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Capítulo 1 UM BACKGROUND PARA A ABORDAGEM CIENTIFICA AO COM­

PORTAMENTO

Quando Sócrates ouviu falar das novas descobertas no campo da anatom ia, que se
propunham a provar que as causas dos movimentos corporais eram derivadas de um
engenhoso arranjo mecânico dos músculos, ossos e articulações, disse: “ Isto dificilmente
explica porque estou sentado aqui, numa posição recurvada... falando com vocês”
(K antor, 1963). Passaram-se 2.300 anos desde este com entário de Sócrates e nos séculos
subsequentes, as causas do com portam ento hum ano foram atribuídas a marés, espirito
divino, posição das estrelas e, com freqüência, simplesmente ao capricho. Nos últim os
cem anos, surgiu uma c iê n c ia do com portam ento trazendo um conceito estrutural novo,
com novas atitudes em relação às causas do com portam ento. Uma breve história dos
eventos que levaram ao desenvolvimento desta ciência é uma introdução apropriada para
seu estudo. Assim como não existe um m odo melhor de entender as atividades presentes
de uma pessoa do que estando a par de sua história passada, também não há m elhor meio
de entender as atividades presentes de uma ciência do que através do conhecim ento do
seu passado.

1.1 PRIMEIRAS TENTATIVAS PARA EXPLICAR E CLASSIFICAR O COMPORTA


MENTO HUMANO
As origens precisas da ciência do com portam ento, como aquelas todos os campos
do conhecim ento, estão perdidas na obscuridade dos tempos. Mesmo assim, sabemos que
pelo ano 325 a.C., na Grécia antiga, Aristóteles combinou a observação e a interpretação
num sistema naturalístico de com portam ento, ainda que primitivo. Aristóteles procurou
as causas (1) do movimento dos corpos, e (2) das discriminações feitas pelos organismos.
Descreveu muitas categorias de com portam ento tais com o a percepção dos sentidos,
visão, olfato, audição, bom senso, pensamento simples e com plexo, apetite, mem ória,
sono e sonho..Seus tópicos soam-nos familiares, atualm ente, e eles rão ainda encontrados
de uma forma ou de outra, em quase todos os textos de Psicologia. Aristóteles estava
menos interessado na previsão e controle da natureza do que estamos atualmente e, desta
torma, suas explicações do com portam ento têm um sabor mais antiquado. Aristóteles
estava preocupado em explicar as várias atividades de um indivíduo, m ostrando serem
eias padrões específicos de “ qualidades” gerais, tais como apetite, paixão, razão, vontade
e habilidade sensorial (Toulmin e Goodfield, 1962).

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As observações e classificações de Aristóteles e dos estudiosos gregos que o seguiram
foram um início substancial na tentativa naturalística de entender as causas do compor-'
tam ento humano. Mas a nova ciência declinou com o desaparecimento da civilização
helênica. O início da Era Cristã e da Idade Média produziu um clima intelectual pobre
para o desenvolvimento da observação e pesquisa: o hom em voltou sua atenção para os
problemas metafísicos. Os Padres da Igreja iniciaram e os teólogos medievais com ple­
taram uma transformação conceituai de uma das “ qualidades” puram ente abstratas de
Aristóteles numa alma sobrenatural a quem as causas do com portam ento hum ano eram
atribuídas. Encarando esta alma como imaterial, insubstancial, e sobrenatural, um
dualismo definitivo foi estabelecido entre alma e corpo. Colocando as causas do com por­
tam ento numa região não observável do espírito, este dualismo inibiu o estudo natura-
lístico do com portam ento. Então, por um longo período de tem po, as ciências do
com portam ento permaneceram adormecidas. Temos que pular adiante para o século
dezessete, no tem po de Galileu e o surgimento da física m oderna para retom ar os fios
que eventualmente, deram-lhes uma estrutura científica.
As teorias do filósofo e m atem ático Renè Descartes (1596-1650), contem porâneo
francês de Galileu, representam uma quebra parcial da explicação m etafísica do com por­
tamento. Tomando com o modelo as figuras mecânicas dos jardins reais de Versailles que
se moviam e produziam sons, Descartes sugeriu que o m ovimento corporal era o
resultado de causas mecânicas semelhantes.
As máquinas nos n rd in s reais operavam baseadas em princípios hidráulicos. A água
era bombeada em tubos fechados para impulsionar os membros das figuras, produzindo
movimentos, ou era conduzida através de aparelhos que emitiam palavras ou músicas
quando a água passava. Descartes imaginou que animais e homens eram, na realidade, um
tipo de máquina complicada, analogamente construída. Ele substituiu a água das figuras
reais pelos espíritos animais, um tipo de substância intangível, elástica e invisível; e supôs
que os espíritos fluíssem nos nervos de tal modo que entravam nos músculos causando,
assim, sua expansão e contração e, por sua vez, fazendo os membros se movimentarem.
Algumas das Figuras Reais estavam arrumadas de maneira que, se os visitantes
passassem por cima de ladrilhos escondidos, o mecanismo hidráulico atuante fazia as
figuras se aproximarem ou se afastarem. Descartes tom ou essa resposta mecânica como
modelo para explicar com o um estím ulo ambiental externo poderia causar um movimento
corporal. Uma ilustração (ver la. Parte, p.21) num dos seus trabalhos, m ostra o retraim entc
de um membro de um homem próximo de uma chama. De acordo com Descartes, “ a má­
quina do nosso corpo é assim form ada” de tal m odo que o calor de uma chama excita
um nervo que conduz essa excitação ao cérebro. Do cérebro, os espíritos animais são
transmitidos ou refletidos de volta ao m em bro, através do nervo, aum entando o músculo
e causando assim a contração e retraim ento (Fearing 1930).
O desejo de Descartes de encarar o com portam ento hum ano como determ inado por
íorças naturais foi somente parcial. Hle limitou sua hipótese mecânica para certos com ­
portam entos “ involuntários” e supôs que o resto era governado pela alma, localizada no
cérebro. A alma guiava inclusive os mecanismos dos com portam entos “ involuntários” ,
mais ou menos do mesmo m odo que uma máquina poderia dirigir as Figuras Reais. A
despeito deste dualismo e a despeito de sua escolha de um princípio hidráulico, as
formulações de Descartes representaram um avanço no pensamento inicial sobre o com ­
portam ento. A teoria do corpo como um tipo específico de m áquina poderia ser testada
por observação e experim entação. Hsta foi a propriedade seriamente omitida nas

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explicações medievais. Ao'restabelecer a idéia de que, pelo menos, algumas das causas do
com portam ento hum ano e animal poderiaim ser encontradas no ambiente observável,
Descartes estabeleceu as bases filosóficas que eventualmente iriam justificar uma
abordagem experim ental do com portam ento.
1 . 2 - A AÇÃO REFLEXA

O ponto de vista de Descartes simboliza o novo interesse num mecanismo que


conduziu à experim entação sobre a ação “ reflexa” do animal. Em 1750, um psicólogo
escocês, Robert W hytt, redescobriu e expandiu experim entalm ente o princípio do
estím ulo, de Descartes. Pela observação da contração sistemática da pupila à luz,
salivação a irritantes e vários outros reflexos, W hytt foi capaz de estabelecer um a relação
necessária entre dois eventos separados: um estím ulo externo (por exem plo, a luz), e uma
resposta corporal (por exem plo, a contração da pupila). Além disso, a demonstração de
Whytt que um número de com portam entos reflexos poderia ser eliciado numa rã decapi­
tada, enfraqueceu a atratividade de um a explicação em term os de alma. C ontudo, não foi
possível, ainda no século dezoito, olhar o estím ulo isoladamente como uma causa sufi­
ciente do com portam ento. A alma, pensou W hytt, provavelmente se difunde através da
medula e do cérebro, retendo, consequentem ente, o controle mestre dos reflexos.
Nos 150 anos seguintes, mais e mais relações reflexas foram descobertas e elaboradas
e o conceito de estím ulo adquiriu mais força. Ao mesmo tem po, a ação do nervo passou
a ser com preendida com o um sistema elétrico ao invés de hidráulico. No inicio do século
XIX, a tendência espiritual tomou-se supérflua para explicar a ação “ involuntária” e Sir
Charles Sherrington, célebre fisiologista inglês, pôde resumir as causas do com portam ento
reflexo em leis quantitativas de estímulo-resposta. Essas leis relacionavam a velocidade,
m agnitude e probabilidade da resposta reflexa à intensidade, freqüência e outras
propriedades mensuráveis do estím ulo. A ciência havia anexado inteiram ente o reflexo.
Mesmo assim, uma grande proporção do com portam ento hum ano e dos animais
superiores permaneceu ligada a forças sobrenaturais.

1.3 - REFLEXOS CONDICIONADOS OU ADQUIRIDOS

Pouco antes do início do século XX, Ivan Pavlov, fisiologista russo, estava
pesquisando as secreções digestivas de cães. No curso desses experim entos, notou que
enquanto a introdução de alimento ou ácido, na bôca, resultava num fluxo de saliva, a
mera aparição do experim entador trazendo alimento poderia tam bém eliciar um fluxo
similar. Pavlov não foi, de m odo algum, o primeiro hom em a fazer observações deste
tipo. Mas parece ter sido o prim eiro a suspeitar de que seu estudo detalhado poderia
fornecer um indício para a compreensão do com portam ento ajustado e adaptado dos
organismos. Foi esta visão que o ievou ao estudo sistem ático desses reflexos, os quais
chamou de reflexos condicionais, porque eles dependiam ou eram condicionais a um
evento prévio na vida do organismo. A aparição do experim entador não eliciava origi­
nalmente a saliva. Somente depois que sua aparição era frequentem ente associada com
alimento ou ácido, ela apresentava esse efeito. A contribuição particular de Pavlov foi
m ostrar experim entalm ente como os reflexos condicionais eram adquiridos, como
poderiam ser removidos (extintos) e que faixa de energias do am biente era efetiva em sua
produção. Pavlov, em tem po, apontou uma lei geral de condicionam ento: depois de uma

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associação temporal repetida de dois estím ulos, aquele que ocorre primeiro, eventual­
m ente, passa a eliciar a resposta que, norm alm ente, é eliciada pelo segundo estím ulo.'
Esta lei continua conosco até hoje, ligeiramente modificada.
Três aspectos gerais do trabalho de Pavlov merecem nossa atenção. Primeiro, ele não
estava satisfeito em observar simplesmente os aspectos gerais do condicionam ento, como
muitos outros fizeram antes dele (c. f. Hall e Hodge, 1890). E^m vez disso, ele prosseguiu
para verificar a generalidade do fenômeno usando m uitos estím ulos e m uitos cães. Foi
somente depois de numerosas dem onstrações que ele codificou numa lei o que havia
descoberto -- lei esta aplicável, pensou ele, a todos os estím ulos e a todos os organismos
superiores. Segundo, Pavlov, preocupou-se com os aspectos mensuráveis ou quantitativos
do fenômeno. Essas quantidades mensuráveis, tais como a quantidade de saliva e o
número de emparelham entos do retlexo, foram úteis por permitirem uma análise deta­
lhada do condicionam ento. Um terceiro aspecto do trabalho de Pavlov foi sua natureza
sistemática. Limitando seus estudos aos efeitos de numerosas condições sobre uma única
grandeza (quantidade de saliva), Pavlov assegurou que suas descobertas experimentais
pudessem ser interrelacionadas e, consequentem ente, mais significativas.
Pavlov viu claramente como se deve proceder na explicação do com portam ento.

“ o naturalista deve considerar somente uma coisa: qual é a relação desta ou daquela
reação extem a do animal com os fenômenos do m undo externo? Esta resposta pode
ser extrem am ente complicada em comparação com a reação de qualquer objeto
inanimado, mas o princípio envolvido permanece o mesmo.
Estritam ente falando, a ciência natural tem por obrigação determ inar somente a
conexão precisa que existe entre um dado fenômeno natural e a resposta do organis
mo vivo a este fenôm eno (Pavlov, 1928, p. 82)” .

Contudo, apesar de seu próprio interesse declarado na relação meio e resposta,


Pavlov gradativamente passou a encarar o condicionam ento como um estudo da função
do cérebro. Suas explicações tendiam a ser em termos de processos cerebrais hipotéticos.
Mas, na verdade, Pavlov raramente mediu qualquer relação real entre cérebro e com por
tam ento. Assim, estas explicações eram tão fictícias como as primeiras explicações em
termos da alma. Tentando explicar o com portam ento através de funções desconhecidas
do cérebro, ele evitava uma descrição direta do próprio com portam ento violando, deste
m odo, um a das suas próprias afirmações de que uma ciência do com portam ento necessita
determ inar somente a "conexão precisa que existe entre um dado fenômeno natural e a
resposta do organismo vivo a este fenôm eno” .

L4 - A TEORIA DA EVOLUÇÃO E O COMPORTAMENTO ADAPT ATIVO

De certo modo, o trabalho de Pavlov representa o auge da doutrina mecanicista de


Descartes sobre o com portam ento reflexo. Com respeito ao com portam ento que
tradicionalm ente era colocado sob o controle do desejo ou volição, Descartes seguiu os
preconceitos de seu tem po, atribuindo-o ao controle de uma alma não observável. Tal
“ solução” , todavia, apenas adiou a investigação científica, um a vez que o problema
original de explicar o com portam ento foi simplesmente transferido para um outro mais
difícil, o de explicar o com portam ento da alma postulada. Em 1859, ocorreu um grande
evento científico que alterou o clima intelectual tornando-o favorável para um estudo

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naturalistic*) do com portam ento voluntário. Naquele ano, Charles Darwin propôs a teoria
da evolução, dizendo que o homem era m em bro do reino animal e que diferenças entre o
hom em e outros animais eram quantitativas e somente um a questão de graus. Assim um
conhecido historiador da Psicologia colocou a questão;

“ A teoria da evolução levantou o problem a da Psicologia animal porque ela exige


uma continuidade entre diferentes formas animais e entre o homem e os animais. De
uma m aneira vaga, a noção Cartesiana [de Descartes] ainda prevalecia. O homem
possuia uma alma e os animais eram considerados sem alma, e havia, além disso,
pouca distinção entre um a alma e um a mente. A oposição à teoria da evolução era
baseada principalm ente na suposição que fazia de haver continuidade entre hom ens e
feras e a réplica óbvia para a crítica foi dem onstrar a continuidade. A existência de
m ente nos animais e a continuidade entre a m ente hum ana e animal, deste modo,
tornou-se crucial para a sobrevivência da nova teoria (Boring, 1929, p. 462-463)” .
A teoria de Darwin era baseada em muitas observações cuidadosas que ele havia feito de
fósseis e da estrutura da flora e fauna vivas, em áreas isoladas da Terra. Além disso, ele
pesquisou o com portam ento através do qual os animais se adaptavam aos seus meios. As
observações com portam entais de Darwin foram tão amplas e detalhadas que marcam a
primeira tentativa sistemática de uma Psicologia Animal Comparativa (ver Darwin, 1873).
O interesse de Darwin no com portam ento foi, como observou o professor Boring,
baseado naquilo que tal com portam ento revelaria sobre a mente. Assim, a dem onstração
da com plexidade e variedade nos com portam entos adaptativos de animais em relação a
seus ambientes mutáveis, pareceria provar que eles, como o homem, deviam também
pensar, ter idéias, e sentir desejos. Consequentem ente, Darwin foi criticado por seu
antropom orfism o, isto é, por tentar explicar o com portam ento animal em term os de
conceitos mentalistas. Mas pouco se pensou neste tem po em levantar a questão m eto­
dológica mais radicai; se os conceitos m entalistas tradicionais (pensam ento, idéia,
desejos) têm valor explicativo mesmo para o com portam ento humano.
George John Romanes, amigo de Darwin, escritor inglês e popularizador da ciência
escreveu um livro sobre a inteligência animal (Rom anes, 1886) no qual com parou o
com portam ento de várias espécies de animais. Romanes colheu material da observação
cuidadosa de animais, mas, também levou em consideração evidências de cunho popular
sobre animais de estim ação e de circo. Por esta razão, seu m étodo veio a ser cham ado
a n e d ó tic o . O s m étodos, antropom òrfico e anedótico de Darwin e Romanes,
respectivamente, marcaram uma renovação no interesse pelo com portam ento adaptativo
do animal e pela relação deste com o com portam ento humano. C onsequentem ente, eles
representam im portantes precursores históricos de um a verdadeira análise experim ental
do com portam ento.
1 .5 - O S P R IM E IR O S E X P E R IM E N T O S S O B R E O C O M PO RTA M EN TO
“ VOLUNTÁRIO”

Em 1898, Edward L. Thorndike, da Universidade de Columbia, publicou os


resultados de alguns estudos de laboratório com gatos, cães e pintos. Seus m étodos eram
radicalm ente opostos àqueles da observação casual que o haviam precedido. A
aparelhagem utilizada por Thorndike é m ostrada na Fig. 1 -1 .0 com portam ento estudado
foi a fuga de um ambiente fechado e atos, tais como, puxar um cordão, mover um trinco,

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pressionar uma barra ou abrir uma porta erguendo uma tramela, foram escolhidos por sua
c o n v e n iê n c ia e e x a tid ã o de observação. Uma vez que qualquer um destes
com portam entos podia ser organizado de m odo a servir como instrum ento que
produziria a fuga da caixa, Thorndike os chamou de comportamentos instrumentais.

I igura 1-1. A caixa quebra-cabeças utilizada por T horndike para estudar a


aprendizagem instrum ental de anim ais (G arret, 1951).

Q uatro elementos do trabalho de Thorndike sobre o com portam ento instrum ental
dem onstram uma qualidade m oderna não vista nas pesquisas com portam entais antes de
sua época. (1) Ele reconheceu a im portância de se fazer observações de animais cujas
histórias passadas fossem conhecidas e mais ou menos uniformes. Logo, criou seus
animais no laboratório onde poderiam obter condições am bientais semelhantes antes do
experim ento. (2) Thorndike compreendeu a necessidade de se fazer observações repetidas
de um mesmo animal e de se fazer observações em mais de um animal e em mais de uma
espécie. Somente deste m odo poderia estar certo de que os resultados que ele obtinha
eram aplicáveis aos animais em geral. (3) Thorndike viu que, a menos que considerasse
mais do que um ato particular do com portam ento, suas conclusões, seriam válidas apenas
para o único aspecto do com portam ento que ele escolhesse. Logo, empregou diversos
comportamentos em vários aparelhos diferentes. (4) Ainda outra qualidade do trabalho
de Thorndike, caracteristicam ente científica, foi sua tentativa de fazer uma apresentação
quantitativa dos resultados.
De seus trabalhos com animais nas caixas quebra-cabeça, Thorndike apresentou um
conjunto de princípios ou leis gerais do com portam ento que acreditava serem válidas
para m uitas espécies e m uitos tipos de com portam ento. Um desses, princípios, embora

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modificado chegou até nossos dias. Thorndike notou que, quando os animais eram
inicialmente colocados na caixa quebra-cabeça, eles apresentavam muitas respostas difusas
de debater-se. Eventualm ente, um desses com portam entos difusos poderia, por acaso, fazer
funcionar o mecanismo de fuga. A porta, então, abrir-se-ia, perm itindo ao animal sair da
c a ix a e o b t e r u m a p e q u e n a quantidade de alim ento. Thorndike observou que o
com portam ento, que inicialmente perm itia ao animal sair, era apenas um dos muitos que ele
executava na situação. Assim, à m edida que o animal era repetidam ente subm etido à
s itu a ç ã o , ele p a ssa v a a a p r e s e n ta r m enos com portam entos supérfluos, até que
eventualm ente não apresentasse, praticam ente, nenhum daqueles mal sucedidos.
Thorndike concluiu disto que os resultados bem sucedidos do passado, ou efeitos do
com portam ento, deveriam ter uma influência im portante na determ inação das tendências
com portam entais presentes do animal. Thorndike chamou isto — a capacidade dos efeitos
passados do com portam ento modificarem os padrões do com portam ento animal — a lei
do efeito. Esta lei sobrevive ainda hoje com o um princípio fundam ental na análise
fundam ental e controle do com portam ento adaptativo.

1 .6 - O ZEITGEIST

Thorndike forneceu um novo m étodo experim ental e com sua ajuda formulou o que
logo seria aceito com o uma lei básica do com portam ento adaptativo. Do mesmo m odo
que W hytt, 1 50 anos antes, deixou o conceito de reflexos parcialmente no estado de fato
observado e parcialmente no estado de interpretação supérflua, assim tam bém Thórndike
deixou a lei do efeito. Na sua proposição do princípio, Thorndike não estava satisfeito em
considerar o “efeito” com o uma mera fuga do confinam ento ou mero acesso ao
alimento. Mas em vez disso, sentiu necessidade de inferir que o sucesso levava ao prazer e
a satisfação, e que estas eram as causas verdadeiras das mudanças observadas no com por­
tam ento. Deste m odo, ele deixou a explicação a cargo de estados mentais hipotéticos,
prazer e satisfação, os quais não eram mais reais do que a “alm a” de Descartes. Para
Thorndike, com o para seus contem porâneos, o com portam ento de um gato escapar de
uma caixa quebra-cabeça não era im portante com o com portam ento, mas somente com o
um meio de esclarecer os processos mentais e associações de idéias do animal.
T h o r n d ik e foi, então, fiel à sua época e suas tradições considerando o
com portam ento principalm ente interessante pelo que podia revelar sobre algum outro
sistema. O que as épocas e as tradições impõem aos mais originais pensadores são
frequentem ente denominadas de Zeigeist. Os grandes hom ens de uma era erguer-se-ão
acima de Zeitgeist de algumas maneiras mas, mesmo assim, serão por ele acorrentados de
outras maneiras. Descartes superou-o quando propôs uma teoria mecanicista original
sobre o m ovim ento do corpo. Que ele foi acorrentado pelo Zeitgeist, é evidente, pela sua
permanência no dualismo “ m ente-corpo” . Vimos o Zeitgeist em Whytt, que redescobriu
o princípio do estím ulo, mas não foi capaz de eliminar a alma com o a causa final dos
reflexos que observou. Pavlov estudou os reflexos condicionados, um fenômeno cuja
im portância foi negligenciada durante séculos. Mesmo assim, vimos que Pavlov estava
preso pelo Zeitgeist; ele manteve o p onto de vista de que os reflexos condicionados,
em b o ra , claram ente, um fenômeno com portam ental, eram de interesse para a
compreensão do cérebro ao invés do com portam ento. Agora, vemos o Zeitgeist em
Thorndike, que realizou alguns dos primeiros experim entos sobre o com portam ento
“voluntário” , mas explicou suas descobertas através da associação de idéias. De fato, o

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princípio do Zeitgeist penetra de tal forma todas as ciências que podem os tomar com o
regra geral que tod o trabalho hum ano será colorid o pelas teorias e p on lo s de vistas
aceitos em sua época. Assim, embora a grandeza de um hom em consista em libertar-se de
certas maneiras de pensar estabelecidas e ver o que ninguém antes dele viu claramente,
ou, do m esm o m odo, ele não escapará com pletam ente do clim a social, filosófico e 1
cultural n o qual trabalha.

1.7 - A PSICOLOGIA PERDE A SUA MENTE

Thorndike introduziu o com portam ento adaptativo no laboratório e, assim fazendo,


descobriu a importância da l e i do efeito. Os estudos de Thorndike sobre o com por­
tam ento surgiram do seu interesse, com o P sicólogo, nos processos mentais. Será instru­
tivo, neste p onto, exam inar a disciplina da P sicologia que, na primeira m etade do
s é c u lo v i n t e , fundir-se-ia com outras contribuições históricas da ciência do
com portam ento. A pesquisa psicológica experim ental iniciou-se em meados do século
dezenove co m o uma disciplina derivada da fisiologia dos órgãos dos sentidos. De fa to , os
pioneiros Herman H elm holtz, Johannes Müller e Wilhelm Wundt eram tod os físicos e
fisiologistas. Estes primeiros psicólogos experim entais adotaram as categorias de
com portam ento descritas por Aristóteles mas, de um m odo diferente deste, eles estavam
interessados no com portam ento, apenas, na m edida em que esclarecia os processos
m entais. L ogo, o trabalho dos primeiros psicologistas representava um a tentativa para
tornar os m étodos experim entais naturalísticos, introduzidos por Galileu, com patíveis
com as doutrinas m etafísicas da Idade Média.
F oi Wundt que, em 18 79, fundou o primeiro laboratório de Psicologia em Leipzig.
Podem os considerar o seu sistem a com o representativo das atividades desta nova
disciplina, a qual tinha m enos de vinte anos quando Thorndike estava fazendo seus
experim entos com gatos e pintos na Colúmbia. Wundt advogou que a psicologia era a
ciência da experiência; e, co m o tal%seu objeto de estudo abrangia sentim entos,
pensam entos e sensação. Ele form ulou a doutrina de que o m éto d o da Psicologia era
introspectivo, um exam e dos processos conscientes do organismo em experiencia. Logo,
Wundt esquem atizou o problema da P sicologia co m o “(1 ) a análise dos elem entos dos
processos conscientes, (2 ) a determ inação de com o esses elem entos são conectados e (3 )
a determ inação das leis de co n ex ã o ” (Boring, 192 9, p. 3 2 8, ital. om itidos). Os expe­
rimentos que Wundt e seus seguidores realizaram dão uma imagem melhor do con teúd o
da psicologia do que as definições fornecidas por Wundt. A maioria dos trabalhos foi
classificada sob o títu lo de sensação humana e dizia respeito ao sentido visual em
particular. Num erosos experim entos m ediam as intensidades m ínim as de luz que um o b ­
servador poderia detectar sob várias condições. Outros estavam voltados para as menores
mudanças ambientais necessárias para um observador relatar diferenças apenas percebidas
çm lum inosidade, cor e distância dos objetos. Tais pesquisas vieram a ser chamadas de
experim entos de limiares em Psicofísica. P sico— porque as sensações eram consideradas
estar sob estudo; física - porque mudanças físicas no ambiente eram manipuladas e
medidas experim entalm ente. Audição, tato, gosto, olfato e o sentido do tem po também
foram pesquisados, assim co m o o tem po de reação, atenção e sentim ento. A m emorização
de vários tipos de sílabas sem sentido era um m étodo para tratar a associação de idéias e
deduzir as propriedades da memória.
Embora se afirmasse ser a psicologia uma ciência dos conteúdos, processos e atos
m entais, o que de fato ela investigava era o com portam ento. A ssociações de idéias eram

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inferidas a partir da aprendizagem de sílabas sem sentido; sensações idênticas eram inferi­
das de observações do com portam ento quando um sujeito humano agrupava dois objetos
ambientais diferentes em contextos diferentes (por exemplo, duas amostras de papel
cinza sob diferentes condições de iluminação); a velocidade do processo mental era
inferida do tem po de reação do indivíduo. Assim, não foi paradoxo algum o fato de que
quando Thorndike veio a fazer uma observação mais detalhada da associação de idéias,
e s tiv e s s e liv re para escolher animais como sujeitos. Se o com portam ento dos
organismos humanos poderia levar à inferência sobre o processo m ental, por que não o
com portam ento animal? Logo, aconteceu que o trabalho de Thorndike ajudou a in tro ­
duzir os métodos de pesquisa animal na Psicologia. A í eles pejmanecem ao lado dos
descendentes metodológicos da psicologia sensorial clássica e da Psicologia introspect iva
do século dezenove.
Mas, talvez o homem que mais contribuiu para esclarecer a relação entre o
com portam ento e Psicologia foi John B. Watson. O primeiro trabalho deste psicologista
americano dizia respeito às modalidades sensoriais que o rato usa na aprendizagem de um
labirinto. À medida que Watson continuava seus estudos com animais, tornava-se mais e
mais preocupado com o ponto de vista predom inante de que o com portam ento era
significativo somente quando esclarecia processos m entais ou conscientes. Ocorreu a
Watson que os dados do com portam ento tinham valor em si mesmos e que os problemas
tradicionais da Psicologia — imaginação, sensação, sentim ento, associação de idéias —
poderiam ser todos estudados estritam ento por m étodos com portamentais.

Em 1913, Watson publicou um trabalho, atualm ente clássico, definindo a psicologia


como ciência do com portam ento e cham ando esta nova Psicologia de “ behaviorismo” .
Watson argumentava, neste trabalho, que o estudo do com portam ento poderia chegar a
u m ‘status’ independente dentro da ciência. O objetivo de tal ciência seria a previsão e
controle do com portam ento de todos os animais, sem nenhum a preferência especial para
os seres humanos. O behaviorista, dizia Watson, deve relacionar seus estudos de ratos e
gatos com o com portam ento humano não mais (não menos) do que o zoologista deve
relacionar suas dissecações de sapos e vermes à anatom ia humana. Através de sua
doutrina, Watson estava destruindo a teoria hom ocêntrica da im portância do homem no
mundo do com portam ento tão eficazmente como Copérnico, quatrocentos anos antes,
havia destruído a teoria do universo geocêntrico (terra no centro).

O ponto crítico de Watson era o de que a psicologia deveria ser objetiva —isto é, ela
deveria ter um objeto de estudo que, com o nas outras ciências, fosse independente do
observador. A Psicologia clássica, tentando estabelecer com o seu objeto a auto-
observação, carecia de um observador independente, localizado fora do sistema em
consideração. A adoção do com portam ento com o objeto a ser observado deu à nova
psicologia o observador independente necessário.

O programa de Watson tinha um grande alcance e era para sua época, notavelmente
sofisticado. Ao enfatizar o com portam ento como um objeto independente de uma
ciência dirigida para a previsão e controle do com portam ento e a análise microscópica
do ambiente e com portam ento em term os de estím ulo e resposta como a maneira para a
compreensão eventual de padrões complexos do com portam ento, o programa de Watson
preparou a base para nossos pontos de vista modernos.

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1 . 8 - 0 FIRME ESTABELECIMENTO DE UMA ANÁLISE EXPERIMENTAL DO
COMPORTAMENTO
Os primeiros experim entos de Thorndike sobre o com portam ento animal e a
definição de Psicologia dada por Watson, com o uma ciência do com portam ento,
introduziram a pesquisa animal na Psicologia,Mesmo assim, o ‘status’ científico da nova
Psicologia era precário. No princípio dos reflexos condicionados form ulado por Pavlov,
Watson pensou ter encontrado um mecanismo explicativo para m uitos dos ajustam entos
complexos e sutis de organismos adultos, inclusive o homem, aos seus ambientes. Mas a
tentativa de forçar todos os com portam entos no modelo do reflexo foi um fracasso.
Watson não soube apreciar a im portância daJei do efeito de Thorndike, principalm ente,
pode-se supor, devido ao excesso de bagagem conceituai com que Thorndike envolvera a
questão. O ponto de vista de Watson de que a tarefa de uma ciência preditiva do
com portam ento fosse a compilação de todas as correlações estím ulo-resposta hereditárias
e adquiridas que um dado organismo exibisse, desviou a atenção da procura de leis gerais
do com portam ento. Neste vácuo teórico, conceitos mentalistas tradicionais continuaram
a sobreviver. O rigor experimental do behaviorismo estava fora de questão, mas sua m eto­
dologia corria o risco de ser estéril.
“Vinte anos de “ m étodo de ciência natural” sustentados pelo behaviorismo fracas­
saram em fornecer um a formulação sistem ática consistente e útil. Os dados experi­
mentais refletiam muitas propriedades arbitrárias dos aparelhos. Conclusões acei­
táveis com qualquer grau de generalidade referiam-se a aspectos, características ou
capacidades limitantes. Enquanto muitas dessas eram bastantes válidas, poucas eram
logicamente convincentes e preferências pessoais levavam a muitas ‘ciências’
individuais do com portam ento” (Skinner, 1944; p. 276).

Numa série de publicações iniciadas em 1930, B. F. Skinner propôs um a formulação


do com portam ento que surgiu de observações feitas num único organismo respondendo
numa situação experimental artificial, cuidadosamente controlada e altam ente padro­
nizada. O organismo que Skinner usou foi o rato branco, e a aparelhagem consistia numa
caixa contendo uma pequena barra que, se pressionada pelo rato, fornecia uma pequena
pelota de alimento em um recipiente localizado diretam ente abaixo da barra

Figura 1-2. A caixa de Skinner


para o estudo do com portam en­
to operante de pequenos animais
(Skinner, 1938).

- 3 2 -
Sob essas condições experim entais, um rato fam into deixado só na caixa, logo viria a
pressionar a barra com uma taxa constante e m oderada até que um dado núm ero de
pelotas de alim ento liberadas começasse a saciar o animal. A situação experim ental
utilizada por Skinner e sua abordagem aos problemas do com portam ento foram únicas
em m uitos aspectos. Skinner viu a necessidade de encontrar um a variável dependente
sensível e exata. Isto é, algum aspecto quantitativo do com portam ento que pudesse variar
numa ampla faixa e ter uma relação ordenada e regular com as variáveis ambientais
passadas e presentes, relação esta que pudesse ser formulada em termos de um a lei. Sua
descoberta de que a freqüência de ocorrência da resposta de pressionar a barra durante
um intervalo de tem po (sua taxa) satisfazia essas condições, foi o principal avanço em
direção a uma análise sofisticada do com portam ento individual.
A abordagem de Skinner aos problemas do com portam ento diferia, de certo m odo,
daquelas dos seus precursores assim como de seus contem porâneos que trabalhavam com
a psicologia animal. Como proposição fundam ental, ele sustentou que uma ciência do
com portam ento poderia ser o que chamou de descritiva ou funcional; isto é, poderia
limitar-se a descobertas de relações ou correlações entre variáveis mensuráveis. Skinner
também argumentou que as pesquisas deveriam ser sistemáticas, no sentido de que as
relações obtidas estivessem ligadas por um ponto comum. Lim itando suas observações às
formas pelas quais uma única variável dependente (a freqüência por unidade de tem po de
um ato arbitrário mas, mesmo assim, representativo) mudavam com as condições
ambientais variadas, Skinner manteve seu próprio trabalho altam ente sistemático.
Um objeto de estudo, frequentem ente, espera instrum entos para colocar o
observador em melhor contato com ele. Skinner inventou um registrador que realiza um
registro visual das respostas sucessivas através de um ligeiro deslocam ento vertical de uma
pena, movendo-se horizontalm ente no tem po. À medida que o experim ento progride, um
gráfico de respostas acumuladas é desenhado em função do tem po. Esse registrador
cumulativo de respostas torna possível um registro de alta qualidade do processo
com portam ental para inspeção imediata que funciona para os behavioristas de uma
maneira não diferente da que o microscópio funciona para o biologista.
As contribuições metodológicas reais de Skinner para a ciência m oderna do
com portam ento são numerosas e podem os apresentar, aqui, somente um esboço de
algumas das mais im portantes. Ele reconheceu a antiga dicotom ia entre ações reflexas e
voluntárias ou, como chamou mais tarde, operantes. Mas m ostrando que o princípio de
Pavlov se aplicava ao fortalecim ento dos reflexos, enquanto a lei do efeito de Thorndike
descrevia o fortalecim ento de operantes, ele colocou ambos os tipos em perspectiva
harmoniosa. Form ulou, tambérq um vocabulário preciso cujos term os foram definidos
com referência aos fatores observáveis que ele media e manipulava. Nessa term inologia
está a base do nosso quadro conceituai m oderno.
Desde o inicio, Skinner enfatizou a im portância da predição e controle detalhados
do com portam ento individual, ao invés de diferenças gerais entre grupos de animais. Suas
próprias pesquisas foram invariavelmente caracterizadas por um grande número de
medidas em poucos organismos, sendo a reprodutibilidade do processo sob estudo o teste
de sua validade. O enfoque de Skinner na taxa de um a resposta operante representativa
evitou muitos dos problemas associados com as medidas mais indiretas do com por­
tam ento. Thorndike observou o número de erros com etidos e o tem po gasto para
alcançar o sucesso no seu quebra-cabeça, mas nenhuma dessas era, na realidade, um a
propriedade real do com portam ento instrum ental que estava sendo adquirido. Se dese­
jamos treinar um cão a pular através de um aro, por exem plo, não estamos interessados
- 33-
nos erros que ele comete, mas no seu com portam ento de pular através do aro. Os erros são
medidas de com portam entos outros que não aqueles que estamos investigando. Questões
interessantes sobre se um dado ato ocorrerá ou não, ou com que freqüência ocorrerá,
nunca poderiam ser respondidas em term os de erros ou escores de tem po. O dado básico
de Skinner, a taxa de respostas, está relacionado de perto com a probabilidade de
ocorrência do com portam ento e tem sido especialmente útil em fornecer respostas a
questões sobre a probabilidade da resposta.
Com o passar dos tem pos, Skinner ampliou sua base em pírica. Combinações de
respostas e organismos outras que não o pressionar a barra por ratos têm sido estudadas.
A expectativa original de que este ato seria característico do com portam ento operante,
de um modo geral, tem sido aparentem ente confirmada. Além disso, as relações que
Skinner obteve garantem , em m uitos casos, o títu lo de princípios com portam entais, já
que elas parecem manter-se para um grande número de organismos, incluindo o hom em ,
e para todas as respostas que podem ser classificadas com o operantes.
O trabalho de B.F. Skinner nos leva a um ponto próxim o da nossa conceituação
moderna de ciência do com portam ento. Estamos ainda m uito perto desse período his­
tórico, m uito envolvidos em nosso próprio Zeitgeist , para term os a perspectiva necessária
para determ inar os pontos fracos no sistema de Skinner. Nos capítulos que se seguem,
todavia, veremos que a ciência do com portam ento, atualm ente restabelecida de um modo
firme com o uma ciência natural, está se expandindo em m uitas áreas de pesquisas. Talvez,
a prova mais convincente de que essa ciência se desenvolveu encontra-se no surgimento
recente de um a tecnologia do com portam ento esboçada diretam ente a partir dela. Como
veremos, as aplicações de técnicas do com portam ento estão sendo ampliadas a pesquisas
de drogas, treino de animais, guerras, tratam ento do com portam ento hum ano anormal e
educação.

1.9 - REVISÃO

A história da ciência do com portam ento começa com a classificação naturalística do


com portam ento feita por Aristóteles. Logo foi sucedida por um a Filosofia Teológica e a
análise do com portam ento permaneceu adormecida por quase dois mil anos. Mas no
século XVII, surge novam ente com a concepção de Descartes de que o corpo animal é
uma máquina, e alguns dos seus movimentos são ordenados e regulares. R obert W hytt e
várias gerações de fisiologistas posteriores m ostraram que estes movimentos de
característica autom ática se relacionavam, de forma precisa, a eventos particulares nc
ambiente do animal. Essa relação entre um evento ambiental e um movimento particular
torna- e a primeira unidade organizada de análise para a ciência do com portam ento. Ê o
reflexo. Eventualm ente, Pavlov amplia o conceito de reflexo para incluir relações
am biente-com portam ento que são condicionais a operações anteriores na história do
animal. Esses reflexos condicionais tornam possível um a análise de alguns dos
com portam entos que um organismo adquire durante sua vida. Thorndike é o primeiro a
m ostrar que o com portam ento que possui uma espontaneidade não observada nos
reflexos obedece a certas leis qualitativas que diferem das leis do reflexo. Nessa época,
John Watson inicia a sua campanha para convencer a Psicologia, o estudo da m ente, de
que a m ente é, em grande parte, com portam ento. Com a descoberta de B. F. Skinner de
um objeto de estudo fidedigno, a taxa de respostas operante, o com portam ento
espontaneam ente em itido começa a desenvolver leis próprias, sendo cada ocorrência tão

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geral e previsível co m o aquelas do reflexo. A iiistó ria da análise do com portam ento revela
que os hom ens estão bastante enclinados a adotar interpretações supérfluas sobre o
c o m p o r t a m e n t o , ao invés de aceitar a realidade das descrições do próprio
c o m p o r ta m e n to . Quase to d o contribuinte da ciência com partilhou de algumas
superstições da sua época sobre o com portam ento que estava pesquisando.

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