e traço

- Ferimento na pele 2: Há desvio de fragmentos

- Estado circulatório (distal): cor, temperatura, pulsos 3: É recente ou não (presença de calo)
arteriais, retorno capilar 4: Evidências de lesões associadas
- Lesão neurológica O raio-x é sempre utilizado na confirmação do
- Lesão visceral diagnóstico de fratura. Em geral, dá o tipo de fratura,
traço, ideia de estabilidade (se tem desvio ou se não
Paciente chega com queixa de dor óssea, sempre vai tem), se já está cicatrizando, no caso de uma fratura
existir sangramento local ou generalizado, onde o antiga. Então além do diagnóstico, esse exame nos
sangue se espalha sobre o tecido subcutâneo sem ajuda tanto diagnosticar durante a fase aguda quanto
uma formação organizada (hematoma ou equimose) e no acompanhamento da evolução do processo de
impotência funcional - não consegue gerar carga cicatrização (consolidação da fratura).
sobre aquele osso fraturado por incapacidade, dor ou
incapacidade reflexa: tríade clássica da fratura.
- Ressonância magnética e TC
Tríade clássica da fratura: dor, sangramento e A tomografia computadorizada (TC), também é um
impotência funcional exame de raio-x um pouco mais sofisticado (e mais
caro), mas não é utilizada para qualquer fratura,
Pode ser testada a presença de deformidade apenas se o raio-x não foi suficiente e ainda temos
mostrando que houve desvio do foco de fratura (de é uma dúvida (se não conseguimos identificar se está
uma fratura instável). Crepitação ao tentar manipular estável, se tem desvio ou não). Também utiliza a
o foco de fratura e sentimos crepitando na nossa mão radiação X e permite uma visualização em 2
e mobilidade anormal, ou seja, um osso que não devia dimensões.
ter nenhuma mobilidade naquele local, mas
conseguimos manipular o foco de fratura. Já a ressonância magnética em fratura fica restrita ao
diagnóstico de fraturas por stress
Deve-se sempre procurar ferimento na pele e no
subcutâneo para diferenciar uma fratura aberta de
uma fratura fechada. Devemos examinar o estado
AULA 2 ORTOPEDIA I - FRATURAS

- Cintilografia óssea ↠ Funções:

A ressonância magnética e cintilografia óssea ficam


restritas às fraturas por stress. 1: Tampão em torno do traço de fratura
(estabilização)
A cintilografia óssea usa um marcador radioativo que
tem afinidade pelo tecido ósseo, é injetado no 2: Maior pressão no local → colabamento de
indivíduo – onde tiver excesso de metabolismo esse pequenos vasos → menor circulação local → necrose
marcador se fixa e isso sai na imagem de tecido → reparação de pontas ósseas.

No período agudo, imediato a fratura, já há uma


resposta do organismo de tentar estabilizar a zona.
Ou seja, o osso só irá consolidar com o foco de fratura
imóvel e próximo possível. Então, quanto menos os
fragmentos se mobilizarem e quanto mais próximos
se encontrarem melhor será o processo final de
consolidação.

O tratamento de colocação de gesso, órteses, pedir


para o paciente não movimentar ou cirurgicamente
colocar placa/ parafuso/ material de osteossíntese
→ Consolidação de fraturas possui objetivo final de diminuir a movimentação dos
seguimentos fraturados e deixar com que eles fiquem
O processo cicatricial de fratura chamamos de mais próximos possíveis. Isso, é o que vai fazer com
consolidação. Dividimos o processo de consolidação que o organismo, por si só, repare a lesão.
em 5 fases.
Então, a fase de hematoma é a organização do
sangue, contido pelo periósteo, em torno do foco de
➥ 1° Hematoma: fratura.
Quando temos a formação do traço de fratura, ou A segunda função consiste que através do aumento
seja, do momento em que há o trauma a uma solução da pressão local vai ocorrer o colabamento/
da continuidade do tecido ósseo e, fechamento de pequenos vasos sanguíneos que vai
consequentemente, vasos são rompidos gerando um diminuir a circulação local e vai gerar uma necrose
sangramento local. Esse sangramento local é contido tecidual. Essa necrose vai promover a reparação de
pelo periósteo. pontas ósseas.

A necrose tecidual é importante porque sempre que


tem um foco de fratura há tecido ósseo irregular, o
que chamamos de pontas ósseas. É necessário que o
tecido fique regular, pois quanto mais regular ele
estiver melhor será a sua reparação.

➥ 2° Proliferação Celular:
É a fase que inicia algum tipo de formação tecidual.
Porém ainda é um tecido imaturo, não há formação
Na ilustração, vemos o foco da fratura, seguimento
das células jovens dos ossos (osteoblastos). Nesta
ósseo fraturado e ruptura de vasos. Todo o
fase, temos as células primárias e precursoras de pré-
sangramento se deposita em torno do foco de fratura
tecidos ósseo (osteoblastos) que são chamadas de
com o intuito de formar um mecanismo tampão, ou
células subperiostal e subendostal.
seja, primeira “cola” para não permitir o afastamento
dos fragmentos ósseos.
AULA 2 ORTOPEDIA I - FRATURAS

Cada lado de osso fraturado começa a produzir pontes Do ponto de vista clinico, é quando ocorre a liberação
celulares. Então, vão sendo produzidas células em do paciente para sofrer manipulação local e iniciar o
direção ao tecido oponente. Esse tecido não tem tratamento fisioterápico. Esta, também, será a fase
osteoblastos e sais minerais, assim não possui em que é possível ver o osso se unindo. Quando tende
nenhuma capacidade absorver um trauma e exercer a formação do calo ósseo é quando liberamos o
carga sobre a fratura. Nesta etapa, o sangue do paciente da imobilização e permitimos a mobilização
hematoma começa a ser absorvido e caracteriza a do foco de fratura.
formação das pontes celulares primárias.
↠ Etapas:
↠ Etapas: 1: As células primárias dão origem aos osteoblastos
1: Simultaneamente há atividade celular dentro do que sofrem deposição dos sais de cálcio formando o
canal medular; osso primário;

2: Ainda não há estabilidade nem formação óssea; 2: A deposição do tecido ósseo é em torno do traço
da fratura formando o calo ósseo;
3: O sangue do hematoma começa a ser absorvido.
3: Liberação do segmento para ser mobilizado. É
visível em raio X, sendo a primeira indicação que a
➥ 3° Calo Ósseo: fratura está se unindo.

Fase mais importante do ponto de vista clínico,


porque é quando começa a formação do novo tecido ➥ 4° Consolidação:
ósseo. Essa fase conseguimos enxergar o osso com Fase em que os osteoblastos se transformam em
osteoblastos, ou seja, as células precursoras tiveram osteócitos, havendo uma reabsorção do tecido
deposição de sais minerais e deram origem aos irregular fazendo o osso tomar a sua forma original.
osteoblastos (tecido ósseo primário). Nesta fase, o Ou seja, transformação do osso primário em osso
tecido já possui a capacidade de sustentar carga. maduro (por atividades dos osteoblastos).

A característica histológica é justamente da


transformação do osso primário ao osso maduro.

A deposição de tecido ósseo ocorre de forma irregular ➥ 5° Remodelação:


e que nem sempre respeita as linhas de força do osso
original. Essa deposição dá o formato de calo ósseo Quando o osso retoma ao seu aspecto anatômico
(exemplo a seguir). original, ou seja, entra as células de reabsorção óssea.
AULA 2 ORTOPEDIA I - FRATURAS

O tecido ósseo, ao longo da vida, tem o 1: Fase inicial de hematoma e remoção de tecido
remodelamento ósseo passando o tempo inteiro necrosado;
sendo absorvido e novamente formado. Para isso,
2: Formação de células imaturas;
temos os osteoblastos que formam o osso e temos os
osteoclastos que reabsorvem o osso. 3: Transformação das células imaturas através da
deposição de sais e cálcio em osteócitos;
Na infância, isso ocorre de forma muito mais
acelerada e enquanto na fase adulta e idosa ocorre de 4: Transformação das células em osteócitos;
forma lenta. Nas crianças se espera que o osso
consolide de uma forma em que nem conseguimos 5: Remodelação óssea pelos osteoclastos e
identificar que houve uma fratura, enquanto nos osteoblastos.
adultos ficam resquícios. → Tratamento
No tratamento precisamos manter o foco de fratura
imóvel e mais aproximado possível.

↠ Objetivos:

1- Diminuir a mobilidade do foco de fratura;

2- Aproximar os fragmentos fraturais.

↠ Etapas:
➥ Tratamento Clínico:
1: Atividade dos osteoclastos que irão reabsorver o
calo ósseo (principalmente, se há desvios, ↠ Redução de Desvios:
hematomas e/ou calos grandes), visando o reparo;
As fraturas que possuem desvios de fragmentos
2: Nas crianças a remodelação será melhor tornando devem ter esses desvios reduzidos.
imperceptível nas radiografias, o que nos adultos
não ocorre. • Manobra fechada: sem cirurgias, através de
manipulação e tração (monitorada por imagem/
crianças, ossos menores).
Lembrando...

É na terceira fase que conseguimos identificar na


radiografia e é considerada a alta clínica, ou seja, o
paciente é liberado para sofrer impactos no traço de
fratura.

Ilustração:
• Manobra aberta: procedimento cirúrgico, são
similares as luxações. Essa manobra é utilizada
quando não tem jeito de reduzir o desvio através
da manobra fechada, sendo os desvios grosseiros
(ex.: cominutiva)

↠ Imobilização:

Após a redução da fratura, devemos tornar o foco de


fratura imóvel.
AULA 2 ORTOPEDIA I - FRATURAS

• Imobilização fechada: utilização de gesso e infecção, depois, de forma definitiva se muda para o
órteses pré-fabricadas em fraturas que são ditas material de osteossíntese (fixação interna).
estáveis.
➥ Reabilitação:
Em geral, a mobilização óssea pode ser iniciada após a
formação do calo ósseo (retorno a atividade o mais
cedo possível). Quando tivermos um raio X que
aponte a consolidação e a formação do calo ósseo,
liberamos o paciente para a reabilitação.
• Fixação interna: utilizadas quando as fraturas são
ditas instáveis. A fixação acontece cirurgicamente
através de placas, parafusos, hastes
intramedulares, grampos ou qualquer material
de osteossíntese. O material de osteossíntesse
faz uma fixação interna, ou seja, abre o doente,
fixa o osso e depois fecha.
Ex.1: As fraturas da imagem são tratadas inicialmente
com fixadores externos.

Ex.2: Fratura com desvio na angulação.

• Fixação externa: outro componente cirúrgico.


São fixadores que não ficam totalmente
internamente, ou seja, a fratura é estabilizada de
fora para dentro. Eles vão fixar a fratura, mas se
localizam externamente. Geralmente, a fixação
externa é feita em fraturas abertas sejam elas
expostas ou não. Porém, em fraturas infectadas Ex.3: Formação de calo ósseo na imagem da esquerda
não podemos colocar material de osteossíntese e um calo irregular na imagem à direita.
devido risco de aumentar a infecção, devendo,
então, fazer uma fixação externas. O organismo vai sempre vai tentar promover algum
tipo de consolidação, quando o corpo fica instável e
com grande desvio ocorre a formação de um calo
ósseo aleatoriamente. Quanto mais instável uma
fratura maior será o calo ósseo e completamente
distinto. Para se ter uma boa consolidação óssea é
necessário pelo menos um periósteo em contato. Nos
casos da imagem da direita ocorre a complicação
Hoje em dia, a grande utilização do fixador externo é
chamada de consolidação viciosa.
para fraturas potencialmente infectadas ou grandes
desvios de fragmentos. Então, na fase inicial utiliza o
fixador externo, trata o osso e a possibilidade de
AULA 2 ORTOPEDIA I - FRATURAS

• Consolidação Viciosa: causada por


um grande desvio = grande calo.
Essa complicação corresponde ao
osso que consolida de forma
anormal.
Ex.4: mobilização.
• Necrose: ocorre em ossos mal
vascularizados. Ossos como tálus, escafoide e
cabeça do fêmur possuem nutrição leve e
com o processo de fratura perdem sua
nutrição e ao longo do processo de
consolidação podem faltar nutrientes e
entrarem em processo de necrose.

• Encurtamento: o encurtamento do osso


ocorre em uma falha de consolidação.

• Lesões de grandes vasos, nervos e vísceras

Ex.5: técnica cirúrgica de fixadores externos utilizadas • Embolia gordurosa: são placas de gordura
em fraturas abertas e expostas. A vantagem é a que se soltam dos grandes ossos compactos
fixação à distância onde não tem possibilidade de (tíbia e fêmur) que entram na circulação
infecção.
sanguínea e podem embulizar.

→ Complicações • Calcificação Ectópica: alguns indivíduos que


➥ Infecções: possuem a fratura e começam a sofrer a
consolidação a distância.
• Retardo de consolidação (não há sinais
radiológicos): quando esperamos que ocorra Ex.: fratura do fêmur e o individuo começa
a consolidação de um osso em 5 semanas, a ter uma calcificação no quadril. Vemos
mas quando ocorre um atraso é preciso achar muito em pacientes neurológicos
as causas. As causas podem ser hormonais, (paraplégico, tetraplégico e hemiplégico).
locais, faixa etária...
• Atrofia de Sudeck: complicação neurológica
• Não consolidação: pseudoartrose = (SNA), o individuo com fratura apresenta
extremidades ósseas arredondadas e descarga do sistema nervoso autônomo
esclerosadas, como se fosse a formação de simpático. Ou seja, suar frio, pele fria,
uma nova articulação. sudorese, tremor, pilo ereção, dor,
componente emocional associado.

Ex.: um individuo com uma fratura no rádio


fica com o membro todo acometido.
AULA 2 ORTOPEDIA I - FRATURAS

• Osteomielite: infecção do osso,


principalmente, nas faturas abertas e/ou
expostas.

• Osteoartrite ou Osteoartrose: fraturas


que acometem a articulação e deixam
defeitos anatômicos podem evoluir para
processo degenerativo articular.

Você também pode gostar