Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Tese
Orientadora:
Profa. Dra. Norma Musco Mendes (Universidade Federal do Rio de Janeiro)
Co-Orientador:
Prof. Dr. Carlos Jorge G. S. Fabião (Universidade de Lisboa)
Rio de Janeiro
2016
2
Tese
Orientadora:
Profa. Dra. Norma Musco Mendes (Universidade Federal do Rio de Janeiro)
Co-Orientador:
Prof. Dr. Carlos Jorge G. S. Fabião (Universidade de Lisboa)
Rio de Janeiro
2016
3
491
4
Banca de avaliação:
Professores Titulares:
_________________________________________
_________________________________________
_________________________________________
_________________________________________
_________________________________________
Professores Suplentes:
_________________________________________
_________________________________________
Agradecimentos
Quando Deus fez voltar os exilados de Sião,
ficamos como quem sonha: a nossa boca se nos
encheu de riso, e a língua de canções... Até
entre as nações se comentava: “Deus fez
grandes coisas por eles!” Deus fez grandes
coisas por nós, por isso estamos alegres.
Em primeiro lugar, agradeço imensamente a Deus e à minha família. Aos meus pais,
Eliana e Alzeir Borges, arrimos de todos os dias e projetos. Ao meu irmão Luciano Borges e à
melhor cunhada do mundo, Ercilene Borges, meus eternos amigos. Lembro-me ainda de
minhas tias e primas, meus tios e primos, que compreenderam minhas ausências e desejaram
força e determinação na jornada iniciada no verão de 2012, principalmente aos meus tios
Neusa e Josuel, Linda e Reginaldo (Poti). Agradeço também ao Vitor Hugo dos Santos
Crespo de Oliveira, meu melhor amigo e companheiro, pelo incentivo no período final de
redação do trabalho, por compreender minhas ausências, pelo amor e dedicação.
Aos estimados Prof. Dr. José d’Encarnação e Profa. Dra. Maricí Magalhães pelas
fundamentais revisões das transcrições das epígrafes do latim para o português.
Ao Prof. Dr. Pedro Paulo Funari e ao Prof. Dr. José d’Assunção Barros, pelas valiosas
críticas ao trabalho e pelo aceite em participar da banca de avaliação do exame de
qualificação.
Aos amigos que conheci em Portugal e que desejo levar para a vida: Bárbara Morais,
Dona Helena, Helena Pereira Martins, Cecília (minha italiana predileta), João Alexandre e
Marta Poiares. Aos amigos da Igreja Presbiteriana de Lisboa e à família Dias: Celso, Leiliane,
Luigi e à doce Sarah. Com vocês os intensos meses do estágio em Portugal ficaram mais
leves. Muito obrigada pela oferta de tanto carinho!
E, por fim, ao Prof. Dr. Carlos Jorge Gonçalves Soares Fabião, pelo aceite da Co-
orientação na Universidade de Lisboa e pela parceria ao longo de todo o ano de 2014.
Como disse Paulo na 2ª Epístola a Timóteo (4, v.7), ‘combati o bom combate, terminei
a minha carreira, guardei a minha fé’. Que venham os próximos projetos.
Resumo: a presente pesquisa tem como objetivo geral analisar a construção da paisagem
imperial na província da Lusitânia a partir do estudo comparativo das formas de integração da
elite provincial entre os séculos I a. C. e III d. C. Defendemos que o processo de integração da
região foi desenvolvido de modo progressivo e gradual, cujo início pode ser definido em fins
do II século a. C. e cuja fase de consolidação se deu entre os séculos I e início do III d. C.
Tendo em vista esta delimitação, observam-se as especificidades que distinguem a cultura
política desenvolvida no mundo provincial, sobretudo, os ajustes entre as configurações
sociais regionais tradicionais e as novas relações trazidas pela dinâmica imperial a partir do
estudo da produção epigráfica.
Title: The imperial background in the cities of Lusitania: a comparative study of the
modes of integration of the provincial elite from 1 B.C. to 1 A.D.
Abstract: the following research has the general objective of analising the development of the
imperial background at the province of Lusitania from the view of the comparative study of
the modes of integration from 1 B. C. to 1 A. D. We argue that the integration process of the
area was developed in a gradual and progressive rate, whose beginning can be set at around
the end of the century 2 B. C. and whose consolidation phase was between 1 and 3 A. D.
Bearing these ranges in mind, it’s noticeable that the particularities that distinguish the
political culture developed in the provincial world, specially the adjustments between the
social traditional and regional configurations and the new relations brought by the imperial
dynamics from the view of the study of the epigraphic production.
Keywords: Roman Empire, Lusitania Province, Provincial Elites, Epigraphy, Social Space,
Memory and Identity, Comparative History.
11
Tabela 11b – Atribuições políticas e atividades públicas dos decuriões nas Leges Flavianas
12
Lista de Gráficos
Gráfico 1 - Quantitativo dos registros da onomástica por Civitate do C. Pacensis
Gráfico 2 - Distribuição dos registros dos tria nomina completos por cidade/século
Gráfico 3 - Distribuição dos registros dos tria nomina incompletos por cidade/século
Gráfico 4 - Quantitativo dos registros da onomástica por Civitate
Gráfico 5 - Distribuição dos registros dos tria nomina completos por cidade/século
Gráfico 6 - Distribuição dos registros dos tria nomina incompletos por cidade/século
Gráfico 7 – Quantitativo dos registros da onomástica por Civitate
Gráfico 8 – Distribuição dos registros dos tria nomina completos por cidade/século
Gráfico 9 – Distribuição dos registros dos tria nomina incompletos por cidade/século
Gráfico 10 - Distribuição das tribos do C. Pacensis
Gráfico 11– Distribuição das tribos do C. Emeritensis
Gráfico 12 – Distribuição das tribos do C. Scallabitanus
Gráfico 13 – Distribuição do registro das tribos por Civitate do Conventus Pacensis
Gráfico 14 – Distribuição do registro das tribos por Civitate do Conventus Emeritensis
Gráfico 15 – Integração da Província da Lusitânia no Alto Império
13
Sumário
Introdução ............................................................................................................................... 15
3.1. Os modos de identificação dos cidadãos: a onomástica, o registro da tribu e o cursus honorum.. 87
3.1 a. O registro onomástico...................................................................................................... 90
3.1.b A indicação da Tribo ...................................................................................................... 110
3.2 O caso da capital provincial e as especificidades da sociedade emeritense .................................. 114
Capítulo 4 - As formas de integração e as redes de comunicação das elites provinciais
lusitanas ................................................................................................................................. 131
Introdução
Nessa reflexão, compreendemos que tanto os textos escritos sobre história romana
como os elementos materiais provenientes das províncias oferecem subsídios para a
construção histórica a respeito do Império Romano. Nesse sentido, relativizamos as fronteiras
entre a produção histórica e os estudos arqueológicos e epigráficos. Com efeito, foi na
confrontação entre os documentos escritos e de cultura material que conseguimos identificar e
analisar os diálogos e as intercessões entre as especificidades locais e a estrutura de domínio
desenvolvida.
1
Dissertação defendida em junho de 2010, com o título: A organização do espaço social no Principado: um
estudo de caso sobre a colônia Augusta Emerita entre os séculos I a. C. - II d. C.
16
O presente estudo tem como objetivo geral analisar a formação da paisagem imperial
na província da Lusitânia através da reflexão sobre os processos de criação da convivência
entre os romanos e as comunidades conquistadas. Mais do que um território submetido à
administração imperial, parte-se da ideia da província como uma construção específica, cujo
sentido só é compreendido a partir de sua inclusão no conjunto de decisões e ações dos
agentes que a habitaram e, paralelamente, de suas relações com o contexto promovido pela
dominação.
Vale ressaltar que nesta pesquisa se analisa o fenômeno imperial a partir do mundo
provincial. A escolha por uma escala de análise ajustada às realidades provinciais surgiu
como uma alternativa para o desenvolvimento de um conhecimento não generalizante e,
principalmente, que contribuísse para a observação do aspecto matizado, plural e diverso que
caracterizou o próprio Império Romano enquanto fenômeno histórico. A aproximação com o
mundo provincial é fomentada pelo ímpeto de observação das dinâmicas, dos múltiplos
tempos e das experiências socioeconômicas, políticas e culturais que caracterizaram seu
contexto. Nessa linha interpretativa, o mundo provincial ganhou uma dinâmica própria, ativa
– isto é: este não é visto aqui como um espaço de reprodução da ‘cultura romana’, ou um
representante, em tamanho menor, de uma realidade constante que teria sido o Império. De
outro modo, parte-se da consideração de que não houve uma realidade constante e que, no
17
Como hipótese central, defendemos que a produção epigráfica presente nos espaços
públicos pode ser pensada a partir de dois vetores: (a) uma vez apreendida, a prática
epigráfica foi utilizada como uma estratégia de vivência do espaço social pelos grupos de elite
provinciais, viabilizando sua integração na materialidade do espaço urbano das civitates, e (b)
tendo em vista a ampliação da produção entre os séculos I e II d. C., a prática epigráfica
18
transformou-se em uma das vias de diálogo, inserção e interação entre as comunidades locais
e o sistema de domínio imperial.
2
Para consulta, vide: http://edh-www.adw.uni-heidelberg.de/home.
3
Vide link para acesso: http://eda-bea.es/pub/search_select.php.
19
4
Vide referência completa na obra: GORGES, J. G. (Edt). Les Villes de Lusitaine romaine: hierarchies et
territoires (Talence, 1988). Paris: CNRS, 1990.
21
leste tocando nas seguintes cidades (de norte para sul): Bletisa (Ledesma), Salmantica
(Salamanca), Avela (Ávila) Cæsarobriga (Talavera de la Reina), Alea (Ália), Lacinimurga
(Villa Vieja), Metellinum (Medellin), entroncando na atual fronteira portuguesa a leste de
Moura. Sua capital foi Augusta Emerita, atual cidade de Mérida (na Extremadura Espanhola).
Avançando para o Conventvs Pacensis, seria possível registrar sua localização a sul do
Conventvs Scallabitanus, separando-se deste por uma linha a sul de Lisboa (na Serra da
Arrábida), seguindo, ainda, a sul de Scallabis (Santarém) e de Aritium Vetus (Alvega –
Abrantes), entroncando a seguir no rio Tejo. Os seus limites a leste coincidiam com a
hodierna fronteira portuguesa, e tinha como capital Pax Iulia (atual Beja). Por fim, o
Conventvs Scallabitanus que ficava na zona próxima ao mar, a norte do Conventvs Pacensis e
a oeste do Conventvs Emeritensis5, tendo como capital Olisipo (atual Lisboa).
Nesses termos, para a região do Algarve e Alentejo portugueses, área abarcada pelo
Conventvs Pacensis, no presente corpus se utilizou a tese de doutoramento de José
d’Encarnação, Inscrições Romanas do Conventvs Pacensis (1984) e seus respectivos
aditamentos7. Já em relação ao centro-noroeste provincial, especificamente à Beira Interior,
ganhou relevância a tese de Pedro Carvalho, intitulada Cova da Beira: Ocupação e
Exploração do Território na época romana (2007).
Para o acesso às inscrições inéditas (ou cuja publicação não perpassou as obras acima
mencionadas), consultamos também o suplemento da Revista Conimbriga, intitulado
Ficheiro Epigráfico9.
8
Utilizado com as devidas e necessárias revisões.
9
A partir do número 65 (publicado no ano 2000), consultamos os ficheiros no link:
http://www.uc.pt/fluc/iarq/documentos_index/ficheiro, acedido pela última vez em 17 de dezembro de 2014, às
13h 09min.
23
10
GRIMAL, P. O Império Romano. Lisboa: Edições 70, 1999, pp. 19-33, VEYNE, P. (dir.) - História da vida
privada. I. Do Império Romano ao ano mil, Porto: Ed. Afrontamento, 1989; VEYNE, P. - O Império Greco-
Romano, Rio de Janeiro: Ed. Campus, 2008.
11
GUARINELLO, N. L. Imperialismo Greco-Romano. São Paulo: Editora Ática, 1987, pp.38-81;
BUSTAMANTE, M. R. ‘Práticas culturais no Império Romano’. In.: CARDOSO, C. F. & ARAÚJO, S. R. ‘A
sociedade romana do Alto Império’. In.: SILVA, G & MENDES, N. M. (orgs.) Repensando o Império
Romano: perspectivas socioeconômica, política e cultural. Rio de Janeiro: Mauad, 2006, pp. 109-136;
12
ALFOLDY, G. A história social de Roma. Lisboa: Editorial Presença, 1989; CARDOSO, C. F. & ARAÚJO,
S. R. ‘A sociedade romana do Alto Império’. In.: SILVA, G & MENDES, N. M. (orgs.) Repensando o Império
Romano: perspectivas socioeconômica, política e cultural. Rio de Janeiro: Mauad, 2006, pp. 85-108;
WINTERLING, A. Politics and society in Imperial Rome. Oxford: Wiley-Blackwell, 2009.
13
BALIL, A. ‘Las ideas urbanísticas em época agustea’. In.: Bimilenario de la colonia Caesaraugustana (vol,
1). Zaragoza: Universidad de Zaragoza, 1976; FRAVO, D. The urban image of augustan Rome. Cambridge:
Cambridge University Press, 1996; ALCOCK, S. E. ‘Archaeology and Imperialism: roman expansion and the
Greek city’. In.:Journal of Mediterranean Archaeology, vol. 2, nº 1, junho de 1989, pp.87-135.
14
MEYER, E. A. ‘Explaning the epigraphic habit in the roman empire: the evidence of epitaphs’. In.: The
Journal of Roman Studies, vol. 80, 1990, pp. 74-96. MacMullen, R. ‘The epigraphic habit in the roman
empire’. In.:American Journal of Philology, vol.103, 1992, pp. 233-246.
15
ENCARNAÇÃO, J. d´ - Introdução ao estudo da epigrafia latina, Coimbra: Universidade de Coimbra,
1987; ENCARNAÇÃO, J. d´- Epigrafia. As pedras que falam, Coimbra: Universidade de Coimbra, 2006.
SUSINI, G. - Epigrafia Romana, Roma: Jouvence, 1982.
28
16
GUARINELLO, N. L. ‘O Império Romano e nós’. In.: SILVA, G & MENDES, N. M. (orgs.) Repensando o
Império Romano: perspectivas socioeconômica, política e cultural. Rio de Janeiro: Mauad, 2006, p. 16.
17
Na busca pela etimologia da palavra ‘élite’, Thomas B. Bottomore (As Elites e a Sociedade, 1965, p. 7-8)
aponta que já no século XVII a palavra era utilizada para designar produtos de qualidade excepcional.
Posteriormente, seu emprego foi estendido para abranger grupos sociais ‘superiores’, tais como unidades
militares de primeira ordem ou postos mais altos da nobreza. Todavia, na primeira metade do século XIX, a
concepção moderna, social e política de elite possivelmente podem remontar aos trabalhos do Conte Saint-
Simon, com o reconhecimento da existência de diferenças de classe e da oposição entre ricos e pobres e na
defesa do governo de cientistas e industriais.
18
Vale destacar que foi na filosofia positivista de Auguste Comte que os elementos elitistas de Saint-Simon,
juntamente com as ideias do filósofo Louis-Gabriel-Ambroise De Bonald (ou Visconde De Bonald),
encontraram novo fôlego. Para avançar nessa análise, vide o trabalho de Thomas Burton Bottomore citado.
19
Destaca-se, ainda, o registro de elite fazendo referência a grupos sociais no Oxford English Dictionary em
1893.
20
MOSCA, G., Elementi di scienza política. Edição especial com uma segunda parte inédita. Torino: F. Bocca,
1923 (1ª Edição em 1896). Disponível em:
http://www.liberliber.it/mediateca/libri/m/mosca/elementi_di_scienza_politica/pdf/mosca_elementi_di_scienza_
politica.pdf, acessado em 17 de dezembro de 2014, às 18h 19min.
21
PARETO, V., Systèmes socialistes. Paris: V. Giard & E. Brière, 1902. Edição disponível em:
http://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k5525301r, acedido em 17 de dezembro de 2014, às 18h 21min.
29
definir a ‘elite’ como um grupo restrito de pessoas, mas propôs uma explicação para o
fenômeno de sua constituição enquanto grupo. Nas palavras do autor,
Para Mosca23, o domínio da minoria sobre a maioria se daria pelo fato daquela ser
organizada, ou seja, pela sua capacidade de se organizar enquanto grupo. Assim,
22
A 1ª Edição é datada em 1896. Aqui citamos à seguinte edição: MOSCA, G. The Ruling Class. New York:
McGraw Hill, 1939, p. 50. Vide, também, DELICAN, M. ‘Elite theories of Pareto, Mosca and Michels’. In.:
Sosyal Siyaset Konferansları Dergisi, 2000, pp.324-335. Disponível em:
http://www.journals.istanbul.edu.tr/iusskd/article/download/1023013423/1023012646, Acedido em 17 de
dezembro de 2014, às 18h 27min.
23
MOSCA, G. op. cit., 1939, p. 53.
24
Data da primeira edição. Aqui, acessamos a edição brasileira, publicada pela Zahar editora em 1980. Uma boa
síntese das ideias de Gaetano Mosca foi realizada por Norberto Bobbio em seu Dicionário de Política, 1998, p.
386.
30
através das forças materiais, consagradas pelo aparelho ou máquina estatal, da qual se serve a
classe política como instrumento para a realização de seus próprios fins.
Essa ideia já estaria presente nos trabalhos Cours d’économie politique (1896-7) e no
Les systèmes socialistes (1902, com segunda edição francesa em 1926), mas foi em seu
Trattato di Sociologia Generale (1916) que Pareto aprofundou a questão e preocupou-se
com a oposição entre aqueles que possuem poder, o que ele chamou de elite governante, e os
que não o possuem, as massas. Nessa obra, ele defende a teoria do equilíbrio social,
fundamentada no modo como se combinam, integram e intercambiam as diversas classes de
elite, seguindo uma perspectiva binária, a saber: as políticas (divididas entre as que usam a
força e as que usam a astúcia), as econômicas (divididas entre os especuladores e os
banqueiros) e as intelectuais (divididas entre os homens de fé e os de ciência). Para autores
como Bottomore27 e Bobbio28, essa mudança de concepção de Pareto se deve, em parte, à
25
BOBBIO, N. op. cit., 1998, p. 386.
26
PARETO, V. The mind and society, pp. 1422-3 (tradução inglesa do Trattato di Sociologia Generale), apud.
BOTTOMORE, T. B., op. cit., 1965, p. 9.
27
BOTTOMORE, T. Op. cit., 1965, p. 9.
28
BOBBIO, N, Op. cit., 1998, p. 386.
31
influência da obra de Gaetano Mosca, primeiro a fazer a distinção entre elite e massas,
embora utilizando outros termos.
Deste modo, tanto Mosca quando Pareto preocupavam-se com as elites no sentido de
grupo de pessoas que exercem diretamente o poder político ou que estão em condições de
influir sobre seu exercício; ao mesmo tempo, reconheciam que a ‘elite governante’ ou ‘classe
política’ compõe-se, ela mesma, de grupos sociais distintos29. Como se percebe, o uso do
termo elite já nesse início do século XX não fora consensual: como exemplo da pluralidade de
interpretações produzidas, a partir dos estudos dos teóricos italianos, está a interpretação de
Roberto Michels, sociólogo alemão radicado na Itália.
Desta feita, a teoria das elites surgiu com uma forte carga antidemocrática e
antissocialista que, para alguns autores, refletia o receio das classes dirigentes dos países onde
os conflitos sociais eram ou estavam para se tornar mais intensos. De acordo com a análise de
Norberto Bobbio31, do ponto de vista ideológico ‘paretiano’, a teoria das elites foi uma das
expressões através das quais se manifestou a crise da ideia de progresso indefinido que havia
caracterizado o período da burguesia ascendente, servindo ainda para pôr em choque o ideal
do democratismo igualitário, ao colocar em evidência a dura e áspera lição do Darwinismo
Social que defendia, na seleção através da luta, as impiedosas condições da evolução. Desse
modo, forneceu argumentos a quem tinha interesse em demonstrar que a história é uma
repetição de conflitos, onde não contam os ideais, mas a forma e a astúcia. Nesses termos, as
revoluções seriam entendidas como nada mais do que a substituição de uma classe dirigente
por outra. A teoria das minorias governantes, mais presente em Mosca e Pareto do que em
29
BOTTOMORE, T. B. op. cit., 1965, p. 11.
30
Para a análise da teoria de Michels, vide a obra: Sociologia dos partidos políticos, Brasília: Universidade de
Brasília, 1982; tradução brasileira do La Sociologia del partito político nella democrazia moderna.
31
BOBBIO, N. op. cit. 1998, p. 386.
32
Seguindo essa análise crítica, Bobbio 32 destaca que essa ‘visão pessimista’ estaria
materializada numa incredulidade quase total em relação aos benefícios da democracia, como
uma crítica radical ao socialismo enquanto criador de uma nova ideia de civilização, e com
uma desconfiança que se aproximaria ao desprezo pelas massas portadoras de novos valores.
Se, num primeiro momento, a teoria das elites aglutinou alguns ‘humores antidemocráticos e
antissocialistas’ provocados como reação ao movimento operário, por outro lado teria
permitido a formulação da antítese elite-massa, onde o termo positivo era o primeiro e o
negativo era o segundo.
Tendo em vista a contribuição dos três teóricos aqui analisados brevemente, pode-se
afirmar que a teoria das elites foi impondo por seu valor heurístico, difundindo-se enquanto
campo de pesquisa. Viram-se, assim, dois modos diferentes de formação das classes políticas:
(a) o poder que se transmite por herança, de cima para baixo, ou (b) o que busca realimentar-
se nas camadas inferiores. Desta reflexão saíram modos diferentes de organização política,
dos quais, citamos dois: os regimes autocráticos e os regimes liberais e democráticos, sendo o
primeiro assentado numa concepção de elite mais fechada e restrita, e o segundo concebendo
a elite em uma perspectiva mais ampla e aberta33.
Enquanto conceito, a partir das décadas de 1920 e 1930 o termo elite ganhou novas
34
reflexões que contribuíram para sua consolidação enquanto teoria científica .
Concomitantemente, reforçou-se um duplo caminho para sua crítica: pela via liberal e pela via
marxista.
[e]nquanto a teoria elitista parte (...) da contraposição entre elite e massas distintas
entre si como elemento passivo da sociedade e limita o elemento conflitual ao
conflito interno das elites, a teoria marxista parte da contraposição entre as duas
classes antagônicas dos donos dos instrumentos de produção e dos proletariados e
considera o conflito entre as duas classes sociais o principal motor do movimento
histórico. Na visão elitista da sociedade, a relação entre elite e massa não é
necessariamente antagônica.
Deste modo, não se trata do antagonismo entre massas mais ou menos influenciadas
pelas elites: enquanto a teoria marxista se volta para a forma de produção, para o movimento
estrutural a fim de encontrar os elementos constitutivos e determinantes do movimento social,
a teoria elitista individua o elemento determinante da desigualdade social que caracteriza a
sociedade existente (e que já existiu) na diversa distribuição do poder, destacando o poder
político.
A partir da década de 1950, para além de tais discussões, ganharam relevo os estudos
que buscavam validar as elucubrações teóricas através de pesquisas empíricas sobre
comunidades locais38. Nos trabalhos desenvolvidos, a premissa básica consistia na reflexão
sobre quais seriam os limites entre o ‘poder potencial’ e o ‘poder real’. Desenvolvidos a partir
do estudo dos grupos de poder de comunidades pequenas ou em instituições de grandes
dimensões, como administrações municipais, sindicatos e agrupamentos profissionais, os
35
Nesse viés podem ser enquadrados os trabalhos de Joseph Schumpeter, Capitalism, socialism and
democracy (1942); Karl Mannheim, Freedom, Power and Democratic Planning (1950) e Raymond Aron, Paz
e Guerra entre as Nações, edição brasileira publicada pela Editora UnB em 1979, sendo a primeira edição, Paix
et guerre entre les nations, publicada em 1962, em Paris.
36
Incluem-se nessa perspectiva as obras de Georg Lukács, History and Class Consciousness (1923); Nicos
Poulantzas, Les classes sociales dans le capitalisme aujour’hui (edição francesa publicada em 1974 que
ganhou uma tradução brasileira intitulada Poder Político e Classes Sociais, em 1977. O original é datado em
1968) e Antonio Gramsci – deste há vários escritos, reunidos na edição brasileira de Escritos Políticos, volume
1, publicado pela Editora Civilização Brasileira em 2004.
37
BOBBIO, N. op. cit, 1998, p. 390.
38
São exemplos os estudos de Floyd Hunter, Community Power: a study of decision makers (1953) e Robert
Dahl, Who governs? Democracy and power in an American city (1961).
34
estudos demonstraram que a influência de um grupo de poder não se explica apenas pelas
decisões que conseguem tomar, mas também pelas decisões que se conseguem impedir que
sejam tomadas. Nesses termos, o que vale em uma comunidade não vale necessariamente em
outra. Quando testada na realidade do ‘campo’, a teoria das elites, em seu modo clássico, foi
questionada em seu pretenso valor universal. Tais os estudos locais demonstraram que a teoria
de uma única elite no poder é falsa, além de reforçar a necessidade de se buscar as
especificidades locais na compreensão da dinâmica política39.
39
BOBBIO, N. op. cit.1998, p. 391.
40
Incluímos aqui a coletânea organizada por Pierre Nora e Jacques Le Goff, Faire l’histoire (1974), cuja
tradução brasileira recebeu o título História: novos problemas, novas abordagens, novos objetos, publicado
pela editora Francisco Alves em três volumes, 1988.
35
era na longa duração que se buscaria compreender a história das formações políticas e das
ideologias, da cultura política tomada em contexto amplo e complexo.
Como indicam Karina Kuschnir e Leandro Piquet Carneiro, ‘cultura política’ pode ser
considerado um conceito multidisciplinar em cujo cerne reside a proposta de incorporar nas
análises da política da sociedade de massas contemporânea uma abordagem comportamental.
Isto é, uma proposta de abordagem que considerasse os aspectos subjetivos das orientações
políticas, seja no tocante ao ponto de vista das elites, seja em relação ao grande público da
sociedade. Para os autores, o conceito compreenderia uma visão peculiar e orgânica cara às
relações políticas, referindo-se ao conjunto de atitudes, crenças e sentimentos que dão ordem
41
REMOND, R. Por uma Historia Politica. Rio de Janeiro: FGV, 1998, p. 35-36.
42
REMOND, R. Op. cit., 1998, p. 442.
43
REMOND, R. Op. cit., 1998, p. 443-444.
44
Vide o clássico estudo de Almond e Verba, The civic culture, de 1963. A expressão foi criada na década de
60 por Almod e Verba a partir da combinação das perspectivas sociológica, antropológica e psicológica no
estudo dos fenômenos políticos.
36
Tomando como referência tais estudos, passaremos agora para um breve mapeamento
dos estudos a respeito do Império Romano.
45
KUSCHNIR, K. & CARNEIRO, L. P. ‘As dimensões subjetivas da política: Cultura Política e Antropologia
da Política’. In.: Revista de Estudos Históricos. Vol. 13. nº 24. Rio de Janeiro, 1999. p. 227-250.
46
Sobre este tema, alguns estudos ganharam destaque pelas especificidades das propostas e suas contribuições
para o debate acadêmico. Dentre estes, estão os trabalhos de J. Quinn intitulado ‘Roman Africa?’, o artigo de C.
Berrendonner, ‘The Romanization of Volterra: a case of mostly negotiated incorporation, that leaves the basic
social and cultural structure intact?’ e, por fim, o estudo de R. Hingley, ‘Recreating coherence without
reinventing Romanization’; todos publicados na edição de 2003 do Digressus, The internet journal for the
Classical World. Nesse conjunto de trabalhos que enfocam a dinâmica dos mundos provinciais incluem-se
ainda os livros de L. Revell, Roman Imperlialism and local identities publicado em 2009 e R. Hingley, O
Imperialismo Romano: novas perspectivas a partir da Bretanha, cuja edição brasileira foi feita em São
Paulo em 2010.
47
São referências os estudos de Th. Mommsen, Römische Geschichte IV, publicada em Berlim em 1874, e
Tenney Frank, Roman Imperialism publicada em New York em 1914.
37
48
Para um artigo de introdução à questão, recomenda-se o trabalho de MENDES, N. M., ‘Romanização: cultura
imperial’. IN: PHOINÎX. Rio de Janeiro: Sette Letras, 1999, pp. 307-325.
38
49
Dentre as pesquisas que articulam a relação entre as pesquisas arqueológicas e os estudos do imperialismo,
enquadram-se os trabalhos de Susan Alcock, sobretudo o artigo ‘Archeology and Imperialism: Roman
Expansion and the greek city’ (1989), e o texto de Thomas Barfield ‘The shadow empires: imperial state
formation along the Chinese-Nomad frontier’, publicado no livro organizado por S. Alcock e E. D’Altroy,
intitulado Empires (2001).
50
SAID, E. Cultura e Imperialismo. São Paulo: Companhia das Letras, 1995, pp. 37-38.
39
51
Sobre essa perspectiva, recomenda-se o livro organizado por J. Webster e N. Cooper, intitulado Roman
imperialism: post-colonial perspectives, publicado em 1996.
52
Aqui entendemos o termo hibridismo de acordo com os estudos de Homi K. Bhabha na obra: O Local da
Cultura, Belo Horizonte: UFMG, 1998.
53
A avaliação negativa do termo romanização ganhou força com o trabalho de Marcel Bénabou (1976) e foi
rebatido pelo arqueólogo Y. Thébert (1978). Outro bom exemplo é o livro de M. Millet (1990), que se afasta das
ideias de progresso moral e social, mas afirma que a mudança social da Britânia foi uma forma de interação
cultural direcional, resultando na imitação dos padrões culturais romanos pelos provinciais, como o resultado do
“desejo” de ser Romano. Sobre o início dos processos de romanização no período posterior à conquista romana e
o processo de internalização da cultura romana e a formação da cultura galo-romana, os trabalhos de Greg Woolf
(1998) são uma referência. Para a análise da atuação romana no Oriente, vide o trabalho de Macmullen (2000,
p.1), segundo o qual os romanos não exerceram uma política de imperialismo cultural, sendo mais acertado usar
o termo Helenização em lugar de Romanização. J. Webster (2003, pp. 24-51), com base nos estudos
comparativos sobre a arte em contextos coloniais, propõe a substituição do termo Romanização por Creolização.
Já Richard Hingley (2003 e 2005) afirma que o paradigma do termo Romanização é constritivo e anacrônico,
portanto, para substituir esse caráter e visando a proporcionar maior dinamismo à análise do Mediterrâneo
Romano, propõe a aplicação do atual conceito de globalização desenvolvido no livro, Império de Antonio Negri
e Michael Hardt (2003). Com base nos processos de conquista e “Romanização” da Gália, G. Woolf (1998, p.7)
afirma que o termo Romanização não tem um potencial explicativo, devendo ser entendido como um termo
amplo ao abarcar os múltiplos processos de mudanças socioculturais, geradas pelo relacionamento entre a
“cultura romana” e as culturas provinciais, através dos quais os habitantes provinciais se tornaram e se
identificaram como romanos.
54
Aqui nos referimos ao livro The Archaelogy of Ethnicity – Constructing identities in the past and present
de 1997.
40
etnicidade para o estudo da arqueologia da Britânia, na medida em que entende que todos os
fenômenos sociais e psicológicos são associados com a identidade do grupo e, portanto,
construídos culturalmente. Neste sentido, o conceito de etnicidade foi utilizado para enfocar
as formas pelas quais os processos de interação social e cultural interagem entre si para a
identificação e interação dos grupos étnicos. Seguindo esta lógica, o registro arqueológico
evidencia a praxis do processo de interação social, ou melhor, de construção da etnicidade,
pois envolve a produção e o consumo dos distintos estilos da cultura material, tanto da elite
como da 'sub-elite'. Logo, a cultura material se constitui mais do produto da interseção dos
interesses e oposições entre os grupos sociais, em particulares contextos históricos, do que em
categorias abstratas da diferença.
55
Uma recente abordagem que se enquadra nessa linha interpretativa foi escrita por Alejandro Bancalari Molina
(2007) Orbe Romano e Imperio Global: la romanización desde Augusto a Caracalla.
41
A revisão dos estudos a respeito do Império Romano a partir da recolocação das elites
provinciais enquanto tema de pesquisa consistiu em um ponto de virada para a
problematização das dinâmicas dos processos de romanização. Ao propor uma mudança da
construção do objeto em análise a partir de outra forma e trama, as comunidades locais
ganharam novas cores e formatos. Em lugar da observação de como se processou a
assimilação dos elementos da cultura “romana” de forma passiva e deliberada pelas
comunidades provinciais, passou-se a observar o fenômeno a partir de outra perspectiva. Em
primeiro lugar, reformulou-se a divisão da posição dos agentes na relação entre as
comunidades e a administração imperial. De conquistadores e conquistados, passou-se a
considerar o papel ativo das comunidades locais na construção e manutenção das estruturas
imperiais no nível regional. Uma vez identificados enquanto agentes ativos na rede política
desenvolvida e estimulada pelo domínio, os grupos políticos locais fazem escolhas,
apropriam-se e reformulam elementos da cultura romana56 e constroem práticas sociais.
A aplicação destes conceitos não representa uma analogia entre o passado e o presente,
mas sim a busca de um conceito heurístico que nos ajuda a abarcar em uma mesma estrutura
ambos os fenômenos – um império como um todo e a experiência local – e a fazer
comparações sobre temas recorrentes, tais como: transformações na velocidade do ritmo dos
meios de comunicação para as mercadorias, informações e pessoas; formação de novas redes
de interações; crescimento do consumo e da economia e a formação de novas identidades
híbridas marcadas pela interação entre padrões globais e locais. No entanto, conforme afirma
Nevile Morley59 é preciso considerar os limites da globalização, observando os parâmetros
56
Na pesquisa, compreendemos termo ‘cultura romana’ como o resultado de uma fértil síntese de tradições
presentes em todo o mundo mediterrânico. Na análise da questão, Andrea Giardina definiu a identidade romana
como incompleta. Para uma análise aprofundada dessa interpretação, vide GIARDINA, A. ‘L’identità
incompiuta dell’Italia romana’. In.: L’italie d’auguste à Dioclétien. École française de Rome, Roma: Palais
Farnèse, 1994.
57
PURCELL, N. The Corrupting Sea, A study of Mediterranean History Oxford: Blackwell, 2000.
58
Vide GARDNER, A, Pensando sobre o Imperialismo Romano: ‘Pos-colonialismo, Globalização e Além’.
Britannia 2013, - link http://journals.cambridge.org/BRI - 11 de abril de 2013 – p.1-25.
59
MORLEY, N. Trade in Classical Antiquity. Cambridge: Cambridge University Press, 2007, p. 90
42
60
DAVIDSON, J. A construção de um espaço para o Império Romano: arquitetura, monumentos e
ordenamento espacial. Tese de Doutoramento (Doutorado em História), Programa de Pós-Graduação em
História, Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2004, p. 28.
61
Como analisado por Michel Foucault, (1986, p. 22), a grande obsessão do século XIX foi, a história, com seus
temas do passado em eterna acumulação, com sua grande preponderância de homens mortos e da ameaçadora
glaciação do mundo. Nessa leitura, o espaço foi tratado como o morto, o fixo, o não dialético, o imóvel, e o
tempo, ao contrário, era a riqueza, a fecundidade, a vida e a dialética. Manuel Castells (1972, p. 181), Henry
Lefebvre (1991) e Jorge Davidson (2004, pp.16-17) analisam que essa descrição aponta para interpretação
essencialmente temporal que marcou as análises sociais do século XIX. Nelas, o espaço seguiu remetendo a um
sentido eminentemente geométrico e costumava ser considerado como um atributo objetivo, uma ordem
preexistente na qual se desenvolviam os processos históricos. Edward Soja (1993, p. 23) e Ester Limonad (1999,
p. 75) consideram que esse posicionamento teórico caracterizou-se por uma contextualização histórica da vida
social e da teoria social que contribuíram por obscurecer a temática espacial. Ou seja, tenderam a bloquear o
papel do espaço na estruturação do território e a transformá-lo no lugar do processo histórico.
62
Com o desenvolvimento do conceito de organização espacial no âmbito da ‘Nova Geografia’ do pós - II
Guerra Mundial.
63
SOJA, E. Geografias Pós-Modernas: a reafirmação do espaço na teoria social critica. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar, 1993.
43
De acordo com as análises de Davidson64, esse novo enfoque propõe uma formatação
diferenciada de conceituação e compreensão do mundo, integrando o eixo espacial aos eixos
social e histórico, evidenciando a importância da configuração espacial na vida das
sociedades. O espaço, uma vez incluído na dinâmica das relações sociais, passa a ser
considerado como centro de produção de identidades65, em hábitos e formas de convívio. Essa
perspectiva estabeleceu vínculos analíticos entre as problemáticas espaciais e as questões
relativas à identidade, poder e cultura, abrindo caminho para a compreensão dos aspectos
rituais e simbólicos que conformavam as ‘organizações espaciais’. Por outro lado, possibilitou
o estudo das formas pelas quais o espaço é concebido e introjetado no interior dos sistemas
culturais e nos indivíduos que compunham as distintas culturas.
Frente à amplitude dos debates teóricos a respeito do espaço, em nossa pesquisa nos
aproximamos das contribuições formuladas por Henry Lefebvre, que amplia o debate ao
defender que a organização do espaço não é apenas um produto social, também é fruto nas (e
das) relações sociais66. Sua teoria espacial é construída sob a argumentação de que o ‘espaço
social’ inclui o espaço fisiconatural, assim como também as projeções, os projetos, os
símbolos e utopias, característicos da sociedade que o formulou.
64
DAVIDSON, J. op. cit., 2004, p. 28.
65
Em relação ao conceito de identidade, dialogamos com os estudos de Kathryn Woodward e Tomaz Tadeu da
Silva (2000), no qual os autores defendem que o processo de construção da identidade é tanto simbólico
(marcada pela reunião de um conjunto de símbolos compartilhados entre os indivíduos de um mesmo grupo)
quanto social (pelas relações sociais), sendo marcado pela grande oposição com a diferença. Trata-se de um
fenômeno que emerge da dialética entre o indivíduo e a sociedade. Ou seja, compreende-se que identidade é
aquilo que se é, enquanto que diferença é aquilo que o outro é, ambos entendidos enquanto produções
socialmente construídas.
66
LEFEBVRE, H. The Production of Space. Oxford/ Cambridge: Blackwell, 1991, pp.36-57; 58-78.
44
67
Na obra The Production of Space, 1991, p. 33, Lefebvre define três dimensões espaciais que dão forma ao
espaço social como uma categoria de análise histórica:
a) a das práticas espaciais: relacionadas à produção e reprodução do conjunto espacial característico de cada
sociedade que asseguram certo grau de coesão. É a dimensão da materialidade, da concretude do espaço, das
construções com as quais os homens habitam no seu cotidiano;
b) a das representações do espaço: são as contracepções da sociedade que envolvem os conhecimentos que
permitem compreender e ordenar as práticas materiais ( tais como a geografia, a arquitetura e o planejamento);
c) a dos espaços representacionais: esta relacionada à dimensão da vivência cotidiana, implicando nos códigos,
signos, símbolos, ou seja, os simbolismos das construções materiais que funcionam como espaços simbólicos, os
quais criam novos sentidos e possibilidades para as práticas espaciais.
68
TORRE, A. ‘Un tournant spatial em histoire? Paysages, regards, ressources’. In.: Annales: histoire, sciences
socials. Septembre-octobre 2008, nº 5, p. 1127-1144.
45
espaço em que se vive, o identificando como um lugar seu, expresso nos aspectos simbólicos
que atribuem sentido aos espaços urbanos e os transformam em espaços sociais.
69
DETIENNE, M. Comparar o incomparável, Aparecida: Idéias & Letras, 2004, p. 47.
46
garantiram a integração das comunidades locais (nas cidades) e regionais (na província) na
estrutura de domínio imperial.
Posto isso, examinamos uma fração do Império Romano em sua fachada ocidental, a
saber, a província da Lusitânia. Nessa perspectiva, como indica Henry Lefebvre 70, não se
trata de localizar no espaço preexistente uma necessidade ou uma função, mas ao contrário,
trata-se de ‘espacializar’ uma atividade social, ligada a uma prática no seu conjunto,
produzindo um espaço apropriado. Seguindo essas assertivas, adentraremos no universo
provincial a partir da identificação da dinâmica sócio-espacial que caracterizou a região antes
da formação da província. Acreditamos que somente assim conseguiremos deslindar a
intercessão entre as especificidades locais e as ações do poder imperial para a integração e
consolidação da península como um espaço social integrado ao conjunto do Império.
70
LEFEBVRE, H. op.cit, 1991, p. 8 e 22.
47
71
NICOLET, C. Space, Geography and politics in the early Roman Empire. Michigan: Michigan University
Press, 1991, pp. 29-56.
72
Res Gestae, 26. 5.
73
Res Gestae, 31, 1.
74
A tradição filosófica com a orientação de investigar o mundo conhecido remonta à ‘escola de Alexandria’,
sobretudo aos trabalhos de Erastostenes de Cirene, cujo trabalho centrava-se tanto na mensuração da terra, como
da oikoumene. Nele, o conceito de oikoumene já aparece relacionado ao mundo habitado, subdividido em suas
fronteiras políticas. Sobre esse tema, ver os estudos de Klaus Geus, ‘Measuring the Earth and the Oikoumene:
zones, meridians, sphragides and some other geographical terms used by Erastosthenes of Cyrene’.
In.:TALBERT, R & BRODERSEN, K. (Edts.) Space in the Roman World. Piscataway: Münster: LIT, 2004,
pp. 11-26.
75
HIDALGO DE LA VEJA, M. J. ‘Algunas reflexiones sobre los limites del oikoumene em el Imperio
Romano’. In.: Gérion, 2005, nº 7, pp. 273-278.
76
Res Gestae, L.I, v.1.
77
Estrabão, Geog. L.2, Cap. 5, v. 8.
48
orientação política de afirmar e justificar tanto a submissão do mundo pelo Império como sua
organização sob a tutela de Roma.
78
Tais cerimônias aconteciam quando os generais e suas tropas regressavam dos combates e, ao chegarem a
Roma, já destituídos das armas e uma vez autorizados pelo Senado, realizavam um desfile militar, ao longo do
qual eram apresentados os mapas com as listas das cidades, os nomes das montanhas e rios conquistados,
projetando-se a forma e distância das regiões submetidas em reação a Roma. Vide a análise de NICOLLET, C.
Space, Geography and politics in the early Roman Empire. Michigan: Michigan University Press, 1991, p.
20.
79
NICOLET, C. Space, Geography and politics in the early Roman Empire. Michigan: Michigan University
Press, 1991, pp. 7-8.
80
Fonte da imagem: NICOLET, C. ‘L’Empire Romaine: espace, temps et politique’. Ktema, Strasbourg, v. 8,
1983, pp. 163-173.
49
Como indica Claude Nicolet81, como os demais documentos citados, o mapa atribuído
a Agripa teve função peculiar na construção do ideal da soberania romana no sistema político
do Principado. Nele, a concepção de domínio universal foi expressamente veiculada pela
representação dos dois espaços fundamentais que estruturavam o universo mental dos
romanos: Urbs et orbis terrarum. A Urbs é o centro do mundo, a cidade da vida social, do
prazer, dos templos, da riqueza, da cultura e do poder e o orbis terrarum é representado
através do registro das regiões de forma geral, de modo que permitisse uma ampla
visualização da posse do mundo e suas zonas de influência.
Ao seguir esta premissa, o discurso geográfico estraboniano buscava dar sentido tanto
às atividades de conquista desenvolvidas por Roma como também aos povos e suas
geografias interpretadas como 'exóticas'. Seu texto é marcado por estereótipos e pelo conceito
clássico de levar a “civilização” aos povos tidos como 'bárbaros e primitivos', baseando-se na
concepção de que por não serem como nós, 'romanos e gregos’, os bárbaros deveriam ser
dominados.
81
NICOLLET, C. Space, Geography and politics in the early Roman Empire. Michigan: Michigan U
niversity Press, 1991, p. 95-122.
82
CRUZ ANDREOTTI, G; LE ROUX, P. & MORET, P. (Edts.). La invención de una geografía de la
Península Ibérica – vol. I : la época republicana & vol. II: la época imperial. Madrid/ Málaga: Casa de
Velazquez/ Servicio de Publicaciones del Centro de Ediciones de la Diputación de Málaga, 2007.
50
Na sua retórica de poder, Estrabão gera uma 'ilusão de benevolência' para caracterizar
a ação imperialista romana. Tudo o que ele consegue ver é um mundo totalmente dominado
por Roma, onde a oposição à humanitas trazida pelo Imperium apenas confirma a necessidade
de dominação dos povos. Fruto da visão de mundo greco-romana, o autor molda os
acontecimentos das conquistas – da Península Ibérica, por exemplo – a partir de suas
experiências, buscando sustentar e consolidar a prática imperial, inclusive quando aponta as
questões que fazem referência aos atos de resistência ao domínio. Sua geografia é de cunho
político-administrativo, escrita principalmente para a utilização dos grupos dirigentes e
destinada a dar conta do estado do mundo no início do reinado de Tiberio (sucessor de Otávio
Augusto): por um lado aberto às ligações comerciais com a longínqua Índia, por outro,
fechado pela Pax Romana83.
Plínio conheceu um mundo antigo que havia chegado à sua plenitude. Desde a
ampliação do conhecimento sobre o universo conhecido, da descoberta de novos pontos
geográficos e as informações etnográficas subsequentes às conquistas de Alexandre, o
Grande, aliados ao impulso dado ao ‘conhecimento’ e à técnica pela época helenística, o
espaço sociocultural romano oferecia a unidade de um âmbito comum. Logo, o contexto
histórico vivido por Plínio pode ser caracterizado como um segundo momento de
consolidação e organização das áreas conquistadas.
83
Sobre este termo, tomamos como referência os estudos de PETIT, P. A paz Romana. São Paulo: Livraria
Pioneira Editora, 1984 & MENDES, N. M. ‘O conceito de Pax Romana’. In.: ZHEBIT, A. (Org.). Ordens e
Pacis: abordagem comparativa das relações internacionais. Rio de Janeiro: MAUAD, 2008, pp. 145-158,
51
Com a vitória sobre Cartago, em 202 a. C., o território foi anexado e a intervenção
administrativa foi consolidada, inclusive com o envio de cônsules, desenvolvimento de
assentamentos militares e a crescente intensificação da exploração das rotas comerciais.
Estrategicamente, os romanos ocuparam o lugar dos cartagineses no controle da região,
84
Na historiografia clássica os nomes de Ibéria e Hispania são equivalentes e referem-se à Península Ibérica.
Contudo, nos textos conservados vê-se (salvo raríssimas exceções) que os romanos empregavam sempre
Hispania, e os gregos, Iberia. Nesses termos, Apiano, no século II d. C., ao descrever a respeito da riqueza das
terras peninsulares que chamava a atenção daqueles que por ela passavam, indica que: “a Ibéria esta rodeada
pelo mar, a exceção do Pirineus, os montes mais altos da Europa e, talvez, os mais abruptos de todos. Deste
entorno marítimo recorrem, em suas travessias, o mar Tirreno até as colunas de Hércules, mas não cruzam o
oceano ocidental e setentrional, exceto para atravessá-los à região dos britanos e, para isso, se ajudam as
correntes marítimas. (...) A extensão da Iberia – a qual alguns chamam Hispania, em vez de Iberia – é enorme e
incrível como para tratar-se de uma só região, posto que sua largura se evolua em dez mil estádios e sua
longitude é igual à sua largura. Habitam-na povos numerosos e de nomes variados e fluem, através dela, muitos
rios navegáveis” (Ibéria [IV], vv.1). Vide também: BLÁZQUEZ MARTINEZ, J. M. ‘El nombre de Hispania
em la Historia: los hispanos em el Império Romano’. Disponível em:
http://www.fondazionecanussio.org/palaestra/blazquez.pdf, acedido em 15 de janeiro de 2010, às 13h 25min.
85
RICHARDSON, J. S. Hispaniae: Spain and the development of Roman imperialism, 218-82 b. C.
Cambridge: Cambridge University Press, 1896.
52
conquista estas que asseguraram a Roma o controle da bacia ocidental do mar Mediterrâneo
Ocidental86.
De fato, a situação geomorfológica da península fez com que a região fosse marcada
pela diversidade climática. Diante da proximidade com o Atlântico, as regiões norte e oeste
são caracterizadas pelos climas úmido e semiúmido. Já nas regiões banhadas pelo
Mediterrâneo, a variação climática oscila entre os climas semiúmido e semiárido. Em relação
a isto, Plínio - o velho ressalta a diversidade de produtos nas terras da Hispânia, a saber:
86
LE ROUX, P. La péninsule ibérique aux époques romaines: fin Du III ª S. AV. N. È. – début Du VIe S.
De N. È. Paris: Armand Colin, 2010, pp. 19-47; HURLET, F. Rome et l’Occident (IIe siècle av. J.-C. – Iie
siècle apr. J.-C.): gouverner l’Empire. Rennes: Presses Universitaires de Rennes, 2009.
87
GRACIA ALONSO, F. ‘Colonización y comercio púnico em la península Ibérica’. In.: GRACIA ALONSO,
F. (Coord.) De Iberia a Hispania. Barcelona: Ariel, 2008, pp. 845-898; CUNLIFFE, B. ‘Diversity in the
Landscape: the geographical background to urbanism in Iberia’. In.: CUNLIFFE, B. & KEAY, S. (Orgs.) Social
complexity and the development of tows in Iberia. Oxford: British Academy, 1995, pp. 11-12; ARRUDA, A.
M. ‘Fenícios e Púnicos em Portugal: problemas e perspectivas’. In.: Cuadernos de arqueología mediterránea,
Nº 18, 2008 (Ejemplar dedicado a: Nuevas perspectivas II: la arqueología fenicia y púnica en la península
ibérica), págs. 13-24.
53
“[...] há lãs de variadas colorações de tal modo que, de tantos tipos que existem,
faltam os nomes para as que chamam naturais. As melhores lãs de velo negro
produzem-las a Hispânia; Polência, junto aos Alpes, as de velo branco; a Ásia as do
avermelhado a que chamam eritreias, e a Bética também; Canúsio as de fulvo e
Tarento as do seu pardo característico. As gorduras que todas elas produzem tem
propriedades medicinais. As da Hístria e da Libúrnia são mais pelo do que lã,
impróprias para vestuário paliçado, e o mesmo acontece com as que Salácia, na
Lusitânia, recomenda para tecidos axadrezados” (VIII: 191.)
“Há também azeitonas muito doces que secam por si, mais doces que uvas passas;
são bastante raras e produzem-se na África e próximo de Emerita, na Lusitânia”
(XV: 17).
“(...) a região referida a partir dos Pirineus é rica em ouro, prata, ferro,
chumbo e estanho (...)” (L. IV, v112)
“(...) Não falando do que na Índia é extraído pelas formigas ou pelos grifos
da região dos Citas, o ouro no nosso planeta explora-se de três formas: em
pepitas, nos rios, tal como no Tejo da Hispânia, no Pó da Itália, no Hebro da
Trácia, no Páctolo da Ásia e no Ganges da Índia – e não há outro mais terso
porque é purificado pelo atrito da própria corrente. O outro processo é
explorá-lo cavando poços ou então desfazendo os montes”. (L. XXXIII: 66)
Barry Cunliffe 89 aponta que desde a Idade do Ferro estes fatores geomorfológicos
agiram de forma integrada e proporcionaram o desenvolvimento de distintas culturas
espalhadas por toda a península. Como demonstram as pesquisas arqueológicas, é possível
identificar a exploração destas reservas desde a idade do bronze, principalmente aquelas
localizadas na região de Serra Morena, no vale do Guadalquivir.
88
Inseto do qual se extrai o carmim.
89
CUNLIFFE, B. ‘Diversity in the Landscape: the geographical background to urbanism in Iberia’. In.:
CUNLIFFE, B. & KEAY, S. (Orgs.) Social complexity and the development of tows in Iberia. Oxford:
British Academy, 1995, pp. 11-12.
54
Cunliffe 91 ressalta que, no período formativo, entre os anos 1000 e 600 a. C., a
trajetória social da península foi marcada por transformações sociais motivadas por fatores
internos e externos. Como fatores internos o autor destaca o crescimento populacional e
mudanças tecnológicas como os elementos que possibilitaram o desenvolvimento das
populações locais. Aliando-se a isso estariam os movimentos de colonização ou invasões de
grupos advindos do leste do Mediterrâneo.
Dentre essas interações, a mais antiga e, em muitos aspectos, mais claramente definida
pela arqueologia, consiste na presença fenícia e no desenvolvimento do comércio de metal,
realizado entre as comunidades da Andaluzia ocidental. Pode-se destacar que, pelo menos
desde o século XII a. C., os navios do leste do Mediterrâneo já exploravam estas regiões.
Outra etapa deste processo teria ocorrido entre os séculos VIII e VII a. C., com a
materialização da presença fenícia através do estabelecimento de colônias e da fundação de
portos permanentes, como Cádiz, por exemplo, ao longo da costa sul da península, próximo
do vale do rio Guadalquivir. A implantação desses outros tipos de organização espacial
introduziu uma nova dimensão aos assentamentos indígenas da região, dando um estímulo
maior às trocas econômicas, além do desenvolvimento da agricultura e pecuária92.
90
Aqui a obra de Montenegro Duque, Historia de España – España Preromana, editado pela Gredos, em
1972, é um importante manual de análise.
91
CUNLIFFE, B. op cit, 1995, pp. 15-16.
92
CUNLIFFE, B. op.cit, 1995, 17-18.
55
Pirineus. Desse modo, no século III a. C., a chegada dos romanos à península caracterizava,
afinal, um novo mosaico populacional formado por etnias paleohispanicas93 e indoeuropéias.
93
Vide o texto de Luciano Pérez Vilatela, ‘De la lusitania independente a la creación de la Provincia’, In. (Orgs)
GORGES, J.-G. Y BASARRATE, T. N. Sociedad y cultura em Lusitania Romana. Mérida: Casa de
Velázquez, 2000.
94
ALARCÃO, J. (Coord.) Nova história de Portugal: Portugal das origens à Romanização. Lisboa:
Editorial Presença, 1990, p. 353.
95
Desenvolvido por Luis Fraga, disponível no endereço: http://www.arkeotavira.com/didatico/, acessado em 26
de março de 2015, às 15h13min.
56
96
No depósito da ria de Huelva, os contatos com fenícios e gregos, intensificados a partir do início do primeiro
milênio, na área do Sudeste peninsular, tornaram possível o desenvolvimento desta cultura, a qual pode ser
considerada como resultante da interação da população local com os povos mediterrâneos.
97
A análise das vias de comunicação que entrecortavam os territórios da província da Lusitânia e estabeleciam a
comunicação desta com as demais regiões da península (a saber, províncias da Bética e Tarraconense no período
Augustano), será realizada no capítulo III.
98
SILVA, A. ‘Portuguese Castros: the evolution of the habitat and the proto-urbanization process’. In.:
CUNLIFFE, B & KEAY, S. (Orgs.) Social complexity and development of tows in Iberia. Oxford: British
Academy, 1995, p. 281.
99
Pequenos povoados que dependiam dos oppida (ou no plural, oppidum), povoados fortificados maiores
centralizados em torno da autoridade de chefes guerreiros.
100
SILVA, A. C. F. op. cit. 1995, p. 272.
57
De acordo com Armando Coelho Ferreira da Silva 101 , a interação destes núcleos
populacionais com os povos do mediterrâneo oriental também é comprovada pelos achados de
objetos de cerâmica feita ao torno, de engobe vermelho, cinzenta fina, policroma de bandas e
ânforas de tipo fenício que formam um conjunto datado da segunda metade dos séculos VII e
VI a. C., encontrados pelas escavações recentes na foz do Rio Tejo e no Castelo de Alcácer.
Durante o século VI a. C. a arqueologia registra o deslocamento das tribos celtas da
região da Meseta e o início do controle comercial de Cartago, nas regiões do Mediterrâneo
Ocidental, após a vitória na Batalha de Alalia, em 535 a. C. 102 . Esta conjuntura, também
marcada pela crise da expansão colonial focense durante o século VI, significou o gradual
desaparecimento do Reino de Tartéssos e o deslocamento ou migração interna do grupo étnico
herdeiros do reino tartéssico, denominado de túrdulos ou turdetanos, para a região do atual
Algarve.
Os celtas e túrdulos encontraram na região sul do Alentejo e do Algarve uma
população indígena de origem local, denominada de Cónios, cujo centro era Conistorgis,
possivelmente às margens do rio Guadiana. Nesta região, a arqueologia registra o
desenvolvimento dos núcleos pré-urbanos em áreas estratégicas para a exploração econômica,
tais como a Bacia do Guadiana, a Foz do Rio Sado e a área do litoral.
Era uma região habitada por vários populi 103 , tais como os: Igaeditani, Tapori,
Coilarni, Lancienses, Meidubrigenses, Aravi, Arabrigenses. Os romanos integraram todos
estes povos numa unidade geopolítica, chamada de lusitani104, onde também devemos incluir
os Callaeci, povos da atual região de Trás-dos-Montes e Alto Douro. Tratam-se das regiões do
Noroeste, que correspondem aos atuais territórios portugueses de Trás-dos Montes, do Alto
Douro e das Beiras. São caracterizados pelos denominados castros, povoados fortificados
existentes desde o final da idade do bronze que conservaram as características celtas.
De modo geral, os castros representaram um modelo de pequenos assentamentos
101
SILVA, A. C. F. op. cti. 1990, p. 273.
102
A cidade de Alalia, situada na Córsega, ocupava uma posição crucial na rede focense de comércio com as
regiões do litoral Ocidental do Mar Mediterrâneo. A vitória da coligação formada por cartagineses e etruscos
resultou na desestabilização dessa rede, favorecendo a cidade de Cartago. Vide HODGE, A.T. Ancient Greek
France. Philadelphia: University of Pennsylvania Press, 1998, pp. 95, 141.
103
Como indica Ernesto Farias (1950), a palavra é masculina, derivada de populus.
104
Se seguirmos a narrativa de Estrabão, podemos dizer que estes povos possivelmente foram tutelados pelos
lusitanos, mas ‘lusitanos’ é um nome genérico para designar o conjunto de tribos da região da Beira interior.
58
105
Vide QUEIROGA, F.M.V.R. War and Castros. New approaches to the northwestern Portuguese Iron
Age. Oxford: Publishers of British Archaeological Reports Gordon House, 2003.
106
Assim, participaram das guerras civis, marcadamente nos conflitos entre Sertório, Metelo e Pompeu (80-72 a.
C.) e dos conflitos entre César e Pompeu (Batalha de Munda em 45 a. C.).
59
As lutas civis que marcaram o final da República atingiram a região com a chegada do
proconsul Q. Caecilius Merellus Pius, que veio combater Quinto Sertorio na Hispania.
Visando um melhor controle da região, o proconsul fundou assentamentos como Metellinum
(80-79 a. C., que mais tarde ascendeu ao status de colônia) seguindo o curso do rio Anas e em
uma importante estrada que une as regiões meridional e oriental da Hispania com a Beira e
Castra Caecilia, próxima a Cáceres. Esta política teve continuidade em César, que fundou
Norba Caesarina entre os anos de 36-34 a. C., e outros núcleos, tratando-se de fundações que
seguem o estilo da época republicana: veteranos e auxiliares com cidadania romana que
formam a guarnição permanente de centros alojados em importantes vias terrestres e fluviais
que, gradativamente, estabelecem contatos com as populações locais110.
O contato dos romanos com as atuais áreas do Alentejo e do Algarve registra-se a
partir de fins do século II a. C., no âmbito do domínio da Hispania Ulterior111. Uma das
hipóteses aceitas indica que a consolidação da conquista da região, e sua subsequente inclusão
na estrutura provincial em desenvolvimento, foi viabilizada mais pela manutenção da tradição
comercial dos núcleos pré-urbanos nativos existentes e pela celebração de acordos do que
através de guerras. No entanto, na área calaico-lusitana, o contato e o avanço do domínio
tiveram um caráter belicoso e foi marcado por profundas transformações na cultura castreja.
Durante este período a arqueologia registra uma multiplicação do número de transformações
na estrutura dos assentamentos, que adquirem a conotação de amplos centros habitacionais,
apresentando delimitação de atividades econômicas, políticas, defensivas e religiosas. Estes
novos castros, possivelmente, surgiram em decorrência do crescimento demográfico ou do
107
ESTABAN ORTEGA, J.; SANCHEZ ABAL, J. L. & FERNANDEZ CORRALES, J. M ª ‘Las necropolis del
castro del Castillejos de la Orden’, Alcántara- Cáceres, Cáceres, 1988.
108
HERNÁNDEZ HERNÁNDEZ, F; RODRÍGUEZ LÓPEZ, Mª D.; SÁNCHEZ SANCHEZ, M. A.
‘Excavaciones em el castro de Villasviejas (Cáceres)’. In.: Extremadura arqueológica II – Mérida/Cáceres,
1991.
109
REDONDO RODRÍGUEZ, J. A. ; ESTEBAN ORTEGA, J. E SALAS MARTÍN, J. & SANCHEZ ABAL, J.
L. Memórias quinquenales sobre los castros y la necrópolis de la Coraja (Aldeacentenera – Cáceres). Consejeria
de educación y cultura de la Junta de Extremadura,1991.
110
SAQUETE-CHAMIZO, J. C. ‘Territorios y gentes en el contexto histórico de la fundación de la colônia de
Augusta Emerita’. In.: NOGALES BASARRATE, T. (Org.) Augusta Emerita: Territorios, Espacios,
Imágenes y Gentes en Lusitania Romana. Mérida: MNAR, 2004, pp. 375-412.
111
BERNARDES, J. P. ‘Ab Oppidum ad Urbem: Algarve’s urban landscape variations throughout the roman
age’. In.:CORSI, C. & VERMEULEN, F. Changing Landscapes: the impact of Roman towns in the Western
Mediterranean - Proceedings of the International Colloquium, Castelo de Vide, Marvão, 15th-17th May, 2008.
Bologna: Ante Quem, 2010.
60
deslocamento de unidades menores para locais mais estratégicos que ofereciam melhores
condições defensivas de comunicação e recursos econômicos.
Neste aspecto, deve ser mencionado o aparecimento dos “castros agrícolas”, voltados
para o desenvolvimento da agricultura nos vales e de outros mais especializados na
exploração dos minerais. A pecuária (porco, cabra, cavalo) continuou sendo uma importante
atividade econômica, juntamente com a atividade mineral e metalúrgica (utensílios, armas,
objetos de adorno em bronze e ferro e a ourivesaria).
Já na Idade do Bronze a existência de recintos fortificados apontaria para a
importância social da guerra. Inicia-se a formação de um grupo de guerreiros voltados para a
necessidade de obtenção de riqueza, prestígio e status. Houve reforço na valorização e no
posicionamento desses indivíduos na hierarquia social do grupo. O limite da identidade e da
obrigação social destes chefes guerreiros não extrapolaria o grupo e estava mais ligada aos
objetivos imediatos da guerra do que a uma solidariedade política, a qual pudesse consolidar a
identidade do líder. Possivelmente, a importância destes líderes e a tendência à centralização
de poder foram impulsionadas em decorrência da chegada e da interação com outros povos,
favorecendo a construção dos castros enquanto estruturas defensivas.
Tal interpretação é corroborada com a ideia de que as campanhas contra as tribos das
montanhas, lideradas por Viriato, empreendidas pelos romanos durante o período de 147 a
140 a. C., e por Décimo Junior Brutus em 138 a. C., favoreceram a tendência já existente de
transformação da organização sociopolítica destes povoados para formas mais centralizadas
de exercício do poder político, a formação de chefias. Nesses termos, a formação de
sociedades de chefias foi estimulada pelo exercício de relações de poder baseadas no caráter
patronal, própria da cultura política romana. Em se tratando da prática das relações de poder
uma vez aplicado à política externa romana, possibilitou a formação de parcerias através da
formação de uma rede de trocas e alianças políticas entre romanos e líderes tribais. Esta
prática é testemunhada pelas guerras contra os lusitanos. Viriato, pela fidelidade e devoção
dos guerreiros, uniu várias tribos da região da Hispania Meridional, formando uma
organização sociopolítica complexa.
Com base na documentação textual112 podemos dizer que Viriato teve seu prestígio
consolidado ao receber o título de amicus populi Romani e o reconhecimento do seu poder
sobre as terras que dominava. Igualmente a outros líderes provinciais, Viriato se transformara
num aliado de Roma. No entanto, teve de enfrentar os aristocratas locais pró-romanos,
112
Diodoro, L. 33,7,1 e Apiano, L. VI.
61
113
De acordo com os relatos de Plutarco (Vidas Paralelas, ‘Vida de Sertório’, vol. III), Quinto Sertório foi um
general romano que participou ativamente nos desdobramentos políticos do último século da Republica. Ativo
personagem nas chamadas ‘Guerras Civis’, decorrentes dos embates entre Caio Mario e Cornelio Sila, também
foi governador da província da Hispania e liderou a chamada ‘Revolta de Sertório’. Transcorrida durante os
conflitos entre marianos e silanos, teve seu estopim em 82 a. C, quando Sertório se dirigiu para as Hispanias,
estendendo-se até 72 a. C., quando da morte do mesmo. Em síntese, quando a cidade de Roma foi dada como
perdida pela facção popular em meio às guerras civis da década de 80-70 a. C., o partidário de Mário, Quinto
Sertório, iniciou um movimento de resistência ao governo senatorial e, por conseguinte, conservador. A
Península Ibérica fora escolhida pelos marianos por ter sido governada por Caio Mario, dentre outros fatores.
Para uma análise aprofundada do tema, ver a dissertação de Vanessa Vieira de Lima “A revolta de Sertório e a
crise republicana do século I a. C.: uma visão das práticas de dominação imperialista romana nas
Hispânias”, defendida no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal Fluminense em
2010.
114
Sobre essa questão, vide o artigo publicado por Mendes, N. M. ‘O impacto romano sobre a comunidade
nativa da Lusitânia.’ Publicada nas atas do III simpósio Nacional e II Internacional de Estudos Celtas e
Germânicos: “Saber e Poder entre Celtas e Germânicos: formação, representação e transformação”. São
João Del Rei/ MG: UFSJ/ BRATHAIR, 2008, pp. 61-85.
115
QUEIROGA, W. op. ci. 2003, p. 100.
62
iniciativa legislativa para ‘proteger o povo romano’. Enquanto imperium proconsulare maius,
governava as províncias senatoriais em conjunto com os magistrados nomeados pelo Senado,
além de conduzir pessoalmente o governo das províncias imperiais através da nomeação
direta de seus legados; e exercia o comando supremo do exército. Soma-se a isso sua
preeminência na condução da tradição religiosa e como protetor dos mores, os costumes
ancestrais, como pontifex maximus 116 . Contudo, seu poder não era baseado somente na
legalidade das magistraturas exercidas e na riqueza que o patrimonium Augusti (seus bens
privados e os oriundos de sua função pública) lhe proporcionavam. Autores como Tito Lívio e
Virgílio contribuíram para a construção da ideia de que seu poder emanava de sua alta
dignitas, de sua suprema auctorictas pessoal, presente no ideal das antigas virtudes romanas
efetivadas pela virtus, clementia, iustitia e pietas encarnadas por ele.
116
GRIMAL, P. ‘O século de Augusto’. In.: O Império Romano. Lisboa: Edições 70, 1999; ZANKER, P.
Augusto y el poder de las imágenes. Madrid:Alianza Forma, 2008.
117
Durante a República, o princeps é o primeiro cidadão a falar durante as sessões do Senado, aquele que tem a
superioridade para amenizar as diferentes posições políticas. Além da esfera senatorial, o princeps deveria ser
capaz de manter boas relações com outras camadas sociais, dentre elas, o exército e o próprio povo. Para tanto,
ele deveria possuir sólidas bases políticas, morais e culturais, um modelo a ser seguido por seus concidadãos.
118
ECK, W. The age of Augustus. Malden: Blackell Publishing, 2007; EDER, W. “Augustus and the power of
tradition”. In.: The Cambridge Companion to the Age of Augustus. Austin: Cambridge University Press,
2007, p. 15.
119
Op. cit., 1989, pp. 110-171
63
Africa Proconsularis, Cyrene e Aegyptus. Cabe ressaltar que a ideia de fronteira (limes) no
mundo romano não deve ser entendida em termos lineares e estaques, mas como uma franja
de território, um local de união e integração entre aqueles que eram culturalmente diferentes.
O limes era considerado como um caminho de passagem das tropas e suprimentos para os
exércitos, uma via de comunicação e bases de conquistas e não meramente como uma
delimitação da ação militar120.
120
MENDES, N. ‘Limes Reno-Danubiano: conceito e prática no alto Império’. In: Revista PHOINÎX. Rio de
Janeiro: Sette Letras, 1997, p. 323.
121
WATTEL, O. Petit atlas historique de I’Antiquité. Paris: Armand Colin, 1998, p. 61.
65
Nas províncias ocidentais, como ressalta Walter Trillmich122, o ideal da pax romana
constituiu-se na base ideológica para a reorganização das áreas conquistadas. Em se tratando
da organização dos territórios, o conceito se converteu tanto na introdução de uma ampla e
complexa estrutura jurídica e administrativa quanto no trabalho construtivo representado pela
prática da fundação de cidades ou na reapropriação de núcleos urbanos prévios – que no
Ocidente representou uma parte importante no desenvolvimento dos processos de
transformações econômicas, sociopolíticas e culturais.
Ao deparar-se com culturas tão distintas, agrupadas sob a égide de seu domínio, a
cultura romana desenvolveu estratégias que buscavam conhecer e consolidar o domínio de
modo não coercitivo, mas que garantisse a dominação dos territórios e suas gentes. A
ordenação do território conquistado, criando ou mantendo a cidade, constituiu-se em uma
122
TRILLMICH, W. ‘Las ciudades hisponoromanas: reflejos de la metrópoli’. In.: Hispania el legado de
Roma, septiembre-noviembre de 1998. Zaragoza: Ministério de Educación y cultura, 1998, pp. 163-174.
1998, pp. 163-164.
66
eficaz forma de manter a unidade de territórios distintos e assegurar o domínio. Nesse sentido,
no período do Principado, o ideal da civitas enquanto espaço formulado de/para as relações
sociais foi resignificado, ampliado e exportado para além da península Itálica, servindo como
um meio de consolidação das áreas123.
e soberana em relação aos seus bens e indivíduos além de ser cimentada na religião e nas leis.
Esta conceituação se vinculava com a compreensão da Res publica segundo os pressupostos
de Cícero128, ou seja, tratava-se da união de um determinado número de homens associados
por consenso, no direito e na comunhão dos interesses. Para Claude Nicolet129, na dinâmica
das relações sociais, essas concepções eram expressas sob a forma de uma associação
utilitarista marcada pelo benefício e pela contribuição de cada indivíduo, englobando
sacrifícios e direitos. Não havia uma especialização funcional, todos os cidadãos eram
credores e devedores, isto é, eram soldados, contribuintes, eleitores e possíveis candidatos130.
A ação conjunta da coletividade visava, portanto, o bem comum e da própria cidade que,
como o espaço das relações civis, constituía-se no local no qual as relações sociais eram
reguladas segundo um direito comum.
Ainda em Da Republica, Cícero desdobra a questão ao definir a Res publica como res
populi. Neste caso, res tem um sentido abstrato e ao mesmo tempo, concreto: os bens comuns,
os interesses comuns de todos os cidadãos no seu conjunto. Tal aplicação indica que era do
contrato político e social estabelecido entre os homens que nascia a natureza moral dos
indivíduos. Isto é, da associação, do contrato social e político inicial, nascia uma natureza
moral do homem o que o civilizava e distinguia do ‘bárbaro inculto’. Paralelamente aos
deveres dos cidadãos, haveria as vantagens da associação: a proteção diária de uma
comunidade que garantia individual e coletivamente, através das instituições e do direito, a
segurança das pessoas e de suas propriedades e a acumulação de riquezas e de comodidades
proporcionadas pelas relações comerciais, pelos mercados organizados, pelas festas, feiras e
pelos portos131. Se os bens comuns, os cursos de água, uma costa, as pastagens, as minas
pertenciam a todos, a sua exploração cuidadosa deveria ser suficiente para fazer frente às
despesas que a organização da comunidade comportava, isto é, garantir o culto dos deuses,
construção de edifícios e locais públicos, assegurar as atividades de gestão, financeiras e
128
Da Republica, 25.
129
NICOLET, C. Space, Geography and politics in the early Roman Empire. Michigan: Michigan University
Press, 1999, p. 30.
130 Durante a Res publica, as práticas institucionais que articulavam a mentalidade política dos romanos eram
baseadas na ação política e no respeito à tradição e aos costumes dos ancestrais. Não havia separação de poderes
e nem uma constituição republicana instituída por um ato legislativo, mas sim práticas constitucionais calcadas
nos mores, isto é, as tradições passadas de geração em geração. O Estado existia para garantir a liberdade pessoal
e a proteção dos direitos dos cidadãos. A autoridade suprema do poder legislativo, eletivo e militar era uma
prerrogativa do Povo Romano e o exercício da soberania era entendido como o resultado da ação conjunta do
Senado (enquanto conselho consultivo), das Assembléias, dos Magistrados e do Povo romano. Esse ideal era
amplamente rememorado pela sigla SPQR (Senatus Populusque Romanus – Senado e Povo Romano) registrada
nas insígnias militares e nas instituições públicas da VRBS.
131
CICERO. De officiis, 2, 73.
68
outras. Nessa lógica, a cidade como uma comunidade de direito se adaptou progressivamente
às diferenças que coexistiam entre os indivíduos que compunham os liames das relações
sociais132.
132
NICOLET, C. op. cit. 1991, pp. 24-27.
133
GEERTZ, C. op. cit. 1989, p. 143.
134
Dos quais podemos destacar: municípios, colônias (latinas ou de cidadãos romanos), cidades federadas,
imunes ou estipendiárias. Apenas esta última encontrava-se submetidas de modo ilimitado à autoridade do
69
governador, pagando a totalidade dos impostos diretos permanentes (sobre pessoas – tributum per capita, sobre a
produção da terra – decuma ou vicesima, e sobre a produção das minas – metalla) e os impostos indiretos
(principalmente os direitos alfandegários – portoria) (MENDES, 1988).
135
PLINE L’ANCIEN. Histoire Naturelle - Livro IV. Paris: Belles Lettres, 1998, versos 116, 117 e 118.
136
Historia Naturalis, II, 7.
137
ALARCÃO, J. Portugal: das origens à Romanização. 1990, 360.
70
Romanorum), todos os habitantes ali nascidos tinham a cidadania romana (salvo, obviamente,
os escravos). Já nas colônias latinas (coloniae Latinae) tinham só o ius Latii (que era
fundamentalmente o ius adipiscendae civitatis per magistratum), sendo considerados
cidadãos apenas alguns indivíduos.
A temática da cidadania romana será discutida com mais atenção no capítulo seguinte,
todavia, aqui nos cabem alguns apontamentos iniciais. Como destaca Alarcão138 , a concessão
da cidadania romana aos indígenas era um beneficio atribuído pelo Senado Romano ou pelo
Imperador. O beneficio podia ser feito a titulo individual ou coletivo. O beneficio individual
(beneficium speciale) era feito a pedido do interessado, sendo os beneficiários desta concessão
indígenas ricos e com intensas relações com o poder imperial. O titulo coletivo, (beneficium
generale), era atribuído a um aglomerado urbano ou a uma civitas. Normalmente, uma cidade
indígena recebia este beneficio com uma severa limitação: a cidadania não era estendida a
todos os habitantes, mas apenas aos que exerciam as magistruras locais ou aos membros do
Senado da cidade, isto é, à ordo decurionum. Chamava-se ius Latii ao direito assim
concedido: se o beneficio era reservado aos magistrados, dizia-se que a cidade recebia o ius
Latii minoris ou o Latium minus; se era estendido aos membros do Senado local, a cidade
recebia o ius Latii maioris ou Latium maius.
A cidadania assim concedida, a titulo individual ou coletivo, não era completa, mas
incluía o ius conubium (direito de firmar casamentos legítimos, reconhecidos por lei e gerador
de efeitos jurídicos) e o ius commercium (corpo de normas jurídicas relativas a qualquer ato
de natureza patrimonial, ou seja, as regras do direito de propriedade). Quando a cidadania era
concedida por beneficium speciale, não envolvia a patria potestas, a menos que essa fosse
expressamente solicitada e a solicitação atendida. Os filhos do individuo promovido não
ficavam in potestate, o que, dentre outras coisas, significava que não se beneficiavam das
disposições do direito romano relativamente à herança paterna, a saber, não eram herdeiros
necessários ou naturais.
138
ALARCÃO, J.Op. cit., 1990, pp. 386-387.
71
Outra distinção entre colonia e municipium residia na origem e natureza das leis pelas
quais eram regidos. A primeira era regulada somente pelo direito romano, enquanto o que a
segunda, enquanto municipium, mantinha as leis e costumes tradicionais, o iura
municipiorum, desde que não ofendesse as normas do direito romano que também
beneficiavam esse tipo de cidade. Os municípios tinham órgãos judiciais próprios e uma
maior autonomia em relação ao governo provincial se comparados com a colonia.
Outro tipo de classificação era o oppidum 139 , termo este que, possivelmente,
compreendia dois usos: no primeiro, tinha uma conotação mais ampla, podendo ser usado
para referir-se a uma colônia ou município indistintamente. Em outro sentido, mais técnico, o
termo correspondia a categorias jurídico-administrativas precisas, como mencionados por
Plínio: os oppida civium Romanorum, libera, foederata e stipendiaria.
No tocante à Província da Lusitânia, nossa área em estudos, acompanhemos em sua
completude a descrição do enciclopedista140:
139
ALARCÃO, J. op. cit., 1990, pp. 388-390.
140
PLINE L’ANCIEN. Histoire Naturelle – Livre III. Paris: Les Belles Letres, 1998. GUERRA, A. Plínio-o-
Velho e a Lusitânia. Lisboa: Edições Colibri, 1995.
141
PLÍNIO – O – VELHO, Hist. Nat. Livro 4, 113.
72
Dentre os ópidos estipendiários, sem custo se pode citar, para além dos que já
referimos quanto tratamos dos cognomes das cidades da Bética, os seguintes:
Augustobricenses, Arabricenses, Balsenses, Cesarobricenses, Caperenses,
Caurienses, Colarnos, Cilibitanos, Concordienses, Elbocoros, Interamnienses,
Lancienses, Mirobricenses cognominados Célticos, Medubricenses que são
chamados Plumbari, Ocelenses Lancienses, Túrdulos chamados Bardili e Taporos.
Agripa transmitiu-nos que a Lusitânia, a Astúria e a Galicia juntas apresentam
quinhentas e quarenta milhas de comprimento e uma largura de quinhentas e trinta e
seis milhas. Calcula-se que a Hispânia no seu conjunto, de um promontório dos
Pirineus ao outro, por mar, atinge um perímetro costeiro de duas mil novecentas e
vinte e quatro milhas142.
142
Livro IV, versos 116, 117 e 118, respectivamente. Tradução do Professor Amílcar Guerra.
143 Para um aprofundamento desta análise, consultar as clássicas obras de José d’Encarnação Inscrições
Romanas do conventus pacencis (1984) e de Jorge de Alarcão Portugal: das origens à Romanização (1990).
73
Tabela 1 - Categorias dos Oppida localizados na Península Ibérica, segundo Jorge Alarcão144 -
Oppidum Liberum O oppidum Libera era uma cidade aliada dos Esta categoria também não foi citada
ou Foederatum romanos, cuja liberdade foi reconhecida por por Plínio. Porém, a arqueologia aponta
uma concessão unilateral do Estado Romano para a possibilidade de que algumas
(Lex data), e da qual não se exigia tributo. cidades tenham sido, por algum tempo,
Enauqnto que o Oppidum Foederata gozava oppidum foederatum: Olisipo, Scallabis,
igualmente de liberdade e isenções tributárias Moron, Conistorgis, Myrtilis, Ebora.
mediante um tratado bilateral (foedus); seus
magistrados podiam julgar os cidadãos
romanos em seu território.
Oppidum Consistiam em cidades que não tinham o ius Segundo Plínio 146: Augustobricenses,
Stipendiaria Latii e estava sujeita a tributação. Arabricenses, Balsenses,
Cesarobricenses, Caperenses,
Caurienses, Colarnos, Cilibitanos,
Concordienses, Elbocoros,
Interamnienses, Lancienses,
Mirobricenses, cognominados Célticos,
Medubricenses, Ocelenses Lancienses,
Túrdulos
144
A presente tabela faz parte dos estudos realizados ao longo da elaboração da presente tese e integrou nossa
dissertação de mestrado, intitulada: A organização do espaço social no Principado: um estudo de caso sobre
a colônia Augusta Emerita entre os séculos I a. C. - II d. C. Programa de Pós-Graduação em História
Comparada, UFRJ, 2010.
145
ALARCÃO, J. op cit. 1990, p.364.
146
His. Nat. IV, 118.
74
147
Vide ALARCÃO, J. ‘Aglomerados urbanos secundários romanos de Entre Douro e Minho’. IN:
MORILLO,S.R. e BARJA,P. (Ed.) A Cidade e o Mundo: Romanização e Cambio Social. Actas do Curso de
Verán da Universidade de Vigo, 1995. Zaragoza: Concello de Xinzo de Limia, 1996, 196-180.
148
Paralela a essa modificação na estrutura da sociedade castreja, esteve outra importante modificação do
espaço implementada pela presença romana no sudoeste peninsular. Aqui referimos-nos às casas fortes romanas
instaladas tanto na Lusitânia como na Bética. Em relação a isso, Pierre Moret defende a hipótese de que essas
construções tinham tanto funções defensivas como agrícolas e mineiras. As construções estão presentes em
quatro regiões distintas: no Alentejo (principalmente na Serra do Caldeirão), em Badajoz (na comarca da
Serena), em Serra Morena (na comarca da Carolina) e, por fim, na campina do Alto Guadalquivir. Segundo o
referido autor, essas construções seguiam o modelo itálico de casas com atrium e, ao longo do tempo, deram
lugar às vilas que, em lugares estratégicos, marcavam a presença romana no campo. Segundo Moret, as
escavações arqueológicas publicam a seguinte cronologia das construções (MORET, 1999, pp. 57-58): Castelo
da Lousa (Mourão, Évora): segundo quartel do século I a. C.; os castelos do Baixo Alentejo (Castro Verde,
Almodovar e Mértola): segunda metade do II a.C.; o Higuerón (Nova Carteia, Córdoba): século I d. C.; o
Tesorillo (Teba, Málaga):35/40-80 d. C.; a Casa de São Marcos (Porcuna, Jáen): primeira metade do século I d.
C.; o Cerro del Espinoso (Torredelcampo, Jáen): 50- 75 d. C.; o Cerro de la Horca (La Guardia, Jáen): 60-80 d.
C.; o Cerro de Peñaflor (Mancha Real, Jáen): época romana imperial e los Panadores (Caravaca, Murcia): época
romana imperial.
149
SÁNCHES, A.; CORRALES, J. ‘El processo de Romanización de la Lusitania Oriental: la creación de
asentamientos militares’. In.: GORGES, J-G. e BASARRATE, N. Sociedad y cultura en Lusitania romana –
IV Mesa Redonda Internacional. Mérida: Junta de Extremadura, 2000. pp. 85-100.
2000, pp. 94-95.
150
Vide o artigo: BORGES, A. ‘Urbanização e a construção da paisagem no alto império romano: a colônia de
augusta emerita’, In.: Revista ARCHAI, Revista Archai, Brasília, n. 02, p. 1-4, Jan 2009. Disponível em
http://archai.unb.br/revista.
75
A conquista da região revela-se importante, pois oferecia solos férteis aos veteranos e
aos italianos empreendedores que colonizaram o riquíssimo Levante e a planície do Rio
Guadalquivir, além da continuidade da exploração da zona mineira que era realizada desde a
dominação fenícia da costa sul152. Esta exploração proporcionou grandes lucros aos homens
de negócio romanos, além de permitir a cunhagem das moedas de prata. O passo decisivo para
a consolidação total da conquista da região foi dado por Otávio Augusto, que concluiu a
guerra contra os cântabros e ástures no noroeste da península e realizou a redivisão das terras
da Hispania Ulterior, entre 27 e 13 d. C., em duas províncias: a Bética e a Lusitânia. Assim, a
região passou a registrar três províncias: a Tarraconense (antiga Hispania Citerior), a Bética e
a Lusitânia. A Bética foi constituída em província senatorial de ordem pretoria, a Lusitânia
em uma província imperial de ordem pretoria e a Tarraconense ficou como uma província
imperial de ordem consular.
Frente a estas questões, pode-se considerar que a Lusitânia afirmou-se como uma
província romana a partir da integração de regiões e de povos com características identitárias
próprias num quadro administrativo único, isto é, em um primeiro momento constituiu-se em
uma criação artificial. A atuação romana buscava, dessa forma, formar uma realidade político-
administrativa estrategicamente coerente com os objetivos da conquista. A criação da nova
província é compreendida como uma estratégia de organização resultante do imbricamento
entre a intencionalidade imperial, a persuasão e a transformação das culturas locais, dando
sentido à conquista romana ao estabelecer um novo sistema de administração territorial.
Vasco Gil Mantas 153 aponta que a situação geográfica da Lusitânia, pela sua
proximidade com o Mediterrâneo e a condição Atlântica, permitiu uma interessante simbiose
cultural. Se os romanos não foram os primeiros a estabelecer o contato entre a península e o
151
ÁLVAREZ-MARTINÉZ, J. Ciudades Romanas de Extremadura. Barcelona: s/e, 1993, pp. 130-131 –
tradução nossa
152
Cujos focos principais foram as cidades de Abdera, Sexi, Malaca, Suel, Mellaria e Gades.
153
MANTAS, V. G. ‘A Lusitânia e o Mediterrâneo: identidade e diversidade numa província romana’. In.:
Conimbriga, 43, 2004, pp. 63-83.
76
Mediterrâneo, foi no período romano que a tradição mediterrânica se fez sentir de forma
dominante em várias regiões. As importâncias econômicas e estratégicas das produções
provinciais atribuíram à região uma situação importante no conjunto dos territórios romanos.
As relações com o espaço mediterrânico pelas suas vias de comunicação e rotas marítimas
promoveram além do intercâmbio de produtos e artigos manufaturados a circulação de
conhecimentos. Com a inserção da província na economia imperial, diferentes culturas foram
trazidas, misturando traços ‘romanos’, mediterrânicos e indígenas.
154
Naturalis Historia, 4, 117.
77
155
Disponível em: http://clio.rediris.es/n32/atlas_espana.htm, acedido em 09 de abril de 2010, às 11h 09min.
156
JIMÉNEZ SALVADOR, J.L. ‘Las ciudades hispanorromanas’. In.: Cuadernos de Arte Español n° 30,
Historia 16. Madrid, 1992, p. 4.
157
A título de exemplo, Bendala-Galan (1998, p. 130) aponta que dentre as colônias e municípios promovidos
se encontram centros como Colonia Augusta Emerita (Mérida), Colonia Caesaraugusta (Zaragoza), Colonia
Caesarina Augusta Asido (Medina Sidonia), Colonia Norbensis Caesarina (Cáceres), Colonia Augusta Firma
Astigi (Écija), Colonia FaventiaIulia Augusta Paterna Barcino (Barcelona), Lucus Augusti (lugo), Asturica
Augusta (Astorga), Bracara Augusta (Braga), dentre outros.
78
158
JIMÉNEZ SALVADOR, J.L. op. cit., 1992, p. 17.
159
JIMÉNEZ SALVADOR, J. L. op cit, 1992, p. 13.
160
ALARCÃO, J. ‘As cidades da Lusitânia: imagens de um processo cultural’. In.: NOGALES-BASARRATE,
T. (Edt. Cient.) Augusta Emerita: territorios, espacios, imágenes y gentes em Lusitania romana –
monografias emeritenses nº8. Mérida: MNAR/ Ministério de Cultura, 2004, p. 261.
79
[com] o fórum veio uma nova forma de governo local, isto é, transformaram-se as
instituições públicas. Com os templos, introduziram-se novas religiões e novas
mentalidades. Nos mercados vendiam-se novos produtos, como sigilata itálica:
vendiam-se vinhos e azeites, de diferentes qualidades e preços. Alguns desses
produtos eram acessíveis a uns, mas não a outros, e isso contribuiu para acentuar a
pobreza de alguns e a abastança de poucos. Através dos monumentos, dos artefactos,
dos alimentos, transformaram-se mentalidades, criaram-se ou aprofundaram-se
distâncias sociais. A cultura material é, assim, activa, quer dizer, concorre ou contribui
para alterar o que os indivíduos pensam ou sentem e transforma as relações sociais 161.
A nova disposição urbana trazida por Roma contribuiu, assim, para transformar a
mentalidade e os hábitos de vida das comunidades locais. Não eram apenas novas concepções
arquitetônicas ou estruturas político-administrativas, tratava-se de uma nova visão de mundo,
de novos elementos a definirem as relações sociais cotidianas transformadas pela
consolidação da conquista.
161
ALARCÃO, J.op cit. 2004, p. 261.
80
162
GRIMAL P. O Império Romano. Lisboa: Ed. 70, 1999, p.9.
163
LE ROUX, P. ‘Geographie péninsulaire et épigraphie romaine’. In.: La invención de una geografia de La
Península IbéricaI II – La época imperial. (Edt. CRUZ ANDREO TTI, G., LE ROUX, P. & MORET, P.
(Actas Del Colóquio Internacional). Madrid: Casa de Velázquez, 2007, p. 208.
164
GOMEZ-PANTOJA, J. L. ‘Uma visión epigrafica de la Geografía de Hispania Central’. In.: La invención
de una geografia de La Península IbéricaI II – La época imperial. (Edt. CRUZ ANDREO TTI, G., LE
ROUX, P. & MORET, P. (Actas Del Colóquio Internacional). Madrid: Casa de Velázquez, 2007, p. 221-248.
81
À vista disso, como poderíamos acessar a dinâmica do espaço social, amplo e diverso,
das comunidades que integram a Península Ibérica? Aqui reside a grande validade do
testemunho epigráfico 170 : o corpus epigráfico peninsular está em contínua expansão, na
medida em que a cada novo achado arqueológico, mais informações emergem a respeito da
dinâmica social desenvolvida nos territórios. Frente às especificidades e os limites da
documentação textual, o discurso epigráfico assume uma importância singular e, sobre isso,
dois argumentos ganham destaque: o primeiro diz respeito à perenidade dos materiais
empregados na elaboração dos suportes – metal ou pedra –, o que teria contribuído para sua
resistência ao tempo se comparado com outros suportes materiais; o segundo aponta que as
inscrições apresentam informações diretas a respeito das práticas culturais, funerárias, cultuais
e políticas desenvolvidas entre as culturas locais e a cultura romana. Deste modo,
consideramos que seu estudo viabiliza o acesso ao contexto, à linguagem do cotidiano da vida
cívica, aos usos e às funcionalidades das práticas espaciais.
Enquanto um campo de estudos, a Epigrafia tem por objeto o estudo, decifração e
interpretação das inscrições antigas encontradas sobre diversos materiais. No contexto Greco-
romano, tais inscrições povoam lápides, pedras sepulcrais, aras votivas, bases de estátuas, e
169
Gomez-Pantoja (2007, p. 223) destaca que, nas Hispanias (Citerior e Ulterior), a divisão por conventus
cumpria diversas funções, sendo a jurídica a que menor temos informações.
170
DYSON, S. L. ‘Is there a text in this site?’. In.:SMALL, D. B. (Edt.) Methods in the Mediterranean:
hitorical and archaelogical views on the texts and archaeology. Leiden/New York/Köln: E. J. Brill, 1995, pp.
25-44.
83
171
ISOLDI, F. ‘A epigrafia, síntese geral’. Revista de História, volume IV, n 9, São Paulo, USP, 1952.
172
MACMULLEN, R. ‘The epigraphic habit in the roman empire’. In.:American Journal of Philology,
vol.103, 1992, pp. 233-246.
173
Nos referimos à obra Becoming Roman – The origins of Provincial Civilization in Gaul, de 1998.
84
175
ALFÖLDY, op Cit, p. 110.
176
Vide as analises de ZANKER, P. Augusto y el poder delas imágenes. Madrid: Alianza Editorial, 1992.
177
AlFÖLDY, op Cit, p. 117.
86
Na análise do conteúdo das inscrições, atribuímos uma palavra chave para cada
exemplar a fim de reagrupar textos de tipologias distintas e, com isso, organizar os conjuntos
correspondentes a cada temática pesquisada. A segunda etapa de leitura dos dados consistiu
na criação de gráficos analíticos para a visualização da distribuição geográfica dos registros e,
com isso, quantificar, mapear e analisar a distribuição das tipologias no conjunto provincial.
Na análise dos dados, partimos da ideia de que cada comunidade cria, ou resignifica de
acordo com os seus parâmetros, as próprias formas de vivência e inserção no espaço das
cidades. Nesses termos, através da análise dos dados, visamos compreender uma parte deste
movimento, isto é, as estratégias de vivência do espaço social pelos grupos de elite através de
sua integração no espaço urbano viabilizado pelas epígrafes inseridas nos espaços públicos.
Dito de outro modo: observaremos a produção epigráfica como uma forma de materialização
da identidade provincial, como uma ferramenta que viabiliza a introdução do indivíduo no
imaginário cultural da cidade e do próprio Império, garantindo-lhe um lugar na nova
conjuntura trazida pela administração romana.
87
178
D’Encarnação, op cit, 2010, p. 79-80.
179
D’Encarnação indica que, em alguns casos, o praenomen pode referir-se a um significado concreto, como
Martius, aquele trazido pelo mês de março, por exemplo.
180
D’Encarnação, op. cit, 2010, p. 83.
88
paterna, havendo exceções (sobretudo quando se trata de um filho ilegítimo ou a mãe é uma
liberta e o filho conseguiu a manumissão no mesmo momento que ela, sendo ambos
incorporados na mesma gens e adotantes do mesmo gentilício). Em geral, as pessoas que se
identificam com o gentilício possuem alguma distinção na estrutura social romana181.
Na tradição romana, a gens era uma unidade social alicerçada pelo direito de herança
recíproco entre os membros da família por ascendência paterna; pela posse de um lugar
coletivo para os seus mortos; de ritos religiosos em comum (sacra gentilicia); da terra em
comum; pela obrigação dos membros na ajuda e socorro mútuo; no direito de usar o nome
gentilício; no direito de adotar estranhos na gens (pela adoção a uma família) e, por fim, o
direito de eleger e depor um chefe182. Se a gens pode ser compreendida como a reunião de
uma família, não no sentido consanguíneo, mas também – e sobretudo – relacionado às
relações de parentesco e patronato; a tribu seria a reunião das gentes. Na tradição lendária,
Rômulo governa juntamente com o rei sabino Tito Tácio a comunidade dos quiritas, que
depois é dividida em trinta cúrias e 3 tribus: Tícios, Ramnes e Luceres. A reunião destas
tribos, onde as 100 famílias das gentes latinas foram reunidas, é que formará o Populus
Romanus. Entre a gens e a tribu estaria, portanto, a cúria, formada pela junção de 10 gentes.
A organização tribal remonta por volta do século V a. C., e, como indica Norma
Musco Mendes 183, sua constituição relaciona-se à construção das práticas que norteavam o
funcionamento político de uma cidade-estado. Em conjunto com as Assembleias Curiata e a
Centuriata, a Assembleia Tributa consistia em uma das instâncias através da qual os cidadãos
exerciam a participação política no sistema republicano – cidadania essa, como bem analisou
Claude Nicolet184, baseada na tripla função do individuo que, investido da cidadania, assumia
as funções de soldado, contribuinte e cidadão.
Ainda segundo a tradição, atribui-se a Sérvio Tulio a divisão da população romana em
185
tribos de acordo com os critérios geográficos. Remontando ao século V a. C. a antiga
181
D’Encarnação, op. cit, 2010, p. 84-85.
182
ENGELS, F. ‘A gens e o Estado em Roma’. In.:A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado.
Rio de Janeiro: Editorial Vitória, 1964; HEURGON, J. ‘La Roma de los reyes’. In.: Roma y el Mediterráneo
Occidental: hasta las guerras púnicas. Barcelona: Editorial Labor, 1971.
183
MENDES, N. M. Roma Republicana. São Paulo: Ática, 1988.
184
NICOLET, C. ‘O cidadão e o político’. In: GIARDINA, Andrea (org.), O Homem Romano. Lisboa:
Editorial Presença, 1991, pp. 19-48.
185
Na obra História de Roma (Ab Urbe condita - Livro I, 43, 13), Tito Lívio assinala que Sérvio Tulio teria
ampliado o pomerium, incluindo nele os montes Quirinal, Viminal e o Esquilino. Deste modo, teria dividido a
cidade em quatro, e denominou a cada parte com o nome tribu - termo que procede da palavra tributo. Além
dessa divisão, Dionísio de Halicarnasso (Antiguidades Romanas, Livro 4, 15,1) também atribui a Servio Tulio
a constituição das tribos rústicas, quer dizer, situadas fora do pomerium.
89
organização gentílica teria sido substituída pela divisão do populus em tribos, de caráter
regional. Desse modo, o pertencimento do cidadão à cidade e a condição de possibilidade de
sua participação política passariam a ser determinadas por critérios territoriais e não apenas
consanguíneos, uma vez que a divisão em tribos servia principalmente de base para a
formação da comitia tributa (Assembleia Tributa) 186 . Seguindo tais critérios, foram
organizadas, então, quatro tribos urbanas: Collina, Esquilina, Palatina e Suburana, referindo-
se aos quatro bairros da cidade de Roma. Ao longo do V século a. C., foram criadas outras 16
tribus rusticae em torno da cidade de Roma, até que em 241 a. C., atingiu-se o número de
35187. Ao longo do Império, a referência a uma tribo assumiu o caráter de distinção social,
uma vez que ser cidadão romano significava estar inscrito em uma tribo.
Uma vez reunidos, os dados supracitados nos permitem compreender que, se por um
lado, a adoção dos elementos dos tria nomina nas formas de identificação dos indivíduos nos
remete à sua inserção num sistema linguístico-cultural latino, no tocante aos homens, o
registro na tribo o inscreve no espaço cívico, viabilizando sua integração no conjunto de
cidadãos do Império.
186
História Social de Roma. Lisboa: Editorial Presença, 1989, p.31.
187
Além das quatro tribos urbanas já citadas, têm-se as seguintes tribos rurais e suas respectivas datas de
fundação: Aniense (299 a.C.), Arnense (criada em 387 a.C.), Camília (495 a.C.), Cláudia (495 a.C.), Clustumina
ou Crustumina (449 a.C.), Cornélia (495 a.C.), Emília (495 a.C.), Fábia (495 a.C.), Falerna ou Falerina (criada
em 318 a.C.), Lemônia, (século V a.C.), Mécia (criada em 332 a.C.), Menênia (495 a.C.), Papíria (495 a.C.),
Oufentina ou Ufentina (criada em 318 a.C.), Popília ou Poblília (358-357 a.C.]), Pólia (495 a.C.), Pomptina
(358-357 a.C.]), Pupínia (495 a.C.), Quirina (criada em 241), Romília (495 a.C.), Sabatina (criada em 387 a.C.),
Scaptia (criada em 332 a.C.), Sérgia (495 a.C.), Estelatina (criada em 387 a.C.), Teretina (criada em 299 a.C.),
Tromentina (criada em 387 a.C.), Valéria ou Galéria (495 a.C.), Velina (criada em 241 a.C.), Voltina (495 a.C.),
Veturia ou Voturia (495 a.C.) Vide: ALFÖLDY, G. História Social de Roma. Lisboa: Presença, 1989.
188
d’ENCARNAÇÃO, J. Epigrafia: as pedras que falam. Coimbra: Universidade de Coimbra, 2010, p. 79.
90
Como já dito por Gabriel Sanders (1977) e enfatizado por José d’Encarnação 189, a
missão primordial do monumento epigráfico consiste em salvar o indivíduo do mortal medo
do esquecimento. Através do estudo das formas de identificação, podem-se reconhecer os
indivíduos que habitaram nas civitates (mulheres, homens, cidadãos, escravos, libertos), a
nomenclatura dos imperadores, a carreira habitual (cursus honorum) dos senadores, cavaleiros
e membros das aristocracias locais. O nome é, portanto, o elemento fundamental em uma
epígrafe romana. Através dele identifica-se o cadáver, o dedicante de um altar votivo, os
nomes e funções do homenageado de um texto honorífico ou quem mandou edificar
determinado monumento.
Nesta proposta de estudos, Catarina Gaspar 190 aponta que a análise de textos com
tipologias distintas auxilia na problematização da utilização prática e tão variada dos nomes
próprios e destaca outra perspectiva, mais teórica, ensinada ao longo dos séculos através das
obras dos gramáticos latinos. Deste modo, complementa a autora, a articulação dos dados
recolhidos na epigrafia com as regras documentadas nas suas gramáticas, especificamente,
permite-nos ter uma visão mais abrangente do uso, da adequação e da mudança que afetaram
os nomes próprios, dando origem ao esquema onomástico utilizado na maioria das línguas
românicas, entre elas o Português191.
189
ENCARNAÇÃO, J. op cit, 2010, p. 80.
190
GASPAR, C. ‘Algumas notas sobre onomástica romana nos gramáticos latinos’. In.: Sylloge Epigraphica
Barcinonensis (SEBarc), VIII, 2010, pp. 153-178.
191
Gaspar, op. Cit. p. 154.
91
Publicada em torno de 45-44 a. C., De Língua latina foi a primeira obra gramatical de
Marco Terêncio Varrão. Dos 25 livros originais, apenas os que vão do V ao X chegaram até
nós, ainda que com lacunas. Dos demais, foram conservados apenas alguns fragmentos por
via indireta193. A parte prática da etimologia e a teórica da morfologia são tratadas entre os
livros V e X. Nestes, o autor utiliza as palavras nomen e uocabulum para designar os nomes
próprios e os nomes comuns, respectivamente. Em sua teoria gramatical, Varrão destaca a
importância da oposição entre o infinito e o finito, determinante para a distinção entre os
nomes próprios e os nomes comuns. Muito embora esmiúce os processos de formação dos
nomes, nos trechos que chegaram até nós não há uma referência direta aos tipos de elementos
que constituíam o nome próprio dos cidadãos romanos194.
Considerado um dos mais importantes gramáticos latinos por Suetônio 195 , Marcus
Valerius Probo (séculos I- II d. C.), na obra Gramatica Latina, no capítulo denominado
192
E. Benveniste. Le vocabulaire des institutions Indo-Européenes. Paris: s/d, 1969, pp. 309-310.
193
GUERREIRA, A. R. ‘Literatura técnica de la época republicana’. In.: CODOÑER, C. (edt.) História de La
Literatura Latina. Madrid: Cátedra, 2007, pp. 766-771. Para a análise de outras obras de Varrão, ver o artigo de
TREVIZAM, M. ‘A atenção de Varrão às palavras no livro III do De re rustica’. In.: Revista Humanitas 63
,2011, pp 355-371.
194
Gaspar, op. Cit. p. 154.
195
De Grammaticis, livro 17. Aqui, consultamos a edição publicada pela Loeb Classical Library, datada em
1914, disponível no projeto Penélope da Universidade de Chicago, disponível no link:
http://penelope.uchicago.edu/, e a tradução integral do texto feita por Marcos Martinho no artigo ‘Suetônio, Dos
Gramáticos’ publicado na Revista Clássica em 2014.
Como indica Martinho, Dos gramáticos, de Caio Suetônio Tranqüilo (entre os anos 69 - 126/141 d. C.), “divide-
se claramente em duas partes: na primeira, o autor narra a introdução, desenvolvimento e florescimento da
gramática em Roma (1-4); na segunda, expõe a biografia de vinte professores de gramática que ensinaram na
Cidade entre o início do séc. I a. C. e meados do século seguinte (5-24). Se na segunda parte narra a vida dos
gramáticos, talvez se possa dizer de modo figurado que, na primeira, narra a vida da gramática mesma” (2014, p.
251).
92
O último gramático a ser citado é Emílio Aspro (séculos II-III d. C.) que, em sua obra,
Ars grammatica, oferece uma definição geral de nome como parte da oração que que tem
valor apelativo. Além disso, enumera e exemplifica os quatro tipos de nomes próprios:
praenomina gentilia cognomina agnomina. Como salienta Gaspar, Aspro ‘utiliza o adjetivo
gentilia como uma alternativa à forma mais comum, o substantivo nomen, o que destaca a
relação deste elemento onomástico com a gens’. O autor, finaliza a autora, ‘introduz em
seguida uma referência ao número de elementos que podem constituir a frase onomástica: um,
dois, três ou quatro’197.
No contexto provincial, os registros dos nomes estão distribuídos em textos de
distintas tipologias e apresentam várias combinações entre os elementos que compõem as
formas de identificação. Na observação das fórmulas onomásticas, inúmeros fatores precisam
ser considerados, dentre eles, o estado fragmentário da inscrição devido às sucessivas
reutilizações dos suportes que teriam, portanto, danificado a superfície epigráfica ou
provocado a perda de parte dos textos. Outro fator consiste numa possível escolha, por parte
de quem encomendou a placa ou monumento, em registrar apenas parte da fórmula
onomástica em virtude do tamanho do campo epigráfico 198. Por fim, há de se considerar
ainda a possibilidade de estarmos perante aos diferentes usos e ‘níveis de adoção’ da
onomástica latina, hipótese esta considerada por autores como José d’Encarnação e Greg
Woolf.
196
O único fragmento que encontramos dessa obra está na Biblioteèque Nationale de Frànce. Trata-se de um
manuscrito do século XV (1499) editado por Joannem de Tridino (Venetiis) que fora microfilmado e
disponibilizado no catálogo online Gallica – Bibliothèque Numérique (acessível no link: http://gallica.bnf.fr/).
A tradução que usamos foi realizada da Profa. Dra. Catarina Gaspar (Universidade de Lisboa) presente no
trabalho publicado na Sylloge Epigraphica Barcinonensis (SEBarc – em 2010). Infelizmente não encontramos
a edição citada pela Professora, por isso, cotejamos a tradução proposta por ela com o documento do século XV
e seguimos sua leitura.
197
Op. cit, p. 156-157.
198
Superfície na qual a inscrição era gravada.
93
Neste momento cabe-nos indagar o que os dados de nosso corpus epigráfico têm a
informar sobre a Província da Lusitânia. As epígrafes em análise concentram-se entre os
séculos I d. C. e as primeiras décadas do século II d. C. Para tanto, optamos por apresentá-los
reunindo-os por conventus e decantados nas tabelas analíticas, ambos apresentados a seguir.
Conventus Pacensis
Quintiliano
084 Alfurio [---] Cenesio - - - -
215 Quinto Pórcio (ou - - - -
Pompeu)
120 Júlio Sabino - - - -
45 Aulio Castricio Philon - - - -
050 Lucio Vareio Samiario - - - -
050 Lucio Celio Optato - - - -
050 Caio Acilio Comato - - - -
050 Lucio Axio Tiro - - - -
050 Caio Iulio Felicior - - - -
052 Quinto Iunio Avitiano - - - -
052 Lucio Aemilio Themisão - - - -
052 Lucio Publicio Urbano - - - -
052 Lucio Caecilio Plocamo - - - -
052 Lucio Licinio Fruto - - - -
052 Lucio Caecilio - - - -
Nymphodoto
052 Macro Fabio Myrtilo - - - -
052 Lucio Caecilio Symphoro - - - -
052 Marcos Iulio Avitatiano - - - -
052 Lucio Livio Martial - - - -
052 Lucio Licinio Calvo - - - -
052 Lucio Annio Lapilliano - - - -
052 Lucio Caecilio Liberal - - - -
052 Lucio Herennio Cosconio - - - -
052 Lucio Aelio Superste - - - -
052 Cnaeu Acilio Rufo - - - -
052 Quinto Iunio Chrysantho - - - -
052 Marco Caecilio Urbano - - - -
052 Lucio Licinio Opilio - - - -
055 Gaio Vibio Quintiliano - - - -
055 Marco Vérrio Gémino - - - -
060 Lúcio Cássio Celer - - - -
061 Gaio Licínio Bádio - - - -
063 Lúcio Pácio Marciano - - - -
063 Lúcio Gélio Tuto - - - -
063 Lúcio Pácio Basileu - - - -
063 Públio Rutílio Antígono - - - -
063 Tito Mânlio Êutiques - - - -
063 Tito Mânlio Eutiquião - - - -
063 Tito Meclónio Cássio - - - -
063 Publício Alexandre - - - -
Letiliano
073 Marco Castrício Lucanião - - - -
073 Gaio Valério Paezão - - - -
116 Lúcio Quincio Priscião - - - -
122 Quinto Álfio Modesto - - - -
151 Gaio Norbano Júnio - - - -
152 Quinto Júlio Cordo - - - -
169 Gaio Anio Valente - - - -
170 Tito Gateio Quieto - - - -
086 Quinto Petrônio Materno - - - -
102 Marco Júlio Avito - - Olisiponense, -
30 anos
117 Lúcio Hélvio Flaviano - - - -
085 Gaio Mário Prisciano - - Filho muito -
dedicado
067 Lúcio Júlio Apto - - Nasceu ‘em -
terra itálica’,
96
morreu na
Hispânia, viveu
como hóspede
no território
069 Gaio Átio Januário - - Médico Pacense -
074 Gaio Pórcio Severo - - Mirobrigense -
céltico, 60 anos
068 Berilo - - Liberto de Procurador, Vigário dos
Augusto serviços administrativos,
Reorganizador dos coutos
mineiros.
004 Turo (?) - - - Magistrado
058 Esperado - - - Administrador
057 Anio Primitivo - - - Sexvirato
068 Gneu Cláudio - - - Cônsul
114 Cornélio Boco Flâmine da Província
162 Tibério César - - - Cônsul
072 Marcos Júlio Marcelo - - - Edil e Duunviro
103 Gaio Júlio Juliano - - Duunviro
066 Gaio Júlio Marino - - - Duunviro
066 Gaio Márcio Optato - - - Duunviro
162 Lúcio Élio Sejano - - - Cônsul
162 Lúcio Fulcínio Trião - - - Legado de Tibério César
099 Quinto Petrônio Materno - - - Duunviro
099 Gaio Júlio Juliano - - - Duúnviro
151 Dextro Filho de Lucio - Herdeiro -
077 Vicano Filho de Búcio - - -
154 Décimo Júlio Filho de Eborense, 30 -
Décimo anos
164 Quinto Axónio Filho de Quinto
153 Mário Quintiliano Filho de Quinto - Natural de -
Olisipo, 18 anos
075 Lúcio Escribonio (Pai de Quinto - - -
Saturnino E. Paterno)
073 Gaio Ágrio Rufo Filho de Silão - Adotado como -
cidadão de
Itálica
118 Lúcio Libúrnio Mus Pai de Lucio L. - - -
Materno
162 Quinto Estertínio Basso Filho de Quinto - -
162 Quinto Estertínio Rufo Filho de Quinto -
162 Lúcio Estertínio Rufino Filho de Quinto -
087 Gaio Júlio Filho de Gaio - - Duúnviro, Prefeito dos
artífices
078 Lúcio Cornélio Boco Filho de Gaio - - Flâmine provincial,
tribuno militar
082 Lúcio Cornélio Boco Filho de Gaio - - Prefeito dos Césares,
Flâmine provincial,
Pontífice perpétuo,
Flâmine perpétuo,
Duúnviro, Edil, Prefeito
dos artífices, Tribuno
militar
083 Lúcio Cornélio Boco Filho de Gaio - - Flâmine provincial,
tribuno dos soldados da III
Legião Augusta
107 Gaio Antônio Flavino Filho de Gaio - - Sexviro júnior, Lanceiro
da 2ª Legião Augusta
113 Gaio (...) Coscônio Filho de Gaio Galeria
159 (...) Lúcio Cecílio Filho de Gaio Papiria - -
97
Areniense
166 Públio Anônio Silão - Quirina 61 anos -
168 Cornélio Galo - Papiria 75 anos -
095 Lúcio Márcio Píero - - Natural de Pax Augustal da colônia
Iulia pacense e do município
eborense
109 Quinto Júlio Máximo - - 48 anos Varão preclaro, Questor da
província da Sicília,
Tribuno da plebe, Legado
da província Narbonense
da Gália, Pretor designado.
109 Quinto Júlio Claro - - 21 anos Jovem preclaro,
Quatuorviro encarregado
das estradas.
109 Quinto Júlio Nepociano - - 21 anos Jovem preclaro,
Quatuorviro encarregado
das estradas.
165 Gaio Júlio Galo - - Natural de Veterano da Legião 7ª
Mérida, Gêmea Félix
patrono, de 70
anos
047 Aurélio Ursino - - - Governador da Província
da Lusitânia
053 Marco Cornélio Eridano - - - Sexvirato
053 Gaio Júnio Recepto - - - Sexvirato
088 - - - - Prefeito dos Equites,
Prefeito dos Artífices
110 - - - - Decênviro para julgamento
de pleitos
096 - - - - Flâmine de Pax Iulia,
Flâmine
105 - - - - Augustal
215 Hémero - - Liberto de -
Quinto Porcio
121 Méssio Artemidoro - - Liberto de Magistrado da Colônia de
Marcos Pax Iulia
106 Lúcio Labério Artemas - - Liberto da -
Flamínica
Labéria Gala
106 Lúcio Labério Galego - - Liberto da -
Flamínica
Labéria Gala
106 Lúcio Labério Abascanto - - Liberto da -
Flamínica
Labéria Gala
106 Lúcio Labério Páris - - Liberto da -
Flamínica
Labéria Gala
106 Lúcio Labério Lauso - - Liberto da -
Flamínica
Labéria Gala
119 Gaio Júlio Níger - - Liberto de Gaio Augustal
99
Conventus Scallabitanus
Conventus Emeritensis
mencionada com cognomen e o título de ‘avó’, 01 nomeada apenas como ‘sogra’ e, por fim,
08 libertas referenciadas com o nomen, cognomen, sendo 07 destas com referência ao antigo
dono. Apresentamos a seguir, a tabela com os dados explicitados:
Nota-se ainda que em todos os casos emeritenses catalogados não são observáveis os
registros das idades dos indivíduos nas inscrições funerárias. Como evidenciado pelos dados
trazidos, nem todos os indivíduos se orientavam pelo sistema onomástico indicado pelos
gramáticos latinos. Todavia, deve-se considerar a possibilidade da perda material do
monumento ter provocado o estado fragmentado da inscrição e, por consequência, do registro
do tria nomina. Deste modo, uma vez reconhecidos os limites da presente tese, nos gráficos
abaixo apresentamos um mapeamento geral sobre a relação entre os registros dos tria nomina
completos (TC) e incompletos (TI) por cidade no conjunto das epígrafes catalogadas por nós.
107
Conventus Pacensis
40
30
20
10
0
Gráfico 2 - Distribuição dos registros dos tria nomina completos por cidade/século
18
16
Nº de Casos
14
12
10
8
6
4
2 T.C. Século III d.C.
0
T.C. Século II d.C.
T.C. Século I d.C.
Civitates
Gráfico 3 - Distribuição dos registros dos tria nomina incompletos por cidade/século
12
10
nº de Casos
8
6
4 T.I. Século III d.C.
2 T.I. Século II d.C.
0
T.I. Século I d.C.
Civitates
108
Conventus Scallabitanus
7
3 1 2 1 2
0 0 0 0 0 0 0
25
20
15
10
5 T.C. Século III d.C.
0
T.C. Século II d.C.
T.C. Século I d.C.
Civitates
1
0,8
0,6
0,4
0,2 T.I. Século III d.C.
0
T.I. Século II d.C.
T.I. Século I d.C.
Civitates
109
Conventus Emeritensis
3031
10
5 5 6 6
33 2 11 33 3
00 00 00 00 00 01 10 1 00 00
Gráfico 8 - Distribuição dos registros dos tria nomina completos por cidade/século
12
nº de Casos
10
8
6
4 TC S/D
2 T.C. Século III d.C.
0
T.C. Século II d.C.
T.C. Século I d.C.
T.C. Século I a.C.
Civitates
4
3
2 T.I. Século I a.C.
1
0 T.I. Século I d.C.
T.I. Século II d.C.
T.I. Século III d.C.
T.I. S/D
Civitates
110
Na maioria dos casos, a tribo do pai é a mesma dos filhos202, salvo os filhos ilegítimos,
geralmente inscritos em uma tribo distinta daquela do pai biológico 203. Pode haver, ainda,
algumas mutações em decorrência de fatores como per adoptionem, per deductionem in
coloniam, per praemium legis e, ao contrário, per animadversionem censoriam204. Ou seja, há
ocasiões em que o assentamento de um veterano em uma colônia distinta de sua cidade de
origem modifica a adscrição tribal de um filho, que será inscrito na tribo da localidade.
Giovani Forni 205 indica os casos de cidadãos com dupla tribo, isto é, um cidadão de um
199
d’ENCARNAÇÃO, op cit, 2003, p. 127.
200
D’ENCARNAÇÃO, J. ‘ A menção da tribo nas epígrafes: identificação e territorialidade’. In.: Revista Anas
15/16, 2002/2003, pp. 127-132.
201
FASOLINI, D. ‘La indicación de La tribu em el estúdio prosopografico’. In.: Del município a La corte: La
renovación de las elites romanas. CABALLOS-RUFINO, A. F. (Org). Sevilla: Universidad de Sevilla, 2012, p.
135-136.
202
D’ENCARNAÇÃO, J. op cit, 2002/2003, pp. 127-132
203
FASOLINI, D. op cit, 2012, pp. 135-146.
204
FASOLINI, D. op cit, 2012, p. 138.
205
FORNI, G. ‘La tribu papiria di Augusta Emerita’. In.: Revista Augusta Emerita, Madrid, 1976, pp.32-42.
111
município que imigra para outro e o filho passa a ter a tribo local, tendo dupla origem: a de
sua cidade de origem e a que recebeu na cidade que o adotou como cidadão.
206
RODRIGUEZ-NEILA, J. F. Confidentes de Cesar: los Balbos de Cádiz. Madrid: Silex, 1992, p.45-46.
207
Para a análise do termo per animadversionem censoriam, ver o discurso de Marco Túlio Cícero na defesa de
Aulus Cluentius Habitus, Pro Cluentio, XLVI, vv.128-130.
208
FASOLINI, D. op cit, 2012, p. 142.
209
Vide os casos registrados no CIL VI, nº 39039. Já na Península Ibérica, registram-se os casos do CIL II, nº
14,31 (= HEp 7, nº 1032 = HEpOl nº 11819), dentre outros.
112
20%
Quirina
Galeria
10%
Papiria
67% Scaptia
4% 4%
Tribo Galeria
Tribo Claudia
Tribo Quirina
92%
113
16
14
Quantidade
12
10
8
6
4
2
0 Série1
Gráfico 13- Distribuição do registro das tribos por Civitate do Conventus Pacensis
18
16
Quantidade
14
12
10
8
6
4
2
0
Série1
210
Pareceu-nos pertinente retomar, nesta fase analítica, os estudos que desenvolvemos no mestrado a respeito da
colônia Augusta Emerita. No tratamento dos dados integrados à pesquisa do doutorado, as conclusões a respeito
da sociedade colonial emeritense ganharam mais nitidez, de modo que sua recupeação no presente capítulo visa a
contribuir para o aprofundamento estratégico do estudo.
211
Vide o texto de Antonio Marques de Faria em crítica ao posicionamento de Alicia Canto na Revista
Portuguesa de Arqueologia, volume 1, número 1,1998.
212
Dião Cassio, 54, 23, 7., Vide a análise de Giovanni Forni em ‘La popolazione di Augusta Emerita’ (1982).
213
ALMAGRO BASCH, M. La topografia de Augusta Emerita. In.: Bimilenario de la colonia
Caesaraugustana (vol. 1). Zaragoza: Univerciudad de Zaragoza, 1976, p. 191.
115
214
ÁLVAREZ MARTINÉZ, J-M. “Algunas observaciones sobre el ‘territorium emeritense’”. In.: Homenaje a
Samuel de los Santos. Murcia: Albacete, 1988, pp. 185-192.
215
FORNI, G. ‘La popolazione di Augusta Emerita’. In.: Homenaje a Saenz de Buruaga. Madrid: s/e 1982, p.
73.
FARIA, A. ‘Algumas Questões em torno da fundação de Augusta Emerita’. In.: Revista
216
Tese semelhante é defendida por Francisco Germán Rodríguez Martín 218 que, baseado em
Dion Cásio, Tácito, Higino e Agennio Urbico, aponta que depois da fundação da colônia
iniciou-se um processo de povoamento da região por colonos itálicos e a repartição das terras
às margens do rio Guadiana.
Seguindo a tradição romana, Emérita possuía quatro portas principais localizadas nos
extremos das vias principais, das quais saiam as principais estradas que atravessavam o
perimetro colonial: uma situada a leste, outra a oeste, uma ao sul e outra ao norte da cidade. A
porta norte, que dava acesso à ponte sobre o rio Anas, seguia uma formatação com um duplo
vão de passagem219. De acordo com os estudos de Alvarez Martínez (1981), interpreta-se que
tal formatação corresponderia com uma necessidade de viabilizar o tráfego da saída da ponte,
ou seja, corresponderia a uma porta de entrada e outra de saída, como demonstrado na planta
a seguir:
Planta 1 – Plano urbano e a muralha da colônia Augusta Emerita220
218
RODRÍGUEZ MARTÍN , F. G. ‘El paisaje urbano de "Augusta Emerita: reflexiones en torno al Guadiana y
las puertas de acceso a la ciudad’. In.: Revista portuguesa de arqueologia, Vol. 7, Nº. 2, 2004, 1999, págs.
365-406 1999.
219
Algumas moedas datadas nos primeiros anos da colônia fazem alusão a esta porta em suas representações.
Na parte II (Indexas and Plates) do primeiro volume do Roman Provincial Cainage (44 a.C. – 69 d.C.), 1992;
corresponde aos numistas de número 10, 12, 20, 21, 2, 23/16, 23/17, 24, 25, 27, 30, 31/1, 31/4, 32, 33, 38, 41,
42/15, 42/66, 43 e 44.
220
Plano de Mérida com o traçado da muralha romana com a demarcação do núcleo primitivo da cidade. Fonte:
DURÁN-CABELLO, R-M. El Teatro y el Anfiteatro de Augusta Emerita: contribuición al conocimiento
histórico de la capital de Lusitania. Oxford: BAR International Series 1207 / Archaeopress, 2004, anexos.
117
Como demonstrado no mapa de Corzo Sánches 221 (mapa 5), complementado pela
representação de Jonathan Edmondson 222 (mapa 6), o elo das coordenadas da colônia foi
formado pelo kardo maximus (caminhos 2 e 6) e o decumanus maximus (caminhos 4 e 8). Os
caminhos resultaram de uma planificação que tinha como meta realizar a formação de um elo
de coordenadas e marcos geográficos, com base para a orientação do território circuncidante.
Encontramos, assim, uma organização territorial planificada que culminou na fundação da
colônia.
221
Fonte: CORZO-SANCHEZ, D.R. ‘In finibus emeritensium’. In.: BLANCO FREIJEIRO, A. (org). Augusta
Emerita: actas del simpósio internacional commemorativo Del bimilenário de Mérida. Madrid: Ministério
del Patrimonio Artistico y Cultural del Ministério de Educación y Ciencia / Patronato de la ciudad de Mérida,
1976, PP.217.
222
EDMONSON, J. Romanization and Urban Developmente in Lusitânia. In: BLAGG, Th.; MILLET, M. The
Early Roman Empire in the West. London: Oxbow Books, 2002, p. 57.
118
Mapa 8 – Rotas da Lusitânia, com destaque para as vias que cortam Augusta Emerita, por J. Edmondson
119
Através das cunhagens monetárias emitidas por Publio Carisio, lugar tenente de
Augusto e fundador da colônia223, sabe-se que na nova cidade foram assentados os soldados
veteranos das legiões224 V Alaudae e X Gemina, ambas combateram nas guerras do norte, ao
lado de mais cinco legiões e suas correspondentes tropas auxiliares 225. Rosália-María Durán
Cabello226 aponta que atualmente é defendida a tese de que a fundação de Augusta Emérita
partiu de um núcleo primitivo mais reduzido e foi crescendo e remodelando-se como
consequência do aumento demográfico. Em decorrência desde incremento surgiram novas
necessidades urbanísticas que deviam ser solucionadas pela administração romana. Uma
dessas soluções consistiu na subdivisão do território emeritense em áreas administrativas
submetidas à administração geral da colônia.
Frente a isso, para a administração de um território tão vasto, foram criadas três
praefecturae227, das quais são conhecidos os nomes de duas: a Turgaliensis, em Turgalium
(Trujillo) e a Mullicensis 228 . Em relação aos limites coloniais, seguindo os estudos de
Álvarez-Martinéz 229 , podem-se apontar: ao sul, os territórios das civitates dos conventus
cornubensis e hispalensis: Lacinimurga Constantia Iulia, Iulipa (possivelmente), Municipium
Iulium (Azuaga), Regina, Curiga-Contributa, Nertobriga Regina, Curiga-Contributa,
Nertobriga e Seria. Ao norte, o campo norbense; na zona oriental, Valdecaballeros e no
ocidente, Borba Estremoz, confluindo com o território de Ebora. Dentro do amplo território
emeritense, foram agrupados importantes núcleos populacionais, interligados à colônia por
estradas (oficiais e secundárias) dos quais destacam-se Lacipea, Rodacis, Geraea, Contosolia,
Caspiana, Perceiana, Cauliana, Evandriana, Turgalium ad Sores.
Na colônia confluíam as estradas do sudoeste da Lusitânia formando um amplo
sistema de comunicações através do qual se organizou todo o território colonial, tendo na
223
Vide as cunhagens publicadas no primeiro volume do Roman Provincial Coinage. From de death of Caesar
to the death of Vitellius (44 bC – AD 69), editado por Andrew Burnett, Michel Amandry e Pere Pau Ripollès,
Paris/ Londres 1992, parte II: Indexes and Plates. São as moedas de número 1 ao 50. Ainda sobre o assunto,
outro importante (e recente) manual foi editado por Christopher Howgego, Volker Heuchert e Andrew Burnett,
“Coinage and Identity in the Roman Provinces”, Oxford, 2005.
224
Sobre este assunto, Farias aponta os posicionamentos de Keppie (1983, p. 83, n. 146), para o qual: «[t]hree
veterans of a legion XX are attested at Emerita within the Augustan period (CIL II 22*, 662, 719). These
cannotbe colonists of 25 B.C., who were drawn from legions V and X, but could document a later
reinforcement». No entanto, Farias ressalta que esta mesma hipótese já fora aventada por Wiegels (1976, p. 272),
que, paralelamente não tenha deixou de contemplar a eventualidade de um pequeno contingente de licenciados
da legião XX ter participado na fundação da colônia em 25 a.C. ao lado dos veteranos das legiões V e X. Vide:
Dion Casio (História de Roma 53:25, 2).
225
Alguns pesquisadores ainda incluem a XX Victrix.
226
DURÁN CABELLO, R-M. El teatro y el anfiteatro de Augusta Emerita: contribuición al conocimiento
histórico de la capital de Lusitania. Oxford: BAR International Series 1202, 2004, p.55.
227
Hyg. De limit. Const., 136.
228
Localizada por Alicia Canto (1989, p.176) na atual Montemolín.
229
ÁLVAREZ MARTINÉZ, J-M. Ciudades Romanas de Extremadura. Barcelona: s/e, 1993, pp.135.
120
colônia, o núcleo de intercessão230. Para tanto, duas pontes, em conjunto com a ponte sobre o
rio Guadiana, realizavam a integração da colônia com as vias de circulação intercolonial, uma
construída sobre o rio Albarrengas que dava saída para as estradas do norte e oeste desde o
cardo máximo (ainda que menor, sua arquitetura e monumentalidade mostram ser
contemporâneas à ponte do Anas) e outra, popularmente denominada de ‘Alcantarilla
Romana’, se localiza fora da cidade, cerca de dois quilômetros ao oeste, servindo para
permitir o acesso às estradas em direção a Olisipo (atual Lisboa)231.
Segundo Álvarez-Martinéz 232 , as estradas seguiam quatro princípios fundamentais:
consistiam em uma forma comunicação segura com as regiões mineiras do noroeste; eram
uma rota de saída para o mar pelos portos naturais da costa atlântica, uma vez que o Rio Anas
só era navegável em Myrtilis; consistiam em um rápido acesso ao Rio Guadalquivir e ao Mar
Mediterrâneo, além de ser uma saída para Meseta , como pode ser visualizado no próximo
mapa.
230
Sobre esta questão, vide os estudos de ALMAGRO-BASCH, 1976:193.
231
BERROCAL RANGEL, L. ‘La urbanistica de Augusta Emerita (I e II)’. In. Revista de Arqueologia n° 71 e
72, Madrid, 1987, p. 45.
232
ÁLVAREZ MARTINÉZ, J-M. Op. cit, 1993, p. 133.
121
233
MANTAS, V. G. ‘As Cidades Marítimas da Lusitania’. In.: Les Villes de la Lusitanie Romaine:
hiérarchies et territoires : table ronde internationale du CNRS, Talence, le 8-9 décembre 1988, 1990,
pp. 149-205, e ‘A Lusitânia e o Mediterrâneo: Identidade e Diversidade numa Província Romana’. In.: Arquivo
de Beja.Actas das III Jornadas Culturas Identidades e Globalização, tomo I. Beja: Câmara Municipal de
Beja, 199, p. 151-167.
122
Como demonstra o gráfico de Vicent Clément 235 (Gráfico 15), nas províncias da
Lusitânia e Bética, os romanos aplicaram um modelo territorial pré-estabelecido. No caso
peninsular, trata-se de regiões ricas em produção de minérios e gêneros alimentícios, tais
como o garum236. Nesse sistema, as duas províncias interligadas pelo sistema de rotas que
cruzam Augusta Emerita, são caracterizadas como áreas integradas política e economicamente
ao Império e diretamente submetidas à autoridade romana. As produções mineira, agrícola e
piscícola eram facilmente escoadas para a capital do Império através das vias e portos do
Oceano Atlântico (Olisipo) e do Mar Mediterrâneo (Gades). Ou seja, o antigo sistema de
trocas comerciais que teve lugar no sitio emeritense foi ampliado e integrado ao sistema
econômico gerenciado por Roma em toda Costa do Mediterrâneo e sua expansão pelo Oceano
Atlântico.
234
Encontramos análise sobre esta questão nos estudos de ALMARGO-BASCH, 1976: 192.
235
CLÉMENT, V. ‘Le territoire du Sud-Ouest de la péninsule Ibérique à I’époque romaine: du concepta u
modele d’organisation de I’espace’. In. GORGES, J.-G. et MARTÍN, G. (Orgs) Économie et territoire em
Lusitanie remaine. Madrid: Casa de Velásquez, 1999, pp. 109.
236
Molho de conserva à base de frutos do mar.
123
237
Vide o trabalho de Vincent Clement. Op. cit, 1999, p.109
124
Assim como destacado, Emerita era a cidade com a melhor malha de comunicações
dentro do território “lusitano”, unida tanto à Bética, como às terras do oeste e do noroeste
peninsular238. As relações de Emérita com a província da Bética ultrapassavam as questões
relativas aos limites territoriais. Desde antes a época augustana, os territórios que receberam a
província Lusitânia dependiam do ponto de vista administrativo da Hispania Ulterior. Com a
redivisão provincial realizada por Augusto, essa relação administrativa foi intensificada.
Relacionado a isso, é interessante observar que a procuratela per vicesima hereditarum, desde
que o cargo foi criado por Adriano, era desempenhada pelos mesmos indivíduos para as duas
províncias: Bética e Lusitania239. O lugar da residência do procurator era a capital da Bética,
Corduba, todavia, em Emérita existia um núcleo secundário onde se encontrava um
subprocurator. Da mesma forma, a onomástica emeritense apresenta gentilícios romanos que
se encontram plenamente atestados e fixados na Bética, enquanto que os elementos indígenas
são em menor número.
Uma vez alçada à condição de capital, a colônia ganhou uma ampla projeção em meio
às demais civitates, ao converter-se no centro referencial da administração romana na região.
Nela se concentravam o governador, assim como os órgãos administrativos que garantiam a
justiça e o recolhimento dos impostos, os edifícios lúdicos e as atividades religiosas ligadas ao
culto ao Imperador, transformando-se em um lugar de circulação de pessoas e idéias. Era ali
que os funcionários romanos se dirigiam para realizar suas tarefas, assim como os
238
ALMAGRO BASCH, M. La topografia de Augusta Emerita. In.: Bimilenario de la colonia
Caesaraugustana (vol. 1). Zaragoza: Univerciudad de Zaragoza, 1976, p.190.
239
SAQUETE-CHAMIZO, J. C. ‘Territorios y gentes en el contexto histórico de la fundación de la colônia de
Augusta Emerita’. In.: NOGALES BASARRATE, T. (Org.) Augusta Emerita: Territorios, Espacios,
Imágenes y Gentes en Lusitania Romana. Mérida: MNAR, 2004, pp. 375-412.
240
TRILLMICH, W. ‘Monumentalización del espacio publico emeritense como reflejo de la evolución histórica
colonial: el ejemplo des teatro’, In.: BASARRATE, T. (Org.) Augusta Emerita: territorio, espacios, imagenes
y gentes en Lusitania Romana – Monografia Emeritense 8, Mérida: MNAR, 2005, p. 279.
125
comerciantes e as elites locais dos municípios, que vinham à capital para resolver assuntos e
para ‘deixar-se-ver’, intentando participar e buscar prestígio na vida e nas istituiçôes da
cidade, como ressalta Martin Almagro Basch241,
Dito de outro modo, seu estatuto de colonia civium romanorum, garantiu aos
habitantes o direito de cidadania e o Ius Italicum. Este englobava os aspectos fiscais e
jurídicos que conferiam autonomia restrita frente às competências do magistrado cum império
(o governador) e a condição jurídica do solo244. Ou seja, o solo da colônia estava definido
como ager provincialis e, portanto, sujeito ao tributum, uma vez que o Ius Italicum
equiparava as terras dos colonos ao território Itálico de tal modo que a sua propriedade era
241
ALMAGRO BASCH, M. La topografia de Augusta Emerita. In.: Bimilenario de la colonia
Caesaraugustana (vol. 1). Zaragoza: Univerciudad de Zaragoza, 1976, pp. 192-193.
242
Tradução nossa da passagem: “Em Mérida, las civitates y gentes de los vetones (desde el Duero a la
Extremadura española), los Lusitanos (desde la sierra de la Estrella al mar y al sur del Tajo), los Célticos de la
Extremadura y Beja portuguesa, así como los conios del Algarbe, entre otras tribus menores, se fueron
fundiendo en las Asambleas Provinciales que en La capital se celebraban, principalmente para cumplir la
obligación de rendir culto al Emperador y, a la vez, tratar cuantos problemas economicos y administrativos y
hasta políticos afectaban a los governados” (1976, pp.192-193).
243
Tac. Hist. I, 78, 1; Ag.Urb. De Contr. Agror., 44.
244
Este tema será aprofundado no próximo capítulo.
126
245
SANTAPAU PASTOR, Mª C. ‘La cateoria jurídica de la tierra em Hispania Romana’. In.: LVCENTVM -
XXI-XXII, Universidad de Alicante, 2002-2003, pp. 191-205. Para uma análise global do tema, ver: FERRETTI,
T. A. Derecho romano patrimonial. México (D.F.): Universidad Nacional Autónoma de México, 1992.
246
SAQUETE CHAMIZO, J. C. Las Elites Sociales de Augusta Emerita. Mérida: MNAR, 1997, pp. 61-62.
247
Esta mesma divisão se encontra nos municípios. Estudos focados em outras colônias hispânicas que
complementam a questão são vistos nas obras de J. M. Serrano, La colonia romana de Tucci, Martos, 1987, p.
67ss; S. Ordóñez, Colonia Augusta, p. 81ss; idem, Colonia Romula, p. 208ss.
248
Op. Cit, p. 77-80.
249
Fruto das escavações de 1973 até 1982, dos estudos de Garcia Iglesias e complementado pelos resultados das
escavações de 1995.
250
Vide os casos já documentados na cidade de Pompéia.
127
Aselius (1), Labelius (2) ou Servilius (6) 251 . Nesses casos, a maioria são membros que
desenvolveram atividades relacionadas à produção e ao comércio de azeite, que através do
estabelecimento de redes de relações familiares, alcançaram níveis de influencia social e
política considerável em suas comunidades, conseguindo em mais de uma ocasião, ascender
ao nível senatorial local – ordo decuriorum252.
251
SAQUETE-CHAMIZO, J. C. op. cit, 1997.
252
Em relação a este, não devemos direcionar o olhar apenas aos membros da cúria, ou senado local, mas
também, por extensão, as famílias das classes dirigentes da colônia.
253
SAQUETE-CHAMIZO, J. C. op. cit, 1997. p. 81.
FORNI, G. ‘La tribu papiria di Augusta Emerita’. In.: BLANCO FREIJEIRO, A. (Org.)
254
Tabela 8 – Fluxo migratório de outras regiões provinciais para Augusta Emérita 255
255
SAQUETE-CHAMIZO, J. C. op. cit, 1997. p. 81.
129
Tabela 9 – Fluxo migratório interprovincial (Itália e demais províncias) em direção à Augusta Emérita 256
256
SAQUETE-CHAMIZO, J. C. op. cit, 1997.
FORNI, G. ‘La popolazione di Augusta Emerita’. In.: Homenaje a Saenz de Buruaga.
257
‘cultura convivial’ que sustentava redes de relações que, por sua vez, criavam e recriavam
linguagens, e compartilhavam um espaço marcado por ‘comunicação e performance’ social. A
vida comum é vista, nesta leitura, como um processo contínuo de criação e recriação de
identidades, alteridades, no qual objetos, utensílios, edifícios, rituais, ações e crenças
compartilhadas são mutáveis, assim como as pessoas que os criam, experimentam, utilizam e
vivenciam258. Deste modo, complementa a autora, viver na cidade romana implicava viver o
jogo social, os ritos, as religiões nas diversas práticas de sociabilidade.
De fato, as estelas funerárias e as homenagens públicas e votivas que povoavam os
espaços públicos foram os alicerces para a sobrevivência simbólica de pessoas que atuaram no
mundo em que viviam, mas não apenas isso. Tais produções materiais, quando reunidas e
analisadas sob o ponto de vista empírico, auxiliam a problematizar as práticas sociais, as
relações de poder e os vínculos sociais constantemente resignificados em meio aos espaços
públicos e privados que deram forma ao Imperium. Todavia, não se pode obliterar que os
registros epigráficos aqui analisados são parciais e restritos ao grupo social que tinham
condições de financiar sua produção.
Os registros aqui apresentados inserem-se numa cultura política muito particular, onde
o ‘ver’ e ‘ser visto’ fazia parte do jogo político. Como destaca Maria Isabel D’Agostino
Fleming, na medida em que as elites locais adquiriram status na aristocracia imperial, devem
ter tido que se identificar, primeiramente, como membros da nobreza romana e,
posteriormente, como membros das sociedades locais 259 . Logo, os intensos e dinâmicos
contatos culturais devem ser visto num contexto de extrema variabilidade.
Nessa perspectiva, as adaptações da onomástica e a adoção seletiva de elementos do
estilo de vida romano, são vistos como catalisadores deste processo, sobretudo por
decorrerem das diferentes respostas dos indivíduos em relação aos distintos níveis de diálogo
com o sistema cultural romano. As produções epigráficas provinciais resultam, assim, de
mudanças nas formas de representação social materializadas em outras formas de
identificação e inclusão em uma rede social ampla, que comporta valores e atitudes mais
cosmopolitas e heterogêneos frente aos sistemas locais de organização social, com base nas
relações de parentesco e regras sociais de comportamento260.
258
ROSA, C. B. ‘Cotidiano e sociabilidades, a congregatio imperial’. In.: SILVA, G. (et all) Cotidiano e
Sociabilidades no Império Romano. Vitória: Editora GM, 2015, p.9.
259
FLEMING, M. I. D. ‘Cotidiano e sociabilidades no Império Romano e as vasilhas de metal para banquete’.
In.: SILVA, G. (et all). Cotidiano e Sociabilidades no Império Romano. Vitória: Editora GM, 2015, p. 41.
260
FLEMING, M. I. D. op cit, p. 42.
131
Augusto em sua obra Res Gestae, indica que no ano 28 a. C. existiam 4. 063.000
cidadãos romanos, número que se altera no ano 8 a. C. para 4.233.000 e, no ano 14 d. C., para
4.937.000, de acordo com os estudos de A. N. Sherwin-White 264 . Se considerarmos tais
valores, podemos conjecturar que seu rápido crescimento pode ser compreendido pela atuação
conjunta de vários fatores, tais como: a estabilização das guerras de conquista, a fundação de
novas cidades, o alargamento da urbanização e pela integração dos habitantes provinciais no
conjunto do Imperium.
Depois desse rápido avanço, a política de concessão da cidadania foi contida por
Tibério (entre os anos 14 – 37 d. C.), voltando a aumentar no reinado de Cláudio (entre os
anos 41-54 d. C.), quando Tácito indica mais de 1 milhão de cidadãos no ano 48 d. C 265. Sob
261
ALFÖLDY, op. cit., p. 108-109.
262
RODRIGUEZ NEILA, J. F. & MELCHOR GIL, E. Poder central y autonomia municipal: la
proyecciónpública de las elites romanas de Occidente. Córdoba: Grupo Ordo/Servicio de Publicaciones de la
Universidad de Cordoba, 2006.
263
Cifras presentes em ALFÖLDY, op. cit., p. 114.
264
SHERWIN-WHITE, A. N. The Roman Citizenship. Oxford University Press, 1973, p. 221.
265
Annais, 11, 25.
132
os Flávios, a cidadania passou a ser concedida a territórios pouco conhecidos e, por fim, no
reinado de Caracala (entre os anos 211-217 d. C.), quando, através da Constitutio Antoniniana
(datada no ano 212 d. C.), a cidadania romana foi concedida a todos os habitantes livres do
Império.
Nas últimas décadas, a análise da formação e das funções políticas das elites
provinciais romanas ganharam novas investigações. No aprofundamento dos conhecimentos
já consagrados sobre o tema, outros arranjos teórico-metodológicos266 evidenciaram aspectos
mais profundos a respeito da formação e consolidação dos grupos. Assim, a compreensão da
estrutura funcional, o estudo da mobilidade social, das formas de integração e composição dos
grupos, suas respectivas redes de influência, a materialização das alianças políticas, das ações
e representações do poder dos indivíduos receberam um lugar de destaque nas pesquisas,
evidenciando os aspectos essenciais e dinâmicos intrínsecos à vivência no território
provincial267.
Efetivamente, das primeiras colônias fundadas por César, à nova realidade provincial
promovida por Augusto e ampliada pelas dinastias Alto Imperiais, é possível identificar
mudanças significativas tanto no tratamento da administração romana na região como nas
respostas da província a esse tratamento (e vice versa). No contexto provincial da Lusitânia, a
ampliação do acesso às magistraturas e da mobilidade social dos indivíduos nos instigam a
266
Tanto para atualizar os estudos e a montagem das bases de dados prosopográficas como na proposição de
novas abordagens para o estudo sobre o cursus honorum dos membros dos ordines senatorial, equestre e
decurional.
267
No estudo da Península Ibérica, uma das expressões desse movimento revisionista é desenvolvida pelo Grupo
de Investigação das Oligarquias Romanas do Ocidente – ORDO, sediado na Universidade de Sevilha e com
intensas interlocuções com importantes instituições de Portugal, França Itália, Bélgica, Holanda, Reino Unido,
Áustria e Alemanha. Tendo como precursores os Professores Carmen Castillo García, Juan Francisco Rodríguez
Neila, Joaquín Gómez Pantoja, Antonio Caballos Rufino, Javier Navarro Santana e Enrique Melchor Gil, é fruto
da parceria inicial entre as Universidades de Alcalá de Henares, Córdoba, Navarra e Sevilla. As atividades de
investigação desenvolvidas pelo grupo concentram-se no estudo dos processos de promoção e vertebração social
que caracterizaram o império romano, sendo o objetivo central a compreensão do surgimento, das identidades,
dinâmicas e das peculiaridades funcionais das elites hispano-romanas, tanto a nível municipal como imperial.
Assim como também, a atuação dos componentes da aristocracia imperial que exerceram as tarefas político-
administrativas. Para mais informações, consultar o link: http://personal.us.es/caballos/?page_id=278, acedido
em 01 de dezembro de 2015, as 14h 46 min.
133
Plínio – o velho, em sua História Natural 268 , destaca que ‘nos anos em que a
República sofreu as turbulências das desordens políticas, o Imperador Vespasiano Augusto
generalizou a toda a Hispania o direito latino269’. O testemunho de Plínio nos faz conhecer
um dos pontos fundamentais da história da Hispania romana no Alto Império, a saber: a
concessão do ius Latinum para toda a Península Ibérica por Vespasiano. Como assinala
Mauricio Pastor e Héctor F. Pastor Andrés270, este pode ser considerado um dos momentos
fundamentais para compreender a utilização do Direito romano como estratégia para finalizar
o processo de integração da região e da organização político-administrativa de todas as
cidades da Hispania e, com isso, dirimir as distinções jurídicas que existiam entre as civitates.
268
PLÍNIO, Naturalis Historia, Livro III, 3, 30: ‘Universae Hispaniae Vespasianus Imperator Augustus,
iactatum procellis rei publicae Latium tribuit’ – ‘O Imperador Vespasiano Augusto generalizou a toda a
Hispania o direito latino, que tinha sido atingido pelas tormentas do estado’ (tradução de Amilcar Guerra
disponível na obra: Plínio-o-Velho e a Lusitânia. Lisboa: Edições Colibri, 1995, p. 31.).
269
Tradução de Maurício Pastor e Héctor F. Pastor Andrés publicada no texto: ‘El Derecho como forma de
integración em la Hispania romana’. In.: BRAVO, G. & GONZÁLEZ SALINERO, R. (Edt.) Formas de
integración em el mundo romano. Madrid: Signifer Libros, 2009, p. 287.
270
Op. cit, p. 288.
271
ESPINOSA, ESPINOSA, D. ‘El ius latii y la integración jurídica de Occidente: latinización vs romanización’.
In.: Espacio, Tiempo y Forma, série II, História Antigua, t. 22, UNED, 2009.; GARCÍA FERNÁNDEZ, E. ‘El
ius Latii y los municipia latina’. In.: Studia historica. Historia antigua, nº 9, 1991 (Ejemplar dedicado a: Ius
latti y derechos indígenas en Hispania), págs. 29-42.
134
272
RODRIGUEZ NEILA, J. F. ‘A propósito de la noción de municipio en el mundo romano’. In.: Hispania
Antiqua, nº 6, 1976, pp. 147-149; PASTOR, M. & PASTOR ANDRÉS, H. F. ‘El Derecho como forma de
integración em la Hispania romana’. In.: BRAVO, G. & GONZÁLEZ SALINERO, R. (Edt.) Formas de
integración em el mundo romano. Madrid: Signifer Libros, 2009, p. 288-299.
273
Ortiz de Urbina defende a existência de uma municipalidade virtual nos artigos ORTIZ DE UBINA, E.
‘Derecho latino y municipalización virtual en Hispania, Africa y Gallia’. In.: ORTIZ DE URBINA & SANTOS,
J. (Edt.) Teoría y prática del ordenamiento municipal em Hispania. País Vasco: Vitória/Universidad del Pais
Vasco, 1996 e Las comunidades hispanas y el derecho latino: observaciones sobre los procesos de
integración local en la práctica político-administrativa al modo romano. País Vasco: Vitoria Gasteiz
/Universidad del País Vasco, 2001.
274
Para Pastor & Pastor Andrés, op cit, p. 298; a noção de municipalidade virtual não parece apropriada na
relação Latium – promoção municipal, se admitirmos que o ius Latium já seja reconhecido como ajustado ao
direito romano dos iura e os instituta locais da comunidade indígena. Para os autores é evidente que, a partir
deste reconhecimento, já hajam as condições indispensáveis para que o municipium comece a funcionar.
Todavia, concretamente em Hispania, a presença de testemunhos de municipia de promoção Flavia demonstraria
como no momento em que havia civis romani e o ordenamento institucional indígena se homogeneizava à
romana, surgia já o municipium como tal sem que tivessem que esperar que o mesmo fosse criado mediante uma
lei municipal. De fato, a lei já existia como marco de referencia desde Vespasiano (entre os anos 68 - 79), mas
que fora colocada por escrito possivelmente por Domiciano (entre os anos 81 – 96).
275
GAIO, Inst. I, 95.
276
RODRIGUES NEILA, J. F. Sociedad y administración local en la Bética romana. Córdoba: Publicaciones
del Monte de Piedad y Caja de Ahorros de Córdoba, 1981.
135
estavam os que habitavam fora das fronteiras do Império e que eram considerados
estrangeiros (barbarii, dedititii) e, por último, os escravos.
277
Para aprofundar os estudos em outras frentes analíticas, vide: HARDY, E. G. Roman Laws and Charter:
three Spanish charters and oders documents. New Jersey: The Lawbook Exchange, 2005; SACO del
VALLE, A. O. ‘El território de las civitates peregrinas en los tratados de agrimensura: las civitates del noroeste
hispano’. In.: Revista Habis, nº 33, 2002, pp. 389-406; BOWMAN, A. K., CHAMPLIN, E. & LINTOTT, A.
The Cambridge Ancient History, Volume 10: the Augustan Empire 43 B.C. - 69 A.D. Cambridge:
Cambridge University Press, 1996.
278
Pareceram-nos pertinentes as reflexões de Paulo Emílio Vauthier Borges de Macedo sobre o ius gentium: O
ius gentium remonta a organização tribal, anterior à monarquia – que foi instituída ao mesmo tempo em que a
Cidade, em 754 a. C. – com um significado bastante diferente de direito internacional. A organização social da
península itálica baseava-se, nesses princípios, num sistema denominado “gentílico”, porque constituía o direito
das gens, das pessoas que pertenciam ao mesmo clã ou a clãs aparentados. Era possível distinguir entre “o ius
gentilicum que regia as relações entre as classes superiores e as inferiores no seio de uma mesma gente, o ius
gentilitatis que compreendia as leis em vigor no seio da classe superior dos gentis e o ius gentium que regulava
as relações entre as diferentes gentes”. A gens representava tanto a fonte normativa como o fato jurídico por
excelência; as normas jurídicas originavam-se e destinavam-se à gens romana. Mais tarde, o ius gentium romano
passou a aplicar-se àquelas relações entre os estrangeiros (peregrini) entre si e com os cives romanos. Tratava-se
de um conjunto de ordenações cujos destinatários eram seres humanos, não organizações políticas. Além disso,
consistia num direito intra gentes, não inter gentes. A partir de 242 a. C., era ministrado por um praetor
peregrinus, uma figura itinerante; fator que permitiu que seus editos pudessem harmonizar propostas culturais e
tradições jurídicas distintas. O pretor precisava, pois, privilegiar os acordos reais, não os vínculos formais, a
substância, em vez da forma, pois esta é própria de uma só comunidade e não se pode universalizá-la com
facilidade. Nos contratos, deveria privilegiar a volutas, o consensus, ainda que a forma fosse precária. Essa
qualidade destaca-se do restante do direito romano, formalista por essência. Mesmo nos seus primórdios, já se
delineia a tarefa fundamental desse ramo: “governar as relações entre os estranhos‟, entre seres que não
pertencem à mesma tribo, ao mesmo clã, à mesma nação, à mesma cultura, mas que compartilham somente uma
humanidade comum”. Deste modo, o ius gentium recepcionava e reelaborava os usos e costumes dos outros
povos. Introduziu-se assim um corpo de ius aequum caracterizado pela preferência pela vontade real, em vez de
uma fórmula instrumental; uma exigência de universalidade para favorecer a comunicação. Ademais, a noção de
bona fides, de fidelidade com a palavra empenhada, ocupava posição central. A boa fé revela-se fundamental
para a estabilidade e a perenidade das relações comerciais e constitui uma garantia de credibilidade pessoal.
Além de relações comerciais, Roma estabelecia com os estrangeiros relações de patronato, amicitia e hospitium.
O ius gentium, assim, ocupava-se também da preservação dos mores. Esses conteúdos éticos tornavam o direito
136
das gentes mais próximo do direito natural do que do direito positivo. Dessa feita, como o ius gentium
apresentava-se como um conjunto de normas universais, com um processo de formação bastante vinculado ao do
costume – o qual se perde em tempos imemoriais –, não se deve estranhar o fato dele ter sido, não raro,
confundido com o próprio direito natural. In.: DE MACEDO, P. E. V. B. ‘A genealogia da noção de Direito
Internacional’. RFD-Revista da Faculdade de Direito da UERJ, n. 18, 2011.
279
Pastor & Pastor Andrés, op cit, p. 303.
280
Apenas após o serviço militar, aproximadamente 25 anos, quando obteria o diploma de honesta missiocom a
concessão da cidadania real. No corpus epigrafico da pesquisa, registramos um caso no municipium Olisipo,
localizado no Conventus Scallabitanus, vide nº 270 do anexo I.
281
Vide um caso do registro de origem e cidadania em cidades distintas no nº 101 do corpus epigráfico da
presente tese.
137
Civitas, urbs, populus. Na literatura latina283, uma série de termos foi utilizada para
designar as relações socioespaciais desenvolvidas nos territórios anexados ao domínio
romano. Em breves linhas, sabemos que Civitas designaria o ordenamento sócio-jurídico da
cidade, isto é, trata-se de um conceito básico relacionado a uma organização política
diferenciada e regida por uma lei dotada de direito e instituições, sendo também interpretada
como cidadania. Urbs, por sua vez, referia-se à estrutura material do núcleo urbano e populus,
ao conjunto de homens vinculados por meio da civitas 284 . Entretanto, será na produção
epigráfica que encontraremos as informações a respeito da dinâmica local dos procedimentos,
estruturas administrativas e jurídicas das cidades localizadas nos territórios transformados em
província.
No contexto epigráfico, dois tipos documentais nos são úteis para a investigação, a
saber, os estatutos municipais 285 , que apresentam informações sobre o funcionamento das
cidades; e o heterogêneo conjunto dos textos honoríficos, funerários, votivos e monumentais
que nos apresentam uma parcela dos indivíduos que vivenciaram a dinâmica política em sua
plenitude. Quando analisados de forma comparativa, os textos viabilizam o reconhecimento
de alguns indivíduos que desempenharam um papel público preeminente a nível municipal,
provincial ou imperial, suas expectativas do poder, as gradações das funções desempenhadas,
os vínculos entre as famílias e as formas de relação entre as sociedades municipais e entre
estas e o governo central.
282
Pastor & Pastor Andrés, op cit, p. 304; BRADEEN, D. W. ‘Roman citizenship per honorem’.In.: The
classical Journal, nº 54, 1959.
283
Aqui citamos De Res Publica, de Marco Tulio Cícero, De Architectura, de Vitrúvio, Geographica, de
Estrabão, o Naturalis Historia de Plínio – o – Velho como algumas das produções importantes para o estudo da
temática.
284
NOVILLO LOPEZ, M. A. ‘La administración cesariana em la Província Hispania Ulterior’. In.: BRAVO, G.
& GONZÁLEZ SALINERO, R. Formas de integración en el mundo romano.. Madrid: Signifer Libros, 2009,
p. 282.
285
GARCÍA FERNÁNDEZ, E. ‘Sobre la función de la lex municipalis’. In.: Gérion, nº 13,Madrid, Servicio de
Publicaciones de la Universidad Complutense, 1995.
138
O início das formulações das normativas municipais remonta ao contexto dos Bellum
Sociorum 288 , as chamadas ‘Guerras Sociais’ ocorridas entre os aliados italianos (socii),
desejosos por manter sua autonomia local e a política expansionista da cidade de Roma289.
Como tentativas de solução das clivagens, foi publicada a Lex Licinia Mucia, em 95 a. C.,
contra a obtenção da cidadania pelos aliados. Todavia, a atenuação dos conflitos veio apenas
com a promulgação de um conjunto de leges encabeçado pela Lex Iulia (90 a. C.), através da
qual Roma outorgou a cidadania às cidades itálicas que haviam permanecido fiéis ou que
solicitassem a integração jurídica e administrativa; seguida pela Lex Plautia-Papiria (89 a.
C.), que concedia a cidadania a qualquer itálico que viesse a inscrever-se dentro de dois meses
nos registros do pretor e finalizada pela Lex Pompeia (89 a. C.), que outorgou o direito latino
às cidades da Galia Cisalpina que ainda não o tivessem, beneficiando as cidades situadas a
norte do rio Pó290.
286
Vide o trabalho de FREDERIKSEN, M. W. ‘The republican municipal laws: errors and drafts’. In.: Journal
of Roman Studies 55, 1965, pp. 183- 198.
287
CABALLOS RUFINO, A. F. ‘Referencias a senados municipales en las leyes municipales y coloniales’. In.:
MELCHOR GIL, E; PÉREZ ZURITA, A. D. & RODRIGUESZ NEILA, J. F. Senados municipales y
decuriones en el Ocidente romano. Sevilla/Cordova: Universidad de Sevilla / Universidad de Cordoba, 2013,
pp. 35 - 55.
288
CRAWFORD, M. H. ‘How to create a municipium: Rome and Italy after the social war’. In.: Bulletin of the
Institute of Classical Studies Special Issue: Bulletin of the Institute of Classical Studies Supplement 71:
Modus Operandi ,Volume 42, Issue S71, February 1998, pp. 31–46,.
289
CABALLOS RUFINO, A. F. op. cit., 2013, p. 36-37. Vide ainda BRUNT, P. A. Italian Manpower: 225 a.
C, - 14 d. C. Oxford: Clarendon Press, 1987.
290
CHRISTOL, M. & NONY, D. Roma e o seu Império: das origens às invasões bárbaras. Lisboa:
Publicações Dom Quixote, 1999, p. 121.
291
CABALLOS RUFINO, A. F. op cit, 2013, p. 36.
139
292
CABALLOS RUFINO, A. F. op cit, 2013, p. 37.
293
Em conjunto com o Corpus Inscriptionum Latinarum de Theodor Mommsen, está, para o estudo das fontes
jurídicas romanas, a obra formulada em 1909 por Carolus Georgius Bruns, intitulada Italian Iuris Romani
Antiqui (Tubinga). Dentre os corporas mais recentes merecem destaque a obra em dois volumes editada por M.
H. Crawford, Roman Statutes (BICS Supplement 64). London: Institute of Classical Studies, 1996, e o
exaustivo trabalho organizado por Allan Chester Johnson, Paul Robinson Coleman-Norton, Frank Card Bourne,
intitulado: Ancient Roman Statutes: a translation with introduction, commentary, glossary and index.
Clark/New Jersey: The Lawbook Exchange, 2003.
294
D’ORS, A. Epigrafia jurídica de la España Romana. Madrid: Ministerio de Justicia, 1953.
140
guardadas em arquivo público municipal. Assim sendo, seu desconhecimento não eximia os
cidadãos de seu cumprimento295.
No contexto peninsular, a maioria das legislações conservadas consultadas por nós faz
referência à província da Bética e contextualizam-se no conjunto das legislações municipais
de época Flávia, datadas no governo de Domiciano, estando diretamente ligadas à concessão
do ius latium por Vespasiano. O conjunto abarca quarenta fragmentos, dentre os quais, seis
apresentam o município identificado e localizado, a saber: a Lex Flavia Irnitana (Irni), a Lex
Flavia Malacitana (Malaca), a Lex Flavia Salpensana (Salpensa), a Lex Flavia Villonensis, a
Lex Flavia Ostipponensis e Lex Italicensis297.
295
Pastor & Pastor Andrés, op cit, p. 306.
296
Dentre as normativas conservadas e datadas, Crowford (op. cit, 1996, número 16 ao 25) apresenta a seguinte
relação das Leges:
Para a Península Itálica:
- Tabula Heraclensis – IV a. C.
- Lex Tabulae Bantinae e a Lex Osca Tabulae Bantinae: século II a. C.
- Lex Municipii Tarentini – entre os anos 90 – 62 a. C.
- Fragmento I B de Falerio e Fragmento II de Falerio – 70 a. C.
- Lex Antonia de Termessibvs – 71 a. C.
- Fragmentos II e III de Veleia – fins do período republicano.
- Fragmento de Este.
- Fragmento B da Coleção Bauer.
- Fragmento de Susa – período Julio-Claudio.
- Fragmento de Fiésoli - período Julio-Claudio.
- Fragmento da Galleria Degli Uffizi – período Augústeo.
- Fragmento do Pacio Medici Riccardi – período Augústeo.
No tocante às legislações hispânicas, tem-se a Lex Coloniae Genitivae Iuliae – de época cesariana (da cidade de
Urso, na Província da Bética).
297
Dos outros trinta e um fragmentos não se sabem a procedência nem a localização.
141
controle e supervisão dos mercados, dos lugares e edifícios públicos e sagrados, dos
quaestores, responsáveis dos assuntos financeiros da comunidade e, por último, o Senado ou
ordo decurionum, composto pelos membros da elite local, que exerceriam o controle direto
sobre os magistrados e decidiriam sobre os assuntos mais importantes para a vida da
comunidade298.
298
Pastor & Pastor Andrés, op cit, p. 306; GONZALEZ FERNANDEZ, J. Bronces Juridicos romanos de
Andalucia. Sevilla: Fundación Antonio Machado, 1990, p. 18.
299
A referida Lex encontra-se conservada em cinco conjuntos documentais dos quais um fragmento e partes dos
primeiros capítulos do texto recuperados no mercado de antiguidades, e uma tabula com o registro dos capítulos
13 ao 19 e a primeira linha do 20 recuperada de um forno de refundição do século XVIII na parte moderna da
cidade de Osuna estão conservadas no Museu Arqueológico de Sevilla. Cinco tábuas de bronze procedente do
fórum colonial e outros 11 fragmentos conhecidos como ‘Bronces de El Rubio’ encontrados em Sevilla estão no
Museu Arqueológico Nacional em Madri.
300
Desde fins do século XIX, multiplicaram-se as bibliografias dedicadas ao estudo da Lex Ursonensis. Dentre
os estudos mais citados estão os de M. Rodríguez de Berlanga, Los bronces de Osuna, Málaga (1873) e Los
nuevos bronces de Osuna (1876).
Já na década de 90 do século XX, são referências a edição editada por J. A. Pachón e M. Pastor, Los bronces de
Osuna y los nuevos bronces de Osuna (1995), publicado pela Universidade de Granada acompanhada por um
estudo preliminar; o artigo publicado por Ángel Gómez-Iglesias Casal na revista Studia Historica: historia
antigua, 15-16, pp. 247-266, intitulado ‘Lex Ursonensis cap. 109: la tutela en la Lex Ursonensis y la ley
municipal’ (1997).
A partir dos anos 2000, têm-se os trabalhos El nuevo bronce de Osuna y la política colonizadora romana
(2006), publicado por A. Caballos em Sevilla.
Já o texto da Lex foi publicado no CIL II, nº 5439; CIL II, nº 2, 5,1002; por D’Ors Epigrafia jurídica de la
España Romana. Madrid: Ministerio de Justicia, 1953; vê-se também em J. Gonzales Fernandez em Bronces
Juridicos romanos de Andalucia. Sevilla: Fundación Antonio Machado, 1990 e A. Stylow ‘Texto de la Lex
Ursonensis’. In.: MANGAS, J. & GARCIA GARRIDO, M. (Edt) Studia Historica: historia antigua, 15 (La
Lex Ursonensis: estúdio y edición crítica), 1997, pp. 269-302.
301
Capítulo LXVI: quos pontífices quosque augures C. Caesaris quive iussu eius coloniam deduxerit fecerit.
Complementado pelo capítulo CXXV: in decurionum loco ludos spectare vetatur, nisi qui yum magistratus erit
iussi C. Caesaris dictatoris. Texto disponível em: Pastor & Pastor Andrés, op cit, p. 306.
142
302
Tabela desenvolvida a partir da seleção e tradução publicada por Caballos Rufino, op cit, pp. 44 – 46.
143
303
Não indicado.
144
Cap. 100 Proposta do duunviro, à petição de um colono, aos decuriões Para aprovação, se requer a
para a condução da água sobressalente para uso privado, sem maioria dos decuriões
presentes, sempre que
prejuízo para os particulares; assista um mínimo de 40.
Cap. 103 Decisão dos decuriões para conduzir armados aos colonos e Para aprovação é requerida
contributi para a defesa do território da colônia; a maioria dos decuriões
presentes.
Cap. 105 Sobre a dignidade ou indignidade dos decuriões NI
Cap. 124 Acusação de indignidade de um decurião por outro e suas NI
consequências;
Cap. 125 Decreto dos decuriões para determinar os assentos nos jogos Para aprovação deve estar
públicos no lugar reservado aos decuriões; presente não menos do que
a metade dos decuriões.
Cap. 126 Decreto dos decuriões para o estabelecimento do lugar a Para aprovação é requerida
distribuir, dar ou destinar lugares nos espetáculos públicos aos a presença mínima de 50
decuriões.
colonos, residentes, hóspedes e transeuntes;
Cap. 127 Lugar reservado na orquestra para os decuriões NI
Cap. 128 Decisão dos decuriões sobre a nomeação de encarregados para NI
a administração de lugares, edifícios e recintos consagrados;
Decreto dos decuriões para a celebração dos jogos circenses,
preparação de sacrifícios rituais e realização de cerimônias a
cargo dos duunviros, edis ou prefeitos;
Cap. 129 Os duunviros, edis, prefeitos e decuriões da colônia devem NI
obedecer e observar os decretos decurionais;
Cap. 130 Aprovação por decreto decurional da adoção, aceitação ou Para aprovação é requerida
nomeação de um senador ou filho de senador como patrono; a concordância de ¾ dos
decuriões em votação por
escrito.
Cap. 131 Aprovação por decreto decurional da adoção como hóspede, ou Para aprovação é requerida
do estabelecimento de um hospitium, ou uma tessera hospitalis a maioria dos decuriões em
votação por escrito.
com um senador ou filho de senador;
Cap. 134 Decreto dos decuriões para dar ou presentear dinheiro público NI
ou outro bem.
Na cultura política republicana, somente aos patres era reconhecida a titularidade dos
direitos, somente eles detinham o genius, a divindade protetora individual responsável pela
fertilidade e prosperidade da família. Também eram os guardiões dos mores maiorum, que
304
Vide POLÍBIO. Histórias. Brasília: UNB, 1996, Livro VI.
145
Considerando-se essa tradição política, nos estatutos das cidades alto imperiais,
manteve-se o teor aristocrático tipicamente republicano, mas, agora, contando também com as
elites locais – ‘provinciais’. Ao registrar o nível de autonomia que Roma reconhecia e
outorgava a cada localidade, tais documentos possibilitam compreender o funcionamento das
civitates e observar as possibilidades de atuação dos grupos que dirigiam a política municipal.
Como é possível observar na Lex Ursonensis, o poder central não possuía representantes
diretos para o tratamento das demandas específicas da cidade. Sua autoridade estava delegada
aos órgãos do governo local, que, em se tratando de sua formatação administrativa, seguiam
um modelo geral em todas as comunidades, colônias ou municípios. Tais questões
305
BORGES, A. & MENDES, N. M. ‘Os calendários romanos como expressão de etnicidade’. In.: História:
Questões & Debates, n. 48/49, Curitiba, Editora UFPR, pp. 77-99, 2008.
306
Com a aprovação da Lei Canuléia, em 451 a. C., que suspendia a proibição de casamentos entre patrícios e
plebeus, formou-se uma nobreza patrícios - plebéia.
307
Indivíduos pertencentes às elites dos municípios italianos que receberam a cidadania romana plena.
308
A noção de “ethos social” corresponde às dimensões cívica, doméstica, produtiva e guerreira da vida do
homem em sociedade, interagindo numa dinâmica de interdependência e complementaridade com ação
imperialista. Vide HARRIS, W. V. Guerra e imperialismo en la Roma republicana (327-70 a.C.). Madrid:
Siglo XXI, 1989, p.17.
309
O termo dignitas significa a condição do cidadão comprovada publicamente, popularidade.
310
Princípio fundamental da cultura política romana e que era conferida apenas e somente pela dignitas da
pessoa, instituição ou corporação que sancionava uma decisão. É algo contínuo que depende da manutenção de
uma perpétua liderança militar e civil, como benfeitor da república. É demonstrada pelo meritum (virtudes e
realizações), pelos benefícios de sua atuação (officium), os quais geravam a gratidão (gratia).
146
c. Referências para a gestão dos espaços públicos Irn. /Mal.62, Irn. /Mal.63, Irn. 76,
Irn. 82,83
d. Sobre a ‘política externa’ da cidade Irn F, Irn. G, Irn. H, Irn. I
j. Sobre a gestão das relações sociais (escravos) Irn./ Salp 28 e 29, Irn. 78
n. Sobre a sessão de trabalho do ordo municipal Irn. B, Irn. C, Irn. D, Irn. E, Irn. K,
Irn. L
o. Sobre a gestão das atividades públicas Irn./Mal./Vill. 68
diversas magistraturas com competências específicas e que levavam a cabo as decisões dos
decuriões. Portanto, observemos na tabela 11b os dados apresentados nas leges flavianas
sobre as atribuições políticas e as atividades públicas dos decuriões:
311
Tabela 11b – Atribuições políticas e atividades públicas dos decuriões nas Leges Flavianas
Capítulo Texto Requisito para
Referência Geral aprovação
Irn. 19 Do direito e poder dos edis As decisões dos decuriões sobre os assuntos
que deviam ser executados pelos edis, além das NI
demais competências destes.
Irn. 21 Como se consegue a Os magistrados nomeados entre os senadores,
cidadania romana no decuriões e conscritos do município fossem NI
municipio cidadãos romanos ao cessar seu cargo.
Irn. / Salp. 24 Do prefeito do Imperador Oferecimento por parte dos decuriões,
Domiciano Augusto conscritos ou munícipes do duunvirato ao
imperador Domiciano. Se este for aceito e NI
tivesse delegado um prefeito, tenha este poder
de duunviro único.
Irn. / Salp. 28 Da manumissão do escravo Legitimação da manumissão de escravos por
perante os duunviros parte de menores de 25 anos e número de
NI
decuriões necessários para aprovar os decretos
segundo esta lei
Irn. / Salp. 29 Da nomeação de tutores Nomeação de tutor solicitado ao duunviro por Para aprovação é
decreto dos decuriões requerida a presença
de ao menos 2/3 dos
decuriões.
Irn. 30 Do status dos decuriões ou Os presentes ou futuros senadores ou pró-
conscritos senadores, decuriões ou conscritos, pró-
decuriões ou pró-conscritos em Irni eram de NI
pleno direito e de maneira legal como qualquer
município latino.
Irn. 31 Da convocatória, por edito, O ano em que haja menos de 63 decuriões, os Para aprovação é
dos decuriões para a eleição duunviros proporão aos decuriões ou conscrito requerida a presença
e substituição dos decuriões o dia de eleição de titulares, suplentes ou de pelo menos 2/3
dos decuriões.
substitutos para completar a cifra mínima.
Irn. A (começo perdido) Proclamação da decisão tomada por maioria
dos decuriões ou conscritos e liberdade do NI
duunviro para propor aos decuriões.
Irn. B Em que ordem deviam ser Ordem de prelação dos decuriões nas votações.
pedidos os votos
NI
Irn. C Da publicação dos decretos Leitura por parte do proponente ante os
dos decuriões e sua decuriões do decreto aprovado por estes e prazo
conservação nos arquivos
NI
para seu depósito no arquivo municipal.
públicos
Irn. D Se fosse necessário revogar Para a revogação, suspensão ou anulação dos
alguns decretos dos decretos decurionais deviam assistir a sessão
decuriões, de que modo NI
2/3 dos decuriões e apoiar a monção um
devem ser revogados
mínimo de ¾ dos presentes.
Irn. E Que não seja suspensa nem Com a exceção de que quem suspenda seja
transladada para outro quem tenha convocado NI
lugar a sessão dos decuriões
Irn. F Da distribuição dos Para a eleição das embaixadas os duunviros
decuriões em três decúrias, deviam distribuir equitativamente os decuriões
que desempenhem as ou conscritos em três centúrias para efetuar NI
embaixadas por turno
logo o sorteio e para estabelecer a ordem de
turnos em que se selecionariam os legados
311
Tabela desenvolvida a partir da seleção e tradução publicada por Caballos Rufino, op. cit., pp. 49-54. As
normativas agrupadas integram as seguintes legislações: Lex Flavia Irnitana, a Lex Flavia Malacitana, a Lex
Flavia Salpensana, a Lex Flavia Villonensis.
148
312
Um importante estudo sobre este tema na Lex Irnitana, ver o artigo de Armando Torrent, ‘Lex Irnitana:
Cognitio de los magistrados locales en interdictos, y limitación a su competência por cuantia’, in.: AFDUCD, nº
12, 2008, pp. 987-1006.
149
Irn. 72 Da manumissão dos Consulta, pelo duunviro aos decuriões ou Para aprovação é
escravos públicos conscrito, sobre as manumissões dos escravos requerida a
públicos que se converteriam em latinos e presença de 2/3
munícipes do município, e a importância a ser dos decuriões.
recebida por eles.
Irn. 73 Dos escribas, seu juramento Aprovação por maioria dos decuriões e
e do salário dos subalternos conscritos dos escribas subalternos dos NI
duunviros e seu soldo.
Irn. 76 Da visita e inspeção dos Consulta do duunviro aos decuriões e Para aprovação é
limites e terrenos públicos conscritos, para inspecionar os terrenos requerida a
dados em arrendamento, se arrendados pelo município, emitindo o presença de 2/3
parece convincente ou não e
correspondente decreto e atribuindo a tarefa de dos decuriões.
se parece oportuno que
sejam visitados e inspeção.
inspecionados, por quem e
de que modo parece
oportuno que sejam
visitados e inspecionados
Irn. 77 Dos gastos para as práticas Consulta dos duunviros aos decuriões ou
religiosas, jogos e banquetes conscritos sobre as quantidades a estipular para
que serão oferecidos. NI
as atividades religiosas, jogos públicos e
banquetes comunais.
Irn. 78 Que se consulte aos Consulta do duunviro ao começo de sua
decuriões a qual função se magistratura ao maior número possível de
destina cada escravo público decuriões ou conscritos sobre a atribuição das NI
tarefas dos escravos públicos e a promulgação
do correspondente decreto decurional.
Irn. 79 Sobre quantos decuriões ou Nenhum duunviro podia consultar ou fazer
conscritos se deve consultar propostas aos decuriões ou conscritos sobre os
sobre o gasto dos fundos fundos públicos quando estes fossem menos de
públicos dos munícipes
¾ do número total. Todavia, estava permitido
fazer uma proposta a mais da metade dos NI
decuriões para gastos de tarefas religiosas,
jogos públicos, banquetes comunitários, soldos
de funcionários subalternos, embaixadas, obras
públicas e outros gastos de similar índole.
Irn. 80 Do dinheiro recebido em Os decuriões ou conscritos poderiam decretar a Para aprovação é
empréstimo pelo município assunção de empréstimos pelo município, requerida a
sempre que a soma anual para tal não superasse presença de ¾ do
os 50.000 HS, a não ser que fosse permitido número total de
pelo governador provincial. decuriões.
Irn. 81 Da colocação (do público) Localização do público nos espetáculos tal
nos espetáculos como se formula pelo decreto decurional ou
segundo as normativas imperiais de Augusto, NI
Tibério, Claudio, Galba, Vespasiano, Tito ou
Domiciano
Irn. 82 Das estradas, dos caminhos, Os duunviros tinham a capacidade de construir
dos cruzamentos, das ou modificar as vias, canalizações e redes de
represas (e aquedutos) e esgoto, sempre que atuarem por decreto NI
esgotos
decurional e as atuações não afetem aos
particulares.
Irn. 83 Das obras públicas Os decuriões ou conscritos decretavam o
trabalho ou as contribuições que deviam
contribuir a comunidade de munícipes e
íncolas, sempre que não tivesse menos de
quinze anos ou mais de sessenta, que não
sobrepassem cinco dias de trabalho ao ano e
sempre que indenizarem a quem sofrer danos NI
por essa colaboração.
Os edis eram aqueles que, de acordo com o
decreto decurional e tal como se explicitava em
outras seções da normativa municipal,
determinavam e exigiam estas contribuições,
tomavam garantias e impunham as
correspondentes multas.
Irn. 86 Da eleição e publicação (do Para os litígios privados os duunviros deviam
nome dos ) juízes NI
eleger dentre decuriões ou conscritos o número
150
Perscrutando-a, se observa que podiam ascender a esses grupos aqueles que reuniam
certas condições mediante a um processo de seleção que envolvia alguns procedimentos
jurídicos. Todavia, para ascender a este estatuto social, era necessário também conjugar um
alto nível econômico com a manutenção de certo nível patrimonial imprescindível para
pertencer aos cargos aristocráticos, manter a dignitas e adquirir prestígio através da realização
do cursus honorum. Idealmente, a riqueza estava associada à dignitas, que se desvelava como
um estatuto social medido em termos patrimoniais e morais, caracterizado pelo uso prático
dos bens materiais na cidade, como forma de testemunhar o compromisso com a vida pública
e o bem estar das comunidades.
313
RODRIGUEZ NEILA, J. F. & MELCHOR GIL, E. ‘Ordines decurionum: procedimientos jurídicos de
integración y de vinculación honorífica (con especial referencia a Hispania)’. In.: CABALLOS RUFINO, A. F.
(org) Del município a la corte: La renovación de las elites romanas. Sevilla: Universidad de Sevilla, 2012, p.
243.
151
Melchor Gil317 define tal prática como a construção e financiamento privado de obras
públicas nas cidades, cujo desenvolvimento não se restringiu às províncias, mas esteve
presente também no centro do poder romano e nas cidades da Itália. Assim, o fenômeno pode
ser pensado como uma forma de conduta social desenvolvida no nível das comunidades
cívicas impulsionadas por fatores ideológicos e baseadas em um sistema econômico que
tendia a concentrar a riqueza em poucas mãos.
318
Seguindo uma abordagem semelhante, Javier Andreu Pintado caracteriza o
fenômeno evergeta como uma conduta social de caráter ‘urbano’ pela qual os notáveis da
cidade destinavam parte de sua riqueza à comunidade sob a forma de contribuições a
construção pública. Ao longo do tempo, tal conduta assumiu a forma de em uma estratégia
política que garantia a reprodução social das elites a nível local. Nesse sentido,
compreendemos que o fenômeno evergeta (ou benemerente319) ganhou matizes ao longo do
Alto Império e caracterizou-se por um movimento a respeito do qual é possível distinguir
quatro categorias: (1) o evergetismo dos libertos aos seus patronos, (2) dos locais às
divindades, (3) das elites locais aos Imperadores ou (4) à cidade como um todo (com o
financiamento de construções públicas, a organização de ludi, etc)320.
314
Nosso posicionamento referente à monumentalização dos edifícios segue a postura desenvolvida por Javier
Andreu Pintado no artigo: “Construcción pública y municipalización em la província Hispania Citerior: la época
flavia”. In.: Iberia, n. 7, 2004, pp. 39-75.
315
RODRIGUES NEILA, J. F. op Cit, p. 165-166.
316
MACKIE, N. ‘Urban munificence and the growth of urban consciousness in Roman Spain’. In.: BLAGG, F.
C. & MILLETT, M. The Early Roman Empire in the West. Oxford: Oxbow Books, 2002, pp. 179-192;
EDMONDSON, J. C. ‘Romanization and urban development in Lusitania’. In.: BLAGG, F. C. & MILLETT, M.
The Early Roman Empire in the West. Oxford: Oxbow Books, 2002, pp.152-178.
317
GIL, M. ‘Construcciones cívicas y evergetismo en Hispania romana’ In.: Espacio, Tiempo y Forma, Serie
II, H. Antigua, t. 6, 1993, págs. 443-466, e Consideraciones acerca del origen, motivación y evolución de las
conductas evergeticas en Hispania Romana’. In.: Studia Histórica: historia antigua, vol. XII, 1994, p.78.
318
ANDREAU PINTADO, J. ‘Construcción pública y municipalización em la Provincia Hispania Citerior: la
época flávia’. In.: Iberia, nº 7, 2004, pp. 39-75, ANDREU PINTADO, J. ‘Augustalidad, servitrato y
evergetismo: aproximación a la promoción social de los libertos em Ivsitania’. In.: Revista Vipasca:
Arqueologia e história, número 7, Aljustrel / Portugal, 1998, pp. 43-44.
319
Essencialmente, tal conceito assemelha-se ao conceito de benemerência. Ambos referem-se a um mesmo
processo, ainda que partam de tradições linguísticas de distintas.
320
Vide a obra já consagrada de Paul Veyne, Le pain et Le cirque: sociologie historique d’um pluralisme
politique. Paris: SEUIL, 1976.
152
Deste modo, além da construção da imagem pública dos agentes, os atos benemerentes
de caráter pessoal (ou de grupo), especialmente os de tipologia edilícia, agiam como formas
de dinamização da economia local ao gerar empregos diversos e proporcionar a ação dos
mercadores que traficavam a matéria prima e demais produtos necessários para sua realização.
Frente a isso, sua prática liberou as cidades de muitos gastos ao financiar a construção de
templos, aquedutos, fóruns, espaços de ócio (termas, teatros, anfiteatros e circo), favorecendo,
assim, o desenvolvimento urbanístico – monumental local 321 . Em outro nível de atuação,
estava a dedicação de estátuas ou a construção de epígrafes votivas em homenagem à domus
imperial ou a indivíduos específicos. Nos mais diversos casos, a honra adquirida mediante a
realização dos atos benemerentes conferia aos seus idealizadores a possibilidade de ingresso
na memória cívica da cidade, honra esta que poderia ser empregada pelo benemerente ou seus
familiares nas ações políticas a nível municipal e/ou imperial322.
À luz da Lex Irnitana, capítulo 31, e da Lex Coloniae Genetivae Iuliae, capítulo 67,
compreende-se que legere e sublegere são usados para se referir à eleição pelos decuriões dos
321
RODRIGUES NEILA, J. “Políticos Municipales y Gestión Publica en la Hispania Romana” In.: POLIS.
Revista de ideas y fornias políticas de la Antigüedad Clásica 15. 2003, p.166.
322
FERRER MAESTRO, J. ‘Em torno a la ejecucion de las obras públicas em la Hispania Romana: promotores
y artifices’. In.: Millars. Geografía e Historia, 1991, nº 14, pp.101-117; RODRIGUES NEILA, J. M. ‘Politicos
municipales y gestión pública em la Hispania Romana’. In.: Polis: revista de ideas y formas políticas de la
Antiguedad Clásica, nº 15, 2003, pp. 161-197; BLÁZQUEZ MARTINEZ, J. M. ‘El evergetismo em la
Hispania romana’. In.: Homenaje Académico a D. Emilio García Gómez, Madrid, 1993, pp. 371-382.
323
RODRIGUEZ NEILA, J. F. & MELCHOR GIL, E. ‘Ordines decurionum: procedimientos jurídicos de
integración y de vinculación honorífica (con especial referencia a Hispania)’. In.: CABALLOS RUFINO, A. F.
(org) Del município a la corte: La renovación de las elites romanas. Sevilla: Universidad de Sevilla, 2012, p.
245.
153
novos membros do Senado que possuíssem todos os requisitos para a investidura no cargo.
Em sua forma substantivada, refere-se à ação de eleger e não necessariamente ao sistema
utilizado para cobrir as vagas existentes. De acordo com essas legislações, no ano em que o
município tivesse menos de 63 decuriões, os duunviros deveriam convocar os membros da
cúria para eleger novos membros. Essa eleição poderia seguir por duas formas: através da
lectio e mediante a sublectio.
A cooptatio, por sua vez, designaria o ato através do qual os membros de uma
corporação ou collegia elegiam ou admitiam novos indivíduos em substituição aos membros
mortos ou expulsos. Assim, os novos integrantes escolhidos por decisão dos membros do
ordo seriam integrados a cúria por cooptação325.
324
MENTXAKA ELEXPE, R. El senado municipal em la Bética hispana a La luz de la Lex Irnitana.
Madrid: Instituto de Ciencias de la Antigüedad (UAM), 1993, pp. 83-89; RODRIGUEZ NEILA, J. F. &
MELCHOR GIL, E., op cit, p. 246.
325
ZARA, A. & EULA, E. ‘Cooptatio’. In.: Novissimo digesto Italiano, T. IV. Turín, 1981, pp. 841-842;
RODRIGUEZ NEILA, J. F. & MELCHOR GIL, E., op cit, p. 247-248.
326
Op cit, p. 249.
327
Garnsey, P. op. cit, p. 315-320.
154
Frente a isso, vale destacar alguns desdobramentos possíveis para a adlectio: (1) a
adlectio inter cives, onde se permitia o ingresso no ordo de pessoas que não possuíam a
cidadania local, mas que fossem originárias da mesma província ou procedente de outra,
distinta; (2) a adlectio ex beneficio, concedida como benesses de uma autoridade superior, via
nominatio imperial, por exemplo; (3) adlectio fora da idade legal, ou seja, abaixo dos 30
anos 328 ; (4) adlectio inter aedilicii, que permitia a certos jovens ingressar diretamente no
duunvirato, sem competir pelas magistraturas menores e sem ter que aguardar por três anos
após o exercício da edilidade para poder ascender a uma magistratura seguinte.
De todo modo, uma vez ingresso no conselho local via adlectio, o novo decurião
deveria pagar a summa honoraria, e poderia desenvolver o cursus honorum como pedani,
aedilicii, duunviralicii, quinquennalicii, etc. Assim, as fórmulas apresentadas indicam uma
pluralidade na tipologia de integração dos indivíduos no ordo, seja da cidade em questão ou
de outras cidades provinciais. No caso especifico da adlectio, observa-se a possibilidade de
aceleração das carreiras políticas dos mais novos, assim como também dos forasteiros que
haviam cumprido a carreira militar.
328
Durante a Republica a idade limite para o acesso ao conselho local era de trinta anos, mas durante os séculos I
e II a idade foi rebaixada para 25 anos, já anunciado por Augusto. Já em época severiana, no século III, se
admitia magistrados com menos de 25 anos, mas sem direito ao voto. (Digesto 50, 4, 8 e 50, 2, 6,1, legislação
estudada por KLEIJWEGT, M. Ancient youth: the ambiguity of youth and the absence of adolescence in
Greco-roman society. Amsterdam: J C Gieben, 1991, pp. 304-308, GARNSEY, P. op. cit, p. 316-317).
329
FINLEY, M. Política no mundo antigo. Lisboa: Edições 70, 1997; CHRISTOL, M. & NONY, D. Roma e o
seu Império: das origens às invasões bárbaras. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1999; LE ROUX, P.
Romanos de España: ciudades y política en las provincias (siglo II a. C. – siglo III d. C.). Barcelona:
Bellaterra, 2006 (1995 - 1ª edição).
330
PEREZ ZURITA, A. D. ‘Movilidad y categorias en los Ordines Decurionum’. In.: CABALLOS RUFINO, A.
F. (Org) Del município a la corte: la renovación de las elites romanas. Sevilla: Universidad de Sevilla, 2012,
pp. 272.
155
Quais critérios são utilizados, então, para identificar o seleto grupo das pessoas que
integraram os ordines decurionum? Essa é a pergunta chave realizada por Pérez - Zurita no
estudo da mobilidade e das categorias formativas dos ordines331. No enfoque da dinâmica do
poder local, o autor destaca que muitos historiadores corroboram a hipótese de que cada ordo
decurionum deveria estar dominado por algumas poucas famílias, ainda que seu número fosse
mais ou menos elevado em comunidades de certa importância, como por exemplo, as capitais
conventuais ou provinciais, onde haveria maiores possibilidades de promoção social.
Contudo, o conceito de elite supõe assumir que estamos perante um seleto grupo de pessoas,
isto é, de modo implícito, referimo-nos a poucas pessoas. Assim, concordamos com Perez
Zurita e Keith Hopkins332 na argumentação de que, por motivos biológicos, poucas famílias
não poderiam ter monopolizado as magistraturas, sobretudo se considerarmos que a baixa taxa
de natalidade não viabilizaria a atomização do patrimônio das mesmas.
Nessa perspectiva, o estudo das formas de acesso e mobilidade dos ordines torna-se
uma das frentes possíveis para investigar as estratégias de composição e renovação dos
grupos. Para tanto, Zurita analisa o fenômeno a partir do album ordinis (álbum com a lista dos
decuriões) de algumas cidades entre os séculos II e III d. C., a saber: Canusium, localizada no
sul da Itália do ano 223 d. C., Thamugadi, no norte da África e Ostia, na Península Itálica.
331
Op. cit. p. 273
332
PEREZ ZURITA, A. D. op cit, p. 273; HOPKINS, K. Death and renewal. Cambridge: Cambridge
University Press, 1983, p. 73. Vide ainda, SETTIPANI, C. Continuité gentilice et continuité familial dans les
familles senatoriales romaines a l’epoque imperial: mithe et realité (Unit for Prosographical Research).
Oxford: Linacre College/University of Oxford, 2000.
333
PEREZ-ZURITA, A. D. op cit,p. 274;
156
Outra questão a ser evidenciada quando se fala nas formas de vinculação ao ordo
decurionum consiste na investigação das formas fictícias de adesão, isto é, que não significam
uma incorporação direta no Senado, mas que podem demonstrar a adesão simbólica ao
sistema. Aqui referimo-nos diretamente aos símbolos honoríficos e aos signos de status que
distinguiam os membros, os chamados ornamenta ou o direito de usar as insigniae dignitatis,
334
A referência alude aos estudos de MACKIE, N. Local Administration in Roman Spain A.D. 14-212.
Oxford: B.A.R., 1983; FOLCANDO, E. ‘Cronologia del cursus honorum municipale’. In.: CHELOTTI, M. &
PANI, M. (Edt) Epigrafia e Territorio: política e società. Temi di antichità romane V. Bari: Edipuglia, 1999.
335
Muito embora tal obra esteja distante cronologicamente do período em estudos, vale destacar a continuidade
do desenvolvimento das possibilidades jurídicas do acesso ao cargo ainda no século VI. Para mais informações
sobre o tema, vide a publicação: CARLOS MARTIN, J. Lecciones de derecho privado romano. Buenos Aires:
Universidad Nacional de La Plata (Edulp), 2011.
336
Além dos estudos de Perez-Zurita, op cit, p. 275, vide o trabalho de ABASCAL PALAZÓN, J. M. ‘Pedestal
ecuestre para C. Laetilius M. f. em Carthago Nova (hispania Citerior)’. In.: Revista Mastia 9 - Revista del
Museo Arqueológico Municipal de Cartagena, 2009, pp. 103-113.
337
Ao observamos a documentação epigráfica de outras regiões, o que se percebe é uma escolha, por parte do
indivíduo de registrar só o duunvirato, mesmo havendo desempenhado outras magistraturas, como no caso de L.
Calpunius Danquinus, que recebeu uma honra como duunviro (CIL II/ 5, 498), mas também aparece como edil,
duunviro e prefeito em sua lápide funerária (registrada no CIL II/ 5,520). Ou ainda, C. Laetilius, de Carthago
Nova, conhecido pela magistratura quinquenal, mas que desempenhou um cursus honorum mais amplo, com a
edilatura, o duunvirato
157
338
RODRIGUEZ NEILA, J. F. & MELCHOR GIL, E. op cit, p. 260.
339
Cronologicamente, os ornamenta se situam no século II d. C., sendo os de tipo decurionalia os mais
frequentes na Itália e nas províncias.
340
Não foram encontrados ornamenta da questura.
341
A maior parte dos ornamentarii foram localizados na Itália. G. L. Gregori recompilou cerca de cinquenta e
cinco casos de trinta cidades (GREGORI, G. L. ‘Concessione degli ornamenta decurionalia nelle città dell’Itália
setentrionale’. In.: SARTORI, A. & VALVO, A. (Edts.) Ceti medi in Cisalpina: l’epigrafia dei ceti intermedi
nell’Italia settentrionale di ETA romana. Milão: Civico Museo Archeologico, 2002, pp. 37-48).
342
Todos registrados no CIL II e distribuídos pelas cidades: Arva, Hispalis, Salpensa, Singilia Barba, Ugia,
Lucurgentum, Carisia Aurelia e Barcino.
343
Também registrados no CIL II e localizados nas cidades: Barcino, Dertosa, Tarraco e Edeta.
158
No estatuto de Urso344, o uso da toga praetexta aparece definido como próprio dos
ordines, sendo extensivo também aos ornamentarii, que, em casos excepcionais, ainda
poderiam sentar-se ao lado dos magistrados e decuriões durante os espetáculos e os banquetes
oficiais345. O que se estende também para a assistência durante os sacrifícios públicos e em
relação aos ritos funerários: quando poderiam receber os mesmos ritos fúnebres próprios dos
decuriões e magistrados346 sem haver exercido tais funções.
344
Capítulos 62 e 66.
345
Como indicado na Lex Irnitana, capítulos 77 e 92.
346
CIL III, nº 1933.
347
SERRANO, J. M. ‘Consireaciones sociales acerca de los ornamenta municipales con especial referencia a los
libertos’. In.: CHASTAGNOL, A., DEMOUGIN, S. & LEPELLEY (Edts.) Splendidissima civitas: études
d’histoire romain en homage à François Jacques. Paris: Publications de la Sorbonne, 1996; RODRIGUEZ
NEILA, J. F. & MELCHOR GIL, E. op cit, p. 265.
348
FASOLINI, D. ‘La fórmula Decreto Decuriorum en la epigrafia de la Península Italiana’. In.: MELCHOR
GIL, E., PÉREZ ZURITA, A. D. & RODRIGUEZ NEILA, J. F. Senados municipales y decuriones em el
Occidente Roman.Sevilla/ Cordoba: Secretariado de Publicaciones de la Universidad de Sevilla/ Serviço de
Publicaciones de la Universidad de Córdoba, 2013.
159
como ordo, senatus, decuriones, municipium, res publica ou similares. Dentre as inscrições
‘assinadas’ pela coletividade, identificamos os seguintes casos nos conventus da província:
Conventus: Pacensis
Reg. Civitas Fórmula Latina Transcrição Cron.
169 Ammaia Oppidi Constitvti Opido Constituído N/A349
59 Balsa Res-Pvblica Republica II d. C.
63 Balsa Balsensivm (dentre os) Balsenses II d. C.
57 Balsa Civibvs Cidadãos II - III d. C.
38 Ebora Re- Publica Republica N/A
73 Miróbriga Adlecto Italiensi Cidadão I d. C.
66 Myrtilis Municipes Munícipes 164 d. C.
67 Myrtilis Cvnctis ‘todos’ II d. C.
46 Ossonoba Res-Publica Republica III d. C.
49 Ossonoba Civitas (a) Cidade III d. C.
93 Pax Ivlia Rem-Publicam Republica N/A
79 Salácia Rem-Publicam Republica I d. C.
80 Salácia Pleps População I d. C.
Conventus: Scallabitanus
Reg. Civitas Fórmula Latina Transcrição Cron.
150 Olisipo municipes municipii (e) munícipes do município N/A
174 Olisipo Felicitas Iulia (Colônia) Felicitas Iulia N/A
(Olisipo)
175 Olisipo Felicitas Iulia Olisipo (Colônia) Felicitas Iulia 176-180 d.
Olisipo C.
17 S/ L350 populo qui conveniunt Artica (ao) povo que se reúne na
caput capital Ártica
349
Não Apresentada.
350
Sem Localização.
160
Na análise dos casos agrupados por nós, subdividimos o corpus epigráfico em três
grandes grupos: (a.) os casos de concessão honorífica, (b.) os casos nos quais registram
diretamente a fórmula Decreto Decuriorum, e (c.) os personagens privados que honram os
membros da domus imperial. Apresentaremos, portanto, a distribuição dos casos catalogados
com a fórmula Decreto Decuriorum por conventus.
351
FASOLINI, D. op cit, 2013, p.57-68.
161
Civitas Reg. Tipo de Texto Texto latino transcrito para o português Cron.
059 Honorífica (...) por decreto dos decuriões, a República de Balsa (...) Meados século II d. C.
O último ponto selecionado por nós para o estudo das formas de integração das elites
provinciais ao sistema de domínio romano consiste nas estreitas relações econômicas entre os
grupos e o poder central352.
352
Desde a década de 1960, historiadores se debruçam no estudo das economias antigas, sobretudo nos casos do
mundo Greco-romano. Dentre os modelos interpretativos construídos, é possível reconhecer dois grandes
grupos: a corrente modernista/ formalista, dedicada à compreensão da existência de analogias entre as sociedades
antigas mais desenvolvidas e o capitalismo moderno. Nessa leitura, as sociedades possuiriam elementos pré-
capitalistas, já sendo observável a relação de oferta e demanda. Paralelamente estaria a vertente primitivista/
substantivista, a qual compreende que os sistemas econômicos da antiguidade configuram ‘economias distintas’,
radicalmente diferentes da capitalista, tornando-se impossível aplicar o modelo da economia ocidental para
compreendê-las. Nesse modelo interpretativo, não se reconhece o mecanismo de oferta e demanda, mas sim
(dependendo do contexto), relações ligadas ao universo do parentesco, relações de poder, etc. Para não esgarçar
o limite temático do presente capítulo, não nos debruçaremos sobre tais teorias, assim, para uma introdução ao
estudo do tema vide os trabalhos de FINLEY, M. A Economia antiga (Volume 2 de Colecção Biblioteca das
ciências do homem: História). Lisboa: Afrontamento, 1980; DEININGER, J. ‘A teoria econômica dos Estados
antigos: a questão do capitalismo na Antiguidade na visão de Weber’. Tempo soc., São Paulo, v. 24, n. 1, p. 61-
84, 2012; PALMEIRA, M. S. Moses Finley e a economia antiga: a produção social de uma inovação
historiográfica (tese). São Paulo: FFLCH, 2007.
353
FABIÃO, C. ‘A dimensão atlântica da Lusitânia: periferia ou charneira no Império Romano?’, In.: Gorges, J.-
G., ENCARNAÇÃO, J. d’., NOGALES BASARRATE, T. & CARVALHO, A. (Edt.) Lusitânia Romana,
entre o mito e a realidade: Actas da VI Mesa-Redonda Internacional sobre a Lusitânia Romana. Cascais:
Câmara Municipal de Cascais, 2009, p. 53.
354
FABIÃO, C. ‘Cetárias, ânforas e sal: a exploração de recursos marinhos na Lusitania’. In.: Estudos
Arqueológicos de Oeiras, 17, Oeiras, Câmara Municipal, 2009, p. 555-594.
164
355
Op. cit., 2009, p. 56.
356
Dentre os trabalhos mais importantes, citamos como bom ponto de partida para a abordagem do
problema a obra de José Maria Blázquez, Historia económica de la Hispania Romana, Madrid,
1978, . No tratamento do território português, merece destaque a análise de Jorge de Alarcão, ‘A
produção e a circulação dos produtos’, publicado em Nova História de Portugal, I, Lisboa, 1990, p.
409-41; e a rica investigação de Vasco Mantas, ‘As cidades marítimas da Lusitânia’, publicado em
Les Villes de Lusitanie Romaine, Paris, 1990, p. 149-205, por fim, os estudos de Robert Étienne e
Françoise May et, intitulado ‘Laplace de la Lusitanie dans le commerce mediterranèen’, publicado em
Conimbriga, XXXII-XXXIII, 1993-1994, p. 201-218.
357
MANTAS, V. G. ‘Navegação, economia e relações interprovinciais: Lusitânia e Bética’. In:
HVMANITAS- Vol. L, 1998, pp. 199-239.
358
Vale destacar os importantíssimos achados arqueológicos realizados pelas pesquisas subaquáticas. Para a
análise do tema, vide os estudos de: Bombico, S. ‘Arqueologia Subaquática Romana em Portugal – Evidências,
165
relevância das atividades comerciais desenvolvidas. Assim, nos últimos anos, a franja
Atlântica ganhou novas perspectivas analíticas, sobretudo em relação às práticas econômicas
contextualizadas na fachada ocidental do Império Romano359.
Tais investigações permitiram não apenas construir uma nova ideia do Império
Romano, mas também reequacionar e resignificar o papel da província da Lusitânia 360. Por
outro lado, apesar de não apontar para um estudo dos materiais arqueológicos representativos
do comércio marítimo, não é possível duvidar da existência de uma 'cultura marítima' bastante
ativa no litoral provincial, principalmente, a partir dos dados epigráficos e imagéticos já
Perplexidades e Dificuldades’. In.: Actas das IV Jornadas de Jovens em Investigação Arqueológica (JIA
2011), Vol.II, Promontoria Monográfica 16, Universidade do Algarve, Faro, 2011, pp.99-106.
359
Destacam-se os estudos de: REMESAL RODRÍGUEZ, J. La Annona Militaris y la exportación de aceite
betico a Germania, con un corpus de sellos en ánforas Dressel 20 hallados en: Nimega, Colonia, Mainz,
Saalburg, Zugmantel y Nida. Madrid: Universidad Complutense, 1986;__________. ‘El abastecimiento militar
durante el Alto Imperio Romano: un modo de entender la economía antigua’. Boletim do CPA 17:163-182,
2004; __________. ‘Provincial interdependence in the Roman Empire: an explanatory model of Roman
economy’. In. FUNARI, P.P.A., GARRAFFONI, R. S. & LETALIEN, B. (Eds.) New Perspectives on the
Ancient World Modern perceptions, ancient representations (BAR Inter.Series 1782). Oxford: Archeopress,
2008, pp. 155-160; NAVEIRO LÓPEZ, J. L. El Comercio Antiguo en el N.W. Peninsular. Lectura Histórica
del Registro Arqueológico. Coruña: MuseuArqueológico, 1991, __________. ‘Registro cerâmico e
intercâmbios en el Noroeste en la época romana’. In.: FERNÁNDEZ OCHOA, C. (Ed.) Los
finisterresatlánticos en la antigüedad: época prerromana y romana(Coloquio Internacional): homenaje a
Manuel Fernández Miranda, 1996, pp.201-204.; CHIC GARCÍA, G. ‘Roma y el mar: del Mediterraneo al
Atlántico’. In.: ALONSOTRONCOSO, V. (Ed.) Guerra, exploraciones y navegación del
mundo Antigua a la edad moderna (Ferrol, 1994). Coruña: Universidade da Coruña, 1995, pp.55-
89;__________. ‘La “Gaditanización” de Hispania’. In.: Andalucía: reflexiones sobre su Historia. Sevilla:
Padilla Libros, 2003, pp. 7-44; CARRERAS, C. Economia de la Britannia Romana: La Importación
de Alimentos. Barcelona: Publicaciones Universidad de Barcelona, 2000; __________. ‘Consumo de Salazones
Béticos desde Época de Augustoa Los Julio-Claudios: Mercados Emergentes en AsturicaAugusta (Astorga),
Barcino (Barcelona) y Oppidum Cugernorum(Xanten)’. In.: Actas del Congreso Internacional CETARIAE:
salsas y salazones de pescado en Occidente durante la Antigüedad. Oxford: Archaeopress, 2005, pp. 215-
220.
360
No contexto português observam-se os estudos de FABIÃO, C. ‘A Exploração dos Recursos Marinhos’. In.:
Portugal Romano: a exploração dos recursos naturais. Lisboa: MNA, 1997; __________. ‘O vinho na
Lusitânia: reflexões em torno de um problema arqueológico’. In.: Revista Portuguesa de Arqueologia I(1), 1998,
pp. 169-198; __________. ‘Caminhos do Atlântico Romano: Evidências e Perplexidades’. In.: FERNÁNDEZ
OCHOA, C. & GARCÍA DÍAZ, P. (Eds.) III Colóquio Internacional de Arqueología en Gijón. Unidad y
diversidad en el Arco Atlántico en época romana. Gijón: s/e. 2005, pp. 83-85;__________. ‘A dimensão
atlântica da Lusitânia: periferia ou charneira no Império Romano?’, In.: Gorges, J.-G., ENCARNAÇÃO, J. d’.,
NOGALES BASARRATE, T. & CARVALHO, A. (Edt.) Lusitânia Romana, entre o mito e a realidade:
Actas da VI Mesa-Redonda Internacional sobre a Lusitânia Romana. Cascais: Câmara Municipal de
Cascais, 2009. Vê-se ainda os trabalhos de MANTAS, V. ‘As cidades marítimas da Lusitânia’. In.: Les Villes de
Lusitanie Romaine. Hiérarchies et Térritoires (Talence, 1988). Paris: Centre National de la Recherche
Scientifique, 1990, pp.149-205;__________. ‘Navegação, economia e relações interprovinciais: Lusitânia e
Bética’. In.: Humanitas 50, 1998, pp. 199-240;__________. ‘As villae marítimas e o problema do povoamento
do litoral português na época romana’. In.: GORGES, J.-G. & RODRÍGUEZ MARTÍN, G. (Eds.) Économie et
Territoire en Lusitanie Romaine. Madrid: Casa de Velázquez, 1999, pp. 135-156;__________. Portos
Marítimos Romanos. Lisboa: Academia da Marinha, 2000;__________. ‘O Atlântico e o Império Romano’.
In.: Revista Portuguesa de História 36(2), 2002-2003, pp. 445-468, e ;__________. ‘A Lusitânia e o
Mediterrâneo: identidade e diversidade numa província Romana’. In.: Conimbriga XLIII, 2004, pp. 63-83.
MORAIS, R. ‘Contributo para o estudo da economia na Lusitânia romana’. In.: Saguntum 40, 2007, pp. 133-
140.
166
361
conhecidos . A carência das referências concretas dos portos lusitanos reflete as
características especiais da navegação regional, relacionada com a cabotagem e com a prática
de transbordo de mercadorias em portos de trânsito. Por outro lado, deve-se considerar
também a sua integração num setor marítimo controlado pelos portos béticos desde a época
anterior ao domínio romano, limitando de forma persistente o desenvolvimento da navegação
direta entre a Lusitânia e outras regiões do Império.
Nesta lógica, a existência de uma extensa atividade de exploração de recursos
marinhos é observável a partir da distribuição ao longo da costa de inúmeros pontos de
povoamento com vestígios de ânforas cetárias 362 . Esta produção pode ser associada à
observação da cartografia de distribuição destes vestígios, o que aponta para o denso
povoamento costeiro de época romana. Estes testemunhos arqueológicos evidenciam que a
produção de preparados de peixe (garum) destinava-se não só a um consumo local e regional,
mas à exportação, daí a identificação de um grande número de centros oleiros produtores de
ânforas para o transporte de preparados piscícolas363.
No mapa a seguir é apresentada a distribuição dos centros produtores de ânforas
usadas para transportar tal condimento, com destaque para a relação entre a localização destas
olarias e os sítios arqueológicos com cetárias.
361
Aqui, referimo-nos aos mosaicos de temática marítima encontrados na Villae, e ao acervo epigráfico-
imagético de importância considerável. Dentre os inúmeros estudos existentes, citamos algumas referências: ‘O
mosaico luso-romano de Póvoa de Cós’, de Irinalva Nóbrega Moita. No território português da Lusitânia o
evergetismo exprime, salvo raras exceções, a ação dos grandes centros marítimos, vale recordar a construção do
proscénio e da orquestra do teatro de Olisipo (CIL II 183) e do pódio do circo de Balsa (CIL II 5165,5166/ IRCP
76,77).
362
FABIÃO, C. ‘Centros oleiros da Lusitania. Balanço dos conhecimentos e perspectivas de investigação’. In.:
Actas del Congreso Internacional FIGLINAE BAETICAE. Talleres alfareros y producciones cerámicas
en la Bética romana (ss. II a.C. – VII d.C.), Universidad de Cádiz, Noviembre 2003, B.A.R., int. ser., 1266,
Oxford, 2004, pp. 379-410; LAGÓSTENA BARRIOS, L. La producción de salsas y conservas de pescado en
la Hispania Romana: (II a.C. - VI d.C.) (Collección instrumenta 11). Barcelona: Universidade de Barcelona
Publicações, 2001.
363
Vide a produção da ânfora Dressel 14b, indiscutivelmente produzida na Lusitânia, nomeadamente no vale do
Sado.
167
Mapa 10 - Distribuição dos centros oleiros da Lusitânia por Carlos Jorge Fabião 364
364
Disponível em: ‘A dimensão atlântica da Lusitânia: periferia ou charneira no Império Romano?’, In.: Gorges,
J.-G., ENCARNAÇÃO, J. d’., NOGALES BASARRATE, T. & CARVALHO, A. (Edt.) Lusitânia Romana,
entre o mito e a realidade: Actas da VI Mesa-Redonda Internacional sobre a Lusitânia Romana. Cascais:
Câmara Municipal de Cascais, 2009, p. 62.
365
MANTAS, V. G. op. cit, 1998, pp. 210-215..
366
MARTINS, C. M. B. A exploração mineira romana e a metalurgia do ouro em Portugal. Braga: Unidade
de Arqueologia da Universidade do Minho, 2008.
367
ARIÑO GIL, E & DIAZ, P. C. ‘La economia agraria de la Hispania Romana: colonización y territorio’. In.:
Stvd. Hist.,Historia Antigua 17,1999, pp. 153-192.
168
estreita relação entre a Lusitânia e a Bética. Frente a isso, o autor defende a hipótese do
desenvolvimento do comércio marítimo baseado na importância da cabotagem na navegação
antiga, isto é, na forma como foram organizadas as correntes comerciais entre a Península e
outras regiões do Império, e na integração da extensa fachada marítima lusitana num espaço
atlântico controlado durante o Alto Império a partir dos grandes portos béticos.
Durante o período republicano a Salácia368 foi o porto mais importante da região que
recebeu a província da Lusitânia, o que aponta para a hipótese da continuidade das estruturas
do comércio marítimo pré-romano. Quanto a isso, Mantas369 defende ideia de que a integração
do comércio marítimo ao domínio romano foi desenvolvida através da dupla ação da
concorrência externa e da evolução das elites locais que o controlavam. Nessa leitura, a região
já teria acompanhado outros centros portuários da Hispania Ulterior na adesão aos partidários
de Pompeu, durante o primeiro Triunvirato (na segunda metade do século I a. C.).
Compreende-se, assim, a existência de uma comunidade de interesses cujo elo
fundamental era constituído pelo mar. Outro exemplo pode ser vislumbrado na fidelidade de
Gades a César, no que terá sido acompanhada por Olisipo, contrária ao movimento
generalizado de apoio aos pompeianos, ainda na segunda metade do século I a. C. Como
sinaliza o autor, tais eventos podem apontar tanto para a ação de clientelas cesarianas, como
para a existência de tensões anteriores de caráter econômico ou cultural. Destarte, Cádis teria
saído do período das guerras civis com a sua posição particularmente reforçada, ascendendo
ao estatuto de Municipium civium romanorum ainda 49 a. C, estatuto recebido por Olisipo
apenas sob o governo de Augusto. Logo, a ascensão de Olisipo à condição de municipium e
de principal porto da costa lusitana foi facilitada pelas relações com Gades e pelo fato das
estruturas administrativas provinciais serem as mesmas 370 , o que constituia o litoral da
Hispânia Ulterior em um setor único371.
Em relação à navegação entre o Mediterrâneo e o Atlântico, o desenvolvimento global
das atividades marítimas no quadro Pax Romana, permitiu articular de forma racional os
368
A denominação romana oficial da cidade de Alcácer do Sal foi Urbs Imperatoria Salacia, atribuído por Sexto
Pompeio. O primeiro elemento, Urbs, encontrado apenas na toponímia oficial das grandes cidades marítimas
hispânicas, realça a importância atingida pela cidade. Já o segundo termo, Imperatoria¸demonstra que ela foi
distinguida por um imperator. Já o último termo, Salacia, pode fazer referência à lógica que presidiu à
denominação da cidade, não a referência à existência de salinas na região, mas sim à deusa Salaca, esposa de
Neptuno. Para Vasco Gil Mantas, essa proposta de compreensão dos tria nomina da civitas refere-se ao o
império do mar detido pelos pompeianos e cujas características permitem a sua inclusão num grupo de
denominações republicanas já conhecidas na região (MANTAS, op cit, 1988, p. 222).
369
MANTAS, V. G. op. cit, 1998, pp. 221.
370
FABIÃO,C. ‘Modelos forenses nas cidades da Lusitania: balanços e perspectivas’. In.: NOGALES
BASARRATE, T. (Edt.). Ciudad y foro en Lusitania Romana. Studia Lusitana nº 4. Mérida: Junta de
Extremadura/MNAR, 2010.
371
MANTAS, V. G. op. cit, 1998, pp. 221-222.
169
diversos tráficos e rotas. É neste contexto que se deve integrar e interpretar o transporte dos
produtos lusitanos, escoados em grande parte através de navegação de cabotagem até aos
portos béticos da costa atlântica, onde eram transbordados para os navios que os conduziam
para os portos italianos ou para a Província da Narbonense. A distribuição de ânforas de
Tritium Magallum, largamente difundida na Lusitânia (cujo centro de distribuição teria sido a
colônia de Augusta Emerita), representam evidência desse processo372. Tal fato nos permite
avançar na hipótese de que a sua difusão na Bética tenha a ver com portos lusitanos,
eventualmente Olisipo ou Salacia, uma vez que a via Emerita-Hispalis, por Itálica, era
insipiente no trecho bético373.
Concordamos com Mantas na tese de que a criação das províncias Bética e
Lusitânia 374 acelerou o processo de enfraquecimento da Salacia 375 . Nessa perspectiva, o
municipium Olisipo pode ser considerado, tendo em conta o seu estatuto jurídico, as suas
funções de caput viarum e a excelência do seu porto, como autêntica capital litoral da
província376. O que se conhece das classes dirigentes de Olisipo e de Salacia demonstra que
em Olisipo, apesar da importância dos libertos, o domínio da economia se deu por parte de
uma aristocracia majoritariamente oriunda da emigração italiana, enquanto em Salácia a
intervenção dos libertos na vida pública parece determinante.
Por fim, destaca o autor, a conquista da Mauritânia, durante o principado de Cláudio,
apoiada a partir do Sudoeste hispânico, permitiu reunificar o espaço econômico definido
anteriormente pela ação fenício-púnica. Tal fato teve um importante desdobramento na Bética
e na Lusitânia, refletindo na atribuição do estatuto municipal a Baelo377 e, possivelmente, a
Ossonoba, ao mesmo tempo em que, na Mauritânia, Tingis (Tânger), Lixus (Larache) e
Volubilis ascenderam ao estatuto colonial, constituindo-se em promoções jurídicas claudianas
que destacam a unidade da área a ocidente do Estreito de Gibraltar378.
372
ALARCÃO, J. ‘As vias romanas de Olisipo a Augusta Emerita’. In.: Conimbriga, nº 45. Coimbra: Instituto
de Arqueologia, 2006, pp. 211-251.
373
MANTAS, V. G. op. cit, 1998, pp. 212-213, 223. Vida ainda, MANTAS, V. G. As vias romanas da
Lusitânia – Studia Romana n. 7. Mérida: MNAR, 2012.
374
Alguns autores datam a fundação da Província da Lusitânia em 27 a. C. (vide capítulo 2 da presente tese).
Vasco Gil Mantas não concorda com essa datação e atribui a datação entre os anos de 16 e 13 a. C.
375
MORAIS, R. M. L. de S. & Bernardes, J. P. L. Cornelius L. F. Bocchus E a Economia Da Lusitania.
Lisboa: Academia Portuguesa da História/ Madrid: Real Academia de la Historia, 2011.
376
Apesar da atividade desenvolvida por personalidades como L. Cornelius Bocchus, cujo cognome realça as
relações com a Mauritânia neo-púnica.Vide os registros de nº 83, nº 114, nº 78 e nº 82 do corpus epigrafico da
tese, e também o CIL II 35=IRCP 185; IRCP 188; CIL II 5617=EE VIII 4=IRCP 189; CIL II 5184=ZRCP 204.
377
Civitas considerada ‘porto de trânsito’ em relação às mercadorias exportadas pela Mauritânia Tingitana.
378
MANTAS, V. G. op. cit, 1998, pp. 212-213, 223.
170
Tais dados nos permitem concordar com o que Aarón A. Reyes Domínguez 379 chamou
de economia de circuito, na análise das relações econômicas desenvolvidas ao longo do Alto
Império Romano. Para o autor, a existência de relações comerciais e de mercado ao mesmo
tempo em que a frequente geração de lobbies com influência sobre a estrutura administrativa
central, criou um tipo específico de intercâmbios pessoais.
Dialogando com tais assertivas, Aldo Schiavone383 salienta que a economia imperial
Romana apresentou uma estruturação que se aproxima da ideia de uma ‘economia dual’.
Tratar-se-ía de um conjunto de iniciativas que coexistiram no tempo e espaço, cuja orientação
prática seria sustentada por dois planos essenciais, a saber: (a.) uma economia agrário-
mercantil-mineira de base escravista, imbricada nos circuitos comerciais mediterrânicos e
379
‘Economía de circuito y la renovación de los grupos de influencia provinciales em la metrópoli’. In.:
CABALLOS RUFNIO, A. F. (Edt.) Del municipio a la corte: la renovación de las elites romanas. Sevilla:
Secretariado de Publicaciones de la Universidad de Sevilla, 2012, p. 104ss.
380
ANDREAU, J. ‘L'économie gréco-romaine était-elle capitaliste?’. Conferência proferida no Seminário
“L'argent, l'enrichissement, la richesse de l'Antiquité à la Renaissance”, ocorrida na Université de Picardie Jules
Verne (UPJV), Amiens, França, 2013.
381
DUPRAT, P. P. Economia e Romanização em Bracara Augusta durante o Alto-Império: uma reflexão
comparativa (Dissertação de mestrado). Rio de Janeiro: PPGHC/UFRJ, 2015.
382
ANDREAU, J. op. cit., 2013, p. 6-14.
383
SCHIAVONE, A. Uma História rompida: Roma antiga e Ocidente moderno. São Paulo: Edusp, 2005, pp.
99-100.
171
amparada por uma circulação monetária, numa ampla rede viabilizada pelo domínio romano,
e (b.) uma economia de subsistência orientada para o consumo local ou regional. A
coexistência das duas frentes constituiria, então, a especificidade fulcral da economia imperial
romana384.
384
Vide a análise conjunta dos trabalhos de Aldo Schiavone e o modelo analítico de Keith Hopkins nos estudos
intitulados: ‘Taxes and Trade in the Roman Empire, 200 b. C. - 200 a. C.’ In: Journal of Roman Study, 1980,
p.101-125, e ‘Rome, taxes, rents and trade’. In: SCHEIDEL, W.; REDEN, S. von (Edts.). The Ancient
Economy. New York: Routledge, 2002, p. 190-230.
385
Cujas considerações podem ser lidas em conjunto com os trabalhos de Aldo Schiavone e o modelo analítico
de Keith Hopkins nos estudos intitulados: ‘Taxes and Trade in the Roman Empire, 200 b. C. - 200 a. C.’ In:
Journal of Roman Study, 1980, p.101-125, e ‘Rome, taxes, rents and trade’. In: SCHEIDEL, W.; REDEN, S.
von (Edts.). The Ancient Economy. New York: Routledge, 2002, p. 190-230.
386
MATTINGLY, D. J. ‘Imperial economy’. In: A Companion to the Roman Empire. POTTER, D. S. (Ed.).
Malden, MA: Blackwell, 2006, p. 283-297, e Imperialism, power, and identity: experiencing the Roman
Empire. Princeton: Princeton University Press, 2011, p.145.
387
Fonte: DUPRAT, P. P. Economia e Romanização em Bracara Augusta durante o Alto-Império: uma
reflexão comparativa (Dissertação de mestrado). Rio de Janeiro: PPGHC/UFRJ, 2015, p. 61.
172
388
Deste modo, concordamos com Paulo Duprat na compreensão de que a
conceituação proposta por Mattingly entende a economia romana segundo a lógica da
dinâmica de interdependência e complementaridade entre três entidades econômicas que,
vistas rapidamente, podem parecer desconexas, isto é: uma economia imperial, o conjunto
multifacetado das economias extraprovinciais, e um conjunto de economias provinciais
centradas regionalmente. Assim, se a economia imperial abrangeria as receitas e os gastos do
estado 389 , as economias extraprovinciais incluiriam toda a estrutura necessária para a
movimentação de bens pelas zonas aduaneiras fronteiriças aos territórios provinciais. Estas
deram corpo à expansão na escala e natureza do fluxo inter-regional de bens, no qual apenas
uma parte pode ser atribuída à economia imperial. O terceiro ponto desse sistema analítico
seriam, então, as economias provinciais que, como observado na Província da Lusitânia,
estariam relacionadas com o surgimento ou evolução de sistemas e redes de mercados locais,
caracterizadas pela produtividade rural-mineira-mercantil ou a diversificada atividade
manufatureira390.
388
DUPRAT, P. P. op cit, 2015, p. 62.
389
Incluindo, aqui, o exército, a infraestrutura de governo, o sistema de tributação, a exploração de recursos e o
abastecimento das necessidades da estrutura de governo.
390
MATTINGLY, D. J. op. cit., 2011, p. 138-40.
173
Considerações Finais
Durante o Principado, diante do contato com experiências culturais tão distintas, foram
construídas ‘mensagens oficiais’ que buscavam elaborar uma identidade ‘espaço-imperial’
para os romanos. Neste contexto sociopolítico e cultural, vimos que foram desenvolvidas
obras que buscavam sistematizar os símbolos de referências e atitudes particulares que
delimitavam a cultura imperial romana. Nessa perspectiva podem ser incluídos a
autobiografia de Otávio Augusto, as obras de Estrabão e Plínio – o – Velho, para citar alguns
exemplos. Como analisamos, em tais obras a fala principal é a descrição romana dos lugares,
pessoas e hábitos culturais das comunidades provinciais.
O presente trabalho teve como proposta matizar essa questão e buscar as outras vozes
na investigação a respeito das relações sociopolíticas desenvolvidas no horizonte do Império
Romano do Ocidente. No entanto, foi preciso considerar que os sistemas culturais da maioria
das comunidades peninsulares não incluía o registro sistemático dos acontecimentos. Por
outro lado, a introdução do hábito epigráfico foi uma realidade trazida pela presença romana.
Diante disso, a busca pelas outras vozes, para além da descrição romana dos acontecimentos,
revela-se um desafio.
Como uma saída possível, optamos por reconduzir o olhar de observação para a
documentação gerada pelo universo peninsular. Nesse sentido, a documentação que, em parte,
auxilia nessa tarefa consiste na intensa e extensa produção epigráfica. Nossa proposta
consistiu, então, em cotejar as informações presentes nos textos oficiais com as adaptações e
ajustes apresentados pela documentação epigráfica. Sabemos que ambos os suportes dialogam
profundamente com a oficialidade romana, mesmo assim, ao se ajustar as realidades locais, a
documentação epigráfica pode salientar aspectos não evidenciados em outros registros
textuais.
Nossa escolha por uma abordagem que tivesse como ponto de partida a perspectiva
sócio-espacial adveio da compreensão de que o estudo da temática espacial consiste em uma
importante ferramenta para análise da visão de mundo e do desenvolvimento das relações
sociais nos diversos grupos, observados tempo e espaço. O espaço é, pois, político,
formulado a partir e na conjuntura dialética das relações sociais. Rememorando as reflexões
174
Deste modo, o Império Romano pode ser visto como um mosaico de cidades, como
bem apontou Pierre Grimal, mas não apenas isso. Na presente investigação, o estudo do
Império Romano foi materializado no destaque dado à problemática dos diversificados
mundos provinciais, sobretudo nas distintas formas de integração dos territórios no quadro
político administrativo propiciado pelo Império Romano. A construção artificial da cidade
provincial romana, isto é, uma circunscrição dotada de uma definição jurídica, delimitada no
espaço e materializada nas construções não pode obliterar a observação da comunidade
enquanto coletividade, vivência cotidiana de pessoas de diversas origens e marcada,
sobretudo, pela heterogeneidade do conviver. Portanto, falar de integração no conjunto do
Império Romano é referir-se a um triplo movimento: geopolítico, jurídico, político-econômico
e, especialmente, social.
momento, o homem selecionou ideias para deixar de si uma imagem para os vindouros”.
Como buscou-se eludicar ao longo dos capítulos dois e três, os monumentos epigráficos,
quando indagados, falam sobre pessoas, indivíduos com nome, filiação, vínculos sociais,
atuações políticas e militares. Por outro lado, quando associados às documentações jurídicas,
auxiliam na compreensão, ainda que teórica, dos parâmetros da relação desenvolvida entre
Roma e as comunidades locais.
dos indivíduos com o espaço da cidade enquanto práticas que viabilizam a inserção de alguns
na memória da cidade. Aqui, a compreensão dos usos políticos do espaço mostrou-se uma
abordagem fundamental. Como hipótese central, defendemos que a produção epigráfica
presente nos espaços públicos foi pensada a partir de dois vetores: (a) uma vez apreendida, a
prática epigráfica foi utilizada como uma estratégia de vivência do espaço social pelos grupos
de elite provinciais, viabilizando sua integração na materialidade do espaço urbano das
civitates, e (b) tendo em vista a ampliação da produção entre os séculos I e II d. C., a prática
epigráfica transformou-se em uma das vias de diálogo, inserção e interação entre as
comunidades locais e o sistema de domínio imperial.
A análise das inscrições epigráficas nos permitiu observar, assim, tanto as expectativas
de poder dos grupos locais, quanto às funções públicas desempenhadas pelos indivíduos, os
vínculos estabelecidos entre as famílias e as formas de relação entre as municipalidades.
Nessa lógica, a prática epigráfica vinculada às ações benemerentes foi vista por nós como
uma forma dinâmica de criar, reforçar e ampliar a imagem pública dos agentes e de afiançar
suas aspirações no jogo político local (regional) e imperial (global); ao mesmo tempo em que
contribuíram para a integração das elites municipais no sistema social imperial romano.
Por fim, a mudança na escala de observação permitiu olhar com mais nitidez as
negociações entre os indivíduos e o mundo social e, paralelamente a isto, problematizar os
desdobramentos dos contatos entre as tradições locais e a visão de mundo imperial. No
contexto das instituições romanas desenvolvidas na província, através da análise da
onomástica pessoal, do registro do cursus honorum dos indivíduos, da demonstração de apoio
e da adesão ao sistema de domínio imperial presentes nos textos epigráficos foi possível
178
Referências Bibliográficas
I. Documentação Textual
AUGUSTO. Res Gestae Divi Avgvsti. LEONI, G. D. (trad). São Paulo: Nobel, 1857.
CICERUS. De legibus. The loeb Classical Library, vol. XVI. Harvard: University Press,
1990.
CICERUS. Des Res Publica. The Loeb Classical Library, vol. XVI. Harvard: University
Press, 1990.
DION CASIO. The Roman History: the reign of Augustus. CARTER, J., SCOTT-
KILVERT, I. (trad. E Introd.). New York: Penguin, 1987.
DION CASIO. Historia Romana – Tomos I e II. Madrid: Gredos, 2004.
ESTRABÃO, ‘Cosmographia’, 2.5.8 Apud. WHITTAKER, C.R. Frontiers of the Roman
Empire. A social and economic study. London: Johns Hopkins University Press, 1994.
p.12ss.
GARCIA y BELLIDO, A. España y los Españoles hace dos mil años. Según la Geografia
de Strabón. Madrid: Espasa-Calpe, 1968.
GUERRA, A. Plínio-o-Velho e a Lusitânia. Lisboa: Colibri, 1995 (coleção Arqueológica e
História Antiga).
PLÍNE L’ANCIEN. Historie Naturelle (Livre IV). ZEHNACKER, H (trad.) Paris: Les
Belles Letters, 1998.
POLIBIO. Historias. Tradução de Mario da Gama Kury. Brasília: UNB, 1996.
ALARCÃO, J. ‘As vias romanas de Olisipo a Augusta Emerita’. In.: Conimbriga, nº 45.
Coimbra: Instituto de Arqueologia, 2006, pp. 211-251.
ÁLVAREZ MARTINÉZ, J-M. ‘El genio de la colonia Augusta Emerita’. In.: Habis 2, 1971,
pp. 257-261.
ÁLVAREZ MARTINÉZ, J-M. “Algunas observaciones sobre el ‘territorium emeritense’”.
In.: Homenaje a Samuel de los Santos. Murcia: Albacete, 1988, pp. 185-192.
ÁLVAREZ MARTINÉZ, J-M. Ciudades Romanas de Extremadura. Barcelona: s/e, 1993,
pp. 129-159.
AMADEO, J. & ROJAS, G. Marxismo, pós-colonialidade e teoria do sistema mundo. In.:
Lutas Sociais (PUC-SP), v. 25/6, p. 35-46, 2011.
ANDREAU PINTADO, J. ‘Augustalidad, servitrato y evergetismo: aproximación a la
promoción social de los libertos em Lvsitania’. In.: Revista Vipasca: Arqueologia e
história, número 7, Aljustrel / Portugal, 1998, pp. 43-50.
ANDREAU PINTADO, J. ‘Construcción pública y municipalización em la Provincia
Hispania Citerior: la época flávia’. In.: Iberia, nº 7, 2004, pp. 39-75.
ANDREAU PINTADO, J. ‘Construcción pública y municipalización em la Provincia
Hispania Citerior: la época flávia’. In.: Iberia, nº 7, 2004, pp. 39-75
ARIÑO GIL, E & DIAZ, P. C. ‘La economia agraria de la Hispania Romana: colonización y
territorio’. In.: Stvd. Hist.,Historia Antigua 17,1999, pp. 153-192
BRADEEN, D. W. ‘Roman citizenship per honorem’.In.: The classical Journal, nº 54, 1959.
CHRISTOL, M. & NONY, D. Roma e o seu Império: das origens às invasões bárbaras.
Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1999.
CRAWFORD, M. H. ‘How to create a municipium: Rome and Italy after the social war’. In.:
Bulletin of the Institute of Classical Studies Special Issue: Bulletin of the Institute of
Classical Studies Supplement 71: Modus Operandi ,Volume 42, Issue S71, pages 31–46,
February 1998.
DUPRÉ RAVENTÓS, X. (Edt.) Las capitals provincials de Hispania (2): Mérida colônia
Augusta Emerita. Roma: L’Erma di Bretschneider, 2004.
DURÁN CABELLO, R-M. El teatro y el anfiteatro de Augusta Emerita: contribuición al
conocimiento histórico de la capital de Lusitania. Oxford: BAR International Series 1202,
2004.
EDMONDSON, J. ‘Romanization and Urban Development in Lusitania’. In.: BLAGG, T. e
MILLETT, M. (Edts.) The early Roman Empire in the West. Oxford: Oxbow Books, 2002.
EDMONDSON, J. C. ‘Romanization and urban development in Lusitania’. In.: BLAGG, F.
C. & MILLETT, M. The Early Roman Empire in the West. Oxford: Oxbow Books, 2002,
pp.152-178.
FOLCANDO, E. ‘Cronologia del cursus honorum municipale’. In.: CHELOTTI, M. & PANI,
M. (Edt) Epigrafia e Territorio: política e società. Temi di antichità romane V. Bari:
Edipuglia, 1999.
GARCÍA FERNÁNDEZ, E. ‘El ius Latii y los municipia latina’. In.: Studia historica.
Historia antigua, nº 9, 1991 (Ejemplar dedicado a: Ius latti y derechos indígenas en
Hispania), págs. 29-42.
GEUS, K. ‘Measuring the Earth and the Oikoumene: zones, meridians, sphragides and some
other geographical terms used by Erastosthenes of Cyrene’. In.:TALBERT, R &
BRODERSEN, K. (Edts.) Space in the Roman World. Piscataway: Münster: LIT, 2004, pp.
11-26.
HETTEMA, T. Memory, History, Oblivion: Ricoeur on the human condition: Ricoeur on the
human condition. In.: Ars Disputandi, 1:1, pp. 75-78, 2001.
HINGLEY, R. ‘Recreating coherence without reinventing Romanization’. In: DIGRESSUS,
The internet journal for the Classical World, 2003, pp. 11-119 Disponível no website:
http://www.digressus.org.
HINGLEY, R. Globalizing Roman Culture. London: Routledge, 2005.
Hispania romana’. In.: BRAVO, G. & GONZÁLEZ SALINERO, R. (Edt.) Formas de
integración em el mundo romano. Madrid: Signifer Libros, 2009, p. 287.
HODGE, A.T. Ancient Greek France. Philadelphia: University of Pennsylvania Press, 1998,
192
HOPKINS, K. ‘Rome, taxes, rents and trade’. In: SCHEIDEL, W.; REDEN, S. von (Edts.).
The Ancient Economy. New York: Routledge, 2002, p. 190-230.
HOPKINS, K. ‘Taxes and Trade in the Roman Empire, 200 b. C. - 200 a. C.’ In: Journal of
Roman Study, 1980, p.101-125.
HOPKINS, K. Death and renewal. Cambridge: Cambridge University Press, 1983, p. 73.
HURLET, F. Rome et l’Occident (IIe siècle av. J.-C. – Iie siècle apr. J.-C.): gouverner
l’Empire. Rennes: Presses Universitaires de Rennes, 2009.
LE ROUX, P. ‘Le territoire de la colonie auguste de Mérida: réflexions pour un bilan’. In.:
GORGES, J.-G. et MARTÍN, G. (Orgs.) Économie et territoire en Lusitanie romaine,
Madrid: Casa de Velázquez, 1999.
LE ROUX, P. La Péninsule Ibérique aux époques romaines (fin du IIIe S. AV. N. È –
début du VI e S. de N. È.). Paris: Armand Colin, 2010.
MACKIE, N. ‘Urban munificence and the growth of urban consciousness in Roman Spain’.
MACKIE, N. Local Administration in Roman Spain A.D. 14-212. Oxford: B.A.R., 1983.
MANTAS, V. ‘As cidades marítimas da Lusitânia’. In.: Les Villes de Lusitanie Romaine.
Hiérarchies et Térritoires (Talence, 1988). Paris: Centre National de la Recherche
Scientifique, 1990, pp.149-205.
MANTAS, V. G. op. cit, 1998, pp. 212-213, 223. Vida ainda, MANTAS, V. G. As vias
romanas da Lusitânia – Studia Romana n. 7. Mérida: MNAR, 2012.
MOSCA, G., Elementi di scienza política (1896) Edição especial com uma segunda parte
inédita. Torino: F. Bocca, 1923. Disponível em:
http://www.liberliber.it/mediateca/libri/m/mosca/elementi_di_scienza_politica/pdf/mosca_ele
menti_di_scienza_politica.pdf, acessado em 17 de dezembro de 2014, às 18h 19min.
NASCIMENTO, A. (Coord.) De Augusto a Adriano: Actas de Colóquio de Literatura
Latina (Lisboa, 29-30 de novembro de 2000). Lisboa: EVPHROSYNE, 2002.
NAVEIRO LÓPEZ, J. L. ‘Registro cerâmico e intercâmbios en el Noroeste en la época
romana’. In.: FERNÁNDEZ OCHOA, C. (Ed.) Los finisterresatlánticos en la antigüedad:
época prerromana y romana(Coloquio Internacional): homenaje a Manuel Fernández
Miranda, 1996, pp.201-204.
PARETO, V., Systèmes socialistes. Paris: V. Giard & E. Brière, 1902. Edição disponível em:
http://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k5525301r, acedido em 17 de dezembro de 2014, às 18h
21min.
PARETO, V., Systèmes socialistes. Paris: V. Giard & E. Brière, 1902. Edição disponível em:
http://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k5525301r, acedido em 17 de dezembro de 2014, às 18h
21min.
PERKINS, P. & NEVETT, L. ‘Essay eight urbanism and urbanization in the roman world’. In
HUSKINSON, J. (Edt.) Experiencing Rome: culture, identity and Power in the Roman
Empire. New York: The Open University, 2000.
POLLAK, M. Memória e Identidade Social. In.: Estudos Históricos, Rio de Janeiro., v. 5, nº
10, 1992, p. 200-212.
POLLAK, M. Memória, Esquecimento, Silêncio. In.: Estudos Históricos, Rio de Janeiro., v.
2, nº 3, 1989, pp. 3-15.
PREUCEL. R. Archaeological Semiotics. Oxford: Blackwell Press, 2006, p258.
QUEIROGA, F.M.V.R. War and Castros. New approaches to the northwestern
Portuguese Iron Age. Oxford: Publishers of British Archaeological Reports Gordon House,
2003.
QUINN, J. ‘Roman Africa?’ In.: DIGRESSUS, The internet journal for the Classical World,
2003, p. 7-34.
REDONDO RODRÍGUEZ, J. A. ; ESTEBAN ORTEGA, J. E SALAS MARTÍN, J. &
SANCHEZ ABAL, J. L. Memórias quinquenales sobre los castros y la necrópolis de la Coraja
(Aldeacentenera – Cáceres). Consejeria de educación y cultura de la Junta de
Extremadura,1991.
ROTH, R. ‘Toward a ceramic approach to social identity in the Roman world: some theorical
consideration’. IN: DIGRESSUS, The internet journal for the Classical World, 2003, pp. 35-
45. Disponível no website: http://www.digressus.org
SACO del VALLE, A. O. ‘El território de las civitates peregrinas en los tratados de
agrimensura: las civitates del noroeste hispano’. In.: Revista Habis, nº 33, 2002, pp. 389-
406.
Mérida. Madrid: Dirección General del Patrimonio Artístico y Cultural del Ministério de
Educación y Ciencia/ Patronato de la ciudad de Mérida, 1976, pp. 19-32.
SAID, E. Cultura e Imperialismo. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
SÁNCHES, A.; CORRALES, J. ‘El processo de Romanización de la Lusitania Oriental: la
creación de asentamientos militares’. In.: GORGES, J-G. e BASARRATE, N. (Orgs.)
Sociedad y cultura en Lusitania romana – IV Mesa Redonda Internacional. Mérida:
Junta de Extremadura, 2000. pp. 85-100.
SÁNCHEZ- BARRERO, P.; GÓMEZ-NIEVEZ, B. ‘Caminos Periurbanos de Mérida’. In.:
MATEOS CRUZ, P.; ALBA CALZADO, M., MÁRQUEZ PÉREZ, J. (Coord.) Mérida:
exacavaciones arqueológicas. Mérida: Memoria, 1998, pp. 549-569.
SÁNCHEZ-PALENCIA, F; MONTALVO, A; GIJÓN, E. “l Circo romano de Augusta
Emerita. In.: NOGALES BASARRATE, T., SÁNCHEZ-PALENCIA, F. (Coord.) El Circo
en Hispania Romana. Madrid: Ministério de Educación, cultura y deporte / Museo Nacional
de Arte Romano, 2002, pp. 75-95.
SANTOS, M. S. Memória Coletiva e Teoria Social. São Paulo/Coimbra:
Annablume/Editora da Universidade de Coimbra, 2012.
SAQUETE-CHAMIZO, J. C. ‘Territorios y gentes en el contexto histórico de la fundación de
la colônia de Augusta Emerita’. In.: NOGALES BASARRATE, T. (Org.) Augusta
Emerita: Territorios, Espacios, Imágenes y Gentes en Lusitania Romana. Mérida:
MNAR, 2004, pp. 375-412.
SIÃN, J. The Archaelogy of Ethnicity – Constructing identities in the past and present.
London: Routledge, 1997.
SILLIÉRES, P. ‘Centurarion et voie romaine au sud de Mérida: contribution a la delimitation
de la Betique et de la Lusitanie’. In.: . (Org.) Melanges de la Casa de
Velazquez. Publié avec Le concours du C.N.R.S. Tomo XVIII/1. Paris: Difusion de
Boccard, 1982, pp. 437-448.
SILLIÉRES, P. ‘Voies romaines et limites de provinces et de cites em Lusitanie’. In.: Les
Villes de Lusitanie Romaine:Hiérarchies et territoires (table ronde internationale du
CNRS), Talence, le 8-9 décembre 1988. Paris: CNRS, 1990, pp. 51-72.
SILVA, A. ‘Portuguese Castros: the evolution of the habitat and the proto-urbanization
process’. In.: CUNLIFFE, B & KEAY, S. (Orgs.) Social complexity and development of
tows in Iberia. Oxford: British Academy, 1995, pp. 263-289.
SILVA, A. ‘Portuguese Castros: the evolution of the habitat and the proto-urbanization
process’. In.: CUNLIFFE, B & KEAY, S. (Orgs.) Social complexity and development of
tows in Iberia. Oxford: British Academy, 1995, p. 281.
SOJA, E. Geografias Pós-Modernas: a reafirmação do espaço na teoria social critica. Rio
de Janeiro: Jorge Zahar, 1993.
TALBERT, R. & BRODERSEN, K. (Edts.) Space in the Roman World: its perception and
presentation. New Brunswich / Müster: Transaction Publisher / Lit Verlag, 2004.
TERRENATO, N. Tam Firmum Municipium The Romanization of Volaterrae. IN: The
Journal of Roman Studies, vol. LXXXVIII, 1998, pp. 94-114.
TORRE, A. ‘Un tournant spatial em histoire? Paysages, regards, ressources’. In.: Annales:
histoire, sciences socials. Septembre-octobre 2008, nº 5, p. 1127-1144.
WOOLF, G. Tales of the Barbarians: ethnography and Empire in the Roman West.
United Kingdom: Wiley-Blackwell, 2011.
ZARA, A. & EULA, E. ‘Cooptatio’. In.: Novissimo digesto Italiano, T. IV. Turín, 1981, pp.
841-842; RODRIGUEZ NEILA, J. F. & MELCHOR GIL, E., op cit, p. 247-248.
204
Conventus Pacensis
1. Ammaia
Status Jurídico: Municipium
392
O número de registro seguiu a ordem de lançamento da epígrafe no banco de dados ao longo do mapeamento
inicial da documentação material. Como as epígrafes foram reorganizadas de acordo com sua localização
geográfica e em ordem alfabética, essa numeração, nesta apresentação, não obedece a ordem crescente.
210
B. Inscrição
IOVI / O(ptimo) · M(aximo) / T(itus) CATEIVS [?] / QVIETVS
Interpretação:
Júpiter Óptimo Máximo — Tito Gateio (?) Quieto (?).
C. Comentário Histórico
Trata-se de uma inscrição que segue a tipologia de dedicatória simples e já frequente na Península.
Nestas, as siglas O e M enquanto IOVI vem por extenso, apenas com a identificação do dedicante e
sem fórmula final (ENCARNAÇÃO, J. d’. 1984, p. 670).
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 606.
Catálogo Online: Não Registrado
211
2. Balsa
Status Jurídico: Municipium
Palavra-Chave: benemerência,
Nº de Registro: 057
administração municipal.
A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrado em Quinta da Torre d’Ares, Luz,
Tavira, Portugal.
Paradeiro MF - Faro/Pt
Nº Inventário 32 (sessão lapidar)
Tipologia Pedestal
Material Calcário
Medidas 119 x 6,5 (fuste) 32,5 x 60 (base) x 45 cm
Descrição: Pedestal (?) de calcário, trabalhado nas quatro
faces, que foi utilizado para plinto do púlpito duma igreja.
Polida em três faces.
B. Inscrição
FORTVNAE · AVG(ustae) · / SAGR(vm) · / ANNIVS · PRIMITIVVS / OB HONOREM · /5
IIIIIIVIR(atus) · SVI · / EDITO BARCARVM / CERTAMINE . ET · / PVGILVM SPORTVLIS /
ETIAM · CIVIBVS /10 DATIS · / D(e) · S(ua) · P(ecunia) · D(ono) · D(edit)
Interpretação:
Consagrado a Fortuna Augusta. Anio Primitivo ofereceu, em honra de seu sexvirato, tenfo realizado
um combate de barcas e de pugilistas e também oferecido dádivas aos cidadãos, a expensas suas.
C. Comentário Histórico
Como indica José d’Encaranção (1984, p. 125-126), o presente texto apresenta como primeiro
motivo de interesse a referência ao combate de barcas e de pugilistas (pugiles). Para ambos se
requeria local apropriado: a “batalha naval” no circo de Balsa ou num dos braços de mar da região, o
combate de pugilistas num lugar evidentemente fechado e à vista de todos. Além disso, e como
prova de ostentação, o povo foi agraciado com presentes, provavelmente em dinheiro, cujo montante
não vem indicado.
A inscrição (se excetuarmos o inédito combate de barcas) pode ser inserida no conjunto de incrições
de mesmo tipo presente nos índices do CIL II (nº 1047, 1055, 4465). Já nos índices de ILS são
significativos das inúmeras referências a jogos e presentes (p. 908-911) ou a combates (p. 916-918).
Variam as divindades a que tais textos se dirigem, mas à deusa Fortuna, ligada ou não ao culto
imperial (Fortuna augusta), que a maior parte é dedicada — os libertos atingiam o sexvirato também
por, através da sua atividade econômica, terem obtido riqueza, sendo, portanto, lógica a sua
veneração para com a Fortuna. No entanto, como bem frisou Mrozek (“Epigraphica” XXXIV 1972
p. 53), essas manifestações nada tinham de sentido filantrópico — a sua finalidade era política e
religiosa, por excelência, tanto que as dádivas eram habitualmente distribuídas às pessoas da mesma
213
Palavra-Chave: administração
Nº de Registro: 058
municipal.
A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrado em Quinta da Torre d’Ares, Luz,
Tavira, Portugal.
Paradeiro MNAE?
Nº Inventário E6397
Tipologia Fragmento de Ara
Material Calcário
Medidas 40 x 32 x 35 cm
Descrição: Fragmento (de ara?) em calcário de pátina
amarelada, com resto de inscrição votiva.
B. Inscrição
[...] / AVG(ustae) · S[AC(rum)] / SPERATVS / BALS(ensium) · DIS[P(ensator)] /5 ANIMO ·
LI[B(ens)] / POS[VIT]
Interpretação:
A... Augusto(a). Esperado, administrador de Balsa, colocou de boa vontade.
C. Comentário Histórico
Seguindo os estudos de José d’Encarnação (1984, pag. 127), trata-se de uma dedicatória a uma
divindade augusta, masculina ou feminina. Speratus, o dedicante, tem um nome que significa
etimologicamente o desejo dos pais em relação à criança que vai nascer e que foi muito popular entre
os escravos, possivelmente utilizado por simples questão de hábito. O cargo municipal indicado era
habitualmente exercido por escravos e estava ligado à administração. Às inscrições peninsulares que
se referem a dispensatores, citadas em CIL II, p. 1171, acrescente-se uma outra, encontrada no termo
de Santacrís (Eslava), alusiva a um dispensator publicus: foi estudada por Garcia y Bellido
214
(“Homenaje a D. José Esteban Uranga” 1971 p. 390-1) que tece considerações acerca do prestígio
deste cargo. A datação do monumento é atribuída pela paleografia no século II d. C.
Datação: Século II d. C.
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 74.
Catálogo Online: Não Registrado
B. Inscrição
T(ito) · MANLIO / T(iti) · F(ilio) · QVIR(irina tribu) · FAV/STINO · BALS(ensi) ·I MANLIA ·
T(iti) · F(ilia) /5 FAVSTINA / SOROR · FRA/TRI · PIISSIMO / IlVlR(duumviro) · II(bis) /
D(ecreto) · D(ecurionum) · / 10 EPVLO DATO
Interpretação:
A Tito Mânlio Faustino, filho de Tito, da tribo Quirina, natural de Balsa. Mânlia Faustina, filha de
Tito, irmã, ao irmão modelo de piedade, duúnviro pela segunda vez. Por decreto dos decuriões.
Tendo oferecido um banquete.
C. Comentário Histórico
Como indicam os estudos do Professor José d’Encarnação (1984, p. 133), a personagem é membro
da família dos T. Manlii, da qual há outros representantes no litoral algarvio (IRCP, nº 47 e 80),
Faustinus tem — tal como a irmã — um cognome latino frequente no mundo romano,
nomeadamente em África, algumas vezes atestado no conventus Pacensis (IRCP, nº 115 e 464) e na
Península (ILER p. 692). Trata-se de um membro das elites de Balsa que presidiu por duas vezes,
como duúnviro, ao senado municipal. A homenagem fraternal, sancionada como habitualmente por
um decreto da ordem dos decuriões — demonstrando, assim, uma vida administrativa em pleno
funcionamento, a homenagem acompanhou um banquete, que reuniria apenas as pessoas da classe
social do homenageado.
215
Ao declarar seu irmão como natural de Balsa e inscrito na tribo Quirina, o registro mandado fazer por
Mânlia Faustina contribuiu para a identificação da tribo de Balsa, que será, portanto, segundo
tudoleva a crer, mais um município flaviano . Nessa perspectiva, Encarnação aponta que, tal como C.
Turrânio Rufo, de Conimbriga (Étienne - Fabre,Conimbriga XI, 1972 p. 193-203), T. Mânlio
Faustino pode ter ascendido à cidadania romana após o exercício do duunvirato. E, como no caso de
Conimbriga, também aqui se tratará dum texto honorífico (a colocar eventualmente no forum) mas
possivelmente mandado lavrar após a morte do homenageado: assim no-lo dá a entender a presença
do superlativo piissimus, habitualmente usado só para defuntos.
Deste modo, concordamos com a datação atribuída por Hübner e Encarnação, isto é, o reinado de
Cómodo ou, em finais do séc. II, pela presença do superlativo.
Datação: Fins do século II d. C.
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 79. UNTERMANN, J. Elementos de
Un Atlas Antroponímico de la Hispania Antigua. Bibliotheca prehistorica hispana. vol. 7.
Madrid: Consejo Superior de Investigaciones Científicas, Instituto Español de Prehistoria/
Universidad de Madrid, 1965.
Catálogo Online: Não Registrado
B. Inscrição
T(ito) · RV.TILIO · GAL(eria tribu) . / TVSCILLIANO / Q(uinti) · RVTIL(us) · RVSTI/CINI ·
F(ilio) · T(iíi) · MAN/5LII · MARTIALIS · / N.EPOTI · IN HO/NOREM · EORVM · AMICI /
CVR(antibus) · L(ucio) · PACC(io) · MARCI/10ANO · ET · L(ucio) · GELL(io) · TVTO / L(ucius)
PACC(ius) · BA.SILEVS / P(ublius) . RVTIL(ius) · ANTIGONVS / T(ito) MANL(ius) EVTVCHES
/ T(itus) · MANL(tus) · EVTVCHIO /15 T(itus) . MECLON(ius) CAS.SIVS / PVBLICIVS
ALEXANDER / LAETILIANVS · BALSENSIVM
Interpretação:
A Tito Rutílio Tusciliano, da tribo Galéria, filho de Quinto Rutílio Rusticino, neto de Tito Mânlio
Marcial. Em sua honra, ao cuidado de Lúcio Pácio Marciano e Lúcio Gélio Tuto, os amigos da
216
família: Lúcio Pácio Basileu, Públio Rutílio Antígono, Tito Mânlio Êutiques, Tito Mânlio Eutiquião,
Tito Meclónio Cássio, Publício Alexandre Letiliano - dentre os Balsenses.
C. Comentário Histórico
Segundo os estudos de José d’Encarnação (1984, p.135-136), o texto refere T. Rutílio Tusciliano,
seu pai e seu avô, cujos nomes vêm indicados por inteiro; pai e filho têm o mesmo gentilicio, como é
normal, mas não o mesmo prenome; contudo, por não-identidade de gentilicio, é de supor que T.
Mânlio Marcial seja avô materno de Tusciliano, de quem apenas adotou o prenome. Embora
homenageado em Balsa, Tusciliano é, decerto, pela tribo Galéria, um cidadão romano inscrito numa
outra cidade, possivelmente Ossonoba. Já foram encontrados T. Manlius Lacon (IRCP, n.°47) e, na
inscrição anterior, T. Manlius Faustinus, filho de Tito Mânlio, irmão de Manlia Faustina; aqui, o avô
de Tusciliano é T. Manlius Martialis, a cuja família pertencerão naturalmente T. Manlius Eutyches e
T. Manlius Eutychio, libertos. Está, pois, bem localizado no Algarve este ramo da gens Manlia, que
— aqui como no resto da Península — forneceu inúmeros magistrados municipais.
A personagem em questão possuiu uma posição sócio-económica relevante, a julgar inclusive pela
existência de libertos: Eutyches é cognome de origem grega documentado na Península, algumas
vezes identificando expressamente libertos; quanto a Eutychio (= Eutychion) encontra-se registado
em CIL II 1218; Eutychia é mais frequente (CIL II p. 1082; nove exemplos). Martialis é cognome
latino que, na Península, surge também com frequência (IRCP, n.°10). A gens Rutilia, por seu turno,
não se encontra largamente representada. Contudo, a sua posição sócio-económica não deve ficar
muito a dever à gens Manlia com que se uniu. De fato, para além de um particular de que não são se
possuem dados (ILER 3908, P. Rutilius Mumus), encontramos na Península: um liberto, P. Rutilius
Menelaus, a quem foi atribuída a naturalidade do municipium Pontificiensis (Porcuna, Jaén, CIL II
2135 = ILER 1539); um marmorarius, P. Rutilius Sintropus, que oferece, em Cádis, um nicho
(theostasis) para o templo de Minerva (CIL II 1724 = ILER 2076 = 6444); e, em Lisboa (CIL II 5005
= ILER 4346), um L. Rutilius Severus, da tribo Galéria, cuja mãe também é Rutilia. Os cognomes de
pai e filho não são frequentes: Rusticinus (omisso, por lapso, nos índices do ILER) é citado por
Kajanto (p. 311) como identificando quatro homens e uma mulher, no conjunto do CIL. Na RE não
vem referido ninguém com este nome; em CIL VI 31234 memora-se Q. Lolleius Rusticinus.
Quanto a Tuscillianus, Kajanto (p. 157 e 188) apenas cita este exemplo. Antigonus como cognome
de liberto é muito mais frequente; aqui, o prenome é diferente, de sorte que podemos pensar que
Antigonus não será liberto nem de Tusciliano nem de seu pai. A encabeçar a lista dos amigos, L.
Paccius Marcianus e L. Gellius Tutus, possivelmente os encarregados legais, oficiais, de executarem
a homenagem. O gentilicio Paccius designa, na Península, pessoas de certo nível económico (IRCP,
n.°9); Marcianus, cognome latino derivado do gentilicio Marcius (K ajanto, p. 27), atesta-se na
Península e no conventus Pacensis, nomeadamente em relação a indivíduos com os tria nomina (cfr.
V. Ma ntas , «Conimbriga» XXI 1982 p. 39-40, 96-97, mapa II). Gellius inclui-se também nos
gentilicios ligados a pessoas de certo relevo social, documentado, por exemplo, em Lisboa (CIL II
186 = ILER 1104 e CIL II 5218 = ILER 4453).
Tutus é cognome latino, que surge em Écija como patronímico (CIL II 5455 = ILER 5072);
registado, sobretudo, como cristão (RE, VII A 2, 1629), não é muito frequente (Kajanto, p. 280).
Portanto, uma nomenclatura latina, salientada face a libertos de nomes gregos. Em letras menores, os
nomes de seis personagens — seviri ? O primeiro referirá, decerto, um liberto de L. Paccius
Marcianus — o seu cognome é Basileus e não Basilius (e E distingue-se nítido, na pedra e na foto),
que se documenta em Córdoba (CIL II 2221 = ILER 1723): deriva do grego βασιλεύς, rei.
Datação: Século II d. C.
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 80.
Catálogo Online: Não Registrado
217
B. Inscrição
IVLIAE . TIB(erii) . F(iliae) (hedera) MAR/CIAE . GEMINAE (hedera) / AMICAE OPTIMAE
(hedera) / L(ucius) . QUINTIVS . PREISCION /5 CVM . CALLAEA . T(iti) . F(ilia) SEVERINA /
ET . QVINTIA . AVITA . FIL(ia) . D(ederunt) . D(edicaruntque)
Interpretação:
A Júlia Márcia Gémina, filha de Tibério, à amiga otima, deram e dedicaram Lúcio Quincio Priscião
com Caleia Severina, filha de Tito, e Quíncia Avita, (sua) filha.
C. Comentário Histórico
Como indica José d’Encarnação (1984, p. 144-145), a homenageada apresenta dois gentilicios, fato
que por vezes se observa na identificação de mulheres: o primeiro, Iulia, extraordinariamente
frequente; o segundo, Marcia, também está bem documentado, mesmo no conventus Pacensis. O
cognome latino Gemina já fora registrado em IRCP n.° 35. Quintius, gentilicio de dois dos
dedicantes (pai e filha), surge mais vezes no conventus Pacensis (IRCP, nº 92, 473 e 618) e na
Península Ibérica (CIL II p. 1071).
Priscion é cognomen latino raro (Kajanto, p. 288, só assinala CIL XI 7980), derivado de Priscus.
Callaea, gentilicio cuja terminação o assemelha a um cognomen, não é frequente na Península;
registam-se dois exemplos de Calleus em Évora, um (IRCP, n.° 390) certo, outro provável (IRCP, n.°
386); e um Callius em Écija (CIL II 1485).
Severinus, a, é cognome latino muito frequente, mesmo na Península (CIL II p. 1092); no conventus
Pacensis regista-se, provavelmente, em Beja (IRCP, n.° 318). Avitus, α, por seu turno, ainda é mais
comum (ultrapassa a vintena o número de exemplos no conventus). Encontramo-nos em face de uma
onomástica latina, identificando pessoas de condição livre, muito provavelmente pertencentes à
aristocracia de Balsa. Designando-a ‘amiga ótima’ os dedicantes mostram em relação à
homenageada, não apenas a sua dedicação afetiva, pois que patenteiam também uma atitude de
dependência, à qual em epigrafia o conceito de amizade andará intimamente ligado. Quanto aos
dedicantes, podemos pensar que se trata duma família — pai, mulher e filha — pois o vocábulo filia
deve referir-se a ambos.
Datação: Não Atribuída
219
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 86
Catálogo Online: Não Registrado
Sobre a vinculação desta inscrição com a anterior, Encarnação (pp. 130-131) ressalta que: "assumem,
pelo seu conteúdo, uma importância que não tem passado despercebida: demonstram, realmente, que
na área do seu achamento (Veiga, segundo Hübner, fala ‘dumas vastas ruínas descobertas pelas águas
do Guadiana’ sic) se construíra um circo cujo pódio tinha, pelo menos, duzentos pés — cerca de 60
metros. Não dispomos de dados acerca das dimensões do pódio em relação com a extensão do circo.
O pódio era uma balaustrada que se erguia diante da plataforma reservada às adeiras dos senadores e
das personagens mais importantes. Não é caso raro a doação de partes dum circo à comunidade;
assim, um texto de Zafra, na Bética (CIL II 984 = = ILER 2058), refere à doação de dez — apenas
dez — pés do pódio feita por dois abertos aquando da sua eleição como séxviros; no circo de Lyon,
cita-se a doação de dez lugares”.
Datação: Entre os séculos II - III d. C.
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 77, p. 130.
Catálogo Online: Não Registrado
222
3. Caetobriga
Status Jurídico: Municipium
Alguns autores, (Hubner, Dessau, Henze) optam pela identificação deste Gornélio Boco com o de
Alcácer do Sal, opinando que se deve ler Gaii e não Lucii; outros (Étienne, Bandeira Ferreira)
sugerem que este é filho daquele, preferindo ler Lucii. Devido o desaparecimento da placa, o exame
mais específico da peça torna-se inviável e a espera por novos dados.
De todo modo, prosseguindo na posição definida por Hubner, Encarnação (1984, p. 276-277) destaca
que a segunda questão faz referência à identificação deste G. Boco com o historiador Cornélio Boco
mencionado por Plínio. Sinaliza o autor que Húbner se aproxima de tal identificação e, após justificar
como habitual no século I a omissão do número e do nome da legião (verificada na inscrição de
Alcácer), afirma: “E assim poder-se-ia supor que Boco, o escritor, era natural de Cetóbriga ou aí
tinha propriedades, aí tendo sido igualmente homenageado com uma estátua por diversas cidades
lusitanas. O fato de ter obtido o tribunado na III legião africana não vai contra a sua origem lusitana.
O cognomen Bocchus e outros semelhantes, quiçá de origem africana, também não são raros na
Lusitânia” (apud Encarnação, p. 277). A última questão consiste na identificação da cidade que se
liga o personagem, Caetobriga ou Salacia. Na posição de Encarnação, a inscrição encontrada em
Salácia (IRCP, nº189) elucida a questão uma vez que, nela, o mesmo G. Boco oferece um edifício.
Datação: I d.C.
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 207.
Catálogo Online: Não Registrado
393
Sem fotografia. Não encontramos nenhum registro fotográfico ou desenho do monumento ou da inscrição.
223
4. Metallum Vispaniense
Status Jurídico: Municipium
B. Inscrição
BE[RY]LLO · AVG(usti) · LlB(erto) · PROC(uratori) · DILIGEN/TISSIMO · ET ·
AMANTÍSSIMO · RA/TIO[NALIV]M · VICAR(io) · HOMINI OP/TIMO · ET · IV[STI]SSIMO ·
RESTITV/5TORI · METALLO[R]VM / COLONI · AV[G(usti)?] [D(omini)?] N(ostri) METALLI
VIPAS/CENSIS / STATVAM · CVM · BASI · DE · SVO / LIBENTER · POSVERVNT · II / 10 QVI
· INFRA · SCRIPTI · SVNT / DEDICANTE · IPSO [...] / T(itus) IVNIVS [...] / [...] / [...] / « [...] /
[...] / [...] / [...] / [...] /20 D[ED]ICATA [ ...] / CN(aeo) · CLAVDIO [...]
Interpretação:
A Berilo, liberto de Augusto, procurador diligentíssimo e muito amado, vigário dos serviços
administrativos, homem óptimo e justíssimo reorganizador dos coutos mineiros — os colonos de
Augusto, nosso senhor, de Metalo Vipascense erigiram uma estátua com base, a expensas suas, de
livre vontade, os quais se subscrevem, tendo sido dedicante o próprio... Tito Júnio... (segue-se a lista
de nomes). Dedicada aos..., sendo cônsules Gneu Cláudio...
C. Comentário Histórico
De acordo com os estudos de José d’Encarnação (1984, p. 185-186) o texto apresenta um liberto
imperial designado apenas pelo seu cognome e que ocupa, as funções de procurator, de rationalium
vicarius e de restitutor metallorum, louvando-lhe os colonos, com superlativos, as suas qualidades
profissionais e humanas: (procurator) diligentissimus, amantissimus (rationalium vicarius), (homo)
optimus, iustissimus (restitutor metallorum). O elogio completo fora concebido com um requintado
paralelismo literário: procuratori diligentíssimo une-se a amantíssimo rationalium vicario através da
copulativa ET; homini optimo une-se a iustissimo restitutori metallorum igualmente através da
copulativa et.
Efetivamente, os adjetivos utilizados trazem importante carga afetiva, sobretudo amantissimus —
224
geralmente aplicado a pessoas íntimas, de família — já que a designação homo optimus é mais
habitual na epigrafia: diligentissimus aplica-se ao eficiente desempenho duma função; e iustissimus
salienta a equidade em elevado grau. A estatura moral e humana deste procurador deveria ter sido
muito grande o que justificaria a ampla homenagem. O texto não separar do conteúdo das tábuas —
nomeadamente Vipasca II dirigida exatamente a um procurador, segundo se crê, e onde se
estabelecem regras para a atividade dos coloni — informa-nos, em primeiro lugar, que o procurador
é, na ocasião, um liberto imperial, eventual representante do procurador equestre das minas da região
da Astúria e da Galícia. Conhecem-se outros libertos imperiais responsáveis por minas da Hispânia:
M. Ulpius Eutyches está à frente de uma mina cuja localização se ignora e que se designará metallum
Alboc(olense?) (CIL II 2598); Hermes, Zoilus, Aurelius Firmus e Μ. Aurelius Eutyches
administraram as arrugiae do vale do Duerna, como o demonstram as inscrições CIL II 2552 a 2556,
datáveis do século II d. C. Ao procurador competiria administrar o território da mina e proporcionar
aos colonos todas as condições com vista a uma exploração óptima dos filões (Domergue, art. Cit., p.
171). A forma como o texto se encontra redigido sugere que os outros dois atributos do procurador
— rationalium vicarius e restitutor metallorum — são, na realidade, funções que ele desempenhou
também. Se essas funções pertenciam geralmente a outras pessoas e se, portanto, o procurador em
questão as acumulou acidentalmente — parece-nos problema insolúvel de momento, enquanto outros
textos não nos vierem trazer mais esclarecimentos.
No entanto, Encarnação é da opinião de que, tratando-se de uma inscrição honorífica, os colonos
quiseram sublinhar dois aspectos da competência habitual do procurador, na medida em que ambas
são de índole administrativa. Assim, embora vicarius signifique substituto, rationalium será o
genitivo plural de rationalis, que se pode traduzir por contabilista, dado que ratio é uma
administração financeira, neste caso a mina dependente do fisco. Saliente-se que rationalis foi o
termo que, pouco a pouco, substituiu procurator e que, por outro lado, os jurisconsultos do século III
empregam indistintamente os dois termos.
Este procurador seria, então, o representante do procurator a rationibus, como habitualmente se vê
nas inscrições. A função de restitutor metallorum parece mais difícil de integrar à primeira vista:
restituro poderia assumir uma tonalidade jurídica — aquele que se encarrega de pagar uma
indenização; no entanto, como o genitivo plural metallorum significa ‘das minas’, ‘dos coutos
mineiros’, o autor prefere considerar esta expressão como um elogio à ação de reorganização dos
coutos mineiros de Vipasca.
Datação: Século III d. C.
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 121.
Catálogo Online: Não Registrado
225
5. Mirobriga Vettonum
Status Jurídico: Municipium
B. Inscrição
D(is) (hedera) M(anibus) (hedera) S(aerum) (hedera) / C(aius) · PORCIVS SEVE/RVS
MIROBRIGEN(sis) / CELT(icus) · ANN(orum) · LX(sexaginta) · /5 H(ic) · S(itas) · E(st) · S(iti) ·
T(ibi) · T(erra) · L(em) ·
Interpretação:
Consagrado aos deuses Manes. Aqui jaz Gaio Pórcio Severo, mirobrigense céltico, de sessenta anos.
Que a terra te seja leve.
C. Comentário Histórico
Como salienta Encarnação (1984, p. 233-234), Porcius e Severus são nomes frequentes na Península,
havendo registros em Mértola e em Valência (CIL I I 3754), incluindo-se o registro de um L. Porcius
Severus. Como bem frisaram D. Fernando de Almeida, H. Gallsterer e A. Tovar (apud op cit, p. 234),
o grande interesse do texto é o fato de o defunto se dizer mirobrigensis celticus, o que daria o nome
da cidade, Miróbriga Celticum, de acordo com o texto de Plínio (Nat. Hist. IV 118) Mirobricenses
qui Celtici cognominantur.
Todavia, o autor ressalta que, normalmente, quando alguém morre na sua localidade de origem, não
indica a naturalidade uma vez que seria desnecessário. Por outro lado, sendo mirobrigense na sua
própria terra, que necessidade haveria de especificar a sua qualidade de ‘céltico’? Além disso, tendo-
se posto tanto empenho em fazer notar a naturalidade do defunto, não houve igual intenção de
afirmar para a posteridade a sua condição de homem livre, indicando a filiação. Nestes termos,
poder-se-ia, pois, suspeitar da autenticidade deste monumento, eventualmente forjado com a intenção
de bem especificar o nome da povoação cujas imponentes ruínas se encontram em Santiago do
Cacém.
Muito embora a adjunção ao topônimo de um etnônimo, em genitivo, seja documentada no mundo
romano (Venta Silurum, Lutetia Parisiorum...), inclusive na Península: Forum Bibalorum, Ossigi
Latonium, Sacili Martialium, seria, pois, admissível uma Mirobriga Celticum, que, a partir dos
Flávios, deveria ter mudado o nome para Flavia Miróbriga ou, melhor, Flavia Mirobriga Celticum,
ainda que a designação não seja comum. No CIL I I 880 se regista um Celtico Flavianus que, embora
se refira a uma desconhecida Celtico Flavia, poderia abonar, por analogia, um topônimo semelhante.
De todo modo, a invocação aos deuses Manes e a paleografia sugerem para esta epígrafe uma
datação do séc. II d. C.
Datação: Século II d. C.
226
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 152.
Catálogo Online: Não Registrado
B. Inscrição
Q(uinto) · SCRIBONIO / L(ucii) · F(ilio) · QVIRI(rina tribu) / PATERNO / L(ucius) SCRIBONIVS
/5 SATVRNINVS / PATER
Interpretação:
A Quinto Escribónio Paterno, filho de Lúcio, da tribo Quirina, o pai Lúcio Escribonio Saturnino.
C. Comentário Histórico
Na leitura do monumento, Encarnação (1984, p. 240) destaca que a menção repetida da filiação deve
ser considerada como ponto de honra, através do qual o dedicante quis, seguindo as regras oficiais da
identificação, frisar bem o caráter de homem livre e de cidadão romano do seu filho. Nesses termos,
se está perante uma nomenclatura com características latinas relacionadas, pelos cognomes, com
substratos nativos.
Scribonius é um gentilicio de escassa ocorrência na Península. Como visto nos casos IRCP, nº156 e
157, Paternus e Saturninus são apontados exatamente como ligados à antroponímia pré-romana por
Kajanto (p. 18), sendo Paternus em áreas célticas (Península Ibérica e Gálias , como aparece em CIL
XII e XIII); e Saturninus em África (1163 exemplos num total de 2507, ibidem p. 55 e 213).
Assim, a presente e única inscrição de Miróbriga na qual e a tribo aparece mencionada, se é tentado a
atribuir à localidade a tribo Quirina, como se vê na análise de Hubner no CIL II p. LXV. Se, de fato,
for seguida a interpretação registrada no CIL II 25 (n.° 150) onde M. F. foi interpretado como
m(unicipium) f(lavium), tal conviria à tese que considera a atribuição da tribo Quirina como uma
realização dos Flávios.
Datação: Entre os anos 69 - 96 d. C. - Dinastia Flaviana.
D. Referências Bibliográficas
227
inscrição. Citando Álvaro dOrs, na sequência de Mommsen (CIL I I 21), o autor observa esta
inscrição como exemplo de legado constituído por uma obra pública: para ele, Januário «legou uma
estátua ao deus Esculápio, em atenção aos benefícios recebidos da ordo dos decuriões; parece tratar-
se (continua A. dOrs), apesar de a leitura ser muito incompleta, da cedência do local para a realização
dum banquete de quatro dias» e acrescenta aquele investigador que a hipótese de Húbner —cedência
de dinheiro para jogos— «parece menos provável».
Apresentando a proposta de Cruz e Silva, indica que, diversamente as explicações de Húbner, para o
autor, “Ao médico estrangeiro fora concedido por um decreto do Conselho um lugar de honra nos
jogos” e, portanto, a inscrição “faz preito de reconhecimento e admiração ao deus Aesculapius —
pelas milagrosas curas realizadas” (p. 350). Relembrando as propostas do Prof. Lambrino, indica a
possibilidade de outro raciocínio: Átio Januário mandou lavrar a placa por os Senadores de
Miróbriga “terem oferecido festejos” a Esculápio. O texto assume, pois, um caráter de certo modo
sibilino, tanto mais que as festas Quinquatrus — se, na verdade, a elas se alude no texto — se
destinam tradicionalmente a honrar Minerva e a dedicatória está feita em honra de Esculápio. Para
Encarnação, talvez aí não haja, porém, grande problema: Minerva tem qualidades médicas e 19 de
Março, dia dessa festa, era também considerado o dia dos artífices entre os quais se incluíam os
médicos. Assim sendo, ter-se-ia aqui uma transposição do culto a Minerva para Esculápio — que,
aliás, se atendermos a que é seguido da palavra deus, assume aqui características de divindade local.
Datação: Século II d. C.
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 144.
Catálogo Online: Não Registrado
229
B. Inscrição
lM[P(erator) CAESAR DOMITIVS A]VRELIANVS / PI[VS F E L IX AVGVSTVS P]ONTIFE[X]
/ MAXIMVS PARTHI]CVS MAXIMVS PAT/ER [PATRIAE TR(ibunicia) · POT(estate) · ] VI
(sexta) CONSVL / III /[...]NTI · ORO [...] MVLO / [...][IS ·? PROV(inciae) ·?] [...]S MIROC[...
?]ENSIVM
Fragmento A: IM / PI / M / TR
Fragmento B: [A]VRELIA[NVS] / [P]ONTIFE[X] / [M]AXIMV[S] / [CO]NSVL I[...] / 5 [...]NTI
ORO [...] / [ . . . ] S MIROC[...]
Fragmento C: [...] V S [M?] [...] / [,..]VI C[0?...]
Variantes: VSI / VICC (Almeida)
Fragmento D: [...]NV[...] / [,..]X / [...]PAT
Fragmento E: [,..]IS ·
Interpretação:
Imperador César Domício Aureliano Pio Félix Augusto, Pontífice Máximo, Pártico Máximo, Pai da
Pátria, no seu sexto poder tribunicio, cônsul pela terceira vez...
C. Comentário Histórico
Como já demonstrado por Encarnação (1984, p. 229), o texto refere-se ao Imperador Aureliano.
Como pouco comum dentre os demais exemplares peninsulares de epígrafes honoríficas, os títulos
imperatoriais vêm por extenso, denotando o relevo que se lhes confere. Outro dado relevante consiste
no fato de o monumento ter sido mandado lavrar por um particular com importantes funções em
Miróbriga ou pela direta intervenção das autoridades locais.
Datação: Entre os anos 235 e 284 d. C.
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 149, p. 229.
Catálogo Online: Não Registrado
230
B. Inscrição – HONORÍFICA
G(aio) · AGRIO · RV/FO · SILONIS (filio) / ADLECTO ITALICENSI · /5 M(arcus) CASTRICI/VS
· LVCANIO · ET · / C(aius) VALERIVS · / PAEZON AMI/CO OPTIMO ·
Interpretação:
A Gaio Ágrio Rufo, filho de Silão, adotado como cidadão de Itálica. Marco Castrício Lucanião e
Gaio Valério Paezão ao ótimo amigo.
C. Comentário Histórico
Sobre a ocorrência dos termos que constituem os trianominas registrados na região, Encarnação
(1984, p. 231-232) destaca que tanto o gentilicio Agrius como o cognome Rufus já são conhecidos na
Península. O patronímico, Silonis, posicionado depois dos tria nomina, também já foi visto em
outros casos (CIL I I p. 1200), omitindo-se a palavra filius, como também é frequente na Lusitânia
(CIL II p. 1200). Silo é cognome que também se eencontra na Hispânia, nomeadamente atestado
como patronímico («Zephyrus» X V I I 1966 p. 127).
Seguindo as observações do autor (1984, p. 232), destaca-se que os dois amigos serão, pelos seus
cognomes, libertos ou descendentes de libertos; Castricius não é frequente na Península; Valerius
está bem documentado em Miróbriga e mesmo no conventus Pacensis. Lucanio supomos ser esta a
primeira vez que se encontra; deverá ter-se formado a partir do gentilicio Lucanius, de origem itálica
Paezon, cognome grego (embora não referido por Solin) que em Roma se regista seis vezes,
nomeadamente como nome de escravos e libertos (cfr. CIL VI, índices), ocorre, na Península, em
Cádis (CIL I I 1386 — ILE R 2964) e em Tarragona como cognome dum séxviro (CIL II 4288):
relaciona- se com o verbo παίζω no sentido de ‘brincalhão’.
Deste modo, Gaio Ágrio Rufo, que pertencia ao estrato indígena peninsular (atendendo à forma como
é indicada a filiação), elevado à categoria de cidadão de Itálica, foi homenageado em Miróbriga por
dois ‘amigos’ ligados às mais importantes famílias da localidade. O monumento contribui para a
reflexão, ainda que deixe as questões em aberto, a respeito dos possíveis motivos da homenagem e
dos laços que existiram entre as populações das duas localidades citadas.
Datação: Século I d. C. (?)
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 151, pp. 231-232.
231
Palavra-Chave: acordo de
Nº de Registro: 004
hospitalidade
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrada a cerca de 100 metros do Castro
das Merchanas, junto ao caminho que conduz
à porta principal. Lumbrales, Salamanca,
Castilla y León, Espanha.
Paradeiro Integra a coleção de coleção de Serafín Tello.
Nº Inventário -
S/F
Tipologia Tessera
Material Bronze
Medidas 2,8 x 4,4 x 0,1cm
Descrição: Téssera de bronze retangular com bordas sinuosas
e irregulares.
B. Inscrição
6. Salacia
Status Jurídico: Municipium
B. Inscrição – VOTIVA
IOVI · O(ptimo) · M(aximo) · / FLAVIA · L[ucii) · F(ilia) · RVFINA / EMERITENSIS ·
FLA/MINICA · PROVINC(iae) · /5 LVSITANIAE · ITEM · COL(oniae) / EMERITENSIS / ·
PERPET(ua) · / ET · MVNICIPI(i) . SALACIEN(sis) / D(ecreto) · D(ecurionum) ·
Interpretação:
A Júpiter Óptimo Máximo. Flávia Rufina, filha de Lúcio, natural de Mérida, flamínia da província da
Lusitânia assim como perpétua da Colônia Emeritense e do Municipio Salaciense. Por decreto dos
decuriões.
C. Comentário Histórico
Trata-se de uma dedicatória a Júpiter numa zona em que a sua ocorrência é muito rara
(ENCARNAÇÃO, 1984, p. 255). A epígrafe deve ser entendida como um testemunho oficial de
dedicação a Roma e de ostentação, do que como prova de devoção religiosa. Sobretudo se considerar
a cuidadosa decoração inspirada em motivos importados, oficiais, a saber: o relevo dado à fórmula
decreto decurionum — maior que o nome da divindade; a preocupação de Rufina em enumerar os
seus cargos. Frente a essas observações, a questão que se coloca tem como preocupação fundamental
saber se o monumento tem como objetivo central perpetuar a memória da flumínea provincial.
Sendo foi natural de Mérida, Rufina recebeu as honras do flaminado perpétuo na sua terra natal e no
234
município salaciense.
Assim sendo, a ereção do monumento epigráfico parece ter sido feita em um importante lugar de
culto. Tal fato documenta tanto a vitalidade da cidade como o seu apego ao governo provincial e
central e, ainda as estreitas relações entre Salácia e a capital provincial: em Mérida onde também se
registra igualmente a presença de salacienses (CIL II 518 = ILER 5403).
Observando-se o gentilicio da flaminia, compreende-se que Rufina seria pertencente a uma família
que teria recebido do imperador Vespasiano (70-79) o direito de cidadania. Seguindo nessa
perspectiva, Robert Étienne (1958, p. 166-167) data a inscrição do tempo dos Flávios. Assim sendo,
Salácia assume, no contexto da Lusitânia, uma importância muito particular.
Datação: Entre os anos 70 e 79 d. C.
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 183.
Catálogo Online: HEpOnl 21112
que a indicação do sumo pontificado por extenso, assim como a palavra sacrum, elucidam bem da
aura sagrada com que o imperador é identificado.
O caráter essencial da dedicação, a saber, feita por um simples particular, sem explicitação de
motivos, sem intervenção de autoridades, leva às seguintes perguntas: afinal, quem se consagra? O
que é que se consagra? O monumento epigráfico ou a própria pessoa do dedicante? Encarnação
responde que, entendida como entrega pessoal, como devotio, a epígrafe assume proporções
insuspeitadas, a inscrição encontra paralelos com a encontrada em Gijón (CIL II 2703). Vale destacar
que essa inscrição, mais a dedicatória a I.O.M. feita por Flavia Rufina, flaminica municipii
Salaciensis perpetua (nº 76 do presente corpus), mediaram à hipótese que considera Salácia como
um foco do culto imperial.
Datação: Entre os anos 5 e 4 a. C.
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 184.
Catálogo Online: Não Registrado
236
C. Comentário Histórico
Cabe destacar que, seguindo uma sugestão de Hubner, “Cornelius Bocchus scriptor Lusitanus
nominatur apud Plin. 37, 7, 97. 9, 127 et in indicibus librorum 33 et 34; há muito se discute a
identificação do personagem de Alcácer com o escritor citado por Plínio. Recuperando as
interpretações de Encarnação (1984, p. 258-259), trata-se de Lucio Cornélio Boco, membro duma
família cujo nome está bem representado entre a as elites do conventus.
No caso específico em tela, Boco culminou a sua carreira municipal com o exercício do sacerdócio
provincial, ingressando na ordem equestre, possivelmente após ter sido praefectus fabrum, cargo que
raramente é omitido em epígrafes deste gênero. Dadas às características do formulário da inscrição,
como, por exemplo, a não menção da legião, atribui-se ao texto a datação em época de Cláudio
(ENCARNAÇÃO, op. Cit. p. 259, ÉTIENNE, R. 1958, p. 124).
Datação: Entre os anos 41 e 54 d. C.
D. Referências Bibliográficas
ÉTIENNE, R.. Le culte imperial dans la Péninsule Ibérique, d'Auguste. a Diocletien. Paris: E. de
Boccard, 1958; D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios
para o estudo da romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 185.
Catálogo Online: HEpOnl 21115
237
Texto B
... (para lembrar o mérito ?) para com a República e a sua população. Por decreto dos decuriões.
C. Comentário Histórico
Seguindo os estudos de José d’Encarnação, observa-se que o monumento registra a homenagem de
Junio, Duunviro, por ordem dos decuriões flâmine perpétuo do imperador Augusto divinizado,
cidadão romano inscrito na tribo Galéria (de Salácia). O personagem possui um cognome grego
registrado também na Vidigueira (vide IRCP, n.° 333a). Apesar de a decisão municipal estar
mencionada no texto B, parece que a homenagem foi feita por outro cidadão, Modesto, cujo
gentilicio — Duronius — ainda não havia sido atestado na Península.
Considerando o texto B a continuação do anterior, nele se encontraria o motivo da homenagem. LV
sugere a interpretação ob memorandum meritum, fórmula que, de acordo análise de Encarnação
(1984, p. 260), apesar de ainda não documentada é verossímil: a homenagem corresponderia aos
merecimentos de Fílon. Pela paleografia e pela indicação divi Augusti, o monumento é datado no
início do Império, possivelmente no século I d. C.
Datação: Século I d. C.
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 186.
Catálogo Online: Não Registrado
238
7. Myrtilis
Status Jurídico: Municipium
tellus ossa teget tumulo (...)». Salientemos, contudo, a importância histórico-cultural a atribuir ao fato
de, em Mértola, um epitáfio ser redigido em verso, quando na Península tais manifestações artísticas
não são muito frequentes. Sintoma da cultura do patrono e, decerto, dos méritos do cliente que se
declara expressamente emigrante itálico, sendo assim a única personagem documentada no
conventus Pacensis cuja origem itálica está claramente atestada.
O texto documenta também um caso de hospitium, aplicando-se aqui com mais propriedade ao termo
hospes o significado de «forasteiro» preconizado por Álvaro d’Ors. Outro aspecto a considerar é a
utilização, poética, do vocábulo Hispania, que se documenta outra vez, no mesmo contexto, em
Cartagena (CIL II 3420). Não se deverá entender num sentido rigorosamente administrativo; será,
por exemplo, equivalente, neste caso, a Lusitânia. Pela tipologia e pelo tipo de letra, o texto
pertencerá aos finais do século II d. C. (Fonte dos dados: ENCARNAÇÃO, IRCP, 1984).
Datação: Século II d. C.
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 98.
Catálogo Online: Não Registrado
242
C. Comentário Histórico
Na presente inscrição se encontra mais uma referência à gens Liburnia, documentada também em
Mértola. O contexto social é o mesmo da inscrição de Mértola: o pai, um liberto, identifica-se com os
tria nomina, omite a filiação e ostenta um cognome latino, Mus, aqui documentado pela primeira vez
na Península, poucas vezes usado no mundo romano, mas em proporção frequentemente dado a
libertos. O filho é cidadão romano, inscrito na tribo Galéria — possivelmente a de Mértola — e adota
um cognome latino (Maternus) frequente na zona (IRCP, nº 102 e 115).
A invocação aos deuses Manes, a paleografia, a menção da tribo e a presença do superlativo —
levam-nos a datar a epígrafe dos finais do século II d. C. (ENCARNAÇÃO, J. d’. 1984, p. 173-174).
Datação: Fins século II d. C.
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 110.
Catálogo Online: Não Registrado
243
Palavra-Chave: trianomina,
Nº de Registro: 066 dedicatória imperial, administração
municipal, decreto dos decuriões.
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrado em Mértola, Portugal.
Paradeiro Parte do monumento foi aproveitado na
reconstrução da igreja.
Nº Inventário -
Tipologia Fragmento de lápide
Material Mármore (?)
Medidas S/F
40 x 23 x 16 cm
Descrição: A descrição de Viana deixa dúvidas se a respeito
deste ser o fragmento de uma lápide honorífica. De todo modo,
"(...) Além da falta de letras por efeito do corte, algumas das
restantes estão quase de todo ou mesmo de todo apagadas
pelas mossas infligidas à superfície portadorada inscrição"
(Viana).
B. Inscrição
[IMP(eratori) CAES(ari)] / [M(arco) · A[VRE]L[I]O · AN[TONINO · AVGVSTO] /
[ARME]NIACO · PONTI[F(ici) · MAX(imo) · TR(ibunicia) · P(otestate) · XVIII(duodevicesima)] /
[CO(n)S(uli) · III(tertium)] DIVI · ANTONINI · [AVG(usti) · F(ilio) . DIVI . HADRIANI] /
5
[ΝΕΡ(oti) · DIV]I · TRAIANI · PAR[THICI · PRONEP(oti)] / [DIVI NE]RVAE · ABNEP(oti) [...?
]/ EX . D(ecreto) · D(ecurionum) · M(unicip)ES · M(unicipii) MYR[TILENSI]S / PER · C(aium) ·
IVLIVM · MARINVM / C(aium) · MARCIVM · OPTATVM · IIVIR(os) (duunviros)
Interpretação:
Ao Imperador César Marco Aurélio Antonino Augusto Armeniaco, pontífice máximo, no seu 18°
poder tribunicio, cônsul pela 3ª vez, filho do divino Antonino Augusto, neto do divino Adriano,
bisneto do divino Trajano Pártico, trineto do divino Nerva... Por decreto dos decuriões, os municipes
do municipio de Mértola, por intermédio dos duunviros Gaio Júlio Marino e Gaio Márcio Optato.
C. Comentário Histórico
Para José d’Encarnação (1984, p. 158-159), estaremos perante uma dedicatória a M. Aurélio,
atendendo às referências a Antonino (1inha 4), a Trajano (1inha 5) e a Nerva (1inha 5), em genitivo,
o que leva a pensar na filiação frequente nas inscrições em honra deste imperador, embora essas
indicações costumem vir antes da enumeração dos títulos políticos. Todavida, o autor prefere o
dativo ao ablativo sugerido por HAE, dado o carácter honorífico atribuível ao monumento. Por outro
lado, atendendo à (provável) menção única do cognome Armeniacus, concedido a M. Aurélio em 164
ou mesmo nos finais de 163 (Cagnat p. 199), após a sua vitoriosa expedição contra a Arménia,
julgamos que deverá reconstituir-se o 18° e não o 19° poder tribunicio que só foi assumido a 10 de
Dezembro de 164.
O texto documentaria, assim, a única referência a este imperador considerado isoladamente, na
epigrafia do conventus, podendo inclusive relacioná-la com alguma das estátuas de togados achadas
em Mértola. Mértola mantinha, por conseguinte, em meados do séc. II, uma atividade importante, era
município onde funcionavam bem as estruturas oficiais: a homenagem é feita ex decreto ordinis e
dela são encarregados os duúnviros (como no IRCP n.° 291, de Beja).
Os magistrados têm gentilicios latinos documentados no conventus. O cognome Marinus, que já
encontrámos em Faro (IRCP n.° 64), atesta-se também em Miróbriga (IRCP n.° 145) e em Beja
(IRCP n.° 357); é de origem itálica designando indivíduos, de alta craveira social, da Lusitânia
244
meridional e central, como observam os autores de Fouilles II (1976 p. 95); Kajanto (p. 308) assinala
mais de 250 testemunhos no conjunto do CIL. De Optatus, cognome de origem latina, há também
muitos exemplos.
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 97.
Catálogo Online: Não Registrado
246
8. Ossonoba
Status Jurídico: Municipium
Palavra-Chave: onomástica,
Nº de Registro: 047
administração provincial.
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrado em Faro, Portugal.
Paradeiro MF - Faro/Pt
Nº Inventário 18 (secção lapidar)
Tipologia Bloco Paralelepípedo
Material Calcário
Medidas 49 x 39 x 28 cm
Descrição: Bloco com inscrição de que restam apenas as duas S/F
últimas linhas e vestígios de letras da antepenúltima, ao nível
da qual foi partido longitudinalmente, há três faces alisadas.
Seguimos a interpretação de Encarnação (1984, pp. 48-49) ao
considerar que o monumento não consistiria em um pedestal
de estátua, mas sim um paralelepípedo simples destinado a ser
visto em local público e cuja função seria assinalar a
homenagem do texto em si ou outra obra.
B. Inscrição
[ ...]/ AV[...] / AVR(elius) VRSINVS V(ir) P(erfectissimus) PR(aeses) / PROVINC(iae) .
LVSITANI(ae)
Interpretação:
... Aurélio Ursino, varão perfeitíssimo, governador da Província da Lusitânia.
C. Comentário Histórico
Como demonstrado por José d’Encarnação (1984, p. 48-49), o texto dá-nos a conhecer um praeses da
província da Lusitânia, que teria homenageado o(s) imperador(es) reinante(s). Uma das hipóteses de
leitura compreende que a dedicatória poderia ter sido feita em honra de dois Augustos e de dois
Césares, aventando-se mesmo, ainda que interrogativamente, o leque cronológico de 293 a 305,
correspondente grosso modo ao reinado de Diocleciano, hipótese já levantada de resto pelo próprio
Hübner (CIL II 5140).
No entando, destaca o autor, o estado atual do monumento não permite a confirmação de qualquer
conjectura. No entanto, será anterior a 360, data a partir da qual o governo da Lusitânia foi exercido
por um consularis. O nome de Aurelius Ursinus não vem mencionado em outras inscrições
peninsulares. Encontramos-lhe, em Roma, dois homónimos: M. Aur. Ursinus e Aur. Ursinus, este
último num latérculo; embora tais personagens possam nada ter a ver entre si, verifica-se não ser caso
único a junção dos dois antropónimos. Aurelius é, de resto, gentilicio freqüente no conventus
Pacensis.
De Ursinus, cognome latino formado a partir do substantivo comum ursus, registam-se no CIL mais
de cem exemplos: a forma feminina é de grande frequência na zona oriental do Império. Não
admiraria, aliás, que este governador fosse oriundo dessa área, numa época em que os postos
político-administrativos mais importantes estavam nas mãos de cavaleiros com formação militar,
provenientes das províncias orientais.
Poderia mesmo contar entre os seus antepassados algum dos muitos que, após o édito de Caracala,
em 212, ascenderam à cidadania assumindo o gentilicio do imperador. O título vir perfectissimus era
concedido a esses membros da ordem equestre, da categoria de prefeitos, tornando-se usual no séc.
m, altura em que também se oficializa a designação praeses provinciae: aplicada inicialmente aos
governadores de pequenas províncias, que não pertenciam à classe senatorial, generaliza-se após o
édito de Galieno, de 261, justamente porque os legados senatoriais são então substituídos por
cavaleiros; com Diocleciano, o chefe militar (dux) passa a ter funções distintas do governador civil
(praeses), a quem é dado, portanto, o título de vir perfectissimus. Sem ousarmos, pois, adoptar as
reconstituições sugeridas por Borges de Figueiredo e por Hübner, concordamos em que o texto
completo seria uma homenagem ao poder central. Ossónoba nunca foi a capital da Lusitânia, mas o
248
facto de esta homenagem ali ter sido prestada pelo mais alto funcionário imperial bem demonstra a
sua importância — nomeadamente no sector económico — dentro do contexto das metrópoles
lusitanas. Aliás, o número de estátuas imperiais encontradas na villa de Milreu, que lhe fica
próximo, é nesse aspecto deveras sintomático: a villa foi decerto residência oficial e talvez a partir do
leque cronológico 293-305, se acaso podemos transferir para Milreu a data de S. Gucufate
(Vidigueira).
Datação: Século III d. C.
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 5.
Catálogo Online: Não Registrado
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 7.
Catálogo Online: Não Registrado
2.a coluna: L(ucius) LIVIVS MARTIALIS / L(ucius) LICINIVS CAL VV S / L(ucius) ANNIVS
LAPILLIANVS / L(ucius) CAECILIVS LIBERALIS /5 L(ucius) HERENNIVS COSCONIVS /
L(ucius) AELIVS SVPERSTES / CN(aeus) ACILIVS RVFVS / Q(uintus) IVNIVS
CHRYSANTHVS / M(arcus) CAECILIVS VRBANVS / 10 L(ucius) LICINIVS OPILIO
Interpretação:
1ª Coluna: Quinto Iunio Avitiano, Lucio Aemilio Themisão, Lucio Publicio Urbano, Luio Caecilio
Plocamo, Lucio Licinio Fruto, Lucio Caecilio Nymphodoto, Mario Maximo, Macro Fabio Myrtilo,
Lucio Caecilio Symphoro, Marcos Iulio Avitatiano, Geminio Callisto, (...) de Ossonoba.
2ª Coluna: Lucio Livio Martial, Lucio Licinio Calvo, Lucio Annio Lapilliano, Lucio Caecilio
Liberal, Lucio Herennio Cosconio, Lucio Aelio Superste, Cnaeu Acilio Rufo, Quinto Iunio
Chrysantho, Marco Caecilio Urbano, Lucio Licinio Opilio.
C. Comentário Histórico
LER COM CALMA E SINTETIZAR.
Dada à complexidade da leitura, citamos a descrição realizada pelo Prof. Dr. José d’Encarnação
(1984, pp. 55-58): ‘Torna-se difícil saber quantas linhas haveria no 2.° bloco — a hipótese de oito
baseia-se no espaço e em presumíveis vestígios de letras. O traçado dos caracteres impossibilita
distinguir aí um T, de um I. Na linha 6, parece-nos existir um V sob o primeiro N de Ossonobensium;
na linha 7, haverá um A precedido de M (?) e, no final, -NVS; na linha 8, afigura-se-nos um S.
Todavia, o conjunto está tão erodido que não ousamos lançar hipóteses de reconstituições. Decerto
252
que aí terminava a inscrição, não só porque há um nítido espaço em branco após a inha 8, como
também essa é a sugestão dada pelo vocábulo Ossonobensium, que se crê ser uma forma de
caracterizar os elementos da lista no todo ou em parte. Por outro lado, é de supor que o texto mais
importante do ponto de vista estrictamente histórico estaria em cima: aí se indicaria o teor e a razão
da homenagem, podendo a lista estar subordinada a uma frase do tipo de “di qui infra scripti sunt”,
como acontece no texto de Aljustrel (IRCP, n° 121).
(...) De que homenagem se trataria ou para que monumento toda esta gente contribuiu — não o
saberemos enquanto não se encontrar essa primeira parte. De qualquer modo, e para além do facto
em si — um grupo considerável de pessoas de Ossónoba que se juntam num empreendimento
comum — o monumento reveste-se da maior importância do ponto de vista onomástico, pelas
informações que nos dá. Daí que interesse debruçarmo-nos sobre os antropónimos aqui registados.
Analisaremos os gentilicios, por ordem alfabética, detendo- -nos logo nos cognomes que os
acompanham. Aliás, à excepção de Marius Maxumus (1inha 7), todas as personagens apresentam os
tria nomina. Na 1inha 11, há espaço para o praenomen, tanto mais que o gentilicio Geminiusse
encontra no alinhamento dos outros gentilicios, enquanto que, na 1inha 7, o M de Marius arranca na
linha dos praenomina”.
A gens Acilia, aqui representada por Cn. Acilius Rufus, e frequente na Peninsula Iberica (ILER p.
651-652); surge no conventus Pacensis (1) e noutra inscricao de Faro (n.° 2), nao sendo inedita a sua
uniao com o cognome Rufus(2). Este cognome, muito representado no conventus Pacensis, e,
segundo Kajanto (p. 65, 121), quase exclusivo de ingenui.
L. Aelius Superstes documenta a gens Aelia, bem representada na Peninsula, encontramos bastantes
L. Aelii com cognome latino, como aqui (4). E se nao podemos aceitar, sem mais, L. Aelius Optatus
da inscricao n.° 8, ja noutra inscricao de Faro (n.° 15) tal gentilicio nos aparece abreviado — o que
pode confirmar a notoriedade da familia. Superstes, por seu turno, e cognome latino (K a ja n t o , p.
94, 274), identificando na Peninsula, individuos com os tria nomina (ILER p. 752).
L. Aemilius Themison: bem documentados os L. Aemilii na Peninsula (ILER p. 653-4); no conventus
Pacensis esta gens esta representada a sul, sobretudo com elementos femininos. Themison, cognome
de origem grega, surge outra vez, em Malaga (CIL II 2021 = ILER 5416), identificando
provavelmente um liberto (5).
L. Annius Lapillianus — A gens Annia tem outros representantes no conventus Pacensis,
nomeadamente na zona costeira meridional: n.os 40, 73 e 91. Lapillianus não vem registado na lista
de Kajanto. Cremos ser a primeira vez que surge: tera a ver com o gentilicio Lapillius, atestado como
ceramista de Merida (6), eventualmente formado a partir do diminutivo lapillus, pequena pedra.
A gens Caecilia tem, neste monumento, cinco representantes, dos quais quatro com o praenomen
Lucius. Poderao ter pertencido ao mesmo senhor que os libertou. No conventus Pacensis, esta gens
nao esta muito documentada: a inscricao n.° 402 refere um L. Caecilius C(aii) f{ilius)\ a n.° 449
indicara tambem verosimilmente um L. Caecilius C(aii) f(ilius). Tanto Liberalis como Urbanus sao
cognomes latinos bem documentados. Nymphodotus e de origem grega; embora nao referido por
Solin, esta atestado no CIL VI, dado principalmente a escravos e libertos. Na Peninsula, Tarragona
apresenta um nucleo de individuos com este cognome, que sao muito provavelmente libertos (cfr.
RIT p. 495) (8). Plocamus (do grego πλόκαμος, anel de cabelo), nao referido por Solin, e cognome
atestado em Roma e nao se regista nos indices do ILER ou do CIL II.
Symphorus, cognome tambem de origem grega, encontra-se em Badajoz — um medico, L. Cordius
Symphorus (CIL II 470 — ILER 417) — e em Tarragona (CIL II 4392 = = ILER 4953 = RIT 628,
RIT 616).
M. Fabius Myrtilus tem um gentilicio mais vezes documentado no conventusPacensis, acompanhado
frequentemente de cognomes gregos. Myrtilus foi o nome dado ao filho de Mercurio e de Mirto GIG.
Nat. 3, 90); nas inscricoes de Roma, encontramos Myrtilus como cognome de escravos e de ingenui;
aqui, no entanto, poderemos perguntar-nos se tera relacionacao com Myrtilis, Mertola, qualificando
alguem originário desta localidade.
(...) Geminius Callistus: O gentilicio formou-se a partir do cognome Geminus; na Peninsula, atesta-se
algumas vezes (CIL II p. 1063). Callistus, de origem grega, também (ILER p. 674).
Da gens de L. Herennius Cosconius, bem documentada na Peninsula (ILER p. 701-2) ha um exemplo
253
em Mertola (n.° 107) e outro em Beja (n.° 261). Cosconius e um gentilicio, nao muito representado
na Peninsula Iberica (x), mas que exerce aqui as funcoes de cognome.
M. Iulius Avitianus: n a o a b u n d am os M. lulii no conventus Pacensis (n .os 150, 353 e 510).
Avitianus, cognomen somente documentado no conventus nesta inscrição conventus, formado a
partir deAvitus (K a ja n t o, p. 109, 304).
Dois membros da gens Iunia, ambos com o mesmo praenomen, o que nos induz a pensar tratar-se de
libertos da mesma personagem. Chrysanthus e a latinizacao de κρύσαντος (Solin, p. 115); surge-nos
numa inscricao de Marim (n.° 43); na Peninsula, documenta-se pelo menos mais quatro vezes (GIL II
p. 1081) e aplica-se geralmente a escravos e libertos.
Tres L. Licinii e denunciador de libertos do mesmo senhor pertencente a gens Licinia, bem
representada no conventus Pacensis, um pouco por toda a parte, havendo ate outros L. Licinii (n.os
132 e 458) (2); perto de Faro, encontramos uma Licinia (n.° 67) e foi um G. Licinius Badius que
ofereceu cem pes do podio no circo de Balsa (n.° 77). Calvus e cognome latino retirado duma
particularidade fisica (K a ja nto p. 235). Opilio — pastor —, cognome latino nao frequente (3),
atesta-se aqui pela primeira vez na Peninsula. Fructus, ja documentado (ILER p. 696), e considerado
por Kajanto (p. 337 e 352) como um provavel participio (de fruor, usufruir); na epigrafia de Roma
figura predominantemente como cognome de libertos.
L . Livius Martialis — Nao so encontramos outros Livii no conventus Pacensis (n.°s H 4? 433 e 517)
como na Peninsula, muito embora o seu numero nao seja numeroso (ILER p. 711). Martialis e
cognome latino extremamente espalhado na Peninsula (ILER p. 718), que encontraremos tambem no
n.° 80. Kajanto (p. 54-55, 212) pensa que Martialis, formado a partir de Mars, pode nao ter relacao
com a importância dessa divindade, sendo, em Africa, o equivalente latino de nomes divinos punicos.
Os autores de Fouilles II, p. 84, sugerem que o sucesso deste cognome em meio céltico se deve
relacionar com o substrato local; nao e o caso presente.
Marius Maxumus — frequente nas regioes ligadas ao mar, este gentilicio surge, no conventus
Pacensis, um pouco por toda a parte. E ate habitual aparecer sem praenomen, como aqui. Maxumus
apresenta u em vez de i, como outras vezes ocorrera no conventus, sem que se possa atribuir ao facto
um significado particular.
A identificacao de L. Publicius Urbanus merece atencao especial. Trata-se dum liberto; e, enquanto o
prenome lhe pode ter sido dado pela pessoa a quem pertenceu a iniciativa da sua libertacao, o
gentilicio e caracteristico dos libertos publicos (T h y l a n d e r , p. 82-3) e o cognome Urbanus (que
surge outra vez nesta inscricao) assinala decerto a sua condicao de antigo escravo da cidade. Temos
outro Publicius em Balsa (n.° 80) e reconstituímos esse nomen no n.° 107, de Mertola.
Estamos, por consequencia, muito provavelmente, perante uma lista de libertos.
Varias das familias a que pertencem — Acilia, Aelia, Aemilia, Annia, Licinia — sao-nos conhecidas
atraves doutros textos epigraficos; por isso nao se afigura impossível que a elas estejam ligados,
sendo eventualmente seus libertos in loco. Outras, apesar de documentadas no conventus Pacensis e
na Peninsula, nao tem por enquanto outros representantes locais, pelo que poderao ser de imigrantes.
De qualquer modo, nao so o texto em si e o seu significado e importante: o facto de, numa assentada,
conhecermos o nome de tantos libertos (ou de descendentes de libertos) nao deixa de ser sintomatico
numa cidade onde a actividade comercial — nas maos desses libertos — seria florescente.
Datação: fins século II d. C.
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 10.
Catálogo Online: Não Registrado
254
C. Comentário Histórico
A datação foi atribuída pela paleografia. A epígrafe possui boa gravação em caracteres em capital
monumental quadrada. As letras finais apresentam-se de maior módulo, o que leva à hipotese de ter
registrado um texto oficial, onde a intervenção dos magistrados municipais tivesse de ser posta em
relevo.
Datação: Século I d. C.
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 13, p. 61.
Catálogo Online: Não Registrado
256
9. Pax Iulia
Status Jurídico: Coloniae
comprova que a atribuição da tribo foi feita muito depois. Trata-se, portanto, de um indicativo da
relação entre Beja e África, com a vinda de colonos africanos para o território da colônia.
Observando a peculiaridade de tal transferência ter sido realizada com uma etapa intermediária em
Balsa. A partir do uso do adjetivo, a datação foi atribuída no século III d. C.
Datação: Século III d. C.
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 294.
Catálogo Online: -
B. Inscrição – FUNERÁRIA
M(arcus) IVLIVS / AVITVS OLISIP(onensis) (hedera) ANNOR(um) / XXX(triginta) (hedera)
H(ic) S(itus) (hedera) E(st)
Interpretação:
Aqui jaz Marco Júlio Avito, olisiponense, de trinta anos.
C. Comentário Histórico
De acordo com as interpretações de Encarnação (1984, p. 370), não são muitos os M. Iulii
documentados no conventus Pacensis: registra-se um em Faro, M. Iulius Avitianus (IRCP, nº 10);
outro em Miróbriga, M. Iulius Marcellus (IRCP, nº 150), e um em Beja, Marcus Iulius Proculus
(IRCP nº 353 e nº 510). Deste modo, compreende-se que são antropônimos tipicamente
olisiponenses. Nesses termos, a própria tipologia do monumento aponta para uma tradição alheia a
esta zona do conventus.
Com a indicação da idade provavelmente arrendondada por lustros, o defunto identifica-se com os
tria nomina, sem filiação; como se diz natural de Lisboa e a onomástica é perfeitamente latina.
Assim sendo, julga-se estar em presença de um indígena romanizado. O exame paleográfico e as
características textuais indicam a datação no século I d. C.
Datação: Século I d. C.
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 296.
Catálogo Online: Não Registrado
259
B. Inscrição
[D(is) · M(anibus) ·] S(acrum) (hedera) / [C(aius)?] [IVL]IVS IVLI/[ANVS] . IIVIRA(lis)
(duumviralis) (hedera) / [ . ..? ] [NA]NORVM /5 [...] / [H(ic) · S(itus) · E(st) · S(it) · T(ibi) · T(erra)]
L(evis) (hedera)
Interpretação:
Consagrado aos deuses Manes. Aqui jaz Gaio Júlio Juliano, duunviral, de ... anos. Que a terra te seja
leve.
C. Comentário Histórico
José d’Encarnação (1984, p. 378) propõe a reconstituição de forma hipotética. De acordo com o
autor, é plausível desdobrar IIVIRA em duumviralis; sendo duunviral todo aquele que foi duúnviro
numa colônia ou município. O termo já e conhecido e surge em inscrições na Península, sendo a
primeira vez que aparece na Lusitânia.
Além disso, destaca o autor, a monumentalidade do epitáfio e o que resta da 1inha 2 induzem a ver
aqui a inscrição funerária do duúnviro citado na dedicatória a Lúvio Vero (IRCP, n° 291). Se assim
fosse, ambos os duúnviros dessa dedicatória teriam sido homenageados noutros monumentos
epigráficos, pois também é provável que o Q. Petronius Maternus da inscrição IRCP, nº 232 seja o
mesmo que o da dedicatória. A identificação foi confirmada pelo exame paleográfico.
Datação: Em fins do século II d. C.
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 305.
Catálogo Online: Não Registrado
394
José d’Encarnação apresenta outras duas fotografias com perspectivas diferentes para o mesmo monumento.
260
B. Inscrição
SERAPI PANTHEO / SACRVM / IN HONOREM G(aii) MA/RI · PRISCIANI · /5 STELINA
PRISCA / MATER FILII / INDVLGENTISSIMI / D(ecreto) D(ecurionum)
Interpretação:
Consagrado a Serápis Panteu, em honra de Gaio Mário Prisciano, filho muito dedicado. A mãe,
Estelina (?) Prisca. Por decreto dos decuriões.
C. Comentário Histórico
Tal como algumas inscrições de Miróbriga (IRCP nºs 145 e 146), esta se apresenta com
características simultaneamente votivas e funerárias, pois é erigida em honra de alguém já falecido.
Como dedicatória a Serápis, divindade egípcia cujo culto foi introduzido na Península através dos
contatos comerciais na Península, insere-se num grupo de epígrafes e de outros testemunhos
artísticos do culto (ENCARNAÇÃO, 1984, p. 304-305).
Sobre a datação, há divergências. Cagé relaciona essa devoção a Serápis com a devoção de Caracala
pelos seus deuses «da saúde», acrescentando: «Bom exemplo para mostrar como, nos confins do
Império (Astúria-Galiza), o zelo dum funcionário se ajunta ao movimento geral para habituar as
populações provinciais a considerar os deuses mais exóticos, se preferidos pelo imperador, como
divindades oficiais de Roma» (apud ENCARNAÇÃO, op cit, p. 305).
Como na inscrição de Beja, o dedicante é um particular, Manuela A. Dias tem outra opinião.
Dialogando com Beaujeu, considera possível datar este texto de 132/133, imediatamente a seguir à
estada de Adriano no Egipto — é com este príncipe que oficialmente se consagra a Serápis a
qualidade de Pantheus (apud ENCARNAÇÃO, op cit, p. 305).
Datação: Possivelmente entre os anos 132 e 133 d. C.
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 231.
Catálogo Online: Não Registrado
264
Palavra-Chave: administração
Nº de Registro: 088
colonial, ordem equestre.
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrado em Beja, Portugal.
Paradeiro Desconhecido
Nº Inventário -
Tipologia Fragmento Retangular
S/F
Material Não Encontrado
Medidas Não Encontradas
Descrição: Fragmento retangular, de que não existe qualquer
descrição e que apenas foi transmitido por André de Resende.
B. Inscrição
B. Inscrição
[C(aio) (?) · IVL]IO · C(aii) · F(ilio) / [G]AL(eria tribu) · PEDONI / [IIV]IR(o) (duumviro)
FLAMINI / [D]IVORVM · OB/5 REM . P(ublicam) · BENE / ADMINISTRA-/TAM · ET ·
ANNO/NAM · INLATA / PECVNIA · ADIV/ 10 TAM · PLEB[S] / AERE · C[ONLATO] /
[D(ecreto) D(ecurionum)] [ ?]
Interpretação:
A Gaio Júlio Pedão, filho de Gaio, da tribo Galéria, duúnviro, flâmine dos divinos (imperadores),
devido a ter administrado bem a república e ter auxiliado com dinheiro o aprovisionamento de
víveres — a população, através de subscrição pública. Por decreto dos decuriões(?).
C. Comentário Histórico
A epigrafe registra a existência de Gaio Júlio Pedão, membro da elite municipal, inscrito na tribo
Galéria e sacerdote do culto a imperadores desconhecidos. Pela paleografia da inscrição, tratar-se-ia
de imperadores da dinastia Júlio-cláudia. A personagem foi homenageada pelo seu zelo na gestão
municipal, enquanto duunviro, e por ter dado dinheiro do seu bolso destinado à compra de víveres
para a cidade numa altura de dificuldades econômicas para a população. Como destaca Encarnação
(1984, p. 313), a República não é identificada no texto, todavia, defende-se a hipótese de se referir a
Beja. O autor ressalta ainda que o vocábulo teria mais o sentido de fórmula epigráfica usual, a saber,
ob rempublicam bene administratam, do que o de atribuir a Beja uma classificação administrativa ou
política particular.
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 239.
Catálogo Online: HEpOnl 21133
272
B. Inscrição
Interpretação:
A Décimo Júlio Saturnino, filho de Décimo, da tribo Galéria, os libertos públicos.
C. Comentário Histórico
Seguindo os estudos de José de Encarnação (1984, p. 314), o homenageado é apresentado como
cidadão romano, pertencente a uma família de Pax Iulia, talvez relacionada com a África. Tal
possibilidade é ancorada em outra inscrição registrada no IRCP sob o n.° 306. Referindo-se muito
provavelmente a dois outros membros, inscritos igualmente na tribo Galéria, com o mesmo prenome
e filiação, sendo um deles homônimo da personagem aqui referida, para o autor, mais do que para
simples homonímia, estaríamos perante a uma identidade, Décimo Júlio Saturnino, ali recordado em
epitáfio (?).
Seria, portanto, o mesmo que, porventura, por ter exercido qualquer função pública (embora vivesse
na sua villa, a poucos quilómetros de Beja), teria sido homenageado com um busto. Nesta
perspectiva, os dedicantes seriam escravos da colônia pacense, os quais Saturnino teria libertado
quando do exercício dessas funções oficiais. Todavia, em se tratando do ineditismo da inscrição, do
ponto de vista epigráfico, o conjunto e a posição do formulário. Assim sendo, se atendermos à
expressão servi publici, o autor destaca que seria mais lógico desdobrar como liberti publici. Pelas
suas características, data-se entre o século I a. C. e a metade do século I d. C.
Datação: Entre o século I a. C. e a metade do século I d. C.
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 240.
Catálogo Online: Não Registrado
273
B. Inscrição
[L(ucio) MARCIO PIERO / [PACENSI / [AVGVSTALI · COL(oniae) . PACENSIS / ET
MVNICIPII · EBORENSIS /5 AMICI OB MERITA EIVS · / AER[E] CONLATO POSVERVNT /
L(ucius) MARCIVS PIERVS / HONORE CONTENTVS / INPENSAM [sic] REMISIT
Interpretação:
A Lúcio Márcio Píero, natural de Pax Iulia, augustal da colónia pacense e do município eborense —
os amigos, devido aos seus méritos, por subscrição pública, erigiram. Lúcio Márcio Píero, satisfeito
com a honra, pagou a despesa.
C. Comentário Histórico
O texto desta epígrafe oferece importantes informações tanto a respeito das funções que o
homenageado ocupou quanto no que diz respeito ao estatuto administrativo das cidades registradas, a
saber: Pax lulia designada como coloniae e Évora como municipium. No registro, pelo menos do
ponto de vista do culto imperial, as duas povoações surgem ligadas: o mesmo augustal, natural de
Beja, asseguraria o culto em ambas, como demonstra Encarnação (1984, p. 315).
Vale destacar que os dedicantes apresentam-se como amici. Mais do que uma simples relação de
amizade ao nível pessoal, os amici estariam ligados entre si por laço de dependência social e,
porventura, econômica. De fato, o texto não foge ao esquema habitual das homenagens registradas
na epigrafia romana, o que demonstra a profundidade da imersão dos dedicantes na cultura epigráfica
romana. Além disso, o cognome registra uma forte carga cultural “romana”, uma vez ser Pierus o
nome duma montanha consagrada às Musas (CIC. Nat. 3, 54).
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 241.
Catálogo Online: Não Registrado
274
Palavra-Chave: administração
Nº de Registro: 096
colonial, sacerdote imperial (Flâmine).
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrado em Beja, Portugal.
Paradeiro Desconhecido
Nº Inventário -
Tipologia Não Encontrada
Material Não Encontrado S/F
Medidas Não Encontradas
Descrição: Não se dispõe de qualquer descrição deste
fragmento de monumento epigráfico, que conteria a parte final
dum texto honorífico ou monumental.
B. Inscrição
[ --- ] / CVRIAE · PONT[IFEX?] / FLAM(em?) · PACIS · IVLIAE [ --- ] / VE · FLAMI[NI?] / · [---
]
Interpretação:
[---] pontífice da Curia, Flâmine de Pax Iulia (...). Ao Flâmine (?) [---]
C. Comentário Histórico
O texto apresenta dificuldades de interpretação e reconstituição, mesmo sem atendermos à variedade
de leituras. José d’Encarnação (1984, p. 316) destaca que, à primeira leitura, parecemos estar perante
uma homenagem feita a um magistrado municipal, pontífice e flâmine de Pax Iulia. Neste caso, teria
PONT[IFICI] e FLAM(mi) nas linhas 2 e 3. Se considerarmos curiae uma forma de curia, cúria, e se
atentarmos na indicada altura das letras, então teria mais a ver com um texto monumental.
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 242.
Catálogo Online: Não Registrado
275
B. Inscrição
C(aio) · IVLIO · L(ucii) · F(ilio) · GAL(eria tribu) / AVITO · FRATRI · [IVLI]/VS · SABINVS [...]
Interpretação:
A Gaio Júlio Avito, filho de Lúcio, da tribo Galéria. Júlio Sabino, ao irmão...
C. Comentário Histórico
O homenageado se apresenta como cidadão romano e tem um cognome muito comum (ILER p. 666-
7); seu irmão, também — Sabinus é antropónimo bem documentado na Península, como
documentado em Conimbriga (Fouilles... II 1976 p. 130 e 154). De acordo com Encarnação (1984, p.
338), a ausência de invocação aos deuses Manes, o uso do dativo, a expressão simples dos laços
familiares bem como o gentilicio, para mais precedido de Caius, induzem-nos a colocar a epígrafe na
dinastia dos júlios-cláudios.
Datação: Primeira metade do século I d. C.
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 265, p. 338
Catálogo Online: Não Registrado
278
Para José de Encarnação (1984, p 310), a epígrafe refere-se um notável municipal que, após ter sido
duunviro e flâmine, se prepara para ingressar na carreira equestre, assumindo o cargo preliminar da
prefeitura dos artífices, que fazia a transição entre as honras municipais e as militiae equestres. Como
Laet demonstrou (apud ENCARNAÇÃO, op cit, p. 311): “Augusto incitou o escol municipal a
elevar-se às classes sociais superiores para aí levar sangue novo e transformar pouco a pouco a
nobreza romana em nobreza do Império»; o procedimento manteve-se durante todo o Alto Império
— até aos meados do séc. II, uma carreira municipal desemboca normalmente nas carreiras
superiores: ‘Há poucos cavaleiros nos serviços imperiais que não tenham pertencido a princípio a
esta burguesia municipal’”.
Nessa perspectiva, complementa Encarnação, M. Aurélio seria sacerdote de Tibério numa altura em
que se procurava igualar este imperador a Augusto, associando-o ao culto do fundador do Império. O
seu gentilicio, muito mais frequente no Império a partir de Marco Aurélio (161-180), ocorre outras
vezes no conventus e está entre os mais frequentes na Lusitânia, segundo o CIL II. Deste modo, a
dedicatória mostra o bom funcionamento da estrutura municipal, pois que há a intervenção
(destacada na 1. 5) da assembleia dos decuriões. O monumento foi possivelmente erigido pelos
habitantes de Pax Iulia e deveria figurar no fórum da cidade. Por não se indicar expressamente o
dedicante, também se poderia pensar que a homenagem é da iniciativa do conselho.
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 236.
Catálogo Online: Não Registrado
279
B. Inscrição
L(ucio) · AELIO · AVRELIO / COMMODO / IMP(eratoris) · CAES(aris) · T(iti) · AELI ·
HA/DRIANI ANTONI/5NI · AVG(usti) · PII · P(atris) · P(atriae) · FILIO / COL(onia) . PAX ·
IVLIA / D(ecreto) D(ecurionum) / Q(uinto) · PETRONIO · MATERNO / C(aio) · IVLIO IVLIANO
/10 IIVIR(is) (duumviris)
Interpretação:
A Lúcio Élio Aurélio Cómodo, filho do imperador César Tito Élio Adriano Antonino Augusto Pio,
pai da Pátria, a Colónia de Pax lulia, por decreto dos decuriões, sendo duúnviros Quinto Petrónio
Materno e Gaio Júlio Juliano.
C. Comentário Histórico
De acordo com a interpretação de José d’Encarnação (1984, p. 362 – 363), trata-se duma dedicatória
a Lúcio Vero, após a sua adopção por Antonino Pio e antes da sua nomeação como imperador. Nesta
inscrição L. Vero é identificado do mesmo modo que o seu sucessor, Cómodo: L. Aelius Aurelius
Commodus — quando, habitualmente, a esses nomes se junta Verus. O elemento discriminatório é a
filiação: L. Vero é filho (adotivo) de Antonino, cuja nomenclatura vem aqui rigorosamente citada,
evidentemente sem a menção do consulado ou do poder tribunicio, que estaria a mais num texto que
não é em sua honra.
Assim sendo, os elementos chave para a compreensão da dedicatória são: a menção do título de pater
patriae, outorgado a Antonino em 139, e a subida ao trono de Lúcio Vero, após a morte de Antonino,
em 161. Tal como na inscrição nº 95 (=IRCP n.° 241), Pax Iulia é designada coloniae. Como é
comum em inscrições desta tipologia, a presente homenagem foi alvo de um decreto dos decuriões,
tendo os duúnviros sido encarregados de executá-la. No entanto, aqui a menção dos duúnviros tem
outra função, isto é, consiste em uma forma de datar a homenagem, à maneira da datação oficial
através do nome dos cônsules; neste aspecto, equivaleria a dizer-se: “no tempo em que eram
duúnviros...”.
Encarnação (1984, p. 363) destaca que, enquanto o gentilicio Iulius é muito frequente em Pax Iulia,
Petronius registra-se no conventus apenas em dedicatórias a Endovélico (IRCP, nº 465 e 520). Sobre
o cognome, o autor ressalta que ‘Maternus’ já fora encontrado em Mértola (IRCP, nº 115); já
Iulianus, cognome também de origem latina, registra-se provavelmente na inscrição IRCP n.° 305 e
em outras do Alto Alentejo (nº 398, 422 e 582). Encarnação destaca ainda que, embora o texto não
nos esclareça acerca do motivo que teria levado os habitantes de Pax Iulia a homenagearem Lúcio
Vero, uma das hipóteses possíveis consistiria na inscrição ser uma forma de manifestar ao poder
central a sua adesão à política seguida e a sua fidelidade ao futuro imperador, num período de
discreto florescimento do culto imperial, revelado na Hispânia por um formulário simples, sem
influência direta do vocabulário oficial.
281
Datação: Século II d. C.
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 291.
Catálogo Online: HEpOnl 21117
Nesse caso, como o poder tribunício é, pelo menos, o vigésimo (posição indicada pela posição do
traço horizontal superior que leva à interpretação da existência de outros algarismos) — a epígrafe
será posterior a 4 a. C. Todavia, se considerar a existência do flâmine de Tibério (IRCP, n.° 236), o
texto pode se referir a este imperador, datando-se, por conseguinte, da década de 20. Por fim, as
expressões como decurionum decreto, loco accepto, enquadram-se bem numa dedicatória imperial.
Datação: Século I d. C.
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 292.
Catálogo Online: Não Registrado
395
José d’Encarnação sugere a possibilidade de os fragmentos agrupados em CIL II 57 (IRCP nºs 340-342) ou
alguns dos outros desenhados por Cenáculo e hoje perdidos, terem pertencido a este texto.
282
10. Ebora
Status Jurídico: Coloniae
simples na ordem direta: uma questura provincial (a da Sicília importava devido ao fornecimento de
trigo e concomitantes problemas de contabilidade), o tribunado da plebe, a legacia junto do procônsul
da província senatorial da Gália Narbonense. A morte sobreveio quando o senador se preparava para
alcançar as mais altas honras da sua modesta carreira, a condizer com a categoria de provincial, de
homo novus. Seus filhos começavam então a carreira, ambos com uma das funções do vigintivirato, a
vigilância das ruas sob os auspícios dos edis.
Toda a onomástica patente na epígrafe é perfeitamente latina: Maximus, cognome muito frequente no
conventus Pacensis; Sabina, us, surgem em Beja (IRCP nº 265) e numa dedicatória a Endovélico
(IRCP nº 497); Nepotianus aparece em Collipo e em Tarragona (CIL II 4242), não sendo muito
frequente no conjunto do CIL (KAJANTO, p. 304 apud ENCARNAÇÃO idem). Clarus surge mais
vezes na Península (CIL II p. 1081 — nove exemplos).
Como visto, a forma do monumento sugere que estamos perante o texto a colocar num cenotáfio. O
fato de o pai ter sido designado pretor e de os filhos exercerem também cargos em Roma aponta para
que a morte os tenha surpreendido nessa cidade. No monumento erigido em sua memória, não
repousariam restos mortais, como, e resto, o parece indicar a ausência da fórmula funerária final (H-
S-S·)· Os lulii de Tourega lograram, pois, uma ligação — embora tardia, se atendermos à carreira do
pai — com o governo central, obtendo daí regalias, devidas certamente, na origem, à sua importância
social na região.
Datação: Século III d. C.
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 382.
Catálogo Online: Não Registrado
Interpretação:
(...) decênviro para julgamento de pleitos (...). A mãe, Júlia Avita, filho de Quinto, mandou fazer e
também dedicou.
C. Comentário Histórico
Na inscrição falta a identificação do defunto: os tria nomina, filiação e tribo. Para o começo da 1inha
2, Scarlat Làmbrino (apud ENCARNAÇÃO, 1984, p. 460) sugere duas hipóteses, que são viáveis: a
indicação de mais um cargo do cursus honorum senatorial — o de trib(unus) mil(itum) por exemplo
— e da idade com que faleceu; ou a idade e pater et seguidos do nome da mãe, cujo gentilicio aquele
epigrafista restitui em Iulia, baseando-se no fato de existirem na Lusitânia mais duas famílias
senatoriais com esse gentilicio: a de Évora (110 do presente corpus) e a de Lisboa (CIL II 4994).
O cognome Avitus, α, é bastante frequente no conventus Pacensis. O monumento honraria, pois, a
memória dum senador em princípio de carreira: ser membro da comissão de dez indivíduos
encarregada de julgar os conflitos relacionados com o estado civil dos cidadãos era uma das funções
do vigintivirato. A riqueza do jazigo indicada pelo fragmento está de acordo com o que se sabe dos
senadores eborenses, da sua situação material e social (cfr. Lambrino apud ENCARNAÇÃO, idem).
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 383.
Catálogo Online: Não Registrado
lunia, bem documentada no conventus. Contudo, algumas ressalvas precisam ser feitas: se o
primeiro, Rulo, lhe pertence por nascimento, o segundo deve pertencer-lhe por adoção; quer dizer: a
sua família seria inicialmente a Norbana, que ele manteve no nome, acrescentando o gentilicio lunius
após ter sido adotado verossimilmente por aquele que o nomeou seu herdeiro. O gentilicio Norbanus
— de que encontramos um exemplo em Miróbriga (IRCP, n° 155) e outro em Évora (IRCP, n° 385)
— tem uma área limitada de difusão na Península: a região de Cáceres, mormente em torno de Norba
(Colonia Norbensis Caesarina), cuja fundação, em 35 a. C., pelo então pro-cônsul C. Norbanus
Flaccus (a quem ficou a dever o nome) parece demonstrada.
Como indica Encarnação, no conjunto do CIL, o cognome Rullus documenta-se, mais cinco vezes
(em CIL X e na Argélia). Dexter, cognome latino, documenta-se na Península, fora do conventus
(CIL II p. 1082, cinco exemplos), sem que a sua distribuição geográfica ofereça qualquer
particularidade. O termo heres explicita um laço simultaneamente familiar e jurídico entre dois
cidadãos romanos, inscrito o primeiro na tribo Galéria. O monumento surpreende um pouco pela
altura fora do comum, de sorte que podemos pensar tratar-se de pessoas de certa categoria
socioeconômica. A ausência de invocação aos Manes e de qualquer fórmula funerária, o uso do
dativo, a simplicidade com que é expressa a relação entre dedicante e homenageado, e a paleografia
— levando à datação nos primeiros tempos do século I d. C.
Lisboa, havendo um Iulius Rufinus, edil designado (CIL II 225). Maximus é também frequente.
Todavia, o fato de serem o pai e a mãe a dedicar uma inscrição ao filho não é inusitado na epigrafia
lusitana (cfr. Fouilles II 1976 nº 36, 39, 60) nem mesmo no conventus (IRCP, n° 582).
A onomástica é totalmente latina, podendo atribuir-se a peregrinos já bem romanizados — note-se
que o gentilicio é transmitido de pai para filho. Não se sabe ao certo o que teria motivado a ida desta
família para a região de Coruche, cogita-se a hipótese da exploração agropecuária. A fórmula final
encontra-se incompleta. As características internas do texto apontam para o século II: invocação aos
deuses Manes, indicação simples das relações familiares.
Datação: Século II d. C.
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 415.
Catálogo Online: Não Registrado
C. Comentário Histórico
Como salienta José d’Encarnação (1984, p.501), a presente epígrafe registra mais um testemunho da
gens lulia, com a particularidade de indicar Évora como sua terra natal. Pela presença da invocação
aos Deuses Manes e pelos escassos caracteres actuários completos que ainda restam, a epígrafe
afigura-se-nos datável da segunda metade do século II.
Datação: Segunda metade do século II d. C.
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 423.
Catálogo Online: Não Registrado
Datação: Século I d. C.
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 425.
Catálogo Online: Não Registrado
L(ucius) · CAECILIVS / C(aii) · F(ilius) · PAP(iria tribu) [ ?]/[...][? ] FE [ ?] [Hl ?]C · SITVS / EST
Interpretação:
Aqui jaz Lúcio Cecílio ..., filho de Gaio, da tribo Papíria.
C. Comentário Histórico
Seguindo a interpretação de José d’Encarnação (1984, p. 531), na 1inha 1 lê-se L(ucius), praenomen,
a l(ulius), dado que há o nomen Caecilius, aliás bastante frequente no conventus. Nas 1inhas 2/3,
encontram-se o nome da tribo e o cognome ou apenas este último. Para o autor, a primeira hipótese é
provável, se atendermos a que o editor leu sem dificuldade o P e o A, embora separados por pontos; a
letra final, em vez de D, pode ser o P — teríamos, assim, PAP(iria). Contudo, salienta, se
verificarmos que, na linha 3, deveremos ter por extenso HIC (de que restaria C), poucas letras
haveria para o cognome. A não ser que as faltas de letras não tivessem sido indicadas, o que não é
inviável. Outra hipótese a considerar será a ausência de cognomen, documentada curiosamente com
um L. Caecilius C. F. (IRCP, n° 402). Note-se a fórmula final por extenso.
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 449.
Catálogo Online: Não Registrado
298
L(ucius) · MARIVS · L(ucii) · F(ilius) / PAP(iria tribu) · / CAPRARIVS · / H(ic) · S(itus) · E(st)
Interpretação:
Aqui jaz Lúcio Mário Caprário, filho de Lúcio, da tribo Papíria.
C. Comentário Histórico
Seguindo as propostas de José d’Encarnação (1984, p. 543), trata-se de um epitáfio simples, dos
primórdios do Império, em que o defunto se identifica como cidadão romano, adscrito certamente a
Mérida pela tribo Papíria, desta cidade. Poderá ter sido, como Sex. Aebutius, um emeritense que se
estabeleceu nestas paragens e a monumentalidade da placa sugere tratar-se dum rico proprietário
rural.
Marius é gentilicio documentado no conventus; Caprarius, cognome latino com particular ocorrência
em África (8 dos 15 exemplos registados no conjunto do CIL, segundo Kajanto, p. 323) atesta-se, no
feminino, em Denia (CIL II 5963 — ILER 5412).
Datação: Século I d. C.
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 461.
Catálogo Online: HEpOnl 20378
299
B. Inscrição
[C(aius)?] · IVLIVS · [C(aii) · F(ilius) · GAL(eria tribu)] [?] / [M]AXSVM[VS...] / [M]ILES ·
L(egionis) . [VII (septimae) · G(eminae) · P(iae)] / [F]ELICIS · I(ovi) · [O(ptimo) · M(aximo)] [?] /5
V(otum) · S(olvit) · L(ibens) · [M(erito)]
Interpretação:
Gaio (?) Júlio Máxumo, filho de Gaio (?), da tribo Galéria (?), soldado da VII Legião Gémea Pia
Félix, cumpriu o voto de boa mente a Júpiter Óptimo Máximo.
C. Comentário Histórico
José d’Encarnação (1984, p. 521) concorda com a reconstituição de Húbner, já Patrick Le Roux
prefere só dois nomes da legião — Geminae Felicis — por extenso; considerando, ainda, que tal
circunstância se pode explicar pelo fato de a unidade não ser ainda bem conhecida na Península — o
que o leva à datação do texto (e em virtude do nome da divindade vir no fim), na segunda metade do
século I d. C.
Consiste em mais um testemunho, verossímil, do culto prestado a Júpiter por soldados por um
indígena romanizado, de onomástica latina, pertencente a uma legião de largas tradições na Hispânia
Romana (cfr., entre outros, García y B e llido, «Legio VII Gemina» 1970 p. 569-599 e Le Roux ,
o.c., passim).
Datação: Século I d. C.
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 439.
Catálogo Online: Não Registrado
300
396
Nossa proposta de interpretação.
301
397
Nossa proposta de interpretação.
302
Palavra-Chave: onomástica,
Nº de Registro: 106 sacerdote imperial (Flâmine),
patronato, liberto.
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Évora, Portugal
Paradeiro Não Encontrado
Nº Inventário -
Tipologia Não Encontrada S/F
Material Não Encontrado
Medidas Não Encontradas
Descrição: Não Encontrada
B. Inscrição
LABERIAE · L(ucii) · F(iliae) / GALLAE · FLA/MINICAE · MVNIC(ipii) / EBORENSIS · FLA/5
MINICAE · PROVIN/CIAE · LVSITANIAE / L(ucius) · LABERIVS · ARTEMAS / L(ucius) .
LABERIVS . CALLAECVS / L(ucius) · LABERIVS · ABASCANTVS / 10 L(ucius) · LABERIVS .
PARIS / L(ucius) · LABERIVS · LAVSVS / LIBERTI
Interpretação:
A Labéria Gala, filha de Lúcio, flaminia do Município Eborense, flaminia da província da Lusitânia
— Lúcio Labério Artemas, Lúcio Labério Galego, Lúcio Labério Abascanto, Lúcio Labério Páris,
Lúcio Labério Lauso, libertos.
C. Comentário Histórico
A presente inscrição, pelo registro dos tria nomina e, sobretudo, dos dados referente ao flaminato
provincial e das relações de patronagem, auxilia a compreender a rede de integração promovida pelas
administrações colonial e provincial. Deste modo, quando cotejada com outros registros, tais
informações ajudam a compreender a rede administrativa consoliadada em época imperial
11. Salácia
Status Jurídico: Municipium
398
Nossa proposta de interpretação.
306
Palavra-Chave: onomástica,
Nº de Registro: 114
sacerdote imperial (Flâmine).
A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrado no Convento de Nossa Senhora
de Aracoelli, Alcácer do Sal, Portugal.
Paradeiro MMAS - Alcácer do Sal/PT
Nº Inventário -
Tipologia Bloco
Material Mármore
Medidas 21,5 x 25,5 x 14,2 cm
Descrição: Fragmento de bloco paralelepipédico, de mármore
branco com veios cinzentos. Apenas conserva parte do topo
original, encontrando-se partido nos lados esquerdo, direito, na
base e na espessura. Conserva vestígios de três linhas,
qualquer delas partida à esquerda e à direita, estando também
danificada no sentido longitudinal.
B. Inscrição
Conventus Scallabitanus
1. Aeminium
Status Jurídico: Cidade Estipendiária
B. Inscrição
Genio / Basele/cae s/[acrum?] / - - - - - -
Interpretação:
Consagrado ao Gênio Baseleco (?)
C. Comentário Histórico
Apesar do estado fragmentado da incrição, levantamos a hipótese de ser o registro de uma divindade
toponímia tutelar.
2. Aritium Vetus
Status Jurídico: ?
Palavra-Chave: administração
Nº de Registro: 219
colonial, administração provincial.
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrada em Alvega, Abrantes, Santarem,
Portugal.
Paradeiro Desconhecido
Nº Inventário -
Tipologia Não Encontrada S/F
Material Não Encontrado
Medidas Não Encontradas
Descrição: Não Encontrada
B. Inscrição – FUNERÁRIA
Interpretação:
Edil, Duunviro, Flâmine da Província da Lusitânia.
C. Comentário Histórico
-
3. Bobadela
Status Jurídico: ?
Iuliae, Cn(aei) f(iliae) / flavinae / Iulius / Rufus / patronae / d(onvm) d(edit) ou d(at) d(edicat)
Interpretação:
Julio Rufo, obsequiou a sua protetora Júlia Flavina, filha de Gneu.
C. Comentário Histórico
A inscrição destaca uma questão importante, a saber, as especificidades das relações de patronagem
na província da Lusitânia. Como indica Regina Anacleto (1981, p. 35-37), se seguirmos os indicios
epigráficos, a frequência do gentilício IVLIA destaca que Bobadela foi uma civitas politicamente
próxima da gens Julia. No presente caso, RVFVS é um liberto que demonstra sua gratidão à patrona
IVLIA por dar-lhe entrada em seu grupo gentilício, vinculando-o à sua clientela e dando-lhe
proteção. Nessa relação, a contrapartida de RVFVS enquanto cliente foi cumprida ao expor
publicamente a gratidão à sua protetora.
Deste modo, a epígrafe aponta para a presença de uma Instituição tipicamente romana, o patronato.
Esta promove a integração social dos indivíduos que, uma vez integrados em famílias bem situadas
politicamente, comungam do regime de comunhão de interesses caro à cultura política provincial.
Acompanhando os argumentos da autora, consideramos segura, ainda que ampla, a datação da
inscrição no apogeu dos Júlios, à exceção do dedicante que, por falta do prae nomem, tem a datação
aproximada no tempo dos Antoninos.
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
ANACLETO, R. Bobadela Epigrafica. Coimbra: Epatur, 1981, nº 2, pp. 25-37.
Catálogo Online: Não Registrado
316
Interpretação:
Consagrado à Piedade. Júlia Modesta, a expensas suas (promoveu esta homenagem) em honra da
gens do seu marido, Sexto Aponiscevo Flaco, flâmine da província da Lusitânia, e em honra da gens
dos seus progenitores, ambos júlios.
C. Comentário Histórico
Nesta epígrafe podem-se destacar dois pontos importantes: (1) o culto à pietas e (2) a honra de
Modesta à família de seu marido. Ao buscar o significado do vocábulo pietas vê-se que refere-se a
abstração divinizada do sentimento de respeito para com os deuses, os pais, a família, os amigos e,
em diversas vezes, usado para designar o respeito a terra que se vive, a província que pertence e o
próprio Estado (ANACLETO, R. 1981, p. 67).
Nessa lógica, é por ser pius que o Imperador que garante a sobrevivência do Estado, sua perenidade.
Roma é eterna porque quem a governa, sendo pius é felix, bem sucedido.Desta feita, o Imperator
enquanto pius, sairá triunfante de todas as contendas, sendo um Victor Aeternvs Invictus. Todavia,
caso os deuses (que zelam pela ordem natural das coisas) não tutelarem o Imperador, a segurança do
império será abalada. Assim sendo, cabe ao Imperador ser, antes do mais, pius. Contudo, Anacleto
assinala: "Donde a preocupação de, sobretudo no Baixo Império, quando as hostes mais se
encarniçavam contra o mundo romano, o de incluírem nos seus títulos o de PIVS. Deixará de o ser
quando, por exemplo, perder o temor dos deuses e não tomar auspicia para, nos atos da governação,
conhecer a sua vontade e agir de conformidade com ela. Então será pius, com todas as funestas
consequências implícitas no odioso termo" (op. Cit, p. 68).
Na segunda questão em torno do vocábulo, Ivlia Modesta recorre à Pietas para sacrificar em honra
de sua gens e a de seu marido e, com isso, tornar-se grata aos olhos da deusa e obter dela favores para
si e seus familiares. Uma terceira questão extraída do texto sublinha e reforça a hipótese de Bobadela
ter sido um lugar de predomínio dos IVLII, nas palavras da autora, "um autêntico feudo da sua
GENS, que por descendência ou clientela terá alcançado uma vasta rede de interesses, relações e
influências. Um dos aspectos mais relevantes desta questão foi o casamento de Modesta com o
flâmine da Lusitânia, que por inerência do cargo, deveria habitar em Mérida". E acrescenta, "de tal
casamento não pouco prestígio deve ter advindo à Gens Ivliorvm e particularmente a Modesta,
elevada às honras do sacerdócio flamínico, zelador, entre outras funções, do culto imperial. E tanto
mais assim é que a própria pietas, objeto da consagração da flamínica bobadelense, mais de uma vez
tomou os traços fisionômicos da viúva do primeiro Augusto e mãe do segundo, Lívia, cultuada sob a
designação de Ivlia Avgusta" (op cit, p. 68).
Datação: Século I d. C.
D. Referências Bibliográficas
317
Interpretação:
Elávio e os seus progenitores ergueram à sua custa (este monumento) em homenagem a Roma e
Augusto.
C. Comentário Histórico
Como indica Anacleto (1981, p. 60-62.), o texto constitui-se em uma confirmação categórica sobre o
desenvolvimento do culto imperial na região que, unida a outros achados (cabeça monumental
laureada, presente no Museu Machado de Castro, e inscrições atribuídas a Flâmines), dão contorno
mais específicos sobre as especificidades do culto em Bobadela.
A inscrição é vista, desde modo, como uma importante expressão da mística teológica da investidura
imperial, a saber, a personificação de Roma em Augusto, a junção da identidade deste naquela.
Ambos tornam-se uma só pessoa, isto é, a AETERNITAS IMPERII assegurada pelo VICTOR
AETERNVS - ideia presente no início do século I d. C., "época áurea do culto imperial e da fusão
mística de Roma com Augusto". Outra questão pertinente consiste na percepção, pelo texto, de que o
culto não é rendido apenas pela província, conventus, municipium ou civitas, mas uma família
particular: pais e filhos que financiam a obra com seus recursos. Tal iniciativa destaca uma
demonstração de profunda identificação com a cultura romana, próximo da devotio.
Datação: Século I d. C.
D. Referências Bibliográficas
ANACLETO, R. Bobadela Epigrafica. Coimbra: Epatur, 1981, nº 5, pp. 55-62.
Catálogo Online: Não Registrado
319
4. Olisipo
Status Jurídico: Municipium
Partindo deste princípio, Encarnação citando Cardim Ribeiro (ibidem, p. 306), destaca que a leitura
Apronius, supõe que o veterano fora mais facilmente relacionável com uma ambiência mediterrânea
(acaso africana) do que com uma ambiência de cariz pré-latino. Em contrapartida, a Amena
pertenceria à população local. Pela paleografia, pela estrutura textual e pela designação da legião, é
datável da última década do século I d. C. ou dos primórdios do século II.
Datação: Entre os séculos I e II d. C.
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Roteiro Epigráfico Romano de Cascais (2ª edição). Cascais: Câmara
Municipal de Cascais, 2001, nº 11, 47-49.
Catálogo Online: Não Registrado
324
doze anos. Também em CIL II 212 = ILER 4847 o M se reconstituiu M(ater). Essas reconstituições
vêm, de resto, na linha do que parece normal nas epígrafes da região: também aqui é uma palavra
mater, por extenso, que antecede a fórmula final.
De acordo com essa leitura, um elo comum parece unir estas epígrafes: é o fato de serem mandadas
fazer por mulheres ou, mais raramente, por alguém que, em teoria, não teria disso nenhuma
obrigação. Acentue-se, porém, a afirmação matriarcal (digamos assim), passível de detectar-se em
outras ocorrências epigráficas. Pela presença da invocação aos deuses Manes - com Dis por extenso e
sem a palavra S(acrum) - e devido à menção da idade (aqui, mais uma vez, arredondada em lustros),
é monumento datável de meados do século I d. C.; a circunstância de a mãe estar identificada sem
cognome poderá, no entanto, fazê-lo remontar para os finais da primeira metade.
Datação: Século I d. C.
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Roteiro Epigráfico Romano de Cascais (2ª edição). Cascais: Câmara
Municipal de Cascais, 2001, pp. 69-71.
Catálogo Online: Não Registrado
330
B. Inscrição
C(aius) Ursius P(ubli) f(ilius) / <G=C>al(eria) Clemens / ann(orum) XXI h(ic) s(itus) e(st)
Tradução:
Aqui jaz Caio Ursio Clemens, filho de Publio, (da Tribo) Galeria, 21 anos.
C. Comentário Histórico
-
B. Inscrição
B. Inscrição
Interpretação:
Tito Caleu Salviano, filho de Tito, da tribo Galéria, aqui jaz.
C. Comentário Histórico
De acordo com os estudos de José d’Encarnação, o epitáfio segue os modelos textuais funerários da
sua época. O que se destaca no texto é o nome de família de Tito, CALLA[EVS] (que podemos
“aportuguesar” para “Caleu”). A palavra não aparece completa já que a placa não apareceu inteira,
mas que pode ser reconstituída à semelhança de outros dois casos nos quais se é registrado prenomen
“Caleus” no território do município, um dos quais também no perímetro urbano da cidade. A palavra
não é de origem latina, muito embora o nome de família já apareça em um cidadão romano que,
como todos os do município a que pertence, está inscrito na tribo Galéria. Deste modo, trata-se de
uma palavra numa língua indígena que se “latinizou”. E assim, este monumento é um testemunho
claro de um processo de romanização que culminou com a latinização de um nome não latino e a
integração de uma família indígena no corpo cívico romano. O texto funerário curto e simples (que se
resume ao nome da defunta e à formula funerária “Aqui jaz”), associado à referência à tribo
permitem situar cronologicamente a vida e morte de Tito Salviano no século I d. C.
Datação: Século I d. C.
D. Referências Bibliográficas
AE 1969/70, 243. Fonte dos dados:
http://www.museudacidade.pt/Coleccoes/Epigrafia/Paginas/Placa-funeraria-II.aspx. Acedido pela
última vez em 14 de novembro de 2014, às 14h 50min.
Catálogo Online: HEpOnl 20227
334
B. Inscrição
T(itus) Callaeus / T(iti) f(ilius) Gal(eria) Niger / Veter(anus) s(it) t(ibi) t(erra) l(evis)
Interpretação:
Veterano Tito Callaeu Niger, filho de Tito, inscrito na Tribo Galeria, aqui jaz.
C. Comentário Histórico
-
B. Inscrição
C(aius)· CANIDIVS / [C(aii) · ?] F(ilius) (hedera) GAL(eria tribu)· FVNDANVS / H(ic)· [S(itus) ·
] E(st)
Interpretação:
Caio Canídio Fundano, filho de Caio, inscrito na tribo Galeria, aqui jaz.
C. Comentário Histórico
Os estudos desenvolvidos apontam que as opções técnicas e estéticas associadas a um texto funerário
conciso, isto é, que registra a referência aos nomes do defunto em nominativo, à sua filiação e à tribo
(elemento que o distingue na sociedade da sua época), seguida da fórmula H. S. E., sem indicar a
idade com que faleceu, permitem colocar este monumento na primeira metade do século I. O texto
gravado na estela apresenta mais um cidadão romano de Felicitas Iulia Olisipo, pertencente a uma
família, nunca antes documentada na área do municipium: a Gens Canidia. O gentilicium Canidius é
pouco atestado nas fontes literárias que destacam apenas uma personagem notável com esse nome,
Publius Canidius Crassus, que foi cônsul em 40 a. C., serviu com Lépido nas Gálias, apoiou Marco
Antônio e foi eliminado por volta de 30 a. C., quando das vitórias de Otaviano. Se na literatura o
nomen é raro, na epigrafia do mundo romano também não é frequente. Na Lusitânia, contudo, o
nome Canidius / Canidia registra-se mais duas vezes: uma Canidia Albina de ordem senatorial
aparece num monumento epigráfico datável do século III, encontrado em Évora (CIL II 111=IRCP
381) e, também num monumento de Évora datável dos finais do século II aos inícios do século III, se
registra um Canidius, mas neste caso a palavra é usada sozinha e com o valor de cognomen (IRCP
375).
Afirmam os autores: “No contexto da Península Ibérica, Canidius é considerado um gentilício fóssil,
ou seja, um dos que fazem parte do grupo de gentilícios raros que se atestam na Península Itálica
durante o período republicano até quase desaparecerem nessa zona para reaparecerem, sempre
raramente, pelas províncias, testemunhando fenômenos migratórios que acompanham processos de
conquista e de colonização e rotas de administração e comércio. O cognomen Fundanus / Fundana,
na Lusitânia, registra-se 19 vezes, 8 vezes no espaço do que foi o município romano de Lisboa (3 na
cidade e 5 no territorium) e é também um nome de latinidade antiga que só costuma aparecer em
ambientes muito romanizados, em zonas que foram conquistadas muito cedo, onde as comunidades
têm um estatuto jurídico privilegiado, como é o caso do municipium civium Romanorum, Felicitas
Iulia Olisipo”
Datação: Primeira metade do século I d. C.
338
D. Referências Bibliográficas
Ficheiro Epigráfico (Suplemento da Revista Conimbriga) Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras.
Edição 91, 2011, nº 410.
Catálogo Online: -
Palavra-Chave: administração
Nº de Registro: 220 municipal, sacerdote imperial
(Flâmine).
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Sintra, Lisboa, Portugal.
Paradeiro Desconhecido
Nº Inventário -
Tipologia Não Encontrada S/F
Material Não Encontrado
Medidas Não Encontradas
Descrição: Não Encontrada
B. Inscrição
- - - - - - / [- - - II]v(ir?) fla(men) aug(ustalis?) / d(onum) p(osuit) / d(e) s(uo) f(aciendum) c(uravit) /
[an(norum)] XL (o I?) h(ic) s(itus) [e(st)]
Interpretação:
Duunviro, Flâmine e Augustal, doado e executado por seu empenho, 40 (?) anos, aqui jaz.
C. Comentário Histórico
-
M(arcus) IVLIVS M(arci) F(ilius)/ GAL(eria tribu) PISO H(ic) S(itus) E(st)/ ANN(orum) III
Interpretação:
Marco Júlio Pisão, filho de Marco, inscrito na tribo Galéria, de três anos, aqui jaz.
C. Comentário Histórico
Como a maioria dos textos epigráficos romanos, este é lacônico, mas em poucas palavras transmite
informações importantes. Para além do nome do defunto, salienta a sua condição de cidadão romano.
Só os cidadãos romanos estavam inscritos numa das 35 tribos pelas quais se distribuía o corpo cívico
romano. A epigrafia funerária do município de Felicitas Iulia Olisipo prova que os seus cidadãos
eram todos inscritos na tribo Galéria. Esta preocupação em indicar a pertença a uma tribo
corresponde a uma época em que a maioria da população do município não gozava do estatuto de
cidadania romana. A referência à tribo acabará por deixar de se fazer a partir da década de 70 do
século I d.C., quando o imperador Vespasiano e o seu filho Tito integram toda a população livre da
Península Ibérica na comunidade cívica do Estado romano. A partir daí, estar inscrito numa tribo
deixa de ser exceção e não merece destaque. O fato do epitáfio de Marco Júlio Pisão indicar que ele
morreu com 3 anos de idade causa estranheza: era criança quando faleceu e isso significa que nunca
atingiu a maioridade. Portanto, ou houve erro na gravação do numeral ou, mais provavelmente, esta
criança, ao contrário do pai, quando atingisse a maioridade tornar-se-ia cidadão romano de pleno
direito, enquanto que ao pai, talvez um escravo libertado, esse estatuto estaria vedado. A morte
prematura de Pisão não fez cessar o orgulho do pai no estatuto futuro do seu filho. O texto curto e
simples que se resume ao nome o defunto e à indicação da tribo a que pertence, sem sequer informar
sobre a idade do falecido (ao contrário do que era mais comum), associadas à fórmula “aqui jaz”
permite situar cronologicamente a vida de Marco Júlio Pisão no século I d. C.
Datação: Século I d. C.
D. Referências Bibliográficas
Fonte das informações históricas: http://www.museudacidade.pt/Coleccoes/Epigrafia/Paginas/Estela-
funeraria-com-edicula.aspx, acedido em 10 de julho de 2014, às 12h 40 min.
Catálogo Online: HEpOnl 25065
340
Palavra-Chave:Tria nomina,
Nº de Registro: 001
sacerdote imperial (Augustal).
A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada nas "Termas da rua de Prata",
Lisboa, Portugal
Paradeiro MNA – Lisboa/Pt
Nº. Inventário E 5517
Tipologia Bloco
Material Mármore
Medidas: 73x 72x 53 cm
Descrição: base de estátua em mármore branco cuja face
superior apresenta um orifício destinado ao encaixe de uma
possível estátua. O bloco é alisado nas faces laterais e anterior
e encontra-se fraturada na face posterior.
B. Inscrição
Transcrição: Sacrum / Aesculapio / M(arcus) · Afranius · Euporio / et / L(ucius) Fabius · Daphnus /
aug(ustales) / municipio d(onum) d(ederunt)
Interpretação:
Consagrado a Esculápio. Marco Afranio Euporio e Lúcio Fábio Daphno, augustais do município,
deram e dedicaram.
C. Comentário Histórico
Comentário Histórico: O registro onomástico dos dedicantes apresenta antropônimos de matriz
greicizante e ambas as personagens apresentam-se como augustais. Apesar dos cargos religiosos, a
dedicatória pode não estar associada apenas ao culto, mas também a um ato de benemerência à
cidade.
Datação: Entre os anos 14 - 37 d. C.
D. Bibliografia
Referências: Catálogo da exposição: Religiões da Lusitânia. Loquuntur saxa (Ficha de autoria de
Carla Alves Fernandes), 2014.
Catálogo Online: HEpOnl 21264
342
Em virtude do tipo de sacerdócio, pode-se datá-lo pouco tempo depois da divinização de Augusto
(falecido no ano 14). Trata-se de uma homenagem da elite local à família imperial. No caso em tela,
a homenagem foi realizada por dois augustais do município olisiponense.
Datação: Entre os anos 14 - 37 d. C. – Governo de Tibério
D. Bibliografia
QUINTEIRA, C. & ENCARNAÇÃO, J. d’. "Pedestal ao divino Augusto, de Olisipo, reencontrado",
Sylloge Epigraphica Barcinonensis VII, 2009, 143-146, com fotos.
Catálogo Online: HEpOnl 21271
343
B. Inscrição
------/ [- - -]i pronepoti divi Ner/[vae(?) ab]nepoti(?) [- - -] FLA FRV(?) / [- - -]OB per C(aium)
Iulium Taur/[um(?)] A(ulum) Malonium Marcio/[nem(?)] Num[erium(?)] Avitia/[n]um et M(arcum)
Iul(ium) Taurum
Interpretação:
------/ [---] bisneto, trineto do divino Nerva [- - -] através de Caio Iulio Tauro, Aulo Molonio, Marcio
Numerio Avitiano e Marco Iulio Tauro.
C. Comentário Histórico
Datação atribuída pela menção imperial.
Datação: Entre os anos de 161 e 180 d. C.
D. Referências Bibliográficas
Hispania Epigraphica. Madrid: Universidad Complutense de Madrid. nº 4, 1994, 1071; AE 1898,
RAP 508.
Catálogo Online: HEpOnl 23101
344
B. Inscrição
Apollini / sacrum / M(arcus) · Iul(ius) · M(arci) · lib(ertus) / Tyrannus / Augusta[li]s / d(ono) d(edit)
Interpretação:
Consagrado a Apolo. Marco Iulio Marcio, augustal, liberto de Tyrano, dedicou.
C. Comentário Histórico
A partir da inscrição se é possível observar o registro do nomen, e de um sacerdócio típico de
libertos, os augustais. Essa informação é confirmada pela própria inscrição, uma vez que seus
dedicantes autointitulam sua condição. Quando cotejada com outros registros, tais informações
ajudam a compreender a rede social desenvolvida na região em época imperial.
Alexandria, contextualizada no Egito, tomado por Augusto em 30 a.C., convertendo –o como sua
propriedade particular
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
AE 1954, 253, RAP 430 a
Catálogo Online: HEpOnl 16771
346
Seguindo a análise A. M. Dias Diogo e Laura Trindade (1999, pp. 4-10), do monumento
depreendem-se cinco questões para a análise:
(1) A primeira questão consiste na reutilização de um monumento feito para ser mostrado no fórum,
nas Termas dos Cássios. Embora construídas no século I d. C, a inscrição encontrada em 1771
(registrada no CIL II, sob o número de registro 191) indica que as Termas foram algo de uma
importante reforma em 336. A epígrafe em tela foi encontrada numa parede (em opus latericium) do
399
Nossa proposta de interpretação.
351
hipocausto. Essa reutilização indica que o fórum já estava desmantelado e suas pedras foram
reutilizadas na construção ou reparo de outras construções.
(2) O monumento foi mandado construir por Decreto dos Decuriões, obviamente do município
olisiponense, em honra de Lúcio Cornélio Boco, filho de Lúcio e natural da Salácia (atual Alcácer do
Sal). Como membro da ordem equestre, Lúcio Cornélio apresenta um cursus honorum amplo: fora
tribuno militar após ter sido prefeito dos artífices por cinco vezes. Há de se ressaltar que o Dr. José
d’Encarnação já havia observado outra inscrição em uma placa monumental encontrada em Alcácer
do Sal (CIL II 2479 e 5617, IRCP 189) onde também aparece o registro de um indivíduo que exerceu
a prefeitura dos artífices por cinco vezes. Esta inscrição encontra-se incompleta, sendo legível apenas
a terminação do cognome [...]CHVS, restituível como [Boc]chus. Dada essas características e sendo-
lhe atribuída uma cronologia posterior, as pode-se levantar a hipótese de estarmos perante a mesma
personalidade. A placa de Alcácer indica, ainda, a prefeitura dos Césares pela segunda vez que,
graças a Legião registrada na inscrição de Lisboa, sabe-se que tinha de ser Augusto e Tibério e não
Vespasiano e Tito.
(3) A legião referida da epígrafe trata-se da VII Augusta. Do conjunto de monumentos já estudados e
atribuíveis aos Cornelii Bocchi, apenas o proveniente de Troia (CIL II 5184, IRCP, 207), embora
fragmentado, conserva o nome da legião, a III Augusta. Esta inscrição honorífica, hoje perdida, tem
vindo a ser alvo de controvérsia devido à imprecisão da filiação de Cornélio Boco. Foi atribuído por
alguns autores a L(ucio) C(aii) filio, enquanto outros preferiram L(ucio) L(ucii) filio. Dada a
referência à legião, esta inscrição não poderá deixar de ser deidicada ao filho de Caio, ao contrário do
que acreditava Leite de Vasconcelos (Excursão archaelogica a Alcacer-do-Sal, in: O Arqueologo
Português, I, Lisboa 1985, p. 69-73).
(4) A VII Legião Augustana, de formação augustana, como o nome pressagia, não deixará de ser a
posteriormente conhecida como VII Claudia Pia Fidelis, assim renomeada por Cláudio em 42 por ter
se recusado a apoiar a revolta de Escriboniano. Acantonada na Macedônia, foi enviada em 10 d. C.
para a Dalmácia, sendo aí empregue na construção de estradas até 68, conjuntamente com a XI
Legião.
Observações Importantíssimas:
para as autoras, as epígrafes mais completas já conhecidas dizem respeito a dois Cornelii
Bocchi, ambos com o prenome Lúcio e indicam 3 gerações: Caio, Lúcio, filho de Caio e Lúcio filho
de Lúcio. Este último a quem, para além da inscrição aqui estudada, pode ainda ser atribuída uma
monumental de Alcácer do Sal (CIL II 2479 e 5617, ircp 189), terá exercido, dentre outras funções,
a de prefeito dos Césares por duas vezes, flâmine da província da Lusitânia, pontífice perpétuo,
flâmine perpétuo, duúnviro, prefeito dos artífices por5 vezes, tribuno militar da VII Legião Augusta.
Pelo que os textos nos deixam perceber, a sua atividade desenrolou-se principalmente durante o
reinado de Tibério.
A Lúcio, filho de Gaio, cuja atividade mais importante terá decorrido durante o principado
augustano, é atribuível a inscrição de Tróia (CIL II 5184, IRCP 207), assim como uma provável base
de estátua (CIL II 35, IRCP 185), hoje perdida, tratando-se de um monumento mandado edificar
pelal colônia escalabitana em Salácia, cidade de residência do homenageado. Do seu cursus honorum
sabe-se apenas que exerceu o tribunato militar da III legião Augustana e foi flâmine provincial.
A quantidade de inscrições já conhecidas, atribuída aos dois Lucii Cornelii Bocchi, as suas
características, honoríficas ou monumentais, as funções que exerceram e o fato de duas delas
poderem pertencer a estátuas mandadas erigir pela Colonia Escalabitana e pelo Município
Olisiponense, os carateriza como pertencentes à elite econômica provincial. Dada a sua cronologia, a
origem salaciense e os sítios onde lhes conhecemos interesses: para além de Alcácer do Sal, Troia,
Lisboa e a cabeça do convento Scalabitano, poderiam estar ligados à industria e à exploração das
conservas de peixe. Por último, é ainda de referir a possibilidade, por várias vezes publica por
Hubner (Notícias de Portugal, p. 27, nota, etc) e repetida por múltiplos investigadores, de estarmos
aqui em presença do escritor Cornélio Boco, citado por Plínio e Solino. Dada a cronologia que lhe é
atribuída, este poderia ser Lúcio, filho de Lúcio.
Deste modo, a datação da epígrafe segue a menção da legião, cujo cognomentum permite indicar a
352
B. Inscrição
L(ucius) · Iulius · Maelo · Caudic(us) · flam(en) · divi · Aug(usti) d(e) s(uo) f(ecit)
Interpretação:
Feito por Julio Maelo Caudicus, flâmine do Divino Augusto.
C. Comentário Histórico
A partir da inscrição é possível observar o registro do nomen e de um sacerdócio importante no
território provincial, a saber, o flaminato. Quando analisada em cojunto com outros registros, tais
informações ajudam a compreender a rede social estabelecida em época imperial.
B. Inscrição
NEMETE[VS?]/ FIRMVS AV[GG(ustorum)]/ VER(na) VIL(icus)· XX(vicesima)/ HERE[D(itatium)
L vel E] S(uo?) F(ecit?)
Interpretação:
Nemeteu Firmo, servo dos Augustos, feitor (ou administrador) da vicesima hereditatium …
C. Comentário Histórico
Embora esta inscrição não seja suficiente para determinar se estamos perante a parte final de um
texto funerário, votivo, ou honorífico (em que Nemeteu Firmo é o dedicante), ou se é outra situação
que aí está registrada. Este monumento é o único, na epigrafia romana encontrada no território
nacional, que regisrta: um verna (escravo dos Augustos, ou seja um escravo público da época
imperial, quando a propriedade do Estado romano se confunde com a propriedade privada dos
imperadores); um vilicus (feitor ou administrador); e ainda, o único a referir a vicesima hereditatium,
introduzida em 6 a. C. pelo imperador Augusto (taxa de 5% sobre as transmissões por herança,
cobrada aos cidadãos romanos, pelo menos até aos fins do século III d.C.).
Estamos, portanto, perante uma personagem que, embora não goze do estatuto de cidadania romana,
nem mesmo de liberdade, não deixa de ter grande importância econômico-social e até mesmo política
no município de Felicitas Iulia Olisipo. Este texto epigráfico é raro, tanto no contexto peninsular
como no restante império romano. De fato, as epígrafes inventariadas, que referem personagens desta
natureza e importância, não ultrapassam as duas centenas em todo o território que esteve sob o
domínio romano.
Datação: Entre os séculos I – III d. C.
D. Referências Bibliográficas
Fonte do comentário histórico:
http://www.museudacidade.pt/Coleccoes/Epigrafia/Paginas/Fragmento-de-monumento-
epigrafico.aspx. Acedido pela última vez em 14 de novembro de 2014, às 16h 20min.
Catálogo Online: HEpOnl 16748
355
Marco Aurélio Antonino Augusto, filho do divino Pio, neto do divino Adriano, bisneto do divino
Trajano Pártico, trineto de Lucio Aurelio Comodo Augusto Germânico Sármata. (O municipio)
Felicitas Iulia Olisipo (dedicou), por Quinto Coelio Cassiano e Marco Fulvio Tuscum, duunviros.
C. Comentário Histórico
Dedicatória Imperial realizada pelos duunviros.
B. Inscrição
NERONI CLAVDIO DIVI· CLAVDI · F(ilio) · GER(manici) [- - -]AESARI /[- - -]AESARIS[- - -]
AVG(usto) GERMANICO /PONT(ifici) MAX(imo) TRIB(unitia) POT(estate) III IMP(eratori) III
CO(n)S(uli) II DESIGNATO III /PROSCAENIVM ET· ORCHESTRAM CVM ORNAMENTIS
/AVGVSTALIS PERPETVVS C(aius) HEIVS PRIMVS [- - -]
Interpretação:
A Nero Cláudio Augusto, Germanico, filho do divo Cláudio Germânico, Pontífice Máximo, no seu
terceiro poder tribunício, Imperador pela terceira vez, consul pela segunda vez e designado para a
terceira. O proscénio e a orquestra com ornamentos, o augustal perpétuo, Caio Heio Primo
(FERNANDES, 2005, p. 30, nota 3)
C. Comentário Histórico
Reuperamos aqui a análise de Lidia Fernandes (2005, p.105-110):
“ sendo o proscaenium, nos teatros, um elemento da fachada frontal do palco perfeitamente visível
das bancadas, é um local de eleição tanto para a ornamentação como para a comunicação através de
mensagens escritas. Assim, é fácil compreender que no proscaenium do teatro romano de Lisboa
tenha sido gravado um texto que terá constituído, no edifício, um dos elementos mais notáveis
daquilo que Giancarlo Susini (1982, 17-18) designou por “paisagem epigráfica”, ou seja, uma escrita
exposta aos olhos de todos que cumpria uma função comunicativa considerada importante”.
(...)
“A arte da inscrição, cultivada pela civilização romana, tinha propósitos eminentemente práticos:
informar, recordar, exaltar e influenciar. A epígrafe do proscaenium é bom exemplo disso. Como a
maioria das mensagens epigráficas romanas era concisa e clara. Numa só linha, constituída por
poucas palavras, cumpria simultaneamente várias funções: exaltava a figura do imperador em
exercício e ao mesmo tempo que especificava os trabalhos de embelezamento, localizando-os no
tempo, recordava o benemérito que os promovera, numa estratégia propagandística muito clara para
influenciar a opinião pública. O imperador a quem é dedicada a inscrição é Nero. Declarado hostis
publicus em 68 d.C., a sua condenação ao esquecimento, através do instrumento legal da damnatio
memoriae, obrigaria, em princípio, à martelagem de todos os nomes e títulos que o identificassem na
inscrição, o que nunca chegou a acontecer, no caso do texto do proscaenium do Teatro de Lisboa.
Este não é um caso único nem raro. O cumprimento pouco rigoroso das implicações práticas da
condenação tem sido explicado com a conturbação dos anos 68-70 e com a política moderada de
Vespasiano (PAILLER; SABLAYROLLES, 1994, p. 11-15). A dedicação a Nero é uma
manifestação do culto imperial. O culto aos imperadores, colocando a religião ao serviço do Estado,
361
imperadores divinizados.
O cargo de augustal, considerado uma honra anual, com direito à toga praetexta e à sella curulis era
sujeito à summa honoraria. Assim a augustalidade funcionava, para os libertos especialmente
abastados, como via de entrada nas elites locais e nos modos de vida aristocráticos. Como augustal
perpétuo, Caius Heius Primusrecebeu a honra máxima que lhe permite manter o título e o prestígio
vitaliciamente. Essa honra foi certamente antecedida e acompanhada por actos de evergetismo
marcantes, como a epigrafia do Teatro romano, nomeadamente a inscrição do proscaenium, tão
claramente demonstra. Foi também descoberto, em reutilização num edifício da Rua da Saudade,
próximo do local das ruínas, o que aparenta ter sido um lintel do Teatro, com a seguinte gravação,
[C(aius) HEI]VS PRIMVS DEDIT48. Não deverá surpreender que o teatro tivesse sido o edifício que
Caius Heius Primus escolheu para patrocinar.
De fato, como têm sido salientado, os teatros estavam relacionados com o desenvolvimento de
cerimónias de culto imperial, pelo que participar na sua construção, ou reforma funcionava como um
acto pú- blico de lealdade face aos imperadores divinizados e ao imperador em exercício (GROS,
2002, p. 30; MERCHOL GIL, 2002, p. 73), ao mesmo tempo que preenchia o dé- fice crónico dos
fundos públicos municipais, dependentes do evergetismo privado (CEBELLOS HORNERO, 2002-
2003, p. 83-106; idem, 2004, p. 334-348)”.
Datação: Ano 57 d. C.
D. Referências Bibliográficas
Hispania Epigraphica. Madrid: Universidad Complutense de Madrid, nº4, 1994, 1074; Hispania
Epigraphica. Madrid: Universidad Complutense de Madrid, nº11, 2001, 690, FERNANDES, L;
CAESSA, A. O proscaenium do teatro romano de Lisboa: aspectos arquitectônicos, escultóricos e
epigráficos da renovação decorativa do espaço cénico. In.: Arqueologia & História nº56/57 -
2004/2005, pp. 95-102.
Catálogo Online: HEpOnl 21272
363
5. Sellium Turmulus
Status Jurídico: ?
Genio / municipi(i)
Interpretação:
Ao Gênio do Município
C. Comentário Histórico
Trata-se de uma inscrição votiva, dedicada a uma divindade tutelar, ou seja, o Genio do município.
6. Scallabis
Status Jurídico: Coloniae
C. Comentário Histórico
Na presente inscrição é possível observar o registro dos tria nomina e de magistraturas importantes
no território provincial, a saber: o duunvirato, a praefactura e, ainda, de um sacerdócio provincial,
no caso, o flaminato. A inscrição foi feita com a autorização do decreto decurionum.
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
Hispania Epigraphica. Madrid: Universidad Complutense de Madrid. nº4, 1994, 1084.
Catálogo Online: HEpOnl 23107
365
400
Tradução da transcrição: “En honor del emperador Tito, durante su octavo consulado, Severo, hijo de Vivio,
construyó esta fuente” (ANACLETO, R. 1981, nº 9).
367
Palavra-Chave: acordo de
Nº de Registro: 017
hospitalidade.
A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada em Campo Maior, Portalegre,
Portugal.
Paradeiro Não Encontrado
Nº Inventário -
Tipologia Placa
Material Bronze
Medidas 17,2 x 8,9 x 0,3
Descrição: Placa retangular emoldurada com um anel em forma de
arco para suspensão no lado superior. A placa, incluindo a moldura,
parece obtida por fundição. A face principal apresenta alguns
defeitos de fundição.
B. Inscrição
Caburius / Tangini f(ilius) / tesseram / populo qui / conveniunt / ARTICA capud / de suo donavit
Interpretação401:
Caburio, filho de Tangino, oferece a seus custos esta téssera ao povo que se reúne na capital Ártica.
C. Comentário Histórico
Segundo Encarnação (2009, p. 128), devido as suas circunstâncias de achado e à estranha
composição da forma e texto, cabem dúvidas sobre sua autenticidade.
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. “Da invenção de inscrições romanas, ontem e hoje: a propósito de uma
téssera de bronze”, Revista Portuguesa de Arqueologia, 12 (1), 2009, pp. 127-138.
Catálogo Online: HEpOnl 25982
401
Tradução da transcrição: “Caburio, hijo de Tangino, ofrece a su costa esta tésera al pueblo que se reune en la
capital Ártica” (HEpOnl 25982).
368
Conventus Emeritensis
1. Augusta Emérita
Status Jurídico: Coloniae
Datação: Século I d. C.
D. Referências Bibliográficas
Hispania Epigraphica. Madrid: Universidad Complutense de Madrid. nº15, 2006, 23.
402
Nossa interpretação.
370
B. Inscrição
C(aius) Pompeius L(uci) f(ilius) Pap(iria) Priscus / flam(en) col(oniae) IIvir flam(en) pr(ovinciae)
Lusit(aniae) / huic ordo decrevit loc(um) sepult(urae) / impens(am) funer(is) statuam et
laudat(ionem) / ann(orum) XXXVII h(ic) s(itus) e(st) s(it) t(ibi) t(erra) l(evis)
Interpretação403:
Aqui jaz Caio Pompeu, filho de Lucio Prisco, da Tribo Papíria, flâmine colonial, duúnviro, flâmine
da província da Lusitânia. A ele o conselho (municipal) decretou o local da sepultura e dedicaram-lhe
a estátua e o elogio fúnebres. 38 anos, que a terra te seja leve.
C. Comentário Histórico
A partir da inscrição é possível observar o registro dos tria nomina, da tribo e de uma magistratura e
do sacerdócio de culto imperial provincial, a saber, o flaminato. Quando comparada com outros
registros, tais informações ajudam a compreender as redes social e administrativa estabelecidas em
época imperial.
403
Nossa interpretação.
371
404
Nossa interpretação.
372
B. Inscrição
M(arcus) . Tavonius . / M(arci) . f(ilius) . Rom(ilia) . Firmus . / dom(o) . Ateste . mil(es) . / leg(ionis)
. VI . Victr(icis) . |(centuria) . P(ubli) . Sexti / an(norum) . XXX . Era(orum) . XI . H(ic) . S(itus) .
E(st) . / s(it) . T(ibi) . T(erra) . L(evis) .
Interpretação405:
Marco Tavonio Firmo, filho de Marcio, da tribo Romilia, domiciliado em Ateste, soldado da legião
VI Victrixna centúria de Publio Sexto, de 30 anos, da ERAORUM (?) XI, aqui jaz, que a terra vos
seja leve.
C. Comentário Histórico
Inscrição funerária de um veterano, possivelmente pertencente à primeira leva de colonos assentados
na colônia. O cognome Victrix foi atribuído à legião por Nero, por isso datamos a inscrição nesse
períoodo.
Datação: Governo de Nero
D. Referências Bibliográficas
Cerezo Magán, M. "Miscelánea epigráfica. Inscripciones de la provincia de Badajoz", Emerita 36,
1968, 318, lám. 3.
Catálogo Online: HEpOnl 20205
405
Nossa interpretação.
373
406
Nossa interpretação.
374
B. Inscrição
Miniciae Paternae ann(orum) XXXV / coniugi dulcissimae et castissimae / Geminius Gargilianus
mil(es) leg(ionis) VII G(eminae) b(ene)f(iciarius)
Interpretação407:
A Minicia Paterna, 35 anos, conjuge dulcíssima e castissima. Geminio Gargiliano, soldado da VII
Legião Gêmina, concedeu-lhe o benefício.
C. Comentário Histórico
Inscrição de veterano à sua esposa. Possivelmente foram integrantes da primeira leva de colonos
(veternanos da 7ª legião Gêmina) assentados quando da fundação da colônia Augusta Emerita,
fundada em 25 a. C. pelo Imperado Augusto.
Datação: Após 25 a. C.
D. Referências Bibliográficas
GARCÍA Y BELLIDO, A. Esculturas romanas de España y Portugal, Madrid, 1949, 297, nº 290.
Catálogo Online: HEpOnl 20285
407
Nossa interpretação.
375
408
Nossa interpretação.
376
O registro dos destinatários é bem salientada pela dedicante do monumento, Julia Severa, que
também enfatiza que o monumento foi feito para si e os seus, estes não deverão passar para os
herdeiros. Colocamos a hipótese de estarmos perante a um jazigo familiar.
Datação: Século I d. C.
D. Referências Bibliográficas
GARCÍA IGLESIAS, L. ‘Notas de epigrafía emeritense’, Revista de Extremadura (REEX) 39,
1983, 586-588, III D, lâmina VI (AE 1983, 494); EDMONDSON, J. Conmemoración funeraria y
relaciones familiares em Augusta Emerita. IV Mesa Redonda Internacional. Cultura y
Sociedad em Lusitania Romana. 2000, p. 323, lam. 10; MANGAS MANJARRÉS, J. Esclavos y
Libertos em la España Romana. 197, p. 323; VELÁZQUEZ JIMÉNEZ, A. Hispania: El legado
de Roma, en el año de Trajano. La Lonja, Zaragoza, septiembre-noviembre de 1998, p. 551, nº
175; VELÁZQUEZ JIMÉNEZ, A. Hispania: El legado de Roma, en el año de Trajano, Mérida:
Museo Nacional de Arte Romano, febrero-abril 1999, p. 605, nº 175.
Catálogo Online: HEpOnl 20445
409
Nossa tradução do texto: “A Publio Vario, hijo de Quinto, de la tribu Papiria. Ligur y Licinia liberta de Caio
Trelis, que de propia voluntad lo dejaron dispuesto;.........al suegro, a la suegra, al suegro abuelo y a su
esposa.............Julia Severa, hija de Quinto, hizo este monumento para sí y los suyos que no há de pasar a los
herederos (Segundo José Ramón Mélida)”.
377
410
Nossa interpretação.
378
411
Nossa interpretação.
379
Nesse sentido, Edmondson defende a hipótese de estarmos perante a um dos soldados veteranos
originários (emeriti) que foram estabelecidos na fundação da colônia Augusta Emérita em 25 a.C.
Datação: Até o ano 37 d. C.
D. Referências Bibliográficas
BENDALA GALÁN, M. ‘Los llamados Columbarios de Mérida’. In.: Revista Habis nº 3, 1972. Pp.
235-236; EDMONDSON, J. ‘Conmemoración funeraria y relaciones familiares em Augusta
Emerita’.In.: BASARRATE, T. & GORGES, J. – G. Sociedad y Cultura em Lusitania romana –
IV Mesa Redonda Internacional. Mérida: MNAR, 2000, pp. 299 - 303; EDMONDSON, J. Granite
funerary stelae from Augusta Emerita - Monografías emeritenses 9. Mérida: MNAR, 2006, p.
70, fig 2.7; Memoria de la Junta Superior de Excavaciones y Antigüedades; MÁRQUEZ, J. Los
Columbarios. Arquitectura y Paisaje Funerario. Mérida: s/e, 2007.
Catálogo Online: HEpOnl 20902
412
Tradução nossa do texto: “A Cayo Voconio, hijo de Cayo, de la tribu Papiria, su padre; Cecilia Anui, su
madre; Voconia María, hija de Cayo, su hermana: Cayo Voconio Proculo, hijo de Cayo, elevó el monumento (
Según J.R. Mélida)”.
380
Na Asia, menciona-se as regiões da Licia e da Panfilia, duas províncias que foram unidas por
Vespadiano em 74. A região da Licia foi incorporada ao Imperium como província procuratória em
43-44 por Nero. Somente em 74 tornou-se uma província autônoma imperial e foi unida à Panfilia,
passando a ser governada por um legado imperial de ordem pretoria. Em 135, tornou-se província
senatoria, sob o comando de um proconsul provincial. Em 297 fez parte da Diocesis Asiana junto
com as províncias da Asia, Hellespontus, Caria, Panfilia, Lidia, Pisidia, Phrygia I e Phrygia II. Até
que, sob Constantino I, as regiões de Licia e Panfilia foram tranformadas na nova província da
Panfilia, integrando a prefeitura do pretório d’Oriente. Sob Teodósio I foi novamente subdividida em
Licia e Panfilia.
413
Nossa interpretação.
381
414
Nossa interpretação.
382
B. Inscrição
D(is) M(anibus) s(acrum) / Iuliae Optatae / an(norum) XXIII / P(ublius) Aelius Aug(usti) lib(ertus) /
Alexander tab(ularius) / provinciae Lusit(aniae) / coniugi dulcissimae / fecit
Interpretação415:
Consagrado aos Deuses Manes. A Julia Optata, 23 anos. Publio Aelio, liberto de Augusto Alexandre, tabulario
da província da Lusitânia, para a sua dulcíssima cônjuge fez.
C. Comentário Histórico
A inscrição apresenta três personagens: Julia Optata, Publio Aelio (liberto de Augusto e Alexandre,
tabulário da província da Lusitânia. A inscrição teria sido mandada fazer pela esposa do Tabulario.
Tabulário consiste em uma das funções que integravam a administração das províncias sendo,
especificamente, o funcionário responsável pela redação dos documentos oficiais. O sistema de
registro das informações era uma prerrogativa do tabularium ou registro municipal (ou provincial), o
local de guarda dos documentos. Muitos instrumenta estavam redigidos sobre tabulae ceratae, a princípio
agrupadas em códices. Em sua análise das leges das cidades de Urso e Irna, Juan Francisco Rodrigues Neila
(2003, p.190) indica que também era função dos escribas controlar as contas da colônia. Para isso,
deveriam ser honestos nos registros e não falsear os documentos. Além disso, organizavam o arquivo
das tabulae (tabuinhas), rationes (contas) e os (libri (livros), de modo fidedigno. Assim sendo,
tratar-se-ia de um cargo de alta confiança dos magistrados locais.
415
Nossa interpretação.
383
A inscrição registra a existência de duas personagens: o veterano Domitio Pastor, integrado à legião
7ª Gêmina, assentada na colônia de Augusta Emérita em 25 a.C. e da defunta Valeria Vernacla, quem
dedica a inscrição ao anfitrião. A epígrafe é, pois, um entre os vários exemplos das relações patronais
desenvolvidas na rede social da província da Lusitânia.
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
Hispania Epigraphica. Madrid: Universidad Complutense de Madrid. nº4, 1994, 165.
Catálogo Online: HEpOnl 21508
416
Nossa interpretação.
384
417
Nossa interpretação.
385
B. Inscrição
P(ublius) Alfius T(iti) f(ilius) Pap(iria) / monumentum fecit / sibi et T(ito) Alfio T(iti) f(ilio)
Pap(iria) / fratri et Alfiae / Iucundae libertae / impensa sua
Interpretação418:
Publio Alfio, filho de Tito, da tribo Papiria, fez o monumento para si e para o irmão Tito Alfio, filho
de Tito, da tribo Papiria, e também para Alfia Jucunda, liberta, às suas custas.
C. Comentário Histórico
-
418
Nossa interpretação.
386
419
Nossa interpretação.
387
Interpretação: -
C. Comentário Histórico
Os romanos escreviam grandes inscrições gravadas em pedra para colocar nos espaços públicos
(fórum, templos, pedestais de estátuas, pontes, etc.) e que escassamente sobreviveram. Nesse tipo de
placa, honra-se uma pessoa, pública ou privada, um deus, ou publicam-se as leis, plebiscitos,
respostas do Senado, editos dos magistrados, dentre outros.
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
Disponível no site: http://ceres.mcu.es/ . Acedido pela última vez em 02 de dezembro de 2014, às
13h 54 min.
Catálogo Online: Não Registrado
388
B. Inscrição
D(is) . M(anibus) . S(acrum) / TIB(erius) . CLAVDI(us) . CRESCENCIVS / PAP(iria tribu) .
EMERI(tensis) / ANN. LXX / H(ic) . S(it) . E(est) . S(it) . T(ibi) . T(erra) . L(evis)
Interpretação420:
Consagrado aos Deuses Manes. Tibério Cláudio Crescens, da tribo Papíria, emeritense, 70 anos.
Aqui jaz, que a terra te seja leve.
C. Comentário Histórico
Trata-se da memória de Tibério Cláudio Crescens, da tribo Papiria, na qual estavam inscritos os
cidadãos da colônia Augusta Emérita.
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
Disponível no site: http://ceres.mcu.es/ . Acedido pela última vez em 02 de dezembro de 2014, às
14h 00min.
Catálogo Online: Não Registrado
420
Nossa interpretação.
389
Palavra-Chave: administração
Nº de Registro: 301
colonial, tria nomina, tribo.
A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada na Calle Legión X, Mérida
(comarca), Badajoz, Extremadura, Espanha.
Paradeiro MNAR – Mérida/Es
Nº Inventário CE08547
Tipologia Fragmento
Material Mármore
Medidas 30 x 35 x 8 cm
Descrição: Fragmento de lápide funerária de um personagem
que fui duunvir. As bordas superior e direita são originais, as
outras estão quebradas. Conserva três linhas de inscrição, mas
não o nome do difunto.
B. Inscrição
---]M . E . PAP[---/ (V)IR . PRA(E)[...
Interpretação: -
C. Comentário Histórico
Duunviro é o mais importante magistrado municipal e que também foi prefeito, outro cargo
importante da administração local. Pertencia à tribo Papiria, a mesma que estavam inscritos os
emeritenses.
As cinzas da cremação eram depositadas em vasilhas de pedra, cerâmica, vidro ou prata, e enterrada
ou depositada nos mausoléus coletivos com uma ou mais salas edificados na superfície ou escavados
na terra. As vasilhas eram introduzidas nos nichos e depois fechadas com uma lápide gravada, cujo
presente suporte é um exemplar, do mesmo modo que as lápides funerárias atuais.
Datação:
D. Referências Bibliográficas
Disponível no site: http://ceres.mcu.es/ . Acedido pela última vez em 02 de dezembro de 2014, às
14h 30min.
Catálogo Online: Não Registrado
392
421
Nossa interpretação.
394
422
Nossa interpretação.
395
423
Nossa interpretação.
396
424
Nossa interpretação.
397
425
Nossa tradução da interpretação: “Al Genio de la Ciudad Augusta Emerita, Cayo Antistio, liberto de Cayo
Iucundo Palmenso, a su costa cumplieron el voto que de buen grado hicieron” (HEpOnl 20489).
398
426
Nossa tradução da leitura: “A la invicta diosa Caelestis Nemesis, Marco Aurelio Fhilo (!), de Roma, lo
dispuso de buen ánimo y puso el sagrado voto” (HEpOnl 16834).
399
B. Inscrição
[Im]p(eratori) Caesari [- - - / di]vi Vespasian[i f(ilio) - - - / [Do]mitiano [Aug(usto) - - - / po]nti[f(ici)
maximo]
Interpretação427:
Ao Imperador Cesar, filho do divino Vespasiano ---/ Domiciano Augusto ---/ pontífice maximo
C. Comentário Histórico
Inscrição votiva ao Imperador.
427
Nossa interpretação.
400
428
Nossa interpretação.
401
B. Inscrição
- - - - - - / Proserpinae / Severianus / Aug(ustalis) . / a(nimo) . l(ibens) . v(otum) . s(olvit) .
Interpretação429:
- - - - - - / À Proserpina. O Augustal Severiano cumpriu o voto de livre vontade.
C. Comentário Histórico
No presente monumento, o dedicante é um augustal que porta apenas o cognomen Severianus. Em
virtude da fratura, não é possível desdobrar mais informações.
429
Nossa interpretação.
402
430
Nossa interpretação.
403
B. Inscrição
Ann(o) col(oniae) CLXXX / aram Genesis / Invicti Mithrae / M(arcus) Val(erius) Secundus /
fr(umentarius) leg(ionis) VII Gem(inae) dono / ponendam merito curavit / G(aio!) Accio Hedychro
pa(t)re
Introdução431:
No ano 180 da fundação da colônia, Marco Valerio Segundo, abastecedor da legião 7ª Gêmina,
cuidou de colocar como dádiva própria e como era justo a presente ara do gênesis do invicto Mitra,
sendo seu pai nesta regeneração Caio Aecio Hedichro.
C. Comentário Histórico
Datação atribuída pela própria inscrição. As duas personagens registram os trianomina: Marco
Valerio Secundo e Caio Aecio Hedichro.
Datação: No ano 155 d. C.
D. Referências Bibliográficas
GARCÍA Y BELLIDO, A., Religiones orientales, 1967, pp. 23-25, nº 1; MORENO PABLOS, Mª
J., La Religión del Ejército Romano: Hispania em los siglos I-III, Madrid 2001 (Graeco-Romanae
Religionis Electa Collectio/7), pp.170-180; VV.AA., Religioes de Lusitania. Loquintur saxa.
Catálogo de la Exposición. Lisboa: Museu Nacional de Arqueologia, 2002, p. 479, nº 154.
Catálogo Online: HEpOnl 19990
431
Nossa tradução da leitura: “En el año 180 de la fundación de la colonia, Marco Valerio Segundo, abastecedor
de la legión Septima Gémina, cuidó de poner como dádiva propia y como era justo la presente ara del génesis del
invicto Mitra, siendo su padre en esta regeneración Caio Aecio Hedychro” (HEpOnl 19990).
404
B. Inscrição
Q(uintus) Acutius Faienanus / leg(atus) pro pr(aetore)
Interpretação:
Quinto Auctio Faieano, legado propretor.
C. Comentário Histórico
Datação atribuída por Stylow entre as épocas flávia e os primeiros decênios do século II com base
nos critérios paleográficos. O homenageado apresenta-se perfeitamente identificado com os tria
nomina.
Datação: Entre os anos 76 – 120, séculos I e II d. C.
D. Referências Bibliográficas
STYLOW, A.U. “Más hermas”. Revista Anas. Mérida: Museo Nacional de Arte Romano, 1989, pp.
199-201, nº 4; Hispania Epigraphica. Madrid: Universidad Complutense de Madrid. nº4, 1994, 172;
RAMÍREZ SÁDABA, J. L. El nacimiento de las élites de Augusta Emerita. 2001, p. 261.
Catálogo Online: HEpOnl 16840
405
B. Inscrição
432
Nossa interpretação.
406
433
Nossa interpretação.
407
B. Inscrição
T(ito) Caesari Aug(usti) f(ilio) / Vespasiano pontif(ici) / imp(eratori) XII trib(unicia) pote(state) VII
/ co(n)s(uli) VI / provincia Lusitania / C(aio) Arruntio Catellio / Celere leg(ato) Aug(usti) pro
pr(aetore) / L(ucio) Iunio Latrone / Conimbrige(n)se flamine / provinciae Lusitaniae / ex auri
p(ondo) V
Interpretação434:
A Tito Cesar Augusto, filho de Vespasiano, Pontífice, 12 vezes Imperador, com poder tribunício pela
7ª vez, seis vezes cônsul. Província da Lusitânia. A Caio Arruntio Catellio Celere, legado de Augusto
como propretor; Lucio Iunio Latrão, flâmine de Conimbriga [...] Província da Lusitânia. De 5 pesos
de ouro.
C. Comentário Histórico
O texto documenta a expansão do culto imperial na província da Lusitânia durante a era Flávia,
momento no qual passou a se realizar o culto aos imperadores ainda vivos. Nesse sentido, o
monumento faz referência direta ao templo localizado na Lusitânia, onde se localizaria a inscrição.
Ramírez Sábada (2003) destaca que a inscrição respeita a regulação da Lex de flamonio provinciae
Narbonensis segundo a qual os sacerdotes podiam ser honrados pela cúria municipal no momento de
sua retirada, para se dedicar estátuas ou bustos do imperador, numa clara demonstração de que o
culto imperial foi reformulado não por iniciativa local, mas pela centralização de parte das
autoridades responsáveis em Roma.
O autor acrescenta que, pela análise dos verbos da inscrição, seria preciso considerar que o
governador provincial C. Arruntius Catellius Celer havia atuado como dedicante em colaboração
com o flamen provincial M. Iunius Latro. Para AE 1999, 870 esta proposta não convence na medida
em que a dedicação emana do mesmo concilium, que utiliza referências locais para datar solenemente
uma assembleia. Para o autor, o texto dá a entender que o governador intervinha na organização do
culto em um período precoce, fato este que não está estatisticamente comprovado pelas referências
aos governadores, ao contrário reforça a hipótese de que é uma lei similar a de Narbona, da qual
havia dependido o culto provincial de Mérida.
Datação: Ano 77 d. C.
D. Referências Bibliográficas
Hispania Epigraphica. Madrid: Universidad Complutense de Madrid. nº9, 1999, 102; RAMIREZ
SABADA, J. L. Catálogo de las Inscripciones Imperiales de Augusta Emerita - Cuadernos
Emeritenses 21. Mérida: MNAR - Fundacion de Estudios Romanos, 2003, nº24.
Catálogo Online: HEpOnl 22055
434
Nossa interpretação.
408
B. Inscrição
Sex(to) Furnio / Iuliano / [l]eg(ato) Aug(usti) pr(o) pr(aetore) prov(inciae) / [L]usitaniae c(larissimo)
v(iro) co(n)s(ulari) / [or]do splendissimus / [E]meritensium / [pr(a)]esidi innocentissimo / [pa]trono
optimo / ob merita / [- - - Iul]io Modest[o / [et - - -] ouin[- - -] / praefectis
Interpretação435:
Sexto Furnio Juliano, legado de Augusto, propretor da provincia de Lusitânia, cônsul e homem
claríssimo, o explêndido conselho da cidade de Mérida ao seu ótimo patrono, pelo mérito de Julio
Modesto e (...) prefeitos.
C. Comentário Histórico
Trata-se de uma homenagem pública a Sexto Furnio Juliano, cuja datação pode ser atribuída de
acordo com as características prosopográficas e paleográficas entre os anos de 211 e 217 d. C.
Datação: Entre os anos de 211 e 217 d. C
D. Referências Bibliográficas
SAQUETE CHAMIZO, J. C., Las elites sociales de Augusta Emerita - Cuadernos Emeritenses 13.
Mérida: MNAR/Fundación de Esudios Romanos, 1997, pp. 89-90 y 215.
Catálogo Online: HEpOnl 16755
435
Nossa tradução da interpretação: “Sexto Furnio Juliano, legado de Augusto, propretor de la provincia de
Lusitania, cónsul y hombre clarísimo, el esplendesísimo ordo de la ciudad de Mérida a su óptimo patrón, por el
mérito de Julio Modesto y (...) prefectos” (HEpOnl 16755).
409
B. Inscrição
Q(uinto) . Herennio Etrusco / Mes(s)io Decio . / nobilissimo Caes(ari) / [f]ilio Imp(eratoris)
Caes(aris) . / C(ai) Messi Q(uinti) Traiani Deci / Pii Fel(icis) Aug(usti) respubli(ca) / Emerite(n)sium
devota . / numini maistatique / eorum
Interpretação436:
À Quinto Herenio Etrusco Mesio Decio, nobilíssimo César, filho do Imperador César Caio Mesio
Quinto Trajano Decio Pío Felix Augusto, a República dos emeritenses mostrou sua devoção com
estas estátuas.
C. Comentário Histórico
Datação atribuída pelos personagens. É a primeira vez que aparece a sequencia técnica "Respublica
Emeritensium" em uma dedicação feita pela colônia emeritense, termo usual no século III (cf. CIL II
484). O plural final eorum sugere que havia outro pedestal, atualmente desaparecido, associado a este
e dedicado ao seu pai, o Imperador Decio. Apesar de possuir concreções e erosões, não há
impedimentos para a leitura do texto.
Datação: Entre os anos de 250 e 251 d. C.
D. Referências Bibliográficas
RAMÍREZ SÁDABA, J. L. Catálogo de las Inscripciones imperiales de Augusta Emerita -
cuadernos emeritenses – nº21. Mérida: MNAR/ Fundación de Estudios Romanos, 2003, pp. 370-372,
nº 27, foto 118; Hispania Epigraphica. Madrid: Universidad Complutense de Madrid. nº13, 2003-
2004, 100.
Catálogo Online: HEpOnl 24413
436
“A Quinto Herenio Etrusco Mesio Decio, nobilísimo césar, hijo del césar emperador Caio Mesio Quinto Trajo
Decio Pío Felix Augusto, la República emeritenses mostró su devoción con estas estatuas” (HEpOnl 24413).
410
B. Inscrição
437
Nossa interpretação.
411
B. Inscrição
[- - -]C[- - - / - - -]i Saelia[n(o) - - - / - - -]o Rufo Iulian[o / co(n)s(uli)] proco(n)s(uli) prov(inciae) /
[Af]ric(ae) VIIvir(o) epul(onum) / [fet]iali sodali Flavi/[a]li Titiali / ex testamento / T(iti) Aemili
T(iti) f(ilii) Pap(iria) / Saturnini
Interpretação438:
[---]C[- - - / - - -]i Saeliano - - - / - - -]o Rufo Juliano, cônsul, proconsul da província da África,
duunviro das festas e banquetes públicos, fecial do colégio dos Tito Flavios. Por testamento de Tito
Aemilio Saturnino, filho de Tito, da tribo Papiria.
C. Comentário Histórico
Se nossa leitura estiverar correta, dado o estado fragmentado da inscrição, trata-se de três
personagens: um C. Saeliano, um Rufo Juliano e um Tito Aemilio Saturnino.
Rufo Juliano nos apresenta um cursus honorum interessante. Foi cônsul, proconsul da província da
África, duunviro dos baquetes e Fecial dos Tito Flavios, ou seja, trata-se de um indivíduo que
circulou entre as províncias ocidentais, sobretudo, África, Hispania, além do centro imperial. Por não
haver o registro da tribu nem da origo, não é possível afirmar se tratar-se-ia de um individuo da
península.
Já nossa terceira personagem, Tito Aemilio Saturnino, se identifica com os tria nomina que o integra
à importante gen dos Aemili, já conhecida na região. Além de registrar a filiação, sabe-se que é
cidadão de Augusta Emérita pela tribu Papiria.
Datação: Entre os anos 100 e 300 d. C.
D. Referências Bibliográficas
SAENZ DE BURUAGA, J. A. ‘Museo Arqueológico de Mérida (Badajoz)’, MMAP 7, 1946, p. 37;
CABALLOS RUFINO, A., Los senadores hispanorromanos y la romanización de Hispania (siglos I-
III) I. Prosopografía. Vol. I y II, Écija, 1990, nº I, 69, p. 454.
Catálogo Online: HEpOnl 16754
438
Nossa interpretação.
412
B. Inscrição
M(arcus) Agrippa L(uci) f(ilius) co(n)s(ul) III / trib(unicia) pot(estate) III
Interpretação439:
Marcos Agripa, filho de Lucio, 3 vezes Cônsul, no terceiro ano do poder tribunício.
C. Comentário Histórico
Dedicação Imperial.
Datação: Ano 16 d. C.
D. Referências Bibliográficas
ILS 130; AE 1911, 3; ERAE 44b; CIIAE 3.
Catálogo Online: HEpOnl 25800
439
Nossa interpretação.
413
B. Inscrição
Imp(eratori) Caes(ari) / Publio [[Licinio Egnatio / Gallieno Pio Felici Aug(usto)]] / pontifici maximo
Daci(co) / maximo Germ(anico) max(imo) tr(ibunicia) / pot(estate) X co(n)s(uli) III imp(eratori) III
pro(con)s(uli)(!) / p(atri) p(atriae) / P(ublius) Clodius Laetus / Macrinus v(ir) c(larissimus) leg(atus)
eor(um)(!) / pr(o) pr(aetore) devotus [n]umini / maiestatique eius
Interpretação440:
Ao Imperador Cesar. Publio Licino, Egnato. Gallieno Pío Felix Augusto, Pontífice Maximo, Dacico
Maximo, Germanico Maximo, no X ano do poder tribunício, 3 vezes Cônsul, 3 vezes Imperador, (!)
Proconsul, Pai da Patria. Publio Clodio Laetto Macrino, senador, seu legado pró-pretor devoto do
numen e sua majestade.
C. Comentário Histórico
J.L. Ramírez Sádaba, A. Velázquez Jiménez e E. Gijón Gabriel consideram que os dados trazidos
pelo pedestal auxiliam a compreender os problemas referentes aos reinados dos imperadores Galieno
e Valeriano: a X potestade tribunicia de Galieno (261) não "encaixa" com seu III consulado (257).
Sobre essa questão poderia se supor um erro do lapicida que poderia ter confundido a letra I da
palavra seguinte coma cifra I do quarto consulado, nem com a concessão do título Dacicus maximus
(258-260; com a possibilidade de datação nº 259). Tais hipóteses dificultam a interpretação em
relação a III saudação imperial, para a qual há duas datas: 257 ou 261. P. Clodius Laetus Macrinus é
mencionado como legatus eorum, plural que se refere a Valeriano - Salonino só obteve o título de
Cesar obteve o título de Cesar - e a Galieno, em um período em que Valeriano estava prisioneiro
após sua derrota contra os persas.
O legado P. Clodio Laeto Macrino havia tornado pública sua lealdade aos imperadores legítimos,
sobretudo a Galieno, anteriormente ao reconhecimento póstumo da Lusitânia (seguramente a partir
do ano 262). Pouco depois se apaga o nome do imperador Galieno, o que demonstra uma mudança
política. A damnatio poderia ser explicada como uma reação pró-Póstumo após este ser reconhecido
na Hispania após 261, até esta data a província se manteve fiel a Galieno. O pedestal confirma
440
Nossa interpretação.
414
também a função de Augusta Emérita como capital da Lusitânia no século III. Outra questão que
deve ser assinalada consiste no cargo senatorial do legatus Augustorum pro praetore, ou seja, a
reforma iniciada por Galieno ainda não havia alcançado a Lusitânia.
Datação: Após o ano 261 d. C.
D. Referências Bibliográficas
RAMIREZ SABADA, J. L., VELÁZQUEZ JIMÉNEZ, A. & GIJÓN GABRIEL, E. Anas 6, 1993,
75-84, lâminas 18-19 e desenho; AE 1993, 914; Hispania Epigraphica. Madrid: Universidad
Complutense de Madrid. nº 5, 1995, 87.
Catálogo Online: HEpOnl 20720
441
Nossa interpretação.
415
442
Nossa interpretação.
416
443
Nossa interpretação.
417
Palavra-Chave: administração
Nº de Registro: 271
colonial, administração provincial.
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrada em Mérida, Badajoz,
Extremadura, Espanha.
Paradeiro Não Encontrado
Nº Inventário -
Tipologia Não Encontrada S/F
Material Não Encontrado
Medidas Não Encontradas
Descrição: Não Encontrada
B. Inscrição
II]vir bis IIvir praef(ectus) [- - - / prov]inciae Lusitania[e
Interpretação444:
[---] Duunviro, duas vezes duunviro, prefeito, [--- prov]íncia da Lusitânia.
C. Comentário Histórico
Inscrição honorífica (?) como registro de magistraturas importantes para a administração imperial na
província.
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
CIL II 493.
Catálogo Online: HEpOnl 21512
444
Nossa interpretação.
418
Palavra-Chave: administração
Nº de Registro: 284
colonial, administração provincial.
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Mérida, Badajoz, Extremadura, Espanha.
Paradeiro Não Encontrado
Nº Inventário -
Tipologia Não Encontrada S/F
Material Não Encontrado
Medidas Não Encontradas
Descrição: Não Encontrada
B. Inscrição
- - - - - - / [- - - colonia]e Aug(ustae) Emer[itae - - - / - - - pr]ovinc(iae) Lus[itaniae - - - / - - -]
dedic[avit - - -] / - - - - - -?
Interpretação445:
- - - - - - / [- - - À Colônia Augusta Emerita - - - / - - -Pr]ovinia da Lusitânia - - - / - - -] dedicou ------?
C. Comentário Histórico
Inscrição honorífica da colônia Augusta Emerita(?) com a identificação da Província da Lusiânia.
445
Nossa interpretação.
419
B. Inscrição
[C]n(aeo) Cornelio C(ai) f(ilio) Pa[p(iria)] / Sev(ero) aed(ili) II(viro) / [fl(amini)] Iuliae Augustae /
praefecto fabr(um) / amici / X (decem) pago Aug(usto)
Interpretação 446:
A Cneo Cornelio, filho de Cneo, e Papirio Severo, edil, duunviro, flamen de Julia Augusta, mestre
dos engenheiros militares, seus amigos do décimo distrito de Augusto, dedicaram este monumento.
C. Comentário Histórico
Datação atribuída pela titulatura do cursus honorum do personagem. Trata-se da dedicação feita
pelos amigos a Cneus Cornelius Severus, edil, duumviro, sacerdote de Iulia Augusta e encarregado
das obras públicas.
Datação: Entre os anos 14- 37 d. C. – Governo de Tibério
D. Referências Bibliográficas
VIVES, J. Inscripciones latinas de la España romana. 1971. nº 1558; SAQUETE CHAMIZO, J.
C. Las élites sociales de Augusta Emerita - Cuadernos emeritenses, 13. Mérida: MNAR/ Fundación
de Estudios Romanos, 1997, pp. 116, 171.
Catálogo Online: HEpOnl 20014
446
Leitura de J. R. Mélida (apud SAQUETE CHAMIZO, 1997, p. 116): “A Cneo Cornelio, hijo de Cneo, y
Papirio Severo, edil, duunviro, flamen de Julia Augusta, maestro de ingenieros militares, sus amigos del décimo
distrito de Augusto, dedicaron este monumento”.
420
447
Nossa tradução da leitura de d’Ors (1948): “Siendo cónsules Marco Emilio Lépido (y) Lucio Arruntio, los
decuriones y munícipes martienses, que antes fueron ugienses, hicieron un pacto de hospitalidad con los
decuriones y colonos de la colonia Augusta Emerita, para sí mismos, sus hijos y sus descendientes. Lo hicieron
los legados Publio Mummio Urso, hijo de Publio, de la tribu Galeria, y Marco Emilio Fronto, hijo de Marco, de
la tribu Galeria”.
421
2. Augustobriga
Status Jurídico: Municipium
448
Nossa interpretação.
423
449
Nossa interpretação.
424
B. Inscrição
C(aius) . Iulius C(ai) . f(ilius) Gl[- - -] / senatui . popu[loq(ue)] / Augustobr[igensi] / hospes .
d[onum] / dat
Interpretação450:
Caio Julio, filho de Caio, GL[---], senador do povo augustobrigense, doou ao anfitrião.
C. Comentário Histórico
-
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
GAMALLO, J. L., GIMENO, H & VARGAS, G. ‘Inscripciones del Norte y Sudoeste de la provincia
de Cáceres: revisión y nuevas aportaciones. II’, CuPAUAM 19, 1992, 406 nº 13 com foto.
Catálogo Online: HEpOnl 4412
450
Nossa interpretação.
425
451
Nossa tradução da leitura: “...Publio Attenio Amable, augustal, Caio Atennio, hijo de Publio...” (HEpOnl
23120).
426
452
Nossa interpretação.
427
3. Caesarobriga
Status Juridico: Municipium
Palavra-Chave: Onomástica,
Nº de Registro: 224
sacerdote imperial (Flamínica).
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrada em Talavera de la Reina, Toledo,
Castilla-La Mancha, Espanha.
Paradeiro MAN - Madrid/Es
Nº Inventário -
Tipologia Base
S/F
Material Mármore
Medidas 100 x 76 x 67 cm
Descrição: Base de mármore branco com moldura completa
nas partes superiores, bordeando toda a base exceto na zona
posterior. Falta parte das bordas inferiores.
B. Inscrição
Domitia L(ucii) f(ilia) / Proculina / [F]laminica provin[c(iae) / Lusitan(iae) et Flamini(ca) /
[M]unicipi sui · prim[a] / et perpetua
Interpretação453:
À Domicia Proculina, filha de Lucio, flamínica da província Lusitânia, e primeira flamínica de seu
município e perpétua....
C. Comentário Histórico
Inscrição honorífica a uma flamínica que exerceu o sacerdócio em duas instâncias: municipal e
provincial.
453
Nossa tradução da leitura: “A Domicia Proculina, hija de Lucio, flaminica de la provincia Lusitana, y primera
flaminica de su municipio y perpetua....” (HEpOnl 282).
428
4. Capera
Status Jurídico: Coloniae
B. Inscrição
Avitae Modera/ti · filiae · aviae / ob honorem quot / civis recepta est / Caperae Cocceia / Celsi ·
fil(ia) · Severa / Norbensis / cura et impensa / Avitae Modera/ti aviae suae / posuit
Interpretação454:
A Avita, avó, filha de Moderato, recebeu pela honra de cidadã. Capera Cocceia, filha de Celso;
cuidou de colocar às próprias custas à avó Avita de Moderato.
C. Comentário Histórico
Inscrição honorífica.
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
CIL II 813; ILS 6901; CPILC 186.
Catálogo Online: HEpOnl 19015
454
Nossa interpretação.
429
B. Inscrição
M(arcus) Valerius Ia/nuarius Quir(ina) BENS/TIBVAIRVS / ann(orum) LX / ex impens(a) / funeris
/ Vicinia / f(aciendum) c(uravit)
Interpretação455:
Marcos Valerio Ianuario, da tribo Quirina. BENSTIBVAIRVS (?), 60 anos, gastos fúnebres pagos
sob os cuidados de Vicinia
C. Comentário Histórico
Inscrição funerária de um cidadão registrado na tribo Quirina. Não conseguimos encontrar o
significado da palavra BENSTIBVAIRVS.
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
Hispania Epigraphica. Madrid: Universidad Complutense de Madrid. nº 2, 1990 224.
455
Nossa interpretação.
430
456
Nossa interpretação.
431
457
Nossa interpretação.
432
458
Nossa interpretação.
433
Interpretação459:
A Publio Memmio Ligustino Ta[---], duunviro
C. Comentário Histórico
Uma vez unidos, os fragmentos desvelam a identidade do personagem homenageado. Trata-se de um
Ligustinus, nome este poucas vezes atestado nas inscrições (vide os casos em OPEL III, 2000, p. 28,
acrescendo ainda o registro do CIL X 2716. Merece destaque ainda outro caso hispano que figura em
um epitáfio visto em Aldeanueva del Camino, Cáceres (CPILC 40), proveniente de uma necrópole a
sudeste de Capara).
Na linha 3 os editores sugerem que TA[---] corresponde à seqüência do cursus honorum do
personagem, possivelmente como menção ao duovirato na linha 4. Outra leitura possível é relacionar
a sílaba ao patronímico do indivíduo talvez Tanginus, Tangius, Taporus ou outra possibilidade
similar. Todos estes são nomes correntes na Lusitânia podendo, inclusive, aparecer conjugados com
nomes plenamente latinos.
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
Hispania Epigraphica. Madrid: Universidad Complutense de Madrid. nº 8, 1998, 89; Hispania
Epigraphica. Madrid: Universidad Complutense de Madrid. nº 9, 1999, 252.
Catálogo Online: HEpOnl 20891
459
Nossa interpretação.
434
B. Inscrição
[Pro · sa]lute · municipi(i) · [F]lavi · Ca[perens(is)] / Aqua Augusta / [c. 5-8] Albinus · [ex] ·
te[st]amento [f(ieri?) iussit?]
Interpretação460:
Aqua Augusta. À saúde do Municipio Flavio Caperense. Albino seu testamento fez cumprir.
C. Comentário Histórico
Datação atribuída pela titulatura imperial. Levantamos duas hipóteses para a identificação do
dedicante: ou tratar-se-ia de um indivíduo amplamente conhecido na localidade, ou os outros
elementos da onomástica perderam-se na reutilização da peça.
Datação: Entre os anos 69 – 96 d. C.
D. Referências Bibliográficas
BLÁZQUEZ, J. Mª, "Excavaciones en Cáparra II" In: Excavaciones arqueológicas en España 54, 1966, pp.
36-37, nº VIII, lám. XXI, 3 (CPILC 815); STYLOW, A., “Apuntes sobre epigrafía de época flavia en
Hispania”, Gerión 4, 1986, p. 303-307 (AE 1986, 307; Hispania Epigraphica. Madrid: Universidad
Complutense de Madrid. nº1, 1989, 158); CERRILLO, E. – HERRERA, G., Ruinas romanas de Caparra
(Guías arqueológicas 1), Mérida, 1992, p. 24; CERRILLO, E., “El anfiteatro de Caparra”. In. Bimilenario del
anfiteatro romano de Mérida. Coloquio Internacional El anfiteatro en la Hispania romana (Mérida,
1992), Mérida, 1995, pp. 311-312 y 320-321; ORTIZ DE URBINA, E., “La res publica en las comunidades
hispanas a partir de la fórmula epigráfica omnibus honoribus functus”. In: Ciudades privilegiadas en el
occidente romano, J. González, ed., Sevilla, 1999, p. 143; ANDREU PINTADO, J., Munificiencia pública en
la Provincia Lusitania (siglos I-IV d.C.), Zaragoza, 2004, p. 201, nº 3.
Catálogo Online: HEpOnl 20037
460
Nossa interpretação.
435
5. Caurium
Status Jurídico: Municipium
Palavra-Chave: coletividade
Nº de Registro: 290
municipal
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrado em uma parede do pasto "Dehesa
de Arriba", Perales del Puerto, Cáceres,
Extremadura, Espanha.
Paradeiro Encontra-se no domicilio particular de
Acebo.
Nº Inventário -
S/F
Tipologia Ara
Material Ganito
Medidas (57) x 37 x 20 cm
Descrição: Ara de granito com coroamento de três molduras
nas quatro faces e quebrada por baixo.
B. Inscrição
Iovi / Op(timo) . Ma(ximo) / vicani . / Arcobri/genses / [a(ram)] . p(osuerunt) . a(nimo) . L(ibentes)
Interpretação461:
A Jupiter Ótimo Maximo, os vicanos (do Vico) Arcobrigenses, colocaram a ara por livre vontade.
C. Comentário Histórico
Inscrição votiva a Jupiter Optimo Maximo. De acordo com os editores da inscrição votiva, uma das
hipóteses explicativas consiste na atribuição desta e das duas próximas inscrições, aos vicani.
Possivelmente, Júpiter estaria identificado com o deus Salama, sua possível versão indígena.
461
Nossa interpretação.
436
Palavra-Chave: coletividade
Nº de Registro: 291
municipal
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrada na parede do pasto "Dehesa de
Arriba", Perales del Puerto, Cáceres,
Extremadura, Espanha.
Paradeiro Encontra-se em uma coleção particular de
Badajoz.
Nº Inventário -
S/F
Tipologia Ara
Material Granito
Medidas Não Encontradas
Descrição: Ara em granito local. Encontra-se muito
danificada.
B. Inscrição
Iovi Op(timo) / Ma(ximo) Ar/cobrigenses / a(nimo) l(ibentes) p(osuerunt)
Interpretação462:
A Júpiter Otimo Maximo, os Arcobrigenses colocaram por livre vontade.
C. Comentário Histórico
Inscrição votiva a Júpiter Optimo Maximo com a assinatura do populus.
462
Nossa interpretação.
437
Palavra-Chave: coletividade
Nº de Registro: 292
municipal
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrada em Perales del Puerto, Cáceres,
Extremadura, Espanha.
Paradeiro Perdido
Nº Inventário -
Tipologia Árula
S/F
Material Granito
Medidas Não Encontradas
Descrição: Árula de granito com molduras e focus muito
desgastada pelos lados e por cima, pois fora utilizada como
pedra de afiar.
B. Inscrição
[Iovi] / Optumo /3Maxum[o] / vican[i] / ace[-c.1-2-]/6enses / [a]ram / [p]osuer/9_unt¬ v(otum)
s(olverunt) l(ibentes) [a(nimo)?]
Interpretação463:
A Jupiter Otimo Máximo. Os habitantes do vico Ace(?)ense colocaram a ara em cumprimento de um
voto, por livre vontade.
C. Comentário Histórico
Inscrição votiva a Jupiter Optimo Maximo, com possível registro do populus.
463
Nossa interpretação.
438
6 Civitas Aravorum
Status Jurírico: Municipium
B. Inscrição
IMP(eratori) . CAES(ari) . DIVI . TRAIA / PARTICI . F(ilio) TRAIANO/ HADRIANO. AVG(usto)
.
/ PONT(ifici) . MAX(imo) . TRIB(uniciae) . / POTES(tatis) . I . CO(n)S(uli) . II / CIVITAS
ARAVOR(um)
Interpretação:
Ao Imperador César Trajano Adriano Augusto, Pontífice Máximo, filho do divino Trajano Pártico,
tendo obtido o poder tribunício pela 1ª vez e Cônsul pela 2ª vez. A cidade dos Aravos.
C. Comentário Histórico
Seguindo as considerações de Perestrelo (2002, p. 57), a inscrição poderá datar de cerca de 120 d. C.
Vale ressaltar que no ano de 119 Adriano era cônsul pela segunda vez e em 134 obteve o consulado
pela terceira vez (RODRIGUES, 1983, p. 71, apud PERESTRELO, op. Cit).
Datação: Ano 120 d. C.
D. Referências Bibliográficas
PERESTRELO, M. S. G. A romanização na bacia do Côa. Vale do Côa: Ministério da Cultua/
Instituto Português de Arqueologia, 2002, pp. 55-57.
Catálogo Online: HEpOnl 21446
439
7. Civitas Cobelcorum
Status Juridico: Municipium
Palavra-Chave: coletividade
Nº de Registro: 267
municipal
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrada em 1997 nas escavações de Torre
de Almofala, dentro da zona do fórum, a uns
20 metros do tempo. Almofala, Figueira de
Castelo Rodrigo, Guarda, Portugal.
Paradeiro Casa de Cultura de Figueira de Castelo
Rodrigo.
Nº Inventário -
Tipologia Ara S/F
Material Granito
Medidas 89,5 x 44 x 24 cm
Descrição: Ara em granito de grão fino, emoldurada em seus
quatro lados. O coronamento tem fúculo central; na parte
dianteira e traseira apresenta sendas reentradas de caráter
decorativo.
B. Inscrição
Iovi Optumo / Maxumo / civitas / Cobelcorum
Interpretação464:
A Jupiter Otimo Maximo. Civitas dos Cobelcos
C. Comentário Histórico
Inscrição votiva a Jupiter Optimo Maximo. De acordo com os estudos de H. Frade (1998), a inscrição
permite assegurar a existência do templo (a Júpiter) no Fórum da civitas dos Cobelci. Deste modo,
Cobelcus (vide referências em Hep 2, 1990, 793; Hep 3, 1993, 95; AE 1985, 46) seria um étnico e
não um cognomen.
Os Cobelcos eram um povo indígena que ocupava a região de Figueira de Castelo Rodrigo, cujo
centro político-administrativo localizava-se na colina da Torre de Almofala. Pela paleografía e
tipologia data-se o monumento em inícios do século I d. C. Outra datação possível, isto é, no período
flávio ou no II século é vista em AE 1998, 700.
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
FRADE, H. ‘Ara a Júpiter da civitas Cobelcorum’, 1998, Hispania Epigraphica. Madrid:
Universidad Complutense de Madrid. nº 8, 1998, 601.
Catálogo Online: HEpOnl 20883
464
Nossa interpretação.
440
Palavra-Chave: coletividade
Nº de Registro: 279
municipal
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Torre das Águias, Almofada, Figueira de
Castelo Rodrigo, Guarda, Portugal.
Paradeiro Não Identificado
Nº Inventário -
Tipologia Ara
S/F
Material Granito (?)
Medidas Não Encontradas
Descrição: A bibliografia consultada não indicou as
dimensões do suporte.
B. Inscrição
IOVI . OPTVMO / MAXUMO / CIVITAS / COBELCORUM
Interpretação465:
A Júpiter Óptimo Máximo, a cidade dos Cobelcos
C. Comentário Histórico
Perestrelo indica que a descoberta dessa inscrição auxiliou nas duvidas referentes à natureza da
estação arqueológica localizada na Torre de Almofala, já há muito conhecida pela bibliografia
nacional e regional. O texto atesta a existência de mais um grupo étnico na região, os Colbeci (já
indicados em outras inscrições de forma abreviada).
Os Colbeci seriam, assim, um povo pré-romano que vivia na região de Figueira de Castelo Rodrigo e,
em época romana, tinha seu centro político-administrativo na colina onde segue a referida torre.
(FRADE, 1998, p. 266 - apud PERESTRELO, 2002, p. 91).
Datação: Século I d. C.
D. Referências Bibliográficas
PERESTRELO, M. S. G. A romanização na bacia do Côa. Vale do Côa: Ministério da Cultua/
Instituto Português de Arqueologia, 2002, p. 90-91.
Catálogo Online: Não Registrado
465
FRADE, 1998, p. 266, apud Perestrelo, M. S. G. op cit., 2002, p. 90-91.
441
8. Civitas Taporium
Status Jurídico: Municipium
B. Inscrição
Pietati · sacrum / Iulia · Modesta ex patrimonio suo in honorem gentis / Sex(ti) Aponi · Scaevi Flacci
mariti sui flaminis provinc(iae) · / Lusit(aniae) · et · in honorem gentis Iuliorum parentum suorum
Interpretação466:
Consagrado à Piedade. Julia Modesta mandou fazer com seu matrimônio em honra da gens de Sexto
Aponio Scaevio, seu marido, flâmine da província da Lusitânia e em honra da gens Julia e de seus
parentes.
C. Comentário Histórico
Inscrição votiva feita pos Julia Modesta, esposa do flâmine provincial Sexto A. Scaevio, em honra de
seus parentes da gens Julia e da gens do marido.
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
RAP 421.
Catálogo Online: HEpOnl 18955
466
Nossa interpretação.
442
467
Nossa interpretação.
443
9. Civitas Igaeditanorum
Status Jurírico: Municipium
B. Inscrição
L(ucio) · Marci[o] / Fusci · f(ilio) · Quir(ina) Avit[o] / praef(ecto) fabr(um) / praef(ecto) coh(ortis) I
S[u]/ror(um) sagitta[r(iorum)] / trib(uno) mil(itum) leg(ionis) X Freten[sis] / praef(ecto) · eq(uitum)
alae I sing[u]/lar(ium) c(ivium) R(omanorum) donis dona[to] / Marcius Maternus e[qu]/es alae
eiusdem praefe[cto] / optumo ob mérito
Interpretação468:
A Lucio Marcio Avito, filho de Fuscio, da tribo Quirina; prefeito dos artífices, prefeito das coortes,
1ª dos Suror Sagitários, da ala 1ª dos cavaleiros singulares legião X Fretense, prefeito da ala dos
cavaleiros, notável cidadão romano. Presenteou Marcio Materno, igualmente prefeito da ala dos
cavaleiros, pelo seu ótimo mérito.
C. Comentário Histórico
A inscrição homenageia Lucio Marcio Avito, identificado com os tria nomina, a filiação e a inscrição
na tribo Quirina. Dotado de um cursus honorum amplo, Avito foi homenageado pelo prefeito da ala
dos cavaleiros Marcio Materno.
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
FERREIRA, A. Epigrafia funeraria romana da Beira interior: Inovação ou continuidade?
(Trabalhos de Arqueologia 34), Lisboa, 2004, 127 nº 115.
Catálogo Online: : HEpOnl 20087
468
Nossa interpretação.
444
B. Inscrição
469
Nossa interpretação.
445
470
Nossa interpretação.
446
B. Inscrição
Q(uintus) Iullius Sex(ti) f(ilius) Papi(ria) Augu(stanus) / orarium donavit / Igaiditanis l(oco)
a(ccepto) f(ecit) per mag(istros) / Toutoni(um) Arci f(ilium) Malgeini(um) Manli f(ilium) / Celti(um)
Arantoni f(ilium) / Ammini(um) Ati f(ilium) / L(ucio) Domitio Aenobarbo / P(ublio) Cornelio
Scipione co(n)[s(ulibus)]
Interpretação471:
Quinto Iulio Augustano, filho de Sexto, da tribo Papiria, doou neste lugar, um relógio solar aos
Igaeditanis. Que foi executado e aceito para os magistrados: Toutonio, filho de Arco; Malgenio, filho
de Manlio; Celta, filho de Arantonio; Aminio, filho de Ato; Lucio Damicio Aenobarbo, Publio
Cornelio Scipião, cônsules.
C. Comentário Histórico
Pelas titulaturas, data-se o monumento no primeiro semestre do ano 16 a. C.
Datação: Ano de 16 a. C.
D. Referências Bibliográficas
Mantas, V. G. "Orarium donauit igaiditanis: epigrafia e funções urbanas numa capital regional
lusitana". I Congreso Peninsular de Historia Antigua, vol. II, Santiago (1986) 1988, 421-422 com
fotos; Hispania Epigraphica. Madrid: Universidad Complutense de Madrid. nº 2, 1990, 770; D’
Encarnação, J. ‘Dos Monumentos Epigráficos da Civitas Igaeditanorum’, Revista Praça Velha 26,
2009, 165-167 com fotos.
Catálogo Online: HEpOnl 22943
471
Nossa interpretação.
447
472
Variação de leitura: [L(ucio) . ] Cornelio . P(ubli) [. f(ilio)] / Balbo . imp(eratori) . [Col(oni)?] / Norb(enses) .
Caesa[rini] / (vacat) patrono (HEpOnl 20096)
473
Nossa intepretação.
448
B. Inscrição
C(aio) · Caesari Augusti · f(ilio) / pontif(ici) · co(n)s(uli) · imp(eratori) / principi · iuventutis /
civitas Igaedit(anorum)
Interpretação474:
Caio Cesar, filho de Augusto. Pontífice, cônsul, imperador, príncipe da Juventude. A Civita dos
Igaeditanos.
C. Comentário Histórico
474
Nossa interpretação.
449
475
Nossa interpretação.
450
476
Nossa interpretação.
451
477
Nossa interpretação.
452
Interpretação478:
-----]usco, flâmine da província.
C. Comentário Histórico
Inscrição com registro de um(a) Flâmine (Flamínica?) provincial.
478
Nossa interpretação.
453
10. Poliba
Status Jurídico: Coloniae
B. Inscrição
479
Nossa interpretação.
454
11. Iruena
Status Jurídico: Municipium
480
Nossa interpretação.
455
481
Nossa interpretação.
456
482
Nossa interpretação.
457
483
Nossa interpretação.
458
484
Nossa interpretação.
459
13. Metellinum
Status Jurídico: Coloniae
B. Inscrição
P(ublius) Talius Q(uinti) f(ilius) Pap(iria) Leg(ionis) X / hic sitvs est.
Interpretação485:
Publio Talio, filho de Quinto, da tribo Papiria, da Legião 10ª, aqui está enterrado.
C. Comentário Histórico
De acordo com o levantamento de Salvadora Haba Quirós (1998, p. 117), a inscrição estaria em uma
peda encontrada no ângulo formado pela únião dos rios Zújar e do Guadiana. No local há destígios
de uma povoação romana, cujo nome não se pode precisar, ainda que haja especulações de que se
tenha chamado Porticulus. Neste mesmo lugar teria sido encontrado um pássaro grande, um pequeno
ídolo com o mesmo motivo e um aldabón de ouro, outro dado relevante seria o fato de o entorno
arqueológico ter sido carcterizado como abundante em poços e norias.
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
HABA QUIROS, S. Medellín romano: la colonia "Medellinensis" y su territorio (Colección
Arte/arqueología, núm. 21). Diputación de Badajoz: Departamento de Publicaciones, 1998, nº 29.
Catálogo Online: Não Registrado
485
Nossa tradução da transcrição: “Publio Talio, hijo de Quinto, de la tribu Papiria, de la Legión X, aquí está
enterrado” (HABA QUIRÓS, S. 1998, nº 29).
460
486
Leitura do texto epigráfico proposta por J. SALAS MARTÍN; J. ESTEBAN ORTEGA; J.A. REDONDO
RODRÍGUEZ – J.L. SÁNCHEZ ABAL, 1997.
487
Nossa interpretação.
461
488
Nossa tradução da transcrição: “Al César Druso, hijo del César Germánico, biznieto del Divino Augusto,
[nuestro] Patrono” (HABA QUIRÓS, 1998, nº37, p. 123).
462
489
Nossa tradução da transcrição: “Al Divino César Augusto Germánico, Príncipe de la Juventud” (HABA
QUIROZ, 1998, nº 40).
463
490
Nossa tradução da transcrição: “A Júpiter Optimo Máximo. Los colonos de la colonia Metellinense de
hacerlo” (HABA QUIROS, 1998, nº 46, pp. 132-133).
464
que possui edificios próprios e outras possessões, vide o texto: [Qui agri quaeque silvae quaeque
aedificia c(olonis) c(oloniae) G (enetivae) I (uliae), quibus publice utantur, data adtributa erunt....],
mas não fala das normas em relação a ereção de um monumento ou a uma divindade por parte dos
colonos.
Datação: Século I d. C.
D. Referências Bibliográficas
HABA QUIROS, S. Medellín romano: la colonia "Medellinensis" y su territorio (Colección
Arte/arqueología, núm. 21). Diputación de Badajoz: Departamento de Publicaciones, 1998, nº 46, pp.
132-133.
Catálogo Online: HEpOnl 19983
491
Nossa tradução da transcrição: “A Domicia Augusta. Gayo Licinio Saturnino y Lucio Mummio Pomponiano,
duunviros” (HABA QUIRÓS, 1998, nº 38, p. 124).
465
registrado nos índices do CIL, sendo escasso seu registro como cognomen.
492
Nossa tradução da transcrição: “A Tiberio Claudio César, hijo de Augusto, Pontífice, Cónsul, Príncipe de la
Juventud ...” (HABA QUIRÓS, 1998, nº 39).
466
493
Nossa interpretação.
467
494
Nossa tradução da transcrição: “... ? Cancilius Modestus, apoyó con su dinero” (HABA QUIROS, 1998, nº
47).
468
Interpretação495:
A Lucio Cecilio Rufo, filho de Lucio, da tribo Scaptia, legado propretor na/da província.
C. Comentário Histórico
Trata-se da primeira documentação da tribo Scaptia na Lusitânia. O personagem, até então
desconhecido, era governador da provincia da Lusitânia. A análise da paleografia aponta as épocas
de Augusto e de Tiberio como muito tardias, em virtude do registro da titulatura (leg. pro. pr.) sem
menção da provincia. Quiçá poderia ser parente de C. Caecilius Rufus cos., de 17 d. C. (Pir C 141).
Pelas dimensões A. U. S. (HEp 4, 1994, 159) destaca que poderia ser a base de uma estátua equestre,
talvez erijida pelo Conselho de Metellinum.
Como indica Salvadora Haba Quirós (1998, p. 128-129), o personagem desta epígrafe foi governador
da provincia da Lusitânia. Recuperando os estudos de A. U. Stylow (apud HABA QUIROS, op cit),
indica, pela paleografía da lápide, o enquadramento do monumento na época de Augusto ou Tiberio
seria muito tardio, principalmente em virtude da fórmula de registro do título leg. Pro pr., com ou
sem menção da província. A autora ainda destaca que uma das áreas de distribuição da importante
gens Caecilia estende-se dos rios Tejo e do Guadiana até a zona de Sagunto-Valencia.
Procedente desta última registra-se um monumento epigráfico dedicado a P. Caecilius Rufus pelos
membros de sua família (CIL 3960), que poderia ter alguma relação com o personagem da epígrafe
em tela. Há, ainda, o caso de Q. Caecilius Rufus, de Olisipo (CIL 4996), inscrito na tribu Galeria,
cuja inscrição foi-lhe dedicada pela mãe, Antistia Maela. Todavia, não há muitas dúvidas sobre o
parentesco mais direto do presente legado lusitano com L. Caecilius Rufus L.f., irmão por parte de
mãe de P. Cornelio Sila. Este personagem foi tribuno da plebe em 64 a. C. e depois pro-cônsul, sendo
feito prisioneiro por César em 49 a. C. na cidade de Corfinium (CIL I 639). Pode-se ainda pensar em
um parentesco com C. Caecilius Rufus, cônsul em 17 d. C.
Pelas dimensões do monumento, pode-se estar perante uma base de estátua equestre erigida, talvez,
pelo conselho de Metellinum. Destaca-se que, para o território peninsular, a tribu Scaptia está
registrada três vezes no CIL II. Em relação a isso, os testemunhos procedem de Asturica Augusta
(CIL 5662), Cartago Nova (CIL 3455) e Tarraco (CIL 6073), ou seja, importantes e profundamente
romanizados centros urbanos.
Datação: I século d. C. – Entre os governos de Augusto e Tibério.
D. Referências Bibliográficas
495
Nossa interpretação.
469
GONZÁLEZ CORDERO, A.; VENEGAS SANZ, J. S. & ALVARADO GONZALO, M. "Nuevas aportaciones
a la epigrafía de Extremadura". Alcántara 21, 1990, 147-148, nº 24, dib. 24; Hispania Epigraphica. Madrid:
Universidad Complutense de Madrid. nº 4, 1994, 159; HABA QUIROS, S. Medellín romano: la colonia
"Medellinensis" y su territorio (Colección Arte/arqueología, núm. 21). Diputación de Badajoz:
Departamento de Publicaciones, 1998, pp. 127-129, nº 43.
Catálogo Online: HEpOnl 5373
470
14. Salmatica
Status Juridico: ?
Interpretação 496:
O conselho Salmanticense (dedicou) ao Imperador Cesar Marco Aurelio Augusto, filho de Lucio
Septimio Severo.
C. Comentário Histórico
Trata-se de uma dedicatória comemorativa realizada por uma instituição local da cidade de
Salmantica ao imperador Caracala (198 - 211 d. C.). De acordo com os editores da inscrição (Hep 11,
2001, 395), a existência de um ordo salmanticense pode ser uma justificação para atestar a existência
de um municipium anterior à época de Caracala. Pelo título de Augustus, data-se a inscrição a partir
de 3 de maio de 198 d. C.
Datação: A partir de 3 de maio de 198 d. C.
D. Referências Bibliográficas
Hispania Epigraphica. Madrid: Universidad Complutense de Madrid. nº 11, 2001, 395
Catálogo Online: HEpOnl 24278
496
Nossa tradução do texto: “El Ordo Salmanticense (se lo dedicó) al Emperador Cesar Marco Aurelio Augusto,
hijo de Lucio Septimio Severo” (HEpOnl 24278).
471
15. Turgallium
Status Jurídico: Coloniae
B. Inscrição
M(arcus) . Victori/us . L(uci) . f(ilius) . Pap(iria) / Galba . an(norum) / LXX . h(ic) . s(itus) . e(st) . /
s(it) . t(ibi) . t(erra) . L(evis)
Interpretação497:
Marco Vitorio Galba, filho de Lucio,da tribo Papiria, de 70 anos. Aqui jaz, que a terra te seja leve.
C. Comentário Histórico
A inscrição apresenta o cidadão romano Marco Vitorio Galba da tribo Papiria. Galba também é
identificado com os tria nomina e a filiação.
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
CIL II 5294; CILCC II, 159-160, nº 615, foto 615.
Catálogo Online: HEpOnl 416
497
Nossa interpretação.
472
Interpretação498:
Marcos Iunio, filho de Marcos, da tribo Papíria, aqui jaz.
C. Comentário Histórico
A datação foi atribuída pela análise do formulário funerário.
498
Nossa interpretação.
473
B. Inscrição
Q(uintus) . Serv/ilius . Q(uinti) . f(ilius) / Pap(iria) Ce/ler . an(norum) / XXX . h(ic) . s(itus) . / est
Interpretação499:
Quinto Servilio Celer, filho de Quinto, da tribo Papiria, de 30 anos, aqui jaz.
C. Comentário Histórico
Inscrição funerária com o registro dos tria nomina e da tribo do defunto.
499
Nossa interpretação.
474
500
Nossa interpretação.
475
501
Nossa interpretação.
476
16. Urunia
502
Nossa interpretação.
477
503
Nossa interpretação.
478
B. Inscrição
D(is) · M(anibus) · s(acrum) / C(aius) · Valerius / Maxsumus · Cae[s]/araugusta · veter(anus) /
leg(ionis) · VII Geminae / Felicis · ann(orum) · LV / h(ic) · s(itus) · e(st) · s(it) · t(ibi) · t(erra) ·
l(evis) / Valeria Maxsu/ma · patri · pio / f(aciendum) · c(uravit)
Interpretação504:
Consagrado aos Deuses Manes. Caio Valerio Maxsumo, veterano de Caesaraugusta (?) da 7ª Legião
Gemina Felix, de 55 anos, aqui jaz, que a terra te seja leve. Valéria Maxsuma, ao piedoso pai,
mandou fazer.
C. Comentário Histórico
A datação foi atribuída pela observância da cognominação Gemina Pía Félix para esta unidade.
Assim sendo, a cronologia enquadra-se no período posterior a Vespasiano e anterior a Caracala.
504
Nossa interpretação.
479
505
Nossa interpretação.
480
Palavra-Chave: coletividade
Nº de Registro: 111
municipal
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrada em Villasbuenas de Gata,
Cáceres, Extremadura, Espanha.
Paradeiro MC – Cáceres/Es
Nº Inventário 6277
Tipologia Ara
Material Granito
Medidas 76 x 37 x 24 cm
Descrição: Ara de granito avermelhado com cabecera apenas S/F
insinuada. Possui duas molduras, vistas apenas nas laterais, e
um crescente lunar inciso, tudo muito deteriorado. Acima há
um fóculo redondo e na base, de forma biselada de tosca
realização e pouco elaborada, há restos de outras molduras
muito desgastadas. O campo epigráfico está rebaixado, as
letras, em capitais quadratas com traços rústicos e sem
interpunção, possuem um traço irregular e desigual.
B. Inscrição
IOVI . OP/TVMO . MA/XVMO . VI/CANI . MVNE/NSES . ARA(m) . P(osuerunt)
Interpretação:
A Júpiter Óptimo Máximo, os aldeãos munenses puseram
C. Comentário Histórico
A presente epígrafe integra um conjunto de inscrições dedicadas pelos Vicani a Júpiter. Julio Esteban
Ortega e José Salas Martín (2002) destacam que no reduzido espaço de Cáceres são documentados
três casos: os vicani Arcobriguenses, os vicani Mace[..]nses, em Perales del Puerto e os vicani
Munenses ou Munienses em Villasbuenas de Gata. São conhecidos também, os vicani Tongobriceses
em Brozas e, em Casar de Cáceres, os vicani Roudenses. Há ainda as viciniae de Oliva de Plasencia e
Villar de Plasencia, localidades igualmente de Cáceres e muito próxima das mencionadas.
Uma das interpretações possíveis vincula as dedicatórias dos vicani a Júpiter ao culto a uma
divinidade local, possivelmente Salama, divindade identificada por Albertos (apud Esteban Ortega &
Salas Martín, 2002, p. 314) com o monte Jálama situado ao norte de Villasbuenas de Gata.
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
Ficheiro Epigráfico (Suplemento da Revista Conimbriga) Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras.
Edição 70, 2002, nº 314.
Catálogo Online: Não Registrado
481
Interpretação:
A Júpiter Óptimo Máximo. Vegetino, filho de Vegeto.
C. Comentário Histórico
De acordo com os editores da inscrição, trata-se de uma inscrição dedicada a Júpiter por um
indivíduo que se identifica à maneira indígena, através de um só nome, seguido da filiação. A
onomástica é corrente na Lusitânia, nomeadamente o antropónimo Vegeto. Apesar de Vegetinus ser
um nome menos frequente na região lusitana, duas das seis inscrições anteriormente já conhecidas
que a ele aludem provêm de Idanha-a-Velha.
Em relação ao teônimo, ainda que mais um testemunho do culto a Júpiter nesta região da Lusitânia
não seja de estranhar, pois é relativamente abundante por toda a actual Beira Interior e, em especial,
na Beira Baixa, este se revela de particular interesse pelo fato de ser proveniente da capital da civitas
Igaeditanorum, onde, até ao momento, só eram conhecidas duas epígrafes consagradas a esta
divindade, apesar de serem ainda em número reduzido e de não se saber qual o seu local original de
deposição, o crescente número de inscrições a Júpiter encontradas na Egitânia parece vir reforçar a
ideia de que o templo principal do forum desta cidade seria consagrado a esta divindade e não a
Vênus, ou mesmo a Marte, que, de acordo com a epigrafia, também possuíram locais de culto
próprios em Idanha, construídospor C. Cantius Modestinus.
De resto, parece também que só deste modo se poderá explicar a grande difusão que o culto a Júpiter
teve no território rural desta civitas, sobretudo quando comparado com a fraca devoção demonstrada
pela comunidade rural para com Vênus e Marte. Pela paleografia, nomeadamente a forma do O, do
482
B. Inscrição
Genio Laci/murgae / Norbana / Q(uinti) f(ilia) Quint/illa Nor/bensis
Interpretação506:
Ao Gênio de Lacimurga. Norbana Quintila, filha de Quinto, norbense.
C. Comentário Histórico
Inscrição votiva o Gênio oferecida por uma mulher.
Datação: Século I d. C.
D. Referências Bibliográficas
Hispania Epigraphica. Madrid: Universidad Complutense de Madrid. nº 18, 2009, 52.
Catálogo Online: HEpOnl 1758
506
Nossa interpretação.
483
Palavra-Chave: coletividade
Nº de Registro: 278
municipal
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Coriscada, Meda, Guarda, Portugal.
Paradeiro Não Identificado.
Nº Inventário -
Tipologia Ara
Material Granito S/F
Medidas 34 x 21 x 12 cm
Descrição: Ara de granito de grão médio. Foi partida ao meio
e os toros foram destruídos.
B. Inscrição
IOVI O[PT]/UMO M[AX]VMO . AS[CR] / VICANI . S[...] / GOABOAIC(enses).
Interpretação507:
Cosagrado a Júpiter Óptimo Máximo. Os habitantes de S[...]goaboaicum mandaram erigir.
C. Comentário Histórico
De acordo com Perestrelo (2002, p. 53), a ara poderá demonstrar a existência de um vicus cujo nome
não é totalmente conhecido, mas que poderá ter sido chamado de "Segoabonca" (vide ALARCÃO,
1988b, p. 150 e 1988a, p. 150) ou Sagoaboiaco. Para Alarcão (op. Cit) junto à aldeia foram
recolhidos abundantes vestígios da ocupação de época romana. Um exemplo desses materiais
consiste em um capitel de grandes proporções encontrado na povoação de Coriscada, junto à estrada,
e outro, menor. Ambos são de granito de grão fino/médio, respectivamente. Há ainda dois fustes de
coluna também em granito, na mesma estrada do centro da povoação.
Perestrelo complementa que os elementos de coluna e da ara constituem o conjunto de vestígios
conhecidos até o momento na Coriscada e que poderão ter vindo de outro local nas proximidades,
mais precisamente da zona do Gravato, onde abundam os vestígios romanos.
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
PERESTRELO, M. S. G. A romanização na bacia do Côa. Vale do Côa: Ministério da Cultua/
Instituto Português de Arqueologia, 2002, p. 53.
Catálogo Online: Não Registrado
507
Interpretação de Fernando Curado,1985c, p. 45.
484
Interpretação:
Quinto Júlio Montano, soldado de cavalaria da 7ª Legião Gêmina Félix, cumpriu de boa bontade o
seu voto a Bande Longóbricu (ou Ongóbico)508
C. Comentário Histórico
De acordo com Perestrelo (2002, p. 92-93), na chamada Veiga de Longrovia ou Coutada de
Longrovia estende-se uma área onde foram encontrados muitos vestígios romanos. O núcleo pré-
romano, de nome Longobrica, situado no cabeço, foi amplamente romanizado. A designação de
Longobrica poderá corresponder ao nome do castellum.
Seguindo os estudos de Alarcão (1988, pp 4-71 apud PERESTRELO op cit), considera-se que nessa
região poderia ter existido um destacamento dessa legião encarregado de vigiar a exploração das
minas de chumbo.Vale ressaltar que nesse mesmo sítio tem sido encontrado colunas, cerâmicas de
construção, pesos de tear, mós, instrumentos de ferro (um machado - martelo e chaves), aras, fíbulas,
cerâmicas, moedas de cobre e bronze, contas de um ábaco, etc. (vide Rodrigues, 1983, p. 83-87 apud
PERESTRELO, op cit). Complementando tais achados, têm-se a identificação de uma Villa da qual
também foram encontrados vestígios.
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
PERESTRELO, M. S. G. A romanização na bacia do Côa. Vale do Côa: Ministério da Cultua/
Instituto Português de Arqueologia, 2002, p. 92-93.
Catálogo Online: Não Registrado
508
Interpretação proposta por Fernando Curado, 1985b, p. 44.
485
Interpretação509:
Pela saúde do Imperador Nerva Trajano Cesar Augusto Germânico. Os Habitantes do vico Veniense,
consagraram o campo.
C. Comentário Histórico
Inscrição honorífica.
509
Nossa interpretação.
486
B. Inscrição
G(aio) · Allio · / Quadrato / quaestori / VIII vir(o) / G(aius) · Allius Syria/cus · pater et Al/lia ·
Serani f(ilia) / Maxuma · ma/ter f(aciendum) c(uraverunt)
Interpretação510:
A Gaio Allo Quadrato, 8 vezes questor, duunviro. Caio Allio Syriaco, pai, e Allia, filha de Serano,
Máxima, mãe, mandaram fazer.
C. Comentário Histórico
-
510
Nossa interpretação.
487
Palavra-Chave: dedicatória
Nº de Registro: 028
imperial
A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada em Argomil, Pomares, Pinhel,
Guarda, Portugal.
Paradeiro Atual Igreja de Argomil.
Nº Inventário -
Tipologia Estela
Material Granito
Medidas 164 x 42 x 25,5 cm
Descrição: Estela honorífica de granito, de formato retangular e
em bom estado de conservação, com símbolos geométricos
abaixo do texto.
B. Inscrição
Interpretação:
Ao Imperador Augusto (Otavio), filho do Divino.
C. Comentário Histórico
Como indica Perestrelo (2002, p. 77), alguns autores consideraram que se trataria de um terminus
augustalis sem a identificação dos povos que delimitava (vide ALARCÃO, 1985), já outros
consideraram uma inscrição comemorativa da construção de uma via que possivelmente passaria na
região (vide VAZ, 1985). Optamos por concordar com o autor e não nos aproximarmos de ambas as
hipóteses em virtude da tipologia da inscrição.
Segundo Perestrelo, em relação à tipologia da região, pode-se estar em uma zona de fronteira, quiçá,
desde a época romana. Nesse sentido, destaca que em termos geomorfológicos, a zona parece
corresponder a uma área de vales encaixados junto ao leito das ribeiras e uma região de planaltos
mais ou menos suaves. Por conta das titulaturas registradas, atribui-se a datação do monumento entre
os anos de 23 - 20 a. C.
Datação: Entre os anos 23 e 20 a. C.
D. Referências Bibliográficas
Hispania Epigraphica. Madrid: Universidad Complutense de Madrid. Nº 1, 1989, 682; Perestrelo,
Manuel Sabino G. A romanização na bacia do Côa. Vale do Côa: Ministério da Cultua/ Instituto
Português de Arqueologia, 2002, p. 77; Hispania Epigraphica. Madrid: Universidad Complutense
de Madrid. nº 15, 2006, 502.
Catálogo Online: HEpOnl 22862
488
Palavra-Chave: coletividade
Nº de Registro: 021
municipal, benemerência.
A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada na chamada “Ponte de
Alcántara” em Alcántara, Cáceres,
Extremadura, Espanha.
Paradeiro Não Encontrado
Nº Inventário -
Tipologia Placa
Material Mármore
Medidas Não Encontradas
Descrição: A placa atual é uma reprodução das placas
originais de mármore. O desenho é de Francisco de Holanda
– 1571 (Arquivo Municipal de Lisboa).
B. Inscrição
- - - - - / [Tur]d[e]tani / Lanci{n}enses · Oppidani / ++++++ / [-ca. 7-]nienses / Colarni /
Lanci{n}enses · Tran(s)cudani / Aravi / Meidubricenses [- - - / - - -] / P{r}aesures
Variantes: Municipia / provinciae / Lusitaniae stipe / conlata quae opus / pontis perfecerunt /
Igaeditani / Lancienses Oppidani / Talori / Interannienses / Colarni / Lancienses / Transcudani /
Aravi / Meidubrigenses / Arabrigenses / Banienses / Paesures
Interpretação511:
Os municipios estipendiarios da provincia de Lusitania que contribuíram com a obra da ponte, foram,
os igaeditanos, os lancienses opidanos, os talores, os interannienses, os colarnos, os lancienses
transcudanos, os araves, os medobrigenses, os arabrigenses, os banienses e os paesures.
C. Comentário Histórico
-
511
Nossa tradução transcrição: “Los municipios estipendiarios de la provincia de Lusitania que contribuyeron a
la obra del puente, fueron, los igaeditanos, los lancienses opidanos, los talores, los interannienses, loa colarnos,
los lancienses transcudanos, los araves, los medobrigenses, los arabrigenses, los banienses y los paesures”
(HEpOnl 21738).
489
C(aio) Mario Flavio [co(n)s(ulibus)] / L(ucio) Caesio C(ai) f(ilio) imperatore populus Seanoc[- - -
se] / dedit L(ucius) Caesius C(ai) f(ilius) imperator postquam [eos in deditionem] / accepit ad
consilium retolit quid eis im[perandum] / censerent de consili(i) sententia imperav[it ut omnes] /
captivos equos equas quas cepis(s)ent [traderent haec] / omnis dederunt deinde eos L(ucius) Caesius
C(ai) [f(ilius) imperator liberos] / esse iussit agros et aedificia leges cete[ra omnia] / quae sua
fuissent pridie quam se dedid[erunt quae tum] / extarent eis redidit dum populus [senatusque] /
Roomanus(!) vellet deque ea re eos [qui aderunt - - -] / eire iussit legatos Cren[us? - - -] / Arco
Cantoni f(ilius) legates
Interpretação512:
No consulado de Caio Mario e Caio Flavio. A Lucio Cesio, filho de Caio, imperator, se rendeu o
povo dos Seano(cos?). Lucio Cesio, filho de Caio, imperator, depois que aceitou, perguntou ao
conselho o que considerava adequado pedir-lhes. A partir do parecer do Conselho, exigiu-se-lhes os
prisioneiros, os cavalos e as éguas que possuíam. Entregaram-no tudo. Depois, Lucio Cesio, filho de
Caio determinou que ficassem como estavam os campos e as construções, as leis e as demais coisas
que possuíam até o dia da rendição foram-lhes devolvidas para que seguissem em uso enquanto o
povo romano quisesse. E em relação a este assunto, ordenaram-lhes os legados que foram (...?)
Cren(o, filho de...?) e Arcão, filho de Cantono, (atuaram como) legados.
C. Comentário Histórico
512
Nossa tradução da transcrição: “En el consulado de Cayo Mario y Cayo Flavio. A Lucio Cesio, hijo de Cayo,
imperator, se rindió el pueblo de los Seano(cos?). Lucio Cesio, hijo de Cayo, imperator, después que hubo
aceptado preguntó al consejo lo que consideraba adecuado exigirles. A partir del dictamen del consejo, exigió los
prisioneros, los caballos y las yeguas que hubieran cogido. Lo entregaron todo. Después Lucio Cesio, hijo de
Cayo, determino que quedaran como estaban los campos y las construcciones; las leyes y las demás cosas que
hubieran tenido hasta el día de la rendición se las devolvió para que siguieran en uso mientras el pueblo romano
quisiera. Y en relación con este asunto les ordenó a los legados que fueran (...?) Cren(o, hijo de...?) y Arcón, hijo
de Cantono, (actuaron como) legados” (Hep 15, 2006, 91).
490
De acordo com G. Freyburger (FREYBURGER, G. 2005, 167-176 apud Hep 15, 2006, 91) trata-se
do procedimento da deditio, isto é, do ato de rendição de um povo a Roma, colocando-se baixo a sua
leal proteção. Muito embora haja um debate a respeito do nível de severidade entre a deditio e a
dedition infidem, o autor concorda com os autores que compreendem que as duas expressões fazem
referência a uma mesma realidade. Em ambos os casos, o dediticius se apresenta como suplicante,
entregando sua pessoa e bens e aceita, sem condições, as disposições promulgadas pelo vencedor,
que, por sua vez, deve perdoar a vida do submetido e assegurar sua integridade e proteção.
Palavra-Chave: coletividade
Nº de Registro: 293
municipal
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrado em Ansião, Leiria, Portugal.
Paradeiro Não Encontrado
Nº Inventário -
Tipologia Bloco
Material Calcário S/F
Medidas 24,5 x 56 cm
Descrição: Bloco paralelepipédico em calcário branco, um
pouco danificado.
B. Inscrição
Ve(ctigale) r(ei) p(ublicae) m(unicipii) vicini
Interpretação513:
Imposto da republica do município vizinho.
C. Comentário Histórico
De acordo com A.J. Nunes Monteiro e J. d'Encarnação, a epígrafe atesta a preocupação das entidades
locais em definir corretamente os territórios de seus tributários.
Os autores acrescentam ainda que o lugar do achado confirma a hipótese de que a linha divisória
entre os territórios de Sellium e Conimbriga passaria pelo pico das colinas que se orientam de leste a
oeste, ao sul da Junqueira. É atribuída a possível datação em início do século III, muito embora a
formatação da letra P mais aberta, também levaria ao século I d. C.
Datação: Início do século III d. C.
D. Referências Bibliográficas
Nunes Monteiro, A. J. & Encarnação, J. d’. Conimbriga 32-33, 1993-1994, 303-311, fotos 1 e 2;
Hispania Epigraphica. Madrid: Universidad Complutense de Madrid. nº5, 1995, 1032.
Catálogo Online: HEpOnl 23176
513
Nossa interpretação.