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Política e Cultura
ISSN: 0188-7742
politicaycultura@gmail.com
Universidade Autônoma Metropolitana Unidade
Xochimilco
México
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Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe, Espanha e Portugal
Página da revista em redalyc.org Projeto acadêmico sem fins lucrativos, desenvolvido no âmbito da iniciativa de acesso aberto
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A violência
Conceituação e elementos para o seu estudo
Resumo
Este ensaio busca realizar uma dupla abordagem da questão da violência. Em primeiro lugar,
apresenta-se uma reflexão sobre o termo, contrastando duas conceituações, uma que o
restringe ao uso da força para causar dano e outra que o amplia, considerando-o como a
negação do outro. O alcance e as limitações de cada uma dessas conceituações são
apontados. Em segundo lugar, são abordados alguns dos elementos importantes a serem
levados em consideração para seu estudo, abordando as causas, características,
consequências e avaliações das diversas formas de violência.
Abstrato
Violência. Conceitos e elementos para a sua análise. Neste ensaio é apresentada uma dupla
abordagem do conceito de violência. A primeira abordagem é uma reflexão sobre o termo
contrapondo dois significados: um trata apenas do uso da força para causar dano, enquanto
o outro amplia seu significado ao considerá-lo como uma negação da outra pessoa ou grupo;
as extensões e limitações de cada conceito são descritas. Na segunda abordagem, são
apresentados alguns elementos importantes para seu estudo; estes consideram as causas,
características, consequências e avaliações de diversas formas de violência
*
Matriculado no Doutorado em Ciências Sociais na UAM-Xochimilco, México [agustinmapa@
yahoo.com.mx].
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introdução
eles podem não ser considerados, como a importante distinção entre violência e agressão, que
será discutida oportunamente.
Este ensaio pretende realizar uma sistematização de noções e ideias que vários estudiosos
da violência têm oferecido, mesmo quando não são mencionadas (por razões de espaço
sobretudo).
Embora de fato não exista uma definição de violência amplamente aceita pelos estudiosos,
podemos encontrar algumas que ofereceram certo consenso. Particularmente nesta linha é
aquela que destaca o uso da força para causar dano a alguém. Elsa Blair1 cita algumas dessas
definições. Voltamos a três para iniciar a análise. A primeira é feita pelo pesquisador francês Jean
Claude Chesnais, que diz: “Violência em sentido estrito, a única violência mensurável e
incontestável é a violência física. É o ataque direto e corporal contra as pessoas. Ela tem um
caráter triplo: brutal, exterior e doloroso. O que a define é o uso material da força, a grosseria
cometida voluntariamente em detrimento de alguém.”2 Uma segunda definição é encontrada em
uma citação que o autor faz de Jean-Marie Domenach: “Eu chamaria violência o uso da força
aberta ou oculto, para obter de um indivíduo ou de um grupo aquilo que não quer consentir
livremente” . a que ele menciona como mais precisa é: “força física usada para causar dano”.
que pelo menos uma definição fala: é violência física. No entanto, pelo menos a definição
de Domenach abre as possibilidades de que a força utilizada não seja física, "aberta",
mas de outro tipo, "escondida". Isso poderia ser uma ameaça, uma restrição ou coerção
psicológica? Podem ser esses ou outros, mas o fato é que a abertura é importante.
Voltaremos a isso em breve, no momento gostaríamos de resumir a definição: alguém
intencionalmente prejudica alguém através do uso de força física ou outra, e a intenção
envolve forçar a(s) pessoa(s) ferida(s) a algo que você não quer.
A ideia do uso da força também é muitas vezes problematizada, não tanto para negá-
la, mas para considerar que a força física não dá conta suficientemente do fato, de
diferentes fatos: coerções morais (pessoais, grupais, culturais), poder relações (sem
considerar aqui que esse termo também é problemático, “amorfo” como diria Weber) –
que por si mesmas estruturam e naturalizam as relações de violência–, a coerção
psicológica e até a chantagem podem ser importantes como veículos de violência.
Além disso, em algumas considerações sobre a violência, tal intervenção da força não
parece estar presente, como se poderia pensar na "violência simbólica" de Bourdieu,5
que a define como a aceitação, a internalização pelos dominados, dos esquemas de
pensamento e avaliação do dominante, justamente tornando invisível a relação de
dominação. É claro que todos esses elementos poderiam, em última análise, ser
reduzidos a considerações de força, mas também é inegável que cada um tem suas
especificidades, que devem ser levadas em conta para uma melhor análise.
Por essa mesma característica, tal concepção de violência pode ser em grande parte
a- histórica, limita-se a descrever os fatos claramente manifestados, e se estiver interessada
na causalidade, tenderá a encontrá-la no mais próximo, no mais próximo; Assim, essa
postura pode ocultar as causas não visíveis, como algumas estruturas de dominação
criadas social e historicamente em diversas esferas – política, racial ou patriarcal.
7 Fredric Wertham, The Sign of Cain: On Human Violence, México, Siglo XXI
Editores, 1971, p. 3.
Apoio, suporte. Mas mesmo aqui as limitações podem ser consideradas; por
exemplo, diante do problema da violência doméstica, apenas as vítimas são
atendidas e o agressor é imediatamente punido – de acordo com as limitações
apontadas, ao não levar em conta questões culturais e estruturais, como
machismo e patriarcalismo – , são mantidas as condições em que essa
violência será reproduzida. Dessa forma, o que é positivo em termos judiciais
não é tão positivo em políticas públicas para enfrentar o problema desde
suas raízes. Por isso, é preciso ir além do imediato e ampliar as concepções utilizadas.
O exposto, é claro, pode levar ao obscurecimento das precisões alcançadas
com base na definição comentada.
Por outro lado, numa importante extensão desta definição, John Keane,
partindo precisamente dos elementos básicos que indicamos, dá uma
guinada que nos leva a outro caminho. Segundo este autor:
8
John Keane, Reflexões sobre a violência, tradução de Josefa Linares de la Puerta,
Madrid, Aliança Editorial, 2000, pp. 61-62 (grifo nosso).
9 Michel Wieviorka, “Violência: destruição e constituição do sujeito”, Espaço aberto, julho-
setembro, vol. 10, não. 3, Cadernos Venezuelanos de Sociologia, Maracaibo, Associação
Venezuelana de Sociologia, pp. 337-347 (págs. 339-340).
10
É pertinente apontar a relação entre os conceitos de agressão e violência. A primeira é
considerada, a partir de disciplinas como psiquiatria, neurologia e até etologia, como um comportamento
inato, modulado evolutivamente, que os humanos compartilham com os animais. Ou seja, é considerado
como um fator biológico. Violência não, é considerada mais como fator social e cultural; assim, por
exemplo, afirma José Sanmartín: “o ser humano é agressivo por natureza, mas pacífico ou violento por
cultura” (Laviolencia y sus clave, España, Ariel, 2006, p. 21. Ver também David Huertas, Violencia: la
great ameaça, Espanha, Aliança Editorial, 2007, e Adolf Tobeña, Anatomia da agressividade humana, da
violência infantil ao belicismo, Barcelona, Ed. Galaxia Gütemberg, 2001). Este ensaio parte de uma
proposta de abordar o estudo da violência do ponto de vista sociológico, de modo que a questão da
relação da violência com o comportamento agressivo e, além, com as questões biológicas e até
psiquiátricas, fique por enquanto fora, em parte também por causa do limite do ensaio.
Por fim, embora não possamos dizer que toda relação social é violenta
ou contém violência, podemos admitir que ela está sempre presente como
possibilidade dentro das mais variadas formas de relação social, da familiar
à política ou econômica, e que conta.
mais ou menos constante, de modo que a análise da violência pode nos mostrar
alguns aspectos globais da história social da mesma forma.12 Mas o alcance, a
globalidade ou não da relação entre violência e histórias, deve ter variações
importantes de acordo com uma série de contextos estudados, uma vez que o
alcance da violência nas guerras, internas ou externas, em determinados países
ou regiões, não é o mesmo que a violência de gênero ou mesmo a violência
sexual em toda uma civilização a partir do desenvolvimento de concepções
patriarcais.
De qualquer forma, a proposta é que a violência seja definida como uma
forma de relação social caracterizada pela negação do outro. Essa proposta de
definição amplia a concepção de violência em muitos aspectos e também corre
o risco de parecer incluir qualquer forma de relacionamento que alguém não
goste e que diga que está sendo negado, ou seja, acentua o caráter subjetivo
da violência (que será visto mais adiante).
Mas vamos primeiro discutir algumas das características positivas de tal
definição para o estudo da violência.
Em primeiro lugar, considerar a violência como uma relação social destaca
o papel participativo que os diferentes sujeitos da relação podem ter, tanto as
vítimas e os espectadores, quanto os agressores. Ou seja, a violência não está
mais confinada ao ato de um único agente ou sujeito, em que as características
ou interesses deste seriam apenas os elementos importantes para compreender
a violência, mas agora as características e interesses do outro também podem
ser parte endereçada, bem como agentes terceirizados em torno dessa relação
direta, pois muitas vezes alguém pode praticar atos violentos contra outra
pessoa como uma mensagem para um hipotético espectador (basta pensar nas
diversas formas de terrorismo, estatal ou privado).
Compreender as relações sociais onde surge a violência, neste caso, ajuda a
alcançar uma compreensão mais completa da mesma.
A relevância também é concedida ao contexto da relação, uma vez que
esse contexto sempre influencia e é influenciado pelas relações que nele ocorrem.
Além disso, pode-se dizer que os contextos são criados pelas relações e que,
por sua vez, as influenciam. Portanto, entender o contexto em que
12
Basta um exemplo: o Estado se forma, essencialmente e de acordo com os discursos
utilizados para sua legitimação, para lidar com duas formas principais de violência: a da
invasão de um povo por outro e a da invasão da privacidade, da privacidade de cada um
dos sujeitos ou cidadãos, por atores criminosos, mas para cumprir esse objetivo tem como
principal meio a violência, o monopólio da violência legítima. Um fim: a paz. Um significa:
violência. Aqui está contida parte da história sociopolítica dos Estados modernos.
Em linhas gerais, pode-se considerar, de forma mais óbvia e intuitiva, que o estudo da
violência é abordado a partir de quatro grandes campos de pesquisa: um é aquele que
trata de suas origens e causas; outra é aquela que se preocupa com as formas que
assume, suas características e sua própria dinâmica que desenvolve; ainda outro trata
principalmente das consequências e efeitos que o desdobramento da violência gera.
16 Elsa Blair Trujillo, “Aproximação teórica do conceito de violência...”, op. cit., pág. 31.
Mas, de qualquer forma, é provável que essas avaliações sejam feitas tanto para
as causas da violência, suas formas e dinâmicas e, mais importante, suas
consequências. Esses quatro pontos de preocupação analítica podem ser
chamados de campos de análise sobre a violência. Abaixo, sem pretender esgotar
o assunto, são expostas algumas ideias que consideramos importantes para
esses campos.
Uma abordagem ilustrativa disso pode ser encontrada no livro de Rita Laura
problema de Segato, As estruturas elementares da violência,
17 onde ela aborda o
da violência de gênero, apontando que é justamente a estrutura de dominação
patriarcal que é a matriz original dessa violência, operando mais ou menos
diretamente a partir de agressões físicas, sexuais ou emocionais, ou indiretamente
do que ela chama de violência moral, que internaliza a vítima , a mulher, o sistema
de dominação e a faz aceitar essa dominação. Essa violência moral atua na vida
cotidiana marcando
não só o lugar que a mulher ocupa nas relações em casa (filha e esposa
dependente, mãe a serviço dos filhos) ou fora dela (como trabalhadora de menor
qualidade, por exemplo), mas também o sistema de pensamento que determina
a submissão ( pouco racional, emocional, abnegado, etc.). Mas o conjunto de
fatores marcados pela dominação também é pertinente a outras situações de
violência, como a política, no caso das guerras de conquista, ou mesmo as
econômicas, como no estabelecimento de
18 David Harvey, The New Imperialism, Madrid, Ediciones Akal, 2003. Ver também Pablo
Dávalos, Disciplinary Democracy. O projeto pós-neoliberal para a América Latina, Quito,
CODEU, 2010.
19
Seguindo o psiquiatra e neurobiólogo Joachim Bauer, descobrimos que na função
cerebral essas duas formas de dor estão intimamente relacionadas. Este autor diz: “'do ponto
de vista do cérebro', o limite da dor não é apenas ultrapassado quando a dor física (ou seja,
corporal) é infligida ao ser humano; os centros de dor do cérebro também reagem quando as
pessoas se sentem socialmente excluídas ou humilhadas”. Joachim Bauer, Violência Cotidiana
e Global; uma reflexão sobre suas causas, tradução de Bernardo Moreno Carrillo, Barcelona,
Plataforma Editorial, 2013, p. 67.
20
Frantz Fanon, The Wretched of the Earth, tradução de Julieta Campos, México, Fondo
de Cultura Económica, 2007.
24 Konrad Lorenz, Da agressão: o mal pretendido, México, Siglo XXI Editores, 1994.
25 Carl Schmitt, The concept of the político, Madrid, Editorial Alliance, 1999.
26
Ignacio Martín-Baró, “Violência e agressão social”, op. cit., pág. 81.
mais importante, ser imitado por outros agentes que buscam objetivos
iguais ou semelhantes, sem grandes restrições ou custos. Nesse sentido,
por exemplo, uma situação social de ilegalidade que recorre à violência
para seus fins e se encontra em um contexto de grande impunidade,
permite o desenvolvimento desse tipo de espiral de violência. Ou seja, é
um tipo de espiral que se situa sob uma consideração em que a violência
é utilizada como meio para determinados fins, é um uso puramente instrumental da violê
A espiral ação-reação é talvez a mais fácil de apreciar. Refere-se à
situação em que os atos de violência cometidos por um ator, indivíduo ou
grupo, sobre outro ator, sua vítima, receberão uma resposta violenta deste
último, tornando-se, por sua vez, um vitimizador.
A espiral então se desdobra a cada turno de ação e sua resposta, com o
possível aumento de mais e mais violência ou violência cada vez mais
danosa. Claro que as situações de luta, de guerra, têm muito a ver com
esse tipo de espiral de violência. Mas não se trata tanto de conceber a
violência a partir de uma perspectiva instrumental, mas a violência como
parte da linguagem da própria relação dos atores considerados. Nesse
sentido, continuando com o exemplo criminal, a militarização do combate
ao crime acarreta o risco de fazer da estratégia militar a linguagem da
relação social da violência, o que não afetará apenas o combate entre as
instituições estatais responsáveis pela violência contra criminosos, mas
também entre eles e, em seu extremo, de ambos os tipos de atores com a
sociedade ou setores da sociedade.
A espiral de reforço é mais delicada e parece mais insegura em sua
abordagem. Consiste no fato de que determinada forma de manifestação
da violência pode produzir determinados resultados que reforçam outros
tipos de manifestações violentas. Talvez essa ideia seja ilustrada pela
relação entre formas objetivas e subjetivas de violência. O primeiro pode
ser entendido como aquilo que é facilmente apreciável e que pode ser
medido de alguma forma. Por exemplo, assassinato, estupro,
espancamentos, mas também danos materiais, como roubo, etc. Por sua
vez, o subjetivo é entendido como aquilo que é percebido por certos
agentes, mas que de fato é difícil de mensurar. A percepção da violência
pode estar em sintonia com a violência objetiva, mas não necessariamente, nem de form
No entanto, isso não significa que o subjetivo seja pura fantasia, pois é
percebido como real, é real como percepção e tem efeitos reais.
Ora, numa situação de percepção social de violência mais ou menos
generalizada, acontece que ela gera efeitos que podem muito bem alimentar
a violência objetiva existente. A percepção da violência não só altera os
padrões de comportamento individual, mas também social, aumentando
27 Óscar Martínez, Migrantes que não importam, Oaxaca, edições Sur+, 2012, p. 125.
28 Ver, por exemplo, as implicações dessa retórica em Michael Mann, The Empire
incoerente: Estados Unidos e a nova ordem internacional, Espanha, Paidós, 2004.
29 Aimé Césaire, Discurso sobre o colonialismo, Madrid, Akal, 2006.
30
Joachim Bauer, Violência cotidiana e global..., op. cit., pág. 87.
reforço avaliativo para que ela se desenvolva ou não. Na observação do ato agressivo,
essa avaliação pode ocorrer no fato de tal ato ser recompensado ou punido. Como diz
Martín-Baró:
31
Ignacio Martín-Baró, “Violência e agressão social”, op. cit., pág. 110.
vai ainda mais longe, para a própria instituição familiar, para os custos
económicos em saúde, legais, absentismo escolar e laboral, etc., de facto
verifica-se que uma das consequências da violência doméstica é
precisamente a manutenção de certas bases emocionais, psicológicas e
institucionais para a repetição do ciclo de violência doméstica.32
Hughes, “os atos de violência podem ser julgados moralmente bons, maus
ou neutros, dependendo de quem deles participa, contra quem são dirigidos
e quem faz o julgamento [...] violência como justificável de certa forma,
podemos falar de atos legítimos.”33 Ou seja, a valoração atende não
apenas ao ato violento em si, mas também se refere aos agentes
participantes.
As tentativas de justificar e legitimar a violência também serão uma questão
de disputa pelos atores participantes, bem como uma questão de
aproximação e atração de espectadores e potenciais aliados. Apenas
quatro formas são postuladas aqui em que o tema da valorização em
relação à violência pode ser concebido: qualificação, racionalização , justificação .
e legalização.
32
Algumas destas linhas de preocupação podem ser consultadas na Associação para os
Direitos Humanos, Violência familiar: atitudes e representações sociais, Espanha, Fundamentos,
1999.
33 Robert Dowse e John A. Hughes, Sociologia Política, Espanha, Alianza, 1999, p. 497.
É claro que, entre racionalização e justificação, as fronteiras não são nítidas e pode-se ir
de uma a outra continuamente ou aparecer quase ao mesmo tempo.
Por legalização entendemos aqueles aspectos que buscam, por meio da lei, nomear
situações, reconhecer sua abrangência e poder atuar, de alguma forma, para regular ou
combater a violência. É uma forma de valorização que busca submeter os agentes que
participam de atos de violência a uma ordem normativa. Portanto, se os aspectos
anteriores de valorização estão mais relacionados aos agressores e vítimas, esse
aspecto é mais referente aos observadores, principalmente os da ordem institucional e
governamental.