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Direito Internacional – Prof.

Vitor Marcelo Rodrigues 1

NACIONALIDADE

No sentido sociológico, nacionalidade significa um grupo de


pessoas que têm a mesma língua, são da mesma raça, têm a mesma
religião, costumes e tradições, resumindo, possuem o mesmo modus
vivendi.

No sentido jurídico-político, nacionalidade, segundo Clóvis


Beviláqua e Pontes de Miranda, é o vínculo que impõe ao indivíduo
obrigações e concede-lhe direitos, inclusive de natureza política.

No sentido jurídico, é o vínculo que une o indivíduo ao


Estado.

Em verdade, nacionalidade é o vínculo sócio-jurídico-político


que liga alguém a determinado Estado Soberano, que lhe outorga
direitos e obrigações.

No Brasil a nacionalidade está prevista no artigo 12 da CRFB


e nos artigos 63/76 da Lei 13.445/2017, artigos 213/244 do Decreto e
Portaria 623 de 13/11/2020.

No que tange ao tempo, costuma-se fazer a seguinte


distinção em relação ao instituto da nacionalidade:

1. nacionalidade originária ou primária, que decorre de um


fato natural “o nascimento”, ou seja, é adquirida no
momento do nascimento com vida.

2. nacionalidade derivada ou secundária, que é adquirida


depois do nascimento, por meio da naturalização voluntária
ou imposta, e por meio do casamento, o ius communicatio.
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NACIONALIDADE ORIGINÁRIA
- brasileiro nato –

É outorgada pelo Estado Soberano ao indivíduo no momento


do seu nascimento. Os países são livres para escolher qualquer um
dos seguintes critérios:

IUS SOLI - critério territorial - que leva em consideração


apenas o local de nascimento do indivíduo, salvo se os pais do recém-
nascido forem estrangeiros e pelo menos um deles estiver no exterior
a serviço do seu país de origem. Neste caso a criança recebe a
nacionalidade do genitor que estiver a serviço do seu governo. Ex.:
EUA.

IUS SANGUINIS - critério extraterritorial - que leva em


consideração apenas a origem do recém-nascido. Trata-se de uma
verdadeira “herança” transmitida pelo pai aos seus filhos. Ex. Portugal
– filho de homem português ou mulher portuguesa será português
onde quer que venha a nascer e filho de estrangeiros nascido em
Portugal não será português. Quando o nascimento ocorrer no
exterior, basta averbar a certidão de nascimento no consulado
português.

O direito de averbar o nascimento no consulado é


personalíssimo, ou seja, só pode ser feito pelo próprio a qualquer
tempo, sendo que será representado/assistido pelos pais enquanto
menor. Em regra, se o indivíduo falecer sem a devida averbação
consular do seu nascimento sua descendência perderá tal direito,
salvo em alguns países, como Itália, Portugal e Espanha, que
concedem sua nacionalidade aos netos de italianos e espanhóis.

Exemplo de outros países que adotam o ius sanguinis:


Alemanha, França e Inglaterra.

MISTO1 - critério híbrido que adota tanto o ius soli quanto o


ius sanguinis

1 Historicamente o velho mundo (África, Ásia e Europa), em quase a sua totalidade, adotou o ius
sanguinis, sendo que no Continente Americano e na Oceania o critério territorial foi o mais adotado.
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Exemplo: Bélgica, Austrália, Cuba e Brasil.

Em regra os países que adotam o critério misto averbam nos


seus consulados os nascimentos ocorridos no exterior para fins de
concessão da sua nacionalidade, inclusive o Brasil, senão vejamos:

CRFB

Art. 12 - São brasileiros:

I - natos:

a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais


estrangeiros, desde que estes não estejam a serviço de seu país

b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira,


desde que qualquer deles esteja a serviço da República Federativa do
Brasil;

c) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira,


desde que sejam registrados em repartição brasileira competente,
ou venham a residir na República Federativa do Brasil e optem em
qualquer tempo, depois de alcançada a maioridade, pela
nacionalidade brasileira.

Observação: No caso do artigo 12, inciso I, alínea “c” se não houver o


registro no consulado onde nascer, será necessário fixar domicílio no
Brasil a qualquer tempo e, depois de alcançada a maioridade, mover
uma ação declaratória erroneamente denominada “opção de
nacionalidade”, de procedimento de jurisdição voluntária, pela qual
requererá a um juiz federal que declare por sentença que o requerente
é brasileiro desde o dia em que nasceu. O termo opção deveria ter
sido substituído por requisição ou solicitação, uma vez que, neste
procedimento não há renúncia, escolha de nacionalidades originárias
conforme previsto no art. 213, § 2º do Decreto 9199/2017. Ex.: Filho
de brasileiros, comerciantes em Miami, nascido nos EUA é americano
porque este país adota o ius soli e quando fizer a opção no Brasil terá
declarada a brasileira sem, contudo, perder a americana.
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Convém destacar que a alínea c do inciso I do art. 12 da


CF/88 sofreu alterações em razão das Emendas Constitucionais a
seguir mencionadas:

Redação primitiva

Art. 12. São brasileiros: I - natos:

c) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que sejam


registrados em repartição brasileira competente, ou venham a residir na República
Federativa do Brasil antes da maioridade e, alcançada esta, optem em qualquer
tempo pela nacionalidade brasileira;

Redação decorrente da EC nº 3/94

c) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que


venham a residir na República Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo,
pela nacionalidade brasileira;

Redação decorrente da EC nº 54/2007

c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que


sejam registrados em repartição brasileira competente ou venham a residir na
República Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de atingida a
maioridade, pela nacionalidade brasileira;

Justiça Federal
Rito do Processo de Jurisdição Voluntária
Opção de Nacionalidade Sentença Declaratória

Petição Inicial

Juiz Federal

Ministério Público Federal

Juiz Federal

Sentença
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NACIONALIDADE DERIVADA
- Brasileiro naturalizado –

Naturalização Ordinária (prevista no art. 12, inciso II, alínea


"a" da Constituição, nos arts. 65 e 66 da Lei nº 13.445, de 24 de maio
de 2017, e nos arts. 233 a 237 do Decreto nº 9.199, de 20 de
novembro de 2017) – concedida aos estrangeiros que, na forma da lei,
adquiram a nacionalidade brasileira, exigidas aos originários de países
de língua portuguesa apenas residência por um ano ininterrupto (com
o visto permanente) e idoneidade moral;

Naturalização Extraordinária (com base no art. 12, inciso II,


alínea "b" da Constituição, no art. 67 da Lei nº 13.445, de 2017, e nos
arts. 238 e 239 do Decreto nº 9.199, de 2017) – concedida aos
estrangeiros de qualquer nacionalidade residentes na República
Federativa do Brasil há mais de quinze anos ininterruptos (com o visto
permanente) e sem condenação penal, desde que requeiram a
nacionalidade brasileira.

A naturalização especial (prevista no art. 68 da Lei nº


13.445, de 2017, e nos arts. 240 a 242 do Decreto nº 9.199, de 2017)
poderá ser concedida ao estrangeiro que se encontre em uma das
seguintes situações:

I - seja cônjuge ou companheiro, há mais de 5 (cinco) anos, de


integrante do Serviço Exterior Brasileiro em atividade ou de pessoa a
serviço do Estado brasileiro no exterior; ou

II - seja ou tenha sido empregado em missão diplomática ou em


repartição consular do Brasil por mais de 10 (dez) anos ininterruptos.

São requisitos para a concessão da naturalização especial:

I - ter capacidade civil, segundo a lei brasileira;

II - comunicar-se em língua portuguesa, consideradas as condições do


naturalizando; e

III - não possuir condenação penal ou estiver reabilitado, nos termos


da lei.
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A naturalização provisória (prevista no art. 70 da Lei nº


13.445, de 2017, e nos arts. 244 e 245 do Decreto nº 9.199, de 2017)
poderá ser concedida ao migrante criança ou adolescente que tenha
fixado residência em território nacional antes de completar 10 (dez)
anos de idade e deverá ser requerida por intermédio de seu
representante legal.

A conversão da naturalização provisória em definitiva


(prevista no parágrafo único do art. 70 da Lei nº 13.445, de 2017, e no
art. 246 do Decreto nº 9.199, de 2017) ocorrerá se o naturalizando
expressamente assim o requerer no prazo de 2 (dois) anos após
atingir a maioridade

Processo de Naturalização

Requerimento (formulário Próprio)

Sindicância
Departamento da Polícia Federal Relatório

Análise
Ministério da Justiça
Divisão de nacionalidade Decisão Motivada
e naturalização do Departa-
mento de Migrações da Sec. Deferimento Publicado no DOU
Nacional de Justiça

PERDA DE NACIONALIDADE

Será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que:

A) tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em virtude


de atividade nociva ao interesse nacional. O Departamento de
Migrações, ao ser provocado formalmente pelo Ministério Público
Federal a cumprir sentença judicial transitada em julgado, procederá à
publicação de portaria de cancelamento da naturalização.
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B) que adquirir outra nacionalidade, salvo nos casos:

• de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei


estrangeira;

• de imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao


brasileiro residente em Estado estrangeiro, como condição para
permanência em seu território ou para o exercício de direitos
civis.

Observação: No caso do Estado Brasileiro, por equívoco, declarar a


perda da nacionalidade em razão de uma dessas duas hipóteses será
possível a revogação do ato por requerimento do interessado ou de
ofício nos termos do artigo 42 da Portaria 623/2020

DO PROCEDIMENTO DE PERDA DA NACIONALIDADE


BRASILEIRA

Portaria 623 de 13/11/2020


Seção I
Do cancelamento da naturalização
Art. 25. O naturalizado perderá a nacionalidade em razão de
sentença transitada em julgado por atividade nociva ao interesse
nacional, nos termos estabelecidos no art. 12, § 4º, inciso I, da
Constituição.
Parágrafo único. O Departamento de Migrações, ao ser
provocado formalmente a cumprir sentença judicial transitada em
julgado, procederá à publicação de portaria de cancelamento da
naturalização.
Seção II
Da perda da nacionalidade de ofício
Art. 26. O procedimento de perda da nacionalidade brasileira
de ofício será instaurado por meio de ato do Coordenador de
Processos Migratórios, em caso de recebimento de comunicação
oficial na qual seja informada ocorrência de hipótese prevista no inciso
II do § 4º do art. 12 da Constituição.
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Parágrafo único. Serão garantidos o contraditório e a ampla


defesa no procedimento previsto no caput, devendo-se apurar:
I - a eventual incidência das exceções dispostas nas alíneas
"a" e "b" do inciso II do § 4º do art. 12 da Constituição; e
II - cessação da causa que poderia ensejar a perda da
nacionalidade.
Art. 27. Da decisão que decretar a perda da nacionalidade
caberá recurso ao Coordenador-Geral de Política Migratória, no prazo
de dez dias, contado da data da publicação no Diário Oficial da União.
Seção III
Da perda da nacionalidade por solicitação do interessado
Art. 28. O requerimento de perda de nacionalidade brasileira
poderá ser apresentado por meio do protocolo físico ou eletrônico,
diretamente no Ministério da Justiça e Segurança Pública.
§ 1º No caso de criança ou adolescente, o requerimento de
que trata o caput deverá ser apresentado:
I - por ambos os pais ou apenas um deles, desde que com a
anuência expressa do outro; ou
II - pelo representante legal.
§ 2º Havendo discordância entre os pais ou a ausência de
um deles, a anuência poderá ser suprida por autorização judicial.
Art. 29. Os documentos necessários à instrução dos
processos de perda da nacionalidade brasileira por solicitação do
interessado estão previstos no Anexo VIII desta Portaria.
Art. 30. O Departamento de Migrações, caso julgue
necessário, poderá notificar o requerente para complementar a
documentação apresentada, no prazo de trinta dias, prorrogáveis
mediante pedido justificado.
Art. 31. Instruído o processo de perda de nacionalidade
brasileira, o Departamento de Migrações o encaminhará para decisão
do Coordenador de Processos Migratórios, acompanhado de parecer
fundamentado sobre o pedido.
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Art. 32. A decisão será publicada no Diário Oficial da União e


no sítio eletrônico do Ministério da Justiça e Segurança Pública.
Art. 33. Da decisão que julgar improcedente o pedido de
perda da nacionalidade caberá recurso ao Coordenador-Geral de
Política Migratória no prazo de dez dias, contado da data da
publicação no Diário Oficial da União.
Parágrafo único. A publicação referida no caput será
reproduzida no sítio eletrônico do Ministério da Justiça e Segurança
Pública, em atendimento ao art. 251, § 2º, do Decreto nº 9.199, de
2017.
Seção IV
Disposições Gerais
Art. 34. O Departamento de Migrações dará ciência da perda
da nacionalidade:
I - ao Ministério das Relações Exteriores;
II - ao Conselho Nacional de Justiça; e
III - à Polícia Federal.

REAQUISIÇÃO DE NACIONALIDADE

O brasileiro que houver perdido a nacionalidade, em razão do


disposto no inciso II do § 4º do art. 12 da Constituição, poderá, se
cessada a causa, readquiri-la por meio de requerimento endereçado
ao Ministro da Justiça e Segurança Pública.

CONFLITO DE LEIS SOBRE NACIONALIDADE

A utilização dos diversos critérios de concessão da


nacionalidade pelos Estados Soberanos faz surgir, muitas vezes,
conflitos positivos ou negativos de leis, conhecidos na doutrina por
polipatrídia ou apatrídia, respectivamente.
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A polipatrídia ocorrerá quando um indivíduo se subordinar


positivamente a duas ou mais leis sobre naciolidade, como é o caso
de uma criança nascida em país que adota o jus soli e que tenha pais
estrangeiros oriundos de um Estado que admite o jus sanguinis. Assim
é a hipótese do filho de um casal português que tenha nascido no
Brasil, visto que a criança seria portuguesa, já que Portugal adota o
jus sanguinis, e seria brasileira, porque o Brasil admite o jus soli.

Segundo o Prof. Florisbal D’Olmo,“o termo apatrídia tem sido


o de eleição para a identificação da ausência de nacionalidade, sendo
usado pelos doutrinadores e empregado nos tratados internacionais
que regem a matéria. Permite-se enfatizar que seria correta a
utilização de anacionalidade, pelo acréscimo do prefixo grego a, an,
indicativo de negação, privação, ausência (sem) à palavra
nacionalidade”.

A apatrídia ou anacionalidade ocorre quando o indivíduo não


recebe nenhuma nacionalidade ao nascer ou perde a que possui ao
longo de sua vida. Assim, uma criança que nasça em um país que
adota o jus sanguinis, sendo seus pais oriundos de Estado cujo
ordenamento jurídico adota o jus soli, não terá nacionalidade, será um
apátrida.

O apátrida é tido como um estrangeiro no país onde nascer


ou venha a residir, não tendo direito a cidadania e sendo identificado
por meio de um documento de viagem denominado passaporte para
estrangeiro, cuja cor é amarela. A apatrídia é condenada pela
Declaração dos Direitos do Homem que expressamente elenca a
nacionalidade como um direito inerente a todo ser humano.

Observação: O art. 26 da lei de Migração prevê um procedimento


simplificado para a naturalização do apátrida.
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DISTINÇÃO ENTRE NACIONALIDADE E CIDADANIA

Cidadania é o conjunto de poderes e prerrogativas de


natureza política conferidos à pessoa natural, constitucionalmente
assegurada e exercida pelos nacionais.

Assim sendo, podemos afirmar, como regra, que o


estrangeiro não possui cidadania em nosso país, entretanto, é
considerada pessoa na acepção do Código Civil Brasileiro, sendo,
portanto, detentor de direitos e obrigações de natureza civil. Cumpre
ressaltar que existe uma exceção à regra: é o caso dos portugueses
residentes no Brasil que poderão gozar de nossa cidadania, desde
que requeiram ao Ministério da Justiça e Segurança Pública., nos
termos da Convenção sobre Igualdade de Direitos e Deveres entre
brasileiros e portugueses, promulgada no Brasil em 1972 pelo Decreto
nº 70.391 e o Tratado de Amizade, Cooperação e Consulta entre a
República Federativa do Brasil e a República Portuguesa, promulgado
pelo Decreto nº 3.927, de 19 de setembro de 2001. Neste caso os
portugueses com igualdade de direitos equiparam-se aos brasileiros
naturalizados.

NATURALIDADE

É o instituto jurídico que tem por finalidade determinar o local


de nascimento do indivíduo. Tal instituto se concretiza por meio de
nascimento, que é devidamente regulada em nosso país pela Lei nº
6015/73 (Lei dos Registros Públicos – LRP) e não tem o condão de
conceder a nacionalidade a nenhuma pessoa.

A Lei de Registros Públicos, no seu artigo 50, determina que


todo aquele que tenha nascido no território brasileiro deverá ser
registrado em cartório próprio para este fim, mesmo que não seja
brasileiro, por exemplo, um casal de estrangeiros em que a mulher é
diplomata a serviço do seu país no Brasil e que dá à luz um filho em
nosso território. O recém-nascido deverá ser registrado em nosso
país, ainda que a nossa Constituição expressamente declare que ele
não é brasileiro.

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