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Figura (10)

A educação na antiguidade
romana: a humanitas
Edilian Arrais*

CONTEXTO HISTÓRICO

A história dos romanos remonta ao segundo milênio a.C., podendo ser dividida em três períodos:

A realeza: de 753 a 509 a.C. — da fundação da Roma à queda do último rei etrusco. Com o
desenvolvimento da cultura de cereais a economia deixou de se basear no pastoreio, e mais tarde o
comércio transformou Roma em cidade (urbs). Surgiu a propriedade privada que dividiu em classes a
aristocracia de nascimento – os patrícios – e a maioria da população – os plebeus (homens livres,
camponeses, artesãos, comerciantes, sem direitos políticos). Entre os plebeus havia os clientes, assim
chamados por dependerem de família patrícia que oferecia proteção jurídica em troca de prestação de
serviços. Havia poucos escravos, mas esse sistema começava a ser implantado.

A república: de 509 a 27 a.C. — Com a queda do último rei etrusco iniciou-se a República, que
representava os interesses dos patrícios, únicos a terem acesso a cargos políticos. Com o enriquecimento
de algumas camadas da plebe – especialmente das que se dedicavam ao comércio -, intensificaram-se as
lutas pelas igualdades de direitos políticos e civis. Surge uma nova aristocracia – não mais determinada
pelo nascimento e sim pela riqueza – que aspirava ocupar os altos cargos públicos. Enquanto isso os
plebeus continuavam à margem do processo político. A política expansionista começou no século V a.C.
e muitas transformações decorreram disso. Nasceram grandes fortunas e ampliou-se a escravidão – que
favoreceu a economia da Roma antiga.

O império: de 27 a.C. a 426 d.C. – da instauração do Império à sua queda, com a invasão dos bárbaros.
As manobras de César em busca do poder absoluto demonstravam a fragilidade da República. No Século
do Augusto, houve grande desenvolvimento cultural e urbano. Houve incentivo das artes e escritores
como Virgílio, Horácio, Ovídio e Tito Lívio sofreram nítida influência helenística. De uma complicada
máquina burocrática, o Império aumentou o contingente de funcionários do governo, sobretudo para
arrecadação de impostos nas províncias. Dada a complexidade das questões de justiça, desenvolveu-se a
instituição do Direito Romano. O surgimento do cristianismo foi no mesmo período do Império, e durante
muito tempo essa doutrina cristã foi considerada subversiva pelos romanos, por não aceitar os deuses
pagãos – era uma religião monoteísta - nem render culto ao divino imperador e por ter como adeptos
pobres e escravos. A perseguição dos cristãos começou com Nero (ano 64) até que Constantino permitiu a
liberdade de culto em 313. No final do século IV o cristianismo se tornou a religião oficial. A partir do
século II d.C. teve início a decadência do Império, marcada por lutas pelo poder, cada vez mais
personalista, altos impostos, corrupção, esvaziamento dos cofres públicos e dissipação dos costumes.
Século II, com o cessar das guerras de expansão e a crise no escravismo, surgiu o sistema de colonato (os
agricultores livres ficavam presos à terra que cultivavam, pagando os proprietários com uma parte da
produção). O declínio do artesanato e do comércio provocou a ruralização da economia, até que as
invasões bárbaras fragmentou o império no início do século V, sendo então dividido entre Ocidental
(Roma) e Oriental (Constantinopla).

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EDUCAÇÃO NA ANTIGUIDADE ROMANA

O que é Humanitas

A cultura universalizada pode ser expressa pela palavra humanitas – no sentido literal de humanidade e,
mais propriamente, de educação, cultura do espírito e equivalente à Paidéia grega. Distingue-se desta, no
entanto, por se tratar de uma cultura predominantemente humanística e, sobretudo, cosmopolita e
universal, buscando aquilo que caracteriza o ser humano, em todos os tempos e lugares. Com o tempo, a
Humanitas degenerou, restringindo-se ao estudo de letras e descuidando-se das ciências. Podemos
distinguir três fases na educação romana:

• Educação latina original, de natureza patriarcal;


• Influência do helenismo, criticada pelos defensores da tradição;
• Por fim, a fusão entre a cultura romana e a helenística.

Educação heroico-patrícia

Os proprietários rurais e guerreiros recebiam uma educação que visava a perpetuar os valor
da nobreza de sangue e cultuar os ancestrais.

Até os 7 anos a criança permanecia aos cuidados da mãe ou matrona (mulher


respeitável). Depois disso as meninas aprendiam no lar os serviços domésticos, enquanto
o pai se encarregava pessoalmente da educação do filho. Por seu uma sociedade agrícola,
o menino aprendia a cuidar da terra, atividade que o colocava lado a lado senhor e
escravo. Aprendia a ler, escrever, contar bem como o manejo de armas, a natação, luta e
Figura (11) equitação. Os exercícios físicos visavam a formação do guerreiro.

Aos 15 anos ele acompanhava o pai ao foro (praça central) onde se fazia comércio e eram tratados
assuntos públicos e privados. Ali se aprendia o civismo. Caso o pai não pessoalmente essas tarefas –
devido às guerras -, um parente próximo ou mesmo um escravo instruído assumia seu lugar.

Aos 16 anos o jovem era encaminhado à função militar ou política. A educação era pouco volta da para
preparo intelectual e mais para formação moral.

Educação cosmopolita

Na época da República, com o desenvolvimento do comércio e a sociedade emergente mais complexa, era
exigida uma nova forma de educar. A partir do século IV a.C. foram criadas escolas elementares
particulares, onde se aprendia a ler, escrever e contar, dos 7 aos 12 anos. Os mestres eram simples e mal
pagos e ajeitavam-se em qualquer espaço: uma tenda, a entrada deum templo ou edifício público. São
desse período as escolas dos gramáticos, em que os jovens de 12 aos 16 anos entram em contato com os
clássicos gregos, ampliando seus conhecimentos literários, ao mesmo tempo em que estudavam as
disciplinas reais, como geografia, aritmética, geometria e astronomia. Surgiu então um terceiro grau de
formação, representada pela escola do retor (professor de retórica), que eram mais respeitados e melhor
pagos. As escolas superiores desenvolveram-se no decorrer do século I a.C. e cresceram durante o
Império. Eram frequentados por jovens da elite, que se destacariam na vida pública e estudavam política,
direito e filosofia, sem esquecer as disciplinas reais, próprias do saber enciclopédico. A educação física
merecia atenção dos romanos, mais para formação de artes marciais e com características menos voltadas
para os esportes.

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Educação no império

A administração do Império requeria uma bem montada máquina burocrática, exigindo de seus
funcionários pelo menos instrução elementar. Já no século I a.C. o Estado estimulava a criação de escolas
municipais em todo o Império. Outro destaque para a época do Império foi o desenvolvimento do ensino
terciário, com os cursos de filosofia e retórica, e a criação de cátedras de medicina, matemática, mecânica
e, sobretudo, escolas de direito. A continuidade dos estudos era exigência para quem almejava cargos
mais altos. Inúmeras bibliotecas foram criadas e os romanos se apropriaram de nas regiões conquistadas.

PEDAGOGIA: características gerais

Os romanos usavam os escravos para os trabalhos manuais. Enquanto isso, a aristocracia se dedicava ao
“ócio digno”, ocupando-se com atividades intelectuais, politicas e culturais.

Diferentemente da Grécia, em Roma a reflexão filosófica não mereceu atenção de modo tão sistemático.
Quintiliano e outros pedagogos encaravam a filosofia até com certa descrença, e quando a ela recorriam
preferiam os assuntos éticos e morais.

PRINCIPAIS REPRESENTANTES

Assim como a produção filosófica era modesta entre os romanos, também a pedagogia, quando existia,
quase sempre estava voltada para questões práticas. É também tardia já que seus principais representantes
– Cícero, Sêneca e Quintiliano – surgem por volta dos séculos I a.C. e Id.C.

Cícero (106 – 43 a.C): destaca-se, embora sua filosofia não fosse original, mas eclética, composta de
idéias de diversos sistemas como o platonismo, epicurismo e o estoicismo. Homem culto, de saber
universal, ele valorizava a fundamentação filosófica do discurso, tornando-o um dos mais claros
representantes da humanitas romana. Para ele a educação integral do orador requer cultura geral,
formação jurídica, aprendizagem da argumentação filosófica, bem como o desenvolvimento de
habilidades literárias e até teatrais, importantes para o exercício da persuasão.

Sêneca (4 a.C – 65 d.C.): segundo sua visão, a educação prepara para o ideal de vida estóico: o domínio
dos apetites pessoais, enfatizando a formação moral e dando menor importância à retórica,
tradicionalmente valorizada. Ocupou-se também da psicologia como instrumento de preservação da
individualidade.

Marco Flávio Quintiliano (35 – 95 d.C): ao contrário de Cícero, distanciou-se da filosofia, preferindo os
aspectos técnicos da educação, sobretudo a formação de orador. Não se prendia a discussões teóricas, mas
procurava fazer observações técnicas e indicações práticas. Considera importante a aprendizagem em
grupo, atividade que favorece a emulação, de natureza altamente saudável e estimulante. No ideal de
formação enciclopédico, ele inclui exercícios físicos sem exagero e o estudo da gramática.

Outras tendências

Em 395, quando o Império Romano foi dividido em duas partes (Oriente e Ocidente) , o Império Oriente
desenvolveu intensa vida cultural e religiosa. Essa cidade seria o local de ebulição intelectual, em que
inúmeros copistas aperfeiçoaram cuidadosas técnicas de reprodução de obras clássicas.

Outro aspecto relevante nesse momento de decadência foi a crescente importância da educação cristã (e
religião proibida tornou-se religião oficial do Império).

PALAVRAS-CHAVE

Conhecimento Prático — Ócio – Formação intelectual da elite

*
Graduada em Letras Português/Espanhol; pós-graduanda em Ensino de
13 Língua Espanhola.

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