A questão da educação quilombola por muito tempo, não se apresentou como
prioridade e mesmo compreendida como uma especificidade educacional, sendo entendida e tratada quando muito como um dos aspectos da diversidade dos povos do campo, sem nenhuma . É a partir da Lei 10.639/03 que alterou a (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, no artigo ....) que começa de forma mais sistemática a preocupação com a educação pensada para a população quilombola e a reivindicação por uma especificidade identitária nesses espaços.
Em Mato Grosso a preocupação com a educação em territórios quilombolas
tanto relativos aos aspectos estrutural e pedagógico surge pela primeira vez em documento oficial no Plano Estadual de Educação, construído em 2006, transformado na Lei n. 8.806/08 em que problemas como falta de politicas especificas, escolas, acesso e currículo descontextualizado da realidade já eram apontados no documento. Nesse mesmo Plano ficam estabelecidas metas em que as redes estadual e municipais, devem atender as demandas educacionais possibilitando a construção de um currículo que atenda as especificidades dos territórios quilombolas.
Cabe observar, que a identificação das comunidades quilombolas não se
restringe puramente aos negros remanescentes de antigos quilombos formados antes da abolição. Deve-se considerar as comunidades organizadas no período pós- abolição que por diversas formas conseguiram se organizar para constituírem suas comunidades negras. Muitos desses negros que ficaram à mercê de toda má sorte, sofrendo todos os processos de discriminação e falta de políticas públicas que os integrassem à sociedade, criaram estratégias, uniram-se e formaram novas comunidades.
A Constituição Federal (1988), em seu Art. 216, os quilombos constituem
patrimônio cultural brasileiro porque são portadores de referências à identidade e à memória de um dos grupos formadores da nossa sociedade. O território quilombola, nesse sentido, não pode ser entendido como mera exteriorização do direito de propriedade inserida no campo, mas de uma especificidade histórica, identitária com diversidade cultural e de conhecimentos importantes para a história do negro e cultura nacional. O Decreto Federal n. 4.887/03, Art. 2, estabelece que a identificação das comunidades quilombolas dá-se através da “autoafirmação, a relação histórica com uma determinada territorialidade, a ancestralidade negra, trajetória histórica própria e resistência à opressão sofrida.”
Outro documento importante Decreto n.º 6.040 de 7 de fevereiro de 2007 1,
define o conceito de Povos e Comunidades Tradicionais como,
grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como
tais, possuidores de formas próprias de organização social, ocupantes e usuários de territórios e recursos naturais como condição à sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição.
O conceito de quilombos e seus integrantes para Hamze (2005, p.34)
preconiza que os “quilombolas são grupos, com preponderância de população negra rural ou urbana que se intitulam a partir das relações com a terra, o parentesco, o território, a ancestralidade, as tradições e práticas culturais próprias”.
Para Ratts (2004), o território quilombola, é um agrupamento de indivíduos
que se reconhecem como pertencentes de uma ancestralidade negra, que passam por variadas reelaborações de suas matrizes culturais, mas que mantêm laços de sentimento de pertença ao grupo.
No Brasil, segundo dados da Fundação Palmares existem 1.305 (mil trezentas e
cinco) quilombos identificado, em Mato Grosso a população quilombolas estimada até 2010 é de aproximadamente 35.000 pessoas distribuídas nas comunidades identificadas como quilombolas e/ou comunidades negras tradicionais. Segundo cadastro da CEPIR- MT, são 123 quilombos identificados no Estado somando 7.080 famílias quilombolas, conforme a listagem da Fundação Palmares metade dessas comunidades já foram certificadas.
1 Trata da Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais