Fonte material: diz respeito ao órgão que pode produzir uma lei processual penal. Esse órgão é a união federal. Trata-
se de competência privativa.
Fonte formal: consistem no modo/forma como o direito processual penal é exteriorizado (colocado no mundo
jurídico). As fontes formais se dividem em formal mediata/indireta e formal imediata/direta.
Fonte imediata/direta: é a lei em sentido amplo, tipo constituição federal, leis, tratados, entre outros.
Fonte mediata/indireta: são os costumes, a doutrina, os princípios gerais do direito, a analogia e a jurisprudência.
SISTEMAS PROCESSUAIS
INQUISITIVO
ACUSATÓRIO
✓ A acusação e o julgamento são feitos por pessoas diferentes
✓ Existe o contraditório e a ampla defesa
✓ Tem característica a oralidade, publicidade e imparcialidade
✓ É vedado o sistema de provas tarifadas
✓ O sistema brasileiro não é o acusatório puro
MISTO
✓ A fase persecutória preliminar é conduzida pelo magistrado
✓ Na fase acusatória é assegurado todos os direitos
PRINCIPIO DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA/NÃO CULPABILIDADE: diz que ninguém é considerado culpado no curso
da investigação ou no curso do processo. “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença
penal condenatória”.
PRINCIPIO DA IGUALDADE PROCESSUAL/PARIDADE DE ARMAS: diz que as partes devem estar em posição de
igualdade no processo penal, isso quer dizer que a acusação e a defesa devem ter as mesmas oportunidades e as
mesmas condições processuais.
PRINCIPIO DA AMPLA DEFESA: diz que deve ser assegurada aos acusados a efetiva possibilidade de se defender dentro
do processo.
“aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e a
ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes”.
O princípio da ampla defesa se divide em outros dois subprincípios: a autodefesa e a defesa técnica.
Autodefesa: é a possibilidade de o réu se defender dos fatos imputados a ele através do direito de presença (estar
presente nas audiências) e do direito de audiência (de ser ouvido).
Defesa técnica: é a possibilidade/obrigatoriedade de o réu ser defendido por alguém regularmente habilidade para
tal. A falta de defesa técnica é causa de nulidade absoluta do processo.
Obs.: não basta que a ampla defesa seja oportunizada de forma abstrata ao réu, é necessário que ela seja eficaz. Ou
seja, de nada adianta permitir que o réu apresente provas se o juiz se recusar a valorá-las. No mesmo sentido, não
adianta ter um advogado se ele não pode se manifestar.
PRINCÍPIO DO IN DUBIO PRO RÉU: diz que, em caso de dúvida, a decisão deve favorecer o réu. Entre privilegiar a
aplicação da pena e privilegiar a liberdade do réu, o ordenamento jurídico fica com esse último.
Obs.: existe o princípio do in dubio pro societate, e diferente do in dubio pro réu, o pro societate privilegia a persecução
penal e não a liberdade do indivíduo. Porem só acontece no oferecimento da denúncia (se há dúvida entre oferecer
ou não a denúncia, deve ser oferecida) e na fase de pronuncia do júri (quando há dúvida se o crime cometido é ou não
para ser julgado pelo júri, nesse caso deve ser).
PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO: diz que um aparte deve ter a possibilidade de se pronunciar sobre os fatos e provas
apresentadas pela outra parte.
PRINCÍPIO DO JUIZ NATURAL: por esse princípio, o juiz que vai julgar um processo deve ser escolhido previamente e
segundo regras objetivas. Não haverá juízo ou tribunal de exceção. Além do princípio do juiz natural, temos a existência
dos princípios do promotor natural e do defensor natural, que seguem a mesma lógica do juiz natural.
PRINCÍPIO DA PERSUASÃO RACIONAL/LIVRE CONVENCIMENTO MOTIVADO: diz que todas as decisões do poder
judiciário serão fundamentadas, sob pena de nulidade. Ou seja, o juiz é livre para formar seu convencimento, mas o
mesmo deve ser fundamentado.
PRINCÍPIO DA VEDAÇÃO DAS PROVAS ILICÍTAS: o nosso ordenamento jurídico veda o uso de provas obtidas por meios
ilícitos. Em relação a esse princípio deve-se observar a teoria dos frutos da árvore envenenada, que diz que as provas
derivadas das provas ilícitas também são ilícitas.
“são também inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas, salvo quando não evidenciado o nexo de causalidade entre
umas e outras, ou quando as derivadas puderem ser obtidas por uma fonte independente da primeira”.
PRINCÍPIO DA NÃO AUTOINCRIMINAÇÃO: diz que ninguém é obrigado a produzir provas contra si mesmo. Como por
exemplo o direito de não ser obrigado a depor contra si mesmo, nem a declarar-se culpado. Porém não permite que
o indivíduo se passe por outra pessoa, aí é crime de falsidade ideológica.
LEI PROCESSUAL NO ESPAÇO
A lei processual penal é aplicada aos processos penais no território nacional, ressalvado os tratados, as condições e
regras de direito internacional.
No ordenamento jurídico brasileiro temos outras normas processuais, diferentes do processo penal, que podem ser
aplicadas no território brasileiro, como: crimes de responsabilidade e crimes de competência militar. Nesses casos
prevalece as leis especiais e o processo penal será usado de forma subsidiária.
Obs.: o processo penal, diferente do direito penal, não possui o efeito da extraterritorialidade, pois o processo só é
aplicado no território brasileiro (territorialidade absoluta).
Obs.: uma lei processual nova é aplicável a fatos que ocorreram antes da sua vigência, porém em relação aos atos, só
rege os atos posteriores a sua vigência.
Integração: é preencher lacunas legais na norma jurídica, e pode ser feita através da analogia, dos costumes e dos
princípios gerais do direito.
INTERPRETAÇÃO PELA ORIGEM: pode ser autentica (feita na própria lei), doutrinária (feita pelos estudiosos) ou
jurisprudencial (feita baseado nos reiterados julgamentos).
INTERPRETAÇÃO PELO MODO: pode ser gramatical (sentido literal), teleológica (finalidade), histórica (fator que a
justificam) e sistemática (integração global).
INTERPRETAÇÃO PELO RESULTADO: pode ser restritiva (diminui o alcance), extensiva (aumenta o alcance) e declarativa
(a lei foi na medida).
RELAÇÕES CONSULARES: cônsules não representam o seu estado. A sua imunidade é somente para o exercício da
função e não extensiva aos familiares.
INQUÉRITO POLICIAL
Inquérito policial é um procedimento administrativo e inquisitivo, presidido exclusivamente por uma autoridade
policial, com a finalidade de investigar fatos, podendo colher elementos de informação sobre a existência de crimes e
sua autoria, buscando viabilizar uma posterior ação penal.
O inquérito policial tem natureza jurídica de procedimento administrativo (extrajudicial), chefiado por uma autoridade
administrativa (delegado da PC ou delegado da PF).
Obs.: irregularidades/vícios no inquérito policial não anulam o processo, uma vez que inquérito policial e processo são
fases distintas.
Obs.: outras autoridades administrativas, nos casos previstos em lei, podem realizar o inquérito, tais como CPI e
inquérito policial militar.
SIGILOSO: o inquérito policial é sigiloso, mas não absoluto. Como exceção ao sigilo temos a polícia, o Ministério
Público, o Juiz e o defensor do suspeito que tem acesso aos elementos já documentados.
INQUISITIVO: não tem contraditório e ampla defesa no inquérito policial, logo o valor probatório é reduzido. No
interrogatório, é necessário informar ao suspeito seus direitos, como por exemplo o de constituir um advogado, mas
a falta deste não invalida o interrogatório, uma vez que ainda não estamos falando de processo (onde é obrigatório o
contraditório e a ampla defesa).
INDISPONIBILIDADE: a polícia não arquiva inquérito policial, somente autoridade judicial pode arquivar.
DISPENSABILIDADE: o inquérito policial não é obrigatório, pois se o M.P. já tiver indícios de autoria e materialidade
pode iniciar a ação penal sem o I.P. O Inquérito policial só acompanha a denúncia queixa-crime quando servir de base
desta.
DISCRICIONARIEDADE NA CONDUÇÃO: o delegado que chefia o I.P. pode conduzir o I.P. de acordo com o caso
concreto, não se obrigando a fazer todas as diligencias que o processo penal traz.
O inquérito policial é a primeira fase da persecução penal e caracteriza-se por ser um procedimento investigatório
pré-processual, administrativo e realizado exclusivamente pela polícia judiciária.
Em relação ao chefe da polícia judiciária, se de acordo com a lei, a autoridade policial for suspeita e ela própria não se
declarar suspeita (ela deve, mas nem sempre ocorre), não pode as partes alegarem suspeição, uma vez que se trata
de procedimento administrativo e as irregularidades e os vícios do inquérito policial não anulam o mesmo.
Obs.: Antes de falarmos do inquérito policial propriamente dito, temos que entender que o inquérito policial serve de
vase para subsidiar a ação penal. A ação penal pode ser privada ou pública (condicionada ou incondicionada).
AÇÃO PENAL PÚBLICA INCONDICIONADA: o M.P. não depende de condição específica para oferecer a denúncia.
A instauração do inquérito policial pode se dá por: oficio, a requerimento, por requisição, por auto de prisão em
flagrante e por notitia criminis/delatio criminis.
DE OFICIO
Nos crimes de ação penal pública o inquérito policial será iniciado de oficio. Ou seja, o delegado ao tomar
conhecimento da pratica de algum crime de ação penal pública, deverá instaurar o inquérito policial, se este for o
meio de investigação cabível. O delegado DEVE!
POR REQUERIMENTO
O requerimento é feito pela própria vítima ou quem puder representá-la para que o delegado instaure o inquérito
policial. Essa instauração não é obrigatória, pois trata-se de um “requerimento”, não de uma requisição. Porém, se
negada, pode ser impetrado recurso para o chefe de polícia.
NOTITIA CRIMINIS
É quando a autoridade policial tem conhecimento de infração penal e pode acontecer de 3 formas:
DELATIO CRIMINIS
É quando a autoridade policial toma conhecimento e dá início ao inquérito policial através de
comunicação/informação pela vítima ou qualquer do povo sobre o fato criminoso.
Obs.: a delatio criminis pode ser feita por denúncia anônima ou declaração apócrifa. Porém, como a CF veda o
anonimato, o I.P. não pode ser instaurado só por ela. O delegado recebe a denúncia anônima e tem que verificar a
procedência da informação por meio de diligências, e se tiver indícios, dá início ao inquérito policial.
Pessoas com foro privilegiado: depende de autorização do tribunal para o inquérito policial e indiciamento
Divergências investigatórias são diligencias que devem ser feitas quando o delegado tiver conhecimento da prática de
alguma infração penal.
As diligencias estão elencadas no artigo 6º do processo penal, mas é um rol meramente exemplificativo, tendo a
autoridade policial a discricionariedade para agir como melhor entender.
Dentro das diligências, temos a reprodução simulada, onde a participação do investigado não é obrigatória. Vale
lembrar que a reprodução simulada é vedada se contrariar a moralidade e a ordem pública.
Quando dos crimes do artigo 13ª, o M.P. ou o delegado de polícia podem requisitar a qualquer órgão público ou
empresa privada, dados e informações cadastrais da vítima ou suspeito, e essa solicitação deve ser atendida em 24h
e não precisa de autorização judicial. Os crimes são:
O artigo 13B que trata do tráfico de pessoas, também, tem diligencias especiais codificadas, onde diz “com o intuito
de prevenção e repressão ao crime de tráfico de pessoas, pode o M.P. ou o delegado de polícia, requisitar para
empresas de telecomunicação ou telemática, a disponibilização imediata dos meios técnicos adequados (sinais
telefônicos, localização de gps, entre outros). Essa requisição depende de autorização judicial, que tem 12h para
decidir, se perder o prazo, o M.P. ou o delegado de polícia pode fazer a requisição diretamente para a empresa de
telecomunicação.
Obs.: se pedido diretamente a empresa de telecomunicação, a duração do período será de até 30 dias, prorrogável
uma única vez por igual período. Se precisar de mais prorrogação, só com autorização judicial.
Obs.: as informações dadas pela empresa de Telecom se restringem a sinais de telefone, localização de GPS, entre
outros. Não se trata de acesso ao conteúdo da linha telefônica.
Obs.: a instauração do inquérito policial deve ser feita no máximo em 72h do registro da ocorrência/pedido de
informação das empresas telefônicas.
O investigado ou ofendido pode requerer diligências, podendo a autoridade policial deferir ou não. Porém, deve fazer
a diligência se a infração deixar vestígios, quando é indispensável o exame de corpo delito.
INDICAMENTO DO PRESO
O indiciamento do preso ocorre na fase do inquérito policial e é ato privativo do delegado de polícia. Em outras
palavras, o indiciamento é tornar oficial aquilo que já era previsto.
O indiciamento do acusado deve ocorrer até o recebimento da denúncia, pois se ocorrer depois, entende-se que se
trata de constrangimento ilegal, pois teríamos o inquérito policial atuando na fase do processo. Vale lembrar que a
ausência de indiciamento não gera nulidade do inquérito policial e nem do processo.
A prazo para a conclusão do inquérito policial se divide em prazo comum (o que está no CPP) e o prazo estipulado em
leis especiais e se dão de acordo com a situação do acusado:
✓ SE INDICIADO PRESO (regra normal do cpp): 10 dias, prorrogáveis por até 15 dias.
✓ SE INDICADO SOLTO (regra normal do cpp): 30 dias, prorrogáveis por decisão judicial se fato de difícil elucidação.
✓ SE INDICADO PRESO (inquérito da polícia federal): 15 dias, prorrogáveis por mais 15 dias.
✓ SE INDICIADO SOLTO (inquérito da polícia federal): 30 dias, prorrogável por decisão judicial.
✓ SE INDICIADO PRESO (inquérito policial de crimes da lei de drogas): 30 dias, podendo ser duplicado pelo juiz depois de
ouvir o MP.
✓ SE INDICIADO SOLTO (inquérito policial de crimes da lei de drogas): 90 dias, podendo ser duplicado pelo juiz depois de
ouvir o MP.
✓ INQUERITO POLICIAL DE CRIMES CONTRA A ECONOMIA POPULAR: 10 dias, tanto faz se preso ou solto, improrrogável.
✓ INQUERITO POLICIAL MILITAR: se preso 20 dias, se solto 40 dias, mais 20 dias em ambos os casos.
✓ SE TIVER EM PRISÃO TEMPORÁRIA: 5 dias prorrogáveis por mais 5 dias.
✓ SE TIVER PRESO POR CRIME HEDIONDO: 10 dias, prorrogáveis por mais 30 dias.
Obs.: o STJ decidiu que o prazo para condução do inquérito policial é improprio quando o indiciado estiver solto. E o
que isso significa? Que quando o indiciado estiver solto, esse prazo não gera nenhuma repercussão ou prejuízo.
Obs.: no processo penal a contagem dos prazos se dá excluindo o dia do começo e incluindo o dia do vencimento,
diferente do direito penal que se inclui o dia de início, salvo se o indiciado estiver preso, caso em que se contará o
prazo igual ao direito penal, incluindo o dia do início.
Concluídas as investigações, é gerado um relatório final, onde o delegado relata tudo o que foi apurado no
procedimento. Na verdade, um resumo do inquérito com as diligências mais importantes. Esse relatório é enviado ao
juiz competente e, além do relatório minucioso, pode indicar testemunhas não inquiridas no inquérito.
INQUERITO POLICIAL CONTRA AGENTES DE SEGURANÇA PÚBLICA
São infrações em relação a agentes da polícia federal, policia rodoviária federal, polícia ferroviária federal, polícia civil,
polícia militar, bombeiro militar, policia penal e forças armadas. Infrações penais praticadas com o uso da força letal,
o exercício da função, infração penal consumada ou tentada, incluindo as excludentes de ilicitude.
Nesse caso especifico, o indiciado pode constituir defensor, devendo ser citado da instrução da investigação. Se não
indicar em 48h defensor, a instrução que ele for vinculado deverá ser intimada para indicar um defensor.
O inquérito policial é indisponível pelo delegado. Ou seja, ele não pode mandar arquivá-lo, deve remeter ao M.P.
O M.P. pode pedir o arquivamento do inquérito policial ao juízo que se concordar arquiva. Mas quando o juízo entende
que não é cabível o arquivamento, ele remete os autos ao chefe do M.P. (MPU= PGR / MPE=PGJ) que pode,
entendendo também, não ser caso de arquivamento, oferecer a denúncia ele próprio ou designar outro membro do
MP que “deverá” oferecer a denúncia. Porém, se ao receber os autos do juízo pedindo o arquivamento e o chefe do
MP entender que, de fato, os autos devem ser arquivados, ele pede o arquivamento ao juízo que fica obrigado a
arquivar.
Existem alguns casos que são de competência originária dos tribunais superiores (STJ/STF), e nesses casos o membro do
MP que atua nos processos é o próprio chefe do MP (PGR/PGJ), logo, nesses casos não se aplica a reapreciação em caso
de arquivamento, se o chefe do MP pedir o arquivamento, os tribunais devem fazer.
Essas regras de arquivamento ou não do inquérito policial tem maior lógica nos crimes de ação penal pública, pois nos
crimes de ação penal privada o inquérito policial é encaminhado ao juízo ou ao ofendido (se ele pedir) e após 6 meses
sem oferecer a queixa-crime ocorre a decadência e não se fala em arquivamento.
Existem na doutrina outros 2 tipos de arquivamento do I.P., o arquivamento implícito que ocorre quando a denúncia é
feita parcialmente, só sobre alguns suspeitos ou fatos (subentende-se arquivado tudo que não consta na denúncia); e o
arquivamento indireto, que é quando o MP tem todos os elementos, mas deixa de denunciar por entender que o juízo
é incompetente.
TRANCAMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL
É tipo anômalo de encerramento por conta de decisão judicial, pois falta fundamento razoável para instaurar e
prosseguir com o inquérito policial, como por exemplo atipicidade, perseguição, entre outros.
Para que ocorra o desarquivamento do inquérito policial basta a notícia de novas provas. Novas provas podem ser
substancialmente (provas inéditas) ou formalmente (já eram conhecidas, porém ganharam uma nova versão).
Obs.: coisa julgada material (atipicidade da conduta ou extinção da punibilidade) proíbe o desarquivamento do inquérito
policial, mesmo com novas provas.
O valor probatório do inquérito policial é reduzido/relativo, uma vez que o procedimento é feito sem o
contraditório/ampla defesa. Mas, as provas colhidas no inquérito policial podem ser usadas no processo (momento em
que poderão ter o seu contraditório e ampla defesa), porém não podem ser usadas isoladamente para condenar, só
para absolver.
✓ O MP não pode instaurar e nem chefiar inquérito policial, isso é tarefa da polícia judiciaria (PC / PF). O que o MP
pode fazer é a requisição para que a autoridade policial o instaure. Porém, o MP pode realizar procedimentos
próprios de investigação.
✓ Os instrumentos do crime, bem como os objetos que interessarem às provas (que foram colhidos no curso do
Inquérito policial), acompanharão fisicamente os autos do inquérito.
✓ O inquérito policial acompanhará a denúncia ou a queixa-crime, sempre que servir de base a uma ou outra. Ou
seja, o inquérito policial pode ou não acompanhar os autos, só vai se possuir elementos basilares da denúncia
ou queixa-crime, podendo o MP se tiver elementos suficientes oferecer a denúncia diretamente sem o inquérito.
✓ O MP poderá requerer que o inquérito policial volte à autoridade policial se entender que as provas e/ou indícios
são insuficientes e que precisa de novas diligencias.
JUIZ DE GARANTIAS
Inserido pelo pacote anticrime, o juiz de garantias será responsável pelo controle da legalidade da investigação criminal
e proteção dos direitos individuais, abrangendo, com exceção das infrações de menor potencial ofensivo, todas as
infrações penais até o recebimento da denúncia ou queixa-crime.
Assim, caberá ao juiz de garantias atuar na fase da investigação, decidindo sobre atos a ela relacionados, como medidas
cautelares e meios de investigação, tendo competência até o recebimento da denúncia (início do processo) e fica
impedido de nele atuar. Diferente do juiz de garantias, o juiz de instrução e julgamento atua no processo penal durante
a fase instrutória, para produzir provas e julgar o mérito da acusação, não tem contato com os autos do inquérito, salvo
atos irrepetíveis ou antecipados e meios de obtenção de provas.
O preso em flagrante ou por força de mandado de prisão provisória será encaminhado à presença do juiz de garantias
no prazo de 24 horas, momento em que se realizará audiência com a presença do MP e da Defensoria pública ou de
advogado constituído, vedado o emprego de videoconferência) devido a pandemia, o CNJ permitiu a utilização desse
meio em casos de calamidade pública e que não seja possível a realização de forma presencial).
AÇÃO PENAL
A ação penal é o instrumento usado pelo titular da ação penal (MP, ofendido ou seu representante legal) para que o
estado exerça o jus puniende. Pode receber o nome de denúncia (se ação penal pública) ou queixa-crime (se ação penal
privada).
Ou seja, quando ocorre uma infração penal, nasce para o estado o direito de punir “jus puniende”, porém, pelo princípio
da inercia, essa ação penal não pode ser iniciada de oficio pelo estado, precisa de uma provocação (denuncia ou queixa-
crime).
A ação penal pode ser pública ou privada, sendo que a ação penal pública ainda se divide em ação penal pública
incondicionada e ação penal pública condicionada.
AÇÃO PENAL PÚBLICA INCONDICIONADAS: tem início pelo MP e é feita através de denúncia. É a regra, e o MP não
depende de condições específicas para oferecer a denúncia.
AÇÃO PENAL PÚBLICA CONDICIONADA: tem início pelo MP e é feita através de denúncia. A lei exige condições para
poder o MP oferecer a denúncia. O MP só pode oferecer a denúncia se preenchidas as condições: 1- representação do
ofendido ou do seu representante legal; 2- requisição do ministro da justiça.
AÇÃO PENAL PRIVADA: tem iniciativa pelo próprio particular (ofendido ou seu representante legal) e é feita através de
queixa-crime.
Obs.: para que se tenha a ação penal privada ou a ação penal pública condicionada, precisa ter disposição expressa em
lei, pois na omissão da lei, subentende-se ser ação penal pública incondicionada.
Para que a ação penal seja válida, precisa de 4 condições, na falta de qualquer dessas condições, a ação penal é rejeitada,
a saber:
1. Legitimidade
2. Interesse de agir
3. Possibilidade jurídica do pedido
4. Justa causa
Obs.: nas ações penais públicas condicionadas, além das 4 condições da ação, precisa, também, da representação do
ofendido ou do seu representante legal ou do requerimento do ministro da justiça.
LEGITIMIDADE
Pode ser a legitimidade ativa ou passiva. Na legitimidade ativa, diz respeito a quem pode entrar com a ação penal, quem
pode ser o autor; já na legitimidade passiva, diz respeito a quem pode sofrer a ação penal, quem pode ser réu.
LEGITIMIDADE ATIVA
Obs.: na hipótese de falecimento ou ausência do ofendido na ação penal privada, tem legitimidade ativa o cônjuge ou
companheiro, ascendente, descendentes e irmãos.
LEGITIMIDADE PASSIVA
Obs.: sujeito ativo do processo penal é quem dá início a ação, diferente do direito penal que é o autor do delito o sujeito
ativo.
Obs.: as pessoas jurídicas possuem legitimidade ativa, porém a legitimidade passiva não, salvo na hipótese de crimes
ambientais.
As hipóteses de inimputabilidade são do menor de 18 anos, que quando do cometimento do crime é enquadrado no
ECA, logo não tem passiva.
Há, também, inimputabilidade quando o réu possuir doença mental ou dependência na época do fato, porém, essa
situação não impede que o acusado seja réu, ele pode ser réu, mas não vai haver condenação, ele será absolvido
(absolvição imprópria ou sentença declaratória de extinção de punibilidade), podendo ter uma medida de segurança.
INTERESSE DE AGIR
Ocorre quando não há a extinção da punibilidade e estão presentes os indícios de autoria e materialidade da infração
penal (justa causa).
O pedido que consta na denúncia ou queixa-crime precisa ser juridicamente possível, ou seja, o pedido precisa ser
tipificado como crime.
JUSTA CAUSA
O juiz para receber a denúncia ou queixa-crime precisa que elas tenham um lastro probatório mínimo de autoria e
materialidade (justa causa), para se evitar o constrangimento de se passar por um processo.
Na falta desse castro probatório mínimo, o juiz rejeita a denúncia ou queixa-crime por justa causa.
Se o juiz tiver dúvida sobre a existência de um lastro probatório mínimo, pelo princípio do in dubio pro societate, ele
deve receber a denúncia ou queixa-crime.
Obs.: vale lembrar que nessa fase o juízo não está condenando o réu, está somente fazendo um juízo de admissibilidade
da denúncia ou queixa-crime. Se na hora da sentença o juiz tiver dúvida, aí sim, ele absolve o réu com base no princípio
do in dubio pro réu.
ESPÉCIES DE AÇÃO PENAL
Qualquer pessoa do povo, por escrito (pode ser falado junto ao MP e depois é transferido a termo), pode provocar a
iniciativa do MP, porém o MP não é obrigado a oferecer a denúncia se entender que não tem os requisitos mínimos.
Vale lembrar que o Inquérito policial é dispensável para o oferecimento da denúncia caso o MP tenha elementos
suficientes de autoria e materialidade do fato.
A participação do MP na investigação por si só não é considerada como suspeição do membro do MP, o MP pode
participar da investigação e ainda sim fazer a denúncia. Vale lembrar que o MP não chefia, nem instaura inquérito,
apenas requisita a instauração.
Obs.: qualquer crime contra o patrimônio ou interesse da união, dos estados e dos municípios, o crime será de ação
penal pública.
O início da contagem dos prazos se dá com a data que o MP recebe os autos do inquérito policial ou se for denuncia
sem inquérito policial, da data que o MP receber as peças de informação/representação.
Obs.: enquanto estiver tramitando o inquérito policial, não se conta o prazo da denúncia, que só começa a valer após o
recebimento do mesmo.
Vale lembrar que os prazos para apresentação da denúncia são impróprios, ou seja, em caso de inobservância, não
geram nem preclusão, nem nulidade, podendo o MP oferecer a denúncia posteriormente sem problemas.
A inobservância desses prazos pode gerar uma ação penal privada subsidiária da pública.
PRINCÍPIO DA OFICIALIDADE: diz que a denúncia tem que ser promovida por órgão oficial do estado.
PRINCÍPIO DA OBRIGATORIEDADE: diz que em posse dos elementos suficientes (indícios de autoria e
materialidade/lastro probatório mínimo), o MP é obrigado a oferecer a denúncia, com exceção do acordo de não
persecução penal e da transação penal do jecrim, onde mesmo com os elementos, não oferece denúncia.
PRINCÍPIO DA INDISPONIBILIDADE: diz que após o oferecimento da denúncia, o MP não pode desistir da mesma.
Obs.: na ação penal pública há a mitigação do princípio da igualdade /paridade entre as partes, uma vez que o MP atua
como parte e como fiscal da lei, podendo opinar pela absolvição do réu. Esse pedido não vincula o juiz.
PRINCÍPIO DA DIVISIBILIDADE: diz que o MP pode oferecera denúncia contra parte dos suspeitos ou contra somente
alguns fatos. Quando o oferecimento da denúncia é feita somente contra alguns dos suspeitos, não há arquivamento
implícito, uma vez que o MP pode continuar investigando e oferecer posteriormente a denúncia, quando tiver os
elementos suficientes.
Quando a lei exigir as condições objetivas de procedibilidade (representação do ofendido e requisição do ministro da
justiça) temos a ação penal pública incondicionada. É a exceção da ação penal.
REPRESENTAÇÃO DO OFENDIDO
O MP só pode oferecer a denúncia se tiver a representação do ofendido. É uma manifestação de vontade da vítima ou
do seu representante legal. A representação do ofendido é uma autorização para o MP oferecer a denúncia ou para
instaurar o inquérito policial.
A representação do ofendido não obriga o MP a oferecer denúncia e não vincula o MP, na falta de elementos suficientes.
A forma da representação do ofendido pode ser escrita ou oral (depois é reduzida a termo), não precisa de forma
específica, basta que fique clara a intenção da vítima em ver a punição do infrator.
A apresentação da representação do ofendido pode ser pessoal ou por procurador, porém se for por procurador, a
procuração tem que ter poderes especiais. Essa apresentação pode ser feita perante autoridade policial, o MP e o Juízo.
A representação do ofendido deve conter todas as informações que possam servir para fornecer elementos suficientes
ao MP para oferecer a denúncia. O simples registro de boletim de ocorrência é suficiente para servir de representação
do ofendido se constar informações que a vítima quer a punição do infrator.
O prazo para a representação do ofendido é de 6 meses sob pena de decadência (perde o direito de entrar com a ação).
O prazo começa a contar da data que souber quem foi o autor da infração (e não do fato ocorrido).
O prazo para a vítima menor de 18 anos sem representante legal começa a contar quando o menor atingir a maioridade
civil; já para o menor de 18 anos com representante legal é de 6 meses, se o representante legal perder o prazo ocorre
decadência.
No caso de morte da vítima ou declaração judicial de ausência, fica o cônjuge/companheiro, ascendente, descendente
e irmão com a legitimidade ativa no processo penal. A ordem de preferência e prioridade deve ser respeitada.
Se o morto ou o ausente já sabia quem era o autor da infração penal, só terá o prazo restante para fazer a representação
do ofendido. Porém, se ainda não sabia quem tinha praticado a infração, o prazo é completo (6 meses).
Na representação do ofendido cabe retratação (voltar atras do que havia dito), porém, somente, até o oferecimento da
denúncia. Vale também a retratação da retratação.
Na ação penal pública condicionada não cabe renúncia, ou o ofendido oferece a representação ou não faz e ocorre a
decadência. Porem a lei maria da penha diz que a violência doméstica/familiar contra a mulher só cabe renúncia perante
o juiz em audiência, mas não vale para lesão corporal, pois a ação penal pública é incondicionada.
Na ação penal pública condicionada a denúncia sem representação do ofendido é de nulidade sanável, mesmo durante
o processo, porém tem que estar no prazo de 6 meses da denúncia, caso contrário entra em decadência.
Não pode haver divisibilidade na representação, o ofendido representa os fatos e não os suspeitos.
Pode haver requisição do ministro da justiça nas ações penais públicas condicionadas nos crimes de:
Só se tem ação penal privada quando houver disposição expressa em lei. É de iniciativa do ofendido ou de seu
representante legal.
INDIVISIBILIDADE: é oferecida contra todos. Não pode ser parcial sob pena de renúncia, o MP velará pela indivisibilidade.
A petição inicial da ação penal privada é a queixa-crime e tem como partes o querelante (autor) e o querelado (réu). A
apresentação da ação penal privada pode ser oferecida pessoalmente (através de advogado) ou por procurador (com
procuração com poderes especiais).
O prazo para a queixa-crime é de 6 meses sob pena de decadência. O início da contagem do prazo é a partir do momento
em que o autor/querelante souber quem foi o autor da infração.
Existe uma espécie de ação penal privada que é a ação penal privada subsidiária da pública, ocorre quando findo o prazo
da ação penal pública e o MP não oferece a denúncia, pode o ofendido ou seu representante legal apresentar queixa-
crime perante o juiz.
Obs.: A ação penal privada subsidiaria da pública nasce originalmente ação penal pública, porem se ocorrer a omissão
ou inercia por parte do MP em oferecer a denúncia, pode o ofendido ou seu representante legal apresentar queixa-
crime. Vale lembrar que se o MP pedir o arquivamento do inquérito policial ou requerer mais diligencias, não abre
possibilidade para a ação penal privada subsidiaria da pública, pois essa só ocorre com a omissão ou inercia do MP.
A instauração do inquérito policial não interrompe o prazo. Ou seja, o prazo para apresentar a queixa-crime começa a
contar da data que se tem conhecimento do autor da infração, independentemente de inquérito policial. O I.P. e a
queixa-crime não se vinculam.
Se tiver morte da vítima ou declaração judicial de ausência, pode o cônjuge/companheiro, ascendente, descendente e
irmão (nessa ordem de preferência e prioridade) atuarem como sujeito ativo na ação penal privada, e terão o prazo
restante se já se sabia quem praticou a infração e o prazo completo se não se sabia.
Se a vítima for menor de 18 anos, mentalmente enfermo ou possuir retardamento mental e não possuir representante
legal, terá nomeado pelo juiz um curador especial, terá um curador especial, também, que possuir representante legal,
mas este possuir colisão de interesses com o representado. Vale lembrar que essa nomeação do curador especial pode
ser feita de oficio ou a requerimento do MP.
Na ação penal privada o MP atua como fiscal da ordem jurídica e nessa condição ele pode:
✓ Aditar a queixa-crime em 3 dias (não pode incluir fatos/réus, só pode incluir elementos que influenciam na
pena), o silêncio no prazo de 3 dias impede de fazer aditamento depois.
✓ Intervir em todos os atos do processo
✓ Pode aditar a queixa-crime (deixa-la mais ampla) incluindo réus e fatos criminosos;
✓ Repudiar a queixa-crime e oferecer denúncia substitutiva se provar que não houve omissão por parte do MP. É
o caso de o particular dar entrada na queixa-crime alegando omissão por parte do MP, e na verdade não ocorreu
essa omissão ou inercia;
✓ Intervir em todos os termos do processo;
✓ Fornecer elementos de prova;
✓ Interpor recursos;
✓ Retomar a ação como parte principal, a tanto tempo, em caso de negligências ou abandono de causa do
querelante (autor);
Pode haver disponibilidade da ação penal privada por renúncia, decadência, perdão e perempção.
Obs.: renúncia, decadência, perdão e perempção não ocorrem na ação penal pública, somente na ação penal privada
subsidiária da pública que pode ocorrer a decadência, mas esse prazo lá é impróprio.
PERDÃO E PEREMPÇÃO: podem ocorrer depois da apresentação da queixa-crime, com o processo já em curso.
RENÚNCIA: é o desinteresse em oferecer a queixa-crime. Pode ser de forma expressa através do próprio ofendido, de
seu representante legal ou de procurador com procuração com poderes especiais. Ou pode ser de forma tácita,
admitindo-se todos os meios de provas permitidas em direito.
A renúncia é um ato unilateral e não depende de aceitação da parte contrária. A renúncia em favor de um se estenderá
a todos os infratores, porém, a omissão em relação a um dos acusados precisa ser expressa/voluntária, se for
involuntária ou por erro, pode ser aditada a queixa-crime pelo princípio da indivisibilidade.
Obs.: o recebimento de indenização pela vítima não significa renúncia tácita. A indenização no campo civil não interfere
na esfera penal, são independentes.
DECADÊNCIA: ocorre antes do início do processo e é basicamente deixar passar o prazo de 6 meses sem apresentar a
queixa-crime.
PERDÃO: ocorre durante o processo e pode ser de forma expressa com a manifestação escrita do ofendido, ou pode ser
de forma tácita com ato incompatível com a vontade de continuar o processo.
Pelo princípio da indivisibilidade, se ocorrer perdão de um dos infratores, o perdão se estende a todos, salvo se algum
recusar. Concedido expressamente o perdão, o réu tem 3 para responder, o seu silêncio importa em aceitação. O perdão
é ato bilateral e depende de resposta (consentimento) do infrator. Se um dos réus não aceitar o perdão, ele segue
sozinho no processo.
O perdão pode ser judicial (durante um ato processual, em uma audiência por exemplo) ou extrajudicial (fora da
audiência, ato fora do processo).
PEREMPÇÃO: é quando ocorre a perda do direito de prosseguir com uma ação, decorre da negligencia do ofendido, a
saber:
Nessas hipóteses de perempção na ação penal privada subsidiária da pública, o juiz intima o MP para que assuma a ação.
✓ Exposição do fato criminoso, deve o autor contar a história, o que aconteceu, qual foi o fato, entre outros.
✓ Qualificação do acusado, de quem se trata, onde mora, profissão, entre outros.
Obs.: a falta de alguma informação, bem como a falta do nome verdadeiro não impede o oferecimento da denúncia ou
queixa-crime, desde que certa a identidade física. No decorrer do processo os demais dados, quando forem conhecidos,
vão sendo inseridos.
✓ Classificação da infração penal com indicação do dispositivo legal violado. Não é indispensável (pode haver
conserto de eventuais erros durante o processo).
✓ Rol de testemunhas, quando houver e se for necessário.
✓ Endereçamento, para qual juízo está sendo direcionado a denúncia/queixa-crime.
✓ Redação em vernáculo. Ou seja, a redação da denúncia ou queixa-crime deve ser em língua portuguesa.
✓ Subscrição por alguém com capacidade postulatória. Pode ser o MP, defensoria pública ou advogado.
✓ Elementos autenticativos como data e assinatura.
Quando eivado de algum defeito elencado no artigo 395 do CPP, a denúncia ou queixa-crime pode ser rejeitada pelo
juízo, e as hipóteses são:
✓ Denúncia ou queixa-crime manifestamente ineptas (confusas, incompreensíveis). Também chamada de
criptoimputação, cabe recurso em sentido estrito – RESE.
✓ Se faltar pressuposto processual, condição da ação ou justa causa (lastro probatório mínimo).
É quando estamos diante de uma infração praticada por vários autores. Nesse caso, a denúncia ou queixa-crime não
precisa de uma descrição minuciosa e detalhada da ação de cada acusado, basta que possua elementos suficientes para
que os acusados exerçam o contraditório e a ampla defesa.
CONCURSO DE CRIMES
Quando ocorre um crime de ação penal pública e um crime de ação penal privada no mesmo contexto, o MP não pode
denunciar pelos crimes. É necessário um litisconsórcio entre o MP e o ofendido no polo ativo do processo.
É uma espécie de transação penal, um pacto entre o MP, o suspeito e seu defensor, acordo esse com regras a serem
cumpridas pelo suspeito com o objetivo de evitar o oferecimento da denúncia contra si.
Nesse caso, ainda que o MP tenha todos os elementos necessários, caso seja fechado um acordo de não persecução
penal, ele não irá oferecer a denúncia. É a exceção ao princípio da obrigatoriedade.
O acordo de não persecução penal pode ser feito tanto antes quanto depois do oferecimento da denúncia.
Os requisitos para que o MP faça a proposta de acordo de não persecução penal são:
✓ Não ser o caso de arquivamento da denúncia, o MP precisa oferecer a denúncia e o juiz precisa receber a
denúncia.
✓ Precisa ser uma infração penal sem violência ou grave ameaça e com pena mínima inferior a 4 anos, já
considerada as causas de aumento ou diminuição da pena.
✓ Precisa ter confissão formal (escrita) e circunstancial (narração de tudo como aconteceu). O acordo pode ser
rescindido se o acusado descumprir o acordado.
✓ O acordo tem que ser necessário e suficiente para reprovação e prevenção de novas conduta similares.
Ex delicto é a ação ajuizada na esfera cível pelo ofendido para obter indenização pelo dano causado pela infração
penal.
A condenação criminal torna certo o dever de indenizar. O art. 63 do Código de Processo Penal dispõe que, transitada
em julgado a sentença condenatória, poderão promover-lhe a execução, no juízo cível, para o efeito da reparação do
dano, o ofendido, seu representante legal ou seus herdeiros, pelo valor fixado no 387, IV Código de Processo Penal
sem prejuízo do dano efetivo.
Em se tratando de excludente da ilicitude ou inexistência do fato faz-se coisa julgada no civil, nos demais casos, ainda
que tenha havido arquivamento do inquérito ou extinção da punibilidade, poderá ser demandado o autor do prejuízo
na esfera civil.
JURISDIÇÃO
A atuação do Estado consistente na aplicação do Direito vigente a um caso concreto, resolvendo-o de maneira definitiva,
cujo objetivo é sanar uma crise jurídica e trazer a paz social.
Características da Jurisdição
Inércia: O Princípio da inércia da jurisdição significa que o Estado-Juiz só se movimenta, só presta a tutela jurisdicional
se for provocado, se a parte que alega ter o direito lesado ou ameaçado acioná-lo, requerendo que exerça seu Poder
jurisdicional. Depois de ajuizada a ação, e consequentemente, provocado o Judiciário, a inércia da jurisdição tem fim, e
o processo é conduzido por impulso oficial (sem que haja necessidade de provocação das partes). Entretanto, embora
não haja necessidade de provocação das partes para que o processo tramite, em algumas situações, o desenvolvimento
dependerá da colaboração das partes. Tanto é que a inércia do querelante, nas ações penais privadas, por determinado
lapso temporal, gera o fenômeno da perempção, já estudado.
Caráter substitutivo: Diz-se que a jurisdição possui caráter substitutivo porque a vontade do Estado (vontade da lei)
substitui a vontade das partes. Entretanto, nem sempre isso ocorre, visto que, como já dissemos, existem ações em que
a vontade do Estado ao prestar a tutela jurisdicional não substituirá a das partes, por coincidirem. Ex: Imaginem que o
MP denuncia A, por homicídio em face de B. A, no entanto, concorda com a punição e a reconhece como merecida e
justa, não se importando em ser preso, pois matara o assassino de seu irmão.
Definitividade: em um dado momento, a decisão prestada pelo Estado-Juiz será definitiva, imodificável. Claro que essa
definitividade só ocorrerá se a demanda for apreciada no mérito. Se estivermos diante de uma sentença meramente
terminativa (que não aprecia o mérito da demanda), esta não fará coisa julgada material, logo, a tutela jurisdicional
prestada não será definitiva. POR ISSO SE DIZ QUE AS SENTENÇAS DE MÉRITO SÃO DEFINITIVAS.
Princípios da Jurisdição
Investidura: Para se exercer a Jurisdição, deve-se estar investido do Poder jurisdicional. Como esse Poder pertence ao
Estado, ele é quem delega esse Poder aos seus agentes. Essa delegação do Poder jurisdicional se dá através da posse no
cargo de magistrado, que, no Brasil, pode ser por concurso público (art. 93, I da CF/88), ou pelo quinto constitucional
(art. 94 da CF/88).
Indelegabilidade: Aqueles que foram investidos do Poder jurisdicional não podem delegá-lo a terceiros. Possui duas
vertentes: Externa e Interna. Na sua vertente externa, significa que não pode o Poder Judiciário (a quem a CF/88 conferiu
a função jurisdicional) delegá-la a outros órgãos ou a outro Poder. Na vertente interna, significa que, após fixadas as
regras de competência para julgamento de um processo, não pode um órgão do Judiciário delegar sua função para outro
órgão jurisdicional.
Inevitabilidade da jurisdição: Esse princípio é aplicado em dois momentos distintos. Um é a vinculação obrigatória ao
processo, e o outro é a vinculação obrigatória aos efeitos da jurisdição (ou estado de sujeição). No primeiro caso,
obrigatória ou não a utilização do Poder Judiciário (a depender do tipo de ação penal), iniciado o processo, as partes
estão vinculadas à relação processual. No caso do réu, em momento algum ele teve opção. No segundo caso, após
obrigatoriamente vinculados a participar do processo, estes sujeitos estão obrigados a suportar a decisão (tutela
jurisdicional), gostem ou não. Esse estado de sujeição torna os efeitos da jurisdição inevitável para as partes envolvidas.
Inafastabilidade da jurisdição (ou indeclinabilidade): Esse princípio também possui duas vertentes. A primeira refere-se
à possibilidade que todo cidadão tem, de levar à apreciação do Poder Judiciário uma demanda, e de ter a prestação de
uma tutela jurisdicional. A segunda vertente é a de que o processo deve garantir o acesso do cidadão à ordem jurídica
justa, na visão de que o Estado só cumpre efetivamente seu papel quando efetivamente tutele o interesse da parte.
Territorialidade (Aderência ou improrrogabilidade): Significa que a Jurisdição possui um limite territorial. Esse limite é
o território brasileiro, as fronteiras onde o país exerce seu poder soberano. Isso implica dizer que TODO JUIZ TEM
JURISDIÇÃO EM TODO O TERRITÓRIO NACIONAL. Entretanto, por questão de organização funcional, a competência de
cada (forma pela qual exercerá seu poder jurisdicional) é delimitada de várias formas. Assim, se uma questão afirmar
que quando um Juiz de São Paulo solicita a outro, do Rio de Janeiro, a prática de um ato processual (carta precatória)
porque não tem jurisdição no Rio de Janeiro, está ERRADA! O Juiz de São Paulo tem jurisdição em todo o território
nacional, o que ele não tem é competência fora de sua base territorial.
Espécies de Jurisdição
A doutrina enumera várias espécies de “jurisdições”, baseada nos mais diversos critérios. Entretanto, apenas duas nos
serão úteis:
Ø Jurisdição superior e inferior – A inferior é exercida pelo órgão que atua no processo desde o início. Já a superior é
exercida em grau recursal. Frise-se que os Tribunais podem atuar TANTO COMO JURISDIÇÃO INFERIOR COMO SUPERIOR,
a depender da demanda, pois existem demandas cuja competência originária para processo e julgamento é dos
Tribunais, como no caso de pessoas com prerrogativa de foro.
Ø Jurisdição comum e especial – A jurisdição especial, no processo penal, é formada pelas 02 “Justiças especiais”
estabelecidas na Constituição, em razão da matéria: Justiça Eleitoral (art. 118 a 121 da CF/88) e Militar (122 a 125). Já a
jurisdição comum é exercida residualmente. Tudo que não for jurisdição especial será jurisdição comum, que se divide
em estadual e federal. OBS: A Justiça do trabalho não possui competência criminal.
DA COMPETÊNCIA
Conforme estudamos, a Jurisdição é o Poder conferido ao Estado, para através dos órgãos Jurisdicionais, dizer, no caso
concreto, quem tem o Direito. A Competência, por sua vez, é a medida da Jurisdição, ou, para outros, o limite da
Jurisdição. Trocando em miúdos, a Competência é o conjunto de regras que estabelecem os limites em que cada Juiz
pode exercer, de maneira válida, o seu Poder Jurisdicional.
• Competência em razão da matéria (ratione materiae) – É aquela definida com base no fato a ser julgado.
• Competência em razão da pessoa (ratione personae) – É definida tendo por base determinadas condições relativas às
pessoas que se encontram no polo passivo do processo criminal (os acusados).
• Competência territorial (ratione loci) – Considera o local onde ocorreu a infração (ou outros critérios territoriais) para
que seja definida a competência.
O CPP, no entanto, em seu art. 69, traz sete critérios para a fixação da competência:
Se a competência de foro por prerrogativa de função está prevista na CF/88, ela prevalece sobre a competência do Júri.
Contudo, se estiver prevista apenas na Constituição Estadual, prevalece a competência do Tribunal do Júri, conforme
súmula 721 do STF, que foi convertida na súmula vinculante 45: "A competência constitucional do tribunal do júri
prevalece sobre o foro por prerrogativa de função estabelecido exclusivamente pela Constituição estadual".
Da Conexão e da Continência
A conexão e a continência são fenômenos que importam na modificação da competência previamente estabelecida. O
CPP prevê algumas regras que devem ser observadas quando da consolidação da competência pela conexão ou
continência.
1. Havendo conexão ou continência entre um crime de competência do Tribunal do Júri e outro crime, de competência
do Juiz singular, a competência deverá ser fixada naquele.
2. No caso de Jurisdições da mesma categoria, primeiro se utiliza o critério de fixação da competência territorial com
base na local em que ocorreu o crime que possuir pena mais grave. Se as penas forem idênticas, utiliza-se o critério do
lugar onde ocorreu o maior número de infrações penais. Caso as penas sejam idênticas e tenha sido cometido o mesmo
número de infrações penais, ou, ainda, em qualquer outro caso, aplica-se a fixação da competência pela prevenção.
3. Se as Jurisdições forrem de graus diferentes (Um Tribunal Superior e um Juiz singular, por exemplo), a competência
será fixada no órgão de Jurisdição superior.
4. Se houver conexão entre uma causa de competência da Justiça Comum e outra da Justiça Especial, será fixada a
competência nesta. Ex.: Imaginem um crime eleitoral conexo com um crime comum. Será da competência da Justiça
Eleitoral o julgamento de ambos os processos.
Competência penal do STF, do STJ, dos TRFs, dos Juízes Federais e dos Juizados Especiais Criminais Federais
A competência originária está prevista no inciso I do art. 102, e engloba as seguintes situações:
• Nas infrações penais comuns, o Presidente da República, o Vice-Presidente, os membros do Congresso Nacional, seus
próprios Ministros e o Procurador-Geral da República.
• Nas infrações penais comuns e nos crimes de responsabilidade, os Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha,
do Exército e da Aeronáutica, ressalvado o disposto no art. 52, I, os membros dos Tribunais Superiores, os do Tribunal
de Contas da União e os chefes de missão diplomática de caráter permanente.
• O "habeas-corpus", sendo paciente qualquer das pessoas referidas nas alíneas anteriores (Presidente, Vice, Membros
do Congresso, Ministros do STF, dos Tribunais Superiores, PGR, ministros do TCU, Ministros de Estado, Comandantes
das Forças Armadas e chefes de missão diplomática de caráter permanente).
• O habeas corpus, quando o coator for Tribunal Superior ou quando o coator ou o paciente for autoridade ou
funcionário cujos atos estejam sujeitos diretamente à jurisdição do STF, ou se trate de crime sujeito à mesma jurisdição
em uma única instância.
• A execução de sentença nas causas de sua competência originária, facultada a delegação de atribuições para a prática
de atos processuais.
Obs.: ATENÇÃO! O Presidente do Banco Central e o Advogado-Geral da União possuem status de Ministros de Estado.
Obs.: Na competência originária o processo criminal começa diretamente no STF, sem passar antes por qualquer outro
órgão do Judiciário.
• Os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou
de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as contravenções e ressalvada a competência da Justiça
Militar e da Justiça Eleitoral;
• Os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada execução no País, o resultado
tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente;
• As causas relativas a direitos humanos;
• Os crimes contra a organização do trabalho e, nos casos determinados por lei, contra o sistema financeiro e a
ordem econômico-financeira;
• Os "habeas-corpus", em matéria criminal de sua competência ou quando o constrangimento provier de
autoridade cujos atos não estejam diretamente sujeitos a outra jurisdição;
• Os mandados de segurança e os "habeas-data" contra ato de autoridade federal, excetuados os casos de
competência dos tribunais federais;
• Os crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a competência da Justiça Militar;
• Os crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro, a execução de carta rogatória, após o
"exequatur", e de sentença estrangeira, após a homologação, as causas referentes à nacionalidade, inclusive a
respectiva opção, e à naturalização;
• A disputa sobre direitos indígenas.
Compete aos Tribunais Regionais Federais:
• Os juízes federais da área de sua jurisdição, incluídos os da Justiça Militar e da Justiça do Trabalho, nos crimes
comuns e de responsabilidade, e os membros do Ministério Público da União, ressalvada a competência da Justiça
Eleitoral;
• As revisões criminais e as ações rescisórias de julgados seus ou dos juízes federais da região;
• Os mandados de segurança e os "habeas-data" contra ato do próprio Tribunal ou de juiz federal;
• Os "habeas-corpus", quando a autoridade coatora for juiz federal;
• Os conflitos de competência entre juízes federais vinculados ao Tribunal;
• Julgar, em grau de recurso, as causas decididas pelos juízes federais e pelos juízes estaduais no exercício da
competência federal da área de sua jurisdição.
SUJEITOS PROCESSUAIS
São todos aqueles que praticam atos no processo (atos em sentido amplo), porém nem todos os sujeitos processuais
integram a relação jurídica, a saber:
✓ Juiz
✓ Ministério Público
✓ Acusado e Defensor
✓ Assistentes
✓ Auxiliares da Justiça
Os sujeitos processuais podem ser classificados como:
SUJEITOS ESSENCIAIS: aqueles que a participação no processo é imprescindível – precisam estar para a existência da
relação jurídica, como por exemplo: o juiz, o autor e o réu.
SUJEITOS ACESSÓRIOS: são aqueles onde a participação no processo não é imprescindível, podem participar ou não do
processo, como por exemplo os assistentes e os auxiliares da justiça.
Do Juiz
O sujeito processual, na verdade, é o Estado-Juiz, que atua no processo através de um órgão jurisdicional, que é o Juiz
criminal.
O Juiz criminal possui alguns poderes:
a) Poder de polícia administrativa – Exercido no curso do processo, com a finalidade de garantir a ordem dos
trabalhos e a disciplina. Ao contrário do que a nomenclatura possa transparecer, não está relacionada à força
policial, mas ao conceito administrativo de poder de polícia (limitação ou regulamentação das liberdades
individuais).
b) Poder Jurisdicional – Relativo à condução do processo, no que toca à atividade-fim da
Jurisdição (instrução, decisões interlocutórias, prolação da sentença, execução das decisões
tomadas, etc.).
Existem determinadas hipóteses nas quais o Juiz não pode atuar, pelo fato de se considerar prejudicada a sua condição
de imparcialidade. São as hipóteses de impedimento ou suspeição.
IMPEDIMENTO
As hipóteses de impedimento estão previstas no art. 252 do CPP, e são consideradas como ensejadoras de incapacidade
absoluta para atuar no processo, referem-se a atos ou circunstancias de origem interna ao processo.
I - Tiver funcionado seu cônjuge ou parente, consangüíneo ou afim, em linha reta ou colateral até o terceiro grau,
inclusive, como defensor ou advogado, órgão do Ministério Público, autoridade policial, auxiliar da justiça ou perito;
II - Ele próprio houver desempenhado qualquer dessas funções ou servido como testemunha;
III - tiver funcionado como juiz de outra instância, pronunciando-se, de fato ou de direito, sobre a questão;
IV - Ele próprio ou seu cônjuge ou parente, consangüíneo ou afim em linha reta ou colateral até o terceiro grau, inclusive,
for parte ou diretamente interessado no feito.
Nestas hipóteses o CPP estabelece uma presunção absoluta (jure et de jure) de que o Juiz seria parcial, violando um dos
deveres da Jurisdição, que é a imparcialidade.
Este rol é considerado um rol taxativo (numerus clausus), não admitindo interpretação extensiva, portanto. Ocorrendo
uma dessas hipóteses, o Juiz tem o dever de se declarar impedido, não podendo atuar no processo. Se não o fizer,
qualquer das partes poderá arguir seu impedimento
Se, por acaso, se tratar de processo nos Tribunais, nos quais o julgamento se dá através de órgãos colegiados (mais de
um Juiz), o art. 253 estabelece que:
Art. 253. Nos juízos coletivos, não poderão servir no mesmo processo os juízes que forem entre si parentes,
consanguíneos ou afins, em linha reta ou colateral até o terceiro grau, inclusive.
CUIDADO! Parte da Doutrina entende que este art. 253 se refere a uma incompatibilidade (e não impedimento ou
suspeição). As incompatibilidades seriam situações de impossibilidade de atuação em razão de fatos que geram graves
hipóteses de inconveniência na atuação do magistrado, mas que não estejam previstas como impedimento ou
suspeição.
SUSPEIÇÃO
A suspeição, por sua vez, é considerada uma incapacidade subjetiva do Juiz, que pode ou não se declarar suspeito (vejam
a diferença!). Se refere a atos e circunstancias de origem externa ao processo. Caso o Juiz não se declare suspeito, as
partes poderão entender que está prejudicada sua imparcialidade e arguir a suspeição. As hipóteses de suspeição estão
previstas no art. 254 do CPP:
Art. 254. O juiz dar-se-á por suspeito, e, se não o fizer, poderá ser recusado por qualquer das partes:
II - Se ele, seu cônjuge, ascendente ou descendente, estiver respondendo a processo por fato análogo, sobre cujo caráter
criminoso haja controvérsia;
III - se ele, seu cônjuge, ou parente, consangüíneo, ou afim, até o terceiro grau, inclusive, sustentar demanda ou
responder a processo que tenha de ser julgado por qualquer das partes;
Obs.: o CPP traz uma regra curiosa em seu art. 256: Se a parte, de alguma forma, der causa, de maneira proposital à
situação de suspeição, esta não poderá ser declarada nem reconhecida.
A suspeição ou o impedimento em decorrência de parentesco por afinidade (parentesco que não é de sangue) cessa
com a dissolução do casamento que fez surgir o parentesco. Esta é a regra. No entanto, existem duas exceções:
b) Havendo ou não filhos da relação, o impedimento ou suspeição permanece em relação a sogros, genros, cunhados,
padrasto e enteado (e os correspondentes femininos, é claro);
Mas e se o Juiz suspeito ou impedido continuar atuando no processo, como se nada tivesse acontecido? Haverá um vício
processual. Esse vício irá variar conforme o caso (suspeição ou impedimento. Se o Juiz for impedido, a Doutrina entende
que o ato é inexistente, pelo fato de que o Juiz está impedido de exercer a Jurisdição naquele caso, ou seja, os atos
foram praticados por Juiz sem Jurisdição. O STJ, contudo, possui decisões no sentido de tratar-se de nulidade absoluta.
No caso de Juiz suspeito, a Doutrina se divide. Parte entende que se trata de nulidade absoluta e outra parte entende
que é causa de nulidade relativa, que é o que vem prevalecendo, inclusive no STJ.
Os institutos (inexistência jurídica e nulidade absoluta) são parecidos, mas possuem efeitos bem diferentes. No caso de
inexistência, o ato simplesmente não existe, é um “nada jurídico”. No caso de nulidade absoluta o ato existe, sendo
apenas viciado pela nulidade. Os efeitos que decorrem são graves. No caso de inexistência, como o ato não existe, uma
sentença proferida, por exemplo, sequer é considerada sentença, sendo desconsiderada. Já no caso de uma sentença
nula, ela existe e produzirá efeitos caso a nulidade não seja arguida.
Assim, se um réu é absolvido por um Juiz suspeito, e a decisão transita em julgado, “já era”, o acusado não poderá ser
julgado novamente. Entretanto, se o Juiz fosse impedido, simplesmente o processo seria retomado em seu andamento,
pois a sentença proferida NÃO EXISTE.
Do Ministério Público
Além de ser o responsável por ajuizar a ação penal pública (condicionada e incondicionada), o MP tem a função de
fiscalizar o cumprimento da lei na ação penal privada e também na ação penal pública (atuação como custos legis)!
Vale lembrar que, na ação penal privada subsidiária da pública, a atuação do MP se dá de forma diferente. O MP, nesta
modalidade, não atua meramente como custos legis, mas também não é o próprio acusador. O MP, na ação penal
privada subsidiária da pública, atua como parte adjunta4, ou interveniente adesivo obrigatório. Isso se dá porque, neste
tipo de ação privada, estamos falando de um crime que é, originalmente, de ação penal pública, mas que
excepcionalmente está sendo objeto de ação penal privada, dada a inércia do MP.
Ao membro do MP se aplicam, no que for cabível, as mesmas hipóteses de suspeição e impedimento previstas para os
Juízes. Além disso, o membro do MP não pode atuar em processo que o Juiz ou qualquer das partes for seu parente.
Vale ressaltar que o simples fato de o membro do MP ter participado da fase investigatória não é causa de impedimento
ou suspeição
Do acusado
O acusado é aquele que figura no polo passivo do processo criminal, ou seja, a pessoa a quem se imputa a prática de
uma infração penal. Nem todas as pessoas, no entanto, podem figurar no polo passivo de um processo criminal:
a) Entes que não possuem capacidade para serem sujeitos de direito. Ex.: mortos;
b) Menores de 18 anos – É hipótese de inimputabilidade que gera a ilegitimidade da parte, em razão da disposição
expressa na Lei no sentido de que os menores de 18 anos respondam por seus atos infracionais perante o ECA;
d) Pessoas que possuam imunidade parlamentar. Ex: Deputados, Senadores, etc. (Essa espécie é discutível, pois em
alguns casos eles podem ser sujeitos passivos do processo criminal);
Obs.: As pessoas jurídicas podem ser sujeitos passivos no processo criminal, pois a Constituição previu a possibilidade
de se imputar à pessoa jurídica a prática de crimes. O STF corrobora este entendimento.
Quanto aos inimputáveis em decorrência de doença mental, desenvolvimento mental incompleto e embriaguez total
decorrente de caso fortuito ou força maior, nada impede que integrem o polo passivo do processo, pois, ao final, eles
serão absolvidos, sendo-lhes aplicada medida de segurança (salvo no caso da embriaguez). Entretanto, devem se
submeter ao processo criminal.
A identificação do acusado deve ser feita da forma mais ampla possível. No entanto, a impossibilidade de identificação
do acusado por seu nome civil não impede o prosseguimento da ação.
O CPP prevê, ainda, que o acusado deverá comparecer a todos os atos do processo para o qual for intimado e, caso não
compareça a algum ato que não possa ser realizado sem ele, o Juiz poderá determinar sua condução à força.
Durante o processo, naturalmente só caberia ao Juiz determinar a condução coercitiva. Mas, durante a investigação,
quem pode determinar a condução coercitiva do investigado/indiciado? Temos duas correntes:
⇒ 1º corrente – Somente o Juiz pode determinar a condução coercitiva do investigado/indiciado. Embora o CPP diga
“autoridade”, sem distinguir autoridade policial e autoridade judiciária, esse poder estaria restrito ao Juiz. Caso o
Delegado necessite da presença do investigado/indiciado (no IP) em algum ato, deverá solicitar ao Juiz que determine
sua condução. Entende-se que só o Juiz pode determinar a condução coercitiva por ser esta uma modalidade de prisão
cautelar (no entendimento deste autor).
⇒ 2º Corrente – A autoridade policial (delegado de polícia) poderia determinar, diretamente, sem decisão judicial, a
condução coercitiva do investigado/indiciado, eis que, pela teoria dos poderes implícitos, a Constituição Federal teria
conferido às autoridades policiais poderes para tanto, a fim de que possam regularmente exercer suas atividades de
apuração das infrações penais.
Vem prevalecendo, mais recentemente, o segundo entendimento, embora seja um tema tormentoso.
Importante destacar que o STF, por maioria, decidiu que é INCONSTITUCIONAL a condução coercitiva do
investigado/indiciado/acusado para fins de interrogatório, eis que, pelo princípio da vedação à autoincriminação, o
investigado/indiciado/acusado possui direito ao silêncio, motivo pelo qual tem o direito de não comparecer ao seu
interrogatório, de forma que a condução coercitiva não seria cabível para tal finalidade, já que o comparecimento não
seria obrigatório.
A condução coercitiva continua sendo possível para casos em que o comparecimento não seja facultativo (ex.:
comparecimento do indiciado para reconhecimento pela vítima do crime).
Do defensor do acusado
A presença do defensor no processo criminal é obrigatória8, e decorre do princípio da ampla defesa, previsto no art. 5°,
LV da Constituição. O defensor (advogado ou Defensor Público) é quem realiza a chamada defesa técnica (a defesa
prestada por profissional habilitado). Sua presença obrigatória!
SÚMULA 523: NO PROCESSO PENAL, A FALTA DA DEFESA CONSTITUI NULIDADE ABSOLUTA, MAS A SUA DEFICIÊNCIA SÓ
O ANULARÁ SE HOUVER PROVA DE PREJUÍZO PARA O RÉU.
A Doutrina entende que esta disposição se aplica tanto à defesa realizada pelo defensor nomeado quanto a realizada
pelo defensor constituído pelo próprio acusado. Isso implica dizer que o Judiciário pode reconhecer a deficiência da
defesa técnica, ex ofício. Isso porque seria pouco razoável exigir que a alegação de deficiência da defesa partisse do
próprio defensor.
A chamada “Defesa técnica eficiente”, obriga o Defensor Público ou defensor dativo a prestar a defesa técnica de
maneira eficiente, e não apenas protocolar. Isso se dá não em razão de preconceito técnico da Lei para com defensores
dativos e Defensores Públicos, mas em razão de que estes não foram nomeados pelo acusado e não estão sendo pagos
por este, o que poderia gerar certa displicência.
Caso o acusado não possua defensor, o Juiz nomeará um para que o defenda. Entretanto, caso o acusado,
posteriormente resolva constituir advogado de sua confiança ou defender-se a si próprio (caso possua habilitação para
isso), poderá destituir o defensor nomeado pelo Juiz, A QUALQUER TEMPO. A nomeação do defensor dativo não pode
ser por este recusada, salvo no caso de motivo relevante. Também não poderá o defensor abandonar o processo senão
por motivo de força maior (imperioso motivo), hipótese na qual deverá comunicar PREVIAMENTE o Juiz.
E se o defensor não comparecer à audiência? O CPP determina que o defensor que não puder comparecer à audiência,
deverá informar este fato ao Juiz, justificando a ausência, hipótese na qual a audiência poderá ser adiada. Se o defensor
não justificar a impossibilidade de comparecimento, o Juiz não adiará o ato, devendo constituir outro defensor para o
acusado, ainda que só para a realização daquele ato processual.
O CPP, por sua vez, determina que a constituição de defensor independe de mandato, quando o acusado o indicar no
interrogatório. Trata-se da chamada procuração apud acta:
Do assistente de acusação
O ofendido, seu representante legal, ou qualquer das pessoas mencionadas no art. 31 do CPP (cônjuge, ascendente,
descendente ou irmão) poderão atuar como assistentes da acusação nas ações penais públicas (condicionadas e
incondicionadas). A intervenção de qualquer destas pessoas como assistente da acusação pode se dar a qualquer
momento, ATÉ O TRÂNSITO EM JULGADO DA SENTENÇA.
Além disso, a admissão do assistente de acusação depende, sempre da oitiva prévia do membro do MP, não cabendo
recurso contra a decisão que negar ou deferir a habilitação do assistente.
O ofendido, aqui, não atua como autor do processo (o autor é o MP), mas como assistente do MP. Assim, duas podem
ser as situações do ofendido no processo criminal:
⇒ Atua como querelante – Nas ações penais privadas exclusivas e na subsidiária da púbica, o ofendido atua como autor
do processo.
⇒ Atua como assistente – Nas ações penais públicas que efetivamente tiverem sido ajuizadas pelo MP.
O assistente de acusação poderá atuar de inúmeras maneiras, propondo provas, participando dos debates, orais, etc..
No entanto, as provas requeridas pelo assistente da acusação serão deferidas a critério do Juiz, após ser ouvido o MP.
Os peritos e intérpretes não possuem interesse na causa (não acusam, não julgam, não são acusados), mas contribuem
para que a tutela jurisdicional seja efetivamente prestada.
Os peritos também podem ser suspeitos, de forma a não poder atuar no processo. Isso acontece porque o perito
TAMBÉM DEVE SER IMPARCIAL.
Além disso, o art. 279 do CPP traz três vedações ao exercício da função de perito:
I - Os que estiverem sujeitos à interdição de direito mencionada nos ns. I e IV do art. 69 do Código Penal;
II - Os que tiverem prestado depoimento no processo ou opinado anteriormente sobre o objeto da perícia;
Entretanto, o inciso III deve ser analisado à luz do Código Civil de 2002, que alterou a maioridade civil para 18 anos
(quando da publicação do CPP, a maioridade civil era de 21 anos). Assim, atualmente a vedação em razão da idade se
dá somente para os menores de 18 anos. Contudo, se a prova trouxer a literalidade da lei (21 anos), deve ser marcada
a alternativa como correta.
Quanto ao inciso I, ele se refere ao art. 69, I a IV do CP. No entanto, essa referência se dá ao texto original do CP.
Atualmente vigora, na parte geral do CP, a redação conferida pela Lei 7.209/84, que revogou este art. 69 do CP,
conferindo a ele outra redação, que não guarda qualquer pertinência com essa vedação. Assim, entende-se que esse
inciso I perdeu vigência.
A nomeação do perito é ato privativo do Juiz (óbvio, dada a sua imparcialidade), não cabendo às partes intervirem nesse
ato. Além disso, o perito nomeado não poderá recusar o encargo, salvo se provar motivo relevante para isso, sob pena
de multa.
No caso de o descumprimento da obrigação ser o não comparecimento a algum ato para o qual tenha sido intimado,
poderá o perito ser conduzido à força, à semelhança do que ocorre com o acusado. Frise-se que tal possibilidade só
existe no caso de não comparecimento injustificado.
Citações
A citação é o ato pelo qual se chama o réu para participar do processo que em face dele foi movido. Trata-se da
materialização suprema do princípio do contraditório e da ampla defesa. O processo só completa sua formação com a
efetivação da citação.
Citação pessoal
A citação pessoal, em regra, se faz mediante MANDADO DE CITAÇÃO, que é um documento expedido pelo Juiz da causa,
dando ciência ao réu do processo existente contra ele, e abrindo prazo para que se manifeste.
O MANDADO DE CITAÇÃO deverá conter algumas informações básicas, que são necessárias para que o réu seja
perfeitamente cientificado da natureza do processo contra ele movido, bem como deverá cumprir algumas
formalidades. Nos termos do art. 352 do CPP:
I - O nome do juiz;
II - O nome do querelante nas ações iniciadas por queixa;
III - O nome do réu, ou, se for desconhecido, os seus sinais característicos;
IV - A residência do réu, se for conhecida;
V - O fim para que é feita a citação;
VI - o juízo e o lugar, o dia e a hora em que o réu deverá comparecer;
VII - a subscrição do escrivão e a rubrica do juiz.
Estes são os chamados requisitos INTRÍNSECOS do mandado de citação. Há, ainda, os requisitos EXTRÍNSECOS do
mandado de citação, previstos no art. 357 do CPP:
I - Leitura do mandado ao citando pelo oficial e entrega da contrafé, na qual se mencionarão dia e hora da citação;
É necessário que o citando (o acusado) resida em local sob a Jurisdição do Juiz que está julgando a causa. Caso ele resida
em outro lugar, o mandado deverá ser cumprido mediante carta precatória.
Expedida a precatória, se o Juízo deprecado (o que recebeu a carta) verificar que o réu não reside na sua localidade, ELE
NÃO DEVE DEVOLVER OS AUTOS AO JUIZ DEPRECANTE (o que enviou a carta), mas deve REMETER A CARTA PRECATÓRIA
AO JUÍZO DO LOCAL ONDE O RÉU RESIDE, desde que haja tempo para se realizar a citação.
A citação do militar deve ser feita por intermédio do respectivo chefe do serviço. Se se tratar de funcionário público,
será citado pessoalmente, mas o dia e hora designados para que compareça em Juízo deverão ser comunicados
(mediante notificação) ao seu chefe. Isso só se aplica, porém, ao militar e ao funcionário público que estejam em
ATIVIDADE. Se já estão reformados ou aposentados, por exemplo, a citação seguirá a regra geral.
O réu preso, entretanto, será citado PESSOALMENTE, por força do art. 360 do CPP.
ATENÇÃO! O comparecimento espontâneo do acusado sana eventual nulidade ou falta da citação, desde que não tenha
havido prejuízo para a defesa, entendimento consolidado do STJ.
Por fim, caso o acusado esteja no estrangeiro, sabendo-se seu endereço, será citado mediante CARTA ROGATÓRIA,
suspendendo-se o curso do prazo prescricional até seu cumprimento, art. 368 do CPP. Uma vez realizada a citação, o
prazo prescricional voltará a fluir.
Tais localidades, também conhecidas como “legações estrangeiras”, são protegidas por inviolabilidade. Não são
consideradas como território estrangeiro, mas gozam de inviolabilidade, ou seja, não estão submetidas às mesmas
regras de livre trânsito previstas para os demais pontos do território nacional.
Assim, e se for necessária a citação de alguém que resida em alguma legação estrangeira? Como fazer? Neste caso, o
art. 369 do CPP expressamente determina que a citação será feita por carta rogatória.
Citação ficta: por hora certa e por edital
Pode ocorrer, no entanto, de o réu não ser encontrado para ser citado. Quando o réu é citado pessoalmente, diz-se que
há CITAÇÃO REAL. No entanto, caso ele não seja encontrado, será procedida à sua CITAÇÃO FICTA. A citação ficta pode
ser POR HORA CERTA ou POR EDITAL.
A CITAÇÃO POR HORA CERTA ocorrerá sempre que, a despeito de residir no local, o réu estiver “fugindo” do oficial de
Justiça, ou seja, se escondendo para não ser citado e procrastinar o processo. A citação por hora certa segue a
regulamentação prevista para a citação no processo civil. Em termos objetivos, assim se desenvolve a citação por hora
certa:
• Oficial de Justiça comparece por duas vezes no local indicado, sem encontrar o citando, e verifica que há suspeita de
ocultação.
• Diante disso, intima qualquer pessoa da família ou vizinho de que, no dia útil SEGUINTE, voltará para realizar a citação,
na hora que designar (em condomínios é possível que esta intimação seja feita ao porteiro).
• No dia e hora agendados, o Oficial de Justiça retorna e, se o citando não estiver no local, dará por realizada a citação
(a menos que haja motivo justificado para a ausência do citando).
• Uma vez dada por realizada a citação, o Oficial de Justiça deixará contrafé (cópia da inicial) com a pessoa da família,
vizinho, porteiro, etc.
• Nos 10 dias seguintes à juntada aos autos do mandado, o Escrivão (ou Chefe de Secretaria) enviará ao citado carta,
telegrama ou correspondência eletrônica, dando-lhe de tudo ciência.
Entretanto, pode ocorrer de o réu não estar se escondendo, mas simplesmente NÃO RESIDIR NO LOCAL, E NÃO SER
CONHECIDO SEU PARADEIRO. Neste caso, será procedida à citação ficta, na modalidade CITAÇÃO POR EDITAL. O edital
de citação é um documento, com informações similares às do mandado de citação, e é afixado na SEDE DO JUÍZO
PROCESSANTE, pelo período fixado na Lei (no caso, 15 dias).
SÚMULA 351: É NULA A CITAÇÃO POR EDITAL DE RÉU PRESO NA MESMA UNIDADE DA FEDERAÇÃO EM QUE O JUIZ
EXERCE A SUA JURISDIÇÃO.
SÚMULA 366: NÃO É NULA A CITAÇÃO POR EDITAL QUE INDICA O DISPOSITIVO DA LEI PENAL, EMBORA NÃO
TRANSCREVA A DENÚNCIA OU QUEIXA, OU NÃO RESUMA OS FATOS EM QUE SE BASEIA.
Contudo, em relação à súmula 351, firmou-se o entendimento no sentido de que se o réu está preso em local conhecido
nos autos do processo, ainda que em unidade da federação diversa daquela em que corre o processo, a citação por
edital não pode ser realizada.
Mas e se o acusado citado por hora certa ou por edital (CITAÇÕES FICTAS) não comparecer para se defender? As
consequências são distintas. Se citado por hora certa, lhe será nomeado defensor dativo (art. 362, § único do CPP). Caso
seja citado por edital e não apareça para se defender, o processo ficará suspenso, suspendendo-se, também, o curso do
prazo prescricional (art. 366 do CPP).
⇒, mas o prazo prescricional ficará suspenso por tempo indeterminado? A Lei nada diz a respeito. O STF possui julgados
antigos no sentido de que não há prazo, ou seja, poderia ficar suspenso por prazo indeterminado.
Intimações
Diferentemente da citação, que é o ato único mediante o qual o réu é integrado ao processo, as intimações são várias
durante o processo, e ocorrerão sempre que for necessário dar ciência a alguém da prática de um ato processual.
O §1° dispõe que a intimação do defensor do acusado, do advogado do querelante e do assistente será feita mediante
publicação no órgão oficial (Diária oficial), fazendo-se menção ao nome do acusado. Ressalvo a vocês que se o acusado
estiver sendo defendido pela Defensoria Pública, a intimação deverá ser feita, necessariamente, mediante entrega dos
autos com vista, nos termos do que dispõe a LC 80/94 (Lei Orgânica Nacional da Defensoria Pública).
Caso não haja órgão de publicação oficial, a intimação será feita por mandado, por via postal com aviso de recebimento
OU OUTRO MEIO IDÔNEO. Perceba, caro aluno, portanto, que nada impede que sejam utilizadas outras formas de
INTIMAÇÃO. Não podem ser usadas, entretanto, outras formas de CITAÇÃO. Somente aquelas!
Nos casos de sujeitos processuais que sejam intimados pessoalmente (caso da Defensoria Pública, do defensor nomeado
e do MP, por exemplo), a intimação pessoal DISPENSA A NECESSIDADE DE PUBLICAÇÃO NO ÓRGÃO OFICIAL.
Lembrando que a intimação também pode ser feita por carta precatória, notadamente quando houver necessidade de
oitiva de alguma testemunha que more fora da Comarca.
A precatória, uma vez expedida, NÃO SUSPENDE a instrução criminal. Além disso, uma vez intimada a defesa acerca da
expedição da carta precatória, é DESNECESSÁRIA nova intimação da defesa para ciência da data designada para a
audiência no Juízo deprecado.
CUIDADO! Muito embora este seja o teor do enunciado nº 273 da súmula de jurisprudência do STJ, o STF firmou
entendimento no sentido de que este enunciado não se aplica quando se trata de acusado defendido pela Defensoria
Pública e há sede da Defensoria Pública no local em que se encontra o Juízo deprecado. Neste caso, considerando a
enorme quantidade de assistidos da Defensoria Pública, bem como os problemas organizacionais, deve o Juízo proceder
à intimação da Unidade da DP que funcione na sede do Juízo deprecado, para ciência da data da audiência.
Notificações
O CPP e as leis processuais penais especiais utilizam as expressões “intimação” e “notificação” de maneira
indiscriminada, ou seja, não há um rigor técnico na utilização de uma ou de outra.
§ Notificação – Ciência que se dá a alguém a respeito de uma providência que por ela deve ser tomada (Ex.: notificação
da testemunha para que compareça à audiência).
§ Intimação – Ciência que se dá a alguém a respeito de um ato já realizado (Ex.: Intimação para ciência da sentença).
Esta divisão, porém, é meramente doutrinária, porque a legislação processual não adota esse rigor técnico, ou seja,
utiliza um termo no lugar de outro sem qualquer pudor.
PROCESSO COMUM
O processo comum, também chamado de procedimentos ou rito, é a sequencia de atos praticados durante o processo.
As partes não podem alterar de comum acordo o procedimento criminal por se tratar de matéria de ordem pública.
O procedimento criminal se divide em procedimento comum e procedimento especial.
O procedimento comum é a regra e se divide em procedimento comum ordinário, procedimento comum sumário e
procedimento comum sumaríssimo.
Importante destacar que os seguintes crimes não são considerados crimes dolosos contra a vida, não sendo, portanto,
da competência do Júri:
⇒ Latrocínio – O latrocínio, ou “roubo com resultado morte” não é considerado um crime doloso contra a vida, e sim
um crime patrimonial.
⇒ Lesão corporal com resultado morte – Aqui a lesão corporal é provocada dolosamente, mas o resultado morte decorre
de culpa do agente, e não de dolo. Assim, tal crime é considerado preterdoloso, motivo pelo qual também não é um
crime doloso contra a vida, não sendo da competência do Júri.
Obs.: Importante ressaltar, ainda, a hipótese de infrator com foro privilegiado. Se a pessoa que pratica o crime doloso
contra a vida possui foro privilegiado previsto na CONSTITUIÇÃO FEDERAL, ficará afastada a competência do Júri.
Princípios que regem o Tribunal do Júri
Plenitude de defesa: A plenitude de defesa abrangeria a possibilidade de o defensor do acusado se valer de argumentos
extrajurídicos perante os jurados, como argumentos de ordem moral, social, emocional, etc. (plenitude de defesa
técnica), bem como a possibilidade de o próprio acusado, em seu interrogatório, sustentar teses próprias, ainda que
diferentes das sustentadas pelo seu defensor, e estas teses devem ser levadas ao conhecimento dos jurados quando da
formulação dos quesitos (plenitude de autodefesa).
Sigilo das votações: O sigilo das votações é uma garantia à necessária imparcialidade dos jurados, que poderia restar
prejudicada caso seus votos fossem públicos. Assim, o voto de cada jurado é absolutamente sigiloso.
Soberania dos veredictos: A soberania dos veredictos significa, basicamente, que um Tribunal formado por juízes
“togados” não pode modificar a decisão dos jurados no que tange ao mérito da decisão.
Procedimento bifásico do rito do Tribunal do Júri
A primeira fase do procedimento do Júri é chamada de judicium acusationis, ou etapa da “formação de culpa”, na qual
o Juiz analisa se é o caso, ou não, de submeter o acusado a julgamento pelo plenário. Abrange os atos praticados do
recebimento da denúncia até a pronúncia do réu. Após este momento, temos o judicium causae, que compreende os
atos praticados entre a pronúncia e o julgamento pelo Tribunal do Júri.
Judicium accusationis
Essa fase compreende as seguintes fases:
1- Oferecimento da denúncia ou queixa-crime subsidiária e resposta do réu: A denúncia ou queixa conterá a
exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos
pelos quais se possa identificá-lo, a classificação do crime e, quando necessário, o rol das testemunhas.
Obs.: A acusação deverá arrolar testemunhas, até o máximo de 8 (oito), na denúncia ou na queixa. O número máximo
de testemunhas se dá, para a acusação, POR FATO IMPUTADO, ou seja, sendo dois ou mais fatos delituosos imputados
ao acusado (ou acusados, pois pode haver concurso de agentes), o número de testemunhas será multiplicado.
Recebida a inicial acusatória, o Juiz deverá recebê-la ou rejeitá-la liminarmente. O Juiz rejeitará liminarmente a inicial
acusatória se presentes uma das hipóteses:
I - For manifestamente inepta;
II - Faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da ação penal; ou
III - Faltar justa causa para o exercício da ação penal.
Não sendo este o caso, o Juiz procederá à citação do acusado, que poderá ser realizada por qualquer dos métodos
previstos em Lei (na ordem de preferência estabelecida). Será, em regra, citado pessoalmente. Caso não seja
encontrado, será citado por edital. Se o oficial de justiça verificar que o réu se oculta para não ser citado, procederá à
sua citação por hora certa. Após citado, o acusado terá o prazo de 10 dias para oferecer sua RESPOSTA À ACUSAÇÃO.
Se, escoado o prazo o acusado não apresentar resposta, o Juiz nomeará defensor dativo (ou encaminhará os autos à
Defensoria Pública, onde houver), devolvendo o prazo para oferecimento da resposta.
Obs.: Se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem constituir advogado, ficarão suspensos o processo e o curso
do prazo prescricional, podendo o juiz determinar a produção antecipada das provas consideradas urgentes e, se for o
caso, decretar prisão preventiva.
Em sua defesa escrita o réu poderá alegar TODAS AS MATÉRIAS QUE SEJAM PERTINENTES À SUA DEFESA, juntando os
documentos que reputar necessários, além de especificar as provas que pretende produzir e ARROLAR TESTEMUNHAS,
também até o máximo de OITO, requerendo a intimação destas, SE NECESSÁRIO. Após a defesa do réu, o Juiz notifica o
MP ou o querelante (se for ação penal privada subsidiária da pública) para se manifestarem acerca da resposta do
acusado (uma espécie de RÉPLICA), no prazo de CINCO DIAS. Após esse momento, o Juiz, em dez dias15, designará DATA
PARA A AUDIÊNCIA, oportunidade na qual serão inquiridas as testemunhas e ouvido o réu.
Da Audiência de Instrução e Julgamento
Na audiência de instrução, proceder-se-á à tomada de declarações do ofendido, se possível, à inquirição das
testemunhas arroladas pela acusação e pela defesa, nesta ordem, bem como os esclarecimentos dos peritos, às
acareações e ao reconhecimento de pessoas e coisas, interrogando-se, em seguida, o acusado e procedendo-se o
debate.
Encerrada a instrução probatória, se entender cabível nova definição jurídica do fato, em consequência de prova
existente nos autos de elemento ou circunstância da infração penal não contida na acusação, o Ministério Público deverá
aditar a denúncia ou queixa (mutatio libelli), no prazo de 5 (cinco) dias, se em virtude desta houver sido instaurado o
processo em crime de ação pública, reduzindo-se a termo o aditamento, quando feito oralmente.
Não sendo o caso de MUTATIO LIBELLI, passaremos à fase dos DEBATES ORAIS. As alegações serão orais, concedendo-
se a palavra, respectivamente, à acusação e à defesa, pelo prazo de 20 (vinte) minutos, prorrogáveis por mais 10 (dez).
Havendo mais de 1 (um) acusado, o tempo previsto para a acusação e a defesa de cada um deles será individual. Ao
assistente do Ministério Público, após a manifestação deste, serão concedidos 10 (dez) minutos, prorrogando-se por
igual período o tempo de manifestação da defesa.
CUIDADO! Aqui não há previsão de possibilidade de SUBSTITUIÇÃO DAS ALEGAÇÕES ORAIS por alegações ESCRITAS,
como há previsão no procedimento pelo rito comum ordinário. Essa possibilidade não existe nem mesmo se o fato for
complexo ou o número de acusados recomendar. Entretanto, a Doutrina vem entendendo que, em hipóteses
EXCEPCIONAIS, se permitindo, assim, a substituição das alegações orais pelas alegações escritas.
Ao fim dos debates orais, o Juiz proferirá sua decisão quanto à admissibilidade da acusação, na própria audiência, ou no
PRAZO DE 10 DIAS17. Nesta fase, o Juiz pode:
• Pronunciar o acusado
• Impronunciar o acusado
• Absolver sumariamente o acusado
• Desclassificar a infração penal
Ressalto a vocês que esta fase do procedimento (judicium acusationis) deve terminar no prazo máximo de 90 DIAS.
Da decisão de pronúncia
Dentre as quatro decisões possíveis nessa fase do processo, a única que possibilita o prosseguimento da ação penal é a
decisão de PRONÚNCIA.
A decisão de pronúncia é a decisão pela qual o Juiz verifica que há elementos que permitam a conclusão de indícios de
autoria e prova da materialidade do delito18, de forma que a acusação deve ser recebida e o processo remetido a Júri.
Se estes elementos não estiverem presentes, teremos uma decisão de impronúncia.
O juiz, fundamentadamente, pronunciará o acusado, se convencido da materialidade do fato e da existência de indícios
suficientes de autoria ou de participação. A fundamentação da pronúncia limitar-se-á à indicação da materialidade do
fato e da existência de indícios suficientes de autoria ou de participação, devendo o juiz declarar o dispositivo legal em
que julgar incurso o acusado e especificar as circunstâncias qualificadoras e as causas de aumento de pena.
Obs.: Percebam que o Juiz especifica as qualificadoras e causas de aumento de pena. Entretanto, o Juiz não deve
especificar circunstância privilegiadora (como o §1° do art. 121 do CP, que trata do homicídio privilegiado), nem causa
de DIMINUIÇÃO DE PENA.
A decisão de pronúncia possui natureza meramente declaratória (O Juiz não condena nem absolve), pois o Juiz se limita
a dizer que a acusação é admissível, podendo o processo ser levado à Júri.
Processualmente, é classificada como DECISÃO INTERLOCUTÓRIA MISTA NÃOTERMINATIVA, pois é uma decisão no
curso do processo, que não define o mérito (interlocutória), mas que põe termo a uma fase do processo (mista), embora
o processo siga (não-terminativa). Esta decisão faz coisa julgada apenas formal, pois, preclusa a via recursal, se tornará
imodificável. No entanto, ocorrendo situação superveniente que altere a classificação do delito, poderá ser modificada.
O juiz poderá dar ao fato definição jurídica diversa da constante da acusação (emendatio libelli), embora o acusado fique
sujeito a pena mais grave.
Essa hipótese (emendatio libelli) não se confunde com a hipótese de MUTATIO LIBELLI. Nesse caso, o Juiz reconhece
que, durante o processo, ficaram provadas algumas circunstâncias que não constavam na acusação (fatos). Nesse caso,
não é possível prosseguir no processo sem que se renove a instrução, pois o acusado se defendeu de um ou alguns fatos,
e estará sendo pronunciado por outros além destes.
Caso o Juiz apenas dê nova definição jurídica ao fato, não por verificar que surgiram provas de outros fatos, mas por que
o membro do MP se equivocou na definição jurídica dada ao fato narrado, não há que se falar em renovação da instrução
criminal, pois os fatos permanecem os mesmos, tendo o réu exercido validamente o contraditório e a ampla defesa.
Lembrando, ainda, que se da nova definição jurídica do fato restar que o crime NÃO É UM CRIME DOLOSO CONTRA A
VIDA, deverá ser procedida à desclassificação do crime.
A decisão de pronúncia possui alguns efeitos. São eles:
⇒ Submete o acusado a Júri popular
⇒ Limita as teses da acusação a serem apresentadas a Júri – Se o acusado, por exemplo, foi denunciado por homicídio
qualificado, mas pronunciado por homicídio simples, só poderá ser condenado pelo conselho de sentença por homicídio
simples
⇒ Interrompe a prescrição – A decisão de pronúncia interrompe a prescrição, não importando que, posteriormente, o
Tribunal do Júri desclassifique a infração.
O réu será intimado PESSOALMENTE da decisão de pronúncia. Não sendo encontrado, será intimado por EDITAL (isso
mesmo, intimação POR EDITAL).
Atualmente não há mais a chamada PRISÃO DA PRONÚNCIA, que era uma modalidade de prisão decorrente da simples
decisão de pronúncia. Atualmente, qualquer prisão antes do trânsito em julgado da sentença penal condenatória é uma
modalidade de PRISÃO CAUTELAR, só podendo ser determinada se presentes os requisitos que autorizam a decretação
da prisão preventiva.
Da decisão de pronúncia cabe RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. Reformando o Tribunal a decisão de pronúncia, ocorre
o que se chama de DESPRONÚNCIA.
Da decisão de impronúncia
A impronúncia é outra das quatro decisões possíveis do Juiz singular ao final da instrução nos processos de competência
do Tribunal do Júri. Não se convencendo da materialidade do fato ou da existência de indícios suficientes de autoria ou
de participação, o juiz, fundamentadamente, impronunciará o acusado. A decisão de impronúncia não faz coisa julgada
material, pois é uma decisão que apenas declara que não há elementos de prova suficientes para levar o réu à Júri
popular. Desta forma, se posteriormente surgirem novas provas, nada impede que seja intentada NOVA AÇÃO PENAL,
enquanto não estiver extinta a punibilidade.
A decisão de impronúncia é uma decisão interlocutória mista terminativa, pois põe fim não só a uma fase do
procedimento, mas extingue o processo. Da decisão de impronúncia caberá APELAÇÃO.
Desclassificação
A desclassificação é a decisão através da qual o Juiz singular desclassifica o delito para outro que NÃO SEJA DOLOSO
CONTRA A VIDA. É uma decisão interlocutória simples, que resulta no encaminhamento dos autos ao Juízo competente.
CUIDADO! A desclassificação de um crime doloso contra a vida nem sempre gera a remessa dos autos a outro Juízo
(Juízo Criminal Comum), pois pode haver de estarem sendo julgados pelo procedimento dos crimes da competência do
Júri, no mesmo processo, vários crimes dolosos contra a vida, conexos, e a desclassificação de um deles não importa em
remessa dos autos ao Juízo Criminal comum, pois os demais permanecerão sendo da competência do Júri, e por
conexão, todos devem ser julgados pelo mesmo Juízo, que será o do Júri.
Essa é a chamada desclassificação PRÓPRIA. Há, ainda, a chamada desclassificação IMPRÓPRIA, que ocorre quando o
Juiz desclassifica o fato para outro crime doloso contra a vida (de homicídio para infanticídio, por exemplo, e vice-versa).
Embora não haja previsão expressa de cabimento de algum recurso para esta decisão, Doutrina e jurisprudência
entendem ser cabível neste caso, o RECURSO EM SENTIDO ESTRITO, por gerar o reconhecimento de uma situação de
incompetência do Juízo (ainda que, em hipóteses excepcionais, o Juiz continue competente, por conexão).
Absolvição sumária
A primeira coisa que se deve ter em mente aqui, é que esta absolvição sumária se dá em momento diferente da
absolvição sumária no rito ordinário.
Naquele rito, o Juiz, ao receber a resposta à acusação, poderá absolver sumariamente o acusado, em determinadas
hipóteses. Aqui, no rito do Júri, o Juiz somente pode absolver o acusado, sumariamente, neste momento, ou seja, após
toda a instrução criminal preliminar.
O juiz, fundamentadamente, absolverá desde logo o acusado, quando:
I – Provada a inexistência do fato;
II – Provado não ser ele autor ou partícipe do fato;
III – O fato não constituir infração penal;
IV – Demonstrada causa de isenção de pena ou de exclusão do crime.
Assim, a absolvição sumária ocorrerá quando:
⇒ Ficar PROVADA a inexistência do fato
⇒ Ficar PROVADO que o réu não participou do crime
⇒ Ficar PROVADO que o fato não constitui nenhuma infração penal (Fato atípico)
⇒ Ficar PROVADO que o réu praticou o fato amparado por alguma CAUSA DE EXCLUSÃO DA ILICITUDE (legítima defesa,
estado de necessidade, etc.)
⇒ Ficar PROVADO que está presente alguma causa de isenção de pena (causa excludente da culpabilidade, por
exemplo), salvo a INIMPUTABILIDADE POR DOENÇA MENTAL OU DESENVOLVIMENTO MENTAL INCOMPLETO OU
RETARDADO, quando esta NÃO FOR A ÚNICA TESE DEFENSIVA – Isso se dá porque se inimputabilidade for a única tese
de defesa, nada mais poderá conseguir o acusado, no julgamento pelos jurados, que uma absolvição por
inimputabilidade. No entanto, se o réu possuir alguma outra tese, poderá conseguir, no Conselho de Sentença, decisão
mais interessante para ele do que a absolvição por inimputabilidade. Digo que a decisão de absolvição por
inimputabilidade é menos interessante que absolvição por outro motivo, pois a absolvição por inimputabilidade acarreta
a imposição de MEDIDA DE SEGURANÇA, sendo, por isso mesmo, chamada de ABSOLVIÇÃO IMPRÓPRIA.
Da decisão de absolvição sumária cabe apelação.
Judicium causae
Esta é a segunda fase deste procedimento especial, e tem início quando se torna preclusa (irrecorrível) a decisão de
pronúncia, ou quando esta decisão, embora recorrida, tenha sido mantida pelo Tribunal.
A partir daí o Juiz intima o MP e o Defensor, para que no prazo de CINCO DIAS apresentem o ROL DE TESTEMUNHAS,
até o máximo de CINCO. Nessa oportunidade, eles podem juntar documentos e requerer a realização de diligências. O
Juiz verifica os pedidos de diligência e produção de provas, tomando as providências necessárias para sanar eventual
nulidade existente no processo ou esclarecer algum ponto ainda controvertido. Após, faz relatório RESUMIDO do
processo, designando data para julgamento.
Desaforamento
O desaforamento é o DESLOCAMENTO DO JULGAMENTO PELO JÚRI PARA COMARCA DISTINTA DAQUELA ONDE
TRAMITOU O PROCESSO, e pode ser determinado pelo Tribunal, a requerimento de qualquer das partes. o
DESAFORAMENTO poderá ocorrer:
✓ Interesse de ordem pública – Quando o crime tiver gerado intranquilidade social no local, ou essa
intranquilidade tenha sido gerada em razão da atuação da imprensa ou qualquer outra circunstância, de forma
que se entenda que a realização do Júri possa restar prejudicada;
✓ Dúvida sobre a imparcialidade dos jurados – Aqui é a hipótese na qual a comoção da comunidade em que
ocorreu o crime possa gerar a imparcialidade dos jurados, de forma que seria mais prudente deslocar a
competência para outra localidade;
✓ Segurança pessoal do réu – Quando a realização da sessão de julgamento no local possa ser uma ameaça à
integridade física do próprio réu;
✓ Não tiver sido aprazada data para a sessão de julgamento após SEIS MESES contados do TRÂNSITO EM JULGADO
DA DECISÃO DE PRONÚNCIA, quando houver comprovado EXCESSO DE SERVIÇO – que ocorre quando o excesso
de serviço na comarca esteja atrasando sobremaneira a realização da sessão de julgamento,
✓ de forma que é mais conveniente transferi-la para outro local. Se a demora estiver ocorrendo por desídia do
Juízo, e não por excesso de serviço, não há razão para o desaforamento.
O pedido de desaforamento tem preferência de julgamento na Câmara ou Turma do Tribunal, ao qual fora distribuído.
Entretanto, como, mesmo assim, o julgamento do pedido pode demorar, o Relator poderá conceder EFEITO SUSPENSIVO
AO PEDIDO DE DESAFORAMENTO.
O pedido deve ser realizado entre o trânsito em julgado da decisão de pronúncia e a realização do julgamento. NUNCA
PODERÁ SER EFETIVADO O DESAFORAMENTO ANTES DO TRÂNSITO EM JULGADO DA DECISÃO DE PRONÚNCIA.
Entretanto, é possível que o desaforamento seja efetivado APÓS REALIZADO O JULGAMENTO. Isso somente poderá
ocorrer quando o fato que dá fundamento ao pedido tiver ocorrido durante ou após a sessão de julgamento ANULADA.
Além disso, é IMPRESCINDÍVEL A OITIVA DA DEFESA no pedido de desaforamento, sendo completamente nula a decisão
que violar esse preceito. Trata-se de entendimento sumulado pelo STF: Súmula n° 712 do STF: É NULA A DECISÃO QUE
DETERMINA O DESAFORAMENTO DE PROCESSO DA COMPETÊNCIA DO JÚRI SEM AUDIÊNCIA DA DEFESA.
Da organização da pauta
Salvo motivo relevante que autorize alteração na ordem dos julgamentos, terão preferência:
⇒ Os processos com acusados presos
⇒ Dentre os processos com acusados presos, serão julgados primeiramente aqueles com acusados presos há mais
tempo
⇒ Permanecendo o “empate”, serão julgados primeiramente aqueles que tiverem sido pronunciados há mais tempo.
Essa pauta é definida para a chamada “reunião periódica”, que é o período do ano dentro do qual serão realizados os
julgamentos. Pode ser um período de 03 meses, 10 meses, não importa. Isso irá variar de acordo com a demanda de
cada comarca e a quantidade de julgamentos que estão previstos para aquele ano.
Antes do dia designado para o primeiro julgamento da reunião periódica, será afixada na porta do edifício do Tribunal
do Júri a lista dos processos a serem julgados, obedecida a ordem prevista. O juiz presidente reservará datas na mesma
reunião periódica para a inclusão de processo que tiver o julgamento adiado.
Estando o processo em ordem, o juiz presidente mandará intimar as partes, o ofendido, se for possível, as testemunhas
e os peritos, quando houver requerimento, para a sessão de instrução e julgamento. O assistente somente será admitido
se tiver requerido sua habilitação até 5 (cinco) dias antes da data da sessão na qual pretenda atuar.
Alistamento, sorteio e da convocação dos jurados
O juiz presidente, anualmente faz o alistamento dos jurados, para fazer essa lista o juiz presidente requisita a indicação
de pessoas à: autoridades locais, associações de classe e de bairro, entidades associativas e culturais, instituições de
ensino em geral, universidades, sindicatos, repartições públicas e outros núcleos comunitários.
A lista geral dos jurados é provisória e possui a indicação das profissões dos jurados. Será publicada na imprensa oficial
até o dia 10 de outubro e também divulgada em editais fixados na porta do tribunal do júri. Como a lista é provisória,
ela pode sofrer alterações de oficio ou a reclamação de qualquer do povo até o dia 10 de novembro. Contra a
exclusão/inclusão de jurados cabe recurso em sentido estrito em 20 dias.
O jurado que integrou conselho de sentença nos 12 meses que antecederam a publicação da lista geral fica excluído da
lista, com o intuito de evitar a perpetuação da função de jurado e assim promover a rotatividade dos mesmos.
Composta a lista definitiva, os nomes e endereços dos selecionados serão inscritos em cartões iguais que vão ser
depositados na urna geral que serão antes, verificados na presença do MP, advogado indicado pela OAB e defensor
indicado pela defensoria.
Da urna geral com todos os nomes que foram indicados, sorteia-se 25 jurados. Esse sorteio ocorrerá entre o 15º e o 10º
dia antes de cada reunião periódica. Vale lembrar que dos 25 jurados, somente 7 participam do conselho de sentença.
Da função do jurado
Sobre o serviço do júri vamos fazer algumas observações diretas:
⇒ Trata-se de serviço público relevante e obrigatório
⇒ Só podem participar os maiores de 18 anos, de notória idoneidade
⇒ Ninguém pode recusar o serviço ou dele ser excluído por questões de cor ou etnia, raça, credo, sexo, profissão, classe
social ou econômica, origem ou grau de instrução.
⇒ A recusa injustificada ao serviço do júri, bem como o não comparecimento no dia marcado para a sessão ou a saída
antes de ser dispensado pelo presidente acarretará multa (que varia de 01 a 10 salários mínimos a critério do juiz,
conforme a condição econômica do jurado)
⇒ O exercício efetivo da função de jurado estabelece presunção de idoneidade moral
⇒ No exercício da função ou em razão dela, o jurado será penalmente responsável nos mesmos termos em que o são
os juízes de Direito.
⇒ O comparecimento do jurado às sessões não pode importar em desconto no salário
Todavia, apesar destas características, notadamente a característica da universalidade, nem todas as pessoas estão
obrigadas ao serviço do Júri. O art. 437 traz um rol de pessoas que estão dispensadas do serviço do júri. São elas:
• O Presidente da República
• Os Ministros de Estado
• Os Governadores e seus respectivos Secretários
• Os membros do Congresso Nacional
• Os membros das Assembleias Legislativas e das Câmaras Distrital e Municipais
• Os Prefeitos Municipais
• Os Magistrados (juízes, desembargadores, etc.)
• Os membros do Ministério Público
• Os membros da Defensoria Pública
• Os servidores do Poder Judiciário, do Ministério Público e da Defensoria Pública
• As autoridades e os servidores da polícia e da segurança pública
• Os militares em serviço ativo
• Os cidadãos maiores de 70 (setenta) anos que requeiram sua dispensa
• Aqueles que o requererem, demonstrando justo impedimento
Da composição do Tribunal do Júri e da Formação do Conselho de Sentença
O Tribunal do Júri é composto por 1 (um) juiz togado, seu presidente e por 25 (vinte e cinco) jurados que serão sorteados
dentre os alistados, 7 (sete) dos quais constituirão o Conselho de Sentença em cada sessão de julgamento.
São impedidos de servir no mesmo Conselho:
I – marido e mulher;
II – Ascendente e descendente;
III – sogro e genro ou nora;
IV – irmãos e cunhados, durante o cunhadio;
V – tio e sobrinho;
VI – Padrasto, madrasta ou enteado.
§ 1º O mesmo impedimento ocorrerá em relação às pessoas que mantenham união estável reconhecida como entidade
familiar.
§ 2º Aplicar-se-á aos jurados o disposto sobre os impedimentos, a suspeição e as incompatibilidades dos juízes togados.
Não poderá servir o jurado que:
I – Tiver funcionado em julgamento anterior do mesmo processo, independentemente da causa determinante do
julgamento posterior;
II – No caso do concurso de pessoas, houver integrado o Conselho de Sentença que julgou o outro acusado;
III – tiver manifestado prévia disposição para condenar ou absolver o acusado.
Dos impedidos entre si por parentesco ou relação de convivência, servirá o que houver sido sorteado em primeiro lugar.
Os jurados excluídos por impedimento, suspeição ou incompatibilidade serão considerados para a constituição do
número legal exigível para a realização da sessão.
Obs.: O mesmo Conselho de Sentença poderá conhecer de mais de um processo, no mesmo dia, se as partes o aceitarem,
hipótese em que seus integrantes deverão prestar novo compromisso.
Uma vez sorteados os 07 nomes, esses 07 sorteados passarão a compor o que se chama de “Conselho de Sentença”, a
quem caberá a efetiva decisão sobre condenação ou absolvição do acusado, reconhecimento de qualificadoras, etc. A
Juiz-Presidente caberá a condução das sessões, formulação de quesitos aos jurados, a fixação da pena, etc.
Da reunião e das sessões do Tribunal do Júri
Esta seção trata dos trabalhos para a instalação da sessão de julgamento.
Inicialmente, estabelece-se o procedimento a ser adotado no caso de ausência do MP ou do advogado do acusado, com
consequências diferentes:
⇒ Ausência do MP – Adia para o próximo dia desimpedido da mesma reunião. Se for ausência injustificada, notifica-se
o PGJ.
⇒ Ausência do advogado do acusado – Se for ausência injustificada, não sendo constituído outro advogado, notifica-se
a OAB. Nesse caso, só se adia uma vez. Intima-se a DP para atuar no caso, no próximo dia desimpedido da mesma
reunião, com antecedência mínima de 10 dias (para que a DP possa se inteirar sobre o caso).
ATENÇÃO! Não se adia o julgamento em razão da ausência do acusado solto, do assistente de acusação ou do advogado
do querelante (na ação penal privada subsidiária da pública), que tiver sido regularmente intimado.
E se a ausência for de testemunha? Neste caso, havendo ausência sem justa causa, o juiz-presidente, deverá aplicar
multa (de 01 a 10 salários, conforme a condição da testemunha), sem prejuízo da ação penal pelo crime de
desobediência.
Mas, é possível realizar a sessão de julgamento sem a presença de alguma testemunha? Sim.
Como regra, o julgamento não será adiado pelo não comparecimento de testemunha, EXCETO se uma das partes tiver
requerido a sua intimação por mandado, declarando não prescindir do depoimento e indicando a sua localização. Neste
caso, o juiz presidente suspenderá os trabalhos e mandará conduzir a testemunha, ou adiará o julgamento para o
primeiro dia desimpedido, ordenando a sua condução. E, se ainda assim ela não for encontrada no local indicado? Neste
caso, o julgamento será realizado assim mesmo.
Da formação do Conselho de Sentença
Antes de sortear os jurados, o Juiz determinará que as testemunhas sejam recolhidas a lugar onde umas não possam
ouvir os depoimentos das outras. Frise-se, que o comparecimento da testemunha à sessão também não pode importar
em desconto no salário.
Estando tudo em ordem, o Juiz deverá verificar se a urna contém o nome dos 25 jurados, e mandará que o escrivão
proceda à chamada dos mesmos.
Mas, e se não estiverem presentes os 25 jurados? O Juiz dará início aos trabalhos se estiverem presentes pelo menos 15
jurados. Caso não haja sequer 15 jurados, serão sorteados tantos suplentes quantos forem necessários, designando-se
nova data para a sessão.
Estando tudo em ordem, o Juiz deverá verificar se a urna contém o nome dos 25 jurados, e mandará que o escrivão
proceda à chamada dos mesmos.
Antes do sorteio, o Juiz já deverá advertir os jurados de que, uma vez sorteados, deverão manter-se incomunicáveis,
não podendo manter contato entre si ou com outras pessoas, bem como não poderão se manifestar sobre o processo,
sob pena de exclusão e multa. Havendo o número mínimo de jurados presentes, e verificando que a urna contém o
nome destes jurados, o Juiz-presidente sorteará os 07 jurados que formarão o Conselho de Sentença para aquela sessão.
Todavia, as partes poderão recusar algum jurado que tenha sido sorteado. A acusação e a defesa poderão recusar até
03 jurados cada, sem necessidade de motivar a recusa (chamadas “recusas injustificadas”).
Uma vez recusado por qualquer das partes, o jurado será excluído daquela sessão, não podendo integrar o Conselho de
Sentença.
Mas, e se forem dois ou mais acusados? As recusas, neste caso, podem ser feitas, caso queiram, por um só defensor. Se,
em razão das recusas, não for possível obter o número mínimo de jurados para a formação do Conselho de Sentença,
os processos deverão ser desmembrados.
Uma vez formado o Conselho de Sentença, o Juiz-presidente deverá se levantar (e todos os presentes no recinto
também!) e fazer a seguinte exortação aos jurados: “Em nome da lei, concito-vos a examinar esta causa com
imparcialidade e a proferir a vossa decisão de acordo com a vossa consciência e os ditames da justiça.” Os jurados, por
sua vez, dirão: “Assim o prometo.”
Após, os jurados deverão receber cópias da decisão de pronúncia (para que possam se inteirar sobre os fatos) ou das
decisões posteriores que julgaram admissível a acusação, se for o caso (decisão do TJ que reformou a impronúncia
anterior, etc.).
Uma vez realizado o compromisso, o Juiz-presidente dará início à instrução em plenário, procedendo nesta ordem:
⇒ Inquirição das testemunhas (Primeiro inquiridas pelo Juiz, depois pelo MP, assistente de acusação, querelante e
defensor do acusado).
⇒ Se for o caso, serão realizadas acareações, reconhecimento de pessoas e coisas e esclarecimento dos peritos, bem
como a leitura de peças relativas, exclusivamente, às provas colhidas por carta precatória e às provas cautelares,
antecipadas ou não repetíveis.
⇒ Interrogatório do acusado, se estiver presente
⇒ O MP, o assistente, o querelante e o defensor, nessa ordem, podem formular perguntas diretamente ao acusado. Os
jurados podem formular perguntas ao acusado, por intermédio do Juiz-presidente.
O uso de algemas no acusado só é admissível caso seja absolutamente necessário à ordem dos trabalhos, à segurança
das testemunhas ou à garantia da integridade física dos presentes.
Dos debates
⇒ Primeiro a acusação, por 1:30h (Se houver assistente de acusação, falará logo após o MP, mas dentro do prazo
destinado à acusação)
⇒ Em seguida, a defesa, por 1:30h
⇒ Se for o caso, haverá réplica, de 1:00h para acusação, e tréplica de 1:00h para a defesa
⇒ Havendo mais de 01 acusado, o tempo para a acusação e para a defesa será acrescido de 01 hora e elevado ao dobro
o da réplica e da tréplica.
Caso a acusação não queira falar em réplica, não haverá tréplica para a defesa. Todavia, no caso de a acusação não
pretender falar em réplica, deverá se limitar a dizer que “não fará uso da palavra”, ou “não falará em réplica”, etc. Caso
a acusação vá além e faça qualquer comentário sobre o processo, o Juiz deverá considerar que houve réplica e conferir
à defesa a possibilidade de falar em tréplica.
Importante ressaltar que, nos debates orais, as partes poderão utilizar-se de argumentos jurídicos e extrajurídicos para
sustentar suas teses (de acusação e de defesa). Todavia, existem algumas regras a serem seguidas. Durante os debates
as partes não poderão, sob pena de nulidade, fazer referências:
⇒ À decisão de pronúncia, às decisões posteriores que julgaram admissível a acusação ou à determinação do uso de
algemas como argumento de autoridade que beneficiem ou prejudiquem o acusado – Exemplo: O Promotor de Justiça,
na sua fala, olha para os jurados e diz: “vejam, o réu só pode ser culpado, o próprio Juiz reconheceu isso ao pronunciá-
lo. Além disso, sua periculosidade está demonstrada pelo fato de estar usando algemas!”. Isso está vedado.
⇒ Ao silêncio do acusado ou à ausência de interrogatório por falta de requerimento, em seu prejuízo – Exemplo: O
Promotor de Justiça, na sua fala, olha para os jurados e diz: “vejam, o réu tem culpa no cartório! Se não tivesse, não
teria ficado calado em seu interrogatório! Com certeza está escondendo algo!”. Isso está vedado.
Além disso, no julgamento não será permitida a leitura de documento ou a exibição de objeto que não tiver sido juntado
aos autos com a antecedência mínima de 03 dias úteis, dando-se ciência à outra parte.
Ao final dos debates o Juiz indagará aos jurados se estão aptos para julgar ou se precisam de outros esclarecimentos.
Caso seja necessária a realização de alguma diligência, considerada essencial para o julgamento da causa, que não possa
ser realizada imediatamente, o juiz-presidente deverá dissolver o Conselho de Sentença, ordenando a realização das
diligências.
Estando aptos os jurados e não havendo necessidade de realização de qualquer diligência, o Juiz-presidente procederá
à realização do questionário aos jurados.
Do questionário e sua votação
A quesitação nada mais é que a indagação aos jurados acerca dos pontos que devam ser julgados. Entretanto, ela deve
ser formulada de forma atenta pelo Juiz-Presidente, para se evitar eventual anulação do julgamento.
A quesitação ocorre em sala especial, na qual somente poderão estar presentes os jurados, o juiz-presidente, o MP, o
assistente, o querelante, o defensor do acusado, o escrivão e o oficial de justiça. Não havendo sala especial, o Juiz-
presidente fará com que todos os demais se retirem, permanecendo no recinto apenas estas pessoas.
Antes de iniciada a votação de cada quesito, o juiz-presidente mandará distribuir aos jurados cédulas contendo 07 delas
a palavra SIM e 07 a palavra NÃO (uma de cada espécie para cada jurado).
A ordem das perguntas a serem realizadas aos jurados será a seguinte:
⇒ Materialidade do fato – Questiona-se aos jurados se o FATO ocorreu. Ex.: Se o crime for de homicídio, pergunta-se
aos jurados: “No dia tal, em tal hora, em tal lugar, alguém desferiu disparos de arma de fogo contra a vítima fulano de
tal, causando-lhe a morte?”. É apenas isso.
⇒ Autoria ou participação no fato – Ultrapassado o primeiro quesito com 04 respostas “SIM”, pergunta-se aos jurados
se o acusado concorreu para o fato (como autor ou partícipe).
⇒ Pergunta-se se o Jurado absolve o acusado – Tendo sido respondido “SIM” ao quesito anterior por 04 jurados,
pergunta-se ao jurado se ele absolve o acusado. Se 04 jurados votarem “SIM”, estará absolvido. Se 04 jurados votarem
“NÃO”, prossegue-se na quesitação.
⇒ Se existe causa de diminuição de pena alegada pela defesa – Os jurados são perguntados acerca da existência de
causa de diminuição de pena eventualmente alegada pela defesa. Se “SIM”, deverá ser considerada na dosimetria da
pena. Se “NÃO”, em nada influenciará.
⇒ Se reconhecem a existência de qualificadora ou causa de aumento de pena objeto da acusação – Assim como na
indagação acerca da existência de causa de diminuição de pena, não pode o Juiz-Presidente fazer indagação genérica,
devendo perguntar especificamente cada uma das teses levantadas pela acusação e reconhecidas na pronúncia.
⇒ Se for levantada a tese da DESCLASSIFICAÇÃO DA INFRAÇÃO para uma infração de competência do Juiz singular, deve
o Juiz-Presidente formular um quesito autônomo, após o reconhecimento da materialidade e autoria do delito.
⇒ Se for sustentada a tese de crime tentado ou houver divergência acerca da tipificação do delito, deverá haver quesito
autônomo acerca destes fatos, após o quesito relativo à autoria.
Da sentença
Uma vez encerrada a votação, caberá ao Juiz-presidente proferir a sentença, de acordo com o que fora decidido pelos
jurados.
No caso de condenação, o Juiz-presidente deverá:
• Fixar a pena-base
• Aplicar as circunstâncias agravantes e atenuantes alegadas nos debates
• Aplicar as causas de aumento ou diminuição da pena admitidas pelo júri
• Observar as demais disposições previstas para toda sentença condenatória (fixar regime inicial de cumprimento, etc.).
• Decidir sobre a decretação, manutenção ou revogação da prisão preventiva
• Determinar a execução provisória da pena no caso de condenação igual ou superior a 15 anos de reclusão
• Estabelecer os efeitos genéricos e específicos da condenação
Em caso de absolvição, o Juiz-presidente deverá:
• Mandar colocar em liberdade o acusado se por outro motivo não estiver preso
• Revogar as medidas restritivas provisoriamente decretadas
• Impor, se for o caso, a medida de segurança cabível (no caso de sentença absolutória imprópria, aplicável aos
inimputáveis por doença mental).
Caso haja desclassificação da infração penal (para outra que não seja da competência do Júri), neste momento, caberá
ao próprio Juiz-presidente julgar a infração penal.
Se houver desclassificação da infração penal de crime doloso contra a vida para infração penal que permita os benefícios
da Lei 9.099/95, o Juiz-Presidente tomará as providências necessárias para o processo e julgamento da “nova infração
penal”, ou seja, mesmo com a desclassificação o crime continuará a ser julgado pela Vara do Júri (mas não pelo Conselho
de Sentença, e sim pelo Juiz-Presidente), aplicando-se o procedimento necessário para a análise da concessão, ou não,
dos benefícios da Lei 9.099/95.
Se houver crimes conexos, havendo desclassificação do crime doloso contra a vida, os demais (não dolosos contra a
vida) também passarão para a competência do Juiz-presidente (não mais do Júri).
Em se tratando de decisão condenatória proferida pelo Tribunal do Júri, quando for aplicada pena igual ou superior a 15
anos, o Juiz deverá determinar o recolhimento do condenado à prisão, ainda que não tenha havido o trânsito em julgado.
Esta possibilidade de execução provisória de pena tem como fundamento o princípio da soberania dos veredictos. A
ideia é: se o Tribunal, quando do julgamento de eventual recurso contra decisão dos jurados, não poderá reformar a
decisão (pode, no máximo, determinar seja feito novo julgamento), isso significa que a culpa, no âmbito do júri, já está
perfeitamente delimitada, motivo pelo qual não faria sentido estender a presunção de inocência até o trânsito
em julgado.
Apesar disso, a previsão possivelmente será reconhecida como inconstitucional, na medida em que o STF (quando do
julgamento das ADCs 43, 44 e 54) já reconheceu que, no processo penal brasileiro, até pela literalidade da CF/88, a
presunção de inocência se estende até o trânsito em julgado, motivo pelo qual é vedada a execução provisória de pena
criminal.
Deve-se ressaltar, porém, que a execução provisória da pena no caso citado acima nem sempre irá ocorrer. O §3º do
art. 492 (também incluído pela Lei 13.964/19) prevê que o Juiz-presidente do Tribunal do Júri pode deixar de determinar
a execução provisória de pena quando, uma vez interposto recurso:
⇒ Houver questão substancial cuja resolução pelo tribunal ao qual competir o julgamento do recurso possa
plausivelmente levar à revisão da condenação.
Além desta previsão, a execução provisória também não ocorrerá quando o Tribunal (a quem competir o julgamento da
apelação interposta) atribuir efeito suspensivo ao recurso. Como regra, a apelação interposta contra decisão
condenatória do Tribunal do Júri a uma pena igual ou superior a 15 (quinze) anos de reclusão não terá efeito suspensivo.
Excepcionalmente, porém, poderá ser atribuído efeito suspensivo quando o Tribunal verificar que o recurso:
⇒ Não tem propósito meramente protelatório (não foi interposto apenas para postergar o trânsito em julgado); e
⇒ Levanta questão substancial e que pode resultar em absolvição, anulação da sentença, novo julgamento ou redução
da pena para patamar inferior a 15 (quinze) anos de reclusão
Preenchidos estes requisitos cumulativos, o efeito suspensivo pode ser atribuído ao recurso de apelação interposto,
suspendendo, assim, a eficácia da sentença condenatória até o julgamento definitivo do recurso (e evitando, assim, a
execução provisória da pena aplicada).
⇒ Frise-se, por fim, que o pedido de concessão de efeito suspensivo poderá ser feito:
Incidentemente na apelação; ou
⇒ Por meio de petição em separado dirigida diretamente ao relator, instruída com cópias da sentença condenatória,
das razões da apelação e de prova da tempestividade, das contrarrazões e das demais peças necessárias à compreensão
da controvérsia.
Dos recursos contra as decisões do Tribunal do Júri
Das decisões proferidas pelo Júri caberá apelação, nos termos do art. 593, III do CPP, nas estritas hipóteses ali previstas.
Ou seja, temos aqui um recurso de fundamentação vinculada:
Caberá apelação no prazo de 5 (cinco) dias:
III - das decisões do Tribunal do Júri, quando:
a) ocorrer nulidade posterior à pronúncia;
b) for a sentença do juiz-presidente contrária à lei expressa ou à decisão dos jurados;
c) houver erro ou injustiça no tocante à aplicação da pena ou da medida de segurança;
d) for a decisão dos jurados manifestamente contrária à prova dos autos.
Em sendo provida a apelação, o Tribunal, em regra, não poderá REFORMAR a decisão dos jurados, pois isso seria violação
à soberania dos veredictos. Contudo, se a apelação atacar a decisão do Juiz-Presidente, o Tribunal poderá proceder à
alteração.
TEORIA GERAL DA PROVA NO PROCESSO PENAL
A Teoria Geral da Prova no Processo Penal está regulada no Título VII CPP, a partir do art. 155, que assim dispõe:
Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório judicial, não podendo
fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas
cautelares, não repetíveis e antecipadas.
A expressão “livre apreciação da prova produzida” consagra a adoção do sistema do livre convencimento motivado da
prova. O que isso significa? O princípio ou sistema do livre convencimento motivado, ou livre convencimento regrado,
diz que o Juiz deve valorar a prova produzida da maneira que entender mais conveniente, de acordo com sua análise
dos fatos comprovados nos autos. Assim, o Juiz não está obrigado a conferir determinado “peso” a alguma prova.
Entretanto, esta liberdade do Magistrado (Juiz) não é absoluta, pois:
• O Magistrado deve fundamentar suas decisões;
• As provas devem constar dos autos do processo;
• As provas devem ter sido produzidas sob o crivo do contraditório judicial – Assim, as provas exclusivamente produzidas
em sede policial (Inquérito Policial) não podem, por si sós, fundamentar a decisão do Juiz.
Além disso, o CPP determina que as provas urgentes, que não podem esperar para serem produzidas em outro momento
(cautelares, provas não sujeitas à repetição, etc.), estão ressalvadas da obrigatoriedade de serem produzidas
necessariamente pelo crivo do contraditório judicial, embora se deva sempre procurar estabelecer o contraditório em
sede policial quando da realização destas diligências.
Podemos definir prova como o elemento produzido pelas partes ou mesmo pelo Juiz, visando à formação do
convencimento deste (Juiz) acerca de determinado fato. Como o processo criminal é um processo de “conhecimento”
(pois se busca a certeza, já que reside incerteza quanto à materialidade do delito e sua autoria), a produção probatória
é um instrumento que conduz o Juiz ao alcance da “certeza”, de forma que, de posse da certeza dos fatos, o Juiz possa
aplicar o Direito.
Obs.: utilizando-se por analogia o regramento processual civil, a parte que alegar direito municipal, estadual ou
estrangeiro, deve provar-lhes o teor e a vigência, pois o Juiz não está obrigado a conhecer estas normas jurídicas.
Porém, existem determinados fatos que não necessitam serem provados6 (não sendo, portanto, objeto de prova). São
eles:
• Fatos evidentes (ou axiomáticos, ou intuitivos) – São fatos que decorrem de um raciocínio lógico, intuitivo, decorrente
de alguma situação que gera a lógica conclusão de outro fato (ex.: o réu, nascido em junho de 1985, fato este conhecido
do Juízo, não precisa provar que em agosto de 2015 ele possuía 30 anos. É evidente que se nasceu em junho de 1985,
em agosto de 2015 já terá completado 30 anos).
• Fatos notórios – São aqueles que pertencem ao conhecimento comum de todas as pessoas. Assim, ao mencionar, por
exemplo, que um fato criminoso fora cometido no dia 25 de dezembro, Natal, não tem a parte obrigação de provar que
o dia 25 de dezembro é Natal, pois isso é do conhecimento comum de qualquer pessoa.
• Presunções legais – São fatos que a lei presume tenham ocorrido. O exemplo mais clássico é a inocência do réu. A Lei
presume a inocência do réu, portanto, não cabe ao réu provar que é inocente, pois este fato já é presumido. No entanto,
este fato é uma presunção relativa, ou seja, pode ser desconstituído se o titular da ação penal (MP ou ofendido) provar
que o acusado é culpado. Nessa hipótese, terá sido ilidida a presunção de inocência. Por outro lado, a presunção pode
ser também, absoluta, ou seja, não admitir prova em contrário. Um exemplo clássico é a presunção de que o menor de
14 anos não tem condições mentais de consentir na realização de um ato sexual, sendo, portanto, crime de estupro a
prática de ato sexual com pessoa menor de 14 anos, consentido ou não a vítima (presunção absoluta de incapacidade
para consentir, ou presunção iure et de iure). Para parcela da Doutrina, no entanto, trata-se de presunção meramente
relativa (tese minoritária). Frise-se que embora o fato presumido independa de prova, o fato que gera a presunção deve
ser provado. Assim, embora seja presumida a incapacidade para consentir do menor de 14 anos, a condição de menor
de 14 anos deve ser objeto de prova.
• Fatos inúteis – São aqueles que não possuem qualquer relevância para a causa, sendo absolutamente dispensáveis e,
até mesmo, podendo ser dispensada a sua apreciação pelo Juiz.
As provas podem ser classificadas em:
Quanto ao seu objeto:
a) Provas diretas – Aquelas que provam o próprio fato, de maneira direta. Exemplo: Testemunha ocular de um delito,
que, com seu depoimento, prova diretamente a ocorrência do fato;
b) Provas indiretas – Aquelas que não provam diretamente o fato, mas por uma dedução lógica, acabam por prová-lo.
Exemplo: Imagine-se que o acusado comprove de maneira cabal (absoluta) que se encontrava em outro país quando da
ocorrência de um roubo na cidade do Rio de Janeiro, do qual é acusado. Assim, comprovado este fato (que não é o fato
criminoso), deduz-se de maneira irrefutável, que o acusado não praticou o crime (prova indireta).
Quanto ao valor:
a) Provas plenas – Aquelas que trazem a possibilidade de um juízo de certeza quanto ao fato que buscam provar,
possibilitando ao Juiz fundamentar sua decisão de mérito em apenas uma delas, se for o caso. Exemplo: Prova
documental, testemunhal, exame de corpo de delito, etc.;
b) Provas não-plenas – Apenas ajudam a reforçar a convicção do Juiz, contribuindo na formação de sua certeza, mas não
possuem o poder de formar a convicção do Juiz, que não pode fundamentar sua decisão de mérito apenas numa prova
não-plena. Exemplos: Indícios (art. 239 do CPP), fundada suspeita (art. 240, § 2° do CPP), etc.
Quanto ao sujeito:
a) Provas reais – Aquelas que se baseiam em algum objeto, e não derivam de uma pessoa. Exemplo: Cadáver,
documento, etc.
b) Provas pessoais – São aquelas que derivam de uma pessoa. Exemplo: Testemunho, interrogatório do réu, etc.
Existe, ainda, a figura da PROVA EMPRESTADA. A prova emprestada é aquela que, tendo sido produzida em outro
processo, vem a ser apresentada no processo corrente, de forma a também neste produzir os seus efeitos. A Doutrina
e a Jurisprudência discutem sobre a necessidade de que a prova emprestada tenha sido produzida em processo que
envolveu as mesmas partes (identidade de partes). O entendimento mais recente do STJ é no sentido de que não se
exige que a prova emprestada seja oriunda de processo que envolveu as mesmas partes, desde que essa prova
emprestada seja, no momento de sua inclusão no processo atual, submetida ao contraditório. Presentes os requisitos,
a prova emprestada terá o mesmo valor das demais provas. Ausente qualquer dos requisitos, será considerada como
mero indício, tendo o valor de prova não-plena.
Princípios que regem o sistema probatório
A) Princípio do contraditório – Todas as provas produzidas por uma das partes podem ser contraditadas (contraprova)
pela outra parte;
B) Princípio da comunhão da prova (ou da aquisição da prova) – A prova é produzida por uma das partes ou determinada
pelo Juiz, mas uma vez integrada aos autos, deixa de pertencer àquele que a produziu, passando a ser parte integrante
do processo, podendo ser utilizada em benefício de qualquer das partes.
C) Princípio da oralidade – Sempre que for possível, as provas devem ser produzidas oralmente na presença do Juiz.
Assim, mais valor tem uma prova testemunhal produzida em audiência que um mero documento juntado aos autos
contendo algumas declarações de uma suposta testemunha.
D) Princípio da autorresponsabilidade das partes – As partes respondem pelo ônus da produção da prova acerca do fato
que tenham de provar. Assim, se o titular da ação penal não provar a autoria e a materialidade do fato, terá uma
consequência adversa para si, que é a absolvição do acusado;
E) Princípio da não auto-incriminação (ou Nemo tenetur se detegere) – Por este princípio entende-se a não
obrigatoriedade que a parte tem de produzir prova contra si mesma. Assim, não está o acusado obrigado a responder
às perguntas que lhe forem feitas, nem a participar da reconstituição simulada, nem fornecer material gráfico para
exame grafotécnico, etc.
Etapas de produção da prova
1. Proposição – A produção da prova é requerida ao Juiz, podendo ocorrer em momento ordinário ou extraordinário. O
momento ordinário é aquele no qual a lei estabelece que devam ser requeridas. Assim, o momento para a proposição
de meios de prova é a denúncia, para o MP, e a resposta à acusação, para a defesa. O momento extraordinário, por sua
vez, é todo momento em que a parte requeira a produção de uma prova fora da época correta (momento ordinário);
2. Admissão – É o ato mediante o qual o Juiz defere ou não a produção de uma prova. As provas propostas no momento
ordinário só podem ser indeferidas quando impertinentes ao processo (não guardam relação com o processo). Já as
provas propostas em momento extraordinário podem ser indeferidas pela simples análise, pelo Juiz, de sua
desnecessidade para a formação de sua convicção;
3. Produção – É o momento em que a prova é trazida para dentro do processo, seja através da juntada de um documento
ou laudo pericial, ou através da oitiva de uma testemunha, etc.;
4. Valoração – É o momento no qual o Juiz aprecia cada prova produzida e lhe atribui o valor que julgar pertinente, de
acordo com todo o conteúdo probatório existente, fundamentando sua decisão.
Ônus da prova
O ônus da prova pode ser definido como o encargo conferido a uma das partes referente à produção probatória relativa
ao fato por ela alegado. Desta forma, fica claro que a parte que alega algum fato, deve fazer prova dele. Portanto, cabe
ao acusador fazer prova da materialidade e da autoria do delito. Cabe ao réu, por sua vez, provar os fatos que alegar
(algum álibi) ou desconstituir a prova feita pelo acusador (um excludente de ilicitude, uma excludente de culpabilidade,
etc.).
Um ônus não é uma obrigação, pois uma obrigação descumprida é um ato contrário ao Direito. Um ônus, por sua vez,
quando descumprido, não gera um ato contrário ao Direito, mas representa uma perda de oportunidade à parte que
lhe der causa.
Produção probatória pelo Juiz
Pode se dar de duas formas distintas:
(i) Na produção antecipada de provas – Regra geral, as provas devem ser produzidas pelas partes. No entanto, em alguns
casos, o Juiz pode determinar a produção de algumas provas.
Art. 156. A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo, porém, facultado ao juiz de ofício:
I – Ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção antecipada de provas consideradas urgentes e relevantes,
observando a necessidade, adequação e proporcionalidade da medida;
Muito se discutiu na Doutrina acerca da constitucionalidade desta faculdade, tendo em conta a adoção, no Brasil, de um
sistema processual acusatório, ou seja, cabe às partes agirem para formar a convicção do Magistrado, que apenas recebe
os elementos de prova e os valora.
No entanto, o STJ e o STF entenderam que a produção de provas pelo Juiz É CONSTITUCIONAL, sendo, porém, medida
excepcional, pois embora se adote o sistema acusatório, também se adota o princípio da verdade real, de forma que o
Juiz deve buscar sempre a verdade dos fatos, e não se contentar com a “verdade” que consta no processo (verdade
formal).
Obs.: a determinação de produção antecipada de provas urgentes e relevantes é uma espécie de medida cautelar (busca
evitar o perecimento da prova), de forma que devem estar presentes os requisitos da cautelaridade, que são o fumus
comissi delicti (existência de indícios da materialidade e da autoria do delito) e o periculum in mora (Perigo de que a
demora na produção da prova torne impossível a sua realização).
(ii) Na produção de provas após iniciada a fase de instrução do processo – Esta possibilidade está prevista no art. 156, II
do CPP: Art. 156. A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo, porém, facultado ao juiz de ofício:
(...) II – determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir sentença, a realização de diligências para dirimir dúvida
sobre ponto relevante.
Um exemplo de exercício desta faculdade está no art. 196 do CPP, que permite ao Juiz proceder, de ofício (ou seja, sem
requerimento das partes), a novo interrogatório do réu. Ou, ainda, nos termos do art. 209 do CPP, ouvir testemunhas
não arroladas pelas partes, dentre outros exemplos.
O mesmo que foi dito quanto à constitucionalidade da produção antecipada de provas ex-officio se aplica a esta hipótese
de produção de provas pelo Juiz. O objetivo é conciliar o princípio da verdade real com o modelo acusatório.
A diferença entre ambas as hipóteses reside, primordialmente, no fato de que no primeiro caso se exige a cautelaridade
da medida (urgência de sua realização). No segundo caso, basta que o Magistrado tenha dúvida sobre ponto relevante,
o que autoriza a produção de provas ex ofício.
Provas ilegais
As provas ilegais são um gênero do qual derivam três espécies: provas ilícitas, provas ilícitas por derivação e provas
ilegítimas.
Provas ilícitas
São consideradas provas ilícitas aquelas produzidas mediante violação de normas de direito material (normas
constitucionais ou legais). A Constituição Federal expressamente prevê a vedação da utilização de provas obtidas por
meios ilícitos.
São exemplos de prova ilícita:
• Interceptação telefônica realizada sem ordem judicial, por violar o art. 5°, XII da Constituição Federal.
• Busca e apreensão domiciliar sem ordem judicial, por violação ao art. 5°, XI da Constituição.
• Prova obtida mediante violação de correspondência, pois viola o art. 5°, XII da Constituição Federal.
Provas ilícitas por derivação
São aquelas provas que, embora sejam lícitas em sua essência, derivam de uma prova ilícita, daí o nome “provas ilícitas
por derivação”. Trata-se da aplicação da Teoria dos frutos da árvore envenenada, segundo a qual, o fato de a árvore
estar envenenada necessariamente contamina os seus frutos. Trazendo para o mundo jurídico, significa que o defeito
(vício, ilegalidade) de um ato contamina todos os outros atos que a ele estão vinculados.
Toda prova derivada de prova ilícita é inadmissível no processo. Entretanto, excepcionalmente a regra, existem casos
em que a prova, mesmo derivando de outra prova, esta sim ilícita, poderá ser utilizada. Exige-se, primeiramente, que a
prova ilícita por derivação possua uma relação de causalidade exclusiva com a prova originalmente ilícita. Assim, se uma
prova B (lícita) só pode ser obtida porque se originou de uma prova ilícita (A), a prova B será inadmissível. Entretanto,
se a prova B não foi obtida exclusivamente em razão da prova A, a prova B não será inadmissível, e poderá ser usada
normalmente no processo.
Por fim, há ainda o que a Doutrina chama de “Teoria da descoberta inevitável”, segundo a qual também poderá ser
utilizada a prova que, embora obtida através de uma outra prova, ilícita, teria sido obtida inevitavelmente pela
autoridade.
Provas ilegítimas
São provas obtidas mediante violação a normas de caráter eminentemente processual, sem que haja nenhum reflexo
de violação a normas constitucionais.
EXEMPLO: Imagine que num determinado processo criminal em uma comarca do interior, não havendo perito oficial, o
Juiz tenha determinado a produção de prova pericial por um perito não oficial. Esta prova pericial produzida será
ilegítima, pois viola uma norma processual.
Reconhecida a ilegalidade da prova, este reconhecimento gera algumas consequências práticas no processo criminal.
Entretanto, estas consequências são diferentes no caso de provas ilícitas (ilícitas e ilícitas por derivação) e provas
ilegítimas.
Consequências processuais do reconhecimento da ilicitude da prova
No caso das provas ilícitas e ilícitas por derivação, declarada sua ilicitude, elas deverão ser desentranhadas do processo
e, após estar preclusa a decisão que determinou o desentranhamento (não couber mais recurso desta decisão), esta
prova será inutilizada pelo Juiz.
CUIDADO! Há parcela da Doutrina, no entanto, vem entendendo que, desentranhada prova declarada inadmissível, a
sua inutilização não é obrigatória, podendo o Magistrado declarar a inadmissibilidade da prova, mas não decretar seu
desentranhamento e inutilização.
Isto se deve em razão da existência de forte entendimento no sentido de que a prova, ainda que seja ilícita, se for a
única prova que possa conduzir à absolvição do réu, ou comprovar fato importante para sua defesa, em razão do
princípio da proporcionalidade, deverá ser utilizada no processo. Assim, a inutilização da prova inviabilizaria sua
utilização pro reo.
EXEMPLO: Imagine que Marcelo, acusado de homicídio, saiba que, na verdade, Bruno é o verdadeiro homicida, mas não
possui provas acerca disso. No entanto, Marcelo adentra à casa de Bruno pela madrugada e acopla um dispositivo para
realização de escutas. Durante a utilização do dispositivo, Bruno comenta diversas vezes com sua esposa acerca da
autoria do homicídio, confessando-o. Esta prova, obtida ilicitamente (violação ao Direito à privacidade, art. 5°, X da
Constituição), por ser a única capaz de provar a inocência de Marcelo, apesar de ilícita, poderá ser utilizada para sua
absolvição.
Entretanto, a prova não passa a ser considerada lícita. Ela continua sendo ilícita, mas excepcionalmente será utilizada,
apenas para beneficiar o acusado (Marcelo). Isso é extremamente importante, pois se a prova passasse a ser considerada
lícita, poderia ser utilizada para incriminar o verdadeiro autor do crime (Bruno). Entretanto, como ela continua sendo
prova ilícita, poderá ser utilizada para inocentar Marcelo, mas não poderá ser utilizada para incriminar Bruno, pois a
Doutrina e Jurisprudência dominantes só admitem a utilização da prova ilícita pro reo, e não pro societate. MUITO
CUIDADO COM ISSO!
Qual é o recurso cabível em face da decisão referente à ilicitude da prova? A Doutrina entende que:
• Decisão que RECONHECE A ILICITUDE da prova – Cabe RESE.
• Decisão que RECONHECE A ILICITUDE da prova apenas na sentença – Cabe APELAÇÃO.
• Decisão que NÃO RECONHECE a ilicitude da prova – Não cabe recurso (seria possível o manejo de HC ou MS).
Consequências processuais do reconhecimento da ilegitimidade da prova
Diferentemente do que ocorre com as provas ilícitas, em que a natureza e a gravidade dos crimes podem implicar a sua
utilização, no que tange às provas ilegítimas, o critério para definição de sua utilização ou não será outro.
Para que se defina se a prova ilegítima (obtida ou produzida mediante violação à norma de caráter processual) será
utilizada ou não, devemos distingui-las em dois grupos: provas ilegítimas por violação a norma processual de caráter
absoluto (que importam nulidade absoluta) e provas ilegítimas por violação a norma processual de caráter relativo (que
importam em nulidade relativa).
A prova decorrente de violação à norma processual de caráter absoluto (nulidade absoluta) jamais poderá ser utilizada
no processo, pois as nulidades absolutas, são questões de ordem pública e são insanáveis. O STF e o STJ estão
relativizando isso, ao fundamento de que não pode ser declarada qualquer nulidade sem comprovação da ocorrência
de prejuízo).
Já a prova decorrente de violação à norma processual de caráter relativo (nulidade relativa), poderá ser utilizada, desde
que não haja impugnação à sua ilegalidade (essa ilegalidade deve ser arguida por alguma das partes, não podendo o Juiz
suscitá-la de ofício), ou tenha sido sanada a irregularidade em tempo oportuno.
Seja como for, de acordo com a Doutrina majoritária, às provas ilegítimas deve ser aplicado o regime jurídico das
nulidades, e não as regras atinentes às provas ilícitas, que vimos anteriormente.
DAS PROVAS EM ESPÉCIE
Do exame de corpo de delito, da cadeia de custódia e das perícias em geral
Do exame de corpo de delito e perícias em geral
O exame de corpo de delito nada mais é que a perícia cuja finalidade é comprovar a materialidade (existência) das
infrações que deixam vestígios. O exame de corpo de delito pode ser direto, quando realizado pelo perito diretamente
sobre o vestígio deixado, ou indireto, quando o perito realizar o exame com base em informações verossímeis fornecidas
a ele. Imagine um crime de estupro, no qual tenha sido determinado o exame de corpo de delito mais de dois meses
após a prática do crime.
CUIDADO! Não confundam exame de corpo de delito indireto com prova testemunhal que supre o exame de corpo de
delito. O art. 167 do CPP autoriza a comprovação do crime mediante prova testemunhal quando os vestígios não mais
existirem. No exame de corpo de delito indireto, há um laudo, firmado por perito, atestando a ocorrência do delito,
embora esse laudo não tenha sido feito com base no contato direto com os vestígios do crime.
O exame de corpo de delito é, em regra, obrigatório nos crimes que deixam vestígios. Entretanto, como vimos, o art.
167 do CPP autoriza o suprimento deste exame pela prova testemunhal quando os vestígios tiverem desaparecido. A
Doutrina critica isto, ao argumento de que não só a prova testemunhal poderia suprir, mas qualquer outra prova, como,
por exemplo, a prova documental, sendo descabida a diferenciação. Em razão disso, a JURISPRUDÊNCIA SE
CONSOLIFICOU NO SENTIDO DE QUE QUALQUER PROVA, E NÃO SÓ A TESTEMUNHAL, PODEM SUPRIR O EXAME NESSA
HIPÓTESE.
O exame de corpo de delito também está dispensado no caso de infrações de menor potencial ofensivo (de competência
dos Juizados Criminais), desde que a inicial acusatória venha acompanhada de boletim médico, ou prova equivalente,
atestando o fato.
Haverá prioridade para realização do exame de corpo de delito quando se tratar de:
⇒ Crime que envolva violência DOMÉSTICA E FAMILIAR contra a mulher;
⇒ Crime que envolva violência contra criança adolescente, idoso ou pessoa com deficiência
Pela redação legal, a princípio, quando se tratar de violência contra criança adolescente, idoso ou pessoa com deficiência
não se exigirá que se trate de violência doméstica e familiar.
Existem algumas formalidades na realização desta prova, dentre elas, a necessidade de que ser trate de UM PERITO
OFICIAL, ou DOIS PERITOS NÃO OFICIAIS. Porém, se a perícia for complexa, que abranja mais de uma área de
conhecimento, poderá o Juiz designar MAIS de um perito oficial (nesse caso, a parte também poderá indicar mais de um
assistente técnico).
As partes, o ofendido e o assistente de acusação podem formular quesitos, indicar assistentes técnicos e requerer
esclarecimentos aos peritos.
CUIDADO! Não confundam o direito de formular quesitos (prévios ao laudo), com o direito de solicitar esclarecimentos
ao perito (posterior ao laudo), em razão de dúvidas sobre o laudo apresentado.
O art. 159, § 5°, II do CPP, possibilita, ainda, que os assistentes técnicos sejam inquiridos em audiência, do que decorre
a interpretação de que possam, também, ser alvo de pedidos de esclarecimentos quanto aos laudos que apresentarem
(os assistentes técnicos podem apresentar seus próprios laudos).
E se houver divergência entre os peritos? Nesse caso (que só é possível na hipótese de dois peritos que estejam atuando
na mesma área de conhecimento), cada um deles elaborará seu laudo separadamente, e a autoridade deverá nomear
um terceiro perito. Caso o terceiro perito discorde de ambos, a autoridade poderá mandar proceder à realização de um
novo exame pericial.
Da cadeia de custódia
O art. 158-A conceitua “cadeia de custódia” como: “O conjunto de todos os procedimentos utilizados para manter e
documentar a história cronológica do vestígio coletado em locais ou em vítimas de crimes, para rastrear sua posse e
manuseio a partir de seu reconhecimento até o descarte.”
Assim, é dever do agente público preservar o vestígio da infração penal. Ademais, o art. 158- A, em seu §2º, estabelece:
Art. 158-A (...) § 2º O agente público que reconhecer um elemento como de potencial interesse para a produção da prova
pericial fica responsável por sua preservação.
O ato relativo à coleta, de acordo com o art. 158-C, deve ser realizado preferencialmente por perito oficial:
Art. 158-C. A coleta dos vestígios deverá ser realizada preferencialmente por perito oficial, que dará o encaminhamento
necessário para a central de custódia, mesmo quando for necessária a realização de exames complementares.
§ 1º Todos vestígios coletados no decurso do inquérito ou processo devem ser tratados como descrito nesta Lei, ficando
órgão central de perícia oficial de natureza criminal responsável por detalhar a forma do seu cumprimento.
§ 2º É proibida a entrada em locais isolados bem como a remoção de quaisquer vestígios de locais de crime antes da
liberação por parte do perito responsável, sendo tipificada como fraude processual a sua realização.
Todos os Institutos de Criminalística deverão ter uma central de custódia destinada à guarda e controle dos vestígios, e
sua gestão deve ser vinculada diretamente ao órgão central de perícia oficial de natureza criminal.
Do interrogatório do réu
O interrogatório do réu (interrogatório na fase judicial) é o ato mediante o qual o Juiz procede à oitiva do acusado acerca
do fato que lhe é imputado. O interrogatório, modernamente, é considerado como UM DIREITO SUBJETIVO DO
ACUSADO (previsto, inclusive, no art. 5°, LXIII), pois se entende que faz parte do seu direito à defesa pessoal (subdivisão
da ampla defesa, que conta, também com a defesa técnica, patrocinada por profissional habilitado).
Assim, atualmente, se entende que o interrogatório é meio de prova e meio de defesa do réu.
Com a reforma realizada em 2008, o interrogatório passou a ser o último ato da instrução processual. Todavia, algumas
leis especiais possuem disposições diversas, estabelecendo que o interrogatório deva ser realizado em outro momento,
como acontece na Lei de Drogas, que prevê o interrogatório como primeiro ato da instrução.
Mas isso não seria violação ao direito à ampla defesa e ao contraditório? Sim, e em razão disso o STF passou a entender
que mesmo nos casos de procedimentos especiais, que estabeleçam de forma diversa, o interrogatório do acusado deve
sempre ser o último ato da instrução.
O interrogatório do réu possui algumas características. São elas:
1) Obrigatoriedade – Tratando-se de direito do réu, em razão do subprincípio da autodefesa, deverá ser aprazado seu
interrogatório, na forma da lei processual, sob pena de nulidade.
Mas e se o réu, mesmo intimado, não comparece ao interrogatório? E se ele estiver foragido? Há nulidade? A questão
não é pacífica, sendo divididos os entendimentos na Doutrina e na Jurisprudência. Entretanto, vem se formando o
entendimento de que, nestes casos, tendo o réu sido intimado para seu interrogatório, caso não compareça, estaria
suprida a obrigatoriedade com a sua mera intimação10, pois o exercício de sua autodefesa seria facultativo (o que seria
obrigatório seria a apresentação da defesa técnica, pelo profissional habilitado). Quando o réu está foragido e vem a ser
preso, a Doutrina e a Jurisprudência vêm entendendo que ele deve ser imediatamente ouvido, sob pena de nulidade
absoluta.
2) Ato personalíssimo do réu - Somente o réu pode prestar seu depoimento, não podendo ser tomado seu interrogatório
mediante procuração. E se o réu não possuir condições de se submeter ao interrogatório? Nesse caso, das duas uma: se
ele se tornou inimputável após cometer o crime, o processo deve ficar suspenso (nos termos do art. 152 do CPP). Se ele
já era inimputável à época do fato, o processo segue com curador (art. 151 do CPP), não sendo exigível o interrogatório
(Posição adotada pelo STF).
3) Oralidade - Em regra, o interrogatório deve se dar mediante formulação de perguntas e apresentação de respostais
orais. No entanto, isso sofre mitigação no caso de surdos, mudos, surdos-mudos e estrangeiros.
4) Publicidade - O interrogatório, como todo e qualquer ato processual, em regra é público. No entanto, em
determinados casos, pode o Juiz determinar a limitação da publicidade do ato. Essa decisão pode ser a requerimento da
parte, do MP ou, até mesmo, de ofício. O Juiz limitará a publicidade do ato sempre que isso puder implicar em prejuízo
ao processo ou perturbação da ordem pública.
5) Individualidade - Se existirem dois ou mais réus, o CPP determina que cada um seja ouvido individualmente (art. 191
do CPP), não podendo, inclusive, que um presencie o interrogatório do outro.
6) Faculdade de formulação de perguntas pela acusação e pela defesa - Antes o interrogatório era ato privativo do Juiz,
pois só a ele cabia fazer perguntas ao réu. Atualmente, com a nova redação do art. 188 do CPP, o Juiz deve permitir que,
após a realização de suas perguntas, cada parte (primeiro a acusação, depois a defesa), formulem perguntas ao
interrogando, caso queiram.
Apesar das alterações, o sistema presidencialista permanece. Mas o que é o sistema presidencialista? Esse sistema
significa que as perguntas são formuladas ao Juiz, que as direciona ao interrogando, podendo, inclusive, indeferir as
perguntas que forem irrelevantes ou impertinentes, ou, ainda, aquelas que já tenham eventualmente sido respondidas.
No julgamento dos processos do Júri, as perguntas serão realizadas diretamente pela acusação e pela defesa ao
interrogando – sistema do cross examination. Já as perguntas feitas eventualmente pelos jurados seguem o sistema
presidencialista.
7) Procedimento - O interrogatório do réu será realizado obrigatoriamente na presença de seu advogado, sendo-lhe
assegurado o direito de entrevista prévia e reservada com este.
ATENÇÃO! Esta garantia (imprescindibilidade do advogado no interrogatório) é restrita ao interrogatório judicial, não
sendo aplicável ao interrogatório em sede policial. Por dois motivos:
1 No interrogatório quem preside o interrogatório é o Delegado, e não há réu, mas apenas indiciado.
2) A presença do advogado é corolário do contraditório e da ampla defesa, princípios que não incidem, em regra, na
investigação policial.
No interrogatório o réu terá direito, ainda, a ficar em silêncio. Este direito decorre do princípio de índole constitucional
do Nemo tenetur se detegere. Por este princípio, ninguém é obrigado a produzir prova contra si mesmo.
E se, por acaso, o Juiz não informar o acusado de seu direito de ficar calado? O STJ entende que se trata de nulidade
relativa, ou seja, deve ser comprovado o efetivo prejuízo que decorreu desta irregularidade processual. Se não houver
prejuízo, não será reconhecida a nulidade. Essa garantia também se aplica no interrogatório em sede policial!
O direito ao silêncio não poderá ser interpretado em prejuízo à defesa. Lembrem-se: o silêncio é direito do acusado e
não pode ser utilizado pelo Juiz para fundamentar eventual condenação!
8) O interrogatório por meio de Videoconferência - Essa possibilidade só existe no caso de se tratar de réu preso e
somente poderá ser realizada EXCEPCIONALMENTE. A realização de interrogatório por videoconferência deve assegurar,
no que for compatível, todas as garantias do interrogatório presencial, só podendo ser realizada quando o Juiz não puder
comparecer ao local onde o preso se encontra, e para atender às finalidades previstas no § 2° do art. 185 do CPP: I -
prevenir risco à segurança pública, quando exista fundada suspeita de que o preso integre organização criminosa ou de
que, por outra razão, possa fugir durante o deslocamento; II - viabilizar a participação do réu no referido ato processual,
quando haja relevante dificuldade para seu comparecimento em juízo, por enfermidade ou outra circunstância pessoal;
III - impedir a influência do réu no ânimo de testemunha ou da vítima, desde que não seja possível colher o depoimento
destas por videoconferência, nos termos do art. 217 deste Código; IV - responder à gravíssima questão de ordem pública.
Confissão
A confissão é um meio de prova através do qual o acusado reconhece a prática do fato que lhe é imputado. Para a
validade da confissão, é necessário que ela preencha requisitos intrínsecos (ligados ao conteúdo da confissão) e
extrínsecos (ou formais, ligados à forma de sua realização).
Os requisitos intrínsecos são, basicamente, a verossimilhança das alegações do réu aos fatos, a clareza do réu na
exposição dos motivos, a coincidência com o que apontam os demais meios de prova, etc.
Os requisitos extrínsecos, ou formais, são a pessoalidade (não se pode ser feita por procurador), o caráter expresso (não
se admite confissão tácita no Processo Penal, devendo ser manifestada e reduzida a termo), o oferecimento perante o
Juiz COMPETENTE, a espontaneidade (não pode ser realizada sob coação) e a capacidade do acusado para confessar
(deve estar no pleno gozo das faculdades mentais).
Por adotarmos o princípio do livre convencimento motivado, e não o da prova tarifada, a confissão não possui valor
absoluto, devendo ser valorada pelo Juiz da maneira que reputar pertinente. O silêncio do acusado não importa em
confissão e NÃO IMPORTA EM PREJUÍZO À DEFESA.
A confissão é, ainda, retratável e divisível:
Retratável porque o réu pode, a qualquer momento, voltar atrás e retirar a confissão. Entretanto, a confissão retratada
não perde o seu valor automaticamente, podendo o Juiz considerar sem valor algum a retratação e considerar como
digna de valor a confissão.
Divisível porque o Juiz pode considerar válida a confissão em relação a apenas algumas de suas partes, e falsa em relação
a outras.
Oitiva do ofendido
A oitiva do ofendido permite ao magistrado ter contato efetivo com a pessoa que mais sofreu as consequências do
delito, de forma a possibilitar o mais preciso alcance de sua extensão. A primeira coisa que devemos saber é que o
ofendido NÃO É TESTEMUNHA, pois testemunha é um terceiro que não participa do fato. O ofendido participa do fato,
na qualidade de sujeito passivo.
O ofendido, caso seja determinada sua oitiva, DEVE comparecer e responder às perguntas, podendo ser conduzido
coercitivamente (mediante força policial). Isso decorre do art. 201 do CPP, que diz que o ofendido SERÁ (cogência,
obrigação) ouvido.
Se o ofendido mentir em seu depoimento, não responderá pelo crime de falso testemunho, pois não é testemunha,
podendo, entretanto, responder pelo crime de denunciação caluniosa, a depender do caso.
A vítima tem direito ao silêncio? Prevalece que sim, mas é controvertido.
Da prova testemunhal
A prova testemunhal, embora não possua muito valor no processo civil (onde geralmente reina a prova documental),
possui GRANDE VALOR na esfera processual penal, pois geralmente os crimes não estão documentados.
Existem algumas classificações quantos às “espécies” de testemunhas. Vamos a elas:
⇒ Testemunha referida – É aquela que, embora não tenha sido arrolada por nenhuma das partes, foi citada por outra
testemunha em seu depoimento e, posteriormente, foi determinada a sua inquirição pelo Juiz. NÃO SE CONSIDERA ESTA
CATEGORIA PARA A CONTAGEM DO NÚMERO MÁXIMO DE TESTEMUNHAS QUE A PARTE PODE ARROLAR.
⇒ Testemunha judicial – É aquela que é inquirida pelo Juiz sem ter sido arrolada por qualquer das partes. Está prevista
no art. 209 do CPP.
⇒ Testemunha própria – É aquela que presta depoimento sobre o fato objeto da ação penal, podendo ser direta (quando
presenciou o fato) ou indireta (quando apenas ouviu dizer sobre os fatos).
⇒ Testemunha imprópria (ou instrumental) – É aquela que não depõe sobre o fato objeto da ação penal, mas sobre
outros fatos que nela possuem influência. É o caso, por exemplo, da testemunha que presenciou a apresentação do
preso em flagrante.
⇒ Testemunha compromissada – é aquela que está sob compromisso, nos termos do art. 203 do CPP.
⇒ Testemunha não compromissada (ou informante) – Previstas no art. 208 do CPP, é aquela que está dispensada do
compromisso de dizer a verdade, em razão da presunção de que suas declarações são suspeitas. São os menores de 14
anos, doentes mentais e parentes do acusado (art. 206 do CPP). ESTE TIPO DE TESTEMUNHA TAMBÉM NÃO ENTRA NO
CÔMPUTO DO LIMITE MÁXIMO DE TESTEMUNHA QUE A PARTE PODE ARROLAR.
CUIDADO! A testemunha não está obrigada a dizer a verdade em relação a fatos que possam incriminá-las (não
respondendo pelo crime de falso testemunho), mesmo estando compromissada.
Antes de iniciado o depoimento, as partes poderão contraditar a testemunha ou arguir circunstâncias ou defeitos, que
a tornem suspeita de parcialidade, ou indigna de fé. O juiz fará consignar a contradita ou arguição e a resposta da
testemunha, mas só excluirá a testemunha ou não Ihe deferirá compromisso nos casos previstos nos arts. 207 e 208.
✓ Aos doentes e deficientes mentais
✓ Aos menores de 14 (quatorze) anos
✓ O ascendente ou descendente, o afim em linha reta, o cônjuge, ainda que desquitado, o irmão e o pai, a mãe,
ou o filho adotivo do acusado, salvo quando não for possível, por outro modo, obter-se ou integrar-se a prova
do fato e de suas circunstâncias.
✓ As pessoas que em razão de terem tomado ciência do fato em razão do ofício ou profissão.
A contradita nada mais é que uma impugnação à testemunha.
Da acareação
A acareação é o chamado “colocar frente a frente” duas pessoas que prestaram informações divergentes. Fundamenta-
se no constrangimento, ou seja, busca-se que o “mentiroso” se retrate da informação errada que forneceu.
Pode ser realizada tanto na fase de investigação quanto na fase processual.
• Mas quem pode ser acareado?
Acareação será admitida entre acusados, entre acusado e testemunha, entre testemunhas, entre acusado ou
testemunha e a pessoa ofendida, e entre as pessoas ofendidas, sempre que divergirem, em suas declarações, sobre
fatos ou circunstâncias relevantes.
OS PERITOS NÃO ESTÃO SUJEITOS À ACAREAÇÃO! O STJ, contudo, já se manifestou pela possibilidade dessa acareação,
quando houver suspeita de que um dos peritos (ou ambos) deliberadamente elaborou falsa perícia.
A acareação também pode ser feita mediante carta precatória, quando encontrarem-se em localidades distintas.
Da prova documental
A prova documental pode ser produzida a qualquer tempo pelas partes, salvo nos casos em que a lei expressamente
veda sua produção fora de um determinado momento.
As cartas e demais documentos interceptados ilegalmente, por óbvio, não poderão ser juntados aos autos.
O Juiz também pode determinar a produção de prova documental, se tiver notícia de algum documento importante.
Os documentos, como qualquer prova, possuem o valor que o Juiz lhes atribuir. Entretanto, alguns documentos, em
razão da pessoa que os confeccionou, possuem, inegavelmente, maior valor.
O valor dos documentos não se refere, apenas, ao poder para formar o convencimento do Juiz, mas também à EXTENSÃO
DE SUA FORÇA PROBANTE.
Como assim, professor? Explico!
Os instrumentos públicos (produzidos pela autoridade pública competente) fazem prova:
⇒ Dos fatos ocorridos na presença da autoridade que o elaborou;
⇒ Das declarações de vontade emitidas na presença da autoridade que lavrou o documento;
⇒ Dos fatos e atos nele documentados;
Já os instrumentos particulares, assinados pelas partes e por duas testemunhas, provam as obrigações firmadas entre
elas. No entanto, essa eficácia não alcança terceiros.
Indícios
Os indícios são elementos de convicção cujo valor é inferior, pois NÃO PROVAM o fato que se discute, mas provam outro
fato, a ele relacionado, que faz INDUZIR que o fato discutido ocorreu ou não.
Parte da Doutrina, no entanto, admite que se o indício for muito relevante, será considerado prova indiciária, podendo
embasar uma sentença condenatória (é bem discutível).
Os indícios, porém, são diferentes das presunções legais, pois os indícios apenas induzem uma conclusão mais ou menos
lógica (exemplo: Meu carro foi encontrado estacionado próximo ao local do crime, o que leva à conclusão de que
provavelmente eu estaria ali). Já as presunções legais são situações nas quais a lei estabelece que são verdadeiros
determinados fatos, se outros forem verdadeiros.
Lembrando que a presunção isenta a parte de provar o fato presumido, mas não de provar o fato que gera a presunção.
As presunções, POR SI SÓS, podem fundamentar uma condenação!
PRISÕES CAUTELARES
Quando falamos em “prisão”, no bojo do Direito Processual Penal, só podemos estar diante de duas espécies de medidas
privativas de liberdade:
⇒ Prisão pena – É uma punição que decorre da aplicação da lei penal através de uma sentença penal condenatória
irrecorrível (imodificável). Tem como pressuposto a CULPA do agente.
⇒ Prisão não-pena – Trata-se não de uma punição (pois ainda não há condenação irrecorrível), mas de uma medida de
NATUREZA CAUTELAR (cautela = cuidado, a fim de se evitar um prejuízo), cuja finalidade pode ser garantir o regular
desenvolvimento da instrução processual, a aplicação da lei penal ou, nos casos expressamente previstos em lei, evitar
a prática de novas infrações penais.
A modalidade de prisão que nos interessa, e que vamos estudar, é a prisão “não pena”, que é a prisão cuja finalidade
não é punir o acusado, mas evitar que a liberdade do investigado/acusado acarrete algum prejuízo (à instrução do
processo, à aplicação da lei penal, etc.).
Quando alguém comete uma infração penal, surge para o Estado o dever de punir (jus puniendi). Entretanto, o Estado
não pode aplicar a pena de qualquer forma. Existe um procedimento que deve ser seguido pelo Estado previamente à
aplicação da Lei Penal. Este procedimento a ser adotado pelo Estado se chama “Processo Criminal”.
O processo criminal tem como finalidade garantir que o Estado aplique a Lei penal de maneira correta, no momento
correto, em face da pessoa correta. Ou seja, para que o Estado não faça besteira!
Embora muitas vezes a sociedade queira ver um suposto infrator já cumprindo pena no dia seguinte à prática do delito,
existe um procedimento prévio que o Estado deve adotar para que depois possa punir uma pessoa. A prisão, antes desse
momento (trânsito em julgado da sentença condenatória) é MEDIDA EXCEPCIONALÍSSIMA.
O nosso sistema processual penal pátrio estabelece basicamente três modalidades de prisão cautelar (ou prisão
provisória, pois não é definitiva):
a) Prisão em flagrante
b) Prisão preventiva
c) Prisão temporária
Prisão em flagrante
A prisão em flagrante é uma modalidade de prisão cautelar que tem como fundamento a prática de um fato com
aparência de fato típico. Assim, quando a autoridade realiza a prisão em flagrante do suspeito, não deve verificar se ele
praticou o fato em legítima defesa, estado de necessidade, etc.
Possui natureza administrativa, pois não depende de autorização judicial para sua realização, e só pode ser realizada
nas hipóteses previstas em Lei, que tratam dos momentos em que se considera haver situação de flagrância.
Qualquer do povo poderá e as autoridades policiais e seus agentes deverão prender quem quer que seja encontrado
em flagrante delito.
Vejam que qualquer de nós pode prender uma pessoa que esteja praticando um fato criminoso. Porém, a autoridade
policial não PODE, ela DEVE efetuar a prisão de quem quer que seja encontrado em situação de flagrante delito.
Mas quem se considera em flagrante delito? Considera-se em flagrante delito quem:
I - Está cometendo a infração penal;
II - Acaba de cometê-la;
III - é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou por qualquer pessoa, em situação que faça presumir ser
autor da infração;
IV - é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, objetos ou papéis que façam presumir ser ele autor da
infração.
Modalidades
1) Flagrante próprio – Será considerado flagrante próprio, ou propriamente dito, a situação do indivíduo que está
cometendo o fato criminoso ou que acaba de cometer este fato. Nesse último caso, é necessário que entendamos a
expressão “acaba de cometer”, como a situação daquele que está “com a boca na botija”, ou seja, acabou de cometer
o crime e é surpreendido no cenário do fato. Também chamado de flagrante real, verdadeiro ou propriamente dito.
2) Flagrante impróprio – Aqui, embora o agente não tenha sido encontrado pelas autoridades no local do fato, é
necessário que haja uma perseguição, uma busca pelo indivíduo, ao final da qual, ele acaba preso. Imaginem que a
polícia recebe a notícia de um homicídio. Desloca-se até o local e imediatamente inicia perseguição pelo bairro, ao final
da qual acaba por encontrar aquele que seria o suposto infrator. Nesse caso, temos o flagrante impróprio, também
chamado de imperfeito, irreal ou “quase flagrante”.
3) Flagrante presumido – No flagrante presumido temos características parecidas com as do flagrante impróprio, com a
diferença de que não há qualquer perseguição ao suposto infrator, sendo ele surpreendido, logo depois do crime, com
instrumentos, armas, objetos ou papéis que façam presumir que ele foi o autor do delito. Também chamado de flagrante
ficto ou assimilado.
As expressões “acaba de cometê-la”, “logo após”, “logo depois” são expressões cujo significado é dado pela Doutrina,
mas há alguma divergência entre os Doutrinadores. Entretanto, a maioria entende que a sequência temporal é:
Acaba de cometer o crime -------- Logo após ------------- Logo depois
Quanto ao sujeito passivo, via de regra toda pessoa pode ser o sujeito passivo de uma prisão em flagrante. No entanto,
existem algumas regrinhas especiais, que eu vou mostrar para vocês num quadro que facilita a compreensão e fixação:
✓ MENORES DE 18 ANOS: Menores de 12 anos (crianças) não podem sofrer privação da liberdade, devendo ser
encaminhadas ao Conselho Tutelar. Maiores de 12 e menores de 18 anos (adolescentes) podem ser
apreendidos, mas não presos
✓ PRESIDENTE DA REPÚBLICA: Não está sujeito à prisão em flagrante, pois só pode ser preso pela prática de crime
comum após sentença condenatória.
✓ JUÍZES, MEMBROS DO MP, PARLAMENTARES DO CONGRESSO NACIONAL e DEPUTADOS ESTADUAIS: Só podem
ser presos em flagrante pela prática de crime INAFIANÇÁVEL.
✓ DIPLOMATAS ESTRANGEIROS E CHEFES DE ESTADOS ESTRANGEIROS: Não podem ser presos em flagrante.
✓ INFRATOR QUE ESPONTANEAMENTE SE APRESENTA: Não pode ser preso em flagrante, pois a sua apresentação
espontânea à autoridade impede a caracterização do flagrante.
✓ AUTOR DE INFRAÇÃO DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO (JECRIM): Em regra, não está sujeito à determinação de
prisão em flagrante. No entanto, se aquele que pratica infração de menor potencial ofensivo (IMPO) se recusar
a comparecer ao Juizado ou se negar a assumir compromisso de comparecer ao Juizado após a lavratura do
Termo Circunstanciado (TC), poderá ser decretada sua prisão em flagrante.
✓ PESSOA FLAGRADA NA POSSE DE ENTORPECENTE PARA USO PRÓPRIO: Não cabe a decretação de sua prisão em
flagrante (art. 48, § 2° da Lei 11.343/06), comprometendo-se o infrator, OU NÃO, a comparecer ao Juizado.
CUIDADO COM ISSO!
Obs.: Meus caros, vocês devem ter em mente que quando digo que não cabe prisão em flagrante nesses casos, estou
me referindo à prisão em flagrante como modalidade de prisão cautelar, aquela que é decretada pela autoridade
policial. Isso não impede, entretanto, que qualquer destas pessoas, sendo surpreendida em situação de flagrante, seja
conduzida à Delegacia para o registro do ocorrido e, posteriormente, seja liberada. O que não se permite é que, após a
condução e apresentação à autoridade policial, a autoridade policial proceda à lavratura do auto de prisão em flagrante.
Assim, a prisão em flagrante possui 04 etapas:
⇒ Captura (1º etapa)
⇒ Condução coercitiva (2º etapa)
⇒ Lavratura do APF (3º etapa)
⇒ Recolhimento ao cárcere (4º etapa)
Quando se diz que “não se imporá prisão em flagrante” para determinados agentes, pela função que exercem ou pela
natureza do crime praticado, se está a dizer que não é cabível a lavratura do APF e recolhimento ao cárcere. Todavia,
nada impede a captura e condução coercitiva até a autoridade policial, a fim de que esta analise as circunstâncias da
prisão. Esta condução de quem se encontra em situação de flagrante é chamada de PRISÃOCONDUÇÃO pela maioria da
Doutrina.
DOS RECURSOS
Os recursos podem ser conceituados como meios voluntários de impugnação às decisões judiciais, interpostos no curso
do processo. Modernamente, são entendidos também como uma extensão do próprio direito de ação.
O recurso, portanto, é o meio hábil à alteração de uma decisão judicial (seja por sua anulação, reforma, etc.), utilizado
dentro da mesma relação jurídico-processual (não se cria um novo processo) e antes da preclusão (perda do direito de
recorrer).
O recurso é um ÔNUS para a parte, pois a sua não interposição no prazo e condições previstas na Lei Processual acarreta
a perda de uma oportunidade para a parte (reverter a decisão que lhe é prejudicial). Não é um dever, pois o seu
descumprimento não gera qualquer direito para a outra parte ou para quem quer que seja, apenas prejudica quem
“dorme no ponto”.
A finalidade do recurso é reverter uma decisão judicial desfavorável, seja modificando, anulando, esclarecendo ou
integrando a decisão impugnada. No entanto, somente as duas primeiras são finalidades típicas dos recursos, sendo as
duas últimas finalidades atípicas.
Os recursos, em regra, estão previstos no CPP. No entanto, alguns deles possuem previsão na própria Constituição
Federal, e outros, em Legislação especial.
Juízo de admissibilidade
Quando falamos em análise do recurso, estamos diante de uma tarefa composta por duas fases distintas. Uma delas, e
a primeira, é a análise do preenchimento dos pressupostos recursais de admissibilidade do recurso (Juízo de
admissibilidade, ou Juízo de PRELIBAÇÃO3). A segunda é análise do mérito do recurso, propriamente dito, ou seja, aquilo
que o recorrente pretende que seja analisado e, ao final, provido (Juízo de mérito).
Trata-se de uma verificação muito semelhante ao que ocorre com o direito de ação, eis que naquela seara também se
procede à analise dupla (primeiro a análise do preenchimento dos requisitos que permitem adentrar ao mérito:
condições da ação e pressupostos processuais, depois a análise do mérito da AÇÃO PENAL, caso superada a 1ª fase).
Assim, quando alguém interpõe um recurso, o Tribunal (Embora o Juízo de admissibilidade seja feito, antes, pelo próprio
órgão do Judiciário que prolatou a decisão), recebendo o recurso, verifica, primeiramente, se o recorrente cumpriu todas
as exigências legais (se interpôs o recurso certo, no prazo certo, pelos motivos certos, se recolheu o valor necessário à
interposição do recurso, etc.).
Como regra geral, os recursos são interpostos perante o Juízo a quo (que proferiu a decisão) e o seu julgamento compete
a outro órgão julgador, chamado de juízo ad quem.
Em regra, o juízo de admissibilidade é realizado tanto pelo Juízo a quo quanto pelo Juízo ad quem (aquele que vai
efetivamente julgar o recurso).4 Isso não ocorrerá quando:
• O próprio juízo que proferiu a decisão for o responsável pelo julgamento do recurso (ex.: embargos de declaração) –
Neste caso só há juízo a quo.
• O recurso é interposto diretamente perante o juízo ad quem (Ex.: Carta testemunhável) – Neste caso o juízo a quo não
participa do juízo de admissibilidade.
Pressupostos processuais
Podem ser intrínsecos, quando relativos ao próprio direito de recorrer, e extrínsecos, quando relativos à forma como
esse direito é exercitado.
Pressupostos intrínseco
Cabimento: Para que este pressuposto esteja satisfeito, exige-se que o recurso interposto seja o adequado, ou seja, que
este seja o meio recursal previsto na lei processual para impugnar aquela decisão. Assim, se o MP maneja o RECURSO
EM SENTIDO ESTRITO para atacar sentença de absolvição do acusado, não está presente o pressuposto do cabimento,
pois o CPP determina que, neste caso, deve ser manejado o recurso de APELAÇÃO. CUIDADO! Em regra, todas as
decisões judiciais são recorríveis7, não o sendo, entretanto, os despachos, por se tratarem de questões meramente
relativas ao trâmite natural do processo, sem que haja conteúdo decisório no ato judicial.
Legitimidade recursal: Esse é o pressuposto no qual se verifica se a parte que interpôs o recurso, tinha legitimidade legal
para fazê-lo no caso concreto. Em regra, podem interpor recurso a parte vencida, o MP (se estiver atuando como fiscal
da Lei, pois, caso contrário, será PARTE), e o assistente de acusação.
Interesse recursal: O interesse recursal, à semelhança do que ocorre com o interesse de agir (condição da ação penal),
divide-se em necessidade e adequação. A necessidade indica que o recorrente deve ter tido um prejuízo no processo e
o recurso é necessário para reverter esta situação que lhe é prejudicial. A adequação, por sua vez, é a aptidão daquele
recurso para alterar a situação atual do recorrente. O principal pressuposto para que haja interesse recursal, portanto,
é a existência de sucumbência, que é a situação na qual a parte é prejudicada pela decisão judicial. Não havendo
sucumbência, como regra, não haverá interesse recursal.
Inexistência de ato impeditivo ou extintivo do direito de recorrer: Pode ocorrer de, em alguns casos, o recorrente ter, em
tese, o direito de recorrer, mas no caso concreto ter perdido este direito. Esta extinção ou impedimento ao direito de
recorrer pode se dar pela desistência, pela renúncia ao direito de recorrer ou pela aquiescência. Assim, a desistência
ocorrerá sempre que o recorrente DESISTIR DE UM RECURSO INTERPOSTO! (Guardem isso, o recurso deve ter sido
interposto!). Entretanto, o MP NÃO PODERÁ DESISTIR DOS RECURSOS POR ELE INTERPOSTOS. A renúncia, por sua vez,
só poderá ocorrer enquanto existente o direito de recorrer, mas ainda não interposto o recurso. A renúncia pode ser
expressa, quando o legitimado se manifesta expressamente informando que não deseja recorrer, renunciando a este
direito, ou tácita, quando o legitimado simplesmente deixa transcorrer o prazo recursal in albis (em branco, sem nada
fazer).
Obs.: A Doutrina cita, ainda, a preclusão e a deserção. A primeira como fato impeditivo do direito de recorrer, e a
segunda como fato extintivo do direito de recorrer.
A preclusão recursal é a perda do direito de recorrer, e pode ser classificada em:
• Preclusão temporal – perda do direito de recorrer em razão do transcurso do prazo previsto em lei.
• Preclusão lógica – ocorre quando a parte pratica um ato incompatível com o direito de recorrer (ex.: renuncia ao direito
de recorrer).
• Preclusão consumativa – ocorre quando a parte passa a não mais poder interpor o recurso em razão do fato de já ter
feito isso. Decorre diretamente do princípio da unirrecorribilidade.
A deserção, por sua vez, acarreta a impossibilidade de conhecimento do recurso interposto, em razão do
descumprimento (pelo recorrente) de alguma formalidade. Pode ser:
• Deserção por ausência de preparo – o preparo é o pagamento das despesas relativas ao recurso interposto. No
processo penal brasileiro só se exige o preparo em relação aos crimes de ação penal privada exclusiva, e mesmo assim
somente para os recursos do querelante, não do querelado (réu), pois seria violação ao princípio da ampla defesa exigir
do réu o preparo.
• Deserção em razão da fuga do acusado – Antigamente, em alguns casos, o acusado era obrigado a recolher-se à prisão
para que seu recurso fosse conhecido. Tal previsão não existe mais!
Vemos, portanto, que a deserção no processo penal, atualmente, só pode ocorrer pela ausência de preparo nos recursos
interpostos pelo querelante nos crimes de ação penal privada exclusiva (não se aplica à ação penal privada subsidiária
da pública). A deserção pela ausência de preparo, contudo, é um pressuposto extrínseco de admissibilidade recursal (eis
que relacionada à forma pela qual o recurso é manejado).
Pressupostos extrínsecos de admissibilidade recursal
São relacionados com a forma pela qual o recurso é manejado.
Tempestividade
A tempestividade nada mais é que a interposição do recurso no prazo correto (o prazo previsto na lei). Caso não
interposto o recurso tempestivamente, ocorrerá o que se chama de PRECLUSÃO TEMPORAL.
⇒ Mas como saber qual é o prazo correto? O prazo para a interposição do recurso está previsto na lei, e começa a correr
no primeiro dia útil seguinte ao de determinado ato.
Lembrando que no cômputo dos prazos exclui-se o dia do começo e se inclui o do término. E quando começa a correr o
prazo recursal? O prazo para a interposição do recurso começa a fluir da data da intimação da decisão, e não da juntada
aos autos do mandado.
Durante muito tempo se entendeu que o recurso interposto antes de iniciado o prazo era intempestivo. O STJ, contudo,
já firmou entendimento em sentido contrário, em homenagem à boa-fé processual daquele que se antecipa e agiliza o
processo.
CUIDADO! O STJ entende que, no caso de intimação tanto do acusado quanto do defensor acerca da sentença, o prazo
recursal somente começa a fluir da data da segunda intimação, eis que ambos podem interpor o recurso.
Regularidade formal
É o preenchimento das regras estabelecidas por lei para o recurso que se pretende interpor. Os recursos podem ser
interpostos por PETIÇÃO ou POR TERMO NOS AUTOS.
Juízo de Mérito
O Juízo de mérito é a análise do recurso, propriamente dita. Sendo positivo o juízo de admissibilidade, o órgão julgador
adentrará ao mérito e apreciará o recurso, dando provimento a ele ou não. O Juízo de mérito se volta para os
fundamentos alegados pelo recorrente.
Em seus fundamentos o recorrente pode alegar error in procedendo ou error in judicando.
O primeiro refere-se a algum erro processual cometido pelo Juiz, que conduz à anulação da decisão.
Já o error in judicando se refere ao “julgamento errado" no que tange ao conteúdo, ou seja, o Juiz julgou de uma forma
que o recorrente entende não ser a que condiz com o ordenamento jurídico.
Quando o recorrente alega error in procedendo, deverá requerer a anulação da decisão, pois há vício formal. Quando o
recorrente alega error in judicando, deverá requerer a reforma da decisão, pedindo ao Tribunal que profira novo
julgamento, contrariamente à decisão recorrida.
Na anulação os autos voltam ao Juízo que proferiu a decisão para que profira outra.
Classificação dos recursos
Os recursos podem ser:
a) De fundamentação vinculada ou fundamentação livre – No primeiro caso, somente podem ser alegadas determinadas
matérias previstas em lei, em rol exaustivo. É o que acontece, por exemplo, no recurso de apelação nos processos da
competência do Tribunal do Júri. Já nos recursos de fundamentação livre, o recorrente pode alegar em seu recurso
qualquer matéria.
b) Totais ou parciais – No primeiro caso, o recorrente impugna todas as partes da decisão que lhe prejudicam. No
segundo caso, o recorrente impugna somente algumas partes da decisão que lhe prejudica.
c) Recursos ordinários ou extraordinários – Os primeiros são aqueles que visam a permitir que a parte prejudicada
consiga a alteração de uma decisão desfavorável. Já os recursos extraordinários são aqueles nos quais a Lei busca
garantir a melhor aplicação possível para a Lei Federal ou para a Constituição, de forma que somente pode ser alegada
matéria de Direito nestes recursos, não cabendo reexame de matéria fática.
d) recurso voluntário e recurso de ofício – Na verdade, todo recurso é voluntário, ou seja, depende de interposição
voluntária por aquele que pretende a modificação da decisão. O chamado “recurso de ofício”, na verdade, não é um
recurso, embora seja assim chamado pelo CPP. Tem cabimento em hipótese muito excepcionais. Nestes casos a decisão
fica sujeita ao reexame obrigatório pelo órgão jurisdicional superior, ainda que não haja recurso voluntário de nenhuma
das partes.
e) recurso genérico e recurso específico – O primeiro exige, apenas, a irresignação da parte, ou seja, seu inconformismo
em relação à decisão proferida. Já o segundo depende da comprovação de requisitos próprios, específicos (ex.:
demonstração da existência de repercussão geral, em relação ao recurso extraordinário perante o STF).
Efeitos dos recursos
Os recursos possuem os seguintes efeitos:
a) Efeito obstativo – O recurso, quando interposto, impede a ocorrência da preclusão temporal.
b) Efeito devolutivo – É o efeito mediante o qual o recorrente devolve ao Tribunal a competência para conhecer a matéria
impugnada e apreciar o recurso. Na verdade, o termo não faz muito sentido, pois só se devolve alguma coisa a alguém
que já possuiu, em algum momento, aquilo. Como o Tribunal está recebendo pela primeira vez a matéria para
apreciação, o termo devolução se mostra inapropriado (Ele existe porque, antigamente, o Tribunal delegava ao Juiz a
competência para julgar, e quando havia recurso, falava-se que o recurso “devolvia” a matéria ao Tribunal). Todo recurso
possui efeito devolutivo.
c) Efeito suspensivo – O efeito suspensivo não está presente em todos os recursos, e diz respeito à impossibilidade de a
decisão impugnada produzir efeitos enquanto não for julgado o recurso. Parte da Doutrina defende que não é o recurso
que possui efeito suspensivo, mas a mera previsão de sua existência já gera o efeito suspensivo, pois a decisão não
poderá produzir efeitos enquanto não transcorrido o prazo para a interposição do recurso.
d) Efeito Translativo – Refere-se à possibilidade de o Tribunal conhecer, de ofício, determinadas matérias que não foram
impugnadas pelo recorrente, por serem de ordem pública. Assim, imaginem que o recorrente impugna a sentença em
razão de não se conformar com o julgamento de procedência do pedido da acusação (condenação). Imaginem que no
Tribunal se verifica que houve a prescrição. Ainda que o recorrente não tenha alegado a prescrição, poderá o Tribunal
decretá-la, pois a prescrição é considerada matéria de ordem pública.
e) Efeito substitutivo – É o efeito que implica na substituição da decisão recorrida pela decisão do juízo ad quem, seja
mantendo ou reformando a decisão atacada.
f) Efeito regressivo (ou iterativo ou diferido) – O efeito regressivo também não está presente em todos os recursos, e é
o efeito que permite ao prolator da decisão se retratar da decisão proferida, evitando a remessa ao órgão ad quem
(órgão recursal).
g) Efeito Extensivo – Decorre da necessidade de que haja isonomia no julgamento de todos aqueles que respondem pelo
mesmo fato. Assim, se um dos corréus interpõe recurso, a decisão desse recurso se estende aos demais, SALVO SE
FUNDADA EM RAZÕES DE CARÁTER ESTRITAMENTE PESSOAL.
Recursos em espécie
Recurso em sentido estrito
O Recurso Em Sentido Estrito (RESE) se destina a impugnar decisões interlocutórias. Entretanto, não se pode imaginar
que ele seja idêntico ao agravo do Processo Civil e pretender aplicá-lo a toda e qualquer decisão interlocutória. O RESE
só poderá ser manejado nas hipóteses TAXATIVAMENTE previstas no art. 581 do CPP.
Entretanto a Jurisprudência vem admitindo a INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA do rol de situações que permitem o manejo
do RESE, quando apresentarem consequências semelhantes às hipóteses previstas no CPP.
É recurso interposto de decisão de juiz singular, não sendo cabível contra decisões de Tribunais, e se presta a impugnar
decisões interlocutórias. Vale lembrar que toda decisão proveniente do Juiz da Execução Penal deverá ser combatida
mediante agravo em execução, e não por meio do recurso em sentido estrito.
Principais hipóteses de cabimento
✓ Não recebimento da peça acusatória (denúncia ou queixa).
✓ Incompetência do juízo.
✓ Pronúncia do acusado.
✓ Decisão que decretar ou não a extinção da punibilidade (nesse caso, se o reconhecimento for feito por ocasião
de sentença, caberá apelação).
✓ Decisão que recusar homologação à proposta de acordo de não persecução penal.
Hipóteses que não são mais cabíveis:
✓ Decisão que conceder, negar ou revogar a suspensão condicional da pena: inciso revogado.
✓ Decisão que conceder, negar ou revogar o livramento condicional: caberá o agravo em execução.
✓ Decisão que decidir sobre a unificação de penas e incidentes da execução da pena: caberá o agravo em execução
Deverá ser interposto em 5 dias, com prazo de 2 dias para apresentar as razões recursais, sendo que o recorrido também
possuirá o mesmo prazo para contrarrazoar.
Efeito regressivo: Permite ao juiz retratar-se da decisão impugnada.
Apelação
A apelação de sentença condenatória terá efeito suspensivo. Se a sentença for absolutória, não haverá o efeito
suspensivo da apelação interposta, devendo o réu ser imediatamente colocado em liberdade.
Com o Pacote Anticrime, a apelação interposta contra decisão condenatória do Tribunal do Júri a uma pena = ou > 15
anos de reclusão não terá efeito suspensivo, cabendo a execução provisória da pena. A sentença condenatória não
impede a progressão de regime ou a aplicação de regime de cumprimento de pena menos rigoroso, de forma imediata.
Hipóteses de cabimento
Cabe apelação:
✓ Das sentenças definitivas de condenação ou absolvição proferidas por juiz singular.
✓ Das decisões definitivas, ou com força de definitivas, proferidas por juiz singular nos casos não previstos no
tópico anterior (exemplo: impronúncia).
o Das decisões do Tribunal do Júri:
✓ Casos de nulidade posterior à pronúncia.
✓ For a sentença do juiz-presidente contrária à lei expressa ou à decisão dos jurados.
✓ Houver erro ou injustiça no tocante à aplicação da pena ou da medida de segurança.
✓ For a decisão dos jurados manifestamente contrária à prova dos autos.
Prazo
Interposição em 5 dias e prazo de 8 dias para apresentar as razões recursais, sendo que o recorrido também terá o prazo
de 8 dias para apresentar as contrarrazões recursais. Vale lembrar que, no JECRIM, o prazo para interpor e apresentar
as razões é de 10 dias.
Embargos infringentes e de nulidade
Oponível contra decisão não unânime de órgão de segunda instância, desde que desfavorável ao réu (recurso exclusivo
da defesa). O prazo para sua interposição e juntada de razões recursais é de 10 dias.
Embargos de declaração
Contra decisão de primeiro grau ou de acórdão prolatado por Tribunal, quando houver alguma questão ambígua,
obscura, contraditória ou omissa. O prazo para sua interposição e apresentação de razões recursais é de 2 dias nos
procedimentos em geral, sendo que no procedimento comum sumaríssimo há previsão expressa de seu cabimento, mas
no prazo de 5 dias.
Agravo em execução
Recurso com previsão na Lei de Execução Penal. Interposto contra as decisões proferidas pelo Juiz da Execução Penal.
Carta testemunhável
Recurso voltado para garantir que o Tribunal conheça e examine recurso cujo processamento o juiz impediu que subisse
para a instância superior, servindo, assim, para destrancar o processamento de recurso.
Tem natureza subsidiária, somente sendo possível quando não couber outro recurso. Assim, não sendo negada a
apelação, nem negados os Recursos Especial e Extraordinário, caberá a carta testemunhável, quando for negado
qualquer outro tipo de recurso.
O seu prazo de interposição é de 48 horas e deve ser dirigido ao escrivão. Não possui efeito suspensivo.
Recurso Especial
Se presta a questionar matéria de ORDEM FEDERAL que tenha sido desobedecida por Tribunal inferior e é julgado pelo
Superior Tribunal de Justiça. É necessário o prequestionamento da matéria no Tribunal de origem para que o Superior
Tribunal de Justiça conheça do recurso.
Não é cabível recurso especial fundado em alegada violação de enunciado de súmula.
O prazo para a sua interposição e juntada de razões é de 15 dias.
Recurso Extraordinário
É manejado contra decisões proferidas em única ou última instância, quando a matéria combatida for de ORDEM
CONSTITUCIONAL e é julgado pelo Supremo Tribunal Federal.
Somente será conhecido pelo Supremo Tribunal Federal se houver o prequestionamento da matéria e se for
demonstrada a sua repercussão geral.
Para efeito de repercussão geral, será considerada a existência ou não de questões relevantes do ponto de vista
econômico, político, social ou jurídico que ultrapassem os interesses subjetivos do processo.
Prazo: 15 dias. Não possui efeito suspensivo.
Recurso Ordinário Constitucional – ROC
Caberá das decisões denegatórias de Habeas Corpus e Mandado de Segurança em segunda instância.
O ROC será julgado pelo STF quando a decisão negar Mandado de Segurança ou Habeas Corpus, em única instância,
pelos tribunais superiores.
SÚMULA 319, STF: O prazo do Recurso Ordinário para o STF, em Habeas Corpus ou Mandado de Segurança, é de 5 dias.
Também cabe ao STF o ROC das decisões referentes a crimes políticos previstos na Lei de Segurança Nacional.
Será da competência do STJ julgar, em Recurso Ordinário, as decisões denegatórias de Mandado de Segurança e Habeas
Corpus proferidas em única instância, pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos Tribunais do Estado, Distrito Federal
e das decisões denegatórias de Habeas Corpus, proferidas em última instância nos referidos tribunais.
Prazos:
o HC: 5 dias.
o MS: 15 dias.
A interposição será endereçada ao Presidente do Tribunal recorrido, ou seja, para aquele que denegou o Habeas Corpus
ou Mandado de Segurança.