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Bio comcg em cas 7, Finalmente indicar que ndo é somente a sociedade que Vivendo de modo criativo depende da caisde do seus membros para ser saudavel, mas que também seus padres so uma duplicagio dos padres daqueles que a compdem, Dessa forma, a democracia (em um dos signifi- ccados da palavra) € uma indicagdo de satide porque ela se origi- na, de modo ndtual da familia, que € em si mesma um construc- to pelo qual os individuos saudaveis so responsiveis Fusiio de dois rasenhas de uma palestra preparada para a Progressive League, 1970 ean CoO Definigao de eriatividade Tods Ceomece Seja qual for a definigdo a que cheguemos, ela deve incluir D.w. Wnicaht a idéia de que a vida vale a pena ~ ou nao — ser vivida, a ponto de a criatividade ser — ou nfo ~ uma parte da experiéncia de vvida de cada um. os Para ser criativa, uma pessoa tem que existir, ter um sen- Sos Poul: Norkns Fenks 4 S04 iment ek suits ufo forma Se uma pecapedo cone A H ciente, mas como uma posigio basica a partir da qual operar. Em conseqiiéncia, a criatividade &.0fazer que, gerado a partir do ser, indica que aquele qua.é estd vivo)Pode ser que 0 impulso esteja em repouso; mas, quando a palavra “fazer” pode ser usada com propriedade, ja existe erfatividade. ~~ ~~ E possivel demonstrar que, em certas pessoas € em deter minadas épocas as atividades que indicam que uma pessoa est viva nfo passam de reagoes a estimulos. Retire os estimulos € 0 individuo nao tem vida. Mas, em caso tio extremo, a palavra “ser” ndo tem releviincia, Para poder ser, ¢ para ter o sentimento de que é, deve-se ter uma predomindncia do fazer-pelo-impul- so sobre o fazer-reativo. Essas coisas ndo sf apenas uma questo de vontade ¢ do arranjo e rearranjo da vida. O processo de crescimento mental oe ie 7 ester — Tudo comepa em casa la vida hu- Deve-se pre- estabeloce os padrdes bisicos, e nas épocas ‘mana se encontram 0s fatores de maior influ padres; & nessa ocasifio que sante ¢ no & um mero exer~ cicio académico (estamos considerando também aquilo que ide de pais e educadores). ngao através da vida de a capacidade de criar 0 mundo. Para o bebé, isso nao é dificil; se a mie for capaz de / se adaptar is necessidides do bebe, ee no vai perceber 0 fato de que 0 mundo estava li antes que ele tivesse sido concebido \, ou coneebesse 0 mundo. O principio da realidade ¢ 0 fato da istencia do mundo, independentemente de o bebé té-lo cria~ do ot no, ‘mas, com o passar do tempo, a crianga & chamada a dizer “ta”, grandes desenvol- vimentos ocorrem ¢ ela adquire mecanismos mentais genetica~ com essa aftonta. Pois o princi- Caso tenham sido fornecidas condigdes ambientais satisfatérias, a criancinha (que se tornou eu e voce) descobriu ‘modos de absorver a afronta. A submis fica a relagaio com outra pess6a, que, é cl necessidades para atender, sua propria onipoténcia para cuidar. No outro exiremo, a erianga conserva a onipoténcia, sob o pre- uma visio pessoal de tudo. Tlustrando o modo simples: se uma mie tem oito filhos, ha ito mies. Isso ndo ocorre simplesmente porque a mie teve atitudes diferentes em relagdo a cada um dos oito. Se ela pu- desse ter sido exatamente a mesma com cada um (e eu sei que {ss0 € absurdo, porque ela no é uma méquina), cada crianga po- deria ter tido sua mae distinta, vista sob olhos individuais. ay Saide e doenga ‘Através de um processo de crescimento extremamente com plexo, geneticamente determinado, e da interago do cresci- ‘mento individual com fatores externos que tendem a ser posi- tivamente facilitadores ~ ou entao nio-adaptadores e produtores de reagdo —, a crianga tomna-se vocé ou eu, descobrindo-se equi- pada com alguma capacidade para ver tudo de um modo novo, para ser criativa em todos os detalhes do viver. Eu poderia procurar em The Oxford English Dictionary 0 que isso pode fazer ‘com que minhas palavras paregam ridiculas, Mas eu acho que vocé podem ver nisso minha necessidade de deixar claro que iio estou soterrado pelo tema. Trabalhar em cima dos conceitos concordantes que existem a respeito da criatividade poderia ‘me matar. Evidentemente, preciso estar sempre Iutando para ‘me sentir eriativo, com a desvantagem de que, se for 0 caso de descrever uma palavra simples, como “amor”, preciso comegat do zero (talvez esse seja o ponto de onde se deve comegar). Vou retornar a esse tema quando chegar & distingai entre 0 vi- _ver-criativo e a arte criativa. °” num diciondrio ¢ encontrei “tra- ‘Uma criago pode ser “uma produgao da mente exato que “criatividade” seja uma palavra de para 0 erudito, Por “viver criativamente” no jo dizer que alguém tenha que ficar sendo aniqui- ‘0 tempo todo, seja por submissdo, seja por rea- fe quilo que o mundo impinge. Estou me referindo 20 fato de \guém ver tudo como se fosse a primeira vez, Uso a palavra !apercepedo”, oposta a “percepetio’ a 6 Tad comsa em cave Origens da criatividade ‘Talvez eu tenha demonstrado aquilo que acredito ser a ori- gem da criatividade, Nesse ponto é necesséria uma afirmagao dade € propria do estar vivo de tal forma q ‘pessoa esteja em estado de repouso, ela , de algum modo, aleangar algo, de maneira de que alcangar, fisica ou mentalmente, no tom o menor significado, exceto para um ser que esteja la para ser, Um bebé que tentia nascido quase que sem cérebro pode alcangar u em complexidade e tornar-se um “existente” estabelecido, para que possa experimentar a procura ¢ 0 encontro de um objeto ‘como um ato criativo, P entio eu volto a maxima: Ser, antes de Fazer. O Ser tem que se desenvolver antes do Fazer. E, ent, finalmente, a crian- ‘ga domina até mesmo os instintos, sem perda de identidade do self. A origem, portanto, é a tendéneia geneticamente determi- nada do indi cionar com os objetos que Ihe surgem no caminho durante os momentos de obtet algo, mesmo que seja da Lua, Mantendo a criatividade individuo que nao tenha sido demasiado distoreido por uma introdugio no mundo defeituosa dispe de muitas oportu- idade nas ocupa- es rotineiras, Talvez.o fato de que nao & preciso muita inteli- Satie e doenga = 27 sgéncia para limpar um chao propicie 0 aparecimento de uma rea cindida da experiéncia imaginativa, Mas hé também a ques- tio das identificagbes cruzadas, que abordarei posteriormente, Pode ser que uma mulher limpe © chao sem se aborrecer por- «que sente prazer em fazer uma lameira, através de uma i forga, apropriada para essa idade terrivel. (As pessoas se refe- rem a isso como sendo priprio da idade. Isso fiz com que soe bastante bem, acho!) ‘Ou um homem pode estar tio entediado quanto é possivel um ser humano que trabalha numa linha de montagem; mas, quando ele pensa no dinheiro, também pensa nas melhorias que ‘ou talvez ele ja ‘como foi a surpreendente detrota do Manchester City frente ao Southampton em sua TV, ainda nio totalmente paga. ( fato & que as pessoas nao deveriam assumir trabalhos que sejam sufocantes — ou, se nio podem evité-lo, preeisam orga nizar seus fins de semana de modo a al josa do que numa drea de trabalho relativamente in- teressante, Deve-se lembrar, também, que o trabalho pode ser liza para um viver cria~ que ninguém mais use 0 discerni- ‘mento pessoal. Em algum lugar do esquema de coisas pode haver espaco | para que alguém viva criativamente. Isso envolve preservar algo A\de pessoal, talvez algo de secreto, que é inconfundivelmente voce mesmo. Tente respirar pelo menos — é algo que ninguém pode fazer por vocé. Ou talvez vocé seja vocé mesmo quando escreve para um amigo, ou manda cartas para o The Times ow © New Society, presumivelmente para serern lidas por alguém antes de serem jogadas no lixo. es Fak cm ocd Viver criativo ¢ eriagdo artistica Ao mencionar 0 ato de escrever cartas, estou me aproxi- mando de outro assunto que niio posso ignorar. clara a diferenga entre o viver criativo eo sei . Y ivo) tanto voce como eu descobrimos que {qe Tazemos fortalece o sentimento de que esta- mos vivos, de que somos nés mesmos. Uma pessoa pode ara uma arvore (ndo precisa ser necessariamente um quadro) € fazé-lo criativamente. Se vocé al pressiva do tipo esquizi uma paisagem incrivel para aqueles que podem aprecié-la, Mas para mim esta manha (segunda-feira) no tem o menor i lo. No consigo senti-la, Me faz. ver claramente que go me sinto re: iadas a0 viver er dos escritores de cartas, escritores, ps arquitetos, misicos, s alguém esta engaja spera-se que tenha algum talento espe existéncia criativa nao Precisamos de nenhum talento especial. Trata-se de uma ne- cessidade universal esquizofrénicos retraides e aprisionados ao leito podem estar vivendo mente uma atividade n Secreta, e, portan- to, em certo sentido, feliz. Infelizes somos vocé e eu que, em certa fase, estamos conscientes da falta daquilo que é essencial 40 ser humano, que & m O viver criativo no casamento Parece haver uma necessidade de discutir o fato de que em ‘um ou em ambos os parceiros de um easamento hi um senti- mento freqiiente de declinio de iniciativa, Uma experé comum aparece aqui, ainda que haja uma grande difereaga em de grau na ento em relago a tas. No mo- lo de que nem todos os easais » sentem que podem ser criativos e permanecer casados. Ou um. U6 outro integrante do par se encontra envolvido num pro- ccesso que poderia terminar num mundo do pelo outro. Nesse extrem ‘mas penso que no se atinge ij ainda que ele esteja sempre l i vezes aparega de forma la. Por exemplo; 0 problema pode ficar escondido durante de décadas em que se criam os filhos, e emergit como meia-idade. . Caso se parta da superficie, eis ai um modo bem simples de conversar sobre 0 problema. Conheco duas pessoas cue es- tiveram casadas por mui tiveram uma familia bem grande. Nas primeiras férias de verdo de seu casamento, apés terem ficado uma semana juntos, 0 marido disse: “Vou passar ‘a semana que vem fora, velejando,” Respondeu-lhe a esposa: “Bom, eu gosto de viajar. Vou fazer minhas malas.” A previsio dos amigos: “Esse casamento nao tem futuro!” No entanto, 03 dois tiveram um casamento muito bem-sucedido — as previsdes 6 que eram sombrias demais. Uma das coisas mais importantes 4 respeito desse casamento foi que o homem passou uma se- mana velejando, quando teve ocasiao de aperfeigoar sua habi- lidade e desfrutar seu di com sua mala por toda a E versar nos quinze dias res cobriram que 0 fato. de terem ficado longe um do outro durante metade das Férias aju- dou-08 muito na relagio conjugal. 30 regra univer- sal para os seres humanos. Mas o exemplo poderiailustrar que, quando duas pessoas nio ficam com medo de se deixar uma & podem resulta do tampona- ‘mento da vida eriativa, que provém do individuo, e nfio da par- cetia, aincla que um parceito possa inspitar criativida Se observarmos praticamente qualquer fraremos um equivalente do arranjo que descrevi ima. A esposa toca violino e o marido passa um: 1ub tomando shandy com amigos, Com na variagio infinita em termos de nor- malidade e de saiide. Se decidimos conversar sobre as dificul- dads, ¢ certo que acabaremos descrevendo padres em que as pessoas acabam se envolvendo ¢ que ‘mente repetitivos, indicando que hé algo de errado em algum lu- gar. Existe um elemento compulsivo nisso tudo, e em algum Ponto remoto na histéria pregressa desse elemento hi ‘Muitos sto incapazes de ser criativos por serem uma compulsio que tem algo a ver com sua Acho que sé para as pessoas relativamente felizes quanto a esse aspect Soja, as ndo guiadas pelas compulsies, eu poderia falar fa mente sobre o fato de estarem sendo tolhidas no casament Pode-se falar muito pouco para pessoas que se incomodam por- ue uma relagdio parece sufocd-las. Nao ha conselho iit que se ossa dar, ¢ uma pessoa nio pode ficar fazendo terapia em todo mundo, Entre os dois extremos — os que sentem poder permanecer ‘0s no casamento e os que sentem 0 casamento tolhendo & criatividade — hé, com certeza, um tipo fronteirico; provavel- ‘mente a maioria de nés se encontra nessa fronteira, Somos suficientemente felizes & podemos ser criativos, mas percebe- ‘mos que ha inerentemente um tipo de choque entre o impulso pessoal ¢ 0s compromissos concementes a qualquer tipo de re~ lagdo que tenha caracteristicas confiiveis, Em outras palavras: Said edownga_ isaseias Se eae estamos falando, uma vez mais, do principio da realidade, e, eventualmente, conforme penetramos no assunto, poderfamos a de o individuo aceitar a ‘mana, ¢ € nas etapas mais precoces do desenvolvimento emo- ional de cada um que se estabelece a base de sua capacidade em relagdo a esse aspecto. Alguém poderia dizer que fieqiientemente falamos de ca- samento bem-sucedido em termos de quantos filhos tiveram, ou em termos da amizade que os dois parceiros sio capazes de Podemos falar bastante a resp. lugar central em qualquer discussio sobre casamen- 9, poderemos encontrar um grau impressionante de softimento cm toda parte, Sugito um bom postulado: nfo é comum encon: trar pessoas casadas qui de modo criativo. M nha, Para o psicanalista, nfo é possfvel manter a as pessoas se casam e depois disso vivem felizes para sempre; ‘muito menos em sua vida sexual. Quando duas pessoas si0 jo- vvens e se amam, pode haver um tempo, até prolongado, em que orelacionamento sexual é uma experiéncia criativa para ambos. Isso realmente ¢ satide, e ficamos felizes quando pessoas jovens cexperimentam isso, de modo quase consciente, em primeira mao, Penso que é um grave erro ficarmas apregoando aos jovens idéia de que tal estado de Tongo apés 0 casamer Jocosamente): “Ha dois tipos de casamento: em um, a descobre que casou com o homem errado a caminho do altar; em outro, ela descobre isso durante o caminho de volta.” Mas no ha razio para rt: O problema é quando ficamos dando aidéia Tao comeya em casa aos jovens de que 0 casamento & um caso de amor prolongado. ‘Mas eu também odiaria fazer 0 oposto: vender desilusdo aos jjovens, fazer disso um negécio e cuidar que os jovens saibam tenham ilusdes. Se a pessoa jd fo portar a dificuldade. £ a mesma coisa quando diz« bebé niio pode Ser desmamado a menos que ten ou seu equivalente, Nao ha nenhuma desilusio (aceitagao do principio da realidade), exceto com base na ilusio. As pessoas so possuidas de um terrivel sentido de fracasso quando desco- ‘brem que algo t&o importante como a experiéneia sexual esta se tornando cada vez. mais uma experiéncia criativa para apenas ‘um dos integrantes do far. As vezes isso pode funcionar bem, quando 0 sexo comega mal, ¢ gradualmente as duas pessoas adquirem algum tipo de compromisso, ou dao e recebem, de tal ‘modo que acaba ocorrendo alguma experiéncia criativa em am- bos 08 lads. E necessirio dizer que a sexualidade miétua & saudivel e constitui uma grande ajuda, mas seria errado presumir que a tini- ca solugdo para os problemas da vida de uma pessoa & 0 sexo ituo. Precisamos prestar atengao na lém de ser um fendmeno enriquecedor, também é uma que precisa sempre volar a ser feta. prio. Como vocés poderiam esperar, hi os que niio podem usar ‘esses mecanismos; hd os que podem, caso queiram; ¢ hi os que © fazem de um modo tio compulsivo que tais mecanismos acon- tecem, a pessoa querendo ou nao. Em termos coloquiais, estou me referindo ao fato de alguém ser capaz de calgar os sapatos de outra pessoa, e questdes de simpatia e empatia. E 6bvio que quando duas pessoas vivem Juntas, com um vineulo préximo ¢ anunciado publicamente como é 0 casamen- to, elas tém muita oportunidade de viver uma através da outra. ‘Num estado que ainda é de saiide, de acordo com as circuns- | | She fon , iss pode ser bem aproveitado, ow néo. Sé que algunis ‘asais acabam se encontrando na incémoda situagao de ficar passando papéis um ao outro, enguanto outros casais conse- guem finidez ¢ flexibilidade em todos os niveis. E claro que & ier deixe que o homem desempenhe a lina do ato fisico do sexo, e vice-versa, No entanto, >; ha também a imaginagao, e, do ponto la imaginagdo, com certeza no ha parte da vida que no possa ser transferida ou assumida pelo outro. Com isso em mente, podemos observar 0 caso especial da de criatividade quando se examina gostaria de ser eu a pessoa a dizer. tio de lado. Mas nessa area de funcionamento real, deve-se embrar que um bebé pode ser concebido de modo niio-criati- vo-ou ter sido concebido, sem que tivesse chegado lado, um bebé pode come-, instante em que & querido pelos dois parceiros. Edward Albee, em Quem tem medo de Virginia Woolf?, estuda ‘destino de um bebé que ¢ concebido, mas nao toma forma car- nal. Que estudo extraordindrio, tanto na pega como no filme! No entanto, quero sair dessa questio de sexo teal e beb@s Outros dados sobre as origens do viver criativo Baquela velha hist6ria, Aquilo que somos depende muito do ponto que atingimos em nosso desenvolvimento emocional, ou da extensio de nossas oportunidades naquela época do ‘erescimento que tem a ver com os estagios iniciais da relago objetal —é sobre isso que quero falar. Sei que deveria estar dizendo aqui algo assim: feliz ¢ aque- Ie que esté sendo criativo 0 tempo todo em sua vida pessoal € Tudo comeza em casa ‘em sua vida com parceiros, filhos, amigos, ete. Nao hiinada que esse territério filoséfico no abranja. Posso olhar para um relégio e ver apenas a hora; pode ser que eu nao veja nem isso, apenas note as formas no mostrador; pode ser que eu néo veja nada. Por outro lado, pode ser que eu ia 0 tempo todo, antes de transferir essa fungi desconfortivel para Deus. aqui, Em algum ponto da légica, 880 é real — niio posso evité-lo. Gos- {aria de examinar esse assunto. bebé torna-se preparado para encontrar um mundo de objetos ¢ idéias, e, segundo seu ctescimento nesse aspecto, a miie vai lhe apresentando o mundo. Dessa forma, em fungo de seu alto grau de adaptagio durante esses tempos iniciais, essa mae capacita o bebé a experimentar a onipoténcia: a encontrar real- ‘mente aquilo que ele ctia, ¢a criar e vincular isso com 0 que é eal. O resultado prético & que cada bebé comega com uma nova criagio do mundo. E no sétimo dia esperamos que ele se satisfaga e descanse. Isso quando as coisas correm 1az0: ‘mente bem, como geralmente acontece. No entanto, se aquilo que est sendo criado precisa ser ido coneretam alguém tem que estar lé. Se ninguém estiver lé para fazer isso, entdo, num extremo, a crianga é autista — criativa’ no espago € tediosamente submissa em seus relacionamentos (esquizo- frenia infant a partir dai que se pode ir introduzindo, gradualmente, 0 princfpio da realidade, e a crianga que conheceu a onipoténeia experimenta as limitagdes que o mundo impée. No entanto, por ‘essa época, ela € capaz de viver vicariamente, de usar os meca- Saideedome HS nismos de projesdo ¢ introjegdo, de permitir que outra pessoa as vezes seja o chefe ¢ de abandonar a onipoténcia, Finalmente, fortdvel de ser uma pega na engrenagem. Alguém me ajudaria aeserever um hino humanista? ‘dea for being the creator of the world.* 0 individuo humano que nio comesa a vida com a expe- rincia de ser onipotente no tem chance de ser urna pega na ‘engrenagem, mas precisa exacerbar a onipoténcia, a criativida- dee o controle; algo assim como tentar vender agées indesejé- veis de uma companhia inexistente, Em meus textos, tenho explorado bastante o conceito de objeto transicional: algo a que a crianga acabou de se ligar. Pode ser um pedaco de panio que j& pertenceu ao véu do bergo, im cobertor, ou ainda uma fita de cabelo da mae. E um primei- ro simbolo ¢ representa a confianga na unio do bebé e da mie baseada na experiéncia de confiabilidade e capacidade dessa fe de saber 0 que o bebe precisa através de uma identificagio com ele, Eu disse que 0 objeto foi criado pelo bebé; sabemos que jamais vamos contestar ‘que também saibamos que ele estava li antes de o bebé té-lo criado (pode inclusive ter sido criado do mesmo modo que um irmao). E muito mais o caso de “Estenda a mio, ¢ ele estar 14 para vocé usé-lo, gasté-lo”, do que “Pega e Ihe sera dado”. [sso € 0 comego, Pode ser perdido no processo de introdugaio do Ah ser donte de uma rdf Ad! fazer peda engrenageAB! taba em har- ‘monia com outa pessas/A! ser anno sem poder wid de er ocriador do mando, Std comega em cas mundo factual ao mundo do principio da realidade, mas, no es- tado de satide, conseguimos formas e maneiras de recapturar 0 sentimento de significado proveniente da vida criativa. O sin- toma de uma vida nfio-criativa ¢ 0 sentimento de que nada tem significado, 0 sentimento de futilidade, de que nada importa. ‘Agora estamos em condigies de observar o viver ctiativo ca partir daf utilizar uma teoria consistente. O assunto é em si mesmo complexo, e a teoria nos permite entender algumas das tanto na generalidade como Fica entendido que estou tentando atingir uma camada mais profunda, ainda que nfo exatamente mais fundamental. Sei que ‘uma forma de cozinhar salsichas ¢ seguir as instrugdes de Mrs, Beeton (Clement Freud, aos domingos). Outra forma ¢ pegar as salsichas e cozinha-las do jeito que for possfvel. O res pode ser 0 mesmo, mas d mais prazer conviver com a cozinha criativa, mesmo que as vezes ocorra um desastre, ou que 0 gosto fique esquisito, ou alguém suspeite do pior. O que estou ten- tando dizer é que, paru o cozinheiro, as duas experiéncias dife- rem: 0 escravo que obedece nada tira da experiencia, a ndo ser © incremento da sensagio de dependéncia da autoridade, en- quanto a pessoa original se sente mais real e surpreende a si ctiativos © deseobrimos que podemos confiar em nossa inespe- ada originalidade, Nao deveriamos nos preocupar se aqueles ue comem as salsichas nfo popes a coisa surpreendente que ‘Acredito que no exista nada que nio possa ser feito de ‘modo criativo, caso a pessoa seja criativa, ou tenha essa capa- cidade. Mas, se alguém passa 0 tempo todo ameacado pela ex- lingo da cri idade, entZo tanto a aquiescéncia entediante tem que se perpetuar, como também a originalidade tem que ser acumulada até que as salsichas fiquem parecendo algo do outro ‘mundo ou tenham gosto de Lata de Lixo. 37 ode ser criativa e pode ser sentida de que sempre hi algo d les que no silo Picasso, seria uma imitagao escravizante endo- criativa desenhar como Picasso. Para desenhar cot co estavam 8 procara de algo © precisavam da coragem de um Picasso como apoio para serem originais. © fato & que aquilo que criamos ja est dade reside no modo como conseguimos a percepeio, através da concepgio e da apercepgao. Assim, quando otho 0 relégio, como preciso fazer agora, por exemplo, crio um relégio, mas, tenho o cuidado de nao ficar vendo relégios a nao ser quandé ji sei que existe um. Por favor, ndo deixe de lado este fragmento de ilogica absurda — em vez disso, examine-o e use-. Para ajudar um pouco na discussio, eu diria que, se estiver ficando escuro e se eu estiver muito cansado ou talvez um pouco esquizdide, pode ser que eu veja reldgios onde no aja nenhum., Posso ver algo naquela parede ¢ até mesmo ler as horas no ‘mostrador. Voods poderiam me dizer que é apenas a sombra da cabega de alguém projetada na parede. Para certas pessoas, a possibilidade de serem chamados de doidos, de alucinados, faz com que se aferrem a sanidade; afer ram-se a uma objetividade que se poderia denominar realidade compartilhada, 1a também os que pretendem estar tio bem que tudo quanto imaginam é real e pode ser compartithado, Podemos permitir que conviva conosco todo tipo de pes- soa do mundo, mas precisamos dos outros para sermos objeti- ‘vos, se for o caso de gozar e aproveitar nossa propria criativi- dade, assumir certos riscos e seguir nossos impulsos com as idéias que os acompanham. 38 Tico comega em cosa ‘Algumas criangas so obrigadas a crescet numa atmosfe- 1a intensamente criativa, mas que pertence aos pais ou a baba e nio & crianga. Isso as sufoca e elas param de ser. Ou des volvem alguma técnica de isolamento, ‘A proviso de oportunidades para que as cria as vivam, tém dificuldade para sentir que existem séo. que sao faceis de lidar. So as que nd sentem seu marido a respeito se com as experién- ‘nosso campo para um viver criativo. esta fazendo seguindo as instrugdes assinaladas no rétulo d ia de saber como vooés estio digerit que escrevi e acabei de ler. O primeito ponto & que eu niio posse fazer com que voces fiquem criativos apenas porque falo com sicoterapia. Mas é importante que saibamos de outras pessoas (especialmente criangas que estejam sob nossa respon sabilidade) que experimentar o viver criativo é sempre mais im- portante do que “se sair bem”: Quero esclarecer que uma diivida porque, quando estamos em gozo de nossa sanidade, realmente sé criamos aquilo que descobrimos. Até mesmo nas artes niio road Saidee doenga Ee tender e apreciar qualquer faz. com que o artista ses do o que ele fez seja um fracasso do ponto de vista do pul ie sendo uma parte necesséria de pode-se afirmar que, até o ponto em mos razoavelmente saudaveis do ponto de vista pesso ‘temos que viver num mundo criado por nosso parceiro de casa- ‘mento, € nosso parceiro de casamento nio tem que viver em nosso mundo. Cada um de nés tem seu proprio mundo privado, e, além disso, aprendemos a compartilhar experiéneias através do uso de todos os graus de identificagdes cruzadas. Quando 108 criando filhos criativos num mundo de fatos reais, te- todo, ‘mata em fungo de nossa ide novas que precisam de n6s, se também elas rir um viver criativo. icago com essas pessoi jerem que adqui-

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