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Introdução

Faremos um breve histórico que prepondera sobre a criação e o declínio do


Direito Romano na Idade Média.

O Direito Romano é entendido como o conjunto de normas vigentes em Roma


da fundação (século VIII a. C.) até Justiniano no século VI d.C. Foi a obra do povo
romano que chegou até os nossos dias, nos dando a oportunidade de um saber
jurídico muito rico, pois vigora muito desse direito, ainda hoje, reformulado, ou até
mesmo na íntegra, em nosso direito brasileiro.

Para os romanos a definição de Direito era embasada em sua doutrina: “viver


honradamente, não prejudicar a ninguém e dar a cada um o que é seu”. Analisando
o Direito Romano logo vem a idéia de que foi no Direito que os romanos
encontraram uma forma de encerrar discussões e resolver conflitos, mostrando-nos
o seu espírito de proteção e valorização da família, do indivíduo e da escrita.

Veremos Panoramicamente o Direito Romano em sua evolução através de


três momentos distintos entre si desse referido Direito. São estas três fases: o
Direito Antigo, Direito Clássico e o Direito Pós-Clássico.

Segundo Flávia, o Direito Romano Antigo compreendido entre o século VIII


a.C. até o século II a.C, caracteriza-se pelo formalismo, pela rigidez e pela
ritualidade. O Estado tinha como questão inicial e fundamental para a sua
sobrevivência: a guerra, pena para os delitos mais graves e, naturalmente a
observância dos preceitos religiosos. A família era o centro de tudo e o cidadão
romano era visto antes de tudo como um membro de uma unidade familiar, deixando
de ser até mesmo reconhecido como indivíduo. A segurança dos cidadãos romanos
se dava muito mais pelo grupo do que pelo Estado.

O marco mais importante dos romanos foi a criação da Lei das XII Tábuas em
451 e 450 a. C. como uma forma de amenizar as desigualdades entre Plebeus e
Patrícios, trazendo de volta essa classe produtiva, além da referida lei tiveram
também a Lei Licínia entre outras, que tiveram grande papel no desenvolvimento do
sentimento de igualdade da Plebe, trazendo inclusive o Tribunato da Plebe, a
proibição de escravidão por dívidas, entre outros benefícios.
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A lei das XII Tábuas foi uma codificação de normas costumeiras, sendo
chamada durante toda a história de Roma como a Fonte de todo Direito, apesar de
ser costumeiro, já deixava de ter um caráter de Direito de Deus e passa ser um
Direito com inspiração divina.

O Direito Romano Clássico, como afirma a autora, foi o auge do Direito


Romano, principalmente no tocante ao seu próprio desenvolvimento, e vivenciou
essa situação do século II a. C. até o século III d. C.. Com o poder do Estado
centralizado e os pretores e jurisconsultos, adquirindo poder para alterar as regras
existentes, adequaram, a cada necessidade nova, o Direito. Tornando um Direito
avançado e adequado para as mais diversas situações.

O Direito Romano Pós-Clássico, compreendido entre os séculos III e VI d. C.,


não teve grandes inovações, viveu no legado da fase áurea, porém para
acompanhar os novos cenários e desafios, percebeu-se a necessidade de fixar
regras por meio de uma codificação que, no início, causou visões confusas entre a
população a respeito desta codificação.

Algumas tentativas de codificação do Direito vigente podem ser


exemplificadas através do Codex Gregorianus, o Codex Hermogenianus, o Codex
Theodosianus. Após a tomada do Império do Ocidente pelos Bárbaros, o Imperador
do Oriente, Justiniano, conseguiu empreender a codificação.

O Código Justiniano era composto por quatro obras: o Codex, o Digesto


(chamado também de Pandectas), as Institutas e as Novelas. O Codex foi
completado em 529 e reúne a coleção completa das Constituições Imperiais
(Decisões dos Imperadores) o Digesto, de 530, é a coletânea das obras dos
jurisconsultos, as Institutas compõem um manual de Direito para estudantes e as
Novelas é a publicação das leis do próprio Justiniano. Mais tarde, no fim século XVI
d. C., Dionísio Godofredo nomeia a Codificação Justinianéia de Corpus Iuris Civilis.

Com a tomada do Império Romano do Ocidente, pelas tribos germânicas, em


476 d. C., estas tribos germânicas tinha costumes diferentes dos romanos e por
serem como nômades, cuidando da terra e quando essa se tornava estéril se
mudavam para habitar outras regiões, não tinha conhecimento da escrita e por isso
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tinham um direito oral e baseado em costumes, por isso o enfraquecimento do


Direito Romano.

Algumas tribos germânicas, ao invadirem o Império Romano, formaram


reinos, outras simplesmente tomaram posse do território, aos poucos foram
mudando a dinâmica social deles mesmos e dos romanos, todos foram perdendo a
independência e submetendo-se a autoridade dos guerreiros bárbaros, isso pode se
dar ao fato de, como os bárbaros tomaram a posse da terra, ficaram sem ter como
se suster.

Em 843 d. C., o feudalismo, após a divisão do reino dos francos, torna a


Europa ocidental e em uma multiplicidade de pequenos senhorios economicamente
auto-suficientes. Como resultado, o poder real, apesar de seu lugar de topo na
hierarquia medieval, se torna incapaz de impor sua vontade aos nobres e
conseqüentemente desaparece a atividade legislativa imperial, desmembrando o
poder judicial nas mãos dos senhores feudais. O costume passa a ser fonte de
Direito por excelência do direito feudal. Inexistindo nos séculos X e XI escritos
jurídicos.

Exceto alguns clérigos ninguém sabia escrever e os juízes leigos eram


incapazes de ler textos jurídicos, sendo feita justiça na base do apelo a vontade
divina. Dessa forma o direito Romano desaparece no ocidente e o Direito Canônico
se torna único e universal durante toda a Idade Média, por ser interpretado
privativamente pelo Papa e os clérigos que dominavam a escrita.

O Ressurgimento do Direito Romano

É a partir do final do século XII e inicio do século XIII que o direito romano se
desperta de séculos de quase total esquecimento. O renascimento da atividade
jurisprudencial nos séculos XIII se apresentou em características sendo elas:

a) Unidade e ordenação das diversas fontes do direito (direito romano-justianeu,


direito canônico e direitos locais).
b) Unidade do objeto da ciência jurídica(a jurisprudência romana-justianéia).
c) Unidade quanto aos métodos científicos empregados pelos juristas.
d) Unidade quanto as ensino jurídico, comum por toda a Europa continental.
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e) E a difusão de uma literatura especializada escrita em uma língua comum, o


latim.

Essa volta do direito romano se compara ao período clássico e dividimos em três


fases, a primeira, que corresponde aos séculos XII e XIII, é caracterizado pela
predominância, no âmbito doutrinal, do direito romano sobre os vários direitos locais.
A segunda, que compreende os séculos XIV e XV, assinala o desenvolvimento dos
direitos locais como fonte pari passu ao direito justinianeu. E, por fim, a terceira que
a partir do século XVI, afirmava a supremacia dos preceitos legais régios e citadinos
sobre o direito privado clássico. E para o ressurgimento do Direito Romano são
levados em consideração alguns fatores de grande importância nesse processo e
tais fatores são: culturais, econômicos, políticos, sociológicos, epistemológicos.

Fatores culturais

Um dos aspectos mais significativos da expansão romana foi a integração do


território europeu ao mundo clássico. A ausência de qualquer civilização
desenvolvida e de uma cultura solidamente estabelecida fazia da Europa um quadro
em branco, no qual os romanos não tardariam em deixar as marcas de sua
civilização. O rumo diverso da expansão romana é explicado pelas exigências de um
modo de produção baseado no latifúndio escravagista, cuja dinâmica dependia de
um crescente acúmulo de terras e da manutenção de um volumoso exército de
escravos.

A presença romana se fez presente através da construção de cidade ao longo


das margens dos rios navegáveis da Europa. E as suas marcas estavam por demais
entranhadas no continente europeu, de forma que não poderiam ser facilmente
esquecidas. Os invasores bárbaros não destruíram a ordem romana anterior ou
tampouco impuseram uma nova cultura, pelo contrario assimilaram os elementos de
uma civilização indubitavelmente mais desenvolvida. Já os povos germânicos
constituíam uma comunidade primitiva e nômade habituada a um Estado territorial
duradouro, eles não possuíam um sistema de propriedade articulado e estável, e
não obtinham uma língua escrita. Com tantas conquistas do antigo império romano
os problemas ocasionados eram resolvidos pela adoção das estruturas políticas do
antigo império, combinadas quando possível, com as instituições bárbaras. Por outro
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lado, a comunidade romana preservou o seu aparelho administrativo bem como o


seu sistema jurídico.

Assim o direito romano deixou vestígios nas superestruturas dos nascentes


estados bárbaros, sobre tudo nas regiões mais fortemente romanizadas do sul da
Espanha, Gália e Itália. Mais com o tempo essas estruturas foram desaparecendo
com o desenvolvimento do feudalismo e o conseqüente enfraquecimento do poder
real.

Fatores Econômicos

Foram os séculos XII e XIII os séculos do desenvolvimento da burguesia. O


mercantilismo mercantil foi um dos motivos da recepção da jurisprudência clássica
ele exigia uma nova estrutura jurídica mais adequada às novas relações econômicas
emergentes, tudo isso para que houvesse uma efetiva segurança institucional e
jurídica ás operações comerciais e também pela necessidade de haver um direito
universalmente válido que unificasse os diversos sistemas europeus de forma a
garantir a abrangência de um mercado internacional. E por fim, um sistema legal que
libertasse a atividade mercantil das limitações comunitária ou de ordem moral que
era imposto pelos sistemas feudal e eclesiástico. O Direito romano-justinianeu foi o
que atendeu a todas essas exigências, porém Franz Wieacker se opõe a tese de
que o direito romano-justinianeu fosse mais adequado ao desenvolvimento
econômico da burguesia européia do que o próprio direito mercantil medieval.

O comércio em Roma desempenhava um papel secundário na economia,


vindo a se desenvolver em um mediterrâneo unificado por um vasto império que
desconhecia as sociedades comerciais e principalmente um direito internacional.

O direito civil clássico dos interesses empresariais da burguesia era oriundo


de uma estrutura uniforme e racional, que se baseava nas explicações das leis
escritas, estabelecidas previamente por tribunais compostas por técnicos.

Deste modo, era a estrutura racional e coerente da civilística romana, propícia


ao estabelecimento de um sistema jurídico estável e universal, que interessava aos
comerciantes burgueses.
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Fatores Políticos

Segundo Argemiro, uma das condições favoráveis à recepção do Direito


Romano no Ocidente foi o fortalecimento da Burguesia no âmbito econômico, porém
não podemos atribuir aos burgueses o mesmo papel no que tange às causas
políticas da readmissão da Jurisprudência clássica.

“[...] O Absolutismo é apenas a nova forma política necessária para


manutenção da dominação e da exploração feudal, no período de desenvolvimento
de uma economia mercantil. [...]” Wolkmer – p. 156

O poder absoluto dos monarcas apresenta fortes traços nobiliárquicos


herdados da era Medieval.

A maturidade política dos comerciantes à conquista do Estado dá-se em 14


de julho de 1789 (Revolução Francesa). Desta forma, com o ressurgimento do Jus
Civile dos romanos devem ser procurados no caráter híbrido das emergentes
nações européias, onde a economia capitalista imperava e era baseada na liberdade
dos agentes econômicos em contratar e no dispor de seus bens, e por um poder
político centralizado sujeito a discricionariedade do monarca.

A estrutura assemelha-se àquela existente em Roma sob o Dominato, em que


a autonomia e a liberdade concedida no âmbito de Direito Privado correspondia à
autoridade incondicionada do Imperador no campo do Direito Público.

O sistema jurídico romano compreende dois setores distintos: a) O Direito


Civil, que regulamentava as transações econômicas entre os cidadãos; b) O Direito
Público, que regia as relações políticas entre o Estado e seus súditos.

Em outros termos, a retomada da Jurisprudência clássica não atendia


somente aos interesses econômicos da classe mercantil, entretanto, correspondia
sobremaneira às expectativas de uma nobreza ciosa de suas prerrogativas políticas.

Embora num primeiro momento a burguesia tenha se beneficiado da adoção


dos princípios jurisprudenciais clássicos, em sua luta pelo poder político, buscou
apoio nos princípios jus naturalistas e não mais em premissas romanas.
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Fatores Sociológicos

De acordo com a contribuição de Max Weber nesse período ocorre o


surgimento da burocracia em relação às causas da aceitação do direito romano.

Destacamos de maneira simultânea o desenvolvimento do processo de


burocratização dos processos judiciários das modernas nações européias e o
acolhimento da jurisprudência romana pelos novos Estados centralizados.

O atributo que compõe a superioridade técnica da burocracia que mais nos


interessa é o caráter de segurança e previsibilidade da ação burocrática.

Weber destaca o processo de burocratização do Estado como causa da


readmissão do direito romano à época medieval baseado no costume.

A adoção moderna do direito romano teve como conseqüência o surgimento


de uma classe profissional, que passou a desempenhar um papel preponderante no
cenário público europeu: a classe dos juristas profissionais. Isso gerou um processo
de racionalização da técnica jurídica que libertou o direito dos limites teológicos,
passando a administração da justiça aos profissionais laicos, formado à sombra da
tradição jurídica dos romanos.

Fatores Epistemológicos (O desenvolvimento da ciência jurídica)

Ao tecer e analisar fatores gerais, desde a origem, causa natureza e fins


sobre a retomada ao poder do grandíssimo império romano. Temos dois nortes que
nos situam e tornam o ambiente mais propício para a importância da herança
clássica romana.

Primeiro, a crescente evolução do direito, a criação das universidade e


instituições de caráter jurídico, que desenvolvem um estudo e formação do que
chamamos hoje de doutrina, de juristas e por último, porém não menos importantes
o fator ideológico que concretizou a crença na razão dos acontecimentos e
pesquisa, deixando de lado o fator essencialmente ligado a religião. Como grande
difusor da distinção de fé e razão, se destaca nesse período São Tomás de Aquino
originando vários estudos para delimitar e integrar esses dois distintos campos em
busca de um só objetivo, a busca da verdade e bem geral da sociedade. Dentre
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esse grande desenvolvimento da razão crítica e do conhecimento destacam-se


muitas particularidades, como os glosadores, a escola dos comentadores e outras
instituições que contribuíram para aprimorar o saber jurídico.

Ao elaborar uma linha de desenvolvimento do saber jurídico, Roma foi uma


grande precursora desse conhecimento, sendo muito útil para sua época e caindo
em desuso por certo tempo e voltando a ser usado em outro, no século XIX. Hoje
servindo de ferramenta para enriquecer a doutrina do direito natural.

Conclusão

O trabalho que foi apresentado teve como objetivo elucidar o contexto


histórico-social da formação do direito romano. A referida obra também nos mostrou
questões econômicas, políticas, sociológicas, culturais e filosóficas levantadas por
juristas da era Medieval (séc. XII a XIV). Nos é esclarecido que o Jus Civile foi o
ramo principal regulador do direito e das relações econômicas entre os cidadãos
romanos. Estes, por sua vez, eram os que compunham uma casta bem delimitada
que entrava no seio da comunidade alicerçada em classes sociais rígidas, porém
distintas entre si.

A aristocracia dos patrícios era a classe que detinha o poder político em


Roma.

Questões específicas como a não aceitação da jurisprudência romana na


Inglaterra ou a sua recepção, todavia na Alemanha só podem ser devidamente
elucidadas a partir de uma análise das peculiaridades de cada nação, o que escapa
aos nossos propósitos.

Nosso principal objetivo, com esse trabalho, foi chamar atenção sobre o
contexto dos diversos fatores que concorreram para o nascimento dos estudos
romanistas e a necessidade do resgate desses estudos ao final da Idade Média, à
medida que a Europa Ocidental se nota desprovida de um direito mais avançado,
escrito e abrangente como o direito romano, lembrando que o direito romano nunca
deixou de ser usado no oriente, restava agora ressurgir no ocidente e ganhar mais
força no oriente e graças a esse Ressurgimento o Direito Romano chegou até os
nossos dias, seja reformulado ou não.
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Referências Bibliográficas

WOLKMER, Antônio Carlos (Organizador) – FUNDAMENTOS DE HISTÓRIA


DO DIREITO – 3ª Edição – 2ª Tiragem Revista e Ampliada. P.137-167

CASTRO, Flávia Lages de – HISTÓRIA DO DIREITO GERAL E DO BRASIL


– 6ª Edição. P 85 -136.

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