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Integração do mercado nacional e desenvolvimento regional: uma

análise da concentração e desconcentração produtiva no Brasil, na perspectiva


de Wilson Cano – 1930/2005.

Antonio Carlos Pereira França1


Júlio Cesar Ferreira Silva 2

RESUMO
O presente artigo objetivou apresentar e demonstrar o movimento da integração do mercado nacional e seus
impactos nas economias macrorregionais brasileiras, medindo a concentração e desconcentração produtiva.
Para a sua elaboração, foi aplicada a metodologia de pesquisa bibliográfica, utilizando-se de publicações que
abordam a temática.

Palavras-Chave: industrialização; concentração industrial; desconcentração industrial;


integração.

ABSTRACT
This article aimed to present and demonstrate the movement of the integration of the national market and its
impacts on the Brazilian macro-regional economies, measuring the concentration and productive
desconcentration. For its elaboration, the bibliographic research methodology was applied, using publications
that approach the theme.

Key words: industrialization; industrial concentration; industrial desconcentration;


integration.

1. INTRODUÇÃO
Um país industrializado indica que a indústria comanda o ritmo de crescimento da
economia; isso foi possível a partir do século XIX. Nesse período, todos os Países começaram
a se industrializar, sendo marcados pelas chamadas primeira e segunda onda de
industrialização. No entanto, o Brasil, assim como outros países da América Latina, começou
a se industrializar somente no século XX. Todos os países da América latina, na década de 30,
ainda estavam subordinados à produção agro exportadora. Entretanto, no Brasil, a revolução
de 30 foi um choque contra a política e a elite cafeeira no Sudeste. Com efeito, a acumulação

1
Graduando em Ciências Econômicas pela Universidade Federal do Maranhão
2
Graduando em Ciências Econômicas pela Universidade Federal do Maranhão
de capital cafeeira e a dependência da diversificação de investimentos via café, não dava mais
conta das demandas sociais do País e da indústria. Desta forma, à medida que o país passa a
se recuperar da crise de 29, bem como passar por mudanças políticas e estruturais, vai se
consolidando o processo de intensificação da indústria, formação de um mercado nacional e
integração do território. Em meados do século XX, a instalação de grandes indústrias,
especialmente estrangeira, contribuiu fortemente para a ascensão da industrialização brasileira
e foi possível graças à infraestrutura implantada pelo Estado nacional. Destarte, o objetivo
desse trabalho é verificar, sob a perspectiva do autor Wilson Cano, como ocorreu essa
dinâmica nas regiões brasileiras, até culminar na estruturação industrial total, além das
reverberações que o processo causou nas macrorregiões.
Dessa forma, procuramos demonstrar a disposição das indústrias nas regiões antes do
início da mudança na estrutura produtiva; a ruptura com o sistema econômico insustentável,
bem como as etapas que seguem dentro de cada período histórico, analisando as fases que
ocorrem os impulsos, os quais determinaram o movimento produtivo das indústrias. Além de
verificar a importância e a atuação do Estado nesse processo. Pretendemos, com estes
apontamentos, demonstrar os problemas, as contribuições e os efeitos que surgiram ao longo
desse percurso.

2. O INÍCIO – DÉCADA DE 1929


Segundo CANO (2007), a partir da ruptura da “Crise de 1929” já não é mais possível
repensar as economias regionais como espaços regionalizados e “autônomos”, dada a
superexposição de dois movimentos: o primário-exportador; e o novo, dominação dos
mercados via processo de acumulação de capital. Essa fase de integração dos mercados
nacionais rompe com o modelo de economia do século XIX caracterizada pela formação de
blocos regionais autônomos, independentes, com baixa produtividade, majoritariamente
agrícola, especializada e com fortes barreiras comerciais. A forte crise de 1929 desestabilizou
a economia global. As nações fortemente globalizadas, para a época, viram revogar seus
acordos comerciais internacionais de exportação e importação, com os demais países. Fato
que levou nações emergentes a reestruturarem suas economias com base no padrão de
acumulação dos países desenvolvidos, a industrialização e integração dos mercados nacionais.
“Diante das transformações geradas pela “crise de 1929”, responde no estreito limite
de suas próprias forças. Só que, a partir desse momento, o mercado nacional estava
efetivamente aberto (e cativo) a produção nacional”. (CANO, 2007, pg. 50).
Na região, que será posteriormente a década de 1930 a mais desenvolvida do Brasil, a
presença da indústria representava no inicio do século XX 15,9% de toda a estrutura industrial
nacional. Ainda que de forma gradual, a diversificação no Estado De São Paulo é mais
desenvolvida que a do resto do país, por isso que Cano afirma que o grau de desenvolvimento
que a indústria paulista acumulou, anterior a crise de 1929 e não tivera espaço na economia,
alto grau de ociosidade e conseguiu no decênio de 1930 a frente abastecer o mercado interno
com produtos de bens intermediários. A região que mais apresenta forte concentração das
indústrias são os Estados do Rio de Janeiro e Guanabara, com 38% da indústria nacional.

Presença da indústria na estrutura produtiva


industrial nacional por Regiao/Estados no início
do seculo XX
38%

17% 19,9%
15,9%
4,3% 4,4%

Amazonia Nordeste Extremo Sul Rio de Janeiro e Minas Gerais São Paulo
Guanabara

A produção industrial regional se restringia a pouca diversidade de produção, baixa


produtividade e fortemente especializada.
A alta desconcentração da indústria nacional tem suas raízes nas deficiências do Brasil
em interligar a produção aos centros consumidores internos. O fato das regiões serem poucas
integradas formava “pequenos” centros comerciais internos com economia própria. A falta de
transportabilidade e comunicabilidade terrestre entre as regiões fortalecia e assegurava as
indústrias o mercado interno regional. O transporte de cabotagem para a época era deficitário
e com elevado custo.
“isso fez que, pelo menos ate 1929, as indústrias mais expressivas de cada região
pudessem existir sem maior competição. Dessa forma, registrar-se-ia a presença de
indústrias de grande porte nas varias regiões do país, protegidas pela barreira da
distancia, que mostram claramente uma precoce concentração em termos de
empresas do país.” (CANO, 2007, pg. 62).
Em termos práticos, o que se observa no cenário macroeconômico nacional e regional
do Brasil ao inicio do século XX foi á forte presença da atividade agropecuária, a incipiente
demonstração de força produtiva e alta regionalização das indústrias. A produção
agropecuária nacional e regional foi que quase exclusivamente a mola propulsora do
desenvolvimento da indústria.
O período que transcorre anterior a 1930, período que Cano inicia o argumento sobre o
“processo de industrialização”, foi de forte transformação para o setor industrial, enquanto a
pauta agroexportadora continua em primeiros planos à indústria nacional vai ganhando espaço
no debate nacional.

O gráfico acima retrata a evolução e involução em termos de concentração e


desconcentração industrial no Brasil. Nas regiões Nordeste, Extremo Sul, Rio de Janeiro e O
Estado de Guanabara a produção industrial perdeu espaço, enquanto a presença de indústrias
na região Paulista cresceu exponencialmente. Fatos que corroboram a tese de que a indústria
nacional começou a se integrar antes mesmo da Crise de 1929, e as barreiras que impediam
essa formação outrora foram se esvaindo graças a uma política interna marcada pelo forte
interesse do capital mercantil comandado pela pauta agroexportadora.
A dinâmica do novo modelo de acumulação parte do pressuposto que a forma-valor da
acumulação é a mais-valia produzida dentro da fábrica sob o comando direto do capital
produtivo, ou seja, o capital industrial. Portanto, nesse novo modelo de acumulação há uma
inversão na relação das esferas econômicas, onde a esfera da produção acaba assumindo o
comando da integração e organização do espaço. O processo de transição para esse novo
modelo se deu por meio de uma serie de problemas de exportar e importar que levou à
demanda de bens industriais por ter que se contentar com a produção interna. Dessa forma, ao
passo que essa produção passa a ser estimulada para se expandir constantemente, acaba
servindo como forma de impulso industrial, o que por fim, (depois de quatro fases) resulta em
um sistema industrial auto sustentado, que passa a comandar o ritmo da economia nacional.
Cano (2007) destaca em sua pesquisa que esses impulsos industriais ocorrem em
diferentes fases de industrialização. A primeira compreende a industrialização substitutiva de
bens de consumo não duráveis, ocorrida no período da primeira guerra; a segunda,
substitutiva de bens intermediários, durante a crise de 1929 a 1930; e a terceira, substitutiva
de consumo durável, no pós segunda guerra. É importante destacar que esses impulsos foram
parte importante do processo e, portanto, no tópico seguinte trataremos sobre essas fases,
onde o autor aborda cada uma delas dentro de seu contexto histórico, que com os
acontecimentos, leva à reação do mercado sobre a produção, resultando nos impulsos.

3. A INDUSTRIALIZAÇÃO RESTRINGIDA –1930 – 1955


Neste período, segundo a analise do autor, o país começa a apresentar uma expansão
industrial e um expressivo crescimento do produto em relação ao período pré crise e crise de
1929, sobretudo nas regiões denominadas de periferia nacional.
Ao levar cabo de todos os fatos ocorridos no período de 1929-1955 e as consequências
da primeira Guerra Mundial que corroboraram por transformações da base produtiva nacional
e os efeitos na evolução do crescimento econômico do país, Cano destaca os principais
elementos que condicionaram o advento do “processo de industrialização” a partir de 1930:
 Restrição de investimento na indústria;
 Baixa capacidade para importar;
 Baixa diversificação produtiva;
 Baixa integração do mercado interno nacional/regional;
Ao dividir as regiões por setores, cano consegue alto grau de explicação e
compatibilidade ao explicar as três etapas de industrialização.
O primeiro grupo, formado pelas indústrias, na sua maioria, produtora de bens de
consumo não durável. Neste grupo, encontram-se os ramos industriais como: mobiliário,
farmacêutico, perfumaria, têxtil, vestuário, produtos alimentares, bebidas, fumo editorial
gráfico.
O segundo grupo, formado pelas indústrias, na sua maioria, produtora de bens
intermediários. Neste grupo encontram-se os ramos industriais como: metalurgia, minerais,
não metálicos, madeira, papel e papelão, couros e peles, química e matérias plásticas.
O terceiro grupo, formado pelas indústrias, na sua maioria, produtora de bens de
capital e de consumo durável. Neste grupo encontram-se os ramos industriais como:
mecânica, material elétrico e de comunicações, material de transportes e diversos.
As três etapas destacam-se pelo recorte temporal a fim de enfatizar as etapas que são
concebidas o processo de industrialização brasileira.
A fase compreendida entre 1930 á 1955 refere-se ao período de industrialização
“restringida”, termo cunhado por Cardoso de Mello. O que ocorre nessa primeira periodização
é que os autores contemplam nos seus escritos como o processo de industrialização por meio
da substituição a importação, embora alguns autores preferem chamar esse período como
processo de industrialização, Cano chama de surto industrial: ”citação”
OHLWEILER dar importante contribuição à explicação do termo industrialização
restringida:
“Industrialização posto que a acumulação passa a se assentar na própria expansão
industrial; porém, industrialização restringida porque inexistem ainda as bases
técnicas e financeiras da acumulação necessárias para a imediata implantação de
uma indústria de bens de produção capaz de auto sustentar o processo do
desenvolvimento industrial.” (OHLWEILER, pg. 109)
O país aproveitando-se de uma situação de instabilidade geopolítica e econômica
internacional instável: guerras, conflitos econômicos, crise econômica, mesmo que de forma
insurgente, teve bastante vantagem comercial frente às nações competidoras na exportação de
produtos agropecuários, em especial sobre a exportação de café.
A acumulação de reservas cambiais contribui para a manutenção da taxa de cambio, o
congelamento da mesma, viabilizou a importação de maquinários e suportes industriais para
as instalações fabris. Cano (2007) traduz essa situação macroeconômica “favorável” em
termos de crescimento da indústria, a tabela abaixo retirada do livro do autor sobre o período
trata bem do assunto:
Figura 1 - Taxas médias anuais de crescimento real da indústria de transformação – (%)

Fonte: CANO (2007) pg. 79


A comparação entre a periferia nacional e a região de São Paulo quanto ao ritmo do
crescimento da indústria reflete a existência de polos difusores de investimentos,
distribuidores e vantagens competitivas. Enquanto, o Brasil crescia a uma media de 5,80%
decenalmente, o Estado de São Paulo á uma media de 7.8%, uma diferença de 2 p.p no
crescimento real. Devido à crise mundial de 29, parte do capital cafeeiro foi reinvestida em
atividades industriais, como aponta Cano (2007, pg. 39):
“Durante a década de 1920, a economia paulista acentuou a concentração e a
modernização da indústria produtora de bens-salário. A partir daí, e mais
precisamente após a “Crise de 1929”, lançou a semente da futura indústria produtora
de bens de produção, que se consolidaria durante a década de 1950. A amplitude de
seu próprio mercado proporcionou-lhe atração e posterior concentração da indústria
de bens de consumo durável e de capital. Quando isso se dá, a economia paulista já
havia consolidado seu predomínio na dinâmica de acumulação à escala nacional”.
Dessa maneira, esse impulso industrial permitiu a São Paulo garantir um diferencial
em relação às outras macrorregiões, a diversificação de indústrias. Nesse período de1930 a
1955 é onde ocorre a consolidação da primeira fase do processo de estruturação industrial no
Brasil, bem como, o início do processo de concentração de riqueza em São Paulo. É
importante destacar, tal como é enfatizado pelo autor, que no período de 1939-1945, a
Segunda Guerra Mundial levou à redução na importação de produtos industrializados. Devido
a isso, o Brasil buscou atender as necessidades do mercado nacional via substituição dessas
importações através da produção industrial interna. Isso fez com que aumentasse a demanda
por mão de obra nas cidades. Com efeito, levou à migração interna rural-urbana, pois o fluxo
de imigrantes estrangeiros, o qual era a força de trabalho principal no período cafeeiro, sofreu
uma forte redução.
Embora nesta etapa a economia ainda dependa do setor agroexportador devido a sua
relevância para a importação de maquinário para atender a indústria instalada, além da
expansão industrial ainda não ser suficiente para gerar demanda específica que permita à
introdução de ramos mais dinâmicos, como os bens de capital e bens de consumo duráveis, a
industrialização restringida denota a etapa de transição da estrutura industrial, onde as bases
da economia brasileira, antes determinadas pelo setor agroexportador, passam a se assentar na
dinâmica de acumulação e crescimento do setor industrial. A tabela abaixo é possível verificar
em termos relativos á concentração de produção de bens industriais do Estado de São Paulo
em relação ao Brasil.
Figura 2 – Concentração da produção de alguns bens industriais (São Paulo em relação ao Brasil)

Fonte: Cano (2007) pg. 344-345

4. A INDUSTRIALIZAÇÃO PESADA – 1956 – 1970


Esse período diz respeito à fase da industrialização pesada- a inserção de complexos
industriais destinados a produção de bens de consumo duráveis- e o alargamento do mercado
nacional frente à inversão de capital decorrente de políticas de desenvolvimento da indústria.
A interpretação desse curto período requer uma analise mais individualizada, por isso
Cano sugere subdividir em dois- o primeiro subperíodo estende-se de 1955 ate 1961 e o
segundo subperíodo de 1962 a 1970-, assim a leitura dos eventos ocorridos nesta data se
enriquece de rigor metodológico e sincronia política e econômica.
O contexto da época, tanto em questão política quanto econômica, merece extrema
precisão de interpretação. O reflexo do pós guerra trouxe consequências bastante desafiadoras
a manutenção do crescimento do produto industrial. Primeiro, a instabilidade em manter um
cambio competitivo durante esse segundo período a fim de manter a mesma estratégia de
substituição a importação, destarte a nova fase de acumulação e as políticas de
desenvolvimento.
A nova fase de acumulação de capital, continuando o processo de industrialização,
passa a ser comandado por um grande fluxo de capital estrangeiro, não mais a fase de
substituição a importação, mas com forma de investimento estrangeiro direto, esta fase
conhecida pela internacionalização produção industrial brasileira- marcada pela
multinacionalização das empresas-, e dinamização dos grandes centros e os avanços na
diversificação das indústrias na periferia. Na tabela abaixo é possível verificar as taxas medias
anuais de crescimento real das indústrias de transformação nos três grupos de indústrias.
No grupo I destaque para as regiões NORTE, o estado do Pará e a região CENTRO
OESTE pelo expressivo crescimento da produção de bens de consumo não durável no período
de 1949-1959, que em comparação a São Paulo, crescimento de 7,1% no mesmo período,
observa-se uma diferença de 3 a 5 p.p em relação às regiões em destaque. Para o grupo II, no
mesmo período, destacam-se todas as regiões com crescimento bastante expressivos, com
especial destaque ao estado da Bahia que obteve uma média de crescimento real de 24,5%.
Para o grupo III, com exceção da região NORTE que apresentou uma media de crescimento
real da do produto da indústria, 2,6%, muito abaixo da média nacional, as demais regiões
apresentaram grande desempenho de produtividade e expansão, os números falam por si só,
vale destacar o estado da Bahia apresentando uma média de 38,9, em comparação ao polo
mais dinâmico da indústria brasileira, o estado de São Paulo que obteve uma média de 20,3%,
uma diferença de quase 20 p.p.
Para o segundo período, de 1959-1970, para o Grupo I, destacam-se o estado do
Espírito Santo com uma taxa média de 11,4% de crescimento real enquanto as demais regiões
apresentam certo equilíbrio na média. Para o grupo II, o estado do Espírito Santo apresenta
novamente uma expressiva média de crescimento real, 14,2%, enquanto as demais regiões
mantêm as medias de crescimento acima de 4 a 5 p.p para o período. No grupo III, todas as
regiões apresentam crescimento vertiginoso durante o período.
Embora, todas as regiões fortaleçam suas indústrias em termos reais, o destaque deve-
se centrar sobre o grupo III, pois a etapa refere-se a industrialização pesada, e verifica-se alto
crescimento em termos reais das industrias produtoras de bens de consumo durável, atenta-se
que essas industrias tem bastante dinamicidade e relevância com efeitos para atrás, tanto que
os impulsos gerados pelo grupo III podem ser sentidos no grupo II, grupo que predomina as
industrias produtoras de bens intermediários.
“Na indústria de transformação, em apenas 25 de seus 379 setores produtivos não se
localizavam em São Paulo nenhum dos quatro estabelecimentos: mas dezesseis são
setores produtivos diretamente (ou quase) ligados à base primária como
beneficiamento de borracha, fumo, serrarias, pasta mecânica para papel, ceras
vegetais (...)”. (Cano, 2007. pg. 112)
INDUSTRIAS DE TRANSFORMAÇÃO: TAXAS MEDIAS ANUAIS
DO CRESCIMENTO REAL (%)-1949-1970
GRUPO I GRUPO II GRUPO III
1949-1959 1959-1970 1949-1959 1959-1970 1949-1959 1959-1970
NORTE 12,0 4,5 12,5 6,7 2,6 24,6
NORDESTE 3,8 4,3 15,1 6,6 17,8 19,6
MA/PI 9,9 2,6 11,6 7,5 9,0 4,0
PERNAMBUCO 2,2 3,5 10,5 8,3 18,7 27,0
BAHIA 5,7 5,1 24,5 6,4 38,9 16,0
DEMAIS 4,7 5,1 11,8 5,1 6,3 14,7
MINAS GERAIS 5,0 5,9 11,5 9,3 15,7 18,1
ESPIRITO SANNTO -0,4 11,4 8,4 14,2 7,0 30,6
RI DE JANEIRO 5,6 3,8 14,3 4,7 12,7 11,7
GUANABARA 4,1 5,6 8,5 6,1 11,4 11,4
SÃO PAULO 7,1 7,1 11,4 7,3 20,3 9,4
PARÁ 10,8 5,9 10,4 7,4 10,1 12,1
SANTA CATARINA 7,2 8,2 9,1 8,7 12,2 13,6
DO SULRIO GRANDE 6,7 4,7 9,4 6,5 13,8 15,0
CENTRO-OESTE 10,3 9,5 15,4 8,3 11,1 22,5
BRASIL-SP 5,5 5,4 11,3 6,8 12,4 13,4
BRASIL 6,2 6,2 11,3 7,1 18,4 10,3

Elaboração própria
Fonte: CANO (2007)

5. A IMPORTÂNCIA DO ESTADO
Com a ruptura, em 1929 e ao longo desse período, o Estado foi gradativamente se
conscientizando dos problemas que a economia nacional estava atravessando. Assim, atuou
diretamente, por meio do financiamento e gasto público, para amenizar os efeitos desse ciclo.
O Sudeste como já experimentava grande crescimento econômico, advindo
principalmente do processo de industrialização, apresentando concentração da renda elevada,
a preocupação agora se voltava às demais regiões do país. Dessa forma, a partir de 1959, o
governo começou a criar agências de fomento, inicialmente, a SUDENE - Superintendência
de Desenvolvimento do Nordeste, em seguida, a SUDAM - Superintendência de
Desenvolvimento da Amazônia, em 1966; em 1967, a SUDECO - Superintendência de
Desenvolvimento do Centro Oeste e a Zona Franca de Manaus. A criação destas Agências
tinha como objetivo atrair investimentos nacionais, internacionais e privados. Inicialmente
cumpriram efetivamente o objetivo, refletindo na desconcentração da economia nacional.
No CTN - Código Tributário Nacional foi introduzidos diversos outros impostos, tais
como o Imposto Sobre Exportações e Importações, Sobre Propriedade Territorial Rural,
Renda e demais Proventos; Imposto Sobre Produtos Industrializados, entre. Já em relação aos
dos Estados, foram introduzidos o ITBI e ISM - Imposto Sobre Circulação de Mercadorias;
no âmbito Municipal, o Imposto Sobre Propriedade Territorial Urbana e o Imposto Sobre
Serviço de Qualquer Natureza.
Em 1970, devido a flexibilização das taxas de câmbio, alta das taxas de juros e a crise
do petróleo, os países de terceiro mundo, em especial o Brasil, intensificaram o
endividamento e o déficit nos balanços de pagamentos. Nas décadas posteriores que
compreende até 1990, essa situação foi agravada devido às políticas neoliberais e as crises
fiscal, financeira e cambial, bem como, pelo processo inflacionário. Apesar disso, é
importante destacar que a intervenção do Estado foi fundamental para o início do processo de
integração, pois, ao passo que instala a infra-estrutura de base, regula as forças do mercado,
planeja e implementa estrategicamente setores de indústria, está fornecendo a base para que
os mercados se unifiquem.

6. DESCONCENTRAÇÃO – PERÍODO 1970 - 1980 – 1989 (década perdida)


Após os episódios da década de 1960, dado o cenário da crise instaurada e o baixo
nível de investimento e crescimento do produto, a economia conseguira reverter o cenário de
instabilidade macroeconômica e microeconômica no país. Durante a década de 1970, também
conhecido com a época do “milagre econômico brasileiro”, o país conseguiu expressivas taxas
de crescimento e desenvolvimento, tanto do produto quanto da matriz industrial brasileira.
Um conjunto de políticas econômicas foram postas em práticas para que viesse fomentar a
produção e o nível de investimento do pais. O plano de Desenvolvimento Nacional I e o Plano
de Desenvolvimento Nacional II, o PND I e o PND II, lançados pelo Governo Federal, a fim
de estimular a produção de insumos básicos, bens de capital, alimentos e energia. Verifica-se
neste período forte atuação do Estado na economia. Graças ao capital financeiro estrangeiro
foi possível realizar grandes investimentos de estrutura de capital para alavancar a produção.
Consequências deste período foram as causas de uma queda na produção e no investimento na
década seguinte. A década de 1980 apresentou baixos níveis de investimento e uma forte
instabilidade macroeconômica.
Em 1970 o movimento marchava para a desconcentração produtiva, sendo o primeiro
dentro do estado de São Paulo, ou seja, metrópole ao interior; e o outro São Paulo em direção
ao restante do país. Para análise deste período, Cano encontrou diversos problemas, como por
exemplo: alterações na metodologia de série de dados, bem como divergências entre as contas
regionais e os dados; além de se deparar, na analise a partir do período de 1985, com carência
de dados no censo industrial. Tais deficiências foram agravadas para o período posterior a
1985, pois as análises ficaram mais complexas. Além disso, por conta do período
inflacionário, houve alterações nos preços relativos. No entanto, Cano deu atenção especial à
correção desses problemas.
A indústria de transformação, o cerne da pesquisa, teve maior enfoque; enquanto os
setores agropecuário e extrativo mineral tiveram abrangência menor na análise dos setores
produtivos. Para se ter uma noção mais real das mudanças no setor de serviços, Cano trata os
dados da seguinte forma: pelas contas nacionais e regionais, o de renda, e pelo censo
demográfico, o de emprego. No período abordado pelo autor, que abrange a década de 1970,
houve crescimento elevado, em destaque o da mudança da estrutura de produção industrial,
caracterizado pela desconcentração, demonstrando neste percurso, que a indústria de
transformação da periferia superava a de São Paulo. Portanto, o autor aponta que nesse
período a estrutura industrial se diversificou, houve aumento dos bens intermediários, de
capital e duráveis em relação aos bens não duráveis de consumo, bem como foi fortalecida a
integração entre as regiões.
“Entre 1967 e 1980 a política econômica nacional esteve voltada,
fundamentalmente, para a expansão e diversificação produtiva, com objetivos de
acelerar o crescimento – o projeto “Brasil potência” – e ampliar e diversificar nossas
exportações. O elevado crescimento do período se manifestou em todos os setores
produtivos atingindo também a maior parte do território nacional. Intensificou
também o crescimento da urbanização e do emprego urbano, constituindo assim, um
importante amortecedor social adicional.” (Cano, 2007. pg. 22).
Já a década de 1980 a 1989 foi um período caracterizado de baixo crescimento e
elevada inflação.
“O efeito imediato para os países subdesenvolvidos e fortemente endividados, como
o Brasil, foi o corte substancial do financiamento externo, desdobrando-se em outros
efeitos perniciosos: alta inflação, queda do investimento, baixo crescimento, crise
crônica de balanço de pagamentos, corte do crédito interno, elevação acentuada das
dívidas públicas externa e interna, e aprofundando as crises fiscais e financeiras do
Estado nacional, debilitando ainda mais o gasto e o investimento
público.”(Cano,2007.pg.23)
O Brasil, inclusive São Paulo, apresentou baixo crescimento, e em muitos ramos
industriais, quase negativo. A baixa participação de São Paulo se deu por vários segmentos
produtivos, taxas negativas e quando positivas, pouco expressivas. Dessa forma, o autor
demonstra que houve uma desconcentração somente de forma estatística e não propriamente
de aumentos territoriais de produção efetivos. Outra atenuante para o aumento dessa
desconcentração artificial do período foi a Guerra Fiscal, que “alterou” a localização de uma
pequena fração da produção industrial. Além disso, Cano identifica a divergência dos
movimentos da estrutura produtiva dentro e fora do país, apontando que enquanto o
capitalismo, já desenvolvido mundialmente, avançava na sua reestruturação produtiva, no
Brasil passava por um retrocesso produtivo. São Paulo como detinha a maior diversificação
industrial, foi o mais afetado pela crise, com efeito, apresentou pior desempenho econômico.

7. DESCONCENTRAÇÃO – PERÍODO 1990 –2005


O período que compreende pós 1989 até 2005 é marcado pelas políticas
macroeconômicas de corte, com crescimento médio anual da economia permanecendo baixo.
Cano (2007) mostra que nesse período, a variação anual do PIB de São Paulo foi inferior à
variação anual média do restante do país. Destaca-se entre os pontos abordados pelo autor, os
efeitos resultantes da abertura comercial, valorização cambial, fim do projeto nacional
desenvolvimentista, privatizações, bem como, o desgaste dos mecanismos da política de
desenvolvimento e também das instituições Sudene e Sudam.
“É preciso enfatizar que a deterioração fiscal e financeira do Estado aumentou,
transmitindo-se aos demais governos subnacionais. Com isso, os investimentos
públicos estaduais e municipais também caíram, assim como feneceram as políticas
nacionais e regionais de desenvolvimento, crescendo então a famigerada “guerra
fiscal”. Ao longo desse processo, aumentou também a deterioração técnica, política
e econômica dos órgãos regionais de fomento (Sudam e Sudene) que acabaram por
ser extintos.” (Cano,2007. Pag. 122)
Além disso, é necessário destacar que a deterioração fiscal e financeira do Estado
aumentou, transmitindo-se aos demais governos subnacionais. Com isso, os investimentos
públicos estaduais e municipais também caíram, assim como findaram as políticas nacionais e
regionais de desenvolvimento, aumentando assim a guerra fiscal. Com efeito, nesse processo
houve também o aumento da deterioração técnica, política e econômica dos órgãos regionais
de fomento (Sudam e Sudene) levando-os a extinção. Soma-se a isso, o baixo crescimento do
período, fatores que acabaram afetando de forma qualitativa e quantitativa a desconcentração.
No entanto, o crescimento das exportações agropecuárias e minerais e a grande expansão da
produção de petróleo a afetaram de forma positiva, ela continuou predominantemente espúria,
tendo em vista que a guerra fiscal foi intensificada no país. O autor destaca que as taxas de
crescimento do produto nacional foram apenas um pouco superiores as apresentadas em 1980.
Dessa forma, o desempenho dos bens de capital e de consumo durável continuou abaixo do
apresentado pela agropecuária e pelos bens intermediários. Além disso, o autor ressalta que os
produtos destinados ao mercado internacional ganharam importância, principalmente após
2002, devido ao aumento de preços e da demanda internacional.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Verifica-se que desde a queda da bolsa de 1929 até o findar da leitura em 2005 o
esforço do país em atenuar as deficiências acumuladas no campo de produção, tanto industrial
quanto agropecuário, que interferem diretamente no crescimento e desenvolvimento do país.
Destarte, que o início do período de 1930 foram decisivos, tanto pela questão geopolítica
quanto econômica do mundo, para alinhar uma ordem de expressivas mudanças rumo a
diversificação da produção da economia regional e brasileira. As questões de ordem
macroeconômica sugeriram aos programadores de política econômica rescindir com um
passado de econômica, majoritariamente, agroexportadora e inclui-se no grupo de país em
processo de industrialização dos países emergentes. Passando pela melhoria da estrutura de
capital existente na década de 1940 até a diversificação das plantas. Não somente bens
primários seriam beneficiados, mas com a nova estrutura o país poderia iniciar a produção de
bens intermediários em larga escala. Fato que corroborou com a integração do mercado em
nível nacional, e a suplementação das indústrias regionais quanto ao nível de produção
existente. Na de cada de 1950, pode-se iniciar o processo e integração do mercado
internacional ao ritmo do desenvolvimento das grandes nações desenvolvidas. A melhoria de
escala e a expansão das plantas somada ao novo complexo industrial instalado no país,
complexo voltado a produção de bens de capital, levou o país a alcança um novo status da
indústria nacional. Não somente seriam produzidos bens primários e intermediários e
exportados para as nações estrangeiras a fim de aumentar a produção de bens industriais
deles, seriam postos a indústria de bens de capital pesados. Característica dessas indústrias é
terem fortes impulsos para trás. Décadas de 1960 a 1990, representaram de início fortes recuo
da economia e posteriormente avanços milagrosos. A indústria ganhou novos espaços no
mercado e novos ganhos econômicos, com as tecnologias existentes e as novas fábricas nas
regiões do Brasil. Período que também vivenciou forte retração econômica comas
consequências de uma política econômica expansionista afetando variáveis macroeconômicas
importantes, como o câmbio e a inflação.
É importante ressaltar, que a frente de todo esse processo está São Paulo como Polo
difusor e dinâmico do crescimento e desenvolvimento do país, com matriz industrial bastante
diversificada e concentrada na capital. Regiões mais ao sul do pais se destacam pela produção
agropecuária e o seu beneficiamento. Regiões com baixo desenvolvimento, como o Nordeste,
e o Norte, são postas a margem da produção nacional de bens industriais e alinhada a
agropecuária extensiva e pouco dinamizada, com baixo grau de utilização tecnológica e
ociosa.
A desconcentração passa a ser uma formula ao alto grau de crescimento do país nestes
70 anos. O que ocorre é ampliação da produção nacional dado a expansão do mercado
nacional e internacional, com ressalvas quando se faz a analise dessa desconcentração com a
pulverização das indústrias, algo que não ocorre totalmente, São Paulo ainda passa a
concentrar grande parte da produção de bens indústrias e das indústrias.
REFERÊNCIAS

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Tecnologia, v. 6, n. 3, 2010.

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