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Tuxped Serviços Editoriais (São Paulo - SP)

S232a Santana, Gilvan da Costa; Souza Neto, Mauricio J. (org.).


Articulando linguagens: texto, discurso e ensino de línguas / Organizadores: Gilvan da Costa
Santana e Mauricio J. Souza Neto; Prefácio de Marcia Paraquett.– 1. ed.– Campinas, SP :
Pontes Editores, 2021.

ISBN: 978-65-5637-173-3

1. Ensino de Línguas. 2. Ensino Virtual. 3. Linguística. 4. Linguística Aplicada. 5. Prática Pedagógica.


I. Título. II. Assunto. III. Organizadores.

Bibliotecário Pedro Anizio Gomes CRB-8/8846

Índices para catálogo sistemático:

1. Educação. 370
2. Didática - Métodos de ensino instrução e estudo– Pedagogia. 371.3
3. Linguística. 410
4. Linguagem, Línguas – Estudo e ensino. 418.007
Sumário

Prefácio ...........................................................................................................................7
Marcia Paraquett

Apresentação ................................................................................................................11

SEÇÃO I - LÍNGUA, TEXTO E DISCURSO:


POSSÍVEIS ARTICULAÇÕES

Trajetória da linguística textual ..............................................................................19

Gilvan da Costa Santana

A referenciação no processo de tecelagem textual: anáfora indireta


e encapsuladores .......................................................................................................39

Anáfora direta como recurso de referenciação em gênero discursivo ..57


Gilvan da Costa Santana

Vídeos de youtubers de ideologia conservadora como


gênero discursivo ........................................................................................................75
Gilvan da Costa Santana
Mário Jorge Pereira da Mata

Por um ensino de língua bakhtinianamente inspirado ................................91


Rosângela Gonçalves Cunha
SEÇÃO II - LINGUÍSTICA APLICADA:
INTERLOCUÇÕES CONTEMPORÂNEAS

Breves considerações sobre a linguística aplicada: diálogos pessoais,


conexões entre a vida, a língua e as pessoas ..................................................109
Mauricio J. Souza Neto

Questões ideológicas na pedagogia de línguas: implicações dos estudos


sobre raça/ etnia no ensino-aprendizagem de língua inglesa .................123
Joelma Santos

Formação de professores para o ensino de língua portuguesa como


segunda língua para pessoas surdas ..................................................................141
Murillo da Silva Neto

ambiente virtual de ensino-aprendizagem .....................................................159


Maria José Cerqueira Brito

Competência digital de professores de línguas-culturas: proposições,


documentos orientativos e implicações ...........................................................181
Liz Sandra Souza e Souza

Sobre os autores e autoras ....................................................................................195


ARTICULANDO LINGUAGENS: TEXTO, DISCURSO E ENSINO DE LÍNGUAS

Prefácio

Prefaciar obras é um privilégio dentro da academia. Quando

barreiras, impostas a todas as pessoas que vivem no nosso mundo.


As barreiras que pude cruzar me trouxeram a esse lugar onde me
encontro hoje. Já não sou uma jovem pesquisadora querendo di-
vidir seus sonhos com outros jovens pesquisadores, como revelam

obra que organizam. As mesmas barreiras que cruzei também me


mostraram que a linguagem precisa estar apropriada ao contexto na
qual se expressa. Falar num prefácio requer sintonia com uma série
de pré-requisitos que a academia nos impõe. Mas os cruzamentos
também me disseram que algumas vezes é preciso recorrer a atalhos
que façam a caminhada mais leve.
Gilvan e Mauricio, assim como essa juventude que se juntou a
eles, esperam que eu lhes fale com leveza e clareza, motivando-os
a ler essa obra que recolhe experiências acadêmicas, vividas por
eles e elas. Flaubert tem razão, ao observar que, quando usamos as
palavras, nunca sabemos exatamente onde e como elas chegarão.

dançarem, já me dou por feliz.


A proposta central da obra que se apresenta é articular lingua-
gens, envolvendo questões de texto, discurso e ensino de línguas.
Todas as pessoas que trabalham em Letras, como é o caso desses
e dessas autoras, passamos a vida articulando linguagens, já que
não há língua e nem linguagem sem que haja articulação ou ligação

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ARTICULANDO LINGUAGENS: TEXTO, DISCURSO E ENSINO DE LÍNGUAS

minimamente dois elementos. Não há língua e nem linguagem sem


que haja dois elementos ou duas pessoas nessa articulação. O ato
de articular, portanto, não é solitário.
Mas por que nos interessamos pela articulação da linguagem?
Porque é através dela que nos articulamos com o mundo e com a
vida. Mas essa articulação não é tão previsível como pensam os
menos atentos. Ela requer performance, atenção, perspicácia, saber,
experiência. Ela requer jogo de cintura, malícia, subversão e silêncios.

aprendendo e ensinando a articular pessoas através da linguagem.


Por isso, sugiro que a leitura dessa obra não se limite à busca de
funcionalismos metodológicos ou teóricos, que os há, claro, mas
que se veja e se sinta a presença de pessoas, todas jovens, que estão
aprendendo a produzir discursos que possibilitem articulações entre
línguas, linguagens e pessoas.
A pesquisa em Letras no Brasil não é tão antiga, pelo menos

a cada época. No campo dos estudos linguísticos, as pesquisas no


-
duções ainda estavam mais ligadas ao sistema linguístico, o que só

visíveis em muitas universidades brasileiras.


É natural, portanto, que, entrado o século XXI, a geração de
pesquisadores e pesquisadoras que chega já possa expressar-se
de maneira mais social e política, características que marcaram
desde sempre os estudos de literatura. Ou seja, no atual século,

na medida em que focam questões até então muito distantes dos

uma nova onda, que poderia ser entendida como uma onda menos

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ARTICULANDO LINGUAGENS: TEXTO, DISCURSO E ENSINO DE LÍNGUAS

comportada, menos silenciosa, menos formalista, já que é uma onda


mais inquieta, mais denunciadora, mais subversiva.
Observando os títulos dos artigos desta obra, resultados de

evidente que os interesses estão voltados para questões que afe-


tam, sobremaneira, as sociedades atuais. Aqui, as redes sociais e

prever articulações de linguagens sem as interações virtuais. Também

pesquisas, quando predominou a noção de língua como sistema.

de linguagens, colocando o texto, o discurso e o ensino atados a


corpos, humanizando, portanto, a língua.

Marcia Paraquett
Professora Associada II da Universidade Federal da Bahia
Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPQ
Salvador, 15/ 10/ 2020

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ARTICULANDO LINGUAGENS: TEXTO, DISCURSO E ENSINO DE LÍNGUAS

Apresentação

“A linguagem humana é como uma chaleira rachada na


qual tiramos melodias para ursos dançarem, quando
durante o tempo todo estamos querendo comover as
estrelas.”
Gustave Flaubert

Querida leitora, querido leitor, este livro que se encontra em


suas mãos é fruto de um desejo coletivo de estudiosos e pesquisa-
dores da grande área da linguagem. Essas pessoas sonharam juntas
aquilo que está concretizado nessas páginas: contribuir para a me-
lhoria e excelência dos estudos e práticas envolvendo a língua(gem).
Para essa contribuição, reunimos estudiosos e pesquisadores
de diferentes instituições, com diferentes pesquisas envolvendo o
uso social da linguagem. Essas pesquisas estão aqui apresentadas
em duas grandes seções. Na primeira, articulam-se os trabalhos
envolvendo texto e discurso. Na segunda, articulam-se os trabalhos
envelopados pela Linguística Aplicada.
Assim é que a primeira seção do livro se reporta a questões
envolvendo interface teoria-prática na perspectiva da Linguística
Textual, movendo aspectos textuais/ discursivos. Nessa direção, no
primeiro capítulo, TRAJETÓRIA DA LINGUÍSTICA TEXTUAL, Valdenice

seguido pela LT, a partir de seu surgimento na década de 1960, apro-


ximando-se do funcionalismo, na medida em que se distancia do
formalismo. Constata-se, nesse capítulo, que o desenvolvimento de

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ARTICULANDO LINGUAGENS: TEXTO, DISCURSO E ENSINO DE LÍNGUAS

tal linha de pesquisa não ocorreu homogeneamente e que o conceito


de texto sofreu diferentes formulações ao longo do tempo. Ademais,
ganha relevo na abordagem do capítulo inicial a sinótica apresen-

trajetória da Linguística Textual, numa progressão que enfatiza cada


vez mais a importância de mecanismos sociocognitivo-interacionais,
em detrimento de uma visão dicotômica (coesãoXcoerência), hoje,
já considerada tradicional na construção da textualidade.
Por conseguinte, o primeiro capítulo mencionado prepara
leitores/ as para os capítulos seguintes da seção I. Com efeito, no
capítulo seguinte, A REFERENCIAÇÃO NO PROCESSO DE TECE-
LAGEM TEXTUAL: anáfora indireta e encapsuladores, recorte da

a citada autora parte do que vem a ser referência em diferentes


formulações ao longo do tempo até chegar ao conceito de refe-
renciação como uma prática discursiva, na qual o referente não
precisa necessariamente estar explícito, suscitando, assim, um
maior grau de inferência, haja vista a já reconhecida relação entre
os aspectos linguísticos e aspectos não-linguísticos, o que enseja

negar aspectos de referenciação no nível da correferencialidade


e da linearidade, mas ela chama a atenção para o fato de que o
fenômeno ocorre, também, ancorado em elementos não verbais
e de forma indireta ou contextual.
Não por acaso, o capítulo terceiro, ANÁFORA DIRETA COMO
RECURSO DE REFERENCIAÇÃO EM GÊNERO DISCURSIVO, recorte
da dissertação de mestrado de Gilvan da Costa Santana, fecha uma
espécie de trilogia dos artigos que mostram aspectos relevantes
da LT em termos de trajetória, referenciação, anáforas diretas e
indiretas. O capítulo em foco considera a função das expressões
referenciais não apenas como elemento empregado para referir,
uma vez que elas são multifuncionais: contribuem para elaborar o
sentido, indicam pontos de vista, assinalam direções argumentati-

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ARTICULANDO LINGUAGENS: TEXTO, DISCURSO E ENSINO DE LÍNGUAS

os objetos presentes na memória etc. Por conseguinte, a ativação e


a reativação na memória ativa do interlocutor ocorrem na medida
em que há uma recategorização ou refocalização do referente. Para
tanto, o autor traz como escopo de sua pesquisa a anáfora direta
em produção textual de discentes.
Já sob outra perspectiva, considerando-se relações intrínsecas
entre texto/ discurso, surgem os outros capítulos que compõem essa
seção I. O capítulo quarto, por exemplo, VÍDEOS DE YOUTUBERS
DE IDEOLOGIA CONSERVADORA COMO GÊNERO DISCURSIVO, de
Gilvan Costa e Mário Jorge da Mata, lembra os conceitos de gêneros
textuais/ discursivos e mostra a atualização desses conceitos a partir
do avanço tecnológico que culmina no que se denomina gêneros
digitais. Destarte, o capítulo em tela mostra que a comunicação na
internet acabou criando novos gêneros e alterando outros, compro-
vando que eles estão, desde sempre, adaptados às necessidades
de cada tempo e de cada ‘usuário’, numa relação dialógica. Nessa
esteira, o artigo ora apresentado posiciona vídeos de youtubers
como gênero de discurso emergente/ digital e enfatiza como a ide-
ologia de direita política é veiculada por eles. Isso se dá por meio
de uma linguagem, por mais das vezes, popular, agressiva, odiosa
e extremista.
Fechando a seção I, o artigo POR UM ENSINO DE LÍNGUA
BAKHTINIANAMENTE INSPIRADO, de Rosângela Cunha, traz uma
investigação de processos de ensino-aprendizagem sob a concepção
dialógica da linguagem como possibilidade de fornecer paradigmas
para uma abordagem interacional da língua portuguesa e suas rela-
ções com as práticas sociais relativas às condições sócio-históricas
das atividades humanas. Para a autora, é fundamental, na prática
pedagógica, a adoção da perspectiva social como contexto de pro-
-

Para demonstrar essa tese, Rosângela apresenta algumas referências


teóricas do Círculo de Bakhtin, apontando diretrizes propiciadoras
de um processo de ensino-aprendizagem linguística que considera

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ARTICULANDO LINGUAGENS: TEXTO, DISCURSO E ENSINO DE LÍNGUAS

os sujeitos como elementos historicamente situados.


Dessa forma, o último capítulo da seção I se apresenta como
elemento de coesão direta com a seção II, cuja ênfase está na Lin-
guística Aplicada, a partir da perspectiva do ensino de línguas e lin-
guagens. Nessa direção, encetando os estudos na área da Linguística
Aplicada (LA), Mauricio J. Souza Neto recupera sua vivência na área,
utilizando-a como pano de fundo para trazer BREVES CONSIDE-
RAÇÕES SOBRE A LINGUÍSTICA APLICADA: DIÁLOGOS PESSOAIS,
CONEXÕES ENTRE A VIDA, A LÍNGUA E AS PESSOAS. O autor narra
sua trajetória de estudos, de pesquisa e de trabalho, apresentando
as mudanças pelas quais passaram tanto ele como a sua área de
atuação. As paisagens narradas focam na LA “vivi-feita” no Brasil;
seus progressos, pontos de encontro, de desencontro. Nesse sen-
tido, o autor inscreve a LA nas práticas de produção da esteira das

no presente, e tece algumas conjecturas para o que ele chama de


“presente-futuro” da área.
Um dos constituintes desse “presente-futuro” pode ser visto
nos estudos que abordam a relação entre língua, ensino, comuni-
dade, raça e etnia, tal como lindamente o faz Joelma Santos em
seu texto QUESTÕES IDEOLÓGICAS NA PEDAGOGIA DE LÍNGUAS:
IMPLICAÇÕES DOS ESTUDOS SOBRE RAÇA/ ETNIA NO ENSINO-
APRENDIZAGEM DE LÍNGUA INGLESA. A autora investiga como
a pedagogia de línguas tem trabalhado com as questões étnico-
raciais no ensino de língua inglesa e na sua aprendizagem. Diante
dos preocupantes achados, Joelma pavimenta os caminhos já per-
corridos e possibilitados pela Linguística Aplicada e pelas políticas
envolvendo a língua(gem) e seu ensino, como a Lei nº 10.639/ 2003.
Preocupantes achados, sim, pois nos damos conta que muito se
avançou desde a criação da referida lei, mas esse muito ainda é

mais do que nortes para o tema: mostra-nos o sul para a criação de

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ARTICULANDO LINGUAGENS: TEXTO, DISCURSO E ENSINO DE LÍNGUAS

uma agenda necessariamente crítica no ensino-aprendizagem de


língua inglesa (que podemos ampliar para o ensino-aprendizagem
de línguas, respeitando as limitações).
Ainda nos laços do ensino de línguas e do “presente-futuro”
da Linguística Aplicada, Murillo da Silva Neto nos atinge com seu
texto FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA O ENSINO DE LÍNGUA
PORTUGUESA COMO SEGUNDA LÍNGUA PARA PESSOAS SURDAS.
Após fazer um percurso sobre a educação de professores de língua
portuguesa para surdos, o autor nos apresenta um panorama sobre

lhe dá a possibilidade de ir a fundo nas suas observações, críticas e


sugestões que não se restringem a questões acadêmicas. O autor
também defende, como sugere o título, baseado em outros autores
e em sua própria experiência, que a língua portuguesa no Brasil
para surdos é uma segunda língua, não uma língua estrangeira ou
adicional.
Seguindo no pensamento sobre a educação que futuros pro-
fessores têm/ trilham na academia, e também preocupada com uma
educação cidadã, crítica e que considere diferentes realidades, como
a digital, Maria José Brito nos apresenta suas REFLEXÕES SOBRE
AS COMPETÊNCIAS DE APRENDENTES DE LÍNGUAS EM AMBIENTE
VIRTUAL DE ENSINO-APRENDIZAGEM. Para isso, faz uso de narra-
tivas de aprendentes de línguas colhidas por ela. Essas narrativas
possibilitam que vejamos a relação entre os aprendentes e a língua
estrangeira estudada, bem como entrever pontos de intersecção
entre a abordagem do aprendente e a dos professores. Fazendo
uso dessas descobertas, Maria José esboça e descortina um mape-
amento sobre as competências de aprendentes de línguas dentro

-
tências e o mundo virtual, focando, entretanto, nos professores.
Assim, ela aborda a COMPETÊNCIA DIGITAL DE PROFESSORES DE

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ARTICULANDO LINGUAGENS: TEXTO, DISCURSO E ENSINO DE LÍNGUAS

LÍNGUAS-CULTURAS: PROPOSIÇÕES, DOCUMENTOS ORIENTATIVOS


E IMPLICAÇÕES. Liz nos convida para um percurso interessante, ins-
tigante e investigativo sobre os documentos que orientam o ensino
na era digital, dando foco à competência digital de professores e
professoras. A autora termina seu artigo considerando alguns pontos
já trabalhados e outros ainda em necessidade de se aprofundar, e
lança propostas exequíveis e interessantes para o ensino de línguas-
culturas mediado pela competência digital.
Os capítulos deste livro, portanto, constituem o que consi-
deramos como uma articulação de saberes e vivências sobre a/ na
língua(gem). Articulações necessárias para se pensar os usos da
língua(gem) em seus diferentes contextos. Como dito, este livro
nasce de um desejo, de uma vontade de crescer e de promover
crescimento. Que nosso desejo chegue até você, querido leitor,
querida leitora. Que nosso desejo chegue até você gerando novos
desejos, novas vontades, novas ousadias. Desejamos boa leitura e

Os organizadores

Prof. Dr. Gilvan da Costa Santana


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Sergipe – IFS

Prof. Me. Mauricio J. Souza Neto


Rede de Pesquisadores NegreS de Estudos da Linguagem – REPENSE

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