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Doc_02_Tema: DETERMINISMO E LIBERDADE NA AÇÃO HUMANA

Respostas ao problema do livre arbítrio ] Filosofia _ 10ºAno

- Leitura atenta das informações que a seguir se apresentam.

➢ A NEGAÇÃO DO LIVRE-ARBÍTRIO E DA RESPONSABILIDADE


A. O Determinismo Radical e a noção de causalidade
A partir da ciência moderna, o mundo começou a ser entendido à luz das relações de causa-efeito: para qualquer
acontecimento E (efeito) existe uma causa C, de tal modo que dado C seguir-se-á E. A relação que existe entre causa e
efeito é uma relação de dependência e derivação necessárias, isto é, o efeito não existiria sem a causa, e não pode não
derivar da causa. Por exemplo:
O determinismo é a doutrina filosófica segundo a qual tudo o que acontece tem uma causa, ou seja, todos e cada um
dos fenómenos estão submetidos às leis naturais de carácter causal. Assim, todos os acontecimentos dependem
sucessiva e necessariamente das suas causas, de tal modo que um acontecimento pode ser simultaneamente efeito de
uma causa e causa de outro efeito.
Se todos e cada um dos fenómenos estão submetidos às leis naturais de carácter causal, então a própria ação humana
também deve ser entendida à luz de causas necessárias. Se tudo o que fazemos é determinado por uma causa
necessária, então, tudo o que fazemos é inevitável, não podíamos ter feito de outra maneira. Com efeito, se nos
acusarem de roubo, de violência ou de outros atos inaceitáveis, podemos sempre atribuir a culpa à causa que originou
essa ação e que o ser humano não controla. Pode-se atribuir o estatuto de causa a uma infância traumatizante ou a
uma doença mental para desculpabilizar o agente - afinal a culpa não é sua, ele foi apenas o efeito de causas que não
domina: os traumas de infância que não escolheu ter ou a doença mental que não queria ter mas que o impele, como
uma força cega, a agir de determinada maneira.
Considerar que tudo no mundo obedece a um conjunto de leis naturais e que nem a ação humana escapa ao
determinismo tem como consequência a negação do livre-arbítrio, ou a afirmação de que este é ilusório, e a total
desresponsabilização do agente. O determinismo torna a ação humana inevitável: o homem não pode agir de outro
modo. O comportamento humano é constrangido e predizível. O determinismo radical defende, assim, o
incompatibilismo entre a liberdade e o determinismo.

Objeção ao determinismo radical: Apesar do que nos diz a ciência, existem objeções fortes contra o determinismo
radical:
- a experiência da liberdade da vontade: A verdade é que não conseguimos abandonar a crença de que somos seres
conscientes e livres. A sensação interior de liberdade é de tal forma poderosa que parecemos incapazes de a
abandonar. Acreditamos que temos controlo sobre alguns acontecimentos.
- a tese determinista radical, ao negar a existência de ações livres, tem como consequência a negação da
responsabilidade moral. Rejeitar a ideia de que temos controlo sobre os acontecimentos implica recusar a moralidade
e a responsabilidade individuais e renunciar a sentimentos como o orgulho e a vergonha, culpa, mérito, assim como o
da apreciação das ações humanas enquanto louváveis ou condenáveis.

Texto:
“Quando alguém se esforçar por te negar que nós, seres humanos, somos livres, aconselho-te a que lhe apliques a prova do filósofo
romano. Na Antiguidade, um filósofo romano estava a discutir com um amigo que negava a liberdade humana e garantia que, para
todos os homens, não há maneira de evitar fazer o que fazem. O filósofo pegou no seu bastão e começou a dar-lhe pauladas com
toda a força que tinha. «Já chega, não batas mais!», dizia-lhe o outro. E o filósofo, sem deixar de surrá-lo, continuou a argumentar:
«Não dizes que não sou livre e que quando faço uma coisa não posso evitar fazê-la? Pois então, não gastes saliva a pedir-me que
pare: sou automático.» Até que o amigo reconheceu que o filósofo podia livremente deixar de bater-lhe, e só então o filósofo deu
descanso ao bastão. A prova é boa, mas só deves administrá-la em casos extremos e sempre com amigos que não saibam artes
marciais…” F. Savater, Ética para um Jovem, Publicações Dom Quixote, Lisboa, 2005, págs. 31-32

Tarefa 1:
1. Define o Determinismo radical.
2. Que crença teremos de abandonar se o determinismo radical for verdadeiro?
3. O determinismo radical implica ausência de responsabilidade. Porquê?
Escola Secundária José Falcão
Doc_02_Tema: DETERMINISMO E LIBERDADE NA AÇÃO HUMANA
Respostas ao problema do livre arbítrio ] Filosofia _ 10ºAno

➢ A AFIRMAÇÃO DA LIBERDADE E DA RESPONSABILIDADE


A. O Libertismo
O libertismo é a corrente que defende, de modo mais radical, o Livre-arbítrio e a responsabilidade do ser humano.
Para defender a Liberdade de escolha, considera-se que esta nem é causalmente determinada (determinismo) nem é
aleatória (indeterminismo)
Os libertistas consideram que as pessoas são especiais, que os seres humanos transcendem as leis da natureza. O
comportamento humano não é predizível porque não é causalmente determinado. Embora sejamos sistemas físicos, as
leis da natureza aplicam-se exclusivamente ao domínio não humano. Sugere-se, assim, que o agente tem o poder de
interferir no curso normal das coisas pela sua capacidade racional e deliberativa. É como se existisse uma categoria
especial de causalidade do agente, segundo a qual os agentes iniciam, ao agir, sequências de acontecimentos, sem que
esse desencadear seja, por sua vez, causalmente determinado.
Esta corrente defende que o agente não é determinado: ele tem o poder de se autodeterminar. Para tal defende-se a
dualidade entre o corpo e a mente e considera-se que esta última esta acima ou fora da causalidade do mundo
natural. Para diversos libertistas é o facto de possuirmos mente que nos torna especiais. A mente é a fonte não física da
consciência e da vontade de escolha e não é controlada por leis da natureza.
Imagina-se, assim, a existência de uma entidade mental que não se encontra na esfera da natureza e que tem a
capacidade de interferir com a ordem causal da natureza. O corpo do sujeito pode até ser determinado por causas
necessárias, mas a mente não está determinada, ela autodetermina-se.

B .Compatibilismo ou Determinismo Moderado


Esta teoria aceita a ideia que o mundo é regido por leis e a ideia de que os acontecimentos estão causalmente
relacionados. No entanto, considera que isto é compatível com a liberdade humana porque mesmo na circunstância de
termos feito qualquer coisa, temos a forte intuição de que poderíamos ter feito outra coisa se assim o tivéssemos
escolhido. Reduz, portanto a ênfase dada à causalidade, assumindo que esta é compatível com a liberdade. Na
perspectiva dos compatibilistas, mesmo que as nossas ações sejam causadas podemos sempre agir de outro modo, se
assim o escolhermos. Isto é suficiente para podermos ser responsabilizados e/ou culpabilizados por uma ação
inaceitável. A vontade é livre se não for constrangida, isto é, se não for forçada, apesar de ser também determinada.
Segundo os compatibilistas, somos livres quando as nossas ações são determinadas (causadas) mas não constrangidas
(forçadas). Somos livres, quando as nossas ações se baseiam nos nossos próprios desejos, sem que sejamos forçados,
interna ou externamente, a realizá-las. Assim, o comportamento do ser humano é completamente determinado por
forças físicas que operam sobre o seu corpo. Mas é livre quando algumas forças estão ausentes; por exemplo, é livre
quando não é forçado a fazer alguma coisa porque alguém aponta uma arma ao agente, ou quando este não sofre de
uma compulsão psicológica. Assim, a vontade de levantar um braço é simultaneamente livre se, por exemplo, não for
forçada por ninguém, e determinada pelas forças físicas que operam sobre o braço.

Objeções ao determinismo moderado ou compatibilismo


De facto existem. Ao admitirem que o determinismo é verdadeiro, os compatibilistas aceitam a tese segundo a qual
todas as nossas ações são consequências das leis da natureza e de acontecimentos precedentes remotos que não
controlamos. Tudo o que acontece é efetivamente determinado por certos tipos de causas psicológicas internas. Este
facto é suficiente para criar algum desconforto e pôr em dúvida a liberdade da vontade. O compatibilismo não
responde de forma consistente à questão: “poderíamos nós ter agido de outro modo, permanecendo idênticas todas as
condições?”.
Tarefa 2:
1. Por que razão o determinismo moderado é uma teoria incompatibilistas?
2. Identifica a tese que sustenta o compatibilismo.
3. Expõe as principais diferenças entre compatibilistas e libertistas.
Tarefa 3:
1. Identifica as teorias/respostas ao problema do livre-arbítrio

BOM TRABALHO! A Professora: Ana Paula Silva

Escola Secundária José Falcão

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