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O juízo estético é desinteressado e universal

Agora o objeto estético põe-se rigorosamente em termos de sentimento e não de conhecimento. (…)
Kant não se limita a dizer que o objeto estético é o prazer. Dá a explicação desse prazer. Diz que ele é o
resultado da harmonia (…). Justamente Kant só põe no sujeito aquilo que antes se considerava no objeto,
essa harmonia.
(…) Se o estético, antes de mais, na sua essência, é prazer, então não pode ser reduzido ao que quer que
seja. É prazer e nada mais. (…)
A beleza é sempre uma comoção, o calor e não a frieza, a cor e não o preto-e-branco. (…)
No que respeita à qualidade, é desinteressado. Ou seja: «quando a questão é a de saber se uma coisa é
bela, não se deseja saber se nós mesmos, ou qualquer outra pessoa, temos ou poderíamos ter um
interesse na existência da coisa, mas como nós a julgamos considerando-a simplesmente», isto é, sem
justamente esse nosso interesse na sua existência. A coisa pode existir, e não tem que ser
necessariamente uma simples representação; o essencial é que ela se considere sem essa relação ao meu
querer. O prazer estético distingue-se assim do agradável (prazer dos sentidos) e do bom (em todos os
seus aspetos) porque estes são interessados.
No que respeita à quantidade, é universal sem conceito. O bom, esse é decerto também universal, mas
tem conceito; e o agradável não é universal. E porque é que ele, sendo sem conceito, é universal?
Em primeiro lugar porque é desinteressado: «porque aquele que tem consciência de que a satisfação
produzida por um objeto é isenta de interesse não pode senão estimar que este objeto deve conter um
princípio de satisfação para todos».
(…) O prazer que eu sinto perante determinado objeto deve também ser sentido por todos os outros.

J. A. Encarnação Reis, A determinação do objeto estético em Kant,


Biblos, 1962, pp. 179-183.

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