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SOLUÇÕES E EQUÍLIBRIO HETEROGÉNIO

Para compreender o conceito de reação de precipitação é necessário considerar as


noções básicas de dissolução e de solubilidade de sais em água.

Dissolução

O fenómeno de dissolução resulta de uma interação soluto – solvente. Quando uma


substância (o soluto) se dissolve noutra (o solvente), as partículas do soluto
interagindo com as partículas do solvente dispersam-se neste último.

Pode imaginar-se que o processo de dissolução envolve três situações distintas.

Inicialmente ocorre separação das partículas do solvente, seguidamente ocorre a


separação das partículas do soluto e finalmente as partículas do soluto e do solvente
misturam-se.

Os sais são compostos formados por iões (catiões e aniões). As ligações que se
estabelecem entre os iões são ligações fortes, designadas por ligações iónicas. Ao
contrário das ligações covalentes, onde predomina a partilha de eletrões, nas
ligações iónicas as forças eletrostáticas são responsáveis pela atração entre os iões
positivos (catiões) e os iões negativos (aniões).

Nos sais, os iões positivos e negativos agrupam-se em redes iónicas (redes


cristalinas), numa organização que pode tomar variadas formas. Um dos exemplos
mais comuns consiste a estrutura cúbica (figura 1) característica dos cristais de
cloreto de sódio, entre outros.

Figura 1- Estrutura cúbica dos cristais de cloreto de sódio

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Quando uma substância iónica, como o cloreto de sódio, dissolve-se em água,


desfaz-se a malha tridimensional dos iões no cristal, ou seja, os iões Na+ e Cl –

separam-se. Esta separação ocorre devido à interação com as moléculas do solvente


polar – a água. As atrações do tipo ião – dipolo, que se estabelecem entre os iões Na+
e Cl – com a água, são suficientemente fortes para separar os iões do cristal.

Denomina-se hidratação a este método de dissolução (figura 2), que consiste num
processo no qual um ião é rodeado por moléculas de água.

Figura 2- Hidratação do cloreto de sódio

Solubilidade, s

A solubilidade dos sais em água pode ser definida pela quantidade máxima de
soluto que se consegue dissolver em água de modo a perfazer 1 dm 3 de solução
saturada, ou então, é a concentração de soluto numa solução saturada, a uma
dada temperatura.

Uma solução saturada é uma solução, que a uma dada temperatura e pressão,
contém dissolvida a quantidade máxima de soluto num determinado volume
de solvente. Quando um sal é pouco solúvel num dado solvente a solução fica
saturada com uma pequena quantidade de soluto. Embora a solução seja muito
pouco concentrada, esta fica saturada.

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Por outro lado, quando um sal é muito solúvel num dado solvente a solução fica
saturada apenas com uma grande quantidade de soluto. Esta solução fica saturada
e, além disso, é muito concentrada.

Note-se que o conceito solução saturada é distinto do conceito solução concentrada.


A água pode ser considerada um bom solvente, dado que, devido à sua natureza,
dissolve um elevado número de substâncias. Todavia, não é um solvente universal,
pois não existem solventes universais, isto é, não existem solventes que dissolvam
todas e quaisquer substâncias. Visto que a água é um solvente polar, a solubilidade
de uma substância em água depende do tipo de unidades estruturais que essa
substância possui (isto é o que condiciona a interação soluto – solvente).
Geralmente, as substâncias covalentes polares e substâncias iónicas (sais e/ou
hidróxidos) dissolvem-se em água. Por outro lado, as substâncias iónicas podem ser
pouco, moderadamente ou muito solúveis em água.

As substâncias covalentes apolares não se dissolvem ou dissolvem-se pouco em


água. Usualmente, um solvente polar dissolve um soluto polar (ou iónico) e um
solvente apolar dissolve um soluto apolar. Contudo, a solubilidade não depende
apenas do tipo de unidades estruturais da substância que constitui o soluto, mas
também depende de outros fatores, a estudar no final desta unidade.

Soluções Saturadas, Insaturadas e Sobressaturadas

Por exemplo, à temperatura de 25 ºC, conseguem-se dissolver cerca de 36 gramas


de cloreto de sódio (o sal de cozinha) em 100 mL de água, sendo, portanto de 36
g/100 mL a solubilidade do cloreto de sódio em água. Se se adicionar mais sólido à
solução este não se irá dissolver, permanecendo o soluto dissolvido em equilíbrio
com o respetivo sólido que está em contacto com a solução.

Tendo em conta a quantidade de soluto dissolvido num determinado solvente e a


solubilidade deste, as soluções podem apresentar-se:

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▪ Insaturadas , quando a quantidade de soluto na solução é inferior à sua


solubilidade
▪ Saturadas, se a quantidade de soluto em solução for igual à solubilidade desse
soluto
▪ Sobressaturadas soluções em que a concentração de soluto em solução é
superior à sua solubilidade

Quando um soluto se dissolve num solvente, as moléculas do solvente formam


estruturas em torno das moléculas de soluto, num processo designado
por solvatação.
No caso de substâncias iónicas que se dissolvem em solventes como a água, o
processo de dissolução implica a separação dos respetivos iões constituintes, os
quais irão ser solvatados pela água. Nestes casos, o equilíbrio que se estabelece entre
o sólido e o composto dissolvido depende das concentrações em solução de todos os
iões que constituem o sal.
Para o caso do sulfato de alumínio sólido (Al 2(SO4)3) em contacto com uma solução
saturada de sulfato de alumínio (Al 2(SO4)3 (dissociado em iões Al3+ e SO42-), o
equilíbrio é traduzido por:
Al2(SO4)3(s) ↔ 2Al3+(aq) + 3SO42-(aq)
A constante que se associa a este equilíbrio denomina-se Produto de
solubilidade (Kps=Ks) e é expressa, no caso deste sal, pelo produto das concentrações
molares de equilíbrio dos iões cada qual elevada aos respetivos coeficientes
estequiométricos :
Ks=Kps=[Al3+]eq2.[SO42-]eq3

Quando se misturam duas soluções podem, ou não, formarem-se precipitados. De


forma a prever a formação, ou não, destes, recorre-se ao cálculo de um quociente,
denominado Quociente de Reacção(Q), que envolve o produto das concentrações
dos iões envolvidos elevados aos respetivos coeficientes estequiométricos, de forma
semelhante à que se utiliza para calcular o Produto de Solubilidade (note-se que o
Produto de Solubilidade corresponde ao Quociente de Reação quando a solução está
saturada, ou seja quando as concentrações dos iões correspondem às suas

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concentrações de equilíbrio); compara-se o valor de Q com o do K ps. Assim, podem


ocorrer três casos distintos:

▪ Se Ks >Q a solução não está saturada, logo não haverá precipitação


▪ Se Ks =Q a solução está saturada, não havendo precipitação
▪ Se Ks < Q a solução está sobressaturada e há precipitação.

Quando da determinação do valor de Q é preciso ter em conta que, ao juntar duas


soluções, o volume disponível para cada eletrólito se altera. Sendo assim é
necessário calcular as novas concentrações dos iões intervenientes. Normalmente,
para este cálculo, considera-se que os volumes são aditivos.

Outro fator a ter em conta é a temperatura a que as soluções se encontram; se esta


não for conhecida considera-se que ambas as soluções estavam, inicialmente, à
mesma temperatura, e que esta se mantém após a mistura.

O gráfico da solubilidade em função da temperatura é utilizado principalmente


para informar a solubilidade de uma ou várias substâncias em função da
temperatura.

Gráfico1- Solubilidade de sais em função da temperatura

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Observa-se que a maioria das substâncias aumenta a solubilidade com o aumento


da temperatura. Pode-se dizer, então, que se trata de uma dissolução
endotérmica.
Para uma substância como Ce2(SO4)3, a solubilidade diminui com o aumento da
temperatura; portanto, trata-se de uma dissolução exotérmica. Este tipo de
dissolução é facilmente observado para os gases. Refrigerantes promovem a
formação de maior quantidade de espuma ao serem abertos quando se encontram
a maiores temperaturas devido à liberação de CO 2 que estava inicialmente
dissolvido.

Fatores que afetam a solubilidade

A Solubilidade de uma dada substância num solvente pode ser afetada por determinados
fatores. De entre os mais importante podem destacar-se:

▪ a dependência da temperatura,
▪ o efeito do ião comum,
▪ o pH da solução,
▪ os equilíbrios de complexação

Dependência do Ks com a temperatura


Dependendo do tipo de reações que ocorrem quando da mistura das soluções, o K s pode
aumentar ou diminuir. Assim, podem ocorrer dois casos distintos:
▪ Reação endotérmica – no caso de reações endotérmicas o Ks aumenta com o
aumento da temperatura indicando, também, um aumento da solubilidade.
▪ Reação exotérmica – no caso de reações exotérmicas o Ks diminui com o aumento
da temperatura, diminuindo, também, a solubilidade.

O efeito do ião comum

Se se analisar a equação de equilíbrio de dissociação para, por exemplo, o sulfato de


alumínio (indicada abaixo), aplicando o princípio de Le Châtelier, verifica-se que, ao
aumentar a concentração de um dos iões, por exemplo o ião sulfato, o equilíbrio se irá
deslocar no sentido de formação de sulfato de alumínio sólido, diminuindo, portanto, a
solubilidade deste sal. Este efeito é denominado, efeito do ião comum.

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Al2(SO4)3(s) ↔ 2 Al3+(aq) + 3 SO42-(aq).

Desta forma se justifica o facto de que quando se adiciona sulfato de sódio (Na2SO4) a uma
solução saturada de sulfato de alumínio (Al 2(SO4)3), aumentando assim a concentração do
ião SO42-, uma parte do sulfato de alumínio em solução precipitará.

Influência do pH da solução na solubilidade

Num equilíbrio de dissolução em que entrem iões OH-, tal como o equilíbrio de dissolução
do hidróxido de cálcio, por exemplo, o pH da solução irá afeta a solubilidade do sólido.

Ca(OH)2(s) ↔ Ca2+(aq) + 2 OH-(aq)

Pelo princípio de Le Châtelier, verifica-se que ao aumentar a concentração de iões


OH- (aumentando o pH) na solução, o equilíbrio desloca-se no sentido da formação de
Ca(OH)2 sólido, reduzindo, então, a solubilidade deste. Por outro lado, ao aumentar a
concentração de iões H3O+ (diminuindo o pH) vamos reduzir a concentração de iões
OH- em solução, pelo que a solubilidade aumenta.

Influência dos equilíbrios de complexação na solubilidade

A solubilidade de um determinado composto depende, também, da sua capacidade para


formar Iões Complexos .
Por exemplo, se considerarmos o hidróxido de zinco (Zn(OH) 2), este, em água pura,
apresenta um produto de solubilidade baixo (Ks= 1,9x10-17, a 25ºC). No entanto, se houver
um excesso de hidróxido, a solubilidade do hidróxido de zinco é bastante maior, uma vez
que há a formação de um ião complexo.

Zn(OH)2(s) ↔ Zn2+(aq) + 2OH-(aq)

Zn2+(aq) + 4OH-(aq) ↔ [Zn(OH)4]2-(aq)

A constante de equilíbrio associada a um equilíbrio de complexação denomina-


se Constante de Formação do complexo, sendo designada por Kf.

Bom Estudo

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