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PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DOS CASOS CONFIRMADOS DE RAIVA ANIMAL

DE 2000 A 2005 NO ESTADO DA BAHIA

Fátima Cristina de Souza1, Deborah Daniela M. T. Carneiro1, Edgar Pinho Cerqueira1

RESUMO
A raiva é uma antropozoonose transmitida por mamíferos através da inoculação do vírus rábico
contido na saliva do animal infectado. É considerado um grave problema de saúde pública
apresentando letalidade de 100% e de grande importância econômica pelo alto custo na assistência
preventiva às pessoas expostas ao risco. As principais atividades desenvolvidas pelo Programa da
Raiva incluem o tratamento preventivo contra a raiva humana, vacinação animal, diagnóstico
laboratorial, vigilância epidemiológica e educação em saúde. Este artigo mostra o perfil
epidemiológico nas diferentes espécies encontradas no Estado da Bahia de 2000 a 2005. Neste período
foram analisadas no Laboratório Central 7.102 amostras do Sistema Nervoso Central de diferentes
espécies animais dos Municípios do Estado da Bahia. Foram confirmadas para raiva 896 amostras
distribuídas em 444 caninos, 42 felinos, 332 bovinos, 38 raposas, 17 eqüinos, 9 ovinos, 5 quirópteros,
4 bubalinos, 3 caprinos e 2 asininos. No ano 2000 das 825 amostras examinadas, 201(24,3%) foram
positivas para raiva com a participação de 103 caninos, 21 felinos, 71 bovinos, 1 quiróptero, 1 raposa e
4 de outras espécies. Em 2005 das 1.586 amostras examinadas 63(3,97%) foram positivas e, destas, 18
caninos, 38 bovinos, 5 raposas, 1 ovino e 1 eqüino registrados positivos. Os casos de raiva canina e
felina têm diminuído acentuadamente enquanto o número de casos em bovinos, raposas, eqüinos vem
aumentando gradativamente e assinala a situação da raiva alertando para o envio sistemático de
amostras, o aumento das coberturas vacinais em cães e gatos, a obrigatoriedade da vacinação de
bovídeos, eqüídeos, ovinos e caprinos, o controle populacional de quirópteros e adoção de cuidados
com a fauna silvestre.

Palavras-chave: raiva, epidemiologia, zoonoses.

SUMMARY
EPIDEMIOLOGICAL PROFILE OF THE CONFIRMED CASES OF ANIMAL RABIES
BETWEEN 2000 TO 2005
Rabies is a antropozoonosis transmited by mammals throught the rabic virus innoculation contained
in the saliva of the animal infected. It is considered a serious problem on the public health.It present
100% letality; it has a high cost to the people infected. The basic activities developed in the program
of rabies include the preventive treatment against human rabies, animal vaccination, laboratorial
diagnostic, epidemiological surveillance and health education. During the period 2000 to 2005 were
analyzed in Laboratório Central 7.102 samples of central nervous system of differents animal species,
coming from Bahia State municipalities. There were confirmed rabies in 444 dogs, 42 cats, 33
bovines, 38 foxes, 17 equines, 9 sheeps, 5 bats, 4 buffalo, 3 goats and 2 asinines a total of 892
samples. In 2000 a 825 samples were examined, 201(24.3%) were positive for rabies: 103 dogs, 21
cats, 71 bovines, 1 bat, 1 fox and 4 others species. In 2005 increasing 1.586 samples examined
63(3.97%) were positives for rabies with 18 dogs, 38 bovines, 5 foxes, 1 equine and 1 sheep registred.
Cases of rabies in dogs and cats have been decreasing drastically while the number of cases in
bovines, foxes, equines and bats has been a gradualy increasing. The objetive of this article is a
present the epidemiological profile of rabies in different species in Bahia State of 2000 to 2005 and to
about the situation of rabies. The vaccination in dogs and cats is increasing, and an obligatory
vaccination the cattle, horses, sheep and goats, controling bats population and look after the wild
fauna.
Key Words: rabies, epidemiology, zoonosis
1
Médicos Veterinários da Gerência Técnica da Raiva/Diretoria de Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Saúde do
Estado da Bahia Telefax (71) 3270-5712 divep.raiva@saude.ba.gov.br; fcris@br.inter.net

INTRODUÇÃO

A raiva é uma antropozoonose transmitida por mamíferos através da inoculação do vírus rábico
contido na saliva do animal infectado. É considerado um grave problema de saúde pública
apresentando letalidade de 100% e de grande importância econômica pelo alto custo na assistência
preventiva às pessoas expostas ao risco, além do impacto emocional e psíquico pelo sofrimento e
ansiedade das pessoas agredidas diante do pânico de contrair a doença.

Segundo a Organização Mundial de Saúde na África e Ásia a mortalidade humana de raiva canina foi
estimada em 55 mil mortes por ano e 84% dessas mortes ocorreram na zona rural. Em alguns países da
Europa, Estados Unidos e Canadá as espécies silvestres são os principais transmissores da raiva. Na
América Latina, inclusive no Brasil a raiva é endêmica e os casos positivos se dividem entre as
espécies caninas e bovinas com as maiores participações.

O aumento na detecção de casos de raiva de morcegos, raposas e sagüis e a identificação de novas


variantes virais vêm apontando para uma mudança do perfil epidemiológico no Brasil. Nos cinco anos
estudados as principais espécies agressoras canina e quiróptera causaram 148 mortes humanas. Entre
as quais, 73 na região Nordeste, sendo 24 registradas no Estado do Maranhão em 2005. (Ministério da
Saúde, 2006).

No Estado da Bahia de 2000 a 2004 ocorreram 9 óbitos de raiva humana sendo 7 transmitido por cães
e 2 por morcegos. Em 2005 não houve caso de raiva humana.

OBJETIVO

Analisar o perfil epidemiológico dos casos de raiva animal nas diferentes espécies encontradas no
Estado da Bahia entre os anos de 2000 e 2005.

MATERIAIS E MÉTODOS

A área de estudo compreende o Estado da Bahia com uma área de 567.661 km2 e, aproximadamente
13.552.649 habitantes, composto por 417 Municípios no período de 2000 a 2005

O Banco de Dados foi estruturado a partir dos casos de raiva animal diagnosticados pelo Laboratório
Central da Bahia (LACEN), onde foram utilizados fragmentos do Sistema Nervoso Central para o
preparo de lâminas e inóculo, sendo empregado o teste de imunofluorescência direta e a prova
biológica (inoculação em camundongos) para o diagnóstico laboratorial.

Foram analisados os seguintes dados: a espécie animal, o número de amostras enviadas e examinadas,
o resultado das amostras (positivas ou negativas) e o índice de positividade das espécies envolvidas.
RESULTADOS E DISCUSSÕES

Neste período de 2000 a 2005 foram encaminhadas para análise no LACEN 7.237 amostras de
diferentes espécies susceptíveis ao vírus rábico, sendo que destas, 7.102 foram examinadas e 135 não
tiveram condições de análise. Das amostras examinadas 6.206 foram negativas e 896 foram positivas
para as espécies: canina, 444 (50%); felina, 42 (5%); bovina, 332 (37%); raposa, 38 (4%); quiróptero 5
(1%); eqüino 17 (2%); ovino 9 (1%);- bubalino, 4; caprino,3 e asinino 2 – estes não obtiveram um
percentual significativo. Ao observar o índice de positividade das espécies analisadas, verifica-se que,
apesar do maior número de amostras positivas para espécie canina foi encontrada positividade bastante
significante (88%) na espécie canídea brasiliense silvestre (raposa) Tabela 1.

Tabela 1. Relação das amostras Enviadas / Examinadas / Positivas / Negativas e Índice de


Positividade de 2000 à 2005.

Fonte:LACEN/DIVEP/SESAB
Dos casos positivos e negativos registrados anualmente, nota-se um crescente aumento no número de
amostras examinadas durante os cinco anos estudados, sendo registrado uma elevação em 2004 com
1.807 amostras e 2005 com 1.586 amostras, porem com um decréscimo nos casos positivos de raiva,
de 201 amostras positivas em 2000 para 63 amostras positivas em 2005 Gráfico 2. Este aumento no
número de amostras pode estar relacionado aos casos ocorridos de raiva humana demonstrando maior
preocupação dos setores envolvidos no controle e prevenção da raiva, influenciando na queda da
incidência da raiva canina.

Gráfico 2. Numero de Casos Positivos e Negativos entre 2000 e 2005

Fonte: LACEN/DIVEP/SESAB
Embora a ocorrência freqüente da raiva bovina de 2000 a 2005 no Estado, houve uma diminuição dos
casos de raiva canina e felina registrados. Estas espécies até o ano 2004 foram as mais representativas,
porem no ano seguinte houve uma queda brusca.

o decréscimo de casos positivos de raiva se deve principalmente à diminuição do numero de casos de


raiva canina e felina registrados, já que estas espécies sempre foram as mais representativas.
Analisando no Gráfico 1 as amostras positivas por espécie, verifica-se em todos os anos amostras
positivas para raposa, totalizando 38 amostras positivas das 43 examinadas. Em 2000 (1), em 2001 (8),
2002 (4), 2003 (8), 2004 (12) e 2005 (5) amostras positivas.

Gráfico 1. Amostras Positivas por Espécie de 2000 à 2005

Fonte:LACEN/DIVEP/SESAB
Entretanto, destaca-se o alto índice de positividade encontrado nesta espécie, principalmente nos anos
de 2004 e 2005. Das 14 amostras analisadas 12 foram positivas em 2004, ou seja, um índice de 86%
de positividade e em 2005 das 5 amostras analisadas 5 foram positivas, representando 100% de
positividade, conforme Tabela 2. É preocupante essa alta incidência em raposas já que o controle da
raiva em animais silvestres é difícil e a eficácia da vacina nesses animais não está bem estabelecida no
Brasil. (Instituto Pasteur)

Tabela 2. Relação das amostras Enviadas / Examinadas / Positivas / Negativas e Índice de


Positividade em 2005.

Fonte: Divep/Sesab/Lacen
Essa alteração significativa no perfil epidemiológico melhor representada no gráfico 4 (pizzas),
também foi relatada por Kotait Ivanete , onde cita que ao controlar a raiva canina e felina a
problemática da raiva recaiu sobre as espécies silvestres das Ordens Carnívora e Chiroptera.

Gráfico. 4 Impacto de Positividade por Espécie


CONCLUSÃO

Os dados analisados permitem concluir que:

Os casos de raiva canina e felina têm diminuído acentuadamente enquanto o número de casos
em bovinos, raposas, eqüinos vem aumentando consideravelmente, entretanto não houve
significância nos casos positivos para a espécie quiróptera.

Continua sendo necessário o envio sistemático de amostras, para os quirópteros, pois existem
áreas silenciosas no Estado da Bahia, o que provavelmente, resulte na escassez de amostras
positivas para os quirópteros;

A manutenção das coberturas vacinais em cães e gatos ;

A obrigatoriedade da vacinação de bovídeos, eqüídeos, ovinos e caprinos;

O controle populacional dos quirópteros;

Adoção de cuidados com a fauna silvestre, principalmente em relação às raposas;

Esse trabalho é continuo uma vez que não nos permite ainda definir o perfil epidemiológico no
Estado da Bahia uma vez

REFERÊNCIAS

World Health Organization Expert Commitee on Rabies. Nineth Report World Health Organization
Technical Report Series n.931, 89pp, 2005.

Brasil, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Controle da Raiva dos Herbívoros –


Brasília: MAPA/DAS/DAS, 2005.

Brasil, Ministério da Saúde, Guia de Vigilância Epidemiológica

Kotait, I.Raiva em morcegos em áreas urbanas no Estado de São Paulo.Bepa - Boletim


Epidemiológico Paulista, Ano 2, n. 20, 2005.

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