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Política e Cultura

ISSN: 0188-7742

politicaycultura@gmail.com
Universidade Autônoma Metropolitana Unidade
Xochimilco
México

Martínez Pacheco, Agustín


Violência. Conceituação e elementos para o seu estudo Política e Cultura, n.
46, 2016, pág. 7-31 Universidade Autônoma Metropolitana Unidade
Xochimilco
Distrito Federal, México

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=26748302002

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A violência
Conceituação e elementos para o seu estudo

Agustín Martínez Pacheco*

Resumo
Este ensaio busca realizar uma dupla abordagem da questão da violência. Em primeiro lugar,
apresenta-se uma reflexão sobre o termo, contrastando duas conceituações, uma que o
restringe ao uso da força para causar dano e outra que o amplia, considerando-o como a
negação do outro. O alcance e as limitações de cada uma dessas conceituações são
apontados. Em segundo lugar, são abordados alguns dos elementos importantes a serem
levados em consideração para seu estudo, abordando as causas, características,
consequências e avaliações das diversas formas de violência.

Palavras-chave: violência, relações sociais violentas, tipos de violência, causas da violência,


espirais de violência.

Abstrato
Violência. Conceitos e elementos para a sua análise. Neste ensaio é apresentada uma dupla
abordagem do conceito de violência. A primeira abordagem é uma reflexão sobre o termo
contrapondo dois significados: um trata apenas do uso da força para causar dano, enquanto
o outro amplia seu significado ao considerá-lo como uma negação da outra pessoa ou grupo;
as extensões e limitações de cada conceito são descritas. Na segunda abordagem, são
apresentados alguns elementos importantes para seu estudo; estes consideram as causas,
características, consequências e avaliações de diversas formas de violência

Palavras-chave: violência, relações sociais violentas, tipos de violência, causas da violência,


espirais de violência.

Artigo recebido em 29-02-16


Abertura do processo de decisão: 14-03-16
Artigo aceito em 05-08-16

*
Matriculado no Doutorado em Ciências Sociais na UAM-Xochimilco, México [agustinmapa@
yahoo.com.mx].
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8 Agustín Martínez Pacheco

introdução

você m dos principais problemas no estudo da violência é


a falta de uma definição precisa que dê conta da
multiplicidade de formas em que ela ocorre ou, pelo menos, aponte suas
características mais importantes e comuns. Além disso, outra dificuldade em
seu estudo é justamente essa multiplicidade, razão pela qual muitas vezes se
prefere falar de violência e não de violência no singular; Dessa forma, são
apresentadas definições particulares para cada forma de violência a ser
estudada. Evidentemente, o fato de essas formas de violência serem
estudadas a partir de diferentes campos do conhecimento também dificulta
não apenas estudá-las em geral, mas também aceitar uma definição clara e
inequívoca. Por outro lado, esta abordagem múltipla da violência particular e
de diferentes campos disciplinares tem contribuído, ao mesmo tempo, tanto
para olhá-la na sua complexidade, como para evidenciar características mais
precisas das causas, as formas como aparecem e as dinâmicas ou funções
que assumem as diferentes formas de violência; Este ensaio procura situar-
se entre a preocupação com a generalidade e a sua multiplicidade.
Algumas ideias gerais sobre o conceito de violência são expostas,
problematizando as conceituações mais restritas para tentar fazer uma
proposta que amplie seu campo. Sabendo que uma expansão muito grande,
precipitada, descuidada do termo violência pode fazer com que ele signifique
qualquer coisa e, com isso, perder sua utilidade na pesquisa, tentaremos
estar atentos às consequências que essa proposta pode trazer.

O ensaio está dividido em duas seções. Na primeira, abordamos o cerne


da concepção de violência mais aceita, para pensar seus elementos e as
características que ela propõe, para então apontar algumas limitações ao
pensar em fenômenos novos. Além disso, expressamos a proposta de
conceituação alternativa, para então mostrar seu alcance.
A segunda seção deixa o problema da definição para mencionar os usos
na análise da ideia de violência, ou seja, quais preocupações gerais ela
aborda. Em primeiro lugar, aponta-se o modo de dividir a preocupação no
estudo da violência, dividindo aqui o que poderíamos chamar de campos de
análise (são indicados quatro: o campo da causalidade; o das formas e
dinâmicas que a violência assume; o das consequências , e o campo avaliativo
sobre violência). São abordados diversos elementos que cada um desses
campos pode apresentar, sem esgotar a reflexão, já que alguns outros

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A violência. Conceituação e elementos para o seu estudo 9

eles podem não ser considerados, como a importante distinção entre violência e agressão, que
será discutida oportunamente.
Este ensaio pretende realizar uma sistematização de noções e ideias que vários estudiosos
da violência têm oferecido, mesmo quando não são mencionadas (por razões de espaço
sobretudo).

sobre o conceito de violência

Concepção restrita de violência

Embora de fato não exista uma definição de violência amplamente aceita pelos estudiosos,
podemos encontrar algumas que ofereceram certo consenso. Particularmente nesta linha é
aquela que destaca o uso da força para causar dano a alguém. Elsa Blair1 cita algumas dessas
definições. Voltamos a três para iniciar a análise. A primeira é feita pelo pesquisador francês Jean
Claude Chesnais, que diz: “Violência em sentido estrito, a única violência mensurável e
incontestável é a violência física. É o ataque direto e corporal contra as pessoas. Ela tem um
caráter triplo: brutal, exterior e doloroso. O que a define é o uso material da força, a grosseria
cometida voluntariamente em detrimento de alguém.”2 Uma segunda definição é encontrada em
uma citação que o autor faz de Jean-Marie Domenach: “Eu chamaria violência o uso da força
aberta ou oculto, para obter de um indivíduo ou de um grupo aquilo que não quer consentir
livremente” . a que ele menciona como mais precisa é: “força física usada para causar dano”.

Nestas definições encontramos elementos centrais nas


senso: uso da força por alguém; o dano; receber tais danos por uma ou mais pessoas; a intenção
do dano; o objetivo de forçar a vítima a dar ou fazer algo que não quer. Mas com esses elementos
encontramos também uma especificação sobre a forma de violência do

1 Elsa Blair Trujillo, “Aproximação teórica ao conceito de violência: avatares de uma


definição”, Política e Cultura, nº. 32, outono de 2009, México, UAM-Xochimilco, pp. 9-33.
2
Ibid., P. 13.
3
Ibid., P. 16.
4
Ibid., P. 20.

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que pelo menos uma definição fala: é violência física. No entanto, pelo menos a definição
de Domenach abre as possibilidades de que a força utilizada não seja física, "aberta",
mas de outro tipo, "escondida". Isso poderia ser uma ameaça, uma restrição ou coerção
psicológica? Podem ser esses ou outros, mas o fato é que a abertura é importante.
Voltaremos a isso em breve, no momento gostaríamos de resumir a definição: alguém
intencionalmente prejudica alguém através do uso de força física ou outra, e a intenção
envolve forçar a(s) pessoa(s) ferida(s) a algo que você não quer.

Seria esse o cerne da violência? No entanto, quando consideramos cuidadosamente


esse tipo de definição, surgem alguns componentes que podem ser questionados. Várias
problematizações podem ser destacadas para cada um dos elementos, bem como para
a concepção como um todo. Em primeiro lugar, em tal definição de violência, trata-se de
um comportamento ou ação de alguém sobre outro. Por um lado, é uma ação ou, no
máximo, um comportamento. Por outro lado, há dois atores (ou grupos de atores): aquele
que pratica o ato violento e aquele que o recebe, aquele que o sofre, ou seja, o(s)
agressor(es) e sua vítima (s). O único sujeito ativo aqui é o agressor, a vítima não é
apenas um sujeito, ou apenas uma capacidade passiva, como receptora de algo que lhe
é estranho. Essa concepção de um ato de alguém sobre a vítima limita a concepção de
violência apenas ao evento direto, sem vínculos com o meio social, história e terceiros,
todos fatores de alguma importância, como será visto mais adiante.

A ideia do uso da força também é muitas vezes problematizada, não tanto para negá-
la, mas para considerar que a força física não dá conta suficientemente do fato, de
diferentes fatos: coerções morais (pessoais, grupais, culturais), poder relações (sem
considerar aqui que esse termo também é problemático, “amorfo” como diria Weber) –
que por si mesmas estruturam e naturalizam as relações de violência–, a coerção
psicológica e até a chantagem podem ser importantes como veículos de violência.

Além disso, em algumas considerações sobre a violência, tal intervenção da força não
parece estar presente, como se poderia pensar na "violência simbólica" de Bourdieu,5
que a define como a aceitação, a internalização pelos dominados, dos esquemas de
pensamento e avaliação do dominante, justamente tornando invisível a relação de
dominação. É claro que todos esses elementos poderiam, em última análise, ser
reduzidos a considerações de força, mas também é inegável que cada um tem suas
especificidades, que devem ser levadas em conta para uma melhor análise.

5 Pierre Bourdieu, Dominação masculina, Barcelona, Anagrama, 2000.

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A intencionalidade na produção do dano também é problemática, pois


podem-se pensar situações em que não é a produção do dano que
importa, mas a obtenção de determinados resultados, como quando em
algumas relações trabalhistas alguém não é reconhecido ou não é ele
presta atenção com a intenção talvez de abandonar seu trabalho, mas na
pessoa assim ignorada produz-se um dano emocional e a dor de não ser reconhecido.
Os motivos gerais, o porquê da violência, que se insinua com a ideia
de obrigar as vítimas a dar ou fazer algo que não querem, também é
questionado por um duplo aspecto. A primeira, no entanto, não parece
afetar tanto a importância da definição, mas é um problema da análise, e
é que a análise das motivações é em si problemática, pois é difícil
averiguar o que o " reais" motivos das pessoas, o que elas têm em mente
ao realizar certos atos. Embora isso possa ser resolvido com base nos
resultados, esta análise retrospectiva sempre apresentará algumas
dúvidas. A segunda questão sobre por que a violência parece mais grave
é a que se refere a concebê-la, se não necessariamente predominantemente,
como um meio para um fim. Toda uma gama de avaliações tende a
destacar aspectos emocionais, impulsos que são fins em si mesmos, que
são mediados por nada mais do que si mesmo, a frustração que leva à
agressão, a eliminação de alguém simplesmente porque é temido, porque
é considerado um inimigo , etc., à avaliação do simples prazer que o ato
violento traz. Talvez aqui se encaixem as seguintes perguntas: uma luta
de boxe é um ato violento? O que cada um é obrigado a fazer? Pode-se
dizer que eles fazem algo que não querem? De qualquer forma, o que se
questiona aqui é a valorização da violência apenas como meio, que deve
ter sempre aquele caráter instrumental que é atribuído à violência.
A definição como um todo também apresenta uma série de elementos
que a tornam problemática. Em primeiro lugar, parece que o contexto em
que a violência ocorre é um contexto espacial e temporalmente restrito.
Espacialmente, porque restringe a visão do contexto em que a ação
violenta pode ser observada. Embora isso possa ocorrer em qualquer
lugar, em qualquer espaço, escola, casa, trabalho ou rua, o que a definição
destaca é o fato da ação de alguém sobre outra pessoa, portanto as
características do contexto só serão expostas conforme o cenário onde tal
ato é apresentado, mas não o influenciarão, não serão levados em conta
analiticamente para descrever o fenômeno da violência. Uma consideração,
por exemplo, como a apresentada por Carlota Guzmán6 – sobre a ideia de

6 Carlota Guzmán Gómez, “A lógica da violência escolar: uma contribuição à discussão”,


Amarelinha. Revista ibero-americana sobre crianças e jovens lutando por seus direitos, nº. 6,
novembro-maio, México, 2012, pp. 119-126 (pág. 123).

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A violência escolar de François Dubet–, em que há um tipo de violência antiescolar que,


no entanto, emana e é gerada pela própria escola ao estigmatizar, hierarquizar e relegar
determinados alunos não competitivos e que acabam prejudicando a própria escola ou
atacando professores e autoridades, é irrelevante para uma definição de violência como a
que foi apontada, pois para ela o único fato relevante é a violência cometida pelo aluno,
não aquela gerada pela própria instituição. Para abrir espaço para uma ideia como essa,
é importante, portanto, ampliar o conceito, acrescentar os acréscimos que tornam o
contexto relevante.

Temporariamente também se restringe porque parece nos chamar imediatamente ao


momento da ação, ao evento provocado da violência. A esse respeito, Fredric Wertham
comenta o seguinte ditado: “basta um louco para desencadear a violência”; destaca ainda:
“antes de alguém começar a violência, muitos outros já prepararam o terreno”.7 É
justamente essa preparação das condições para o desenvolvimento da violência que a
definição analisada pode acabar invisibilizando. Parece que o ato violento se origina e
termina no momento em que ocorre, restando apenas o dano, talvez também a punição e
reparação quando possível, e interessando-se apenas pela situação imediata, buscará a
causa da violência principalmente nas características dos agressores, ou mesmo das
vítimas, mas negligenciará o contexto sócio-histórico.

Por essa mesma característica, tal concepção de violência pode ser em grande parte
a- histórica, limita-se a descrever os fatos claramente manifestados, e se estiver interessada
na causalidade, tenderá a encontrá-la no mais próximo, no mais próximo; Assim, essa
postura pode ocultar as causas não visíveis, como algumas estruturas de dominação
criadas social e historicamente em diversas esferas – política, racial ou patriarcal.

No entanto, deve-se considerar que essa conceituação de violência, por ser


precisamente restrita, permite que eventos e atores sejam claramente localizados, de
modo que o que se chama de violência objetiva –possível de ser mensurada de uma forma
ou de outra–, possa realmente ser tão . Os eventos podem ser contados, estatísticas e
comparações quantitativas podem ser feitas, também permite que as vítimas sejam
perfeitamente localizadas e os danos recebidos sejam distinguidos. Além disso, ao
distinguir claramente os atores envolvidos na violência, permite estabelecer
responsabilidades e estabelecer culpas e penalidades, punindo atores e atos. De certa
forma, a ação legal e policial encontra nessa definição um importante

7 Fredric Wertham, The Sign of Cain: On Human Violence, México, Siglo XXI
Editores, 1971, p. 3.

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A violência. Conceituação e elementos para o seu estudo 13

Apoio, suporte. Mas mesmo aqui as limitações podem ser consideradas; por
exemplo, diante do problema da violência doméstica, apenas as vítimas são
atendidas e o agressor é imediatamente punido – de acordo com as limitações
apontadas, ao não levar em conta questões culturais e estruturais, como
machismo e patriarcalismo – , são mantidas as condições em que essa
violência será reproduzida. Dessa forma, o que é positivo em termos judiciais
não é tão positivo em políticas públicas para enfrentar o problema desde
suas raízes. Por isso, é preciso ir além do imediato e ampliar as concepções utilizadas.
O exposto, é claro, pode levar ao obscurecimento das precisões alcançadas
com base na definição comentada.
Por outro lado, numa importante extensão desta definição, John Keane,
partindo precisamente dos elementos básicos que indicamos, dá uma
guinada que nos leva a outro caminho. Segundo este autor:

[entende-se por violência] a interferência física que um indivíduo ou um grupo exerce


sobre o corpo de um terceiro, sem o seu consentimento, cujas consequências podem
variar desde um choque, uma contusão ou um arranhão, uma inflamação ou uma dor
de cabeça, a um osso quebrado, um infarto, a perda de um membro e até a morte
[delimitando mais adiante que] é sempre um ato relacional em que sua vítima, mesmo
involuntária, não recebe o tratamento de um sujeito cuja alteridade é reconhecida e
respeitado, mas o de um simples objeto potencialmente merecedor de castigo físico e
até de destruição.8

A partir dessas ideias devemos destacar dois aspectos: a) a violência é


um ato relacional, um tipo de relação social; b) a subjetividade da vítima é
negada ou diminuída, tratando-a como objeto.
Na mesma linha, Michel Wieviorka opta por:

[...] uma definição de violência baseada na do sujeito [onde] o sujeito é a capacidade


da pessoa de agir criativamente, de constituir sua própria existência [...] O sujeito é
também o reconhecimento que faz de uma pessoa outra que também são sujeitos. Da
mesma forma, é a capacidade de estar em relação com os outros [neste caso] a
violência nada mais é do que a incapacidade do sujeito de se tornar ator [é justamente
aquela subjetividade negada ou diminuída].

8
John Keane, Reflexões sobre a violência, tradução de Josefa Linares de la Puerta,
Madrid, Aliança Editorial, 2000, pp. 61-62 (grifo nosso).
9 Michel Wieviorka, “Violência: destruição e constituição do sujeito”, Espaço aberto, julho-
setembro, vol. 10, não. 3, Cadernos Venezuelanos de Sociologia, Maracaibo, Associação
Venezuelana de Sociologia, pp. 337-347 (págs. 339-340).

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Essa incapacidade de se tornar um ator que marca a violência, no


entanto, também pode ser o impulso que leva alguns a manifestá-la.
Alguém pode primeiro ser vítima ao ser negada sua subjetividade, mas
essa mesma negação o levará a agir com violência depois, como uma
contra-violência daquele que a nega. Esta situação inclui, por exemplo,
tanto as manifestações abertas de resistência à dominação e exploração,
como as agressões "aparentemente" espontâneas e sem sentido dos motins
ou ataques particulares de frustração e raiva.
Exploremos agora as possibilidades de ampliação do conceito ou, talvez
melhor, da concepção de violência como relação social e como negação da
subjetividade – negação do outro. Essa ampliação de sentido, é claro, tem
sua base no campo disciplinar das ciências sociais, especialmente na
perspectiva sociológica.10

Concepção relacional ampla de violência

No início de seu curso no Collége de France intitulado Segurança, Território,


População, Michel Foucault menciona três ideias a respeito de sua pesquisa
sobre os “mecanismos do poder”: primeiro, que ele está apenas esboçando
uma teoria do poder, mas que não trata "o que é o poder", mas "com poder",
ou seja, afirma que o poder não é "uma substância, um fluxo" ou algo
semelhante, "mas um conjunto de mecanismos e procedimentos cujo papel
ou função e tema, mesmo quando não o conseguem, consiste precisamente
em assegurar o poder”; segundo, que esses procedimentos ou mecanismos
de poder não são “autogenéticos”, “auto-subsistentes”. “O poder não se
funda em si mesmo e não se dá por si mesmo”, ou seja, não é que seja

10
É pertinente apontar a relação entre os conceitos de agressão e violência. A primeira é
considerada, a partir de disciplinas como psiquiatria, neurologia e até etologia, como um comportamento
inato, modulado evolutivamente, que os humanos compartilham com os animais. Ou seja, é considerado
como um fator biológico. Violência não, é considerada mais como fator social e cultural; assim, por
exemplo, afirma José Sanmartín: “o ser humano é agressivo por natureza, mas pacífico ou violento por
cultura” (Laviolencia y sus clave, España, Ariel, 2006, p. 21. Ver também David Huertas, Violencia: la
great ameaça, Espanha, Aliança Editorial, 2007, e Adolf Tobeña, Anatomia da agressividade humana, da
violência infantil ao belicismo, Barcelona, Ed. Galaxia Gütemberg, 2001). Este ensaio parte de uma
proposta de abordar o estudo da violência do ponto de vista sociológico, de modo que a questão da
relação da violência com o comportamento agressivo e, além, com as questões biológicas e até
psiquiátricas, fique por enquanto fora, em parte também por causa do limite do ensaio.

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A violência. Conceituação e elementos para o seu estudo 15

apresentam família, trabalho, relações sexuais, e junto a elas ou a elas


somadas, invadindo-as, relações de poder, mas que os mecanismos de
poder "são parte intrínseca de todas essas relações", não obstante o que,
diz ele, na análise do poder sob essas relações é possível encontrar
"isomorfismos", "correlações", "analogias técnicas" pelas quais o poder
pode ser reconhecido nas mais variadas relações sociais; e, em terceiro
lugar, que a análise dos mecanismos de poder pode dar diretrizes para
uma "análise global da sociedade", ou seja, que o estudo desses
mecanismos de poder possa ser articulado com as histórias econômicas,
políticas e sociais . seja por símile ou metáfora, parece-nos que essas
ideias, em termos gerais, também podem ser pensadas para a análise da
violência. Mas isso não significa que poder e violência sejam semelhantes
ou intercambiáveis, mas aponta para o fato de que essas percepções
metodológicas, de pensamento, podem ser relevantes para a análise da violência.
Assim, consideramos que a violência não é uma substância ou um fato
isolado, totalmente acabado e apreensível em si mesmo, mas sim que se
trata de relações sociais ou, melhor dizendo, do matiz que certas relações
sociais assumem. Nessa perspectiva, a violência pode ser vista como um
adjetivo que qualifica certas formas de relacionamento. Assim, por exemplo,
nas relações familiares ou de trabalho, quando estas se apresentam com
sinais de violência, falamos de violência familiar ou de trabalho, mas essa
coloração violenta das relações sociais tem algumas características
gerais pelas quais é reconhecida, ou seja, , que também apresenta um
importante momento de substantividade. A principal característica pela qual
se pode falar de violência, é claro, é a produção de danos a, pelo menos,
algumas das partes da relação, afetando a integridade física, sexual,
psicológica e até patrimonial da(s) pessoa(s). afetado. Outra característica
frequente nas relações violentas é a repetitividade de determinados
comportamentos ou a recorrência de mecanismos na produção da violência,
ou seja, que padrões comportamentais são apresentados por meio dos
quais se pensa em alguma intencionalidade que marca a relação dos atores.

Por fim, embora não possamos dizer que toda relação social é violenta
ou contém violência, podemos admitir que ela está sempre presente como
possibilidade dentro das mais variadas formas de relação social, da familiar
à política ou econômica, e que conta.

11 Michel Foucault, Segurança, território, população, tradução de Horacio Pons, Buenos


Aires, Fondo de Cultura Económica, 2011, pp. 16-17.

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mais ou menos constante, de modo que a análise da violência pode nos mostrar
alguns aspectos globais da história social da mesma forma.12 Mas o alcance, a
globalidade ou não da relação entre violência e histórias, deve ter variações
importantes de acordo com uma série de contextos estudados, uma vez que o
alcance da violência nas guerras, internas ou externas, em determinados países
ou regiões, não é o mesmo que a violência de gênero ou mesmo a violência
sexual em toda uma civilização a partir do desenvolvimento de concepções
patriarcais.
De qualquer forma, a proposta é que a violência seja definida como uma
forma de relação social caracterizada pela negação do outro. Essa proposta de
definição amplia a concepção de violência em muitos aspectos e também corre
o risco de parecer incluir qualquer forma de relacionamento que alguém não
goste e que diga que está sendo negado, ou seja, acentua o caráter subjetivo
da violência (que será visto mais adiante).
Mas vamos primeiro discutir algumas das características positivas de tal
definição para o estudo da violência.
Em primeiro lugar, considerar a violência como uma relação social destaca
o papel participativo que os diferentes sujeitos da relação podem ter, tanto as
vítimas e os espectadores, quanto os agressores. Ou seja, a violência não está
mais confinada ao ato de um único agente ou sujeito, em que as características
ou interesses deste seriam apenas os elementos importantes para compreender
a violência, mas agora as características e interesses do outro também podem
ser parte endereçada, bem como agentes terceirizados em torno dessa relação
direta, pois muitas vezes alguém pode praticar atos violentos contra outra
pessoa como uma mensagem para um hipotético espectador (basta pensar nas
diversas formas de terrorismo, estatal ou privado).
Compreender as relações sociais onde surge a violência, neste caso, ajuda a
alcançar uma compreensão mais completa da mesma.
A relevância também é concedida ao contexto da relação, uma vez que
esse contexto sempre influencia e é influenciado pelas relações que nele ocorrem.
Além disso, pode-se dizer que os contextos são criados pelas relações e que,
por sua vez, as influenciam. Portanto, entender o contexto em que

12
Basta um exemplo: o Estado se forma, essencialmente e de acordo com os discursos
utilizados para sua legitimação, para lidar com duas formas principais de violência: a da
invasão de um povo por outro e a da invasão da privacidade, da privacidade de cada um
dos sujeitos ou cidadãos, por atores criminosos, mas para cumprir esse objetivo tem como
principal meio a violência, o monopólio da violência legítima. Um fim: a paz. Um significa:
violência. Aqui está contida parte da história sociopolítica dos Estados modernos.

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A violência. Conceituação e elementos para o seu estudo 17

relações de violência são apresentadas pode ser útil para compreender


melhor a violência. Pare de pensar no contexto apenas como o pano de
fundo onde ele ocorre, mas que não tem nada a ver com isso, e considere
esse contexto como uma situação temporal e espacial significativa, marcada
por relações sociais que criam, interpretam e usam significados.
compreender as características de certas formas de violência que às vezes
parecem gratuitas e sem sentido, como o macabro exibicionismo da
violência no contexto da guerra contra o crime organizado no México.
Por outro lado, há concepções de violência, ou melhor, de certas
formas de violência, que dificilmente podem ter lugar na restrita definição
anterior, mas que podem encontrar espaço nesta. Por exemplo, há as
concepções de violência estrutural e violência cultural de Galtung,13 a
violência simbólica de Bourdieu14 ou a violência moral de Segato,15
formas de violência que se caracterizam justamente por não terem o caráter
do uso da força física e com consequências imediatas e visíveis.
No entanto, a possibilidade de levar em conta essas formas de violência
está relacionada ao modo de conceber a ideia do “outro”. E aqui reside um
pouco da dificuldade, pois desloca o problema da precisão e localização
da ideia de violência, para o problema da definição do outro. Em princípio,
o outro é outro em relação a alguém (e a partir daí se anuncia a possibilidade
de relação), mas esse outro, por assim dizer objetivo, pode ser tratado de
várias maneiras: reconhecimento da igualdade como expectativas, desejos,
direitos e em breve; indiferença, apenas alguém diferente de mim

13 Violência cultural como aqueles aspectos ideológicos e representacionais que justificam


ou exaltam a violência de alguma forma, como o racismo, o sexismo, a xenofobia. A violência
estrutural como aquela forma de organização social que desprotege e condena certos sujeitos
a não conseguirem desenvolver plenamente suas possibilidades. Johan Galtung, Após a
Violência, 3R: Reconstrução, Reconciliação, Resolução. Enfrentando os efeitos visíveis da
guerra e da violência, Espanha, Ed. Bakeaz/Gernika Gogoratuz, 1998.
14
A violência simbólica como forma de violência cotidiana por meio da qual os esquemas
de percepção e valorização do caráter de uma relação de dominação-submissão são aqueles
desenvolvidos do lado do dominador, ou seja, se impõem ao subjugado, naturalizando ou
apresentando como inevitável sua própria situação. Pierre Bourdieu, Dominação masculina,
Barcelona, Anagrama, 2000.
15 A violência moral como forma de violência cotidiana visando a manutenção da
submissão das mulheres à dominação patriarcal, por meio da dependência econômica no lar,
da reiteração das posições sociais de homens e mulheres, sua atribuição de papéis e a
afirmação de características como emocionais e irracionais. Rita Laura Segato, As Estruturas
Elementares da Violência; ensaios sobre gênero entre antropologia, psicanálise e direitos
humanos, Buenos Aires, Universidade Nacional de Quilmes, 2003.

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18 Agustín Martínez Pacheco

mas separado e estranho; como um sujeito perigoso, alguém a ser temido,


um inimigo que, portanto, merece a morte; um objeto, de prazer, mercadoria
ou alguém que pode ser negado ou tirado deles, etc.
Ou seja, parece que a precisão na definição do outro teria que se basear
em uma concepção que pudesse ser tornada comum e aceita por qualquer
sujeito, e que a partir daí poderiam ser estabelecidos critérios que estabeleçam
claramente quando sua subjetividade é negado, o que não é o caso, é
completamente claro, pois é bastante condicionado pelas relações sociais e
pela capacidade de estabelecer ideias e concepções dominantes. De forma
extrema, sempre podem ser encontradas situações em que alguém afirma
que sua subjetividade é negada de alguma forma, e então a precisão se
perde na própria ideia de relações de violência.
Por outro lado, se na primeira concepção, limitada, precisa, podem ser
acrescentados elementos que a ampliem, que a acomodem a situações
precisas de análise de alguns fenômenos de violência – como poderia ser,
por exemplo, que ao falar de gênero violência considera-se que a força
utilizada não será apenas física, mas que há também elementos psicológicos,
morais, de poder etc. , se admite elementos de expansão, ao contrário, a
segunda proposta, ampla, também pode pedir que sejam acrescentados
elementos, mas desta vez para especificá-la, delimitá-la, indicando claramente
em que consiste a relação a ser observada, qual sua será o contexto, bem
como o tipo de negação do outro que é considerado, quem é esse outro e em
relação ao que se fala de alteridade.

Temos, assim, duas concepções de violência, uma ampla e outra restrita.


A expansão e restrição dessas concepções se referem aos espaços
explicativos em termos das relações que tocam, da temporalidade de suas
manifestações, da concretização ou difusão de suas consequências e, claro,
das causas difusas ou imediatas que são consideradas. Essa amplitude ou
restrição da concepção de violência tem consequências não apenas para o
escopo analítico do observador, mas também para a possível implementação
de ações específicas para combater ou regular a violência. Uma decisão
judicial em face de um ato de violência precisa especificar os fatos e os
responsáveis, de modo que sua concepção de violência será restringida, ao
passo que na realização de determinadas políticas públicas somente poderá
ser permitida uma concepção restrita dela, sob pena de permanecer na
superficialidade e não abordando os problemas em profundidade.
Assim, vemos que por mais precisas que sejam as definições, elas
sozinhas não são suficientes para delimitar a violência. Mas talvez essa não
seja sua tarefa, sua força, mas o que é importante sobre eles é que eles propõem

Política e Cultura, outono de 2016, nº. 46, pág. 7-31


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A violência. Conceituação e elementos para o seu estudo 19

as bases mentais para conduzir nossa consideração da violência, nossa restrição ou


amplitude de olhares para a análise, pois a partir dessas bases serão as possibilidades de
conceber se tais ou quais fenômenos merecem ou não ser considerados como violência,
bem como as possibilidades analíticas que pode ser desenvolvido.

Agora, a proposta de Elsa Blair é considerada aqui no sentido de levar a preocupação


da definição para o uso do conceito. Este pesquisador diz: “Proponho então, mais do que
uma conceituação
sobre a violência [...] para abordar o problema de outra forma: concordando com aquele
grande linguista, Wittgenstein, quando diz: somente no uso a proposição encontra seu
sentido. Ou quando ele propõe, não pergunte sobre o significado, pergunte sobre o uso.”16
Bem, nós tentamos fazer isso a seguir. Esclarecemos que é apenas uma abordagem geral,
pois uma análise mais ou menos detalhada da questão ultrapassa em muito o alcance que
um ensaio como este pode ter.

os usos do termo em pesquisas sobre violência

Áreas de investigação: causas, formas e dinâmicas,


consequências, avaliação

Em linhas gerais, pode-se considerar, de forma mais óbvia e intuitiva, que o estudo da
violência é abordado a partir de quatro grandes campos de pesquisa: um é aquele que
trata de suas origens e causas; outra é aquela que se preocupa com as formas que
assume, suas características e sua própria dinâmica que desenvolve; ainda outro trata
principalmente das consequências e efeitos que o desdobramento da violência gera.

Atravessando esses três campos ou formas de abordagem de seu estudo, encontrar-se-ia


uma preocupação avaliativa, tendendo a qualificar as relações de violência a partir de
diversas situações, como alguns olhares voltados para os agentes participantes dos
eventos, tanto aqueles que os executam quanto aqueles que os executam. aqueles que
sofrem com eles, bem como aqueles que estão no ambiente imediato ou mediato que o
observam ou estudam. Ou são qualificados a partir de situações de crenças e valores
políticos, morais, culturais e até religiosos. Finalmente, considerando os contextos
específicos em que ocorrem atos de violência, por exemplo, escola, família ou valores
sexuais.

16 Elsa Blair Trujillo, “Aproximação teórica do conceito de violência...”, op. cit., pág. 31.

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20 Agustín Martínez Pacheco

Mas, de qualquer forma, é provável que essas avaliações sejam feitas tanto para
as causas da violência, suas formas e dinâmicas e, mais importante, suas
consequências. Esses quatro pontos de preocupação analítica podem ser
chamados de campos de análise sobre a violência. Abaixo, sem pretender esgotar
o assunto, são expostas algumas ideias que consideramos importantes para
esses campos.

a) Campo de causalidade. A violência é considerada, em termos gerais,


multicausal. A ideia de que se poderia ter uma chave para entender a violência
deu lugar a outra que considera, metaforicamente, que talvez ela deva ser
pensada em termos de uma fechadura, onde encontrar a combinação certa de
causas para fenômenos específicos de violência implica considerar vários fatores
e níveis. Isso é especialmente relevante ao estudar problemas específicos de
violência, por exemplo, bullying, violência familiar ou uma situação de guerra civil
em um determinado país.
Dentre os fatores que favorecem ou provocam a violência, geralmente se
destacam dois grupos que nos permitiriam conceber duas formas de violência,
uma ativa e outra reativa. As causas da violência ativa englobam um conjunto de
fatores marcados pela dominação, pelo desejo de conquistar os outros que
permite sua submissão psicológica, sexual, física ou a extração de bens materiais
deles. Os perpetradores recorrerão então a diferentes formas de violência como
meio de alcançar a dominação simbólica e material e a expropriação das vítimas.

Uma abordagem ilustrativa disso pode ser encontrada no livro de Rita Laura
problema de Segato, As estruturas elementares da violência,
17 onde ela aborda o
da violência de gênero, apontando que é justamente a estrutura de dominação
patriarcal que é a matriz original dessa violência, operando mais ou menos
diretamente a partir de agressões físicas, sexuais ou emocionais, ou indiretamente
do que ela chama de violência moral, que internaliza a vítima , a mulher, o sistema
de dominação e a faz aceitar essa dominação. Essa violência moral atua na vida
cotidiana marcando
não só o lugar que a mulher ocupa nas relações em casa (filha e esposa
dependente, mãe a serviço dos filhos) ou fora dela (como trabalhadora de menor
qualidade, por exemplo), mas também o sistema de pensamento que determina
a submissão ( pouco racional, emocional, abnegado, etc.). Mas o conjunto de
fatores marcados pela dominação também é pertinente a outras situações de
violência, como a política, no caso das guerras de conquista, ou mesmo as
econômicas, como no estabelecimento de

17 Rita Laura Segato, As estruturas elementares da violência..., op. cit.

Política e Cultura, outono de 2016, nº. 46, pág. 7-31


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A violência. Conceituação e elementos para o seu estudo 21

a chamada “acumulação por desapropriação”,18 em processos que atingem


principalmente países do terceiro mundo que atendem grupos de interesse
econômico em assuntos como energia, mineração ou que utilizam mão de obra
barata e até escrava.
Por outro lado, em relação à violência reativa, pode-se considerar que o
outro grupo de fatores importantes para a produção da violência é a percepção
da dor, tanto física quanto emocional.19 Ou seja, podemos considerar a dor
física e emocional, dentre as quais Isso inclui não apenas os resultados de
ataques físicos ao corpo de alguém, mas também aqueles que são resultado
de exclusão, humilhação ou rejeição social. Além disso, também podemos falar
de dores individuais e sociais, ou seja, aquelas vivenciadas por uma pessoa e
aquelas vivenciadas por grupos de pessoas ou grupos sociais. Então, a
percepção da dor pode ativar, naqueles que a sofrem, respostas agressivas e
violentas contra as pessoas que geralmente são consideradas responsáveis
pela produção dessa dor, embora às vezes, como será discutido mais adiante,
essa resposta violenta possa sofrer temporariamente deslocamentos ou
espaciais em sua manifestação.
Essa violência reativa, então, pode ser vista como uma resposta ao dano
percebido, que busca eliminar os comportamentos que o produzem ou são
concebidos como punição e compensação por tal dano.
Um exemplo ilustrativo nesse sentido é a obra de Frantz Fanon, Os 20 ,
da terra, onde o autor reflete sobre a violência dos condenados
descolonização dos povos da África como resposta à violência do colonizador,
que tem humilhado e espoliado socialmente (material e simbolicamente) os
povos colonizados, e onde essa violência reativa serve não só para liberalizar
os povos, mas também para que eles se recuperem sua dignidade e qualidade
de sujeitos justamente por meio da violência

18 David Harvey, The New Imperialism, Madrid, Ediciones Akal, 2003. Ver também Pablo
Dávalos, Disciplinary Democracy. O projeto pós-neoliberal para a América Latina, Quito,
CODEU, 2010.
19
Seguindo o psiquiatra e neurobiólogo Joachim Bauer, descobrimos que na função
cerebral essas duas formas de dor estão intimamente relacionadas. Este autor diz: “'do ponto
de vista do cérebro', o limite da dor não é apenas ultrapassado quando a dor física (ou seja,
corporal) é infligida ao ser humano; os centros de dor do cérebro também reagem quando as
pessoas se sentem socialmente excluídas ou humilhadas”. Joachim Bauer, Violência Cotidiana
e Global; uma reflexão sobre suas causas, tradução de Bernardo Moreno Carrillo, Barcelona,
Plataforma Editorial, 2013, p. 67.
20
Frantz Fanon, The Wretched of the Earth, tradução de Julieta Campos, México, Fondo
de Cultura Económica, 2007.

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22 Agustín Martínez Pacheco

sobre o colonizador.21 Mas o estudo das causas da violência a partir da dor


também pode ser realizado em outras áreas, como o realizado por Candice A.
Skrapec sobre os assassinos seriais,22 onde ela aponta que entre os motivos
que que os próprios assassinos dão de seus crimes é a percepção – muitas
vezes, é verdade, distorcida – de terem sido vítimas anteriores de atos
injustificados que os feriram, bem como sentir que com o assassinato
recuperam um poder que lhes foi negado.
Agora, quanto aos níveis de causalidade, em termos sintéticos, pode-se
considerar que todo ato de violência ocorre em um contexto social específico,
que tem, por sua vez, uma história que o gerou. Raízes sócio -históricas e
causas contextuais específicas da violência são os dois principais níveis de
preocupações causais para a violência. No entanto, reconhece-se a existência
de um terceiro nível causal mais específico, que tem sido chamado de
detonador ou desencadeador da violência; quem atirou a primeira pedra, quem
deu uma ordem, o evento fortuito que desencadeou a violência, e assim por
diante. O primeiro nível de causalidade, portanto, atenta ao quadro histórico e
social em que se situam as relações de violência, reconhece, como pede Martín-
Baró, aquela história que cria as condições de possibilidade para a geração da
violência,23 que pode incluir o estabelecimento de certas ideologias e estruturas
sociais que estarão na base dos comportamentos e atos de violência. O
segundo nível estabelece, mais do que uma relação histórica, uma situação de
causas mais imediatas, levando em conta as relações estabelecidas entre
diferentes atores sociais e os contextos específicos onde as relações de
violência se desenvolveram. Já o último nível é o evento mais imediato e visível
que desencadeia manifestações de violência física e direta.

Somado a esses três níveis empíricos do estudo da preocupação causal,


encontramos outro nível que poderia ser considerado ontológico, no sentido de
que pergunta se a violência é consubstancial, e em que medida e como, para
indivíduos, grupos, para a raça humana ou para a própria esfera da convivência
social. Alguns exemplos disso são os

21 Cabe esclarecer que se Fanon pinta positivamente a violência descolonizadora, ele


também considera que a longo prazo ela não pode ser sustentada, pois seus efeitos sociais de
longo prazo serão sempre negativos.
22 Candice A. Skrapec, “Os motivos do serial killer”, em Raine Adrian e José Sanmartín,
Violência e psicopatia, Espanha, Ariel, 2008, pp. 155-180.
23
Ignacio Martín-Baró, “Violência e agressão social”, Poder, ideologia e violência, edição,
introdução e notas de Amalio Blanco e Luis de la Corte, Madrid, Trotta, 2003, pp. 65-137.

Política e Cultura, outono de 2016, nº. 46, pág. 7-31


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A violência. Conceituação e elementos para o seu estudo 23

considerações de etologia, especialmente de Lorenz,24 de observar a agressão como um


impulso instintivo dos indivíduos, mas moldado a partir da evolução biológica; outra, no
plano social, é a consideração de Schmitt25 de que “o político” é essencialmente
determinado pela oposição amigo-inimigo e com a possibilidade sempre presente de um
encontro bélico.

b) Campo das formas, características e dinâmicas da violência. A primeira coisa que se


destaca no estudo da violência é a verificação da pluralidade de formas em que ela pode
aparecer. Essa pluralidade de formas de relacionamento é sempre vista em
correspondência com outras instâncias. Assim, quando se fala em violência, deve-se
fazer referência a essas outras instâncias, que podem se referir aos contextos sociais de
interação em que ela ocorre, como quando se fala em violência de guerra, esporte ou
violência de rua, ou se refere aos agentes envolvidos em sua produção, por exemplo,
violência juvenil ou violência masculina, ou ainda se refere a uma determinada esfera
social a partir da qual se apresenta, como a violência política ou econômica. Entretanto,
em muitos casos a divisão dessas instâncias pode não ser totalmente demarcada,
apresentando combinações; Assim, ao se referir, por exemplo, à violência familiar, faz-se
referência ao fato de ela ocorrer naquele contexto institucional e, ainda, ser desenvolvida
por um ou mais membros da família. O mesmo pode acontecer com outras formas de
violência, como a violência criminal.

Para classificar a violência, é conveniente considerar


que pode ter diferentes tipos de acordo com os critérios utilizados para sua observação
ou construção. Para considerar alguns desses critérios, pode-se apontar, de maneira
geral, que a violência se refere a atos e comportamentos que estão inseridos em redes
de relacionamentos ou contextos diversos; tem pelo menos três tipos de atores que a
delimitam (o agressor, a vítima e os observadores); apresenta um aspecto de sucessão
com origem ou causa, um desenvolvimento a partir de certa dinâmica, tem certas
características e implica certas consequências; Além disso, pode estar relacionado a
outras características tomadas de aspectos mais gerais, como a racionalidade instrumental.
Assim, desses diversos fatores elencados, dentre vários outros que podem ser postulados,
destacam-se aspectos que servem como diferentes critérios classificatórios.

24 Konrad Lorenz, Da agressão: o mal pretendido, México, Siglo XXI Editores, 1994.
25 Carl Schmitt, The concept of the político, Madrid, Editorial Alliance, 1999.

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24 Agustín Martínez Pacheco

Os critérios podem ser muito diversos, mas em geral há alguns que se


destacaram. Por exemplo, com base no critério dos danos ou afetações
sofridos pelas vítimas de violência, pode-se fazer a seguinte tipologia: a)
patrimonial ou econômica, que afete a integridade patrimonial de indivíduos
ou grupos; b) sexual, que afeta a integridade sexual das pessoas, como no
assédio e no estupro; c) psicológico, que afeta sua integridade psíquica,
produzindo distúrbios de comportamento e percepção; d) física, que lesa a
integridade corporal das pessoas, causando pancadas, fraturas e até a morte.
Ou, pode-se tomar como critério de classificação o contexto das atividades
onde a violência ocorre, com o qual se poderia pensar na seguinte
classificação: a) escola, b) em casa, c) no trabalho, d) rua, e) esporte, etc.

Sem entrar nas várias possibilidades ou nas prováveis limitações das


diferentes classificações ou tipologias que podem ser feitas em relação à
violência, gostaríamos apenas de salientar aqui a importância de ser mais ou
menos claro sobre os critérios utilizados para essas classificações, pois às
vezes acontece que diferentes formas de violência parecem se opor ou se
sobrepor em diferentes estudos, mas o que realmente acontece é que elas
se baseiam em diferentes critérios de classificação.
Agora, cada uma das formas de violência consideradas desenvolve
certas dinâmicas –no sentido de um fluxo entre causas e consequências com
características específicas– e suas próprias características. Mas também
existem padrões comportamentais gerais e características reconhecíveis nas
relações de violência que devem ser levadas em consideração para seu estudo.
Dentro da dinâmica que as relações de violência assumem, talvez a mais
importante seja aquela considerada como uma espiral de violência. Segundo
Martín Baró , essa categoria procura apontar “que os atos de violência têm
um peso autônomo que os energiza e os multiplica”. . Propomos aqui três
formas de espiral de violência que podem ser chamadas de espiral de
“emulação”, de “reforço” e de “ação-reação”.

A espiral da emulação pode ocorrer em situações em que a violência


praticada por determinados agentes consegue proporcionar os fins ou
benefícios esperados sem grande custo. Quando essa violência é bem-
sucedida e não é contrastada por custos ou restrições importantes, ou mesmo
por valores que a inibem, ela pode ser recorrentemente utilizada pelos mesmos agentes

26
Ignacio Martín-Baró, “Violência e agressão social”, op. cit., pág. 81.

Política e Cultura, outono de 2016, nº. 46, pág. 7-31


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A violência. Conceituação e elementos para o seu estudo 25

mais importante, ser imitado por outros agentes que buscam objetivos
iguais ou semelhantes, sem grandes restrições ou custos. Nesse sentido,
por exemplo, uma situação social de ilegalidade que recorre à violência
para seus fins e se encontra em um contexto de grande impunidade,
permite o desenvolvimento desse tipo de espiral de violência. Ou seja, é
um tipo de espiral que se situa sob uma consideração em que a violência
é utilizada como meio para determinados fins, é um uso puramente instrumental da violê
A espiral ação-reação é talvez a mais fácil de apreciar. Refere-se à
situação em que os atos de violência cometidos por um ator, indivíduo ou
grupo, sobre outro ator, sua vítima, receberão uma resposta violenta deste
último, tornando-se, por sua vez, um vitimizador.
A espiral então se desdobra a cada turno de ação e sua resposta, com o
possível aumento de mais e mais violência ou violência cada vez mais
danosa. Claro que as situações de luta, de guerra, têm muito a ver com
esse tipo de espiral de violência. Mas não se trata tanto de conceber a
violência a partir de uma perspectiva instrumental, mas a violência como
parte da linguagem da própria relação dos atores considerados. Nesse
sentido, continuando com o exemplo criminal, a militarização do combate
ao crime acarreta o risco de fazer da estratégia militar a linguagem da
relação social da violência, o que não afetará apenas o combate entre as
instituições estatais responsáveis pela violência contra criminosos, mas
também entre eles e, em seu extremo, de ambos os tipos de atores com a
sociedade ou setores da sociedade.
A espiral de reforço é mais delicada e parece mais insegura em sua
abordagem. Consiste no fato de que determinada forma de manifestação
da violência pode produzir determinados resultados que reforçam outros
tipos de manifestações violentas. Talvez essa ideia seja ilustrada pela
relação entre formas objetivas e subjetivas de violência. O primeiro pode
ser entendido como aquilo que é facilmente apreciável e que pode ser
medido de alguma forma. Por exemplo, assassinato, estupro,
espancamentos, mas também danos materiais, como roubo, etc. Por sua
vez, o subjetivo é entendido como aquilo que é percebido por certos
agentes, mas que de fato é difícil de mensurar. A percepção da violência
pode estar em sintonia com a violência objetiva, mas não necessariamente, nem de form
No entanto, isso não significa que o subjetivo seja pura fantasia, pois é
percebido como real, é real como percepção e tem efeitos reais.
Ora, numa situação de percepção social de violência mais ou menos
generalizada, acontece que ela gera efeitos que podem muito bem alimentar
a violência objetiva existente. A percepção da violência não só altera os
padrões de comportamento individual, mas também social, aumentando

Política e Cultura, outono de 2016, nº. 46, pág. 7-31


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26 Agustín Martínez Pacheco

medos, desconfianças, preocupações restritivas em relação a si e aos mais


próximos; ou seja, alimenta uma necessidade de segurança limitada e
imediata, mas desconsidera as relações sociais mais amplas. Como assinala
Óscar Martínez ao falar de Los Zetas, eles “conseguem que seu principal ativo
possa operar à vontade: o medo”.
Por fim, consideraremos algumas características gerais que podem ser
encontradas em torno do tema da violência, como distanciamento,
deslocamento e aprendizado da violência.
Com a ideia de distanciamento queremos dizer que no desenvolvimento
da violência é mais fácil para o agressor exercê-la quando há certa distância
entre ele e a vítima, em grande parte por motivos que assim desativam os
mecanismos inibidores do seu exercício, que ou seja, a possibilidade de
empatia com o outro, fazendo com que sua dor ou sofrimento limitem ou
eliminem o comportamento violento do agressor. Essa distância pode ser
física, como quando se ataca à distância com arma de fogo, quando a vítima
não é vista face a face, ou quando simplesmente ordena a outrem sem a
necessidade de exercer a violência por conta própria. Mas também pode ser
moral, como na maioria das vezes. Todas as formas de desqualificação do
outro, de desvalorização, por ser inimigo, por ser um estranho potencialmente
nocivo, etc., até atingir a objetivação ou objetivação do outro, convertida em
meio de difusão de uma mensagem, em mercadoria podem traficar ou como
mero objeto de prazer, referem-se a graus e modalidades dessa necessidade de distancia
Mas é claro que essas duas formas de estranhamento podem ser combinadas
de várias maneiras.
Dito distanciamento, especialmente o de caráter moral –se a definição de
violência for seguida como uma negação do outro–, podemos apreciar
justamente como um dos elementos centrais. Pode ocorrer tanto nas relações
interpessoais quanto entre Estados, por exemplo, no caso da retórica bélica
de George W. Bush com a chamada guerra contra "o império do mal". que não
só o europeu –ao tratar outros povos como bestas- se transformou em besta,
mas que com esse tratamento se criou uma distância moral que o
dessensibilizou e o isentou de culpa.29

27 Óscar Martínez, Migrantes que não importam, Oaxaca, edições Sur+, 2012, p. 125.
28 Ver, por exemplo, as implicações dessa retórica em Michael Mann, The Empire
incoerente: Estados Unidos e a nova ordem internacional, Espanha, Paidós, 2004.
29 Aimé Césaire, Discurso sobre o colonialismo, Madrid, Akal, 2006.

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A violência. Conceituação e elementos para o seu estudo 27

Seguindo Joachim Bauer, por deslocamento entende-se que atos agressivos


e violentos podem alterar o objeto e o momento de sua manifestação, por
exemplo, que uma agressão não é desencadeada contra aquele objeto que causa
desconforto em alguém, mas em outro, por diversos motivos , dentre os quais
estão o poder do causador do dano, a pouca possibilidade de identificá-lo ou
crenças que levem ao desconhecimento da situação de delito.
Assim, uma criança pode ser espancada por seu pai, mas não reage
violentamente a esse pai –talvez pelo medo que isso lhe traz, talvez por alguma
crença de que lhe é permitido fazê-lo porque é o pai–, mas pode exercer violência
contra seus pais, colegas de escola, mais fracos que ele, ou exercê-la no futuro
contra seus próprios filhos. Como diz Bauer, “tais deslocamentos produzem em
muitos casos a impressão, compreensível mas equivocada, de que as ações
agressivas são 'absurdas' e 'infundadas' e, portanto, são expressão de um desejo
de violência profundamente enraizado no ser humano”.30 Mas esse deslocamento,
como se vê, será especialmente importante naquelas formas de violência que
tendem a ser mais reativas do que ativas, ou seja, mais expressões de resposta
à dor do que instrumentos a serviço da violência ativa, da dominação. Embora
esse deslocamento também possa afetar a relação entre violência ativa e reativa,
fazendo com que esta última apareça como ativa.

Por fim, com a ideia de aprendizagem social da violência, considera-se que a


aquisição do comportamento violento é possível através de dois tipos principais
de aprendizagem. A primeira é direta, ou seja, a ação direta agressiva e violenta
exercida pelo indivíduo. No entanto, considera-se que este tipo de aprendizagem
apenas reforça comportamentos já existentes no repertório do indivíduo. O
segundo tipo é indireto, é simbólico, que se faz por meio da contemplação de
modelos, ou seja, pela observação do comportamento agressivo de outros
indivíduos. Essa contemplação também pode ocorrer de forma direta, pessoal,
como quando se vive em um ambiente familiar ou de vizinhança violento, ou
indiretamente, principalmente por meio de alguns meios de comunicação
(quadrinhos, filmes, televisão). Esse tipo de aprendizado é considerado o mais
importante, pois proporciona aquele repertório de comportamentos agressivos
citados acima. Assim, considera-se que para aprender a se comportar de forma
agressiva ou violenta não é necessário que o indivíduo participe de atos desse
tipo, basta que ele contemple o espetáculo da violência.

Mas se diferentes repertórios de atos violentos são aprendidos por meio da


contemplação, isso não é suficiente para um indivíduo aplicá-los. é preciso verdade

30
Joachim Bauer, Violência cotidiana e global..., op. cit., pág. 87.

Política e Cultura, outono de 2016, nº. 46, pág. 7-31


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28 Agustín Martínez Pacheco

reforço avaliativo para que ela se desenvolva ou não. Na observação do ato agressivo,
essa avaliação pode ocorrer no fato de tal ato ser recompensado ou punido. Como diz
Martín-Baró:

Os efeitos da observação não se limitam à modelagem de novos comportamentos


no observador; também produzem inibição ou desinibição de respostas já existentes no repertório do
observador ou produzem comportamentos emulativos contra o modelo. É claro que a inibição ou
desinibição do comportamento agressivo dependerá de o modelo ser punido ou recompensado pelo
comportamento agressivo. A avaliação positiva ou negativa que cada pessoa faz de seu
comportamento representa uma das principais fontes de controle do comportamento humano; no
entanto, os critérios e formas de autoavaliação também são aprendidos e dependem em grande parte
das respostas e reforços sociais dos outros.31

No caso da teoria da aprendizagem social, a situação de inibição ou desinibição da


agressão está intimamente relacionada a um reforço avaliativo, também aprendido
socialmente, que por meio de recompensas ou punições da ação violenta aprendida,
direta ou indiretamente, torna-se possível a violência ou sua inibição.

c) Campo das consequências da violência. Podem ser considerados tanto individuais


quanto sociais, por um lado, e imediatos, de médio e longo prazo, por outro. É claro que
essas consequências estão diretamente relacionadas ao tipo de violência estudado e à
perspectiva assumida no estudo. Assim, por exemplo, em um estudo sobre violência
doméstica que se preocupe apenas com a delimitação dos fatos, com a busca de
culpados e sanções, haverá uma tendência a privilegiar as consequências e danos
individuais para as vítimas diretas, e apenas para as vítimas. prazo imediato dos fatos.
Mas este mesmo tema, analisado a partir de uma perspectiva de gênero, normalmente
levará em conta não apenas as consequências de médio e longo prazo para a vítima
direta, mas também poderá destacar as consequências emocionais e psicológicas dos
demais membros da família, especialmente o crianças e outras pessoas que podem ser
vítimas indiretas, e talvez até o próprio agressor. Se o que interessa é um estudo na
perspectiva dos custos políticos e econômicos do que a violência doméstica implica,
atenção às consequências

31
Ignacio Martín-Baró, “Violência e agressão social”, op. cit., pág. 110.

Política e Cultura, outono de 2016, nº. 46, pág. 7-31


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A violência. Conceituação e elementos para o seu estudo 29

vai ainda mais longe, para a própria instituição familiar, para os custos
económicos em saúde, legais, absentismo escolar e laboral, etc., de facto
verifica-se que uma das consequências da violência doméstica é
precisamente a manutenção de certas bases emocionais, psicológicas e
institucionais para a repetição do ciclo de violência doméstica.32

Mas, em todo caso, em seu aspecto imediato, as consequências mais


claras da violência são os danos que ela gera, principalmente às vítimas
diretas e às vezes também a terceiros, podendo atingir igualmente os
próprios perpetradores. Dentre esses danos estão os já citados acima, a
afetação à integridade física das pessoas, sua integridade emocional e
psicológica e sua integridade patrimonial.
Enquanto em termos sociais as consequências de certas relações violentas
podem levar à ruptura dos laços sociais a médio e longo prazo, ao
estabelecimento do medo e da desconfiança social, a situações de anomia
e, em última análise, à intensificação da dinâmica do espiral de violência.
Tal poderia ser o caso das guerras civis ou da atual guerra contra o crime
organizado, no exemplo específico do México. Isso, é claro, também pode
comprometer o futuro desenvolvimento econômico de muitas pessoas. d)
Campo avaliativo. Um aspecto relevante da valorização da violência é a
relativização avaliativa segundo os sujeitos envolvidos nos contextos de
violência, uma vez que, conforme Robert E. Dowse e John A.

Hughes, “os atos de violência podem ser julgados moralmente bons, maus
ou neutros, dependendo de quem deles participa, contra quem são dirigidos
e quem faz o julgamento [...] violência como justificável de certa forma,
podemos falar de atos legítimos.”33 Ou seja, a valoração atende não
apenas ao ato violento em si, mas também se refere aos agentes
participantes.
As tentativas de justificar e legitimar a violência também serão uma questão
de disputa pelos atores participantes, bem como uma questão de
aproximação e atração de espectadores e potenciais aliados. Apenas
quatro formas são postuladas aqui em que o tema da valorização em
relação à violência pode ser concebido: qualificação, racionalização , justificação .
e legalização.

32
Algumas destas linhas de preocupação podem ser consultadas na Associação para os
Direitos Humanos, Violência familiar: atitudes e representações sociais, Espanha, Fundamentos,
1999.
33 Robert Dowse e John A. Hughes, Sociologia Política, Espanha, Alianza, 1999, p. 497.

Política e Cultura, outono de 2016, nº. 46, pág. 7-31


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30 Agustín Martínez Pacheco

A qualificação refere-se basicamente à consideração de se determinada manifestação


de violência é boa ou ruim. Como mencionado, essa qualificação está relacionada ao
sujeito que qualifica, com os fatos e a perspectiva ou concepção que eles têm da
violência.
A racionalização pode ser entendida como uma situação em que se busca dar algum
sentido à violência após sua produção. Essa racionalização é necessária tanto para as
vítimas quanto para os perpetradores; Ajuda o primeiro a suportar os males recebidos, e
o último permite-lhe liberar a culpa. É uma espécie de justificativa posterior e não
costuma ser muito elaborada, não constitui imediatamente um discurso ideológico ou
algo semelhante, mas sim uma acomodação do que foi vivenciado ao universo de
sentido dos participantes mais diretos dos acontecimentos. Una idea que estaría detrás
de esto es aquella que dice que el hombre puede acostumbrarse a cualquier cosa,
menos a vivir en el sinsentido, por lo que tiene una tendencia a acomodar sus
experiencias a algún sentido y hasta hacer de ciertas experiencias un eje del sentido de
sua vida. De certa forma, é possível encontrar racionalizações desse tipo no campo da
violência doméstica quando a própria vítima passa a se considerar culpada da violência
recebida.

Podemos ver a justificativa, embora na mesma linha de dar sentido à violência,


como em um ponto oposto à racionalização, pois serve não tanto para avaliar os fatos
depois de ocorridos, mas antes que ocorram, concedendo-lhes um espaço de
possibilidade ou mesmo de necessidade de violência, mas em todo caso, legitimando-a.
Pela mesma razão, pode se basear em um discurso ideológico (como o racismo ou o
nacionalismo) ou mesmo teórico (como a ideia de guerra justa). Mas, além disso, aquelas
formas de violência cotidiana que naturalizam ou apresentam como inevitáveis as
situações não tanto de violência, mas a situação do lugar ocupado pelos dominados e
dominantes em certa ordem de dominação-submissão, como é o simbólico violência de
Bourdieu.

É claro que, entre racionalização e justificação, as fronteiras não são nítidas e pode-se ir
de uma a outra continuamente ou aparecer quase ao mesmo tempo.

Por legalização entendemos aqueles aspectos que buscam, por meio da lei, nomear
situações, reconhecer sua abrangência e poder atuar, de alguma forma, para regular ou
combater a violência. É uma forma de valorização que busca submeter os agentes que
participam de atos de violência a uma ordem normativa. Portanto, se os aspectos
anteriores de valorização estão mais relacionados aos agressores e vítimas, esse
aspecto é mais referente aos observadores, principalmente os da ordem institucional e
governamental.

Política e Cultura, outono de 2016, nº. 46, pág. 7-31


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A violência. Conceituação e elementos para o seu estudo 31

Em relação aos elementos de inibição e desinibição da violência,


encontramos primeiramente as normas éticas e legais. Schmitt, por
exemplo, parte da posição de que uma adequada compreensão do político
ajuda a definir melhor o problema da guerra e, com ele, poder estabelecer
normas jurídicas tanto para seu desencadeamento quanto para seu
desenvolvimento.34 Segato considera, por sua parte, que o
desenvolvimento e fortalecimento dos direitos humanos ajudaria a definir,
classificar e meditar sobre todos aqueles comportamentos difusos que
sustentam a ordem patriarcal e, com ela, superá-los.35
Mas, nesse aspecto, a legalização pode ir além de estabelecer uma
avaliação de “não permitido” para determinados atos ou comportamentos
violentos, pois em primeiro lugar ajuda a nomear com precisão os
comportamentos e atos que podem ser definidos como violentos. No
entanto, contraria a ideia já destacada no início deste ensaio de que, em
seu funcionamento, sua definição de violência só pode ser restringida,
sob pena de perder sua eficácia em sancionar tais condutas, perdendo
assim a possibilidade de abordar a violência a partir do raízes sócio-históricas que a ge

34 Carl Schmitt, The Concept of the Political, op. cit.


35 Rita Laura Segato, As estruturas elementares da violência..., op. cit.

Política e Cultura, outono de 2016, nº. 46, pág. 7-31

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