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EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE QUE COMARCA?

HERNANDES DA CONCEIÇÃO GUEDES,


brasileiro, solteiro, profissão entregador de talão, domiciliado e
residente na cidade de Belém/PA, passagem Santa Inês, n° 622, bairro
Atalaia, CEP 67013-550, portadora do CPF/MF 759.368.282-04 e do RG
4067717 PC/PA, COMPROVADAMENTE PRIMÁRIA e de bons antecedentes, vem, por
seu representante infrafirmado, perante Vossa Excelência, com amparo no
artigo 5º, XVIII da Constituição Federal de 1988, e observância dos
artigos 647 e segs. da lei processual penal impetrar ordem de

HABEAS CORPUS

em seu favor, pelos seguintes motivos de fato e de direito que abaixo


passa a expor:

1. O paciente foi detido na data de 10.04.2010, tendo sido DEVIDAMENTE


IDENTIFICADO pela autoridade policial.

2. Indiciado em Inquérito Policial em decorrência da suposta prática do


delito tipificado no Artigo 33 da Lei 11.343/06, na modalidade “trazer
consigo”, conforme documentação em anexo, sem que, para tanto, se
observasse os requisitos contidos no artigo 302 do CPP.

3. Entretanto, em que pese às razões do indiciamento, saliente-se o fato de


que em nenhum momento restou evidenciado que o impetrante “trazia
consigo”, o objeto do fato, visto que em depoimento os policiais relatam
ter encontraram o objeto do fato nas proximidades e não na posse do
mesmo.

4. Nesse sentido, o paciente não estava “cometendo a infração penal”, nem


“acaba de cometê-la”, nem foi “perseguido, logo após, pela autoridade,
pelo ofendido ou por qualquer pessoa, em situação que faça presumir ser
autor da infração”; nem tampouco “encontrado, logo depois, com
instrumentos, armas ou objetos que façam presumir ser ele autor da
infração”.

5. Portanto, inexiste, no caso, a chamada “flagrância” que ensejaria a


prisão do paciente.

6. Entretanto, cumpre-nos assinalar o fato de que o plenário do SUPREMO


TRIBUNAL FEDERAL, entendendo que a prática em questão violaria os
PRINCÍPIOS DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA e do DEVIDO PROCESSO LEGAL, declarou
a inconstitucionalidade do artigo 14 da Lei N° 10.826/2003 que proibia a
concessão de liberdade provisória mediante fiança nos casos anotados em
lei.

7. Por outro lado, assevera PAULO RANGEL, in DIREITO PROCESSUAL PENAL, 15ª
edição, pág. 658:

“A prisão provisória ou cautelar não pode


ser vista como reconhecimento antecipado
de culpa, pois o juízo que se faz, ao
decretá-la, é de periculosidade e não de
culpabilidade.”

8. Nesse mesmo sentido, disciplina sobre os requisitos para a medida


cautelar, na pág. 661:

“...mister se faz, também, que preexistam


dois requisitos, ou como se diz: dois
pressupostos. São eles: o ‘periculum in
mora’ e o ‘fumus boni iuris’.”

“O periculum traduz-se pelo binômio


urgência e necessidade.”

“O fumus traduz-se no binômio prova de


existência de crime e indícios suficientes
de autoria.”

9. A Paciente possui RESIDÊNCIA FIXA – comprovante em anexo – cujo endereço


vai assinalado acima e, sendo PRIMÁRIA E DE BONS ANTECEDENTES, não possui
qualquer assentamento referente a sentenças penais transitadas em
julgado.

10. É pessoa benquista na comunidade.

11. DESENVOLVE ATIVIDADE LABORAL FIXA a mais de 2(dois) anos, conforme cópia
da CTPS, em anexo, e complementa o rendimento familiar trabalhando
durante a noite como “moto-taxi nas proximidades de sua residência”.

12. Diante disso, há que se reconhecer o preenchimento dos requisitos


necessários ao atendimento do pleito.

13. A respeito disso, cumpre-nos lembrar que os PRINCÍPIOS DA PRESUNÇÃO DE


INOCÊNCIA e do DEVIDO PROCESSO LEGAL se encontram consagrados na
Constituição Federal.

14. Entretanto, em que pese às razões expendidas na decisão acima


referenciada, saliente-se o fato de que em nenhum momento restou
evidenciado o requisito do periculum libertatis; da necessidade de
garantia da ordem pública ou da garantia de aplicação da lei penal ou
ainda em razão da conveniência da instrução criminal.
DA DESNECESSIDADE DA CUSTÓDIA PREVENTIVA E DA PRESUNÇÃO
DE INOCÊNCIA

15. Por outro lado, assevera JULIO FABBRINI MIRABETE, in CÓDIGO DE


PROCESSO PENAL INTERPRETADO, 8ª edição, pág. 670:

“Como, em princípio, ninguém dever ser


recolhido à prisão senão após a sentença
condenatória transitada em julgado,
procura-se estabelecer institutos e
medidas que assegurem o desenvolvimento
regular do processo com a presença do
acusado sem sacrifício de sua liberdade,
deixando a custódia provisória apenas para
as hipóteses de absoluta necessidade.”

16. Se a ordem pública, a instrução criminal e a aplicação da lei


penal não correm perigo, deve o writ ser concedido até mesmo àquele que
foi preso em flagrante. Em face disso, o que se dizer daquele a quem não
foi sequer oportunizada a elaboração de defesa dentro do contraditório ?

17. Até porque, a prisão cautelar se constitui numa medida


excepcional, sob pena de antecipar a reprimenda a ser cumprida quando da
eventual condenação.

18. Corroborando o entendimento de que inexiste suporte legal para


manutenção do paciente no cárcere, chamamos à atenção o que dispõe o
inciso LXVI, do art. 5º, da Carta Magna:

LXVI – ninguém será levado à prisão ou


nela mantido, quando a lei admitir a
liberdade provisória, com ou sem fiança;

19. Nesse mesmo sentido, no inciso LIV, do mesmo artigo supracitado,


temos:
“LIV – ninguém será privado da liberdade
ou de seus bens sem o devido processo
legal;”

20. O caso em apreço reclama a necessidade de aplicação dos


dispositivos constitucionais acima transcritos.

21. Observe-se que, conforme entendimento dos tribunais pátrios, nem


mesmo a gravidade do crime imputado ao indiciado prescinde de razões
sérias e fundadas, devidamente especificadas.

DO PEDIDO FINAL

22. Tendo em vista os argumentos acima expendidos acerca do perfil


do paciente e das condições em que se deu a aludida prisão em flagrante,
requer a V. Exa. que o presente pedido seja julgado procedente - AGUARDA-
SE PRONUNCIAMENTO LIMINAR FAVORÁVEL - a fim de que cesse o
constrangimento ilegal que vem sofrendo o Sr. HERNANDES DA CONCEIÇÃO
GUEDES, expedindo-se, assim, a sua “ORDEM DE SOLTURA”, por ser esta uma
medida que de DIREITO se impõe e de JUSTIÇA se reveste.

E. deferimento.

Belém, 10 de Abril de 2010.

MARCO ANTONIO MIRANDA DOS SANTOS


CPF. 816.535.062-53

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