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E SOCIALMENTE RESPONSÁVEL:
teoria e prática
1ª Edição, 2006
ISBN 972-8871-09-0
978-972-8871-09-3
Depósito legal
É expressamente proibido, no todo ou em parte, sob qualquer forma ou meio, nomeadamente fotocópia, esta obra. As
transgressões são passíveis das penalizações previstas na legislação em vigor.
A UTORES
Arménio Rego. Doutorado em Organização e Gestão de Empresas, Mestre em Ciências Empresarias, licenciado
em Gestão e Administração Pública, com uma especialização em Planeamento e Controlo de Gestão. Foi consultor do
Auditor Geral do Mercado de Títulos. É Professor na Universidade de Aveiro. Publicou dezoito livros e mais de uma
centena de artigos em revistas nacionais e internacionais. Tem desenvolvido projectos de consultoria em comportamento
organizacional e gestão de recursos humanos, e realizado várias dezenas de conferências, seminários, workshops e eventos de
formação de executivos. Foi agraciado com diversos prémios e menções honrosas, incluindo o Prémio Comandante Paço
d’Arcos, o Prémio Agostinho Roseta e o Prémio ANPAD (Brasil).
Miguel Pina e Cunha. Professor associado na Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa. É
doutorado pela Universidade de Tilburg e agregado pela Universidade Nova de Lisboa. É co-autor ou organizador de livros
como Organizational Improvisation (Routledge, 2002), Manual de Comportamento Organizacional e Gestão (RH Editora,
2003) e LIDERAR (Dom Quixote, 2005), bem como de artigos em mais de três dezenas de revistas internacionais, incluin-
do Academy of Management Review, Organization Studies, Human Relations, Futures e Journal of Management Studies. Faz parte dos
conselhos editoriais das revistas Organization Studies e European Management Review. A par da actividade académica, tem feito
coaching de executivos e participado em projectos de intervenção no âmbito do Centro de Estudos em Gestão de Empresas
(CEGE), da FE-UNL e de formação de executivos com o Instituto Nova Forum.
Nuno Guimarães da Costa. Assistente convidado na FEUNL. Mestre em gestão pela Universidade Nova
de Lisboa, está a desenvolver uma tese de doutoramento em Psicologia das Organizações onde procura estabelecer a ponte,
no que se refere ao tema da ética e da responsabilidade social das organizações, entre a China, Angola e Portugal. Conta com
uma carreira profissional em empresas superior a 13 anos, onde exerceu várias funções de gestão em empresas nacionais
e estrangeiras.
Helena Gonçalves. Licenciada em Economia, Master em Responsabilidad Social Corporativa, Contabilidad Y Auditoría
Social (Universidade de Barcelona), Master em Direcção Geral de Empresas (EUDEM) e pós-graduação em Gestão de
Recursos Humanos. Fez o Social Accountability Auditor/Lead Auditor Training Course, pela SGS UK. Tem leccionado discipli-
nas da área da Ética Empresarial na Universidade Católica-Porto e na Escola de Gestão Empresarial. Com uma carreira
profissional de 20 anos, exerceu funções de gestão em empresas nacionais e multinacionais. Tem desenvolvido projectos de
consultoria em ética e responsabilidade social das organizações e realizado conferências, seminários, workshops e eventos
de formação de executivos. É membro do International Standard Organization / Technical Management Board / Working Group on
Social Responsibility e das Comissões Técnicas de normalização de Responsabilidade Social.
Este livro beneficiou da cooperação de diversas pessoas e entidades – especialmente das que nos concederam autorização
para a publicação de textos, excertos de entrevistas, códigos de ética/conduta e outros documentos empresariais. A todos
estamos gratos. Eis os seus nomes:
É também com muita honra que vemos publicados nesta obra os depoimentos do Dr. José Roquete e da Drª. Estela
Barbot. A ambos estamos especialmente gratos.
Nota prévia
Este livro está repleto de exemplos e casos práticos sobre empresas, instituições, eventos e documentos. Suge-
rimos ao leitor que os compreenda no contexto do tempo em que a obra acabou de ser redigida (Fevereiro de
2006). Desde então, novos eventos e documentos terão surgido. Por exemplo, as empresas poderão ter publicado
novos relatórios de sustentabilidade; os critérios de algumas normas poderão também ter sofrido alterações; e
novos eventos poderão ter surgido.
Este ritmo de mudança célere é incontornável. E os autores dos livros dispõem de uma de duas opções: (1) não
facultam exemplos e casos práticos por receio de que eles se desactualizem rapidamente, mas assim descuram
uma das vertentes mais relevantes para a compreensão da matéria abordada; (2) atendem a este vertente, mas
incorrem no risco de facultar exemplos passíveis de desactualização.
A nossa opção foi a segunda. Importa, pois, que o leitor tome os nossos exemplos como ilustrações dos temas
abordados e actualize os conhecimentos através da busca de informação sobre cada entidade e/ou evento.
Í NDICE
PREFÁCIO 17
Ética ao serviço de COMPEtitividade – Dr. José Roquete ............................................................................................................ 17
Gestão ética e socialmente responsável não se fazem por decreto
– Drª Estela BarBot ................................................................................................................................................................................................................................................... 19
Introdução 23
Teoria e prática .............................................................................................................................................................................................................................................................. 24
Meditar para agir .......................................................................................................................................................................................................................................................... 24
Complementos práticos e “artísticos” ............................................................................................................................................................................ 25
Capítulo 1 ................................................................................................................................................................................................................................................................................... 26
Capítulo 2 ................................................................................................................................................................................................................................................................................... 27
Capítulo 3 ................................................................................................................................................................................................................................................................................... 28
Capítulo 4 ................................................................................................................................................................................................................................................................................... 30
Capítulo 5 ................................................................................................................................................................................................................................................................................... 31
Capítulo 6 ................................................................................................................................................................................................................................................................................... 32
Capítulo 7 ................................................................................................................................................................................................................................................................................... 33
Uma perspectiva global .................................................................................................................................................................................................................................. 33
Capítulo 1
A ÉTICA NA GESTÃO: entre A lógica do Poker 35
e a cultura baseada em valores éticos
Introdução ........................................................................................................................................................................................................................................................................... 36
Uma arena complexa ............................................................................................................................................................................................................................................ 37
Porque os gestores adoptam acções menos éticas? ......................................................................................................................... 40
A ética como campo controverso ...................................................................................................................................................................................... 42
A crescente importância da ética na gestão ................................................................................................................................................ 44
A ética Da gestão será uma ética menos ética? .......................................................................................................................................... 44
Os negócios dos macacos e o argumento darwinista naif .............................................................................................. 52
“Porque não funcionam os códigos de ética” .............................................................................................................................................................. 52
O jogo do ultimato e o comportamento dos macacos .................................................................................................................................. 53
A ética inserida na formação em gestão ................................................................................................................................................................ 55
A expansão dos eventos formativos e académicos .............................................................................................................................................. 55
A formação em ética surtirá efeitos? ..................................................................................................................................................................................... 56
Em prol de uma cultura de gestão mais ética ................................................................................................................................................ 58
Súmula conclusiva .................................................................................................................................................................................................................................................. 61
GESTÃo ética e socialmente responsável
Capítulo 2
A ética, A consciência, o mercado e a lei: TEORIAS e práticas
65
Introdução ........................................................................................................................................................................................................................................................................... 66
Algumas noções gerais sobre a ética .............................................................................................................................................................................. 66
Moralidade e (teoria) ética .................................................................................................................................................................................................................. 66
Ética e lei .................................................................................................................................................................................................................................................................... 68
Ética e consciência .......................................................................................................................................................................................................................................... 69
Três abordagens à ética ........................................................................................................................................................................................................................... 70
Dois tipos de relativismo ético: Individual e cultural .......................................................................................................................................... 70
Egoísmos ..................................................................................................................................................................................................................................................................... 72
Teorias normativas: o que deve, e como deve, ser feito? ............................................................................................................ 76
Noções gerais ...................................................................................................................................................................................................................................................... 76
O papel dos códigos profissionais .............................................................................................................................................................................................. 77
Teorias utilitaristas ......................................................................................................................................................................................................................................... 79
A ética Kantiana e o imperativo categórico .................................................................................................................................................................. 82
Teorias prescritivas contemporâneas:
Contributos complementares para compreensão da ética ............................................................................................. 84
Teorias da moralidade comum ........................................................................................................................................................................................................ 85
Teorias dos direitos ...................................................................................................................................................................................................................................... 85
A ética das virtudes ...................................................................................................................................................................................................................................... 86
Liderança virtuosa .......................................................................................................................................................................................................................................... 88
As teorias feministas e a ética do cuidar ........................................................................................................................................................................... 91
Teorias da justiça .............................................................................................................................................................................................................................................. 92
Súmula conclusiva .................................................................................................................................................................................................................................................. 93
Capítulo 3
A empresa como organização eticamente responsável: 97
quatro visões, quatro concepções
Introdução ........................................................................................................................................................................................................................................................................... 98
O negócio do negócio é o negócio ............................................................................................................................................................................... 99
O gestor como agente dos proprietários da empresa .................................................................................................................................... 99
Uma leitura crítica da tese de Friedman ............................................................................................................................................................................ 102
A tese da moral mínima ..................................................................................................................................................................................................................................... 103
A missão moral das empresas ............................................................................................................................................................................................................... 106
O dever moral de melhorar o mundo .................................................................................................................................................................................. 106
A insuficiência da lei ..................................................................................................................................................................................................................................... 106
A insuficiência do mercado ................................................................................................................................................................................................................. 108
A insuficiência da resposta às expectativas públicas ........................................................................................................................................... 110
Uma breve análise crítica à tese da missão moral das empresas ....................................................................................................... 110
A teoria dos stakeholders ...................................................................................................................................................................................................................... 112
Stockholders versus stakeholders ......................................................................................................................................................................................................................... 112
Benefícios, direitos e consequências ........................................................................................................................................................................................ 113
Breve análise crítica da teoria dos stakeholders ...................................................................................................................................................... 116
pessimismos e realismos em torno da responsabilidade social .................................................................................................. 118
A responsabilidade social, a boa gestão e a síndrome de Robin Wood .................................................................................................... 118
ÍNDICE
Capítulo 4
As controvérsias e o mapa do território
129
Capítulo 5
desafios, pressões e respostas
187
Introdução ...................................................................................................................................................................... 188
As pressões e os desafios .................................................................................................................................... 188
Cidadãos mais sensibilizados ............................................................................................................................... 191
Estrutura do capítulo ............................................................................................................................................. 192
GESTÃo ética e socialmente responsável
Capítulo 6
códigos de ética e de conduta
265
10
ÍNDICE
Capítulo 7
Uma leitura global sobre a responsabilidade social 287
das empresas em Portugal
11
GESTÃo ética e socialmente responsável
Complemento 1
Casos e exemplos práticos para reflexão, 341
discussão e aprendizagem
12
ÍNDICE
28. Investimento socialmente responsável disparou nos últimos quatro anos ........................................................................ 412
29. O investimento socialmente responsável em Portugal ............................................................................................................................... 413
30. Empresas portuguesas no Dow Jones Sustainability Index ........................................................................................................................... 414
31. “A saúde é um assunto sério, tal como a escolha .............................................................................................................................................. 414
32. As PME serão menos socialmente responsáveis? ............................................................................................................................................. 416
33. As origens de uma ideia – a responsabilidade social das empresas ............................................................................................. 417
Liderança ........................................................................................................................................................................................................................................................................ 419
34. Procura-se CEO excelente e incorruptível ..................................................................................................................................................... 419
35. A missão do líder é velar por que as pessoas se sintam bem? ................................................................................................. 419
36. Futuro Chefe de Estado deve ser sério e isento – e os outros líderes? ...................................................................... 420
37. Bernard Ebbers, o ex-CEO da Worldcom – uma personalidade multifacetada
ou one man show? ............................................................................................................................................................................................................................. 421
38. A mania das grandezas de “Mr Bad Boy” .............................................................................................................................................................. 422
39. Os Titanics do capitalismo pós-moderno e os aldrabões de feira . ..................................................................................... 423
40. A angústia dos executantes dos despedimentos ....................................................................................................................................... 424
41. Líderes psicopatas .......................................................................................................................................................................................................................... 426
42. “Uma Questão de Liderança” .......................................................................................................................................................................................... 424
Condições de trabalho, discriminação e direitos humanos ................................................................................. 431
43. Má alimentação no trabalho reduz produtividade em 20 por cento ................................................................................ 431
44. McDonald’s contra os McJobs ........................................................................................................................................................................................... 432
45. Não queremos gordos nem doentes – as preferências da Wal-Mart .............................................................................. 433
46. Trabalho escravo no Brasil .................................................................................................................................................................................................... 435
47. A sociedade do café e a miséria dos trabalhadores ............................................................................................................................... 436
48. Os outros funcionários do Estado não precisarão de nenhum estímulo
nem de ser bons profissionais? .................................................................................................................................................................................................. 438
Estado, influência política e ética .............................................................................................................................................................................. 438
49. Bastidores de Bruxelas ............................................................................................................................................................................................................. 438
50. Guerra italiana .................................................................................................................................................................................................................................... 440
51. Empresas de informática criticam Bagão Félix por limitar acesso a concurso público .............................. 441
52. “Desinformação” em torno da Galp? ...................................................................................................................................................................... 442
53. Iraquianos formam-se em Lisboa a convite da GALP ......................................................................................................................... 443
54. A eterna doença de Maria José ....................................................................................................................................................................................... 444
Corrupção, fraudes, escândalos e pequenas “manhas” ..................................................................................................... 445
55. Em vez de combater a corrupção ... distribui-la equitativamente! ...................................................................................... 445
56. Sentença da WorldCom abala a América empresarial ........................................................................................................................ 446
57. Kenneth Lay e o fim de uma época nos EUA ................................................................................................................................................ 448
58. “Denunciante” da Enron diz que antigo CEO mentiu sob juramento ............................................................................. 451
59. Não culpem os advogados no caso da Enron ............................................................................................................................................... 452
60. Como o dinheiro da Enron ganhou amigos e influenciou pessoas ..................................................................................... 454
61. Boeing em maus lençóis .......................................................................................................................................................................................................... 456
62. Escândalos derrubam presidente da Boeing ................................................................................................................................................... 458
63. Detidos 47 corretores de Wall Street ................................................................................................................................................................... 459
64. Crime envolvendo warrants Nokia ............................................................................................................................................................................. 460
65. Anatomia de um crime .............................................................................................................................................................................................................. 460
66. Pirataria de software atinge 41% .................................................................................................................................................................................... 461
67. Na Volkswagem, deixou de haver vacas sagradas? ................................................................................................................................... 462
13
GESTÃo ética e socialmente responsável
68. “Desejo-vos, a vocês e às vossas famílias, uma morte lenta e dolorosa” ..................................................................... 463
69. Gestores espanhóis na mira da justiça .................................................................................................................................................................. 465
70. Bayergate, ‘take’ sete .................................................................................................................................................................................................................... 465
71. A Banca sob investigação devido aos paraísos fiscais .......................................................................................................................... 467
72. Suíça acabou com o segredo bancário .................................................................................................................................................................. 468
73. Expresso compra acções para ‘infiltrar’ jornalista ..................................................................................................................................... 469
a Responsabilidade social e os negócios da saúde ............................................................................................................................ 471
74. Fabricante de antiviral contra a gripe das aves recusa libertar a patente ................................................................... 471
75. Concertação de preços de farmacêuticas prejudica vinte e dois hospitais .............................................................. 472
75. SIDA em África: Financiar, ajudar responsavelmente – ou algo falta? ............................................................................... 474
77. Empresa holandesa culpada por compra de medicamentos para SIDA ........................................................................ 475
Filantropia e benemerência .................................................................................................................................................................................................................. 476
78. Bill Gates faz uma doação de 215 milhões de euros para combate à malária ...................................................... 476
79. O plano da IKEA para combater o trabalho infantil ............................................................................................................................. 477
80. “IKEA dá 1% dos lucros anuais para a acção social” ............................................................................................................................. 480
81. Quando a esmola é grande ... ......................................................................................................................................................................................... 481
82. E não é que Bill Gates se lembrou de nós?! ................................................................................................................................................... 482
Responsabilidade perante o ambiente e a natureza ........................................................................................................................ 483
83. A Brisa com preocupações ambientais .................................................................................................................................................................. 483
84. Número de cegonhas brancas subiu cinco vezes em 20 anos .................................................................................................. 484
85. Texaco julgada por poluição no Equador ............................................................................................................................................................ 485
86. Toillets Please .......................................................................................................................................................................................................................................... 486
87. Os consumidores já não vão em cantigas ....................................................................................................................................................... 487
Cultura organizacional, ética e responsabilidade ...................................................................................................................... 488
88. Cultura de secretismo da NASA também foi culpada do acidente do Columbia? .......................................... 488
89. Quem nos salva? ............................................................................................................................................................................................................................... 490
90. NASA ia repetindo os erros com o Discovery .......................................................................................................................................... 491
91. Meias brancas proibidas .......................................................................................................................................................................................................... 492
Responsabilidade perante clientes e consumidores ...................................................................................................................... 493
92. Testes a produtos sublinhando a ética e a responsabilidade social ..................................................................................... 493
93. O Hotel da Caixa Geral de Depósitos ................................................................................................................................................................. 494
94. Bloco de Esquerda denuncia “selvajaria”’ bancária em relação a doentes com HIV/Sida ........................ 496
95. Perigo light ....................................................................................................................................................................................................................................................................... 497
96. “O Roteiro para a felicidade” ........................................................................................................................................................................................... 498
97. Centro Hospitalar do Alto Minho tenta cativar companhias de seguros .................................................................... 498
98. Lei, ética e gestão: O caso de um hospital-empresa ............................................................................................................................. 500
99. Mulher com véu islâmico proibida de entrar num banco .............................................................................................................. 500
O indivíduo e a organização – alguns Dilemas e responsabilidaes ............................................................. 501
100. Microsoft na China – e o papel da democracia e da liberdade ............................................................................................ 501
101. As farmácias católicas ............................................................................................................................................................................................................. 502
102. Prevaricar ... sem que ninguém saiba .................................................................................................................................................................... 504
103. Lançaríamos a bomba se estivéssemos no lugar de Truman? ................................................................................................. 504
104. A ética não é imposta – antes é uma decisão individual? ............................................................................................................ 505
14
ÍNDICE
Complemento 2
A ÉTICA NAS ARTES
507
Referências 531
15
P REFÁCIO
Ética ao serviço quotidiano, com reflexos positivos no seu rela-
da competitividade cionamento com a comunidade envolvente.
17
GESTÃo ética e socialmente responsável
É por isso que o livro Gestão Ética e Socialmente e que implicam opções complicadas nos mais
Responsável – teoria e prática revela-se da maior diversos planos, incluindo o moral e o ético.
importância e interesse, na medida em que
não se limita a oferecer um conjunto de teo- A preocupação Ética é permanente, procuran-
rias em torno da Ética, mas dá a possibilidade do encontrar sempre novas respostas, de acor-
de confrontar a sua aplicação em casos muito do com os dados disponíveis, para um novo
práticos que ajudam a apreender conceitos e conjunto de questões que a economia global
teorias, ajudam a perceber a influência real que tem vindo a colocar, de forma premente, às
a qualidade dos nossos comportamentos tem sociedades modernas.
na vida das empresas, e na sociedade onde es-
tamos inseridos. Uma preocupação que não pode ficar apenas
em torno de teorias, mas tem de se consolidar e
Um livro que aborda de forma pedagógica um evoluir no sentido da busca das melhores solu-
conjunto de áreas onde a ética se desenvolve, ções que possam incrementar a aplicação práti-
funcionando como um Manual de Ética onde ca dos valores e dos comportamentos fixados.
o leitor poderá regressar muitas vezes, apreen-
dendo de forma nova a sua mensagem. Não admira, portanto, que as comunidades
empresariais tenham sentido a necessidade de
São livros como este que abrem as portas da evoluir para fórmulas organizativas mais ela-
ética e da responsabilidade social das empre- boradas, fixando códigos de comportamentos
sas nas suas múltiplas vertentes e implicações, e métodos de avaliação do seu cumprimento.
que permitem trilhar um caminho seguro, Foi assim que surgiu a primeira compilação le-
procurando não o “exibicionismo” das acções gal sobre governação das empresas, o Sarbanes
mas a mudança segura de comportamentos e, Oxly Act, em vigor nos Estados Unidos desde
principalmente, a mudança da cultura empre- 2002 e desde então multiplicaram-se os docu-
sarial e social. mentos e as iniciativas em diferentes latitudes
visando conciliar, no dia-a-dia das empresas,
Uma nova cultura empresarial, que não confun- poderes e interesses muito diversos, tantas ve-
da Ética com perigosos paternalismos piedosos, zes conflituais.
mas perceba que procurar a Ética significa maior
exigência e qualidade num confronto, perma- O esforço desenvolvido com vista à resolução
nentemente, da procura de uma maior rentabili- inteligente destes conflitos, no quadro de uma
dade com a defesa intransigente do Homem. assumida consciência da responsabilidade so-
cial das empresas, acaba por constituir um dos
A Ética empresarial tem de ter sempre o Ho- objectivos principais da ética empresarial e um
mem e a Empresa como principais pilares, contributo incontornável, ao contrário daqui-
tentando orientar a resposta dos decisores lo que alguns serão levados a pensar, para um
perante as várias situações de conflitos de in- salutar aumento da competitividade das eco-
teresses que o quotidiano empresarial coloca nomias e das empresas.
18
PREFÁCIO
19
GESTÃo ética e socialmente responsável
maiores garantem uma visibilidade, que não que nem todos de acordo, porque em Portu-
encontram paralelo em escalas mais reduzidas. gal ainda é “crime público” perseguir o lucro,
Muitas vezes, numa PME, a inclusão ou não ser ambicioso e ter sucesso. Mas à parte da
de projectos de responsabilidade social tem a especificidade do rectângulo lusitano, dizia eu
ver com características do próprio director- que todos de acordo…não fosse a expressão
-geral/accionista. Ou seja, está mais ligada a estar incompleta. O que a teoria diz é: o ob-
variáveis aleatórias ligadas ao livre arbítrio da jectivo das empresas é maximizar o lucro, no
gestão da empresa, do que com boas ou más longo prazo. Ora este complemento, como fa-
práticas de gestão. cilmente se compreende, faz toda a diferença.
E faz particular diferença quando falamos em
Este livro alerta para a necessidade de norma- ética na gestão ou ética empresarial. Se, para
lização de conceitos, embora a diversidade de as empresas, obter lucro de curto prazo de
opiniões e de correntes expressas mostrem que forma ética é uma questão de escolha, numa
não será tarefa fácil de executar. A meu ver, e perspectiva de longo prazo é uma questão de
como em quase tudo, o que verdadeiramente sobrevivência.
está na génese de um conceito vingar ou não
é a capacidade de mudar mentalidades. É pre- Tomemos como exemplo um jogo de tabulei-
ciso despertar para novas realidades empresa- ro, jogado a dois. Se eu tenho só uma jogada
riais, e isso faz-se investindo em formação e para fazer (curto prazo) não estou preocupado
requalificação dos mais velhos e ensinando os com as consequências que a minha jogada vai
mais novos. Habituados que estamos em Por- ter no outro jogador (leia-se: colaboradores,
tugal a ter a visão toldada para o curto prazo, é accionistas, fornecedores, clientes, Estado).
preciso apresentar e explicar a teoria e as prá- Ao invés, se o jogo incluir mais jogadas (longo
ticas da gestão ética e socialmente responsável prazo), eu sei que todas as minhas acções vão
aos futuros “homens-do-leme”. Acredito mais condicionar o outro jogador, e vão também
nesta via, do que em eventuais processos de condicionar-me a mim própria, porque o que
certificação, como acontece na Qualidade. O eu fizer terá um efeito boomerang sob a forma
que está em causa não são as normas, mas sim de resposta do meu adversário. O jogo repe-
a sua aplicação e compreensão por parte dos tido permite (mais, obriga a) comportamen-
gestores e colaboradores. Quantos exemplos tos diferentes dos jogos sem repetição, e as
cada um de nós conhece em que os processos instituições que suportam a maximização de
são o fim em si mesmo, e não a forma de obter longo prazo por parte das empresas também
melhores resultados e tornar as empresas mais não podem ser as mesmas. A responsabilidade
competitivas? social das empresas e o acompanhamento do
desenvolvimento sustentável pode certamente
Vale também a pena retomar um conceito apoiar aquelas instituições, desde que não se
económico básico, mas muitas vezes esqueci- resvale da boa gestão para a burocracia.
do: o objectivo das empresas é maximizar o
lucro. Até aqui todos de acordo. Aliás, diria
20
PREFÁCIO
21
I NTRODUÇÃO
“Não quer isto dizer que os lucros não são importantes para a Levi Strauss, a Body
Shop e outras empresas socialmente responsáveis; quer apenas dizer que não são a
prioridade central”.1
1 Garfield (1995, p. 5) 2 Kaku (1997, p. 55) 3 in Ribeiro (2006, p.30) 4 Garfield (1995, p. 5)
23
GESTÃo ética e socialmente responsável
24
INTRODUÇÃO
25
GESTÃo ética e socialmente responsável
7 Sublinhe-se que a lógica económica não é necessariamente egoísta, e vice-versa. 8 Ladd (1970, p. 499)
26
INTRODUÇÃO
Goodpaster e Matthews, Jr.: “Em nossa da moralidade comum, as teorias dos direitos,
opinião, esta linha de pensamento represen- a ética das virtudes, as teorias feministas e a
ta uma tremenda barreira para o desenvol- ética do cuidar, e as teorias da justiça. Conce-
vimento da ética empresarial, tanto como de particular atenção à ética das virtudes (e.g.,
campo de pesquisa quanto como força prá- prudência, coragem, temperança) e sublinha as
tica na tomada de decisão gestionária. Esta características da liderança virtuosa. Entre as
é uma matéria acerca da qual os executivos questões a que o capítulo procura responder,
devem ser filosóficos, e os filósofos devem estão as seguintes:
ser práticos. Uma empresa pode e deve ter
uma consciência. A linguagem da ética deve • Qual a diferença entre moralidade e ética?
ter um lugar no vocabulário de uma orga- • Bastará cumprir a lei para ser ético?
nização. (...) Os agentes organizacionais • Serão éticas as pessoas que actuam de acordo
como as empresas devem ser nem mais com a sua consciência?
nem menos moralmente responsáveis (ra- • O que é o relativismo ético?
cionais, auto-interessados, altruístas) do que • O que significam, e quais são as consequên-
as pessoas comuns. Tomamos esta posição cias, dos egoísmos psicológico e ético?
porque pensamos que existe uma analogia • Qual o papel e as limitações dos códigos pro-
entre o indivíduo e a empresa. Se analisar- fissionais nas práticas éticas?
mos o conceito de responsabilidade moral • O que são teorias utilitaristas ou consequen-
tal como ele se aplica às pessoas, vemos que cialistas?
é possível a sua projecção sobre as empresas • O que é o imperativo categórico?
como agentes da sociedade ”.9 • Perante dilemas éticos, devemos escolher o
caminho que obedece a determinados prin-
cípios/valores, ou devemos escolher o que
CAPÍTULO 2 conduz a melhores resultados, mesmo que
isso implique o sacrifício de alguns impera-
O capítulo 2 procura delimitar alguns conceitos tivos éticos?
e mostrar como se distinguem a ética, a mora- • Quais são as principais virtudes desejáveis nos
lidade e a lei. Mostra que os ditames da cons- membros organizacionais, especialmente nos
ciência não são necessariamente éticos. Expla- líderes?
na o significado de três abordagens à ética (des- • Como se diferenciam as facetas distributiva,
critivas, conceptuais e normativas/prescritivas) procedimental e interaccional da justiça nas
para, posteriormente, se debruçar sobre várias organizações?
teorias normativas (“o que devemos fazer para
sermos éticos”). Discute o significado do relati- Caixa i.3
vismo ético e dos egoísmos psicológico e ético. A ética e a lei na 3M
Explica o significado do utilitarismo e do impe-
rativo categórico de Kant, e caracteriza algumas Eis como a 3M declara interpretar a im-
teorias prescritivas contemporâneas: as teorias portância da ética e da lei na condução dos
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GESTÃo ética e socialmente responsável
negócios, assim se dirigindo aos seus cola- • Respeite a dignidade e o valor das pes-
boradores: soas.
• Encoraje a iniciativa individual e a inova-
Os mais elevados padrões da 3M ção, numa atmosfera de flexibilidade, co-
“A conduta ética nos negócios por vezes operação e confiança.
requer mais do que a obediência estrita à • Promova uma cultura onde o cumprimen-
lei. Acresce que não há leis que governem to de promessas, a justiça, o respeito e a
muitas actividades empresariais. Mesmo responsabilidade pessoal são valorizadas,
quando a lei se aplica, por vezes estabelece encorajadas e reconhecidas.
padrões de comportamento que são inacei- • Crie um local de trabalho seguro.
tavelmente baixos para a 3M. Quando se • Proteja o ambiente”.10
confrontar com tais situações, é necessário
que faça uma escolha boa e ética (...). Esta Tomando decisões éticas
secção contém conselhos para ajudá-lo a “Deve ser capaz de responder ‘sim’ às se-
conseguir isso. guintes questões antes de agir em nome da
3M:
As políticas de conduta dos negócios da
3M facultam orientação para muitas situa- • Esta acção é consistente com os valores
ções, mas este manual não pode cobrir to- da honestidade e da integridade da 3M?
das as situações que possa enfrentar na sua • Esta acção pode ser do conhecimento do
actividade na empresa. Nesses casos, a suas público?
acções devem ser guiadas pelos nossos va- • Esta acção protege a reputação da 3M
lores fundamentais de empenhamento na como empresa ética?
integridade e na honestidade. Estes valores
incluem o cumprimento de promessas, a Se não puder responder ‘sim’ a todas as
justiça, o respeito e a consideração pelos questões, e mesmo assim acreditar que a ac-
outros, assim como o sentido da responsa- ção é ética e legal, deverá rever a acção com
bilidade pessoal. o seu superior, a gestão ou o seu consultor
jurídico, pois pode não ser do seu melhor
A tomada de decisão ética requer a avalia- interesse ou do da 3M prosseguir.”
ção e a atenção devida a cursos alternativos
de conduta, tendo em conta os seguintes
padrões empresariais: CAPÍTULO 3
28
INTRODUÇÃO
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GESTÃo ética e socialmente responsável
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INTRODUÇÃO
ma da empresa privada – se todos os negó- • O que é uma auditoria social e que métodos e
cios adoptarem uma postura socialmente etapas deve seguir?
responsável? • O que são relatórios de sustentabilidade? Que
atenção lhes têm concedido as empresas por-
tuguesas?
CAPÍTULO 5 • Os prémios, os reconhecimentos e os rankings
sociais e ambientais concedidos às empresas
O capítulo 5 discute alguns dos desafios e pres- poderão contribuir para mudar o seu com-
sões a que as empresas são submetidas para portamento?
adoptarem acções socialmente responsáveis. E • Quais os traços principais do Livro Verde da
mostra como as organizações e a sociedade em Comissão Europeia sobre RSE? E quais as
geral têm respondido a estes reptos. Compara- dimensões de RSE nele contempladas?
tivamente com o capítulo anterior, este conce- • O que são as “melhores empresas para traba-
de menor ênfase às considerações “teóricas” e lhar” e as organizações autentizóticas? Como
debruça-se mais acentuadamente sobre as prá- é que os colaboradores dessas organizações
ticas das empresas e das instituições que as ava- reagem em termos de saúde individual e
liam. Enquanto o capítulo anterior procura dar stresse, empenhamento afectivo na organiza-
conta das múltiplas concepções acerca do que ção e desempenho?
é a RSE, este mostra como ela é “estimulada”
e colocada em prática, tanto pelas empresas Caixa i.6
como por muitas organizações internacionais Fórum de Davos quer
que pretendem incentivá-la e/ou enquadrá-la. maior empenho social das empresas
Eis algumas das perguntas mais proeminentes
a que o texto procura responder: Eis o teor de uma notícia publicada no Diá-
rio de Notícias em 25 de Janeiro de 2005:
• Quais os principais desafios e pressões que
hoje são dirigidos às empresas no âmbito da “É necessária maior intervenção do sector
responsabilidade social corporativa? privado para atingir os objectivos de desen-
• O que é o investimento socialmente respon- volvimento prometidos pelos líderes mun-
sável? diais. Esta é a conclusão de um relatório
• O que são índices de sustentabilidade como divulgado ontem pelo Fórum Económico
os Financial Times Stock Exchange 4 Good Inde- Mundial. Mais de 2000 figuras internacio-
xes e os Dow Jones Sustainability World Indexes? nais reúnem-se a partir de amanhã na lo-
Serão as empresas abrangidas por estes ín- calidade suíça de Davos, para debater o fu-
dices mais rentáveis do que as empresas em turo da economia mundial. O documento
geral? explica que, em vários países, as empresas
• O que são as normas SA8000 e AA1000? Em têm descurado sectores-chave como a edu-
que medida as organizações portuguesas têm cação, a alimentação e os direitos humanos,
aderido à certificação pela norma SA8000? fazendo apenas ‘metade do que era neces-
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GESTÃo ética e socialmente responsável
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INTRODUÇÃO
Quadro i.1
Boas e más práticas que o Institute of Business Ethics refere como
relevantes para a eficácia dos códigos14
Boas práticas Más práticas
• Alicerçar o código em valores éticos nucleares. • Afixar simplesmente o código no quadro de avisos da
• Entregar uma cópia a todos os colaboradores. empresa.
• Proporcionar um modo de as denúncias de violações • Não conseguir obter o empenhamento da direcção de
do código serem feitas de forma confidencial. topo da empresa.
• Incluir as matérias éticas nos programas de formação. • Deixar a responsabilidade pela eficácia do código a
• Criar um comité para monitorar a eficácia do código. cargo do departamento de RH ou de outro departa-
• Tornar o cumprimento do código como parte do con- mento.
trato de trabalho. • Não ser capaz de identificar o que preocupa os colabo-
• Disponibilizar o código na língua dos colaboradores radores dos diferentes níveis da organização.
situados no estrangeiro. • Não dispor de um procedimento que permita rever o
• Disponibilizar cópias do código para os parceiros de código regularmente.
negócio, incluindo os fornecedores. • Criar/fazer excepções à aplicação do código.
• Rever o código à luz dos desafios e das mudanças • Não ser capaz de responder devidamente perante as
ocorridas nos negócios. violações do código.
• Fazer com que as pessoas de maior responsabilidade • Os líderes não darem o exemplo.
adoptem comportamentos congruentes com as pala- • Tratar o código como confidencial ou como documen-
vras (“walk the talk”) e dêem o exemplo. to puramente interno.
• Dificultar o acesso directo dos colaboradores ao código.
14 Ligeiramente adaptado de: http://www.ibe.org.uk/codesofconduct.html (acesso em 20 de Janeiro de 2006). 15 Edelman & Such-
man (1997, p.480)
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GESTÃo ética e socialmente responsável
crita do livro e a sua colocação no mercado significativas. Por isso, sugerimos ao leitor que
pode desactualizar alguns dados. Embora não tome os casos práticos e os exemplos como
o desejemos, é possível que isto suceda com ilustrações situadas no tempo – e que tome
esta obra. Em qualquer caso, convém salientar o quadro geral interpretativo como a moldura
que os princípios, os conceitos e as orienta- para compreensão de uma realidade que sofre
ções básicas tenderão a não sofrer alterações continuamente modificações.
ANEXO
Organizações abordadas no Complemento I (casos práticos e exercícios)
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