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Universidade Federal do Rio de Janeiro

Centro de Filosofia e Ciências Humanas


Instituto de Filosofia e Ciências Sociais
Departamento de História
Programa de Pós-Graduação em História Comparada

A paisagem imperial em cidades da Lusitânia: um estudo comparado das formas de


integração da elite provincial entre os séculos I a. C. e III d. C.

Tese

Doutoranda Airan dos Santos Borges

Orientadora:
Profa. Dra. Norma Musco Mendes (Universidade Federal do Rio de Janeiro)
Co-Orientador:
Prof. Dr. Carlos Jorge G. S. Fabião (Universidade de Lisboa)

Rio de Janeiro
2016
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A paisagem imperial em cidades da Lusitânia: um estudo comparado das formas de


integração da elite provincial entre os séculos I a. C. e III d. C.

Tese

Doutoranda Airan dos Santos Borges

Orientadora:
Profa. Dra. Norma Musco Mendes (Universidade Federal do Rio de Janeiro)
Co-Orientador:
Prof. Dr. Carlos Jorge G. S. Fabião (Universidade de Lisboa)

Rio de Janeiro
2016
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A paisagem imperial em cidades da Lusitânia: um estudo comparado das formas de


integração da elite provincial entre os séculos I a. C. e III d. C.

Tese submetida ao Programa de Pós-Graduação em História Comparada da Universidade


Federal do Rio de Janeiro – PPGHC/UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção
do grau de doutor em História Comparada.

Banca de avaliação:

Professores Titulares:
_________________________________________

Profa. Dra. Norma Musco Mendes – Orientadora

_________________________________________

Profa. Dra. Claudia Beltrão da Rosa (UNIRIO)

_________________________________________

Prof. Dr. Pedro Paulo Funari (UNICAMP)

_________________________________________

Prof. Dr. José de Assunção Barros (PPGHC/UFRJ)

_________________________________________

Prof. Dr. Paulo Duarte (PPGHC/UFRJ)

Professores Suplentes:

_________________________________________

Prof. Dr. Alexandre Carneiro Cerqueira Lima (UFF)

_________________________________________

Profa. Dra. Leila Rodrigues (PPGHC)

Rio de Janeiro, 2016.


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Ao pequeno Lucas Nascimento


Borges, meu sobrinho querido,
nosso tesouro e herança.
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Agradecimentos
Quando Deus fez voltar os exilados de Sião,
ficamos como quem sonha: a nossa boca se nos
encheu de riso, e a língua de canções... Até
entre as nações se comentava: “Deus fez
grandes coisas por eles!” Deus fez grandes
coisas por nós, por isso estamos alegres.

(Bíblia de Jerusalém, Salmo 126, versículos 1


ao 3).

A realização deste trabalho envolveu muito esforço, concentração, inspiração e


dedicação. Ao longo dos anos de investigação, necessários para o desenvolvimento da
pesquisa, inúmeras pessoas dividiram o fardo comigo, tornando a tarefa momentaneamente
mais leve. Este é o espaço dedicado para honrá-los.

Em primeiro lugar, agradeço imensamente a Deus e à minha família. Aos meus pais,
Eliana e Alzeir Borges, arrimos de todos os dias e projetos. Ao meu irmão Luciano Borges e à
melhor cunhada do mundo, Ercilene Borges, meus eternos amigos. Lembro-me ainda de
minhas tias e primas, meus tios e primos, que compreenderam minhas ausências e desejaram
força e determinação na jornada iniciada no verão de 2012, principalmente aos meus tios
Neusa e Josuel, Linda e Reginaldo (Poti). Agradeço também ao Vitor Hugo dos Santos
Crespo de Oliveira, meu melhor amigo e companheiro, pelo incentivo no período final de
redação do trabalho, por compreender minhas ausências, pelo amor e dedicação.

Às minhas amigas e aos amigos, poucos, porém verdadeiros e que, igualmente,


compreenderam meu ‘exílio português’, especialmente às minhas ‘irmãs’: Isabela Casanova,
Mariana Amorim, Thais Farias-Abreu, Shayane Lima-Silva, Danielle Mattos, Camila Corrêa
(‘minha doce tijucana’).

À família Guimarães, Maria Consuelo, Sandro e Dâmaris (igualmente à Kamilla, ao


Flávio e à pequena Rebeca). À família Lima, Eliane, Márcio e Larissa. Aos queridos Felipe
Martins (pela companhia desde o mestrado), Lorena Asevedo (pela companhia nas ruas da
ensolarada Roma), Patrick Zanon (pela grande amizade e afeto sem medidas) e à cara amiga
cantagalense Carolina Rodrigues (que fez a distância parecer nula).

À minha família do polo Cederj – UAB do município de Cantagalo (RJ), que


felizmente venceu os limites profissionais e adentrou no aconchegante espaço dedicado aos
mais queridos: Leila Leite e família, Marilene Tiberto, Geane Siqueira, Lilia Figueira, Rita
Luzie, Érika Regly. Aos queridos e sempre saudosos amigos (e professores dos cursos de
Licenciatura em História e Matemática) Loena Couto, Cinthia Ferreira, João Bosco, Jardel
Costa e Daniel Ribeiro; e demais colegas não citados, mas carinhosamente lembrados.

Às Professoras Doutoras Jane Santos, Claudia Rodrigues, Claudia Beltrão e Patrícia


Horvat pela amizade e parcerias sempre imensamente produtivas. Aos amigos do LHIA-UFRJ
e do PPGHC-UFRJ, parceiros de uma longa caminhada, Lair Amaro, Kimon Speciale, Paulo
Pires Duprat, Carlos Eduardo Campos e Diogo Silva. Aos companheiros do NERO-UNIRIO,
Debora Casanova, Thiago Pires; aos amigos do Centro de Educação a Distância da
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Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – CEAD-UNIRIO e aos colegas do


Laboratório de Arqueologia Romana Provincial da Universidade de São Paulo – USP.

Ao PPGHC e à CAPES pela concessão da bolsa de Doutoramento Sanduíche


(Programa PDSE). Aos professores que me receberam tão gentilmente em terras portuguesas
e viabilizaram todo o estágio de doutoramento realizado na Universidade de Lisboa, na
Universidade do Minho, na Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho e na
Universidade de Coimbra. Especialmente à Profa. Dra. Maria Helena Carvalho e ao Prof. Dr.
Francisco Mendes (igualmente à Laura Mendes e à Dona Glória), por toda a atenção, pela
inesquecível acolhida na cidade de Braga e pelas importantíssimas reuniões de trabalho.

À equipe de investigadores da Fundação Cidade Ammaia e aos alunos que


participaram da divertida e trabalhosa escavação de julho de 2014.

Aos estimados Prof. Dr. José d’Encarnação e Profa. Dra. Maricí Magalhães pelas
fundamentais revisões das transcrições das epígrafes do latim para o português.

Ao Prof. Dr. Pedro Paulo Funari e ao Prof. Dr. José d’Assunção Barros, pelas valiosas
críticas ao trabalho e pelo aceite em participar da banca de avaliação do exame de
qualificação.

Aos amigos que conheci em Portugal e que desejo levar para a vida: Bárbara Morais,
Dona Helena, Helena Pereira Martins, Cecília (minha italiana predileta), João Alexandre e
Marta Poiares. Aos amigos da Igreja Presbiteriana de Lisboa e à família Dias: Celso, Leiliane,
Luigi e à doce Sarah. Com vocês os intensos meses do estágio em Portugal ficaram mais
leves. Muito obrigada pela oferta de tanto carinho!

Reservo um agradecimento especial à minha querida orientadora, Professora Doutora


Norma Musco Mendes pelos 12 anos de parceria e aprendizado, pela paciência e dedicação
sempre inesgotáveis, pela confiança e apoio em todas as horas. Ter sido sua aluna é uma
honra e privilégio.

E, por fim, ao Prof. Dr. Carlos Jorge Gonçalves Soares Fabião, pelo aceite da Co-
orientação na Universidade de Lisboa e pela parceria ao longo de todo o ano de 2014.

Como disse Paulo na 2ª Epístola a Timóteo (4, v.7), ‘combati o bom combate, terminei
a minha carreira, guardei a minha fé’. Que venham os próximos projetos.

Rio de Janeiro, novembro de 2015, primavera.

Airan dos Santos Borges.


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"a história era uma casa velha de noite. Com


todas as lâmpadas acesas. E os ancestrais lá
dentro sussurrando. Para entender a história,
temos que entrar na casa e ouvir o que eles
estão dizendo. E olhar os livros e os quadros
nas paredes. E sentir os cheiros”.
(Arundhati Roy - O deus das pequenas
coisas).
9

Título: A paisagem imperial em cidades da Lusitânia: um estudo comparado das formas


de integração da elite provincial entre os séculos I a. C. e III d. C.

Resumo: a presente pesquisa tem como objetivo geral analisar a construção da paisagem
imperial na província da Lusitânia a partir do estudo comparativo das formas de integração da
elite provincial entre os séculos I a. C. e III d. C. Defendemos que o processo de integração da
região foi desenvolvido de modo progressivo e gradual, cujo início pode ser definido em fins
do II século a. C. e cuja fase de consolidação se deu entre os séculos I e início do III d. C.
Tendo em vista esta delimitação, observam-se as especificidades que distinguem a cultura
política desenvolvida no mundo provincial, sobretudo, os ajustes entre as configurações
sociais regionais tradicionais e as novas relações trazidas pela dinâmica imperial a partir do
estudo da produção epigráfica.

Palavras-Chave: Império Romano, Província da Lusitânia, Elites Provinciais, Epigrafia,


Espaço Social, Memória e Identidade, História Comparada.
10

Title: The imperial background in the cities of Lusitania: a comparative study of the
modes of integration of the provincial elite from 1 B.C. to 1 A.D.

Abstract: the following research has the general objective of analising the development of the
imperial background at the province of Lusitania from the view of the comparative study of
the modes of integration from 1 B. C. to 1 A. D. We argue that the integration process of the
area was developed in a gradual and progressive rate, whose beginning can be set at around
the end of the century 2 B. C. and whose consolidation phase was between 1 and 3 A. D.
Bearing these ranges in mind, it’s noticeable that the particularities that distinguish the
political culture developed in the provincial world, specially the adjustments between the
social traditional and regional configurations and the new relations brought by the imperial
dynamics from the view of the study of the epigraphic production.

Keywords: Roman Empire, Lusitania Province, Provincial Elites, Epigraphy, Social Space,
Memory and Identity, Comparative History.
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Lista dos Mapas


Mapa 1- Província da Lusitânia e sua divisão conventual
Mapa 2 – Representação da organização do mundo conhecido atribuído a “Agripa”
Mapa 3 – Localização dos povos ‘pré-romanos’ na península Ibérica
Mapa 4 – A expansão romana no Principado de Otávio Augusto
Mapa 5 – As cidades da península Ibérica, segundo a descrição pliniana
Mapa 6 – A densidade epigráfica nas províncias ocidentais
Mapa 7 – Entrocamento de rotas no território colonial segundo Corzo Sanchez
Mapa 8 – Rotas da Lusitânia, com destaque para as vias que cortam Augusta Emerita, por J.
Edmondson
Mapa 9 – A colônia de Augusta Emerita (C) e as vias de comunicação interprovincial
Mapa 10- Distribuição dos centros oleiros da Lusitânia por Carlos Jorge Fabião
Planta 1 – Plano urbano e a muralha da colônia Augusta Emerita

Lista das Tabelas


Tabela 1 - Categorias dos Oppida localizados na Península Ibérica, segundo Jorge Alarcão
Tabela 2 – Identificação das Personagens Femininas – Conventus Pacensis
Tabela 3 – Identificação das Personagens Masculinas – Conventus Pacensis
Tabela 4 – Identificação das Personagens Femininas – Conventus Scallabitanus
Tabela 5 – Identificação das Personagens Masculinas – Conventus Scallabitanus
Tabela 6 – Identificação das Personagens Femininas Conventus Emeritensis

Tabela 7 – Identificação das Personagens Masculinas – Conventus Emeritensis

Tabela 8 – Fluxo migratório de outras regiões provinciais para Augusta Emérita

Tabela 9 – Fluxo migratório interprovincial (Itália e demais províncias) em direção à Augusta


Emérita
Tabela 10 a – Eixos temáticos e referências gerais LCGI

Tabela 10 b – Atribuições políticas e atividades públicas dos decuriões na LCCI

Tabela 11a – Eixos temáticos e referências gerais das Leges Flavianas

Tabela 11b – Atribuições políticas e atividades públicas dos decuriões nas Leges Flavianas
12

Tabela 12a – Fórmulas latinas com menção à coletividade da comunidade política


Tabela 12b – Fórmulas latinas com menção à coletividade da comunidade política
Tabela 12c – Fórmulas latinas com menção à coletividade da comunidade política
Tabela 13 - Epígrafes com o registro Decreto Decuriorum
Tabela 14 - Economias do mundo romano por D. Mattingly

Lista de Gráficos
Gráfico 1 - Quantitativo dos registros da onomástica por Civitate do C. Pacensis
Gráfico 2 - Distribuição dos registros dos tria nomina completos por cidade/século
Gráfico 3 - Distribuição dos registros dos tria nomina incompletos por cidade/século
Gráfico 4 - Quantitativo dos registros da onomástica por Civitate
Gráfico 5 - Distribuição dos registros dos tria nomina completos por cidade/século
Gráfico 6 - Distribuição dos registros dos tria nomina incompletos por cidade/século
Gráfico 7 – Quantitativo dos registros da onomástica por Civitate
Gráfico 8 – Distribuição dos registros dos tria nomina completos por cidade/século
Gráfico 9 – Distribuição dos registros dos tria nomina incompletos por cidade/século
Gráfico 10 - Distribuição das tribos do C. Pacensis
Gráfico 11– Distribuição das tribos do C. Emeritensis
Gráfico 12 – Distribuição das tribos do C. Scallabitanus
Gráfico 13 – Distribuição do registro das tribos por Civitate do Conventus Pacensis
Gráfico 14 – Distribuição do registro das tribos por Civitate do Conventus Emeritensis
Gráfico 15 – Integração da Província da Lusitânia no Alto Império
13

Sumário

Introdução ............................................................................................................................... 15

Sobre a organização do corpus epigráfico ........................................................................................ 23


Capítulo 1 - O estudo das elites e do Império Romano: um balanço historiográfico ....... 27

Capítulo 2 - A formação da província da Lusitânia e a construção do espaço social ...... 47

2.1 O território peninsular e a conquista romana .................................................................................. 51


2.1.a. A área céltico-túrtula ....................................................................................................... 56
2.1.b A área calaico-lusitana ..................................................................................................... 57
2.2 A formação da província da Lusitânia e a reorganização do território por Augusto....................... 61
Capítulo 3 - As elites e a dinamização do espaço provincial: o caso da Lusitânia ........... 80

3.1. Os modos de identificação dos cidadãos: a onomástica, o registro da tribu e o cursus honorum.. 87
3.1 a. O registro onomástico...................................................................................................... 90
3.1.b A indicação da Tribo ...................................................................................................... 110
3.2 O caso da capital provincial e as especificidades da sociedade emeritense .................................. 114
Capítulo 4 - As formas de integração e as redes de comunicação das elites provinciais
lusitanas ................................................................................................................................. 131

4.1 As leges e os procedimentos de integração jurídica e de vinculação sócio-administrativa .......... 137


4.2 As formas de ingresso nos ordines decuriorum ............................................................................ 152
4.3 As relações econômicas provinciais: a Lusitânia e as relações regionais ..................................... 163
Considerações Finais ............................................................................................................ 173

Referências Bibliográficas ................................................................................................... 179

Anexo I – Corpus Epigráfico ............................................................................................... 204

Listagem das Instituições Museológicas ............................................................................. 205

Signos diacríticos utilizados ................................................................................................. 207

Listagem das palavras-chave por grupo temático ............................................................. 208

Conventus Pacensis ............................................................................................................................. 209


1. Ammaia ............................................................................................................................. 209
2. Balsa ................................................................................................................................... 212
3. Caetobriga ........................................................................................................................ 222
4. Metallum Vispaniense ....................................................................................................... 223
5. Mirobriga Vettonum......................................................................................................... 225
6. Salacia .............................................................................................................................. 233
14

7. Myrtilis ............................................................................................................................. 240


8. Ossonoba .......................................................................................................................... 246
9. Pax Iulia ........................................................................................................................... 257
10. Ebora ................................................................................................................................. 282
11. Salácia ............................................................................................................................... 305
12. Epígrafes sem localização da Cidade ................................................................................ 307
Conventus Scallabitanus ..................................................................................................................... 312
1. Aeminium .......................................................................................................................... 312
2. Aritium Vetus .................................................................................................................... 314
3. Bobadela............................................................................................................................ 315
4. Olisipo ............................................................................................................................... 319
5. Sellium Turmulus .............................................................................................................. 363
6. Scallabis ............................................................................................................................ 364
7. Epígrafes sem localização da Cidade. ............................................................................... 365
Conventus Emeritensis ........................................................................................................................ 368
1. Augusta Emérita ................................................................................................................ 368
2. Augustobriga ..................................................................................................................... 422
3. Caesarobriga ...................................................................................................................... 427
4. Capera .............................................................................................................................. 428
5. Caurium ............................................................................................................................. 435
6 Civitas Aravorum .............................................................................................................. 438
7. Civitas Cobelcorum ........................................................................................................... 439
8. Civitas Taporium ............................................................................................................... 441
9. Civitas Igaeditanorum ....................................................................................................... 443
10. Poliba........................................................................................................................... 453
11. Iruena................................................................................................................................. 454
12. Norba Caesarina ................................................................................................................ 456
13. Metellinum ....................................................................................................................... 459
14. Salmatica ........................................................................................................................... 470
15. Turgallium ......................................................................................................................... 471
16. Urunia................................................................................................................................ 476
17. Epígrafes sem localização da cidade: ............................................................................... 478
15

Introdução

O estudo aqui apresentado tem como ponto de partida a pesquisa desenvolvida no


curso de mestrado realizado junto ao Programa de Pós-Graduação em História Comparada, na
Universidade Federal do Rio de Janeiro1. Neste período, a análise dos processos de integração
das regiões conquistadas, então transformadas em províncias do Império Romano, já habitava
nossas preocupações. Em tal experiência de pesquisa definimos a região e a temporalidade
sobre as quais desenvolveríamos nossa especialização, a saber, a província da Lusitânia, na
Península Ibérica; entre o Principado e o Alto Império.

Durante a realização do mestrado adentramos, então, na constituição do ambiente


urbano das cidades. Partimos do pressuposto de que, após a projeção de força representada
pelo exército romano, a organização espacial das áreas recém-conquistadas constituiu-se em
uma estratégia de consolidação e manutenção do território dominado. A divisão das áreas em
províncias, e a subdivisão destas em civitates com estatutos politico-jurídicos diferenciados se
fez presente em boa parte da face ocidental do Império Romano, formando experiências
distintas. Frente a isso, centralizamos nossas investigações na colônia Augusta Emérita,
durante os séculos I a. C. e II d. C. Nossos objetivos gerais consistiram em compreender a
importância do urbanismo para as práticas de domínio imperial e, em particular, analisar
como essas ações foram trabalhadas no estudo de caso recortado. Problematizamos os
embates da conquista romana sobre a população local e investigamos os processos que
levaram à formação de uma paisagem híbrida materializada pela criação de novas formas de
relações sociais e representada, sobretudo, pela fundação e consolidação urbanística da
colônia.

Nessa reflexão, compreendemos que tanto os textos escritos sobre história romana
como os elementos materiais provenientes das províncias oferecem subsídios para a
construção histórica a respeito do Império Romano. Nesse sentido, relativizamos as fronteiras
entre a produção histórica e os estudos arqueológicos e epigráficos. Com efeito, foi na
confrontação entre os documentos escritos e de cultura material que conseguimos identificar e
analisar os diálogos e as intercessões entre as especificidades locais e a estrutura de domínio
desenvolvida.

1
Dissertação defendida em junho de 2010, com o título: A organização do espaço social no Principado: um
estudo de caso sobre a colônia Augusta Emerita entre os séculos I a. C. - II d. C.
16

Quando da elaboração das diretrizes iniciais da pesquisa em tela, escolhemos dar


continuidade aos estudos dos processos de interação cultural no Império Romano enfocando,
então, na vivência do espaço das cidades e na produção material decorrente dessa vivência.
Para tanto, aduzimos nossas atenções para a documentação epigráfica concentrando-nos,
especialmente, na análise dos grupos sociais que se ‘auto-referenciam’ nos suportes. É sobre
este objeto de investigação histórica que nos dedicaremos a seguir.

O presente estudo tem como objetivo geral analisar a formação da paisagem imperial
na província da Lusitânia através da reflexão sobre os processos de criação da convivência
entre os romanos e as comunidades conquistadas. Mais do que um território submetido à
administração imperial, parte-se da ideia da província como uma construção específica, cujo
sentido só é compreendido a partir de sua inclusão no conjunto de decisões e ações dos
agentes que a habitaram e, paralelamente, de suas relações com o contexto promovido pela
dominação.

Nesses termos, parte-se do pressuposto geral de que, após a tensão da conquista, a


pluralidade dos processos de romanização que modificou as comunidades subjugadas deu
início a formas diversas de interação sociocultural entre grupos de pessoas. Toda a conjuntura
desenvolvida possibilitou tanto a constante recriação e definição do Império Romano quanto
do ideal de ‘ser’ romano. Deste modo, busca-se compreender como foram processadas as
distintas formas de integração da região que recebeu a província da Lusitânia e de suas
comunidades no mundo imperial romano.

Vale ressaltar que nesta pesquisa se analisa o fenômeno imperial a partir do mundo
provincial. A escolha por uma escala de análise ajustada às realidades provinciais surgiu
como uma alternativa para o desenvolvimento de um conhecimento não generalizante e,
principalmente, que contribuísse para a observação do aspecto matizado, plural e diverso que
caracterizou o próprio Império Romano enquanto fenômeno histórico. A aproximação com o
mundo provincial é fomentada pelo ímpeto de observação das dinâmicas, dos múltiplos
tempos e das experiências socioeconômicas, políticas e culturais que caracterizaram seu
contexto. Nessa linha interpretativa, o mundo provincial ganhou uma dinâmica própria, ativa
– isto é: este não é visto aqui como um espaço de reprodução da ‘cultura romana’, ou um
representante, em tamanho menor, de uma realidade constante que teria sido o Império. De
outro modo, parte-se da consideração de que não houve uma realidade constante e que, no
17

tocante aos mundos provinciais, a pluralidade das experiências, leituras e tradições em


diálogo foi o fator de contraste entre as regiões reunidas pelo domínio.

Como se busca destacar, a interpretação histórica desenvolvida a partir de um ponto de


vista em particular é obviamente uma questão de escolha, não clandestina, tampouco
arbitrária. Indica que, em lugar da apreensão das realidades sociais e históricas a partir de sua
inserção em quadros analíticos que as ultrapassam amplamente e dos quais se espera que
sejam capazes de restituir seus elementos fundamentais; opta-se por ajustar a escala de análise
para um ponto de vista que possibilite a observação da mecânica dos acontecimentos a partir
de sua própria perspectiva.

Diante do quadro apresentado, na presente investigação observa-se o fenômeno da


integração política da região de modo progressivo e gradual, cujo início pode ser definido em
fins do I século a. C. e cuja fase de consolidação se deu entre os séculos I e III d. C. Tendo em
vista esta delimitação, tem-se como objetivo geral compreender as especificidades que
distinguem a cultura política desenvolvida no mundo provincial criado na Lusitânia,
sobretudo os ajustes entre as configurações sociais regionais tradicionais e as novas relações
trazidas pela dinâmica imperial. Além de criar as condições para examinar a utilização
estratégica das regras sociais trazidas pelo domínio romano pelas comunidades locais, tal
perspectiva auxilia na observação dos desdobramentos dessas leituras na construção das
identidades provinciais.

Assim sendo, interessa compreender as formas de integração administrativa, jurídica e


econômica das comunidades indígenas no mundo romano no contexto peninsular. Importa-
nos tanto a forma como mobilização dos recursos materiais e econômicos locais foi utilizada
na construção dos elementos de visibilidade política (ou seja, monumentos, placas
honoríficas, votivas e funerárias) no contexto da província da Lusitânia, como também as
estratégias de comunicação e representação desenvolvidas pelas comunidades provinciais em
relação à cultura romana imperial.

Como hipótese central, defendemos que a produção epigráfica presente nos espaços
públicos pode ser pensada a partir de dois vetores: (a) uma vez apreendida, a prática
epigráfica foi utilizada como uma estratégia de vivência do espaço social pelos grupos de elite
provinciais, viabilizando sua integração na materialidade do espaço urbano das civitates, e (b)
tendo em vista a ampliação da produção entre os séculos I e II d. C., a prática epigráfica
18

transformou-se em uma das vias de diálogo, inserção e interação entre as comunidades locais
e o sistema de domínio imperial.

Tendo em vista estas considerações iniciais, é preciso salientar que a introdução do


hábito epigráfico foi uma ação produzida inicialmente pela administração romana. Uma vez
ajustados às realidades locais, consideramos que tais documentos podem evidenciar aspectos
não evidenciados em outros registros textuais. Assim sendo, compreendemos que somente o
confronto entre a documentação textual e a de cultura material torna exequível a
problematização dos contatos entre as tradições locais e a visão de mundo imperial. Por outro
lado, tal proposta cria as condições para examinar a utilização estratégica das regras sociais
trazidas pelo domínio romano e desenvolvida nas comunidades locais, assim como também
seus desdobramentos na construção das identidades sociais no universo provincial. Assim, a
produção epigráfica é vista por nós como uma expressão material do processo de integração
da região e de suas comunidades no mundo imperial romano.

Dado o volume documental referente à problemática supracitada, fez-se necessária a


organização de um catálogo que reunisse as epígrafes selecionadas para a pesquisa. Deste
modo, o corpus produzido é composto cerca de 300 epígrafes contextualizadas na província
da Lusitânia romana, cujo levantamento documental foi realizado a partir do estudo dos
catálogos disponíveis já publicados. Tendo em vista a numerosa gama de boas publicações
sobre o tema e o tempo necessário para a integralização da pesquisa, redimensionamos o
conjunto de catálogos consultados a partir de dois critérios gerais, a saber: (1) os trabalhos
cujo acesso era viável e (2) as obras cuja apreciação crítica nos auxiliaria na compreensão da
problemática em trabalho de forma segura.

Em se tratando da acessibilidade aos monumentos disponíveis, foi de extrema


importância a consulta às bases de dados online. Nesse sentido, priorizamos os catálogos
vinculados a dois grandes projetos de pesquisa: o Epigraphic Database Heidelberg2 (EDH) e
o Hispania Epigraphica Online3 (HEpOnl).

Em conjunto com a recolha documental realizada nas bases supracitadas, avançamos


no levantamento da bibliografia específica e não obliteramos o estudo das obras já
consideradas clássicas. Como caput deste conjunto está o volume II (1892) do Corpus
Inscriptionum Latinarum (CIL), dedicado à Península Ibérica e editado pela Academia das

2
Para consulta, vide: http://edh-www.adw.uni-heidelberg.de/home.
3
Vide link para acesso: http://eda-bea.es/pub/search_select.php.
19

Ciências de Berlim. Decerto, toda obra é datada, contudo, em se tratando de um corpus


epigráfico, essa característica assume contornos mais delicados tanto pelos avanços nas
escavações e pesquisas arqueológicas, como pelas publicações das novas epígrafes
encontradas. Somados a isto se têm as revisões das epígrafes já publicadas, reinterpretadas a
partir dos novos achados a elas coetâneos. Todos esses aspectos apontam para a necessidade
de revisar os dados presentes no CIL e, sobretudo, acessar a bibliografia mais recente. Assim
sendo, foi de ímpar relevância a inclusão de obras que nos viabilizasse o estudo da pluralidade
epigráfica da província como um todo. Sobre isto cabem algumas observações.

A partir do século I d. C., registra-se a divisão da Província da Lusitânia em três


Conventvs, a saber: Emeritensis, Pacensis e Scallabitanvs, conforme representado pelo mapa
abaixo:
20

Mapa 1- Província da Lusitânia e sua divisão conventual4

Em linhas gerais, os limites da antiga província são enquadrados entre os atuais


territórios português e espanhol. Atendendo às vigorosas discussões a respeito dos limites
entre os conventus, Jorge Alarcão aponta para a possibilidade dos seguintes limites para o
Conventvs Emeritensis: no território português seria marcado pelo território a sul de Ammaia
(S. Salvador de Aramenha – Marvão/Portalegre) que, caminhando para norte, passaria no
final sudoeste da Serra da Estrela e continuaria em linha reta até ao rio Douro a oeste de
Cárquere (Resende), de modo a incluir a zona dos Paesuri. Já em território espanhol o limite
conventual partiria da linha do rio Douro na atual fronteira portuguesa, seguindo em direção

4
Vide referência completa na obra: GORGES, J. G. (Edt). Les Villes de Lusitaine romaine: hierarchies et
territoires (Talence, 1988). Paris: CNRS, 1990.
21

leste tocando nas seguintes cidades (de norte para sul): Bletisa (Ledesma), Salmantica
(Salamanca), Avela (Ávila) Cæsarobriga (Talavera de la Reina), Alea (Ália), Lacinimurga
(Villa Vieja), Metellinum (Medellin), entroncando na atual fronteira portuguesa a leste de
Moura. Sua capital foi Augusta Emerita, atual cidade de Mérida (na Extremadura Espanhola).

Avançando para o Conventvs Pacensis, seria possível registrar sua localização a sul do
Conventvs Scallabitanus, separando-se deste por uma linha a sul de Lisboa (na Serra da
Arrábida), seguindo, ainda, a sul de Scallabis (Santarém) e de Aritium Vetus (Alvega –
Abrantes), entroncando a seguir no rio Tejo. Os seus limites a leste coincidiam com a
hodierna fronteira portuguesa, e tinha como capital Pax Iulia (atual Beja). Por fim, o
Conventvs Scallabitanus que ficava na zona próxima ao mar, a norte do Conventvs Pacensis e
a oeste do Conventvs Emeritensis5, tendo como capital Olisipo (atual Lisboa).

Em nossa pesquisa, a destacada extensão territorial provincial evidenciou a urgência


de se buscar as especificidades locais tanto em relação aos diálogos com a administração
imperial desenvolvida no espaço, como também no tocante à produção epigráfica oriunda
desse processo. Tais inquietações foram traduzidas na busca pelos corpora documentais
disponíveis para cada região provincial. Em relação a isso e de modo efetivo, observamos que
nos últimos 30 anos desenvolveu-se uma tendência analítica sensível à especialização
regional. Seja em Portugal ou na Espanha, em tais publicações é possível observar uma
iniciativa de revisão do CIL6.

Nesses termos, para a região do Algarve e Alentejo portugueses, área abarcada pelo
Conventvs Pacensis, no presente corpus se utilizou a tese de doutoramento de José
d’Encarnação, Inscrições Romanas do Conventvs Pacensis (1984) e seus respectivos
aditamentos7. Já em relação ao centro-noroeste provincial, especificamente à Beira Interior,
ganhou relevância a tese de Pedro Carvalho, intitulada Cova da Beira: Ocupação e
Exploração do Território na época romana (2007).

Em se tratando do oeste provincial, utilizamos os trabalhos Fouilles de Conimbriga


II (1976), de Robert Etienne, G. Fabre, P. Leveque e M. Leveque; Bobadela Epigráfica
5
Para uma boa síntese da loalização das cidades, consultar o site http://arlindo-correia.com/021208.html,
acedido em 20 de agosto de 2014, às 13h 45min.
6
ENCARNAÇÃO, J. d’. ‘Nova edição do Corpus Inscriptionum Latinarum’, Al-Madan, 5, Outubro 1996, p.
183.
7
Aqui referimo-nos às diverrsas atualizações das inscrições presentes no IRCP realizadas pelo próprio Prof. Dr.
José d’Encarnação e publicadas em diversas revistas especializadas. Dentres estas, citamos a título de exemplo, o
texto “IRCP, 25 anos depois”, publicado em 2008, no volume 11, número 2, da Revista Portuguesa (pp. 215–
230).
22

(1981), de Regina Anacleto 8 ; o Roteiro Epigráfico Romano de Cascais (2001), de José


d’Encarnação; a tese de João Vaz sobre a civitas de Viseu e, por fim, A Ocupação Romana
de Leiria (2007), de João Pedro Bernardes.

No que se refere ao Conventvs Emeritensis efetuamos a análise combinada de


publicações espanholas e portuguesas. Algumas nos auxiliaram a compreender a dinâmica de
cidades específicas e outras nos proporcionaram uma observação holística da região. Nesses
termos, para a colônia de Medellin, o trabalho de Salvadora Haba Quirós, A colônia
Medellinense y su território: catálogo epigráfico (1998), foi fundamental. Seguindo na
mesma linha, incluem-se os estudos de Ana Marques Sá, Civitas Igaeditanorum: os deuses
e os homens (2007), para a Civitas Igaeditanorum. Em relação à capital provincial, Augusta
Emerita, consultamos duas obras importantes: o trabalho coletivo de Jonathan Edmondson,
Trinidad Nogales Basarrate e Walter Trillmich, Imagen y memória – monumentos
funerários con retratos en la colonia Augusta Emerita (2001); e o Catálogo de las
inscripciones imperiales de Augusta Emerita (2003), de José Ramirez Sábada. Por fim,
ampliando a escala de análise para o Conventus, complementamos o estudo das inscrições
funerárias com a tese de Maria José Pando Anta, La sociedad romana del Conventvs
Emeritensis a través de sus estelas funerárias (2005).

Para o acesso às inscrições inéditas (ou cuja publicação não perpassou as obras acima
mencionadas), consultamos também o suplemento da Revista Conimbriga, intitulado
Ficheiro Epigráfico9.

Em todos os catálogos mencionados, o critério inicial para o acesso às epígrafes foi


sua localização no quadro administrativo provincial. Ou seja, dado o amplo volume de
inscrições existentes e já inventariadas para o período, priorizou-se a recolha dos dados
epigráficos a partir de (1º) sua localização geográfica, (2º) sua contextualização no quadro
administrativo provincial geral, ou seja, os conventus e, quando viável, sua localização na
divisão administrativa local, as civitates.

Na análise dos dados observou-se a pluralidade tipológica dos monumentos que


fizeram parte da vida política das comunidades. Deste modo, outro critério de busca consistiu
na constatação da relevância da inscrição na compreensão da pluralidade das relações

8
Utilizado com as devidas e necessárias revisões.
9
A partir do número 65 (publicado no ano 2000), consultamos os ficheiros no link:
http://www.uc.pt/fluc/iarq/documentos_index/ficheiro, acedido pela última vez em 17 de dezembro de 2014, às
13h 09min.
23

sociopolíticas na dinâmica provincial. Nessa perspectiva, foram priorizadas as epígrafes


oriundas do contexto urbano cuja análise poderia contribuir diretamente para a compreensão
das especificidades que delinearam a progressiva formação e consolidação dos grupos de elite
da província. Isto é, aquelas inscrições cujas informações auxiliariam na investigação das
formas de integração na estrutura jurídica, administrativa e econômica que gradualmente foi
desenvolvida na região e na progressão das estratégias de representação sociopolítica dos
grupos.

Sobre a organização do corpus epigráfico

Para a organização e registro das inscrições epigráficas catalogadas, optou-se pela


elaboração de um banco de dados no programa Access, através da elaboração de um
formulário especificamente elaborado para a pesquisa. Frete a isso, o formulário funcionou
como uma ficha de leitura para cada inscrição, sobretudo por auxiliar na sistematização das
informações importantes para a investigação da problemática de trabalho. Formalmente, o
conteúdo da ficha foi dividido em cinco seções, a saber: (I) Identificação geral e localização
atual do suporte; (II) Localização provincial; (III) Dados do suporte; (IV) Dados da inscrição
e (V) Bibliografia e observações.

Na primeira seção foram registradas as informações a respeito do local do achado do


monumento, seu paradeiro atual e o número do suporte na instituição de guarda. Vale destacar
que, frente às constantes reutilizações de que foram alvo inúmeros monumentos, nem sempre
todas estas informações estavam disponíveis na bibliografia consultada. Para estes casos,
optou-se por registrar apenas as informações cuja comprovação estava assegurada. Quando
disponível na bibliografia consultada, incluímos neste primeiro segmento a fotografia do
monumento.

Na segunda seção, foram registradas as informações a respeito da localização do


suporte no conjunto da província romana, isto é, o conventus, assim como também a cidade
romana de origem e seu respectivo estatuto jurídico em relação administração imperial, além
da tipologia do sítio. Mais uma vez, nem sempre se teve acesso a todas essas informações haja
vista as dificuldades já conhecidas a respeito da localização das civitates ou, o que é ainda
mais complexo, a definição dos limites entre os conventus da província. Assim sendo, o
tópico “tipologia do sítio” recebeu uma importância maior ao funcionar como ferramenta de
24

localização básica do monumento no conjunto do território provincial, mormente, na teia


administrativa romana (podendo ser cidade, vicus, villa, granja, casal, taberna, ponte, via
romana, etc.). Ressaltamos que a seleção dessa tipologia seguiu os dados apresentados na
bibliografia específica sobre o tema.

A seção intitulada “dados do suporte” foi dedicada às especificidades materiais do


monumento, ou seja, a tipologia do mesmo em relação ao seu uso social (se correspondiam a
uma ara, um pedestal de estátua, uma estátua, uma placa-epitáfio, uma placa comemorativa,
etc.), o material correspondente (mármore, granito, ouro, bronze, etc.), sua descrição
(medições gerais, registro geral da iconografia quando existente e demais informações que
sejam relevantes para a análise do monumento) e, por fim, seu estado de conservação.
A seção “inscrição” avançou mais uma camada analítica, ao receber o registro do texto
epigráfico em si, enquadrando-o em sua tipologia específica (votiva, funerária, monumental,
honorífica). Neste sentido e, frente às especificidades da pesquisa, foi incluída uma
interpretação da inscrição e, ainda, breves comentários históricos a fim de contextualizar o
texto. Quando possível, atribuímos uma datação presumida e sua respectiva cronologia geral
(na maioria dos casos foi adotada a datação fornecida pelos especialistas). Por fim, a
bibliografia consultada foi registrada na seção “referências bibliográficas”, acompanhada do
código de localização das peças quando estas constam em algum dos catálogos online
consultados.
Na exploração do material previamente catalogado, a comparação entre os distintos
textos epigráficos transcorreu a partir dos seguintes objetivos: (1º) a identificação da tipologia
com maior incidência por cidade, (2º) problematização das regiões com pouca incidência
documental, (3º) o mapeamento dos possíveis perfis do que, a princípio, chamamos de “elites
provinciais”, a partir do registro epigráfico e (4º) a análise comparativa do desenvolvimento
da prática epigráfica nas regiões da província da Lusitânia ao longo do recorte temporal em
estudos. Para tanto, foi criado um sistema de categorização com o intuito de perscrutar a
seguinte questão: quais os elementos do texto que devem ser priorizados considerando as
nossas hipóteses de trabalho?
Partimos da reflexão de que toda categorização é uma operação que envolve duas
etapas. A primeira consiste em um inventário dos elementos importantes para a análise, já a
segunda subentende a divisão das mensagens analisadas em rubricas ou categorias,
classificando e reagrupando-as de acordo com critérios pré-definidos. Assim sendo, no
presente corpus optou-se pela categorização a partir de três critérios: (1) territorial, (2)
25

cronológico, (3) temático. No primeiro nível de categorização, reagrupamos as epígrafes de


acordo com sua localização territorial, isto é, por conventus e, posteriormente, por civitates. O
segundo critério de reorganização seguiu a lógica cronológica, ou seja, reunimos as inscrições
por século. No terceiro critério, agrupamo-as de acordo com a tipologia do texto epigráfico,
incluindo, também, algumas palavras-chave selecionadas de acordo com as informações
presentes no texto epigráfico e relacionadas ao objeto de pesquisa.
Posto isto, uma vez estruturados, os dados fornecidos pelos textos viabilizaram o
estudo do fenômeno epigráfico a partir de três polos referenciais:
1. Partindo do texto em si: ao observar a materialidade dos diálogos, examinando as
aproximações e as releituras simbólicas, contextualizando as informações apresentadas
tanto no sistema de valores e instituições que integravam os projetos de imperialismo
e de colonização romanos, como nas tradições locais;
2. Tendo em vista o emissor das mensagens: que no caso em análise consistiu no
cidadão, na sua família, partidários; ou ainda um grupo de cidadãos e até o próprio
Imperador;
3. Observando o receptor das mensagens: referindo-se a um indivíduo ou um grupo de
indivíduos cuja mensagem foi destinada (e acabou por agir ou dirigir-se a ele/eles). No
estudo em questão, essa terceira referência ganhou um destaque maior diante das
limitações do letramento nas sociedades antigas, em especial a romano-provincial.

Uma vez realizados os procedimentos de recolha e organização, procederemos à análise a


fim de dar respostas aos seguintes objetivos:

1. Analisar a formação da paisagem imperial na província da Lusitânia durante os


séculos I a. C. e III d. C.;
2. Investigar as transformações decorrentes do impacte da conquista e dos processos de
colonização e municipalização evidenciados pelo domínio romano nas comunidades
em estudos;
3. Indagar a forma pela qual o poder romano e a cultura mediterrânica foram relidos no
nível local pela agência (entendida como comportamento, atuação) daqueles que
foram incorporados à área de influência e que, pela prática cotidiana, modificaram,
reinterpretaram e redefiram as estruturas de significados trazidas pelo domínio;
4. Compreender a atuação das elites locais na apropriação, releitura, redefinição,
financiamento e circulação da cultura epigráfica no território provincial.
26

Portanto, diante do exposto, apresentamos a proposta definida para a organização dos


capítulos que integram a tese.

O primeiro capítulo intitulado ‘O estudo das elites e do Império Romano: um balanço


historiográfico’, é dedicado à revisão da bibliografia concernente ao estudo teórico das elites e
na análise de como a temática aparece na bibliografia específica sobre o Império Romano.

O segundo capítulo recebeu o título ‘A formação da província da Lusitânia e a


construção do espaço social’, e apresenta as discussões iniciais sobre do recorte escolhido.
Adentrando-nos no contexto regional, o interesse consiste em compreender como se
processava a organização da região antes da fundação da província e, paralelamente, entender
como a região foi paulatinamente agregada à dominação romana e à sua concepção espacial.
Para tanto, recuamos cronologicamente para o período em torno de fins do século III e início
do II a. C. Seguindo o modelo interpretativo de Jorge de Alarcão (1989), dividimos o estudo
na compreensão das duas grandes áreas etnográficas que a definiram a região, a saber, a área
céltico-túrtula e a área calaico-lusitana.

No terceiro capítulo, denominado ‘As elites e a dinamização do espaço provincial: o


caso da Lusitânia’, partimos da ideia de que cada comunidade cria, ou resignifica de acordo
com os seus parâmetros, as próprias formas de vivência e inserção no espaço das cidades.
Nesses termos, através da análise dos dados, visamos compreender uma parte deste
movimento, isto é, as estratégias de vivência do espaço social pelos grupos de elite através de
sua integração no espaço urbano viabilizado pelas epígrafes inseridas nos espaços públicos.

No quarto e último capítulo, intitulado ‘As formas de integração, as redes de


comunicação e promoção das elites provinciais lusitanas’, aprofundamos o estudo das formas
de comunicação entre as elites províncias e as dinastias imperiais, a partir da análise conjunta
do texto epigráfico e das leges municipalis da dinastia Flávia. Visamos compreender quais
foram os desdobramentos das normatizações na dinâmica das relações sociais e nas formas de
representação dos grupos de elite no contexto específico da província em estudos.
27

Capítulo 1 - O estudo das elites e do Império Romano: um balanço historiográfico


O Império Romano foi o resultado de um longo processo de conquista militar e


centralização política, primeiro da cidade de Roma sobre a Itália, depois da própria península
sobre as regiões que margeiam o Mediterrâneo 10; e formou, durante séculos, uma unidade
política de grande complexidade, marcada por uma profunda diversidade social, política e
cultural cujas origens estão no próprio processo de sua criação11.
Com as conquistas, a rede social agrupada por Roma passou a incluir também os
grupos oriundos das cidades provinciais12. Em relação a estas, e paralelamente à implantação
do aparato administrativo e às construções urbanísticas que introduziram novos hábitos
sociais, políticos e econômicos, viu-se a divulgação de um complexo sistema que viabilizou a
integração das regiões, assegurando a consolidação do domínio13. Como engrenagens deste
sistema, estavam as construções públicas e a subsequente introdução do hábito epigráfico 14. É
na intercessão dessas duas ferramentas que encontramos nosso objeto de estudo. De uma
maneira efetiva, o grupo social que se destaca na produção epigráfica, sobretudo pela sua
predisposição econômica e pelas relações políticas desenvolvidas com a administração
imperial, é constituído por grupos de elites15.
De fato, a estrutura social do Império não era homogênea. O que a historiografia
denomina como ‘sociedade romana’ trata-se de uma abstração, uma generalização que, em
muitos casos, gera uma compreensão equivocada do que seria a rede social promovida pela
centralização romana. Em relação à diversidade cultural e social cara às regiões e cidades,

10
GRIMAL, P. O Império Romano. Lisboa: Edições 70, 1999, pp. 19-33, VEYNE, P. (dir.) - História da vida
privada. I. Do Império Romano ao ano mil, Porto: Ed. Afrontamento, 1989; VEYNE, P. - O Império Greco-
Romano, Rio de Janeiro: Ed. Campus, 2008.
11
GUARINELLO, N. L. Imperialismo Greco-Romano. São Paulo: Editora Ática, 1987, pp.38-81;
BUSTAMANTE, M. R. ‘Práticas culturais no Império Romano’. In.: CARDOSO, C. F. & ARAÚJO, S. R. ‘A
sociedade romana do Alto Império’. In.: SILVA, G & MENDES, N. M. (orgs.) Repensando o Império
Romano: perspectivas socioeconômica, política e cultural. Rio de Janeiro: Mauad, 2006, pp. 109-136;
12
ALFOLDY, G. A história social de Roma. Lisboa: Editorial Presença, 1989; CARDOSO, C. F. & ARAÚJO,
S. R. ‘A sociedade romana do Alto Império’. In.: SILVA, G & MENDES, N. M. (orgs.) Repensando o Império
Romano: perspectivas socioeconômica, política e cultural. Rio de Janeiro: Mauad, 2006, pp. 85-108;
WINTERLING, A. Politics and society in Imperial Rome. Oxford: Wiley-Blackwell, 2009.
13
BALIL, A. ‘Las ideas urbanísticas em época agustea’. In.: Bimilenario de la colonia Caesaraugustana (vol,
1). Zaragoza: Universidad de Zaragoza, 1976; FRAVO, D. The urban image of augustan Rome. Cambridge:
Cambridge University Press, 1996; ALCOCK, S. E. ‘Archaeology and Imperialism: roman expansion and the
Greek city’. In.:Journal of Mediterranean Archaeology, vol. 2, nº 1, junho de 1989, pp.87-135.
14
MEYER, E. A. ‘Explaning the epigraphic habit in the roman empire: the evidence of epitaphs’. In.: The
Journal of Roman Studies, vol. 80, 1990, pp. 74-96. MacMullen, R. ‘The epigraphic habit in the roman
empire’. In.:American Journal of Philology, vol.103, 1992, pp. 233-246.
15
ENCARNAÇÃO, J. d´ - Introdução ao estudo da epigrafia latina, Coimbra: Universidade de Coimbra,
1987; ENCARNAÇÃO, J. d´- Epigrafia. As pedras que falam, Coimbra: Universidade de Coimbra, 2006.
SUSINI, G. - Epigrafia Romana, Roma: Jouvence, 1982.
28

concordamos com Norberto Luiz Guarinello 16 ao compreender que clivagens sociais


separavam cidadãos de não cidadãos (até o século III d. C.), colocando em evidência outras
identidades sociais, tais como, livres e escravos, ricos e pobres, letrados e iletrados,
proprietários de terra e trabalhadores manuais e estrangeiros. Não havia, portanto,
uniformidade de direitos, tampouco uma única legislação para todo o Império. Contudo, é
possível observar, em relação às elites, uma progressiva unificação política e social,
produzindo uma cultura erudita, tanto em grego como em latim.

Instigados pelas premissas supracitadas, introduzimos a investigação no presente


capítulo a partir da revisão das temáticas centrais da pesquisa, a saber: a teoria das elites e o
estudo do Império Romano. Nos estudos históricos, a análise das elites pode ser
contextualizada no campo da História Política, cujo apogeu se deu no século XIX. A difusão
do termo elite17 na literatura sociológica e política pode ser datada em fins do século XIX 18, a
partir da formulação da ‘teoria sociológica das elites’19, especialmente através das obras dos
italianos Gaetano Mosca20 (1896) e Vilfredo Pareto21 (1902).
Mosca foi o primeiro a fazer uma distinção sistemática entre elite e massas e a buscar
a sistematização e elaboração de uma nova ‘ciência da política’ a partir desse fundamento.
Sua reformulação da teoria das elites apresentou uma tese a partir do ponto de vista científico,
a saber, não mais ‘aprioristica’, ideológica ou ideologizante da política. Nessa perspectiva,
propôs a reformulação dos conceitos fundamentais da teoria política tradicional com a
finalidade renovar a própria matéria da ciência política. Deste modo, não se restringiu a

16
GUARINELLO, N. L. ‘O Império Romano e nós’. In.: SILVA, G & MENDES, N. M. (orgs.) Repensando o
Império Romano: perspectivas socioeconômica, política e cultural. Rio de Janeiro: Mauad, 2006, p. 16.
17
Na busca pela etimologia da palavra ‘élite’, Thomas B. Bottomore (As Elites e a Sociedade, 1965, p. 7-8)
aponta que já no século XVII a palavra era utilizada para designar produtos de qualidade excepcional.
Posteriormente, seu emprego foi estendido para abranger grupos sociais ‘superiores’, tais como unidades
militares de primeira ordem ou postos mais altos da nobreza. Todavia, na primeira metade do século XIX, a
concepção moderna, social e política de elite possivelmente podem remontar aos trabalhos do Conte Saint-
Simon, com o reconhecimento da existência de diferenças de classe e da oposição entre ricos e pobres e na
defesa do governo de cientistas e industriais.
18
Vale destacar que foi na filosofia positivista de Auguste Comte que os elementos elitistas de Saint-Simon,
juntamente com as ideias do filósofo Louis-Gabriel-Ambroise De Bonald (ou Visconde De Bonald),
encontraram novo fôlego. Para avançar nessa análise, vide o trabalho de Thomas Burton Bottomore citado.
19
Destaca-se, ainda, o registro de elite fazendo referência a grupos sociais no Oxford English Dictionary em
1893.
20
MOSCA, G., Elementi di scienza política. Edição especial com uma segunda parte inédita. Torino: F. Bocca,
1923 (1ª Edição em 1896). Disponível em:
http://www.liberliber.it/mediateca/libri/m/mosca/elementi_di_scienza_politica/pdf/mosca_elementi_di_scienza_
politica.pdf, acessado em 17 de dezembro de 2014, às 18h 19min.
21
PARETO, V., Systèmes socialistes. Paris: V. Giard & E. Brière, 1902. Edição disponível em:
http://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k5525301r, acedido em 17 de dezembro de 2014, às 18h 21min.
29

definir a ‘elite’ como um grupo restrito de pessoas, mas propôs uma explicação para o
fenômeno de sua constituição enquanto grupo. Nas palavras do autor,

[e]ntre os fatos e tendências constantes encontrados em todos os organismos políticos,


um é tão óbvio que é visível até ao olhar menos atento. Em todas as sociedades –
desde as parcamente desenvolvidas que mal atingiram os primórdios da civilização até
as mais avançadas e poderosas – existem duas classes de pessoas – uma classe que
dirige e outra que é dirigida. A primeira, sempre a menos numerosa, desempenha
todas as funções políticas, monopoliza o poder e goza das vantagens que o poder traz
consigo, enquanto a segunda, a mais numerosa, é dirigida e controlada pela primeira
de uma forma que ora é mais ou menos legal, ora é mais ou menos arbitrária e violenta
(...)22.

Para Mosca23, o domínio da minoria sobre a maioria se daria pelo fato daquela ser
organizada, ou seja, pela sua capacidade de se organizar enquanto grupo. Assim,

(...) o domínio de uma minoria organizada, obedecendo ao mesmo impulso, sobre a


maioria desorganizada, é inevitável. O poder de qualquer minoria é irresistível ao se
dirigir contra cada um dos membros da maioria tomado isoladamente, o qual se vê
sozinho face à totalidade da minoria organizada. Ao mesmo tempo, a minoria é
organizada por ser uma minoria – e também pelo fato da minoria ser geralmente
composta de indivíduos superiores – (...) os membros de uma minoria dominante
sempre possuem um atributo real ou aparente, que é altamente valorizado e de muita
influência na sociedade em que vivem”.

No primeiro capítulo de seu História das Doutrinas Políticas desde a Antiguidade


(1927)24, Mosca destaca a tônica inicial de sua teorização, a saber, a compreensão de que a
classe política encontra sua força exatamente no fato de ser organizada. Tal organização pode
ser compreendida a partir de duas ordens de forças: a primeira tratar-se-ia do conjunto de
relações de interesse que induzem os membros da classe política a coligarem entre si e a
constituírem um grupo homogêneo e solidário frente à numerosa, porém dividida,
desarticulada, dispersa e desagregada classe dirigida. Tal coesão manifestar-se-ia na
identidade ou semelhança de certo número de ideias e sentimentos fundamentais professados
pelos indivíduos que fazem parte de um mesmo grupo político. A segunda ordem consistiria
no acesso aos meios de coerção necessários, através da administração e da hierarquia, ou seja,

22
A 1ª Edição é datada em 1896. Aqui citamos à seguinte edição: MOSCA, G. The Ruling Class. New York:
McGraw Hill, 1939, p. 50. Vide, também, DELICAN, M. ‘Elite theories of Pareto, Mosca and Michels’. In.:
Sosyal Siyaset Konferansları Dergisi, 2000, pp.324-335. Disponível em:
http://www.journals.istanbul.edu.tr/iusskd/article/download/1023013423/1023012646, Acedido em 17 de
dezembro de 2014, às 18h 27min.
23
MOSCA, G. op. cit., 1939, p. 53.
24
Data da primeira edição. Aqui, acessamos a edição brasileira, publicada pela Zahar editora em 1980. Uma boa
síntese das ideias de Gaetano Mosca foi realizada por Norberto Bobbio em seu Dicionário de Política, 1998, p.
386.
30

através das forças materiais, consagradas pelo aparelho ou máquina estatal, da qual se serve a
classe política como instrumento para a realização de seus próprios fins.

Propondo uma construção teórica aproximada à de Mosca, Vilfredo Pareto parte do


pressuposto de que os homens são desiguais em todo campo ou atividade. Para Pareto, elites
são aqueles que fazem parte do ‘grau superior’, detendo-se particularmente sobre os
indivíduos que, ocupando os graus superiores da riqueza e do poder, constituem a elite
política ou a aristocracia. Para Norberto Bobbio25, mais do que os problemas de sua formação
ou constituição, Pareto fora atraído pelo fenômeno da grandeza e da decadência da
aristocracia, ou seja, para ele as aristocracias não duram e a história seria, portanto, um teatro
de contínua luta entre uma aristocracia e outra.

Na definição da ‘elite governante’, seu objeto de estudos, Pareto 26 divide a elite em


dois subgrupos, a saber:

(...) uma elite governante, compreendendo os indivíduos que direta ou indiretamente


participam de forma considerável do governo, e uma elite não-governante,
compreendendo os demais... Assim, ficamos com dois estratos em uma população: I.
um estrato inferior, a não-elite, com cuja possível influência sobre o governo não
estamos preocupados no momento; e II. um estrato superior, a elite, dividida em dois:
a. a elite governante; e b. uma elite não-governante”.

Essa ideia já estaria presente nos trabalhos Cours d’économie politique (1896-7) e no
Les systèmes socialistes (1902, com segunda edição francesa em 1926), mas foi em seu
Trattato di Sociologia Generale (1916) que Pareto aprofundou a questão e preocupou-se
com a oposição entre aqueles que possuem poder, o que ele chamou de elite governante, e os
que não o possuem, as massas. Nessa obra, ele defende a teoria do equilíbrio social,
fundamentada no modo como se combinam, integram e intercambiam as diversas classes de
elite, seguindo uma perspectiva binária, a saber: as políticas (divididas entre as que usam a
força e as que usam a astúcia), as econômicas (divididas entre os especuladores e os
banqueiros) e as intelectuais (divididas entre os homens de fé e os de ciência). Para autores
como Bottomore27 e Bobbio28, essa mudança de concepção de Pareto se deve, em parte, à

25
BOBBIO, N. op. cit., 1998, p. 386.
26
PARETO, V. The mind and society, pp. 1422-3 (tradução inglesa do Trattato di Sociologia Generale), apud.
BOTTOMORE, T. B., op. cit., 1965, p. 9.
27
BOTTOMORE, T. Op. cit., 1965, p. 9.
28
BOBBIO, N, Op. cit., 1998, p. 386.
31

influência da obra de Gaetano Mosca, primeiro a fazer a distinção entre elite e massas,
embora utilizando outros termos.

Deste modo, tanto Mosca quando Pareto preocupavam-se com as elites no sentido de
grupo de pessoas que exercem diretamente o poder político ou que estão em condições de
influir sobre seu exercício; ao mesmo tempo, reconheciam que a ‘elite governante’ ou ‘classe
política’ compõe-se, ela mesma, de grupos sociais distintos29. Como se percebe, o uso do
termo elite já nesse início do século XX não fora consensual: como exemplo da pluralidade de
interpretações produzidas, a partir dos estudos dos teóricos italianos, está a interpretação de
Roberto Michels, sociólogo alemão radicado na Itália.

Em 1910 e depois em 1912, em uma versão italiana, Michels publica La Sociologia


del partito político nella democrazia moderna. Analisando o comportamento político das
elites intelectuais, Michels debruçou-se sobre a concentração do poder num grupo restrito de
pessoas e enfocou o estudo estrutural dos grandes partidos de massa. Nesses termos, à minoria
de poder Michels chamou de oligarquia, diferenciando-se do termo aristocracia utilizado por
Pareto. Em Michels, o fenômeno ganha um caráter negativo, degenerativo, ainda que
inevitável. Paralelamente a isso, e diferenciando-se de Mosca, o autor considera que a
organização teria como consequência a formação de um grupo oligárquico30.

Desta feita, a teoria das elites surgiu com uma forte carga antidemocrática e
antissocialista que, para alguns autores, refletia o receio das classes dirigentes dos países onde
os conflitos sociais eram ou estavam para se tornar mais intensos. De acordo com a análise de
Norberto Bobbio31, do ponto de vista ideológico ‘paretiano’, a teoria das elites foi uma das
expressões através das quais se manifestou a crise da ideia de progresso indefinido que havia
caracterizado o período da burguesia ascendente, servindo ainda para pôr em choque o ideal
do democratismo igualitário, ao colocar em evidência a dura e áspera lição do Darwinismo
Social que defendia, na seleção através da luta, as impiedosas condições da evolução. Desse
modo, forneceu argumentos a quem tinha interesse em demonstrar que a história é uma
repetição de conflitos, onde não contam os ideais, mas a forma e a astúcia. Nesses termos, as
revoluções seriam entendidas como nada mais do que a substituição de uma classe dirigente
por outra. A teoria das minorias governantes, mais presente em Mosca e Pareto do que em

29
BOTTOMORE, T. B. op. cit., 1965, p. 11.
30
Para a análise da teoria de Michels, vide a obra: Sociologia dos partidos políticos, Brasília: Universidade de
Brasília, 1982; tradução brasileira do La Sociologia del partito político nella democrazia moderna.
31
BOBBIO, N. op. cit. 1998, p. 386.
32

Michels, caminha, então, em conjunto como uma concepção fundamentalmente desigual da


sociedade, como uma visão estática ou cíclica da história com uma atitude pessimista da
natureza humana.

Seguindo essa análise crítica, Bobbio 32 destaca que essa ‘visão pessimista’ estaria
materializada numa incredulidade quase total em relação aos benefícios da democracia, como
uma crítica radical ao socialismo enquanto criador de uma nova ideia de civilização, e com
uma desconfiança que se aproximaria ao desprezo pelas massas portadoras de novos valores.
Se, num primeiro momento, a teoria das elites aglutinou alguns ‘humores antidemocráticos e
antissocialistas’ provocados como reação ao movimento operário, por outro lado teria
permitido a formulação da antítese elite-massa, onde o termo positivo era o primeiro e o
negativo era o segundo.

Tendo em vista a contribuição dos três teóricos aqui analisados brevemente, pode-se
afirmar que a teoria das elites foi impondo por seu valor heurístico, difundindo-se enquanto
campo de pesquisa. Viram-se, assim, dois modos diferentes de formação das classes políticas:
(a) o poder que se transmite por herança, de cima para baixo, ou (b) o que busca realimentar-
se nas camadas inferiores. Desta reflexão saíram modos diferentes de organização política,
dos quais, citamos dois: os regimes autocráticos e os regimes liberais e democráticos, sendo o
primeiro assentado numa concepção de elite mais fechada e restrita, e o segundo concebendo
a elite em uma perspectiva mais ampla e aberta33.

Enquanto conceito, a partir das décadas de 1920 e 1930 o termo elite ganhou novas
34
reflexões que contribuíram para sua consolidação enquanto teoria científica .
Concomitantemente, reforçou-se um duplo caminho para sua crítica: pela via liberal e pela via
marxista.

Em linhas gerais, a crítica liberal assentou-se na unidade da elite enquanto grupo


monolítico, isto é, em torno de uma consciência, coesão e conspiração que a identificaria.
Dito de outro modo, a tônica da crítica consistia na problematização da ‘união’ ou da ‘mono-
organização’ da elite enquanto grupo, salientando, assim, o caráter plural que já estaria
32
BOBBIO, N. op. cit., 1998, p. 387.
33
Nessa perspectiva destacam-se os trabalhos de Guido Dorso L'occasione storica e Dittatura, classe politica e
classe dirigente, ambos publicados em 1949; e os trabalhos de Filippo Burzio Il demiurgo e la crisi
occidentale (1943) e Dal superuomo al demiurgo (publicação póstuma 1952).
34
Vinculados à tradição de Pareto e Mosca, nos referimos aos trabalhos de Harold D. Laswell, Politics: Who
Gets What, When, How (1935); James Burnham, The managerial revolution (1941) e The machiavellians
(1943); Abraham Kaplan, Power and Society: A Framework for Political Inquiry (1950) e C. Wright Mills,
The Power of elite (1956).
33

presente no sentido do princípio de formação 35 . Já no viés marxista, a tônica da crítica


consistiria na negação da articulação nos três setores (consciência, coesão e conspiração)
tendo em vista a tese de que a classe dominante seria uma só: a dos detentores do poder
econômico. Deste modo, a crítica estaria baseada não na existência, mas na forma, na essência
da elite enquanto grupo. Parte-se, aqui, de outro princípio da interpretação da própria
sociedade, entendida como o conjunto de relações entre dominantes e dominados 36 . Essa
premissa fez com que a crítica fosse formulada através de uma alternativa às versões monista
e pluralista. Deste modo, sintetiza Bobbio37:

[e]nquanto a teoria elitista parte (...) da contraposição entre elite e massas distintas
entre si como elemento passivo da sociedade e limita o elemento conflitual ao
conflito interno das elites, a teoria marxista parte da contraposição entre as duas
classes antagônicas dos donos dos instrumentos de produção e dos proletariados e
considera o conflito entre as duas classes sociais o principal motor do movimento
histórico. Na visão elitista da sociedade, a relação entre elite e massa não é
necessariamente antagônica.

Deste modo, não se trata do antagonismo entre massas mais ou menos influenciadas
pelas elites: enquanto a teoria marxista se volta para a forma de produção, para o movimento
estrutural a fim de encontrar os elementos constitutivos e determinantes do movimento social,
a teoria elitista individua o elemento determinante da desigualdade social que caracteriza a
sociedade existente (e que já existiu) na diversa distribuição do poder, destacando o poder
político.

A partir da década de 1950, para além de tais discussões, ganharam relevo os estudos
que buscavam validar as elucubrações teóricas através de pesquisas empíricas sobre
comunidades locais38. Nos trabalhos desenvolvidos, a premissa básica consistia na reflexão
sobre quais seriam os limites entre o ‘poder potencial’ e o ‘poder real’. Desenvolvidos a partir
do estudo dos grupos de poder de comunidades pequenas ou em instituições de grandes
dimensões, como administrações municipais, sindicatos e agrupamentos profissionais, os
35
Nesse viés podem ser enquadrados os trabalhos de Joseph Schumpeter, Capitalism, socialism and
democracy (1942); Karl Mannheim, Freedom, Power and Democratic Planning (1950) e Raymond Aron, Paz
e Guerra entre as Nações, edição brasileira publicada pela Editora UnB em 1979, sendo a primeira edição, Paix
et guerre entre les nations, publicada em 1962, em Paris.
36
Incluem-se nessa perspectiva as obras de Georg Lukács, History and Class Consciousness (1923); Nicos
Poulantzas, Les classes sociales dans le capitalisme aujour’hui (edição francesa publicada em 1974 que
ganhou uma tradução brasileira intitulada Poder Político e Classes Sociais, em 1977. O original é datado em
1968) e Antonio Gramsci – deste há vários escritos, reunidos na edição brasileira de Escritos Políticos, volume
1, publicado pela Editora Civilização Brasileira em 2004.
37
BOBBIO, N. op. cit, 1998, p. 390.
38
São exemplos os estudos de Floyd Hunter, Community Power: a study of decision makers (1953) e Robert
Dahl, Who governs? Democracy and power in an American city (1961).
34

estudos demonstraram que a influência de um grupo de poder não se explica apenas pelas
decisões que conseguem tomar, mas também pelas decisões que se conseguem impedir que
sejam tomadas. Nesses termos, o que vale em uma comunidade não vale necessariamente em
outra. Quando testada na realidade do ‘campo’, a teoria das elites, em seu modo clássico, foi
questionada em seu pretenso valor universal. Tais os estudos locais demonstraram que a teoria
de uma única elite no poder é falsa, além de reforçar a necessidade de se buscar as
especificidades locais na compreensão da dinâmica política39.

Em se tratando dos estudos em História Política, esse movimento revisionista tardou a


acontecer. Em sua vertente francesa, o apogeu contextualizado no século XIX, cedeu lugar a
um desprestígio concomitante à afirmação da École des Annales, a partir da década de 1930.
Seriam no conjunto das reflexões realizadas pelos historiadores franceses a partir da década
de 197040, que se poderiam contextualizar algumas iniciativas de renovação dos estudos do
político, dentre elas a obra organizada por René Rémond, Pour une histoire politique
(1988).

Auxiliado por onze historiadores oriundos da Université de Paris-X-Nanterre e na


Fundation Nationale des Sciences Politiques, René Rémond apresenta um inventário dos
estudos de história política na França, chamando a atenção para as novas abordagens, objetos
e problemas, frutos do contato com outras disciplinas, como a sociologia, a antropologia e a
linguística. Nessa proposta de renovação, a interdisciplinaridade conferiu à História Política o
status de uma ‘disciplina em movimento’ ao assimilar novas metodologias, teorias e conceitos
explicativos, o que suscitou o desenvolvimento de novas questões de análise.

Paralelamente aos temas tradicionais, então revisitados, à ‘Nova História Política’


passou a interessar também o estudo da participação na vida política e dos processos
eleitorais, integrando todos os atores, dos mais modestos às elites. Nesse horizonte
revisionista a história política perde seu viés elitista e individualista, e avança na eleição das
massas como um de seus objetos centrais. O interesse não estava mais na curta duração dos
acontecimentos e no enfoque às grandes personalidades, de outro modo, voltava-se para a
pluralidade de ritmos (curtos, médios e longos) que marcam os fenômenos políticos. Ou seja,

39
BOBBIO, N. op. cit.1998, p. 391.
40
Incluímos aqui a coletânea organizada por Pierre Nora e Jacques Le Goff, Faire l’histoire (1974), cuja
tradução brasileira recebeu o título História: novos problemas, novas abordagens, novos objetos, publicado
pela editora Francisco Alves em três volumes, 1988.
35

era na longa duração que se buscaria compreender a história das formações políticas e das
ideologias, da cultura política tomada em contexto amplo e complexo.

O embate teórico produzido contribuiu para a redefinição do político enquanto campo


de estudos: ao mesmo tempo em que se reconheciam suas características próprias, travava
relações com outros domínios, ligando-se, então, a todos os aspectos da vida coletiva. Dessa
forma, o ‘político’ não se constituía mais em um setor separado, e passou a ser considerado
como uma modalidade da prática social41. A ‘Nova História Política’ passava a considerar,
assim, ‘o político’ de forma concreta e abstrata, ao considerar tanto os fenômenos e
instituições que faziam parte da esfera política da sociedade, como também as demais
instituições que em essência e oficialmente, não seriam ‘políticas’, como a Igreja, a cultura 42.
Portanto, romperam-se as inexpugnáveis barreiras do ‘campo político’, bem como as
tentativas de fechá-lo dentro de limites traçados para sempre (...). Político passa a ser
considerado não apenas aquilo que diz respeito ao Estado, mas todas as atividades que se
relacionam com a conquista, o exercício, a prática do poder43.

No estudo das elites, passou-se a interessar a compreensão da ‘cultura política’44 que


contextualizava e viabilizava seu desenvolvimento e renovação. As investigações assumiram
uma postura mais plural ao considerar as diversas camadas, os diversos tipos de elites como
agentes sociais em meio a outros agentes sociais, ainda que possivelmente obscurecidos pelos
vestígios históricos tidos como ‘oficiais’. Para além das especificidades locais, numa análise
regional, tornou-se importante indagar-se a respeito das inter-relações entre os grupos a fim
de construir uma interpretação histórica não generalizante.

Como indicam Karina Kuschnir e Leandro Piquet Carneiro, ‘cultura política’ pode ser
considerado um conceito multidisciplinar em cujo cerne reside a proposta de incorporar nas
análises da política da sociedade de massas contemporânea uma abordagem comportamental.
Isto é, uma proposta de abordagem que considerasse os aspectos subjetivos das orientações
políticas, seja no tocante ao ponto de vista das elites, seja em relação ao grande público da
sociedade. Para os autores, o conceito compreenderia uma visão peculiar e orgânica cara às
relações políticas, referindo-se ao conjunto de atitudes, crenças e sentimentos que dão ordem

41
REMOND, R. Por uma Historia Politica. Rio de Janeiro: FGV, 1998, p. 35-36.
42
REMOND, R. Op. cit., 1998, p. 442.
43
REMOND, R. Op. cit., 1998, p. 443-444.
44
Vide o clássico estudo de Almond e Verba, The civic culture, de 1963. A expressão foi criada na década de
60 por Almod e Verba a partir da combinação das perspectivas sociológica, antropológica e psicológica no
estudo dos fenômenos políticos.
36

e significado a um processo político, pondo em evidência as regras e pressupostos nos quais


se baseia o comportamento de seus atores45.

Tomando como referência tais estudos, passaremos agora para um breve mapeamento
dos estudos a respeito do Império Romano.

Nas matrizes historiográficas construídas no final do século XIX e inícios do XX, o


Império Romano foi definido como uma entidade homogênea e estática, cuja existência era
atribuída à força coercitiva e a um amplo conjunto de princípios organizacionais. Nesse
período, o termo ‘romanização’ foi desenvolvido na historiografia para explicar o contato
entre os romanos e os outros povos, buscando elucidar a forma como a adoção dos padrões
estéticos, das práticas de consumo e de produção dos romanos foi encontrada nas províncias e
nas regiões de fronteira do Império. Nestas produções são claros os paralelos entre o Império
Romano e aqueles construídos pelas potências imperialistas do mundo moderno46.

No bojo destas primeiras reflexões a experiência imperialista romana foi apropriada


pelos discursos das potências coloniais para justificar e legitimar o seu domínio e o seu
‘direito de conquista’ sobre as nações afro-asiáticas. Visto com admiração por intelectuais
como Theodor Mommsen47, o Império Romano foi vinculado à ação imperialista das nações
europeias que se entendiam como herdeiras de Roma. Estas legitimavam sua ação com o
discurso de disseminar entre os nativos os padrões culturais da vida civilizada. Ao difundir
pelos ‘nativos’ a cultura clássica, Roma teria criado o contexto para o desenvolvimento da
noção de civilização, responsável pela ligação entre o mundo antigo e o moderno.

Este tipo de abordagem denominada de corrente modernista marcou os estudos


arqueológicos e as escavações nos sítios romanos, principalmente no tocante à teoria e à
metodologia que norteavam as análises, nas quais se preconizava a oposição binária entre

45
KUSCHNIR, K. & CARNEIRO, L. P. ‘As dimensões subjetivas da política: Cultura Política e Antropologia
da Política’. In.: Revista de Estudos Históricos. Vol. 13. nº 24. Rio de Janeiro, 1999. p. 227-250.
46
Sobre este tema, alguns estudos ganharam destaque pelas especificidades das propostas e suas contribuições
para o debate acadêmico. Dentre estes, estão os trabalhos de J. Quinn intitulado ‘Roman Africa?’, o artigo de C.
Berrendonner, ‘The Romanization of Volterra: a case of mostly negotiated incorporation, that leaves the basic
social and cultural structure intact?’ e, por fim, o estudo de R. Hingley, ‘Recreating coherence without
reinventing Romanization’; todos publicados na edição de 2003 do Digressus, The internet journal for the
Classical World. Nesse conjunto de trabalhos que enfocam a dinâmica dos mundos provinciais incluem-se
ainda os livros de L. Revell, Roman Imperlialism and local identities publicado em 2009 e R. Hingley, O
Imperialismo Romano: novas perspectivas a partir da Bretanha, cuja edição brasileira foi feita em São
Paulo em 2010.
47
São referências os estudos de Th. Mommsen, Römische Geschichte IV, publicada em Berlim em 1874, e
Tenney Frank, Roman Imperialism publicada em New York em 1914.
37

categorias como civilizado e primitivo ou conquistador versus conquistado48. Ademais, nessas


interpretações, o Império Romano foi definido como uma entidade homogênea e estática, cuja
existência era atribuída à força coercitiva e a um amplo conjunto de princípios
organizacionais. Vinculou-se a isso a lógica de uma romanização ligada à ideia de progresso
das regiões conquistadas, cujo conceito implica a ideia de transferência cultural e aculturação,
entendidas como o abandono da identidade nativa pela adoção da imagem romana como um
ato positivo e deliberado.

Nessas interpretações, o espaço do Império Romano foi visto como racional e


moldado de acordo com os interesses político-econômicos que orientavam as diversas etapas
da conquista. As questões de análise centravam-se nos aspectos materiais e de racionalidade
econômica, referindo-se tanto à análise das conquistas territoriais do ponto de vista militar-
estratégico, quanto pelo viés econômico, isto é, sobre como a terra era usada como recurso
produtivo. Nesta lógica, as cidades provinciais foram interpretadas como pequenas ‘Romas’
no interior das regiões conquistadas, nada mais que um ‘espelho de Roma’, cujas análises
seguiam no objetivo de compreender como as construções arquitetônicas da capital imperial
foram copiadas pelas elites locais.

Uma iniciativa de revisão desta perspectiva contextualizou-se aproximadamente nas


décadas de 1960/70, em meio aos processos de descolonização e dos movimentos nativistas,
com o desenvolvimento da teoria pós-colonial nos estudos literários e históricos. Em sua
vertente histórica, essa perspectiva caracterizou-se por levar a uma refutação dos
condicionamentos históricos ligados às ideologias nacionalistas e colonialistas que
interagiram na construção das abordagens historiográficas a respeito do Imperialismo
enquanto um fenômeno histórico.

No tocante aos estudos do Império Romano, os ecos desse movimento revisionista


materializaram-se tanto nas pesquisas arqueológicas, ao reformular metodologias e
problematizar conceitos explicativos, quanto no desenvolvimento de novas interpretações
sobre os processos de romanização dentre os pesquisadores que se debruçavam sobre o tema.
Desta forma, a chamada ‘teoria pós-colonial’ estimulou o surgimento de novas temáticas de
análise para os contextos imperiais, dentre as quais se destacam: as estruturas e os sistemas
culturais das sociedades nativas; os conceitos de poder e a exploração das redes de poder das

48
Para um artigo de introdução à questão, recomenda-se o trabalho de MENDES, N. M., ‘Romanização: cultura
imperial’. IN: PHOINÎX. Rio de Janeiro: Sette Letras, 1999, pp. 307-325.
38

sociedades imperialistas; os discursos de poder e a conexão entre ‘poder e cultura’; as


respostas nativas e os resultados da negociação colonial; a construção da hegemonia; o
impacte da conquista sobre as sociedades indígenas e a paisagem do imperialismo 49 . Na
articulação das histórias ativas dos povos dominados, incluiu-se sua capacidade de gerar
formas abertas e ocultas de resistência e a desconstrução e definição dos modelos binários
pelos quais o Ocidente categorizou os outros, preocupando-se em afastar-se da dominância do
centro na construção do conhecimento.

Nesses termos, Edward Said 50 contribui para o debate ao definir o conceito de


imperialismo como a atitude de pensar, colonizar e controlar as terras que não são nossas, que
estão distantes de nós e que são possuídas e habitadas por outros. Muito embora não seja um
trabalho que se dedique ao estudo da antiguidade, a conexão entre cultura e imperialismo feita
pelo autor coloca em destaque reflexões que, a nosso ver, contribuem para a compreensão dos
processos de romanização, sobretudo a partir da compreensão de que a disputa pela ‘terra e
gentes’ não se restringe a soldados e armamentos, mas abrange também ideias, formas,
imagens e representações. Seguindo a lógica desse raciocínio, pensar no imperialismo é
também refletir nas práticas, teorias e atitudes de um centro metropolitano dominante
governando um território distante e, por vezes, o colonialismo (ação de implantar colônias no
território conquistado). Na perspectiva metropolitana, ambos são sustentados por formações
ideológicas que incluem a noção de que certos territórios e povos ‘precisam da dominação’.
Frente a isso, têm-se a construção de inúmeras obras que visam legitimar o processo de
submissão, isto é, na estrutura de atitudes e referências da cultura imperial.

Em meio aos estudos que se debruçaram sobre a natureza do imperialismo romano, as


discussões passaram a preocupar-se com a complexidade da aplicação do termo romanização,
na medida em que implicaria na discussão sobre cultura, identidade e poder no Império
Romano. Diante disto, com a aplicação das técnicas de desconstrução às estruturas de
dominação e marginalidade, as periferias foram levadas para o centro dos estudos e a relação
entre poder e conhecimento na produção do outro colonial também foi privilegiada. Isto é,

49
Dentre as pesquisas que articulam a relação entre as pesquisas arqueológicas e os estudos do imperialismo,
enquadram-se os trabalhos de Susan Alcock, sobretudo o artigo ‘Archeology and Imperialism: Roman
Expansion and the greek city’ (1989), e o texto de Thomas Barfield ‘The shadow empires: imperial state
formation along the Chinese-Nomad frontier’, publicado no livro organizado por S. Alcock e E. D’Altroy,
intitulado Empires (2001).
50
SAID, E. Cultura e Imperialismo. São Paulo: Companhia das Letras, 1995, pp. 37-38.
39

através da investigação do poder de representação nas imagens e linguagens coloniais foi


dado um papel privilegiado ao discurso colonial51.

Em termos práticos, as pesquisas desenvolvidas a partir da teoria pós-colonial


proporcionaram a refutação da ideia de romanização como uma transferência unilateral de
cultura ou como um processo generalizado e homogêneo ocorrendo entre dois sistemas
culturais autônomos, um romano e outro indígena, e de acordo com a lógica binária:
conquistador e conquistado. Tais estudos consideraram, de forma geral, os processos de
mudança cultural iniciados pelos contatos entre os romanos e as culturas submetidas, numa
dinâmica bidirecional que envolvia os processos de contato entre os padrões culturais
considerados romanos e a diversidade cultural das comunidades locais. Essa nova postura
compreendeu que, na experiência imperialista romana, os níveis de subordinação e dominação
das sociedades submetidas não se basearam na prática da exclusão, mas de integração, através
de experiências relacionais que envolveram a assimilação, a negociação e a resistência,
configurando assim uma experiência de hibridismo cultural52. A partir da década de 1970, os
debates acerca do conceito de romanização foram matizados por diversas abordagens que ora
defendiam, ora refutavam o uso do termo53.

A partir destes estudos, as contribuições de Siân Jones (1997) e Nicola Terrenato


(2001) oferecem um potencial explicativo para os processos de Romanização. Sîan Jones54
propõe uma reconsideração do conceito de romanização com base na aplicação do conceito de

51
Sobre essa perspectiva, recomenda-se o livro organizado por J. Webster e N. Cooper, intitulado Roman
imperialism: post-colonial perspectives, publicado em 1996.
52
Aqui entendemos o termo hibridismo de acordo com os estudos de Homi K. Bhabha na obra: O Local da
Cultura, Belo Horizonte: UFMG, 1998.
53
A avaliação negativa do termo romanização ganhou força com o trabalho de Marcel Bénabou (1976) e foi
rebatido pelo arqueólogo Y. Thébert (1978). Outro bom exemplo é o livro de M. Millet (1990), que se afasta das
ideias de progresso moral e social, mas afirma que a mudança social da Britânia foi uma forma de interação
cultural direcional, resultando na imitação dos padrões culturais romanos pelos provinciais, como o resultado do
“desejo” de ser Romano. Sobre o início dos processos de romanização no período posterior à conquista romana e
o processo de internalização da cultura romana e a formação da cultura galo-romana, os trabalhos de Greg Woolf
(1998) são uma referência. Para a análise da atuação romana no Oriente, vide o trabalho de Macmullen (2000,
p.1), segundo o qual os romanos não exerceram uma política de imperialismo cultural, sendo mais acertado usar
o termo Helenização em lugar de Romanização. J. Webster (2003, pp. 24-51), com base nos estudos
comparativos sobre a arte em contextos coloniais, propõe a substituição do termo Romanização por Creolização.
Já Richard Hingley (2003 e 2005) afirma que o paradigma do termo Romanização é constritivo e anacrônico,
portanto, para substituir esse caráter e visando a proporcionar maior dinamismo à análise do Mediterrâneo
Romano, propõe a aplicação do atual conceito de globalização desenvolvido no livro, Império de Antonio Negri
e Michael Hardt (2003). Com base nos processos de conquista e “Romanização” da Gália, G. Woolf (1998, p.7)
afirma que o termo Romanização não tem um potencial explicativo, devendo ser entendido como um termo
amplo ao abarcar os múltiplos processos de mudanças socioculturais, geradas pelo relacionamento entre a
“cultura romana” e as culturas provinciais, através dos quais os habitantes provinciais se tornaram e se
identificaram como romanos.
54
Aqui nos referimos ao livro The Archaelogy of Ethnicity – Constructing identities in the past and present
de 1997.
40

etnicidade para o estudo da arqueologia da Britânia, na medida em que entende que todos os
fenômenos sociais e psicológicos são associados com a identidade do grupo e, portanto,
construídos culturalmente. Neste sentido, o conceito de etnicidade foi utilizado para enfocar
as formas pelas quais os processos de interação social e cultural interagem entre si para a
identificação e interação dos grupos étnicos. Seguindo esta lógica, o registro arqueológico
evidencia a praxis do processo de interação social, ou melhor, de construção da etnicidade,
pois envolve a produção e o consumo dos distintos estilos da cultura material, tanto da elite
como da 'sub-elite'. Logo, a cultura material se constitui mais do produto da interseção dos
interesses e oposições entre os grupos sociais, em particulares contextos históricos, do que em
categorias abstratas da diferença.

Os processos de apropriação de bens culturais e sua resignificação são definidos por


Nicola Terrenato no artigo The Romanization of Italy: global acculturation or cultural
bricolage (1998), pelo termo bricolage, ou seja, processos pelos quais novos itens culturais
são obtidos, através da atribuição de funções diferentes daquelas que tinham inicialmente. Em
suas análises, Terrenato reconstrói o Império Romano a partir da análise de como as
numerosas elites negociavam suas próprias identidades e, com isso, efetuavam sua inserção
no sistema imperial coordenado por Roma. Aqui, a cultura “romana” não fora mais vista
como uma entidade monolítica e claramente delimitada, mas como derivada de um longo
processo de interação cultural entre as culturas mediterrânicas ao longo dos séculos. Os
grupos sociais desenvolveram uma progressiva unidade por meio do processo que o autor
chamou de negociação de elite. Como parte desse processo, as comunidades dentro do
império em expansão tornaram-se aliadas de Roma e foram incorporadas na administração
imperial.
Como demonstrado, em respostas ao elitismo das abordagens cêntricas55, os estudos
do início do século XXI começam a fragmentar a identidade romana e a problematizar a ideia
de culturas regionais que formaram o Império Romano como um todo heterogêneo. Passa-se a
explorar a complexidade das identidades culturais nos novos contextos criados pela expansão
do império e a considerar a negociação e a interação social como elementos fundamentais
para a estabilidade imperial. O mundo romano passa a ser considerado um mosaico cultural.
Já nas análises sobre a urbanização das províncias, é latente a preocupação em enfatizar as
especificidades, refutando a ideia da homogeneidade da “cidade romana”.

55
Uma recente abordagem que se enquadra nessa linha interpretativa foi escrita por Alejandro Bancalari Molina
(2007) Orbe Romano e Imperio Global: la romanización desde Augusto a Caracalla.
41

A revisão dos estudos a respeito do Império Romano a partir da recolocação das elites
provinciais enquanto tema de pesquisa consistiu em um ponto de virada para a
problematização das dinâmicas dos processos de romanização. Ao propor uma mudança da
construção do objeto em análise a partir de outra forma e trama, as comunidades locais
ganharam novas cores e formatos. Em lugar da observação de como se processou a
assimilação dos elementos da cultura “romana” de forma passiva e deliberada pelas
comunidades provinciais, passou-se a observar o fenômeno a partir de outra perspectiva. Em
primeiro lugar, reformulou-se a divisão da posição dos agentes na relação entre as
comunidades e a administração imperial. De conquistadores e conquistados, passou-se a
considerar o papel ativo das comunidades locais na construção e manutenção das estruturas
imperiais no nível regional. Uma vez identificados enquanto agentes ativos na rede política
desenvolvida e estimulada pelo domínio, os grupos políticos locais fazem escolhas,
apropriam-se e reformulam elementos da cultura romana56 e constroem práticas sociais.

É nessa perspectiva de análise social que inserimos a presente investigação. A partir


dela foram criadas novas agendas de estudo sobre a procedência de mercadorias ou pessoas,
extração mineral, bem estar humano e sobre o contexto ecológico que interagia com o
comportamento econômico das regiões mediterrâneas e da fachada atlântica 57. Tais temas,
relacionados à experiência de globalização e de glocalização58 centradas no Império Romano,
nos aproximam dos estudos regionais e nos afastam das visões cêntricas.

A aplicação destes conceitos não representa uma analogia entre o passado e o presente,
mas sim a busca de um conceito heurístico que nos ajuda a abarcar em uma mesma estrutura
ambos os fenômenos – um império como um todo e a experiência local – e a fazer
comparações sobre temas recorrentes, tais como: transformações na velocidade do ritmo dos
meios de comunicação para as mercadorias, informações e pessoas; formação de novas redes
de interações; crescimento do consumo e da economia e a formação de novas identidades
híbridas marcadas pela interação entre padrões globais e locais. No entanto, conforme afirma
Nevile Morley59 é preciso considerar os limites da globalização, observando os parâmetros

56
Na pesquisa, compreendemos termo ‘cultura romana’ como o resultado de uma fértil síntese de tradições
presentes em todo o mundo mediterrânico. Na análise da questão, Andrea Giardina definiu a identidade romana
como incompleta. Para uma análise aprofundada dessa interpretação, vide GIARDINA, A. ‘L’identità
incompiuta dell’Italia romana’. In.: L’italie d’auguste à Dioclétien. École française de Rome, Roma: Palais
Farnèse, 1994.
57
PURCELL, N. The Corrupting Sea, A study of Mediterranean History Oxford: Blackwell, 2000.
58
Vide GARDNER, A, Pensando sobre o Imperialismo Romano: ‘Pos-colonialismo, Globalização e Além’.
Britannia 2013, - link http://journals.cambridge.org/BRI - 11 de abril de 2013 – p.1-25.
59
MORLEY, N. Trade in Classical Antiquity. Cambridge: Cambridge University Press, 2007, p. 90
42

próprios do mundo antigo em relação à tecnologia, à capacidade de fluxo de informações, ao


desenvolvimento da contabilidade e à previsão das condições climáticas que sem dúvida
influenciavam nas escolhas e decisões.

Este deslocamento analítico criou as condições para a reflexão do território provincial


como um espaço social, cuja construção está diretamente imbricada na dinâmica das relações
sociais geradas pela nova estrutura territorial e administrativa introduzida pelas práticas
romanas de institucionalização do poder. Como sinalizado por Jorge Davidson 60 , tomado
nesta perspectiva, o espaço provincial passou a ser considerado como um centro de produção
de identidades, em hábitos e formas de convívio, cuja análise passa a ser vinculada às
questões referentes às relações de poder e cultura. Enquanto uma postura analítica, tal
posicionamento abriu caminho para a compreensão dos aspectos rituais e simbólicos que
conformavam as ‘organizações espaciais’ e, por outro lado, possibilitou o estudo das formas
pelas quais o espaço era concebido e introjetado no interior dos sistemas culturais e nos
indivíduos que compunham as distintas culturas.
Historiograficamente, a revisão dos estudos relativos ao ‘espaço’ pode ser enquadrada
na segunda metade do século XX, frente às novas realidades sociais proporcionadas pela
aceleração do processo de globalização, que teriam criado as condições de problematização
das teorias e das análises tradicionais 61 . Situadas no contexto sócio-político-cultural das
décadas de 1960-1970 o desenvolvimento de novas preocupações e perspectivas
metodológicas em relação à temática espacial tomaram lugar nas Ciências Sociais, ecoando
também no campo da Geografia62 e da História. Esse interesse pelos problemas referentes à
espacialidade levou alguns autores a falarem em um spatial turn63.

60
DAVIDSON, J. A construção de um espaço para o Império Romano: arquitetura, monumentos e
ordenamento espacial. Tese de Doutoramento (Doutorado em História), Programa de Pós-Graduação em
História, Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2004, p. 28.
61
Como analisado por Michel Foucault, (1986, p. 22), a grande obsessão do século XIX foi, a história, com seus
temas do passado em eterna acumulação, com sua grande preponderância de homens mortos e da ameaçadora
glaciação do mundo. Nessa leitura, o espaço foi tratado como o morto, o fixo, o não dialético, o imóvel, e o
tempo, ao contrário, era a riqueza, a fecundidade, a vida e a dialética. Manuel Castells (1972, p. 181), Henry
Lefebvre (1991) e Jorge Davidson (2004, pp.16-17) analisam que essa descrição aponta para interpretação
essencialmente temporal que marcou as análises sociais do século XIX. Nelas, o espaço seguiu remetendo a um
sentido eminentemente geométrico e costumava ser considerado como um atributo objetivo, uma ordem
preexistente na qual se desenvolviam os processos históricos. Edward Soja (1993, p. 23) e Ester Limonad (1999,
p. 75) consideram que esse posicionamento teórico caracterizou-se por uma contextualização histórica da vida
social e da teoria social que contribuíram por obscurecer a temática espacial. Ou seja, tenderam a bloquear o
papel do espaço na estruturação do território e a transformá-lo no lugar do processo histórico.
62
Com o desenvolvimento do conceito de organização espacial no âmbito da ‘Nova Geografia’ do pós - II
Guerra Mundial.
63
SOJA, E. Geografias Pós-Modernas: a reafirmação do espaço na teoria social critica. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar, 1993.
43

De acordo com as análises de Davidson64, esse novo enfoque propõe uma formatação
diferenciada de conceituação e compreensão do mundo, integrando o eixo espacial aos eixos
social e histórico, evidenciando a importância da configuração espacial na vida das
sociedades. O espaço, uma vez incluído na dinâmica das relações sociais, passa a ser
considerado como centro de produção de identidades65, em hábitos e formas de convívio. Essa
perspectiva estabeleceu vínculos analíticos entre as problemáticas espaciais e as questões
relativas à identidade, poder e cultura, abrindo caminho para a compreensão dos aspectos
rituais e simbólicos que conformavam as ‘organizações espaciais’. Por outro lado, possibilitou
o estudo das formas pelas quais o espaço é concebido e introjetado no interior dos sistemas
culturais e nos indivíduos que compunham as distintas culturas.

Frente à amplitude dos debates teóricos a respeito do espaço, em nossa pesquisa nos
aproximamos das contribuições formuladas por Henry Lefebvre, que amplia o debate ao
defender que a organização do espaço não é apenas um produto social, também é fruto nas (e
das) relações sociais66. Sua teoria espacial é construída sob a argumentação de que o ‘espaço
social’ inclui o espaço fisiconatural, assim como também as projeções, os projetos, os
símbolos e utopias, característicos da sociedade que o formulou.

Esta interpretação é redimensionada pela compreensão do espaço como produto social,


na qual as sociedades produzem o seu de acordo e em consoante às próprias concepções de
mundo. A expressão ‘produção do espaço’ indica então um passo adiante na reflexão
arquitetônica e urbanística, uma vez que ultrapassa setores tradicionais (como o
politicoeconômico) ao ampliar-se para o conjunto do social. O espaço não é considerado um
dado a priori, fundamentalmente geométrico, objetivo e neutro, passando a ser visto como
parte integrante do desenvolvimento da atividade social, como um instrumento político
estrategicamente modelado a partir de elementos sociohistóricos, um produto da história.

64
DAVIDSON, J. op. cit., 2004, p. 28.
65
Em relação ao conceito de identidade, dialogamos com os estudos de Kathryn Woodward e Tomaz Tadeu da
Silva (2000), no qual os autores defendem que o processo de construção da identidade é tanto simbólico
(marcada pela reunião de um conjunto de símbolos compartilhados entre os indivíduos de um mesmo grupo)
quanto social (pelas relações sociais), sendo marcado pela grande oposição com a diferença. Trata-se de um
fenômeno que emerge da dialética entre o indivíduo e a sociedade. Ou seja, compreende-se que identidade é
aquilo que se é, enquanto que diferença é aquilo que o outro é, ambos entendidos enquanto produções
socialmente construídas.
66
LEFEBVRE, H. The Production of Space. Oxford/ Cambridge: Blackwell, 1991, pp.36-57; 58-78.
44

As diferentes dimensões 67 que constituem o espaço, materialidade, concepção e


vivência cotidiana, são complementares entre si e compõem uma ideia sobre o espaço social
ao mesmo tempo em que o produzem. Nessa abordagem, a produção do espaço também
recebeu uma função simbólica e cultural, uma vez que se refere às hierarquias sociais e às
visões de mundo presentes nas concepções arquitetônicas e nas práticas espaciais da
sociedade que o modulou. Logo, a compreensão da produção das formas espaciais pressupõe
o estudo da estrutura social que a contextualiza.

Nesse ínterim, é possível vincular o estudo do espaço social com as dinâmicas da


paisagem, aqui entendida referindo-se tanto aos processos naturais quanto sociais, isto é,
compreendendo-a como o resultado da ação humana que transforma o mundo material. Por
outras palavras, o termo paisagem é entendido em suas interlocuções simultâneas entre o
espaço natural e cultural. Desse modo, seu estudo inclui a observação dos locais
transformados em espaços de comunicação, sendo um dos eixos de trabalho a identificação
dos aspectos simbólicos e das estratégias de representação dos esquemas culturais que
definem um espaço enquanto uma paisagem cultural. Nessa leitura, os processos de
representação podem ser vistos como ferramentas de integração simbólica de lugares em uma
construção cultural global68.

Tomadas conjuntamente, estas posturas teóricas auxiliaram na observação regiões


provinciais como experiências sociais e espaciais distintas, ainda que agrupadas pelo domínio
romano. No tocante às cidades provinciais, compreende-se que relações entre os indivíduos e
a vivência urbana são imersas em um complexo dinamismo cotidiano que envolve um
conjunto de elementos que norteiam as visões tanto do mundo em que vivem quanto da sua
própria identidade. Tal ideia fundamenta-se na defesa de que qualquer conjunto estrutural
urbano não deve se restringir apenas aos seus aspectos urbanístico-arquitetônicos. Por outro
lado, deve-se lançar um olhar que inclua os caracteres que atuam na mediação entre o “eu” e o

67
Na obra The Production of Space, 1991, p. 33, Lefebvre define três dimensões espaciais que dão forma ao
espaço social como uma categoria de análise histórica:
a) a das práticas espaciais: relacionadas à produção e reprodução do conjunto espacial característico de cada
sociedade que asseguram certo grau de coesão. É a dimensão da materialidade, da concretude do espaço, das
construções com as quais os homens habitam no seu cotidiano;
b) a das representações do espaço: são as contracepções da sociedade que envolvem os conhecimentos que
permitem compreender e ordenar as práticas materiais ( tais como a geografia, a arquitetura e o planejamento);
c) a dos espaços representacionais: esta relacionada à dimensão da vivência cotidiana, implicando nos códigos,
signos, símbolos, ou seja, os simbolismos das construções materiais que funcionam como espaços simbólicos, os
quais criam novos sentidos e possibilidades para as práticas espaciais.
68
TORRE, A. ‘Un tournant spatial em histoire? Paysages, regards, ressources’. In.: Annales: histoire, sciences
socials. Septembre-octobre 2008, nº 5, p. 1127-1144.
45

espaço em que se vive, o identificando como um lugar seu, expresso nos aspectos simbólicos
que atribuem sentido aos espaços urbanos e os transformam em espaços sociais.

Frente a isso, torna-se pertinente observar o equilíbrio entre a funcionalidade e as


representações nas análises do espaço nas investigações. Em se tratando do estudo das cidades
romano-provinciais, duas possibilidades de leitura ganham destaque: uma que enfoca a
identificação das estruturas e funcionalidades urbanas e outra, paralela, que representa um
avanço, pois preconiza o estudo da dinâmica da cidade tanto em relação ao seu
desenvolvimento ao longo do tempo quanto no tocante às relações sociais que a definem
enquanto um espaço social.

Em relação aos aspectos urbanísticos e arquitetônicos, a questão da vivência do espaço


se destaca como um elemento importante ao apontar para a possibilidade de pensar a cidade
como um elemento dinâmico, vivo e pulsante, locus do diálogo entre a cultura romana e as
comunidades locais. Posto isto, no presente estudo, os monumentos epigráficos são
interpretados como ferramentas de alto potencial analítico, uma vez que permite observar,
resguardadas suas inevitáveis limitações, a inserção de alguns indivíduos no espaço urbano,
seja em sua construção, adaptação ou resignificação. Viabilizam ainda o estudo das diversas
questões que constituíram as relações de poder entre as comunidades locais e as práticas
administrativas romanas.

Ademais, escolhemos como eixo analítico para o nosso trabalho de comparação o


estudo de Impérios69. Tendo em vista nossas reflexões iniciais, compreendemos que o Império
Romano, considerando sua duração e tamanho, oferece uma das melhores oportunidades para
se estudar o desenvolvimento econômico num contexto de um império agrário. Na iniciativa
de traçar um conjunto de características comuns aos chamados ‘impérios agrários’, vemos que
o caso Romano apresenta muitas similaridades, tais como: a produção agrícola como principal
fonte de renda; a base de sustentação do Estado sendo o sistema tributário; existência de
rígido sistema de taxação ou extração de excedente; enfoque central do sistema econômico em
examinar a natureza do relacionamento entre sistema tributário e a produção econômica; a
formação de um estado poderoso e de redes informais de poder, dominado pela corte e
aristocracia imperiais, burocracia e o exército; existência de crescente estratificação social.
Portanto, a presente pesquisa contribui com esse debate ao destacar como objeto de estudos a
agência dos grupos de elite locais na construção, consolidação e manutenção das redes de que

69
DETIENNE, M. Comparar o incomparável, Aparecida: Idéias & Letras, 2004, p. 47.
46

garantiram a integração das comunidades locais (nas cidades) e regionais (na província) na
estrutura de domínio imperial.

Posto isso, examinamos uma fração do Império Romano em sua fachada ocidental, a
saber, a província da Lusitânia. Nessa perspectiva, como indica Henry Lefebvre 70, não se
trata de localizar no espaço preexistente uma necessidade ou uma função, mas ao contrário,
trata-se de ‘espacializar’ uma atividade social, ligada a uma prática no seu conjunto,
produzindo um espaço apropriado. Seguindo essas assertivas, adentraremos no universo
provincial a partir da identificação da dinâmica sócio-espacial que caracterizou a região antes
da formação da província. Acreditamos que somente assim conseguiremos deslindar a
intercessão entre as especificidades locais e as ações do poder imperial para a integração e
consolidação da península como um espaço social integrado ao conjunto do Império.

70
LEFEBVRE, H. op.cit, 1991, p. 8 e 22.
47

Capítulo 2 - A formação da província da Lusitânia e a construção do espaço social


A formação do Império Romano colocou em contato experiências culturais distintas.


Frente a isto, foram desenvolvidas narrativas textuais que buscavam elaborar uma
interpretação para o novo contexto tecido pelas conquistas. Para tanto foram criados sistemas
classificatórios – simbólico-sociais – e representacionais que marcavam as distinções entre
romanos e entre os romanos e os ‘outros’. Uma obra importante para iniciar a compreensão
desse conjunto de narrativas é o livro de memórias de Otávio Augusto intitulado Res Gestae
(RG). Logo nas primeiras frases, Augusto se coloca como fundador do regime imperial, neste
sentido, suas ações triunfantes perpetuariam as conquistas dos seus predecessores e teriam
contribuído para a consolidação das fronteiras e a consequente dominação universal71.

Em suas memórias, Augusto buscou evidenciar e relacionar os limites do Império


Romano com as fronteiras do mundo conhecido, construindo e reforçando um terminus para a
presença romana, isto é: o oceano, que circunda a terra (que, em sua leitura, Roma foi a
primeira a chegar e controlar), a Galia, as Hispanias, a Germania, os Alpes, a Ethiopia, a
Arábia 72 , Índia e Egito 73 . Em sua descrição do orbis terrarum, as fronteiras do Império
confundiam-se com as da oikoumene, a qual Roma passava a assegurar sua hegemonia 74 .
Deste modo, o governante reforçava a proposta de controle e conquista do controle do mundo
habitado (Orbis Terrarum)75, submetendo-o à autoridade do povo romano76.

Nessa perspectiva, o Império passou a adquirir uma conotação universal: imperium


sine fine e o orbis terrarum imperium passava a conter duas partes: o território organizado
pela administração romana que poderia ser ampliado, e as externae gentes, as quais estavam
submetidas, mas não anexadas 77 . Em meio a este processo, vemos a construção de uma

71
NICOLET, C. Space, Geography and politics in the early Roman Empire. Michigan: Michigan University
Press, 1991, pp. 29-56.
72
Res Gestae, 26. 5.
73
Res Gestae, 31, 1.
74
A tradição filosófica com a orientação de investigar o mundo conhecido remonta à ‘escola de Alexandria’,
sobretudo aos trabalhos de Erastostenes de Cirene, cujo trabalho centrava-se tanto na mensuração da terra, como
da oikoumene. Nele, o conceito de oikoumene já aparece relacionado ao mundo habitado, subdividido em suas
fronteiras políticas. Sobre esse tema, ver os estudos de Klaus Geus, ‘Measuring the Earth and the Oikoumene:
zones, meridians, sphragides and some other geographical terms used by Erastosthenes of Cyrene’.
In.:TALBERT, R & BRODERSEN, K. (Edts.) Space in the Roman World. Piscataway: Münster: LIT, 2004,
pp. 11-26.
75
HIDALGO DE LA VEJA, M. J. ‘Algunas reflexiones sobre los limites del oikoumene em el Imperio
Romano’. In.: Gérion, 2005, nº 7, pp. 273-278.
76
Res Gestae, L.I, v.1.
77
Estrabão, Geog. L.2, Cap. 5, v. 8.
48

orientação política de afirmar e justificar tanto a submissão do mundo pelo Império como sua
organização sob a tutela de Roma.

A mesma temática da dominação universal foi reforçada pelo mapa elaborado


possivelmente entre os anos 2 e 10 d. C. atribuído a Agripa (genro de Otávio Augusto e co-
regente do Império). Considerado o primeiro mapa global do mundo conhecido apresentado
publicamente em Roma, foi iniciado por Agripa e finalizado pelo próprio Otávio Augusto.
Certamente, não foi o primeiro mapa divulgado entre os romanos nas paredes de templos ou
nos painéis que desfilavam durante as cerimônias do triunfo militar78, contudo, foi o mapa do
mundo mais completo do período. Sua representação indicava uma nova forma de interagir
com o território conquistado pela dominação romana e colocava sob a tutela de Roma todo o
mundo habitado79:

Mapa 2 – Representação da organização do mundo conhecido atribuída a “Agripa”80

78
Tais cerimônias aconteciam quando os generais e suas tropas regressavam dos combates e, ao chegarem a
Roma, já destituídos das armas e uma vez autorizados pelo Senado, realizavam um desfile militar, ao longo do
qual eram apresentados os mapas com as listas das cidades, os nomes das montanhas e rios conquistados,
projetando-se a forma e distância das regiões submetidas em reação a Roma. Vide a análise de NICOLLET, C.
Space, Geography and politics in the early Roman Empire. Michigan: Michigan University Press, 1991, p.
20.
79
NICOLET, C. Space, Geography and politics in the early Roman Empire. Michigan: Michigan University
Press, 1991, pp. 7-8.
80
Fonte da imagem: NICOLET, C. ‘L’Empire Romaine: espace, temps et politique’. Ktema, Strasbourg, v. 8,
1983, pp. 163-173.
49

Como indica Claude Nicolet81, como os demais documentos citados, o mapa atribuído
a Agripa teve função peculiar na construção do ideal da soberania romana no sistema político
do Principado. Nele, a concepção de domínio universal foi expressamente veiculada pela
representação dos dois espaços fundamentais que estruturavam o universo mental dos
romanos: Urbs et orbis terrarum. A Urbs é o centro do mundo, a cidade da vida social, do
prazer, dos templos, da riqueza, da cultura e do poder e o orbis terrarum é representado
através do registro das regiões de forma geral, de modo que permitisse uma ampla
visualização da posse do mundo e suas zonas de influência.

No tocante à Península Ibérica, o livro III da Geographia de Estrabão (entre os anos


63- 19 d. C.), associado aos livros III e IV da Historia Naturalis de Plínio, o Velho (ano 77 d.
C.) complementam tais narrativas ao apresentar e articular, ainda que esquematicamente, a
região peninsular ao conjunto maior das possessões imperiais82.

Ligado ao início da dinastia Julio-Augusta, Estrabão segue uma orientação geopolítica


para estabelecer o reconhecimento das regiões e populações dominadas por Roma, tendo
como base a distinção entre o 'antes' e o 'depois' da dominação. O geógrafo, que dedica sua
obra ao Princeps Otávio Augusto, termina sua escrita em um momento no qual o Império
Romano havia se constituído em uma construção política que abarcava todo o mundo
habitado, sobre o qual exercia uma dominação que se pretendia total, sobre territórios e
gentes. Dessa forma, seu texto insere-se no conjunto de discursos que celebravam e elogiavam
o Império Romano pela extensão do seu domínio sobre todo o orbis terrarum,
proporcionando uma unidade política.

Ao seguir esta premissa, o discurso geográfico estraboniano buscava dar sentido tanto
às atividades de conquista desenvolvidas por Roma como também aos povos e suas
geografias interpretadas como 'exóticas'. Seu texto é marcado por estereótipos e pelo conceito
clássico de levar a “civilização” aos povos tidos como 'bárbaros e primitivos', baseando-se na
concepção de que por não serem como nós, 'romanos e gregos’, os bárbaros deveriam ser
dominados.

81
NICOLLET, C. Space, Geography and politics in the early Roman Empire. Michigan: Michigan U
niversity Press, 1991, p. 95-122.
82
CRUZ ANDREOTTI, G; LE ROUX, P. & MORET, P. (Edts.). La invención de una geografía de la
Península Ibérica – vol. I : la época republicana & vol. II: la época imperial. Madrid/ Málaga: Casa de
Velazquez/ Servicio de Publicaciones del Centro de Ediciones de la Diputación de Málaga, 2007.
50

Na sua retórica de poder, Estrabão gera uma 'ilusão de benevolência' para caracterizar
a ação imperialista romana. Tudo o que ele consegue ver é um mundo totalmente dominado
por Roma, onde a oposição à humanitas trazida pelo Imperium apenas confirma a necessidade
de dominação dos povos. Fruto da visão de mundo greco-romana, o autor molda os
acontecimentos das conquistas – da Península Ibérica, por exemplo – a partir de suas
experiências, buscando sustentar e consolidar a prática imperial, inclusive quando aponta as
questões que fazem referência aos atos de resistência ao domínio. Sua geografia é de cunho
político-administrativo, escrita principalmente para a utilização dos grupos dirigentes e
destinada a dar conta do estado do mundo no início do reinado de Tiberio (sucessor de Otávio
Augusto): por um lado aberto às ligações comerciais com a longínqua Índia, por outro,
fechado pela Pax Romana83.

Ao longo do I século d. C., essa tendência discursiva permaneceu e, desse momento,


destacamos a obra de Gaio Plínio Secundo, Historia Naturalis (Plínio, o Velho). Plínio
nasceu entre os anos de 23 e 24 d. C. na cidade de Como e, diferente de Estrabão, graças à sua
condição de cavaleiro pôde percorrer diferentes províncias tornando-se espectador de muitas
realidades. O início de sua carreira está intimamente ligado à Germânia, uma vez que, depois
de uma passagem por Roma, desempenhou nessa província funções preliminares de um
cursus honorum equestre. Se Estrabão esteve intimamente ligado ao início da dinastia Julio-
Claudiana, Plínio foi atuante na dinastia dos Flávios. Seu objetivo consistia em realizar uma
investigação do mundo conhecido e dominado. Desse modo, sua pesquisa começa pelos
astros, passando pelos seres animados e termina novamente nos seres inanimados. Antes da
sua investigação, Plínio coloca um prefácio em forma de epístola e a dedica ao imperador
Tito, sendo a obra concluída em 77 d. C.

Plínio conheceu um mundo antigo que havia chegado à sua plenitude. Desde a
ampliação do conhecimento sobre o universo conhecido, da descoberta de novos pontos
geográficos e as informações etnográficas subsequentes às conquistas de Alexandre, o
Grande, aliados ao impulso dado ao ‘conhecimento’ e à técnica pela época helenística, o
espaço sociocultural romano oferecia a unidade de um âmbito comum. Logo, o contexto
histórico vivido por Plínio pode ser caracterizado como um segundo momento de
consolidação e organização das áreas conquistadas.

83
Sobre este termo, tomamos como referência os estudos de PETIT, P. A paz Romana. São Paulo: Livraria
Pioneira Editora, 1984 & MENDES, N. M. ‘O conceito de Pax Romana’. In.: ZHEBIT, A. (Org.). Ordens e
Pacis: abordagem comparativa das relações internacionais. Rio de Janeiro: MAUAD, 2008, pp. 145-158,
51

Em conjunto, as obras analisadas, paralelamente às mudanças das bases de poder


evidenciadas pela instituição do Principado, contribuíram para a modificação da percepção e
expressão do tempo histórico na ‘cultura’ romana. Este passou a ser dividido em três grandes
momentos igualmente ligados ao espaço geográfico: (1) a expansão de Roma desenvolvida
pelas guerras de defesa e conquista - cada vez mais distantes do centro e destinadas a atingir
os limites do mundo; (2) a ‘queda’ da República pelas guerras civis e (3) a retomada da
conquista com Augusto e Tibério e a retomada ofensiva de Trajano.

2.1 O território peninsular e a conquista romana

A conquista romana da Península Ibérica 84 se insere no contexto da expansão do


Imperium no Ocidente durante a Res Publica, a saber, no quartel final do III século a. C.
Neste período, em termos territoriais, o poderio de Roma já se estendia sobre toda a península
Itálica, fazendo-se presente também nas ilhas mediterrânicas de Córsega e Sardenha. O
primeiro contato dos romanos com a região da região ocorreu no ano de 218 a. C. como parte
integrante da política externa que antecedeu a II Guerra Púnica, isto é, em meio à formação de
parcerias com as comunidades nativas contra a ameaça cartaginesa85.

Com a vitória sobre Cartago, em 202 a. C., o território foi anexado e a intervenção
administrativa foi consolidada, inclusive com o envio de cônsules, desenvolvimento de
assentamentos militares e a crescente intensificação da exploração das rotas comerciais.
Estrategicamente, os romanos ocuparam o lugar dos cartagineses no controle da região,

84
Na historiografia clássica os nomes de Ibéria e Hispania são equivalentes e referem-se à Península Ibérica.
Contudo, nos textos conservados vê-se (salvo raríssimas exceções) que os romanos empregavam sempre
Hispania, e os gregos, Iberia. Nesses termos, Apiano, no século II d. C., ao descrever a respeito da riqueza das
terras peninsulares que chamava a atenção daqueles que por ela passavam, indica que: “a Ibéria esta rodeada
pelo mar, a exceção do Pirineus, os montes mais altos da Europa e, talvez, os mais abruptos de todos. Deste
entorno marítimo recorrem, em suas travessias, o mar Tirreno até as colunas de Hércules, mas não cruzam o
oceano ocidental e setentrional, exceto para atravessá-los à região dos britanos e, para isso, se ajudam as
correntes marítimas. (...) A extensão da Iberia – a qual alguns chamam Hispania, em vez de Iberia – é enorme e
incrível como para tratar-se de uma só região, posto que sua largura se evolua em dez mil estádios e sua
longitude é igual à sua largura. Habitam-na povos numerosos e de nomes variados e fluem, através dela, muitos
rios navegáveis” (Ibéria [IV], vv.1). Vide também: BLÁZQUEZ MARTINEZ, J. M. ‘El nombre de Hispania
em la Historia: los hispanos em el Império Romano’. Disponível em:
http://www.fondazionecanussio.org/palaestra/blazquez.pdf, acedido em 15 de janeiro de 2010, às 13h 25min.
85
RICHARDSON, J. S. Hispaniae: Spain and the development of Roman imperialism, 218-82 b. C.
Cambridge: Cambridge University Press, 1896.
52

conquista estas que asseguraram a Roma o controle da bacia ocidental do mar Mediterrâneo
Ocidental86.

Para os romanos, a península significava no século II a. C. o desconhecido, a fronteira


oeste da oikoumene. Diferentemente de outras regiões e povos do mar mediterrâneo com os
quais Roma entrou em contato, lá não havia poderosos reinos fortificados, como na
Macedônia, tampouco uma multidão de póleis, como na Sícilia. Somente em algumas áreas a
presença púnica havia sido relativamente transformadora a ponto de proporcionar o
desenvolvimento de importantes núcleos urbanos na margem mediterrânica87.

Em relação às demais regiões ocidentais conquistadas por Roma, a península apresenta


significativa diversidade geográfica, climática e populacional. Situada no extremo oeste da
Europa, é banhada pelo oceano atlântico e pelo mar mediterrâneo e, a nordeste, é delimitada
pelos Pirineus. Uma extensa cadeia montanhosa (que varia de cerca de 1500 a 3000 metros de
altitude) formada pelas Serra de Guadarrama, Serra de Gredos, os Montes de Toledo, Serra de
Guadalupe, Serra Morena, Serra la Sapra e a Serra de Cuenca separa as terras banhadas pelo
oceano Atlântico daquelas banhadas pelo mar mediterrâneo. Já a zona continental é
caracterizada por um amplo sistema de rios navegáveis, dos quais podemos destacar o Ebro,
que desemboca no mar mediterrâneo; o Douro, o Minho, o Tejo, o Guadiana e o
Guadalquivir, que desaguam no oceano Atlântico.

De fato, a situação geomorfológica da península fez com que a região fosse marcada
pela diversidade climática. Diante da proximidade com o Atlântico, as regiões norte e oeste
são caracterizadas pelos climas úmido e semiúmido. Já nas regiões banhadas pelo
Mediterrâneo, a variação climática oscila entre os climas semiúmido e semiárido. Em relação
a isto, Plínio - o velho ressalta a diversidade de produtos nas terras da Hispânia, a saber:

86
LE ROUX, P. La péninsule ibérique aux époques romaines: fin Du III ª S. AV. N. È. – début Du VIe S.
De N. È. Paris: Armand Colin, 2010, pp. 19-47; HURLET, F. Rome et l’Occident (IIe siècle av. J.-C. – Iie
siècle apr. J.-C.): gouverner l’Empire. Rennes: Presses Universitaires de Rennes, 2009.
87
GRACIA ALONSO, F. ‘Colonización y comercio púnico em la península Ibérica’. In.: GRACIA ALONSO,
F. (Coord.) De Iberia a Hispania. Barcelona: Ariel, 2008, pp. 845-898; CUNLIFFE, B. ‘Diversity in the
Landscape: the geographical background to urbanism in Iberia’. In.: CUNLIFFE, B. & KEAY, S. (Orgs.) Social
complexity and the development of tows in Iberia. Oxford: British Academy, 1995, pp. 11-12; ARRUDA, A.
M. ‘Fenícios e Púnicos em Portugal: problemas e perspectivas’. In.: Cuadernos de arqueología mediterránea,
Nº 18, 2008 (Ejemplar dedicado a: Nuevas perspectivas II: la arqueología fenicia y púnica en la península
ibérica), págs. 13-24.
53

“[...] há lãs de variadas colorações de tal modo que, de tantos tipos que existem,
faltam os nomes para as que chamam naturais. As melhores lãs de velo negro
produzem-las a Hispânia; Polência, junto aos Alpes, as de velo branco; a Ásia as do
avermelhado a que chamam eritreias, e a Bética também; Canúsio as de fulvo e
Tarento as do seu pardo característico. As gorduras que todas elas produzem tem
propriedades medicinais. As da Hístria e da Libúrnia são mais pelo do que lã,
impróprias para vestuário paliçado, e o mesmo acontece com as que Salácia, na
Lusitânia, recomenda para tecidos axadrezados” (VIII: 191.)

“A cochinilha88 da Galácia, um grão escarlate, como diremos quando tratarmos dos


produtos terrestres, ou a das proximidades de Emerita, na Lusitânia, é a mais
apreciada” (IX: 141).

“Há também azeitonas muito doces que secam por si, mais doces que uvas passas;
são bastante raras e produzem-se na África e próximo de Emerita, na Lusitânia”
(XV: 17).

A caracterização física da região é complementada pela presença de inúmeras reservas


de minérios economicamente importantes, tais como ferro, cobre, prata, estanho e ouro,
precisamente localizados na cadeia montanhosa supracitada (que se estende até o sudeste
peninsular), como destacados em outro momento da narrativa pliniana:

“[t]oda a Hispania abunda em jazidas de chumbo, ferro, cobre, prata e ouro”


(L. III, v. 30)

“(...) a região referida a partir dos Pirineus é rica em ouro, prata, ferro,
chumbo e estanho (...)” (L. IV, v112)

“(...) Não falando do que na Índia é extraído pelas formigas ou pelos grifos
da região dos Citas, o ouro no nosso planeta explora-se de três formas: em
pepitas, nos rios, tal como no Tejo da Hispânia, no Pó da Itália, no Hebro da
Trácia, no Páctolo da Ásia e no Ganges da Índia – e não há outro mais terso
porque é purificado pelo atrito da própria corrente. O outro processo é
explorá-lo cavando poços ou então desfazendo os montes”. (L. XXXIII: 66)

Barry Cunliffe 89 aponta que desde a Idade do Ferro estes fatores geomorfológicos
agiram de forma integrada e proporcionaram o desenvolvimento de distintas culturas
espalhadas por toda a península. Como demonstram as pesquisas arqueológicas, é possível
identificar a exploração destas reservas desde a idade do bronze, principalmente aquelas
localizadas na região de Serra Morena, no vale do Guadalquivir.

88
Inseto do qual se extrai o carmim.
89
CUNLIFFE, B. ‘Diversity in the Landscape: the geographical background to urbanism in Iberia’. In.:
CUNLIFFE, B. & KEAY, S. (Orgs.) Social complexity and the development of tows in Iberia. Oxford:
British Academy, 1995, pp. 11-12.
54

As pesquisas arqueológicas desenvolvidas nos sítios espanhóis e portugueses apontam


que o desenvolvimento das sociedades locais estava imbricado com a inserção da região em
um triplo sistema cultural: o mediterrânico, o atlântico e o continental, que conjuntamente
90
formaram núcleos de povoamento e importantes corredores de comunicação . O
povoamento da região remonta à pré-história, estando aberto às correntes de povoamento que
ora chegavam da África, através do estreito de Gibraltar; ora através do Pirineus. Assim como
também, possivelmente advindos do lado oeste e pelo norte, desembarcando nas costas
atlânticas e em outras áreas, advindas do Mediterrâneo oriental, penetrando pela região do
Levante.

Cunliffe 91 ressalta que, no período formativo, entre os anos 1000 e 600 a. C., a
trajetória social da península foi marcada por transformações sociais motivadas por fatores
internos e externos. Como fatores internos o autor destaca o crescimento populacional e
mudanças tecnológicas como os elementos que possibilitaram o desenvolvimento das
populações locais. Aliando-se a isso estariam os movimentos de colonização ou invasões de
grupos advindos do leste do Mediterrâneo.

Dentre essas interações, a mais antiga e, em muitos aspectos, mais claramente definida
pela arqueologia, consiste na presença fenícia e no desenvolvimento do comércio de metal,
realizado entre as comunidades da Andaluzia ocidental. Pode-se destacar que, pelo menos
desde o século XII a. C., os navios do leste do Mediterrâneo já exploravam estas regiões.
Outra etapa deste processo teria ocorrido entre os séculos VIII e VII a. C., com a
materialização da presença fenícia através do estabelecimento de colônias e da fundação de
portos permanentes, como Cádiz, por exemplo, ao longo da costa sul da península, próximo
do vale do rio Guadalquivir. A implantação desses outros tipos de organização espacial
introduziu uma nova dimensão aos assentamentos indígenas da região, dando um estímulo
maior às trocas econômicas, além do desenvolvimento da agricultura e pecuária92.

Ao longo dos séculos subsequentes, esse movimento orientalizante foi intensificado


com o estabelecimento de novas colônias gregas e cartaginesas – nas margens mediterrânicas
e atlânticas próximas ao Estreito de Gibraltar, e pelas imigrações de grupos célticos – nos

90
Aqui a obra de Montenegro Duque, Historia de España – España Preromana, editado pela Gredos, em
1972, é um importante manual de análise.
91
CUNLIFFE, B. op cit, 1995, pp. 15-16.
92
CUNLIFFE, B. op.cit, 1995, 17-18.
55

Pirineus. Desse modo, no século III a. C., a chegada dos romanos à península caracterizava,
afinal, um novo mosaico populacional formado por etnias paleohispanicas93 e indoeuropéias.

Como demonstrado no mapa a seguir, na região sudoeste da península, área de nossa


investigação, observa-se a presença de diversos populi, com destaque para os Túrdulos,
Lusitanos, Vetões e Celtas. Na análise das formas de assentamento e das práticas culturais
desses grupos, Jorge de Alarcão 94 propôs a identificação de duas grandes áreas: uma área
céltico-túrdula e outra calaico-lusitana, sobre as quais nos dedicaremos agora.

Mapa 3 - Localização dos povos ‘pré-romanos’ na península Ibérica95

93
Vide o texto de Luciano Pérez Vilatela, ‘De la lusitania independente a la creación de la Provincia’, In. (Orgs)
GORGES, J.-G. Y BASARRATE, T. N. Sociedad y cultura em Lusitania Romana. Mérida: Casa de
Velázquez, 2000.
94
ALARCÃO, J. (Coord.) Nova história de Portugal: Portugal das origens à Romanização. Lisboa:
Editorial Presença, 1990, p. 353.
95
Desenvolvido por Luis Fraga, disponível no endereço: http://www.arkeotavira.com/didatico/, acessado em 26
de março de 2015, às 15h13min.
56

2.1.a. A área céltico-túrtula

Durante o início da idade do ferro o território céltico-túrdulo estava inserido no mundo


Tartéssico 96 , centralizado na região da Andaluzia Ocidental, entre Huelva e o baixo
Guadalquivir. Os seus principais núcleos urbanos foram: Onoba (Huelva), Sevilha, Málaga,
Almeria, Granada e principalmente Cádiz, que representou o núcleo central para o acesso ao
Reino de Tártessos e para o controle do Estreito de Gibraltar. Marcada por traços
característicos do oriente, a cultura tartéssica dispunha de uma importante infraestrutura
econômica baseada na riqueza mineral e no desenvolvimento da agricultura e pecuária. Tais
atividades incentivaram a penetração para o interior do território, concretizada mais tarde pela criação
da Via da Prata 97 , já sob a administração romana. A ampla área costeira ocupada dispunha de
excelentes condições navegáveis, o que facilitou a exploração dos recursos econômicos e as ações
comerciais com o norte da África e com o Mediterrâneo Oriental (fenícios, gregos e focenses).

A interação com o mundo Oriental, principalmente com os fenícios, é testemunhada


pelas estelas epigráficas em escrita tartéssica encontradas em duas necrópoles de incineração
na região de Ourique. O uso da escrita também é documentado pelos grafitos cerâmicos e que
possivelmente também foram utilizados em documentos mercantis ou de caráter econômico,
como, por exemplo, inventários98.
De acordo com o testemunho arqueológico havia uma diversidade de tipos de
assentamentos populacionais: povoados fortificados – oppidum, castelos99 e pequenos núcleos
habitacionais abertos situados em locais sem condições naturais de defesa, como, por
exemplo, nas regiões próximas aos rios Tejo, Sado e Guadiana 100 . Estes assentamentos
estariam ligados à abertura de rotas comerciais, à exploração mineira (cobre e ferro) e às
atividades agropastoril e piscícola, cuja produção estava, possivelmente, voltada para o
abastecimento local.

96
No depósito da ria de Huelva, os contatos com fenícios e gregos, intensificados a partir do início do primeiro
milênio, na área do Sudeste peninsular, tornaram possível o desenvolvimento desta cultura, a qual pode ser
considerada como resultante da interação da população local com os povos mediterrâneos.
97
A análise das vias de comunicação que entrecortavam os territórios da província da Lusitânia e estabeleciam a
comunicação desta com as demais regiões da península (a saber, províncias da Bética e Tarraconense no período
Augustano), será realizada no capítulo III.
98
SILVA, A. ‘Portuguese Castros: the evolution of the habitat and the proto-urbanization process’. In.:
CUNLIFFE, B & KEAY, S. (Orgs.) Social complexity and development of tows in Iberia. Oxford: British
Academy, 1995, p. 281.
99
Pequenos povoados que dependiam dos oppida (ou no plural, oppidum), povoados fortificados maiores
centralizados em torno da autoridade de chefes guerreiros.
100
SILVA, A. C. F. op. cit. 1995, p. 272.
57

De acordo com Armando Coelho Ferreira da Silva 101 , a interação destes núcleos
populacionais com os povos do mediterrâneo oriental também é comprovada pelos achados de
objetos de cerâmica feita ao torno, de engobe vermelho, cinzenta fina, policroma de bandas e
ânforas de tipo fenício que formam um conjunto datado da segunda metade dos séculos VII e
VI a. C., encontrados pelas escavações recentes na foz do Rio Tejo e no Castelo de Alcácer.
Durante o século VI a. C. a arqueologia registra o deslocamento das tribos celtas da
região da Meseta e o início do controle comercial de Cartago, nas regiões do Mediterrâneo
Ocidental, após a vitória na Batalha de Alalia, em 535 a. C. 102 . Esta conjuntura, também
marcada pela crise da expansão colonial focense durante o século VI, significou o gradual
desaparecimento do Reino de Tartéssos e o deslocamento ou migração interna do grupo étnico
herdeiros do reino tartéssico, denominado de túrdulos ou turdetanos, para a região do atual
Algarve.
Os celtas e túrdulos encontraram na região sul do Alentejo e do Algarve uma
população indígena de origem local, denominada de Cónios, cujo centro era Conistorgis,
possivelmente às margens do rio Guadiana. Nesta região, a arqueologia registra o
desenvolvimento dos núcleos pré-urbanos em áreas estratégicas para a exploração econômica,
tais como a Bacia do Guadiana, a Foz do Rio Sado e a área do litoral.

2.1.b A área calaico-lusitana

Era uma região habitada por vários populi 103 , tais como os: Igaeditani, Tapori,
Coilarni, Lancienses, Meidubrigenses, Aravi, Arabrigenses. Os romanos integraram todos
estes povos numa unidade geopolítica, chamada de lusitani104, onde também devemos incluir
os Callaeci, povos da atual região de Trás-dos-Montes e Alto Douro. Tratam-se das regiões do
Noroeste, que correspondem aos atuais territórios portugueses de Trás-dos Montes, do Alto
Douro e das Beiras. São caracterizados pelos denominados castros, povoados fortificados
existentes desde o final da idade do bronze que conservaram as características celtas.
De modo geral, os castros representaram um modelo de pequenos assentamentos

101
SILVA, A. C. F. op. cti. 1990, p. 273.
102
A cidade de Alalia, situada na Córsega, ocupava uma posição crucial na rede focense de comércio com as
regiões do litoral Ocidental do Mar Mediterrâneo. A vitória da coligação formada por cartagineses e etruscos
resultou na desestabilização dessa rede, favorecendo a cidade de Cartago. Vide HODGE, A.T. Ancient Greek
France. Philadelphia: University of Pennsylvania Press, 1998, pp. 95, 141.
103
Como indica Ernesto Farias (1950), a palavra é masculina, derivada de populus.
104
Se seguirmos a narrativa de Estrabão, podemos dizer que estes povos possivelmente foram tutelados pelos
lusitanos, mas ‘lusitanos’ é um nome genérico para designar o conjunto de tribos da região da Beira interior.
58

fortificados, situados no topo de elevações de altitude média, em locais que ofereciam


situações defensivas privilegiadas, sendo menos frequentes à beira dos cursos d’água,
próximo aos vales férteis. O tipo de cultura que deu origem a este sistema de assentamento foi
característico na Europa Central durante a idade do ferro. O castro era uma unidade social,
consideravelmente fechada, formada pela estrutura de famílias extensivas, característica da
tradição gentilícia indo-europeia. A agricultura de subsistência era exercida nas encostas das
montanhas, tendo a pecuária como atividade econômica principal. As atividades econômicas
eram baseadas no modelo de economia que denominaremos de “autossuficiente105”. Podemos
observar que a sociedade castreja era formada por agricultores, pastores e artesãos.
Durante a idade do bronze os castros fortificados coexistiam com outros abertos, que
eram especializados nas atividades agrícolas e de mineração, enquanto a produção de
mercadorias de metal era restrita aos castros fortificados. A documentação de cultura material
destes assentamentos registra dois momentos de transformações: O primeiro em decorrência
da imigração dos túrdulos e celtas provenientes do Alentejo e outro, a partir do século II a. C.,
diante do contato com os romanos. Sob o domínio romano, os castros adquiriram
gradualmente estruturas mais urbanizadas.

Em 197 a. C., a Hispania foi subdividida em duas províncias: a Hispania Citerior e


Hispania Ulterior. O estabelecimento destas províncias possibilitou a transformação das
novas áreas da região em semiperiferias e periferias. Portanto, estes 'novos' espaços estavam
submetidos à vontade política dos magistrados, abertos, portanto, para a exploração
econômica e constituindo-se em reservas de conquista. De acordo com o processo histórico,
as novas áreas foram da mesma forma inseridas na dinâmica imperialista romana, e
paulatinamente atuaram com um dos 'espaços' dos conflitos políticos que marcaram o final do
período republicano106.

No sudoeste peninsular, a presença romana foi evidenciada pelo desenvolvimento de


assentamentos militares próximos a caminhos já existentes nos séculos IV e II a. C. – não
eram cidades propriamente ditas, e sim postos avançados que visavam o controle e guarda do
território. O contato com a cultura romana pode ser visto também pela descoberta de
cerâmicas de verniz escuro, datadas no século II a. C., encontradas nos sítios de La Coraja,
Villasviejas de Botija e Los Castilleros. Estas peças servem como indicativo do inicio de um

105
Vide QUEIROGA, F.M.V.R. War and Castros. New approaches to the northwestern Portuguese Iron
Age. Oxford: Publishers of British Archaeological Reports Gordon House, 2003.
106
Assim, participaram das guerras civis, marcadamente nos conflitos entre Sertório, Metelo e Pompeu (80-72 a.
C.) e dos conflitos entre César e Pompeu (Batalha de Munda em 45 a. C.).
59

processo de transformação da estrutura do povoamento que vai culminar no aparecimento das


primeiras cidades. A estas correspondem vários núcleos consideráveis, tais como: Los
Castillejos107, Villasviejas de Tamuja em Botija108 e La coraja em Aldeacentenera109.

As lutas civis que marcaram o final da República atingiram a região com a chegada do
proconsul Q. Caecilius Merellus Pius, que veio combater Quinto Sertorio na Hispania.
Visando um melhor controle da região, o proconsul fundou assentamentos como Metellinum
(80-79 a. C., que mais tarde ascendeu ao status de colônia) seguindo o curso do rio Anas e em
uma importante estrada que une as regiões meridional e oriental da Hispania com a Beira e
Castra Caecilia, próxima a Cáceres. Esta política teve continuidade em César, que fundou
Norba Caesarina entre os anos de 36-34 a. C., e outros núcleos, tratando-se de fundações que
seguem o estilo da época republicana: veteranos e auxiliares com cidadania romana que
formam a guarnição permanente de centros alojados em importantes vias terrestres e fluviais
que, gradativamente, estabelecem contatos com as populações locais110.
O contato dos romanos com as atuais áreas do Alentejo e do Algarve registra-se a
partir de fins do século II a. C., no âmbito do domínio da Hispania Ulterior111. Uma das
hipóteses aceitas indica que a consolidação da conquista da região, e sua subsequente inclusão
na estrutura provincial em desenvolvimento, foi viabilizada mais pela manutenção da tradição
comercial dos núcleos pré-urbanos nativos existentes e pela celebração de acordos do que
através de guerras. No entanto, na área calaico-lusitana, o contato e o avanço do domínio
tiveram um caráter belicoso e foi marcado por profundas transformações na cultura castreja.
Durante este período a arqueologia registra uma multiplicação do número de transformações
na estrutura dos assentamentos, que adquirem a conotação de amplos centros habitacionais,
apresentando delimitação de atividades econômicas, políticas, defensivas e religiosas. Estes
novos castros, possivelmente, surgiram em decorrência do crescimento demográfico ou do
107
ESTABAN ORTEGA, J.; SANCHEZ ABAL, J. L. & FERNANDEZ CORRALES, J. M ª ‘Las necropolis del
castro del Castillejos de la Orden’, Alcántara- Cáceres, Cáceres, 1988.
108
HERNÁNDEZ HERNÁNDEZ, F; RODRÍGUEZ LÓPEZ, Mª D.; SÁNCHEZ SANCHEZ, M. A.
‘Excavaciones em el castro de Villasviejas (Cáceres)’. In.: Extremadura arqueológica II – Mérida/Cáceres,
1991.
109
REDONDO RODRÍGUEZ, J. A. ; ESTEBAN ORTEGA, J. E SALAS MARTÍN, J. & SANCHEZ ABAL, J.
L. Memórias quinquenales sobre los castros y la necrópolis de la Coraja (Aldeacentenera – Cáceres). Consejeria
de educación y cultura de la Junta de Extremadura,1991.
110
SAQUETE-CHAMIZO, J. C. ‘Territorios y gentes en el contexto histórico de la fundación de la colônia de
Augusta Emerita’. In.: NOGALES BASARRATE, T. (Org.) Augusta Emerita: Territorios, Espacios,
Imágenes y Gentes en Lusitania Romana. Mérida: MNAR, 2004, pp. 375-412.
111
BERNARDES, J. P. ‘Ab Oppidum ad Urbem: Algarve’s urban landscape variations throughout the roman
age’. In.:CORSI, C. & VERMEULEN, F. Changing Landscapes: the impact of Roman towns in the Western
Mediterranean - Proceedings of the International Colloquium, Castelo de Vide, Marvão, 15th-17th May, 2008.
Bologna: Ante Quem, 2010.
60

deslocamento de unidades menores para locais mais estratégicos que ofereciam melhores
condições defensivas de comunicação e recursos econômicos.
Neste aspecto, deve ser mencionado o aparecimento dos “castros agrícolas”, voltados
para o desenvolvimento da agricultura nos vales e de outros mais especializados na
exploração dos minerais. A pecuária (porco, cabra, cavalo) continuou sendo uma importante
atividade econômica, juntamente com a atividade mineral e metalúrgica (utensílios, armas,
objetos de adorno em bronze e ferro e a ourivesaria).
Já na Idade do Bronze a existência de recintos fortificados apontaria para a
importância social da guerra. Inicia-se a formação de um grupo de guerreiros voltados para a
necessidade de obtenção de riqueza, prestígio e status. Houve reforço na valorização e no
posicionamento desses indivíduos na hierarquia social do grupo. O limite da identidade e da
obrigação social destes chefes guerreiros não extrapolaria o grupo e estava mais ligada aos
objetivos imediatos da guerra do que a uma solidariedade política, a qual pudesse consolidar a
identidade do líder. Possivelmente, a importância destes líderes e a tendência à centralização
de poder foram impulsionadas em decorrência da chegada e da interação com outros povos,
favorecendo a construção dos castros enquanto estruturas defensivas.
Tal interpretação é corroborada com a ideia de que as campanhas contra as tribos das
montanhas, lideradas por Viriato, empreendidas pelos romanos durante o período de 147 a
140 a. C., e por Décimo Junior Brutus em 138 a. C., favoreceram a tendência já existente de
transformação da organização sociopolítica destes povoados para formas mais centralizadas
de exercício do poder político, a formação de chefias. Nesses termos, a formação de
sociedades de chefias foi estimulada pelo exercício de relações de poder baseadas no caráter
patronal, própria da cultura política romana. Em se tratando da prática das relações de poder
uma vez aplicado à política externa romana, possibilitou a formação de parcerias através da
formação de uma rede de trocas e alianças políticas entre romanos e líderes tribais. Esta
prática é testemunhada pelas guerras contra os lusitanos. Viriato, pela fidelidade e devoção
dos guerreiros, uniu várias tribos da região da Hispania Meridional, formando uma
organização sociopolítica complexa.
Com base na documentação textual112 podemos dizer que Viriato teve seu prestígio
consolidado ao receber o título de amicus populi Romani e o reconhecimento do seu poder
sobre as terras que dominava. Igualmente a outros líderes provinciais, Viriato se transformara
num aliado de Roma. No entanto, teve de enfrentar os aristocratas locais pró-romanos,

112
Diodoro, L. 33,7,1 e Apiano, L. VI.
61

responsáveis pelo seu assassinato, em 139 a. C. Após Viriato, a capacidade de resistência


armada dos Lusitanos foi bastante reduzida, sendo apenas estimulada pela atuação de Quinto
Sertório113 na Península Ibérica e finalmente debelada por Júlio César em 60 a. C.

A prática de lealdade e fidelidade dos guerreiros ibéricos favoreceu a necessidade de


extração de recursos materiais e de recrutamento de tropas nativas por Sertório, Júlio César e
Pompeu. Nessa conjuntura, a inserção de guerreiros nativos no contexto das guerras civis do
final do período republicano foi de suma importância para uma maior ligação militar e
cultural entre romanos e nativos, tornando-se aspecto importante para efetivar a conquista da
região114.

Diante dessas questões, compreende-se que o contato com os romanos acelerou as


mudanças internas da cultura dos castros, correspondendo a uma tendência também registrada
na Britânia e na Gália. Logo, o Nordeste peninsular ibérico não era uma finisterra, pois estava
inserido no chamado sistema mundial europeu115. Em várias regiões do Noroeste peninsular
os diálogos culturais entre a visão de mundo romana e as culturas locais não foram uniformes
em termos temporais e nem no nível das mudanças culturais.

2.2 A formação da província da Lusitânia e a reorganização do território por Augusto

Numa abordagem tradicional, o Principado fora compreendido como um sistema


político inaugurado por Augusto, o princeps, que agrupou em torno de si um poder que se
propunha ilimitado. Ao deter a tribunicia potestate, o governante podia tomar qualquer

113
De acordo com os relatos de Plutarco (Vidas Paralelas, ‘Vida de Sertório’, vol. III), Quinto Sertório foi um
general romano que participou ativamente nos desdobramentos políticos do último século da Republica. Ativo
personagem nas chamadas ‘Guerras Civis’, decorrentes dos embates entre Caio Mario e Cornelio Sila, também
foi governador da província da Hispania e liderou a chamada ‘Revolta de Sertório’. Transcorrida durante os
conflitos entre marianos e silanos, teve seu estopim em 82 a. C, quando Sertório se dirigiu para as Hispanias,
estendendo-se até 72 a. C., quando da morte do mesmo. Em síntese, quando a cidade de Roma foi dada como
perdida pela facção popular em meio às guerras civis da década de 80-70 a. C., o partidário de Mário, Quinto
Sertório, iniciou um movimento de resistência ao governo senatorial e, por conseguinte, conservador. A
Península Ibérica fora escolhida pelos marianos por ter sido governada por Caio Mario, dentre outros fatores.
Para uma análise aprofundada do tema, ver a dissertação de Vanessa Vieira de Lima “A revolta de Sertório e a
crise republicana do século I a. C.: uma visão das práticas de dominação imperialista romana nas
Hispânias”, defendida no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal Fluminense em
2010.
114
Sobre essa questão, vide o artigo publicado por Mendes, N. M. ‘O impacto romano sobre a comunidade
nativa da Lusitânia.’ Publicada nas atas do III simpósio Nacional e II Internacional de Estudos Celtas e
Germânicos: “Saber e Poder entre Celtas e Germânicos: formação, representação e transformação”. São
João Del Rei/ MG: UFSJ/ BRATHAIR, 2008, pp. 61-85.
115
QUEIROGA, W. op. ci. 2003, p. 100.
62

iniciativa legislativa para ‘proteger o povo romano’. Enquanto imperium proconsulare maius,
governava as províncias senatoriais em conjunto com os magistrados nomeados pelo Senado,
além de conduzir pessoalmente o governo das províncias imperiais através da nomeação
direta de seus legados; e exercia o comando supremo do exército. Soma-se a isso sua
preeminência na condução da tradição religiosa e como protetor dos mores, os costumes
ancestrais, como pontifex maximus 116 . Contudo, seu poder não era baseado somente na
legalidade das magistraturas exercidas e na riqueza que o patrimonium Augusti (seus bens
privados e os oriundos de sua função pública) lhe proporcionavam. Autores como Tito Lívio e
Virgílio contribuíram para a construção da ideia de que seu poder emanava de sua alta
dignitas, de sua suprema auctorictas pessoal, presente no ideal das antigas virtudes romanas
efetivadas pela virtus, clementia, iustitia e pietas encarnadas por ele.

Repensando essa leitura, entendemos que o Principado augustano consistiu em um


sistema político formulado ao longo de um processo lento e gradual, no qual preconizou o
fortalecimento pessoal da figura do princeps 117 , Augusto, em detrimento dos mecanismos
políticos caros ao sistema republicano de governo. Esta concepção não lida com a ideia de
ruptura abrupta entre os dois sistemas, uma vez que a República romana estava baseada em
conceitos e princípios que poderiam ser alterados conforme as necessidades dos novos
tempos. Não se trata, portanto, de rígidas normas legais de constituição, mas de um fluído
balanço social entre Senado, Povo e magistrados118.

A tensão provocada pelos novos contextos oriundos das conquistas contribuiu de


forma significativa para a transformação do sistema político que agregava a sociedade
romana. Na análise desse período, Geza Alföldy119 destaca que, em harmonia com a natureza
dos conflitos dos últimos tempos da Republica e com o tipo de transformação que afetou a
sociedade romana desde o tempo dos Gracos até a implantação do Império por Otávio
Augusto, não houve uma alteração radical do sistema social. Nesse panorama, as bases
econômicas da organização social permaneciam assentadas na produção agrícola, muito

116
GRIMAL, P. ‘O século de Augusto’. In.: O Império Romano. Lisboa: Edições 70, 1999; ZANKER, P.
Augusto y el poder de las imágenes. Madrid:Alianza Forma, 2008.
117
Durante a República, o princeps é o primeiro cidadão a falar durante as sessões do Senado, aquele que tem a
superioridade para amenizar as diferentes posições políticas. Além da esfera senatorial, o princeps deveria ser
capaz de manter boas relações com outras camadas sociais, dentre elas, o exército e o próprio povo. Para tanto,
ele deveria possuir sólidas bases políticas, morais e culturais, um modelo a ser seguido por seus concidadãos.
118
ECK, W. The age of Augustus. Malden: Blackell Publishing, 2007; EDER, W. “Augustus and the power of
tradition”. In.: The Cambridge Companion to the Age of Augustus. Austin: Cambridge University Press,
2007, p. 15.
119
Op. cit., 1989, pp. 110-171
63

embora esta não resguardasse um lugar exclusivo na economia imperial: a agricultura


constituiu-se em uma parte de todo um sistema econômico que também contava com uma
produção de mercadorias muito desenvolvida, além de conjugar uma fértil atividade
comercial para longas distâncias, uma rede financeira e a exploração mineira.

Nessa fase de transição, para não afrontar os valores tradicionais do sistema


republicano, o poder crescente do governante foi representado por símbolos e dispositivos de
retórica política que tinham como objetivo maior preservar os costumes tradicionais, mos
maiorum. Nesses termos, a autoridade concentrada em Otávio Augusto, passou a ser
justificada em função de suas conquistas entendidas como ‘benéficas’ para a manutenção da
res publica enquanto ideal, não mais como forma de governo.

Ao construir uma nova identidade política e temporal, Otávio Augusto conquistou a


legitimidade necessária para comandar as questões relativas à organização espacial. A
conquista do espaço e as delimitações do mundo conhecido foram apresentadas como
intimamente ligadas ao novo tempo, criado e garantido pelo governante. Neste, Roma,
ultrapassado o caos das guerras civis e pela vontade divina, encontrava-se pronta para cumprir
o seu destino: organizar e dominar o mundo conhecido.

Deste modo, no tocante à questão espacial, o estabelecimento do Principado por


Otávio Augusto representou o momento de criação de uma política sistemática de organização
das regiões, empreendendo a ampliação e intensificação da organização das áreas
conquistadas iniciada durante a República através de estratégias de integração e de
ordenamento do espaço. A nova identidade política e temporal propiciada pelo Principado
envolvia uma identificação espacial, caracterizada pela necessidade política de afirmar a
submissão do mundo, organizar o território do Imperium, e programar a exploração
sistemática das regiões conquistadas de acordo com os valores identitários da sociedade
romana e sua concepção de mundo. Para tanto, a organização provincial e a estratégia das
cidades (estabelecendo novas fundações ou retrabalhando núcleos urbanos prévios)
configuraram-se em importantes recursos para essa reorganização.

Uma parte importante destas ações, promovida entre os anos 27 a. C. e 14 d. C.,


consistiu no estabelecimento do perímetro fronteiriço do Império Romano que passava a
incluir na costa atlântica as Hispanias, a Aquitania, Lugdunensis e Belgica. Ao norte/
nordeste da Itália, Raetia, Noricum, Pannonia, Dalmatia; a Leste, Moseia, Macedonia,
Archaia, Asia, Bithynia et Pontus, Galatia, Syria e Judea. Ao sul/sudeste da Península Itálica,
64

Africa Proconsularis, Cyrene e Aegyptus. Cabe ressaltar que a ideia de fronteira (limes) no
mundo romano não deve ser entendida em termos lineares e estaques, mas como uma franja
de território, um local de união e integração entre aqueles que eram culturalmente diferentes.
O limes era considerado como um caminho de passagem das tropas e suprimentos para os
exércitos, uma via de comunicação e bases de conquistas e não meramente como uma
delimitação da ação militar120.

Como demonstrado no mapa a seguir, no trato com as províncias, a nova política


inaugurada por Otávio Augusto atuou de forma contundente, fazendo nascer uma divisão
provincial de dupla tipologia: as províncias senatoriais e as imperiais. As províncias
senatoriais (ou do povo romano) eram governadas segundo a tradição republicana, isto é,
tendo a frente um pro-consul (de ordem pretoria ou consular), com um quaestor e vários
legati (o número variava de acordo com a província) cuja designação era anual e feita por
sorteio. Ainda que, teoricamente, estas províncias seguissem dependendo do Senado e os
impostos arrecadados fossem para o tesouro de Saturno, de fato, o Imperador poderia intervir
nelas quando considerasse conveniente.

Mapa 4 - A expansão romana no Principado de Otávio Augusto121

120
MENDES, N. ‘Limes Reno-Danubiano: conceito e prática no alto Império’. In: Revista PHOINÎX. Rio de
Janeiro: Sette Letras, 1997, p. 323.
121
WATTEL, O. Petit atlas historique de I’Antiquité. Paris: Armand Colin, 1998, p. 61.
65

Em outro formato, estavam as províncias imperiais, administradas por ‘delegados’ do


Imperador, com o título de legati Augusti pro praetore, igualmente de ordem consular e
pretoria. Nelas, não havia questores, mas sim procuradores e, em algumas, legados, como por
exemplo na Hispania Tarraconense, que se ocupava do território de Asturia e Callaecia
(entre os governos de Adriano e os Severos). Em todos os casos, a nomeação era realizada
pelo Imperador, que poderia mantê-los no posto pelo tempo que fosse necessário, muito
embora habitualmente os governadores permanecessem por apenas três anos. Além disso,
algumas províncias eram nomeadas pelo imperador a procuradores equestres, e não a
senadores, que como careciam de imperium, tendo sob seu mando unicamente tropas
auxiliares. Em um primeiro momento, receberam o título de praefectus e se encontravam sob
a supervisão do governador senatorial de alguma província limítrofe.

Nas províncias ocidentais, como ressalta Walter Trillmich122, o ideal da pax romana
constituiu-se na base ideológica para a reorganização das áreas conquistadas. Em se tratando
da organização dos territórios, o conceito se converteu tanto na introdução de uma ampla e
complexa estrutura jurídica e administrativa quanto no trabalho construtivo representado pela
prática da fundação de cidades ou na reapropriação de núcleos urbanos prévios – que no
Ocidente representou uma parte importante no desenvolvimento dos processos de
transformações econômicas, sociopolíticas e culturais.

Nesses termos, a administração do Imperium foi centralizada para atender às


necessidades regionais. Na escala provincial, os principais promotores da divulgação do modo
de vida romano foram os grupos de elites que se aproximavam da administração imperial
através da prática da benemerência, isto é, pelo financiamento de obras publicas com recursos
privados. Ressaltamos que a dinâmica da experiência imperialista romana foi baseada na
existência de uma orientação econômica de interdependência das áreas conquistadas e em
relações de poder fundamentadas na posição ativa do nativo/cidadão através da prática de
cooptação das elites locais e de experiências relacionais que permitiram a diversidade.

Ao deparar-se com culturas tão distintas, agrupadas sob a égide de seu domínio, a
cultura romana desenvolveu estratégias que buscavam conhecer e consolidar o domínio de
modo não coercitivo, mas que garantisse a dominação dos territórios e suas gentes. A
ordenação do território conquistado, criando ou mantendo a cidade, constituiu-se em uma

122
TRILLMICH, W. ‘Las ciudades hisponoromanas: reflejos de la metrópoli’. In.: Hispania el legado de
Roma, septiembre-noviembre de 1998. Zaragoza: Ministério de Educación y cultura, 1998, pp. 163-174.
1998, pp. 163-164.
66

eficaz forma de manter a unidade de territórios distintos e assegurar o domínio. Nesse sentido,
no período do Principado, o ideal da civitas enquanto espaço formulado de/para as relações
sociais foi resignificado, ampliado e exportado para além da península Itálica, servindo como
um meio de consolidação das áreas123.

Na concepção de mundo romano-republicana, a cidade era interpretada como um elo


intermediário entre o Estado e a família124. A civitas reunia os fundamentos da educação, da
moral, da administração, da vida jurídica e da política no mundo. Nessa perspectiva, como
indica Salústio125, os romanos se consideravam civilizados porque pertenciam a uma cidade e,
assim, distinguiam-se dos selvagens/ bárbaros. Isto é, era à cidade, enquanto forma básica de
vida coletiva, que os romanos deviam a sua existência, sua grandeza, suas prerrogativas
jurídicas e políticas. Ela era o espaço fundamental para o exercício da humanitas. Portanto, no
bojo dos processos de consolidação das conquistas, a fundação ou transformação de um
aglomerado nativo em uma cidade seguindo a estrutura ‘romana’ constituía um ato capital do
ponto de vista político-administrativo, contribuindo ativamente na transformação da dinâmica
urbana e nos modos de vida.

Conceitualmente, a Civitas (Roma) e o ideal da Res publica eram concepções


interligadas. Na concepção dos antigos, essa visão se revela na compreensão da cidade como
uma abstração e como uma comunidade de interesses. Segundo este ideal, a igualdade perante
a lei era o fundamento e o objetivo da cidade enquanto uma forma de associação 126. Temos
aqui dois princípios fundamentais: (1) a cidade enquanto comunidade de direito, uma
associação política; e (2) como um espaço representacional dos valores da visão de uma
mundo127. Assim, não se constituía apenas em um conjunto de cidadãos ou nos atributos da
cidadania, mas compreendia também um conjunto complexo de representações no interior do
qual era possível manifestar os valores do cidadão e suas aspirações, representado pela noção
de civitas.

A expressão civitas era compreendida como o estatuto sócio-jurídico de uma


comunidade assentada num espaço urbano (URBS) e rural (AGER), na qual era independente
123
PERKINS, P & NEVETT, L. ‘Urbanism and urnbanization in the Roman world’. In.: HUSKINGSON, J.
(Edt.) Experiencing Rome: culture, identity and power in the roman empire. London: Routledge, 2000, pp.
213-244; KOLB, F. ‘La ciudad en el mundo romano’. In.: La ciudad en la antigüedad . Madrid: Gredos, 1992.
124
Cícero, De Officiis, 1,7.
125
Salústio, Conj.Cat.,6.
126 Nesse sentido, no século II a. C., o ideal da cidade antiga anteriormente delineado por Platão e Aristóteles
foi retomado e aplicado em Roma por Cícero.
127
GEERTZ, C. A interpretação das Culturas. Rio de Janeiro: LTC, 1989.
67

e soberana em relação aos seus bens e indivíduos além de ser cimentada na religião e nas leis.
Esta conceituação se vinculava com a compreensão da Res publica segundo os pressupostos
de Cícero128, ou seja, tratava-se da união de um determinado número de homens associados
por consenso, no direito e na comunhão dos interesses. Para Claude Nicolet129, na dinâmica
das relações sociais, essas concepções eram expressas sob a forma de uma associação
utilitarista marcada pelo benefício e pela contribuição de cada indivíduo, englobando
sacrifícios e direitos. Não havia uma especialização funcional, todos os cidadãos eram
credores e devedores, isto é, eram soldados, contribuintes, eleitores e possíveis candidatos130.
A ação conjunta da coletividade visava, portanto, o bem comum e da própria cidade que,
como o espaço das relações civis, constituía-se no local no qual as relações sociais eram
reguladas segundo um direito comum.

Ainda em Da Republica, Cícero desdobra a questão ao definir a Res publica como res
populi. Neste caso, res tem um sentido abstrato e ao mesmo tempo, concreto: os bens comuns,
os interesses comuns de todos os cidadãos no seu conjunto. Tal aplicação indica que era do
contrato político e social estabelecido entre os homens que nascia a natureza moral dos
indivíduos. Isto é, da associação, do contrato social e político inicial, nascia uma natureza
moral do homem o que o civilizava e distinguia do ‘bárbaro inculto’. Paralelamente aos
deveres dos cidadãos, haveria as vantagens da associação: a proteção diária de uma
comunidade que garantia individual e coletivamente, através das instituições e do direito, a
segurança das pessoas e de suas propriedades e a acumulação de riquezas e de comodidades
proporcionadas pelas relações comerciais, pelos mercados organizados, pelas festas, feiras e
pelos portos131. Se os bens comuns, os cursos de água, uma costa, as pastagens, as minas
pertenciam a todos, a sua exploração cuidadosa deveria ser suficiente para fazer frente às
despesas que a organização da comunidade comportava, isto é, garantir o culto dos deuses,
construção de edifícios e locais públicos, assegurar as atividades de gestão, financeiras e

128
Da Republica, 25.
129
NICOLET, C. Space, Geography and politics in the early Roman Empire. Michigan: Michigan University
Press, 1999, p. 30.
130 Durante a Res publica, as práticas institucionais que articulavam a mentalidade política dos romanos eram
baseadas na ação política e no respeito à tradição e aos costumes dos ancestrais. Não havia separação de poderes
e nem uma constituição republicana instituída por um ato legislativo, mas sim práticas constitucionais calcadas
nos mores, isto é, as tradições passadas de geração em geração. O Estado existia para garantir a liberdade pessoal
e a proteção dos direitos dos cidadãos. A autoridade suprema do poder legislativo, eletivo e militar era uma
prerrogativa do Povo Romano e o exercício da soberania era entendido como o resultado da ação conjunta do
Senado (enquanto conselho consultivo), das Assembléias, dos Magistrados e do Povo romano. Esse ideal era
amplamente rememorado pela sigla SPQR (Senatus Populusque Romanus – Senado e Povo Romano) registrada
nas insígnias militares e nas instituições públicas da VRBS.
131
CICERO. De officiis, 2, 73.
68

outras. Nessa lógica, a cidade como uma comunidade de direito se adaptou progressivamente
às diferenças que coexistiam entre os indivíduos que compunham os liames das relações
sociais132.

Era na cidade em que se encontravam os caracteres que delineavam o ideal de ser


romano. O espaço da cidade era um locus de aprendizado para os futuros cidadãos, no qual os
romanos afirmavam sua identidade em relação à alteridade dos ‘outros’. Viver em cidades
constituía-se em um dos elementos fundamentais que caracterizavam o ‘estilo de vida
romano’. Era no Fórum, nas reuniões das Assembleias, nos cultos públicos registrados nos
calendários cívicos que se aprendia a ser ‘cidadão’, que se construía uma identidade e se
compartilhava uma visão de mundo133. As diversas atividades que aconteciam cotidianamente
na cidade, os ritos públicos e privados, as relações comerciais, de parentesco (dentre outras),
contribuíam para a definição da cidade enquanto um espaço integrado ao campo (ainda que
possuísse distinções entre ambos) e, em outras palavras, formava um estilo de vida que a
singularizava.

Durante o Principado, o antigo funcionamento do ideal de cidade passou a repousar,


em última instância, na atuação física dos cidadãos dentro dos limites do espaço cívico. Com
a divulgação da concepção de civitas, viu-se a ampliação e adaptação de tal relação de modo
que cada cidade mantivesse as relações administrativas com Roma. Uma das estratégias
usadas foi a da construção de um complexo aparelho jurídico que, pautado na ‘divulgação’ da
cidadania romana em diversas formas, contribuísse para a integração das distintas áreas
conquistadas ao corpo imperial. Ou seja, diante do vasto território a ser administrado,
gradualmente deu-se início ao processo de adaptação das relações cívicas, antes em nível
pessoal, para um nível territorial.

No conjunto administrativo romano, cada cidade recebeu uma classificação jurídica


que determinava o tipo de cidadania a ser concedido às elites que optavam por se vincular à
administração romana. A concessão da cidadania romana era determinada tanto pelas
características da cultura então dominada quanto pelas formas nas quais os processos de
conquistas foram desenvolvidos, e ainda pelo nível de envolvimento das elites locais com as
elites do centro imperial134. Desse modo, no reordenamento político-espacial promovido por

132
NICOLET, C. op. cit. 1991, pp. 24-27.
133
GEERTZ, C. op. cit. 1989, p. 143.
134
Dos quais podemos destacar: municípios, colônias (latinas ou de cidadãos romanos), cidades federadas,
imunes ou estipendiárias. Apenas esta última encontrava-se submetidas de modo ilimitado à autoridade do
69

Otávio Augusto, as civitates passaram a constituir verdadeiras unidades político-


administrativas. Cada civitas tinha uma cidade capital e outros aglomerados urbanos
secundários sujeitos àquela, além de uma população diversa espalhada em um vasto território
mais próximo.

Em se tratando da definição territorial de cada civitas, as estratégias variaram. Em


alguns casos, os romanos utilizaram os limites geográficos naturais (serras, rios), em outros,
prevaleceram as divisões étnico-culturais preexistentes, noutros, fizeram coincidir os limites
com os de uma unidade étnica ou política anterior. Para uma antiga cidade se tornar uma
civitas, verificava-se a importância do núcleo urbano para a administração romana, sua
centralidade, posição e condição para tráfego marítimo ou fluvial e, em alguns casos, a
presença ou não de cidadãos romanos135.

As civitates constituíram-se em um produto cultural específico da sociedade romana.


Dotadas de um governo próprio, escolhido por Assembleia local, tinham autonomia em
relação ao governador de província e aos seus agentes, que variava de acordo com o estatuto
recebido da administração romana. No caso da Península Ibérica, encontramos seis tipos de
categoria político-jurídicas enumeradas por Plínio, o Velho 136 : colonia, muicipium civium
Romanorum, oppidum Latinum, oppidum liberum, oppidum foederatum e oppidum
stipendiarium. A definição correta de cada estatuto não é de fácil realização, pois os estudos
arqueológicos têm demonstrado que há a necessidade de se considerar outras categorias, uma
vez que as fontes literárias, jurídicas e epigráficas nem sempre são claras, além dos termos
possivelmente terem variado ao longo do tempo e das regiões. Em nosso estudo, utilizamos as
definições desenvolvidas por Jorge de Alarcão137.

Nesses termos, a colônia resultava normalmente de uma deductio, isto é, uma


instalação maciça de imigrantes promovida pela autoridade romana. A cidade assim
categorizada podia ser uma fundação inteiramente nova (uma fundação ex nihilo) ou
corresponder a uma profunda renovação urbanística de um local previamente habitado.
Apesar de Plínio não distinguir a coloniae civium Romanorum da coloniae Latinae, outras
fontes epigráficas propõem uma distinção. Na colônia de cidadãos romanos (coloniae civium

governador, pagando a totalidade dos impostos diretos permanentes (sobre pessoas – tributum per capita, sobre a
produção da terra – decuma ou vicesima, e sobre a produção das minas – metalla) e os impostos indiretos
(principalmente os direitos alfandegários – portoria) (MENDES, 1988).
135
PLINE L’ANCIEN. Histoire Naturelle - Livro IV. Paris: Belles Lettres, 1998, versos 116, 117 e 118.
136
Historia Naturalis, II, 7.
137
ALARCÃO, J. Portugal: das origens à Romanização. 1990, 360.
70

Romanorum), todos os habitantes ali nascidos tinham a cidadania romana (salvo, obviamente,
os escravos). Já nas colônias latinas (coloniae Latinae) tinham só o ius Latii (que era
fundamentalmente o ius adipiscendae civitatis per magistratum), sendo considerados
cidadãos apenas alguns indivíduos.

A temática da cidadania romana será discutida com mais atenção no capítulo seguinte,
todavia, aqui nos cabem alguns apontamentos iniciais. Como destaca Alarcão138 , a concessão
da cidadania romana aos indígenas era um beneficio atribuído pelo Senado Romano ou pelo
Imperador. O beneficio podia ser feito a titulo individual ou coletivo. O beneficio individual
(beneficium speciale) era feito a pedido do interessado, sendo os beneficiários desta concessão
indígenas ricos e com intensas relações com o poder imperial. O titulo coletivo, (beneficium
generale), era atribuído a um aglomerado urbano ou a uma civitas. Normalmente, uma cidade
indígena recebia este beneficio com uma severa limitação: a cidadania não era estendida a
todos os habitantes, mas apenas aos que exerciam as magistruras locais ou aos membros do
Senado da cidade, isto é, à ordo decurionum. Chamava-se ius Latii ao direito assim
concedido: se o beneficio era reservado aos magistrados, dizia-se que a cidade recebia o ius
Latii minoris ou o Latium minus; se era estendido aos membros do Senado local, a cidade
recebia o ius Latii maioris ou Latium maius.

A cidadania assim concedida, a titulo individual ou coletivo, não era completa, mas
incluía o ius conubium (direito de firmar casamentos legítimos, reconhecidos por lei e gerador
de efeitos jurídicos) e o ius commercium (corpo de normas jurídicas relativas a qualquer ato
de natureza patrimonial, ou seja, as regras do direito de propriedade). Quando a cidadania era
concedida por beneficium speciale, não envolvia a patria potestas, a menos que essa fosse
expressamente solicitada e a solicitação atendida. Os filhos do individuo promovido não
ficavam in potestate, o que, dentre outras coisas, significava que não se beneficiavam das
disposições do direito romano relativamente à herança paterna, a saber, não eram herdeiros
necessários ou naturais.

Assim como as coloniae, os municípios também podiam ser municipia civium


Romanorum ou municipia Latina. A primeira distinção entre municipia e coloniae estava no
fato da colônia resultar de uma deductio, como mencionamos. Já o municipium, era uma
cidade indígena que recebia o ius civitatis Romanae ou o ius Latii. Tal fato não excluía a
presença de nativos em uma colonia ou de imigrantes nos municípios. Na Península Ibérica,

138
ALARCÃO, J.Op. cit., 1990, pp. 386-387.
71

um exemplo dessa dualidade consiste no caso de Olisipo, um municipium civium Romanorum


no qual foram encontrados antropônimos idênticos aos de algumas famílias romano-
republicanas, o que sugere a fixação de imigrantes itálicos ou ainda indígenas que receberam
a cidadania de algum governador da Hispania no período republicano.

Outra distinção entre colonia e municipium residia na origem e natureza das leis pelas
quais eram regidos. A primeira era regulada somente pelo direito romano, enquanto o que a
segunda, enquanto municipium, mantinha as leis e costumes tradicionais, o iura
municipiorum, desde que não ofendesse as normas do direito romano que também
beneficiavam esse tipo de cidade. Os municípios tinham órgãos judiciais próprios e uma
maior autonomia em relação ao governo provincial se comparados com a colonia.

Outro tipo de classificação era o oppidum 139 , termo este que, possivelmente,
compreendia dois usos: no primeiro, tinha uma conotação mais ampla, podendo ser usado
para referir-se a uma colônia ou município indistintamente. Em outro sentido, mais técnico, o
termo correspondia a categorias jurídico-administrativas precisas, como mencionados por
Plínio: os oppida civium Romanorum, libera, foederata e stipendiaria.
No tocante à Província da Lusitânia, nossa área em estudos, acompanhemos em sua
completude a descrição do enciclopedista140:

“A partir do Douro (rio) começa a Lusitânia com os Túrdulos Antigos, os Pesuros, o


rio Vouga, o ópído de Talábriga, o ópido Emínio e os ópidos de Conímbriga, Colipo
e Eburobrício. Depois entra pelo mar adentro, com uma extensa ponta, um
promontório que alguns chamaram Ártabro, outros Magno e muitos, por causa do
ópido, Olisiponense e que separa as terras, os mares e o céu. Com ele termina uma
parte lateral da Hispania e depois de o dobrarmos começa a parte frontal 141”.
(...)
“Refere Varrão que daqui até ao ponto médio dos Pirinéus se contam mil e
quatrocentas milhas; até ao Anas (rio) com o qual separamos a Lusitânia da Bética,
são cento e vinte e seis milhas e até Gades tem de se acrescentar mais cento e duas
milhas. Os povos destes territórios são os Célticos, os Túrdulos, e, junto ao Tejo, os
Vetões; entre o Anas e o promontório Sacro habitam os Lusitanos. Para lá do Tejo,
as mais notáveis cidades da costa são Olisipo, célebre pelas éguas que concebem do
favônio, Salácia, cognominada Urbs Imperatoria, Meróbriga e, entre os
promontórios Sacro e Cúneo, os ópidos de Ossônoba, Balsa e Mírtilis.

A província em seu conjunto divide-se em três conventos: o Emeritense, o Pacense e


o Escalabitano; têm no total quarenta e cinco povos, dos quais cinco são colônias,
um é município de cidadãos romanos, três de direito latino antigo e trinta e seis
estipendiários. As colônias são: Augusta Emerita, situada junto ao rio Anas; a de
Metellinum, a da Pax Iulia e a de Norba com o apelido Caesarina, da qual dependem

139
ALARCÃO, J. op. cit., 1990, pp. 388-390.
140
PLINE L’ANCIEN. Histoire Naturelle – Livre III. Paris: Les Belles Letres, 1998. GUERRA, A. Plínio-o-
Velho e a Lusitânia. Lisboa: Edições Colibri, 1995.
141
PLÍNIO – O – VELHO, Hist. Nat. Livro 4, 113.
72

administrativamente Castra Seruilia e Castra Cacilia; a quinta é Scallabis que


designa Praesidium Iulium. O município de cidadãos romanos é Olissipo,
cognominado Felicitas Iulia; os ópidos de direito latino antigo são Ébora, também
chamada Liberalitas Iulia, Mírtilis e Salácia sobre os quais já falamos.

Dentre os ópidos estipendiários, sem custo se pode citar, para além dos que já
referimos quanto tratamos dos cognomes das cidades da Bética, os seguintes:
Augustobricenses, Arabricenses, Balsenses, Cesarobricenses, Caperenses,
Caurienses, Colarnos, Cilibitanos, Concordienses, Elbocoros, Interamnienses,
Lancienses, Mirobricenses cognominados Célticos, Medubricenses que são
chamados Plumbari, Ocelenses Lancienses, Túrdulos chamados Bardili e Taporos.
Agripa transmitiu-nos que a Lusitânia, a Astúria e a Galicia juntas apresentam
quinhentas e quarenta milhas de comprimento e uma largura de quinhentas e trinta e
seis milhas. Calcula-se que a Hispânia no seu conjunto, de um promontório dos
Pirineus ao outro, por mar, atinge um perímetro costeiro de duas mil novecentas e
vinte e quatro milhas142.

A precisa definição de cada categoria suscitou divergências entre os autores que se


debruçaram sobre a questão. Todavia, os estudos do autor, baseados nas descrições plinianas,
nos permitem construir o seguinte tabela143:

142
Livro IV, versos 116, 117 e 118, respectivamente. Tradução do Professor Amílcar Guerra.
143 Para um aprofundamento desta análise, consultar as clássicas obras de José d’Encarnação Inscrições
Romanas do conventus pacencis (1984) e de Jorge de Alarcão Portugal: das origens à Romanização (1990).
73

Tabela 1 - Categorias dos Oppida localizados na Península Ibérica, segundo Jorge Alarcão144 -

Categoria Definição Casos na Península Ibérica


Oppidum Civium Tratar-se-ia de um pequeno aglomerado Plínio não menciona essa categoria, mas
Romanorum urbano de cidadãos romanos que não era o nome aparece em outras fontes
capital de civitas. Se fosse integrado a uma epigráficas.
civitas, e se a capital desta era uma cidade de
direito latino, o oppidum civium Romanorum
não dependia dessa capital. Tinha uma
administração autônoma, funcionando como
um núcleo agregado à civitas que dependia
diretamente do governador da província ou
estava administrativamente ligada à outra
capital de civitas.

Oppidum Latinum Se correspondesse a uma categoria definida, Um caso possível consistiria em


esta se distinguiria da colônia latina por ser, Salacia, convertida em município ou
em sua origem, uma cidade indígena e não oppidum145.
uma deductio de imigrantes. Por sua vez, se
distinguiria do município pelo fato de seus
costumes e usos não serem oficiais ou
legalmente reconhecidos. Diferente de um
município ou colônia, governados por
duúnviros e edis, os oppidum Latinum seriam
administrados por um magistri.

Oppidum Liberum O oppidum Libera era uma cidade aliada dos Esta categoria também não foi citada
ou Foederatum romanos, cuja liberdade foi reconhecida por por Plínio. Porém, a arqueologia aponta
uma concessão unilateral do Estado Romano para a possibilidade de que algumas
(Lex data), e da qual não se exigia tributo. cidades tenham sido, por algum tempo,
Enauqnto que o Oppidum Foederata gozava oppidum foederatum: Olisipo, Scallabis,
igualmente de liberdade e isenções tributárias Moron, Conistorgis, Myrtilis, Ebora.
mediante um tratado bilateral (foedus); seus
magistrados podiam julgar os cidadãos
romanos em seu território.

Oppidum Consistiam em cidades que não tinham o ius Segundo Plínio 146: Augustobricenses,
Stipendiaria Latii e estava sujeita a tributação. Arabricenses, Balsenses,
Cesarobricenses, Caperenses,
Caurienses, Colarnos, Cilibitanos,
Concordienses, Elbocoros,
Interamnienses, Lancienses,
Mirobricenses, cognominados Célticos,
Medubricenses, Ocelenses Lancienses,
Túrdulos

144
A presente tabela faz parte dos estudos realizados ao longo da elaboração da presente tese e integrou nossa
dissertação de mestrado, intitulada: A organização do espaço social no Principado: um estudo de caso sobre
a colônia Augusta Emerita entre os séculos I a. C. - II d. C. Programa de Pós-Graduação em História
Comparada, UFRJ, 2010.
145
ALARCÃO, J. op cit. 1990, p.364.
146
His. Nat. IV, 118.
74

Nos núcleos populacionais calaico-lusitanos, o reordenamento espacial empreendido


por Augusto tiveram orientações diferentes, de acordo com as suas distintas especificidades
regionais. Muitos castros do Noroeste de Portugal foram abandonados e a população se
instalou nos vici, em villae, quintas ou casais. Aos castros não deserdados os romanos deram
o nome de castellum147 e outros se transformaram em coloniae romanas, civitates capitais ou
em municipia. A primeira medida tomada por Augusto foi fixar marcos demarcatórios
(termini augustales), sob a supervisão de uma civitas capital. Sempre que foi possível, as
fronteiras já existentes entre as tribos foram respeitadas. Possivelmente, isto explica a escolha
de Aeminium (Coimbra), Talabriga e Langobriga, como capitais de civitas148. Como indica
Alonso Sánchez e Fernández Corrales 149 , os romanos transformaram os sistemas de
propriedade indígenas e os adequaram à estrutura administrativa romana.

Ressalta-se que na região sudoeste o processo de consolidação territorial foi concluído


com a fundação da colônia Augusta Emérita em 25 a. C., após as Guerras Cântabras, diante da
necessidade de exercer um melhor controle da via que unia as terras do sul com as do norte e
noroeste150. Logo, a esta etapa de reestruturação do espaço, assistiu-se a uma nova concepção
do território,

147
Vide ALARCÃO, J. ‘Aglomerados urbanos secundários romanos de Entre Douro e Minho’. IN:
MORILLO,S.R. e BARJA,P. (Ed.) A Cidade e o Mundo: Romanização e Cambio Social. Actas do Curso de
Verán da Universidade de Vigo, 1995. Zaragoza: Concello de Xinzo de Limia, 1996, 196-180.
148
Paralela a essa modificação na estrutura da sociedade castreja, esteve outra importante modificação do
espaço implementada pela presença romana no sudoeste peninsular. Aqui referimos-nos às casas fortes romanas
instaladas tanto na Lusitânia como na Bética. Em relação a isso, Pierre Moret defende a hipótese de que essas
construções tinham tanto funções defensivas como agrícolas e mineiras. As construções estão presentes em
quatro regiões distintas: no Alentejo (principalmente na Serra do Caldeirão), em Badajoz (na comarca da
Serena), em Serra Morena (na comarca da Carolina) e, por fim, na campina do Alto Guadalquivir. Segundo o
referido autor, essas construções seguiam o modelo itálico de casas com atrium e, ao longo do tempo, deram
lugar às vilas que, em lugares estratégicos, marcavam a presença romana no campo. Segundo Moret, as
escavações arqueológicas publicam a seguinte cronologia das construções (MORET, 1999, pp. 57-58): Castelo
da Lousa (Mourão, Évora): segundo quartel do século I a. C.; os castelos do Baixo Alentejo (Castro Verde,
Almodovar e Mértola): segunda metade do II a.C.; o Higuerón (Nova Carteia, Córdoba): século I d. C.; o
Tesorillo (Teba, Málaga):35/40-80 d. C.; a Casa de São Marcos (Porcuna, Jáen): primeira metade do século I d.
C.; o Cerro del Espinoso (Torredelcampo, Jáen): 50- 75 d. C.; o Cerro de la Horca (La Guardia, Jáen): 60-80 d.
C.; o Cerro de Peñaflor (Mancha Real, Jáen): época romana imperial e los Panadores (Caravaca, Murcia): época
romana imperial.
149
SÁNCHES, A.; CORRALES, J. ‘El processo de Romanización de la Lusitania Oriental: la creación de
asentamientos militares’. In.: GORGES, J-G. e BASARRATE, N. Sociedad y cultura en Lusitania romana –
IV Mesa Redonda Internacional. Mérida: Junta de Extremadura, 2000. pp. 85-100.
2000, pp. 94-95.
150
Vide o artigo: BORGES, A. ‘Urbanização e a construção da paisagem no alto império romano: a colônia de
augusta emerita’, In.: Revista ARCHAI, Revista Archai, Brasília, n. 02, p. 1-4, Jan 2009. Disponível em
http://archai.unb.br/revista.
75

o centro de atenção, fixado na linha Metellinum- Castra Caecilia, vital na guerra


sertoriana, agora foi transferido para o elo Emerita- Norba Caesarina. Pouco a
pouco, o território foi sendo transformado de acordo com a nova realidade, e assim,
evidenciou-se o abandono de certos assentamentos pré-romanos como o de
Castillejo del Guadiliba, em Cárceres, e a transformação de outros em conjuntos
urbanos, como assinala o exemplo de Cogolludo, que passa a se chamar Lacimurga
Constantia Iulia (...)151.

A conquista da região revela-se importante, pois oferecia solos férteis aos veteranos e
aos italianos empreendedores que colonizaram o riquíssimo Levante e a planície do Rio
Guadalquivir, além da continuidade da exploração da zona mineira que era realizada desde a
dominação fenícia da costa sul152. Esta exploração proporcionou grandes lucros aos homens
de negócio romanos, além de permitir a cunhagem das moedas de prata. O passo decisivo para
a consolidação total da conquista da região foi dado por Otávio Augusto, que concluiu a
guerra contra os cântabros e ástures no noroeste da península e realizou a redivisão das terras
da Hispania Ulterior, entre 27 e 13 d. C., em duas províncias: a Bética e a Lusitânia. Assim, a
região passou a registrar três províncias: a Tarraconense (antiga Hispania Citerior), a Bética e
a Lusitânia. A Bética foi constituída em província senatorial de ordem pretoria, a Lusitânia
em uma província imperial de ordem pretoria e a Tarraconense ficou como uma província
imperial de ordem consular.

Frente a estas questões, pode-se considerar que a Lusitânia afirmou-se como uma
província romana a partir da integração de regiões e de povos com características identitárias
próprias num quadro administrativo único, isto é, em um primeiro momento constituiu-se em
uma criação artificial. A atuação romana buscava, dessa forma, formar uma realidade político-
administrativa estrategicamente coerente com os objetivos da conquista. A criação da nova
província é compreendida como uma estratégia de organização resultante do imbricamento
entre a intencionalidade imperial, a persuasão e a transformação das culturas locais, dando
sentido à conquista romana ao estabelecer um novo sistema de administração territorial.

Vasco Gil Mantas 153 aponta que a situação geográfica da Lusitânia, pela sua
proximidade com o Mediterrâneo e a condição Atlântica, permitiu uma interessante simbiose
cultural. Se os romanos não foram os primeiros a estabelecer o contato entre a península e o

151
ÁLVAREZ-MARTINÉZ, J. Ciudades Romanas de Extremadura. Barcelona: s/e, 1993, pp. 130-131 –
tradução nossa
152
Cujos focos principais foram as cidades de Abdera, Sexi, Malaca, Suel, Mellaria e Gades.
153
MANTAS, V. G. ‘A Lusitânia e o Mediterrâneo: identidade e diversidade numa província romana’. In.:
Conimbriga, 43, 2004, pp. 63-83.
76

Mediterrâneo, foi no período romano que a tradição mediterrânica se fez sentir de forma
dominante em várias regiões. As importâncias econômicas e estratégicas das produções
provinciais atribuíram à região uma situação importante no conjunto dos territórios romanos.
As relações com o espaço mediterrânico pelas suas vias de comunicação e rotas marítimas
promoveram além do intercâmbio de produtos e artigos manufaturados a circulação de
conhecimentos. Com a inserção da província na economia imperial, diferentes culturas foram
trazidas, misturando traços ‘romanos’, mediterrânicos e indígenas.

Conforme a representação do mapa a seguir, segundo Plínio, o Velho154 a província da


Lusitânia no seu conjunto dividia-se em três Conventus: o Emeritensis, o Pacensis e o
Scallabitanus; possuindo 45 povos no total, dos quais cinco são colônias, um é município de
cidadãos romanos, três de direito latino antigo e trinta e seis são estipendiários. As colônias
são: Augusta Emerita, situada junto ao rio Anas; Metellinum, Pax Iulia e Norba Caesarina, da
qual dependem administrativamente Castra Seruilia e Castra Caecilia; sendo a quinta
Scallabis que se designa Praesidium Iulium. O município de cidadãos romanos é Olisipo,
cognominado Felicitas Iulia; os ópidos de direito latino antigo são Ebora, também chamada
Liberalitas Iulia, Mírtilis e Salácia.

154
Naturalis Historia, 4, 117.
77

Mapa 5 - As cidades da península Ibérica, segundo a descrição pliniana155

Como evidenciado, no âmbito da Hispania, a ação romana sobre o espaço conquistado


adaptou-se à diversidade das formas de assentamento das populações indígenas. O domínio
romano introduziu elementos que determinaram um estilo de vida diferente do que era comum
a estes povos. Como já demonstrado por José Luis Jiménez Salvador156, após três séculos de
campanhas militares, Roma colocou em prática uma política urbanística com o objetivo de
criar um equilíbrio entre a realidade oferecida pelas regiões e os povos. Foram aproveitados
núcleos urbanos preexistentes, em outros momentos reagruparam-se grupos menores em um
principal, em situações especificas optou-se por fundar cidades novas, ou ainda, pela
promoção no estatuto político-jurídico à colônia ou ao estatuto municipal157.

155
Disponível em: http://clio.rediris.es/n32/atlas_espana.htm, acedido em 09 de abril de 2010, às 11h 09min.
156
JIMÉNEZ SALVADOR, J.L. ‘Las ciudades hispanorromanas’. In.: Cuadernos de Arte Español n° 30,
Historia 16. Madrid, 1992, p. 4.
157
A título de exemplo, Bendala-Galan (1998, p. 130) aponta que dentre as colônias e municípios promovidos
se encontram centros como Colonia Augusta Emerita (Mérida), Colonia Caesaraugusta (Zaragoza), Colonia
Caesarina Augusta Asido (Medina Sidonia), Colonia Norbensis Caesarina (Cáceres), Colonia Augusta Firma
Astigi (Écija), Colonia FaventiaIulia Augusta Paterna Barcino (Barcelona), Lucus Augusti (lugo), Asturica
Augusta (Astorga), Bracara Augusta (Braga), dentre outros.
78

Percebe-se que a complexidade dos programas urbanos variou em função de fatores,


tais como o estatuto politico-jurídico que cada assentamento urbano recebia, de acordo com
sua importância político-administrativa e econômica no Império. Com essa estratégia,
Augusto abriu uma nova etapa no processo de urbanização. Além deste último, iniciou-se
outro processo, paralelo e simultâneo, de monumentalização da Península, dando
continuidade à planificação iniciada por César, além de contar com o intenso projeto
urbanístico de M. Vispasiano Agripa. A este se pode atribuir a criação da infraestrutura
necessária para a estruturação militar, econômica e política da zona noroeste e sudoeste 158.

O processo desencadeado pelas cidades na coesão e organização dos territórios


conquistados nos aspectos social, econômico e político, revelou-se um dos veículos mais
apropriados para a transmissão de mensagens ideológicas e de divulgação do grupo político
dominante. Ao longo do principado houve um projeto imperial e uma estratégia de renovação
e (repito) monumentalização das cidades. Concordamos com Salvador159, na compreensão de
que foram os edifícios, transformados em monumentos, os elementos que definiram a
configuração urbana das cidades. O aparelhamento arquitetônico dos recintos urbanos devia
incluir uma série de elementos básicos que tinham como finalidades atender as exigências
políticas, econômicas, religiosas e relativas ao ócio, caro à vida cidadã romana.

Atendendo a essas diversas necessidades, os núcleos urbanos foram dotados de um


conjunto de edifícios públicos e privados que seguiam os modelos preestabelecidos por
Roma. Assim, o programa monumental básico das cidades hispanorromanas incluíam
muralha, fórum ou praça pública, templos, banhos públicos, edifícios de espetáculo e as
construções privadas. Mais do que construções ligadas à defesa, administração ou religião,
tais edifícios foram convertidos em símbolos de identidade e prestígios dos centros urbanos
em relação à cultura romana. Relembrando as análises de Jorge de Alarcão 160 , os novos
produtos que os colonizadores introduziram contribuíram para alterar as imagens ou
representações que os indígenas e Romanos tinham deles mesmos e dos outros com os quais
se confrontavam ou conviviam. Nas palavras do autor:

158
JIMÉNEZ SALVADOR, J.L. op. cit., 1992, p. 17.
159
JIMÉNEZ SALVADOR, J. L. op cit, 1992, p. 13.
160
ALARCÃO, J. ‘As cidades da Lusitânia: imagens de um processo cultural’. In.: NOGALES-BASARRATE,
T. (Edt. Cient.) Augusta Emerita: territorios, espacios, imágenes y gentes em Lusitania romana –
monografias emeritenses nº8. Mérida: MNAR/ Ministério de Cultura, 2004, p. 261.
79

[com] o fórum veio uma nova forma de governo local, isto é, transformaram-se as
instituições públicas. Com os templos, introduziram-se novas religiões e novas
mentalidades. Nos mercados vendiam-se novos produtos, como sigilata itálica:
vendiam-se vinhos e azeites, de diferentes qualidades e preços. Alguns desses
produtos eram acessíveis a uns, mas não a outros, e isso contribuiu para acentuar a
pobreza de alguns e a abastança de poucos. Através dos monumentos, dos artefactos,
dos alimentos, transformaram-se mentalidades, criaram-se ou aprofundaram-se
distâncias sociais. A cultura material é, assim, activa, quer dizer, concorre ou contribui
para alterar o que os indivíduos pensam ou sentem e transforma as relações sociais 161.

A nova disposição urbana trazida por Roma contribuiu, assim, para transformar a
mentalidade e os hábitos de vida das comunidades locais. Não eram apenas novas concepções
arquitetônicas ou estruturas político-administrativas, tratava-se de uma nova visão de mundo,
de novos elementos a definirem as relações sociais cotidianas transformadas pela
consolidação da conquista.

161
ALARCÃO, J.op cit. 2004, p. 261.
80

Capítulo 3 - As elites e a dinamização do espaço provincial: o caso da Lusitânia


Como demonstrado no capítulo anterior, o estudo do Império Romano em suas


idiossincrasias traz consigo o desafio de ir além dos discursos oficiais registrados pelos
autores clássicos e atentar para as especificidades da formação dos espaços sociais
provinciais. Em tal perspectiva, a agenda dos estudos extrapola as etapas da conquista ao
incluir a gradual espacialização e interiorização das relações de poder, e, quando possível, as
resistências às estruturas (materiais e simbólicas) do domínio. Se o poder romano não se
resumiu à coerção das armas, assumindo formas simbólicas e sociais; sua estruturação
dependeu de outra abstração, a saber, a criação de uma nova interpretação a respeito do
espaço geográfico162.
A reorganização da Península Ibérica operacionalizada por Augusto assentou-se em
três bases: no reforço da ideia da província enquanto um estatuto jurídico funcional para a
estabilização do território, na designação das cidades como eixos-sedes para a divisão do
território e na organização conventual – que contribuiu para repartir as funções
administrativas no interior das províncias163. Nas áreas integradas ao domínio, a atuação de
Roma materializou-se através da reestruturação local e regional das populações, da nomeação
ou renomeação dos territórios e no deslocamento e assentamento de comunidades. Tais ações
atuaram conjuntamente na construção de outras visibilidades para os grupos, contribuindo
para a emergência de novas identidades locais.

Concordamos com Patrick Le Roux e Joaquin Gomez Pantoja164 ao considerar que a


dinâmica provincial introduzida não substituiu as comunidades locais. Nessa leitura, a
província é interpretada como uma estrutura administrativa utilizada para a estabilização do
território ao introduzir novas regras para o funcionamento e usos do espaço. Sua constituição
geográfica não se limitava à redefinição cartográfica. Enquanto intercessão entre o governo
imperial e os cidadãos (novos ou não), a nova organização espacial introduzida
fundamentava-se na compreensão de que os espaços transformados em territórios
combinavam paisagens organizadas, estratégias de exploração do solo, a definição das

162
GRIMAL P. O Império Romano. Lisboa: Ed. 70, 1999, p.9.
163
LE ROUX, P. ‘Geographie péninsulaire et épigraphie romaine’. In.: La invención de una geografia de La
Península IbéricaI II – La época imperial. (Edt. CRUZ ANDREO TTI, G., LE ROUX, P. & MORET, P.
(Actas Del Colóquio Internacional). Madrid: Casa de Velázquez, 2007, p. 208.
164
GOMEZ-PANTOJA, J. L. ‘Uma visión epigrafica de la Geografía de Hispania Central’. In.: La invención
de una geografia de La Península IbéricaI II – La época imperial. (Edt. CRUZ ANDREO TTI, G., LE
ROUX, P. & MORET, P. (Actas Del Colóquio Internacional). Madrid: Casa de Velázquez, 2007, p. 221-248.
81

propriedades pública e privada, a acessibilidade dos lugares, e, sobretudo, a organização


social que habitava e vivenciava o espaço físico. As cidades e as comunidades locais
constituíam, então, a ‘ossatura das províncias’165. Suas heranças culturais alicerçavam uma
construção geográfica, que fora reconduzida pelas autoridades imperiais e recaracterizada pela
regionalização e adaptação às realidades locais. Neste ponto de vista, defendemos que a
divisão e a fixação provincial desempenharam um papel catalisador no cruzamento das
histórias locais e a presença romana. Por esse ângulo, o espaço provincial pode ser definido
como o local da autoridade, tão simbólico quanto administrativo, extensível e maleável às
especificidades locais, enquanto o território cívico pode ser definido pela delimitação e
fixação no espaço das civitates. Juntos, ambos atuaram de forma coordenada na construção,
regulação e consolidação das áreas conquistadas.

Decerto, a maior parte das informações de Estrabão e, em menor medida, de Plínio


originam-se de fontes indiretas, dos relatos de segunda e terceira ordens de viajantes que
estiveram em Gades, Corduba, Saguntum ou Tarraco, e que recolheram informações sobre
como eram as terras e como viviam os celtiberos, lusitanos e galaicos. O resultado são obras
que apresentam descrições esquemáticas e generalizadoras do interior peninsular, a saber:
regiões montanhosas, estéreis e com um clima sujeito a intempéries, mas rica em minérios e
gado. A ‘esquálida’ demografia é associada à dureza do meio em que seus habitantes vivem
sendo, por isso, caracterizados como ariscos, mais dados ao pastoreio e à bandidagem do que
à agricultura e à vida urbana. Em Estrabão, esses retratos discursivos oscilam entre dois
paradigmas: o dos hábitos chocantes e costumes estranhos dos povos que habitam os confins
ocidentais da Península, e a ‘fácil’ assimilação daqueles que já residiam em cidades ‘a la
romana’ e que por isso foram denominados por ele como togatoi166 , concernindo
especificamente aos habitantes indígenas de três cidades de fundação augustea: Augusta
Emerita, Pax Augusta e Caesar Augusta167.

De um ponto de vista menos etnográfico e orientando-se por um viés mais


institucional e enciclopédico, Plínio detalha a descrição das três províncias da Hispania
Citerior (Bética, Lusitânia e Tarraconense) entre os livros III e IV de sua História Natural 168.
Seguindo um esquema administrativo, o autor apresenta outro momento da região ao registrar
165
LE ROUX, op cit, p. 203.
166
Geographica, livro III, 2, 15.
167
GOMEZ-PANTOJA, op. Cit. p. 223.
168
A saber, a Baetica (Livro IV, 3, VV 7-17), a Hispania Citerior (Livro IV, 3, VV 18-30 e Livro IV, 4, VV
110-112) e a Lusitânia (Livro IV, 4, 113-118).
82

a organização de cada província e, dentre os lusitanos, a subdivisão dos conventus iuridici169.


Nos conventus da Bética e do litoral mediterrâneo, por exemplo, Plínio ordena sua descrição a
partir da condição legal de cada cidade, começando com os civis optimi iuris das colônias e
municípios, seguido dos cives Latini, dos foederati e dos stipendiarii.
Tanto em Estrabão como em Plínio, a narração dos dados oficiais visa demonstrar o
conhecimento geral da província, limitado, sobretudo, a suas capacidades demográfica, militar
e fiscal. Se, por um lado, tais obras nos auxiliam na compreensão do processo de consolidação
do novo sistema político imperial e da estruturação dos espaços submetidos, por outro lado
não se pode obliterar que tais discursos têm como centralidade as ações romanas sobre os
acontecimentos. Assim, na busca pelas outras vozes desse período, dirigimo-nos à produção
material do próprio contexto provincial. Todavia, é preciso considerar que os sistemas
culturais das comunidades peninsulares não incluía o registro sistemático dos acontecimentos.
É nesse sentido que a busca por outros discursos para além da descrição romana das
realidades provinciais revela-se um desafio.

À vista disso, como poderíamos acessar a dinâmica do espaço social, amplo e diverso,
das comunidades que integram a Península Ibérica? Aqui reside a grande validade do
testemunho epigráfico 170 : o corpus epigráfico peninsular está em contínua expansão, na
medida em que a cada novo achado arqueológico, mais informações emergem a respeito da
dinâmica social desenvolvida nos territórios. Frente às especificidades e os limites da
documentação textual, o discurso epigráfico assume uma importância singular e, sobre isso,
dois argumentos ganham destaque: o primeiro diz respeito à perenidade dos materiais
empregados na elaboração dos suportes – metal ou pedra –, o que teria contribuído para sua
resistência ao tempo se comparado com outros suportes materiais; o segundo aponta que as
inscrições apresentam informações diretas a respeito das práticas culturais, funerárias, cultuais
e políticas desenvolvidas entre as culturas locais e a cultura romana. Deste modo,
consideramos que seu estudo viabiliza o acesso ao contexto, à linguagem do cotidiano da vida
cívica, aos usos e às funcionalidades das práticas espaciais.
Enquanto um campo de estudos, a Epigrafia tem por objeto o estudo, decifração e
interpretação das inscrições antigas encontradas sobre diversos materiais. No contexto Greco-
romano, tais inscrições povoam lápides, pedras sepulcrais, aras votivas, bases de estátuas, e

169
Gomez-Pantoja (2007, p. 223) destaca que, nas Hispanias (Citerior e Ulterior), a divisão por conventus
cumpria diversas funções, sendo a jurídica a que menor temos informações.
170
DYSON, S. L. ‘Is there a text in this site?’. In.:SMALL, D. B. (Edt.) Methods in the Mediterranean:
hitorical and archaelogical views on the texts and archaeology. Leiden/New York/Köln: E. J. Brill, 1995, pp.
25-44.
83

monumentos arquitetônicos em geral. Sobre sua leitura e interpretação, Franciso Isoldi


destaca: ‘Não cabe ao epigrafista julgar o conteúdo da epígrafe, nem usá-la por dedução
histórica ou de outra espécie. As inscrições representam um precioso material de controle, e
são, às vezes, os únicos documentos sobre os quais se pode fundar a história antiga’171.
Decerto, a escrita consiste em um dos recursos através do qual é possível examinar o
mundo romano. Aprofundando a compreensão das epígrafes, Ramsay MacMullen172 cunhou a
expressão “hábito epigráfico”, e deu um passo adiante nos estudos ao considerar nas análises
o conjunto de práticas relacionadas à escrita (gravação do texto na superfície e na própria
circulação do material no conjunto da sociedade) e à sua produção (considerando o
desenvolvimento de profissões e oficinas especializadas, técnicas de produção, o acesso às
fontes minerais, dentre outros pontos), ambas contextualizadas no horizonte sociopolítico do
mundo greco-romano.
No estudo sobre as origens da civilização provincial na Gália, Greg Woolf173 segue a
perspectiva de MacMullen e ressalta que a difusão do hábito epigráfico nas províncias
romanas pode ser interpretada como ‘indícios das mudanças culturais’ oportunizadas pelo
encontro de diversas culturas com as práticas culturais mediterrânicas. Nesse sentido, o estudo
dos textos produzidos nas províncias não pode ser dissociado do estabelecimento de uma
infraestrutura complexa e multifacetada. Como demonstrado no mapa a seguir, a densidade
epigráfica nas províncias ocidentais seguiu níveis variados.

171
ISOLDI, F. ‘A epigrafia, síntese geral’. Revista de História, volume IV, n 9, São Paulo, USP, 1952.
172
MACMULLEN, R. ‘The epigraphic habit in the roman empire’. In.:American Journal of Philology,
vol.103, 1992, pp. 233-246.
173
Nos referimos à obra Becoming Roman – The origins of Provincial Civilization in Gaul, de 1998.
84

Mapa 6 - A densidade epigráfica nas províncias ocidentais174

Tendo em vista o mapa apresentado, Woolf contextualiza a análise das inscrições no


que denominou ‘geografia cultural’, isto é, não mais estudadas de forma isolada, mas como
integrante de um sofisticado fenômeno que envolve a distribuição de colonos, a implantação
ou resignificação de cidades, a construção de redes viárias e fluviais, a implantação de
sistemas de abastecimento aquífero e de produção, dentre outros aspectos da geografia física
do domínio nas províncias; cujo desenvolvimento seguiu ritmos distintos em cada região do
império.
Desse modo, não se trata de contextualizar um determinado documento epigráfico em
um conjunto de datas e fatos – de outra maneira, a tarefa desafiadora consiste em questionar
os usos das fórmulas discursivas, de conceitos caros à tradição mediterrânica no contexto
provincial, examinando, também, sua resignificação pelos grupos locais. Na proposta de
investigar as comunidades provinciais, a montagem dessas ‘teias semânticas’ torna-se
fundamental, sobretudo para não recair na armadilha do etnocentrismo das abordagens
174
WOOLF, G. Becoming Roman: the origins of provincial civilization in Gaul. Cambridge: Cambridge
University Press, 1998, p. 82.
85

cêntricas, suprimindo as especificidades das dinâmicas provinciais em relação ao centro


imperial.
No que se refere à produção epigráfica, os dados recolhidos por nós confirmam o que
já foi demonstrado pelos autores supracitados: os financiadores do hábito epigráfico eram os
ricos proprietários e os mais diversos tipos de agentes imperiais. Em relação aos primeiros
dois séculos do Império, o que engloba do governo de Augusto (27 a. C. a 14 d. C.) ao
reinado de Antonio Pio (138 – 161 d. C.), não houve uma modificação radical da estrutura
social do mundo romano175. Nessa época, o Imperium Romanum atingiu sua maior extensão
territorial e viveu um período de relativa paz tanto em nível interno como externo, sendo esse
o período em que a aristocracia imperial ganhou corpo e amplitude.
As novas configurações políticas delineadas a partir do Principado augustano foram
consolidadas por seus sucessores, reforçando a ideia do poder e prestígio da domus imperial e
a construção do ideal dinástico. Porém, a posição cimeira do Imperador em relação à
sociedade como um todo foi fruto de uma tarefa gradual. Entre ele e os diferentes grupos
sociais foram tecidas relações muito estreitas baseadas, sobretudo, em laços de reciprocidade
e de apoio mútuo 176 . Vale destacar que a natureza dessa relação foi determinada pela
especificidade da posição social dos grupos envolvidos, no que diz respeito à posição e função
dos indivíduos no conjunto social (e sua consequente preeminência financeira), assim como
nas relações de reciprocidade desenvolvidas177.
Com a estabilização da conquista e o fim das guerras civis, não apenas a exploração
das regiões conquistadas transformadas em províncias ganhou um novo fôlego, mas também
o afluxo e a circulação de pessoas. Em se tratando do conjunto provincial, a integração das
regiões (e seus habitantes) foi realizada por diversas vias que envolveram a construção de
estradas, portos, a introdução de uma estrutura administrativa, o recrutamento de pessoas no
exército e a concessão da cidadania, a fundação de cidades e a inclusão e desenvolvimento do
hábito epigráfico.
Como vimos, a presença romana introduziu novos hábitos sociais e políticos. Nessa
perspectiva, o hábito epigráfico é interpretado por nós como um dos ícones mais expressivos
desse decurso. Através dele é possível observar a multiplicidade das formas de identificação
dos novos cidadãos, as estratégias locais de promoção política, o percurso dos grupos de elite
na administração das cidades, as alianças políticas desenvolvidas através das relações de

175
ALFÖLDY, op Cit, p. 110.
176
Vide as analises de ZANKER, P. Augusto y el poder delas imágenes. Madrid: Alianza Editorial, 1992.
177
AlFÖLDY, op Cit, p. 117.
86

patronato, as formas de comunicação com a administração imperial, para citar algumas


possibilidades analíticas.
Assim sendo, na análise desta problemática, consideramos todos os registros
catalogados por nós que fazem menção ao conjunto de cidadãos da província nos quais é
possível indicar a localização da cidade de origem. Nesse sentido, pontuamos quatro formas
de identificação: o uso dos tria nomina, a inscrição numa tribu e o registro das magistraturas e
dos sacerdócios – quando os mesmos eram reservados aos cidadãos.

Na análise do conteúdo das inscrições, atribuímos uma palavra chave para cada
exemplar a fim de reagrupar textos de tipologias distintas e, com isso, organizar os conjuntos
correspondentes a cada temática pesquisada. A segunda etapa de leitura dos dados consistiu
na criação de gráficos analíticos para a visualização da distribuição geográfica dos registros e,
com isso, quantificar, mapear e analisar a distribuição das tipologias no conjunto provincial.

Os dados obtidos nas análises preliminares nos auxiliaram a observar as áreas de


maior incidência de algumas informações, tais como o registro dos cidadãos, a identificação
da tribo preeminente em cada convento e o registro das tradições locais na onomástica, a
ocorrência das magistraturas de cada civitas, a presença e a área de atuação dos sacerdócios
de alto escalão (como os do culto imperial), para citar alguns exemplos. As etapas analíticas
seguintes consistiram na verticalização do estudo de cada convento, na identificação da teia
social evidenciada pelas inscrições e no cotejamento entre as regiões provinciais.

Na análise dos dados, partimos da ideia de que cada comunidade cria, ou resignifica de
acordo com os seus parâmetros, as próprias formas de vivência e inserção no espaço das
cidades. Nesses termos, através da análise dos dados, visamos compreender uma parte deste
movimento, isto é, as estratégias de vivência do espaço social pelos grupos de elite através de
sua integração no espaço urbano viabilizado pelas epígrafes inseridas nos espaços públicos.
Dito de outro modo: observaremos a produção epigráfica como uma forma de materialização
da identidade provincial, como uma ferramenta que viabiliza a introdução do indivíduo no
imaginário cultural da cidade e do próprio Império, garantindo-lhe um lugar na nova
conjuntura trazida pela administração romana.
87

3.1. Os modos de identificação dos cidadãos: a onomástica, o registro da tribu e o cursus


honorum

Como já indicado por José d’Encarnação178, desde o período republicano as formas de


identificação obedeciam a determinadas regras, sendo composta, para os indivíduos do sexo
masculino, pelo praenomen, nomen, a inclusão da filiação, a menção da tribo e o cognomen.
Vejamos, portanto, o significado de cada elemento.

O praenomen 179 indica o que precede o nomen, ou seja, é o primeiro elemento do


nome romano. Numa família, distingue um indivíduo dos demais indivíduos do sexo
masculino, já que as mulheres não usavam praenomen. Segundo Varrão, chegou-se a usar 30
tipos; por isso, em muitas inscrições, este elemento aparece abreviado. Segundo a tradição,
apenas quando o jovem assume a toga viril, aos dezessete anos, poderia assumir oficialmente
um praenomen. Contudo, nos casos de falecimento precoce, por exemplo, alguns pais já o
inseriam na lápide funerária – uma vez que não teriam oportunidade de fazê-lo no momento
certo. Há ainda os praenomen típicos de cada família, passado do pai para os filhos.

Encarnação sinaliza que, em uma análise demográfica, a adoção do gentilício nos


interessa, uma vez que ‘a coincidência do gentilício e de prenome numa área geográfica
determinada oferece-nos sérias probabilidades de estarmos perante membros de uma mesma
família’180. Vale destacar que na passagem dos séculos I – II d. C. seu uso esmaece em virtude
do Édito de Caracala, em 212, que estendeu a cidadania para todo homem livre do Império.
Assim, se tradicionalmente o praenomen estava ligado às relações familiares e, portanto,
perpetuador de certo estatuto social, com as transformações do estatuto jurídico dos
indivíduos e da cidadania, esse sentido também é modificado. No contexto provincial,
inúmeros casos apontam para a adoção do modo de identificação latino de forma
resignificada, isto é, ao nome único indígena será acrescido algum praenomen.

O segundo elemento da estrutura onomástica é o nomen, ou gentilício (nome da gens,


da família a qual o indivíduo pertencia). Em geral, todos os membros da família utilizavam-
no, normalmente os terminados em ius eram masculinos e os terminados em ia designavam
integrantes do sexo feminino. O nomen era transmitido de pai para os filhos e pela linha

178
D’Encarnação, op cit, 2010, p. 79-80.
179
D’Encarnação indica que, em alguns casos, o praenomen pode referir-se a um significado concreto, como
Martius, aquele trazido pelo mês de março, por exemplo.
180
D’Encarnação, op. cit, 2010, p. 83.
88

paterna, havendo exceções (sobretudo quando se trata de um filho ilegítimo ou a mãe é uma
liberta e o filho conseguiu a manumissão no mesmo momento que ela, sendo ambos
incorporados na mesma gens e adotantes do mesmo gentilício). Em geral, as pessoas que se
identificam com o gentilício possuem alguma distinção na estrutura social romana181.

Na tradição romana, a gens era uma unidade social alicerçada pelo direito de herança
recíproco entre os membros da família por ascendência paterna; pela posse de um lugar
coletivo para os seus mortos; de ritos religiosos em comum (sacra gentilicia); da terra em
comum; pela obrigação dos membros na ajuda e socorro mútuo; no direito de usar o nome
gentilício; no direito de adotar estranhos na gens (pela adoção a uma família) e, por fim, o
direito de eleger e depor um chefe182. Se a gens pode ser compreendida como a reunião de
uma família, não no sentido consanguíneo, mas também – e sobretudo – relacionado às
relações de parentesco e patronato; a tribu seria a reunião das gentes. Na tradição lendária,
Rômulo governa juntamente com o rei sabino Tito Tácio a comunidade dos quiritas, que
depois é dividida em trinta cúrias e 3 tribus: Tícios, Ramnes e Luceres. A reunião destas
tribos, onde as 100 famílias das gentes latinas foram reunidas, é que formará o Populus
Romanus. Entre a gens e a tribu estaria, portanto, a cúria, formada pela junção de 10 gentes.

A organização tribal remonta por volta do século V a. C., e, como indica Norma
Musco Mendes 183, sua constituição relaciona-se à construção das práticas que norteavam o
funcionamento político de uma cidade-estado. Em conjunto com as Assembleias Curiata e a
Centuriata, a Assembleia Tributa consistia em uma das instâncias através da qual os cidadãos
exerciam a participação política no sistema republicano – cidadania essa, como bem analisou
Claude Nicolet184, baseada na tripla função do individuo que, investido da cidadania, assumia
as funções de soldado, contribuinte e cidadão.
Ainda segundo a tradição, atribui-se a Sérvio Tulio a divisão da população romana em
185
tribos de acordo com os critérios geográficos. Remontando ao século V a. C. a antiga

181
D’Encarnação, op. cit, 2010, p. 84-85.
182
ENGELS, F. ‘A gens e o Estado em Roma’. In.:A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado.
Rio de Janeiro: Editorial Vitória, 1964; HEURGON, J. ‘La Roma de los reyes’. In.: Roma y el Mediterráneo
Occidental: hasta las guerras púnicas. Barcelona: Editorial Labor, 1971.
183
MENDES, N. M. Roma Republicana. São Paulo: Ática, 1988.
184
NICOLET, C. ‘O cidadão e o político’. In: GIARDINA, Andrea (org.), O Homem Romano. Lisboa:
Editorial Presença, 1991, pp. 19-48.
185
Na obra História de Roma (Ab Urbe condita - Livro I, 43, 13), Tito Lívio assinala que Sérvio Tulio teria
ampliado o pomerium, incluindo nele os montes Quirinal, Viminal e o Esquilino. Deste modo, teria dividido a
cidade em quatro, e denominou a cada parte com o nome tribu - termo que procede da palavra tributo. Além
dessa divisão, Dionísio de Halicarnasso (Antiguidades Romanas, Livro 4, 15,1) também atribui a Servio Tulio
a constituição das tribos rústicas, quer dizer, situadas fora do pomerium.
89

organização gentílica teria sido substituída pela divisão do populus em tribos, de caráter
regional. Desse modo, o pertencimento do cidadão à cidade e a condição de possibilidade de
sua participação política passariam a ser determinadas por critérios territoriais e não apenas
consanguíneos, uma vez que a divisão em tribos servia principalmente de base para a
formação da comitia tributa (Assembleia Tributa) 186 . Seguindo tais critérios, foram
organizadas, então, quatro tribos urbanas: Collina, Esquilina, Palatina e Suburana, referindo-
se aos quatro bairros da cidade de Roma. Ao longo do V século a. C., foram criadas outras 16
tribus rusticae em torno da cidade de Roma, até que em 241 a. C., atingiu-se o número de
35187. Ao longo do Império, a referência a uma tribo assumiu o caráter de distinção social,
uma vez que ser cidadão romano significava estar inscrito em uma tribo.

Por fim, o cognomen agrega mais um nível de distinção na identificação do cidadão


romano. Encarnação188 aponta que seu uso foi iniciado quando o praenomen e o nomen já não
eram suficientes para identificar os indivíduos de um mesmo grupamento familiar. Dessa
forma, poderiam individualizar ainda mais os elementos masculinos de uma mesma família,
por exemplo.

Uma vez reunidos, os dados supracitados nos permitem compreender que, se por um
lado, a adoção dos elementos dos tria nomina nas formas de identificação dos indivíduos nos
remete à sua inserção num sistema linguístico-cultural latino, no tocante aos homens, o
registro na tribo o inscreve no espaço cívico, viabilizando sua integração no conjunto de
cidadãos do Império.

186
História Social de Roma. Lisboa: Editorial Presença, 1989, p.31.
187
Além das quatro tribos urbanas já citadas, têm-se as seguintes tribos rurais e suas respectivas datas de
fundação: Aniense (299 a.C.), Arnense (criada em 387 a.C.), Camília (495 a.C.), Cláudia (495 a.C.), Clustumina
ou Crustumina (449 a.C.), Cornélia (495 a.C.), Emília (495 a.C.), Fábia (495 a.C.), Falerna ou Falerina (criada
em 318 a.C.), Lemônia, (século V a.C.), Mécia (criada em 332 a.C.), Menênia (495 a.C.), Papíria (495 a.C.),
Oufentina ou Ufentina (criada em 318 a.C.), Popília ou Poblília (358-357 a.C.]), Pólia (495 a.C.), Pomptina
(358-357 a.C.]), Pupínia (495 a.C.), Quirina (criada em 241), Romília (495 a.C.), Sabatina (criada em 387 a.C.),
Scaptia (criada em 332 a.C.), Sérgia (495 a.C.), Estelatina (criada em 387 a.C.), Teretina (criada em 299 a.C.),
Tromentina (criada em 387 a.C.), Valéria ou Galéria (495 a.C.), Velina (criada em 241 a.C.), Voltina (495 a.C.),
Veturia ou Voturia (495 a.C.) Vide: ALFÖLDY, G. História Social de Roma. Lisboa: Presença, 1989.
188
d’ENCARNAÇÃO, J. Epigrafia: as pedras que falam. Coimbra: Universidade de Coimbra, 2010, p. 79.
90

3.1 a. O registro onomástico

Como já dito por Gabriel Sanders (1977) e enfatizado por José d’Encarnação 189, a
missão primordial do monumento epigráfico consiste em salvar o indivíduo do mortal medo
do esquecimento. Através do estudo das formas de identificação, podem-se reconhecer os
indivíduos que habitaram nas civitates (mulheres, homens, cidadãos, escravos, libertos), a
nomenclatura dos imperadores, a carreira habitual (cursus honorum) dos senadores, cavaleiros
e membros das aristocracias locais. O nome é, portanto, o elemento fundamental em uma
epígrafe romana. Através dele identifica-se o cadáver, o dedicante de um altar votivo, os
nomes e funções do homenageado de um texto honorífico ou quem mandou edificar
determinado monumento.

Nosso conhecimento a respeito das formas de identificação do nome na cultura


romana advém tanto da vastíssima produção dos autores latinos, quanto dos fragmentos que
chegaram até nós das obras dos grammatici latini e dos testemunhos epigráficos dispersos por
todas as áreas do Imperium. Quando analisadas em conjunto, tais produções permitem
complementar o conhecimento da realidade histórica, social e cultural do tempo em que cada
um destes textos foi utilizado, bem como a forma como os seus autores interpretaram e
dialogaram as tradições culturais reunidas sob a égide do domínio.

Nesta proposta de estudos, Catarina Gaspar 190 aponta que a análise de textos com
tipologias distintas auxilia na problematização da utilização prática e tão variada dos nomes
próprios e destaca outra perspectiva, mais teórica, ensinada ao longo dos séculos através das
obras dos gramáticos latinos. Deste modo, complementa a autora, a articulação dos dados
recolhidos na epigrafia com as regras documentadas nas suas gramáticas, especificamente,
permite-nos ter uma visão mais abrangente do uso, da adequação e da mudança que afetaram
os nomes próprios, dando origem ao esquema onomástico utilizado na maioria das línguas
românicas, entre elas o Português191.

Ao estudar os textos situados entre os séculos I a. C./I d. C. e os séculos VIII e IX,


Gaspar destaca que a onomástica ‘evoluiu’ em conjunto com as conjunturas políticas e

189
ENCARNAÇÃO, J. op cit, 2010, p. 80.
190
GASPAR, C. ‘Algumas notas sobre onomástica romana nos gramáticos latinos’. In.: Sylloge Epigraphica
Barcinonensis (SEBarc), VIII, 2010, pp. 153-178.
191
Gaspar, op. Cit. p. 154.
91

socioeconômicas. Citando E. Benviniste192, a autora indica duas grandes transformações nos


sistemas onomásticos: (1) o fracionamento da grande família em famílias distintas e (2) as
antigas divisões sociais fundadas pela descendência genealógica, que progressivamente foi
realocada pelos agrupamentos que determinam um habitat comum. Deste modo, ainda que
nos textos dos gramáticos latinos se repitam palavras como familia e gens, por exemplo, o
significado que lhes é atribuído será diferente no séc. I d. C. ou no séc. VIII d. C., uma vez
que a estrutura social que lhes está subjacente também já é bastante diferente. Em se tratando
das obras dos grammatici latini, a análise ou menção à estrutura onomástica romana é
encontrada nas produções de Varrão (116 – 27 a. C.), Probo (séculos I-II d. C.) e Emílio
Aspro (séculos II-III d. C.), brevemente indicadas a seguir.

Publicada em torno de 45-44 a. C., De Língua latina foi a primeira obra gramatical de
Marco Terêncio Varrão. Dos 25 livros originais, apenas os que vão do V ao X chegaram até
nós, ainda que com lacunas. Dos demais, foram conservados apenas alguns fragmentos por
via indireta193. A parte prática da etimologia e a teórica da morfologia são tratadas entre os
livros V e X. Nestes, o autor utiliza as palavras nomen e uocabulum para designar os nomes
próprios e os nomes comuns, respectivamente. Em sua teoria gramatical, Varrão destaca a
importância da oposição entre o infinito e o finito, determinante para a distinção entre os
nomes próprios e os nomes comuns. Muito embora esmiúce os processos de formação dos
nomes, nos trechos que chegaram até nós não há uma referência direta aos tipos de elementos
que constituíam o nome próprio dos cidadãos romanos194.

Considerado um dos mais importantes gramáticos latinos por Suetônio 195 , Marcus
Valerius Probo (séculos I- II d. C.), na obra Gramatica Latina, no capítulo denominado

192
E. Benveniste. Le vocabulaire des institutions Indo-Européenes. Paris: s/d, 1969, pp. 309-310.
193
GUERREIRA, A. R. ‘Literatura técnica de la época republicana’. In.: CODOÑER, C. (edt.) História de La
Literatura Latina. Madrid: Cátedra, 2007, pp. 766-771. Para a análise de outras obras de Varrão, ver o artigo de
TREVIZAM, M. ‘A atenção de Varrão às palavras no livro III do De re rustica’. In.: Revista Humanitas 63
,2011, pp 355-371.
194
Gaspar, op. Cit. p. 154.
195
De Grammaticis, livro 17. Aqui, consultamos a edição publicada pela Loeb Classical Library, datada em
1914, disponível no projeto Penélope da Universidade de Chicago, disponível no link:
http://penelope.uchicago.edu/, e a tradução integral do texto feita por Marcos Martinho no artigo ‘Suetônio, Dos
Gramáticos’ publicado na Revista Clássica em 2014.
Como indica Martinho, Dos gramáticos, de Caio Suetônio Tranqüilo (entre os anos 69 - 126/141 d. C.), “divide-
se claramente em duas partes: na primeira, o autor narra a introdução, desenvolvimento e florescimento da
gramática em Roma (1-4); na segunda, expõe a biografia de vinte professores de gramática que ensinaram na
Cidade entre o início do séc. I a. C. e meados do século seguinte (5-24). Se na segunda parte narra a vida dos
gramáticos, talvez se possa dizer de modo figurado que, na primeira, narra a vida da gramática mesma” (2014, p.
251).
92

Romanorum nomina, pronomina ac cognomina 196 , utiliza um esquema descritivo para a


classificação dos nomes que inclui uma definição de nome, ‘como o que designa um ser’,
além de acrescentar a distinção entre nomes próprios e comuns (em particular ou em geral).
Na sequência, Probo diferencia os nomina generalia e specialia, por fim, distingue os nomes
próprios (designados para deuses e homens) dos nomes apelativos. É nesse âmbito que
apresenta os quatro elementos que compõem os nomes próprios dos homens: o praenomen, o
nomen, o cognomen e o agnomen.

O último gramático a ser citado é Emílio Aspro (séculos II-III d. C.) que, em sua obra,
Ars grammatica, oferece uma definição geral de nome como parte da oração que que tem
valor apelativo. Além disso, enumera e exemplifica os quatro tipos de nomes próprios:
praenomina gentilia cognomina agnomina. Como salienta Gaspar, Aspro ‘utiliza o adjetivo
gentilia como uma alternativa à forma mais comum, o substantivo nomen, o que destaca a
relação deste elemento onomástico com a gens’. O autor, finaliza a autora, ‘introduz em
seguida uma referência ao número de elementos que podem constituir a frase onomástica: um,
dois, três ou quatro’197.
No contexto provincial, os registros dos nomes estão distribuídos em textos de
distintas tipologias e apresentam várias combinações entre os elementos que compõem as
formas de identificação. Na observação das fórmulas onomásticas, inúmeros fatores precisam
ser considerados, dentre eles, o estado fragmentário da inscrição devido às sucessivas
reutilizações dos suportes que teriam, portanto, danificado a superfície epigráfica ou
provocado a perda de parte dos textos. Outro fator consiste numa possível escolha, por parte
de quem encomendou a placa ou monumento, em registrar apenas parte da fórmula
onomástica em virtude do tamanho do campo epigráfico 198. Por fim, há de se considerar
ainda a possibilidade de estarmos perante aos diferentes usos e ‘níveis de adoção’ da
onomástica latina, hipótese esta considerada por autores como José d’Encarnação e Greg
Woolf.

196
O único fragmento que encontramos dessa obra está na Biblioteèque Nationale de Frànce. Trata-se de um
manuscrito do século XV (1499) editado por Joannem de Tridino (Venetiis) que fora microfilmado e
disponibilizado no catálogo online Gallica – Bibliothèque Numérique (acessível no link: http://gallica.bnf.fr/).
A tradução que usamos foi realizada da Profa. Dra. Catarina Gaspar (Universidade de Lisboa) presente no
trabalho publicado na Sylloge Epigraphica Barcinonensis (SEBarc – em 2010). Infelizmente não encontramos
a edição citada pela Professora, por isso, cotejamos a tradução proposta por ela com o documento do século XV
e seguimos sua leitura.
197
Op. cit, p. 156-157.
198
Superfície na qual a inscrição era gravada.
93

Neste momento cabe-nos indagar o que os dados de nosso corpus epigráfico têm a
informar sobre a Província da Lusitânia. As epígrafes em análise concentram-se entre os
séculos I d. C. e as primeiras décadas do século II d. C. Para tanto, optamos por apresentá-los
reunindo-os por conventus e decantados nas tabelas analíticas, ambos apresentados a seguir.

Conventus Pacensis

O conjunto das inscrições do Conventus Pacensis registra 184 indivíduos, sendo 22


mulheres e 162 homens. Esse contingente está distribuído por 11 civitates.
Entre as mulheres, verifica-se que 02 são identificadas apenas com o cognomen e 01
liberta é referenciada com nomen e cognomen (em dois registros, nº 165 e 119). Quatro
mulheres são registradas com nomen e cognomen e a menção ao papel desempenhado na
família; 05 são mencionadas com nomen e cognomen e filiação e outras 05 incluem nessa
fórmula onomástica o papel desempenhado em suas famílias. Há o registro de 03 flamínicas
nomeadas com nomen e cognomen. Destas, 01 indica também a filiação e sua naturalidade, 01
inclui o registro de sua filiação e outra registra também a sua condição de mãe. Há apenas 01
registro que identifica a mulher apenas com o seu papel familiar de ‘mãe’. Todos os registros
foram reunidos na tabela a seguir:

Tabela 2 – Identificação das Personagens Femininas – Conventus Pacensis


Nº Identificação Filiação Identificação Social Função Pública
104 Corânia - - -
104 Octavia - - -
119 Júlia Prima - Liberta de Gaio -
165 Júlia Prima - Liberta e Esposa de -
Gaio Júlio Galo
085 Estelina Prisca - Mãe de Gaio M. -
Prisciano
109 Calpúrnia Sabina - Esposa de Quinto -
Júlio Máximo, mãe
de Quinto Julio Claro
e Quinto Júlio
Nepociano
161 Bébia Búcia - Mãe de Quinto R. -
Tusco
153 Júlia Rufina - ‘a mãe’ -
122 Túlia Tusca Filha de Hábito 05 anos -
167 Numitória Máxuma Filha de Quinto - -
116 Caleia Severina Filha de Tito - -
116 Quíncia Avita Filha de Quincio - -
104 Júlia Albura Filha de Tito - -
062 Mânlia Faustina Filha de Tito Irmã -
116 Júlia Márcia Gêmina Filha de Tibério Amiga ótima -
110 Júlia Avita Filha de Quinto Mãe de um decênviro -
94

156 Lúria Búcia Filha de Tito Mulher de G. Julio -


Severo
166 Aquília Cara Filha de Câmulo Esposa de Publio -
Anônio Silão
(marido), 56 anos
076 Flávia Rufina Filha de Lúcio Natural de Mérida Flamínica da província
da Lusitânia, Flamínica
perpétua da Colônia
Emeritense e do
Município Salaciense
106 Labéria Gala Filha de Lúcio - Flamínica do Município
Eborense, Flamínica da
província da Lusitânia
107 Júnia Verecunda - Mãe de Gaio A. Flamínica perpétua do
Flavino município eborense
122 - - ‘a mãe’ -

Dentre os homens, 05 indivíduos são registrados apenas com o cognomen; 09 com


praenomen e cognomen. Dos que registram apenas alguns elementos dos tria nomina, 16
incluem também o registro de alguma magistratura, 04 incluem a filiação, 03 incluem filiação
e a menção à tribo.
Os dados explicitados na tabela 03 indicam que, em meio àqueles que são
identificados com os tria nomina completos (praenomen, nomen e cognomen), 05 adicionam
a tribo, 08 incluem alguma função pública, 06 adicionam a filiação, 04 apresentam também a
filiação e alguma função pública, 20 são os casos de indivíduos que se identificam com tria
nomina (completos ou com ausência de um elemento) associados à filiação e ao registro da
tribo de pertença e 12 inserem ainda a magistratura.

Tabela 3 – Identificação das Personagens Masculinas – Conventus Pacensis

Nº Identificação Filiação Tribo Distinção Social Cursus honorum


072 Atiliano (?) - - Herdeiro por -
sucessão
091 Modesto - - Escravo de -
Marco C.
Quadrato
072 Caudicário (?) - - - -
098 Optato - - - -
154 Lucio - - - -
052 Mario Maximo - - - -
052 Geminio Callisto - - - -
055 Gaio Calpúrnio - - - -
055 Lúcio Átio - - - -
068 Tito Junio - - Colono de -
Berilo
069 Fábio Isas - - Herdeiro de -
Gaio A.
Januario
153 Mário Máximo - - Pai de Mário -
95

Quintiliano
084 Alfurio [---] Cenesio - - - -
215 Quinto Pórcio (ou - - - -
Pompeu)
120 Júlio Sabino - - - -
45 Aulio Castricio Philon - - - -
050 Lucio Vareio Samiario - - - -
050 Lucio Celio Optato - - - -
050 Caio Acilio Comato - - - -
050 Lucio Axio Tiro - - - -
050 Caio Iulio Felicior - - - -
052 Quinto Iunio Avitiano - - - -
052 Lucio Aemilio Themisão - - - -
052 Lucio Publicio Urbano - - - -
052 Lucio Caecilio Plocamo - - - -
052 Lucio Licinio Fruto - - - -
052 Lucio Caecilio - - - -
Nymphodoto
052 Macro Fabio Myrtilo - - - -
052 Lucio Caecilio Symphoro - - - -
052 Marcos Iulio Avitatiano - - - -
052 Lucio Livio Martial - - - -
052 Lucio Licinio Calvo - - - -
052 Lucio Annio Lapilliano - - - -
052 Lucio Caecilio Liberal - - - -
052 Lucio Herennio Cosconio - - - -
052 Lucio Aelio Superste - - - -
052 Cnaeu Acilio Rufo - - - -
052 Quinto Iunio Chrysantho - - - -
052 Marco Caecilio Urbano - - - -
052 Lucio Licinio Opilio - - - -
055 Gaio Vibio Quintiliano - - - -
055 Marco Vérrio Gémino - - - -
060 Lúcio Cássio Celer - - - -
061 Gaio Licínio Bádio - - - -
063 Lúcio Pácio Marciano - - - -
063 Lúcio Gélio Tuto - - - -
063 Lúcio Pácio Basileu - - - -
063 Públio Rutílio Antígono - - - -
063 Tito Mânlio Êutiques - - - -
063 Tito Mânlio Eutiquião - - - -
063 Tito Meclónio Cássio - - - -
063 Publício Alexandre - - - -
Letiliano
073 Marco Castrício Lucanião - - - -
073 Gaio Valério Paezão - - - -
116 Lúcio Quincio Priscião - - - -
122 Quinto Álfio Modesto - - - -
151 Gaio Norbano Júnio - - - -
152 Quinto Júlio Cordo - - - -
169 Gaio Anio Valente - - - -
170 Tito Gateio Quieto - - - -
086 Quinto Petrônio Materno - - - -
102 Marco Júlio Avito - - Olisiponense, -
30 anos
117 Lúcio Hélvio Flaviano - - - -
085 Gaio Mário Prisciano - - Filho muito -
dedicado
067 Lúcio Júlio Apto - - Nasceu ‘em -
terra itálica’,
96

morreu na
Hispânia, viveu
como hóspede
no território
069 Gaio Átio Januário - - Médico Pacense -
074 Gaio Pórcio Severo - - Mirobrigense -
céltico, 60 anos
068 Berilo - - Liberto de Procurador, Vigário dos
Augusto serviços administrativos,
Reorganizador dos coutos
mineiros.
004 Turo (?) - - - Magistrado
058 Esperado - - - Administrador
057 Anio Primitivo - - - Sexvirato
068 Gneu Cláudio - - - Cônsul
114 Cornélio Boco Flâmine da Província
162 Tibério César - - - Cônsul
072 Marcos Júlio Marcelo - - - Edil e Duunviro
103 Gaio Júlio Juliano - - Duunviro
066 Gaio Júlio Marino - - - Duunviro
066 Gaio Márcio Optato - - - Duunviro
162 Lúcio Élio Sejano - - - Cônsul
162 Lúcio Fulcínio Trião - - - Legado de Tibério César
099 Quinto Petrônio Materno - - - Duunviro
099 Gaio Júlio Juliano - - - Duúnviro
151 Dextro Filho de Lucio - Herdeiro -
077 Vicano Filho de Búcio - - -
154 Décimo Júlio Filho de Eborense, 30 -
Décimo anos
164 Quinto Axónio Filho de Quinto
153 Mário Quintiliano Filho de Quinto - Natural de -
Olisipo, 18 anos
075 Lúcio Escribonio (Pai de Quinto - - -
Saturnino E. Paterno)
073 Gaio Ágrio Rufo Filho de Silão - Adotado como -
cidadão de
Itálica
118 Lúcio Libúrnio Mus Pai de Lucio L. - - -
Materno
162 Quinto Estertínio Basso Filho de Quinto - -
162 Quinto Estertínio Rufo Filho de Quinto -
162 Lúcio Estertínio Rufino Filho de Quinto -
087 Gaio Júlio Filho de Gaio - - Duúnviro, Prefeito dos
artífices
078 Lúcio Cornélio Boco Filho de Gaio - - Flâmine provincial,
tribuno militar
082 Lúcio Cornélio Boco Filho de Gaio - - Prefeito dos Césares,
Flâmine provincial,
Pontífice perpétuo,
Flâmine perpétuo,
Duúnviro, Edil, Prefeito
dos artífices, Tribuno
militar
083 Lúcio Cornélio Boco Filho de Gaio - - Flâmine provincial,
tribuno dos soldados da III
Legião Augusta
107 Gaio Antônio Flavino Filho de Gaio - - Sexviro júnior, Lanceiro
da 2ª Legião Augusta
113 Gaio (...) Coscônio Filho de Gaio Galeria
159 (...) Lúcio Cecílio Filho de Gaio Papiria - -
97

079 Durônio Modesto Filho de (...) Galeria - -


167 Quinto Átio Rústico Filho de Lucio Sérgia - -
094 Décimo Júlio Saturnino Filho de Galeria - -
Décimo
104 Décimo Júlio Navo Filho de Galeria - -
Décimo
104 Décimo Júlio Saturnino Filho de Galeria - -
Décimo
120 Gaio Júlio Avito Filho de Lúcio Galeria - -
122 Quinto Túlio Modesto Filho de Hábito Galeria 20 anos -
151 Lúcio Júnio Rulo Filho de Lúcio Galeria - -
075 Quinto Escribônio Paterno Filho de Lúcio Quirina - -
063 Tito Rutílio Tusciliano Filho de Quinto Galeria - -
Rutílio
Rusticino, neto
de Tito Mânlio
Marcial
155 Públio Júlio Tangino Filho de Gaio Galeria 50 anos -
156 Gaio Júlio Severo Filho de Lucio Galeria - -
158 Sexto Ebúcio Rufino Filho de Sexto Papiria 45 anos -
160 Lúcio Mário Caprário Filho de Lúcio Papiria - -
045 Aulo Castricio Iuliano Filho de Aulio Galeria Patrono -
161 Quinto Românio Tusco Filho de Quinto Galeria 17 anos -
163 Quinto Sévio Firmano Filho de Quinto Papiria - -
118 Lúcio Libúrnio Materno Filho de Lucio Galeria 23 anos -
152 Júnio Maurico (?) Filho de Galeria - Triunviro
Décimo
090 Marco Aurélio (?) Filho de Gaio Galeria - Dúunviro, Flâmine de
Tibério César Augusto,
Prefeito dos Artifices
092 Lúcio Salviano Filho de Marcos Galeria - Flâmine dos divinos
Augustos
157 Júlio Máxumo Filho de Gaio Galeria - Soldado da VII Legião
Gêmea Pia Félix
062 Tito Mânlio Faustino Filho de Tito Quirina Duunviro
049 Marco Cornélio Persa Filho de Quinto Galeria Patrono de Flâmine da província da
Ossonoba Lusitânia
050 Caio Iulio Felicior Filho de Lucio Quirina Vispaciense ou Flâmine e Duunviro
Olisiponense
079 Lucio Junio Filon Filho de Lúcio Galeria - Duunviro, Flâmine
perpétuo do Divino
Augusto.
080 Lúcio Pórcio Himero Filho de Lucio Galeria - Duúnviro, Prefeito
substituto do Duúnviro,
Flâmine dos imperadores
divinizados.
091 Marco Clódio Quadrado Filho de Galeria - Edil
Marcos,
093 Gaio Júlio Pedão Filho de Gaio Galeria Duunviro, Fâmine dos
divinos (imperadores).
038 Lucio Voconio Paullo Filho de Lucio Quirina - Duúmviro, Flâmine de
Roma e dos (dois) Divinos
Augustos, Prefeito da
coorte dos Lusitanos e da
coorte primeira dos
Vetões, Legado de Roma.
048 Lúcio Ânio Novato - Quirina - -
295 Caio Sentius Capito - Quirina - -
101 Gaio Blóssio Saturnino - Galeria Napolitano de -
África,
98

Areniense
166 Públio Anônio Silão - Quirina 61 anos -
168 Cornélio Galo - Papiria 75 anos -
095 Lúcio Márcio Píero - - Natural de Pax Augustal da colônia
Iulia pacense e do município
eborense
109 Quinto Júlio Máximo - - 48 anos Varão preclaro, Questor da
província da Sicília,
Tribuno da plebe, Legado
da província Narbonense
da Gália, Pretor designado.
109 Quinto Júlio Claro - - 21 anos Jovem preclaro,
Quatuorviro encarregado
das estradas.
109 Quinto Júlio Nepociano - - 21 anos Jovem preclaro,
Quatuorviro encarregado
das estradas.
165 Gaio Júlio Galo - - Natural de Veterano da Legião 7ª
Mérida, Gêmea Félix
patrono, de 70
anos
047 Aurélio Ursino - - - Governador da Província
da Lusitânia
053 Marco Cornélio Eridano - - - Sexvirato
053 Gaio Júnio Recepto - - - Sexvirato
088 - - - - Prefeito dos Equites,
Prefeito dos Artífices
110 - - - - Decênviro para julgamento
de pleitos
096 - - - - Flâmine de Pax Iulia,
Flâmine
105 - - - - Augustal
215 Hémero - - Liberto de -
Quinto Porcio
121 Méssio Artemidoro - - Liberto de Magistrado da Colônia de
Marcos Pax Iulia
106 Lúcio Labério Artemas - - Liberto da -
Flamínica
Labéria Gala
106 Lúcio Labério Galego - - Liberto da -
Flamínica
Labéria Gala
106 Lúcio Labério Abascanto - - Liberto da -
Flamínica
Labéria Gala
106 Lúcio Labério Páris - - Liberto da -
Flamínica
Labéria Gala
106 Lúcio Labério Lauso - - Liberto da -
Flamínica
Labéria Gala
119 Gaio Júlio Níger - - Liberto de Gaio Augustal
99

Conventus Scallabitanus

O conjunto de Inscrições oriunda do Conventus Scalabitanus registram 68 indivíduos:


08 mulheres e 60 homens, distribuídos por seis civitates. Entre as 08 mulheres registradas nas
epígrafes oriundas do Conventus Scallabitanus, 03 são identificadas com nomen e cognomen,
04 registros apresentam nomen, cognomen e filiação, 01 é identificada com o cognomen, a
filiação e a função pública, 02 são identificadas com o nomen e cognomen e indicação
familiar, 01 mulher é mencionada com cognomen e função familiar e 01 é referenciada apenas
em sua função familiar. Merecem destaque os dois registros da flamínica Julia Modesta (um
com a identificação do sacerdócio), e as duas inscrições de Julia Amena, filha de Gaio,
conforme explicitado na tabela a seguir:

Tabela 4 – Identificação das Personagens Femininas – Conventus Scallabitanus

Nº Identificação Filiação Identificação Social Função Pública


213 Julia Modesta - - -
210 Julia Modesta - - Flamínica
126 Julia Amena - - -
127 Julia Amena Filha de Gaio - -
128 Julia Fundaria Filha de Gaio - -
211 Julia Flavina Filha de Gneu - -
131 Julia Aranta Filha de Marco - -
011 Vegeta Filha de Caelio - Flamínica
130 Cesia Avita - “A mãe” -
132 Rutilia - “A mãe” -
129 - - Mãe -

Os registros dos 60 homens encontrados nas inscrições epigráficas catalogadas para


este conventus foram agrupados na tabela 05. Decantando o conjunto, têm-se 01 indivíduo
que se apresenta apenas o nomen, 01, apenas o praenomen, 02 registram o praenomen mais a
filiação, 05 registram o nomen e o praenomen, 02 indicam o nomen, o praenomen e a filiação,
05 registram os tria nomina. Um apresenta apenas a filiação e a tribo, 17 indicam com os tria
nomina, a filiação e a tribo, 03 registram nomen, praenomen, filiação e tribo, 01 identifica-se
com tria nomina e tribo. São 04 os que se apresentam com tria nomina, filiação, tribo e o
cursus honorum, 13 indivíduos são identificados com tria nomina e cursus honorum e apenas
02 registram apenas o cursus honorum.
100

Tabela 5 – Identificação das Personagens Masculinas – Conventus Scallabitanus

Nº Identificação Filiação Tribo Distinção Social Cursus honorum


134 Iulius - - - -
212 Elávio - - - -
014 Severo Filho de Vivio - - -
017 Caburio Filho de - - -
Tangino
139 Lucio Licinio - - - -
139 Caio Julio - - - -
139 Aulo Sedillo - - - -
037 Aulo Molonio - - - -
211 Julio Rufo - - - -
037 Caio Julio Tauro - - - -
011 Marco Gellio Rutiliano - - - -
171 Caio Iulio Filo - - - -
037 Marcio Numerio - - - -
Avitiano
037 Marco Iulio Tauro - - - -
150 Marco Baebio Filho de Marcio - - -
013 Aulo Vitellio Filho de Lucio - - Cônsul
133 - Filho de (...) Galeria - -
149 Cassio Gallione Filho de Gaio Galeria - -
144 Julio Maelo Filho de Caio Galeria - -
144 Quinto Caecilio Filho de Quinto Galeria - -
128 Gaio Julio Rufo - Galeria 25 anos -
147 Marco Petronio Basso Filho de Marcio Galeria - -
148 Caio Tenatio Justo Filho de Caio Galeria - -
123 Quinto Césio Fundano Filho de Quinto Galeria 25 anos -
124 Marco Clodio Avito Filho de Marco Galeria 25 anos -
125 Lucio Coânio Bubo Filho de Lúcio Galeria - -
126 Marco Tório Vitor Filho de Gaio Galeria - -
216 Caio Canídio Fundano Filho de Caio Galeria - -
129 Lucio Licinio Rufo Filho de Lucio Galeria 30 anos -
130 Marco Loreiro Filho de Marco Galeria 25 anos -
Materno
131 Quinto Mario Tangino Filho de (...) Galeria - -
132 Lucio Rutílio Severo Filho de Lucio Galeria 30 anos
140 Caio Ursio Clemens Filho de Publio Galeria 21 anos -
141 Caio Terenio Saturnino Filho de Caio Galeria - -
142 Tito Caleu Salviano Filho de Tito Galeria - -
221 Marco Julio Pisão Filho de Marco Galeria 3 anos -
222 Quinto Cecilio Macro Filho de Caio Galeria - -
223 Marco Clodio Avito Filho de Marco Claudia 25 anos -
146 Tito Callaeu Niger Filho de Tito Galeria - Veterano
143 Publio Staio Suplicante Filho de Caio Galeria 34 anos Flâmine do Divino
Vespasiano
006 Lucio Cornelio Boccho Filho de Lucio Galeria Salaciense Flâmine da província da
Lusitânia, Prefeito dos
artífices, Tribuno militar
da VIII legião Augusta.
137 Caio Iulio Celso Filho de Caio Quirina - Encarregado dos
requerimentos e dos
censos da província
Lusitânia; Tribuno Militar;
Procurador de Neaspolis e
do Mausoléu de
Alexandria; Procurador da
vigésima das heranças nas
províncias Narbonense e
101

Aquitania; Curador das


vias Emilia e Triunfal.
172 Iulio Catulino - - (Liberto) Augustal
135 Nemeteu - - Servo de Administrador da 20ª
Augusto Hereditatium
013 Aponio Capitão - - - Duunviro da colônia
Augusta, Prefeito dos
artífices, Flâmine da
colônia Augusta Iulia
Scallabis, Flâmine da
província da Lusitânia, do
divino Augusto e da divina
Augusta.
013 Gaio Vispanio - - - Cônsul
136 Marco Iulio Marcio - - Liberto de Augustal
Tyrano
001 Marco Afranio Euporio - - - Augustal do municipium
001 Lucio Fabio Daphno - - - Augustal do municipium
002 Gaio Arrio Optato - - - Augustal
002 Gaio Julio Eutico - - - Augustal
213 Sexto Aponiscevo - - - Flâmine da Província da
Flaco Lusitânia.
127 Quinto Aprônio Avito - - - Veterano 22ª Legião
023 Julio Maelo Caudicus - - - Flâmine do Divino
Augusto
174 Marcos Gellio Ruffo - - - Duunviro
174 Lucio Iulio Avito - - - Duunviro
175 Quinto Coelio - - - Duunviro
Cassiano
175 Marco Fulvio Tuscum - - - Duunviro
173 Caio Heio Primo - - - Augustal Perpétuo
219 - - - - Edil, Duunviro, Flâmine
da Província da Lusitânia.
220 - - - 40 anos Duunviro, Flâmine e
Augustal

Conventus Emeritensis

No Conventus Emeritensis identificamos 190 indivíduos, subdivididos em 40 mulheres


e 150 homens, localizados em 16 civitates. Entre as mulheres, 05 são identificadas apenas
com o nome próprio, 12 são referenciadas como ‘filha’ (destas, uma aparece como irmã e
duas como ‘sua filha’), 02 são referenciadas como ‘flamínica’ (sendo Helvia ‘da Província da
Lusitânia’ e Domicia como ‘da Província da Lusitânia, 1ª Flamínica do municipium’, ambas
com indicação da filiação), 01 identificada apenas como ‘filha’ e ‘mãe’, sem a identificação
do cognomen, 01 referenciada como filha e mãe e 01 identificada como filha e esposa; 04 são
referenciadas com cognomen e identificadas como ‘esposa ou cônjuge dulcíssima, 01 é
referenciada apenas como cônjuge dulcíssima, 02 identificadas com cognomen e ‘mãe’, 01
102

mencionada com cognomen e o título de ‘avó’, 01 nomeada apenas como ‘sogra’ e, por fim,
08 libertas referenciadas com o nomen, cognomen, sendo 07 destas com referência ao antigo
dono. Apresentamos a seguir, a tabela com os dados explicitados:

Tabela 6 – Identificação das Personagens Femininas Conventus Emeritensis

Nº Identificação Filiação Identificação Social Função Pública


043 Severa Norbense - - -
226 Vicinia - - -
246 Augusta - - -
Trebaruna
266 Valeria Vernacla - - -
230 Secunda - - -
307 Aurelia Cantinia Filha de Lucio - -
236 Julia Flavia Filha de Cneu - -
008 Coronia Prócula Filha de Publio - -
230 Fábia Filha de Marcio -
233 Valeria Tagana Filha de - -
Duelonio
043 Capera Cocceia Filha de Celso - -
239 Valeria Maxsuma Filha de Caio - -
227 Quintilia Filha de Quinto - -
Norbense
259 Voconia Maria Filha de Caio Irmã -
036 Allia Serania Filha de Caio ‘Sua filha’ -
256 Rufilia Filha de Caio ‘Sua filha’ -
043 Avita Avia Filha de - Recebeu a honra de cada cidadão
Moderato
282 Finix - - Flamínica
234 Helvia Filha de Marcio - Flamínica da Província da
Lusitânia
224 Domicia Filha de Lucio - Flamínica da Província da
Proculina Lusitânia, 1ª Flamínica do
Municipium e perpétua (...)
230 - Filha de Marcio Mãe -
268 Julia Serena Filha de Gneu Mãe do filho -
piedosíssimo
253 Julia Severa Filha de Quinto Esposa
274 Secunda - Esposa -
307 Severa - Esposa -
235 Julia Modesta - Esposa de Sexto -
Aponio Scaevio
250 Minicia Paterna Cônjuge dulcíssima e -
castissima
265 - - Dulcíssima cônjuge -
259 Cecilia Anui - Mãe -
036 Maxuma - Mãe
043 Avita Moderata - Avó -
253 - - Sogra -
248 Papiria Turpa - Liberta de Marcio -
248 Papiria Severa - Liberta de Marcio -
248 Papiria Tapora - Liberta de Mario -
252 Numeria Prima - Liberta de Quinto -
253 Licinia - Liberta de Caio Trelis -
272 Alfia - Liberta de Jucunda -
287 Cecilia Urbana - Liberta de Tito -
265 Julia Optata - (Liberta?) -
103

Entre os homens, os registros apresentam mais elementos para a identificação dos


indivíduos. Além da fórmula onomástica (tria nomina e filiação), do cursus honorum e das
distinções públicas (também vistos entre as mulheres), há o registro da tribo como reforço da
cidadania adquirida. Em alguns casos, observamos também a marcação da origem e da
preservação da identidade étnica. Para o Conventus Emeritensis, mapeamos em nosso corpus
159 indivíduos, sendo 13 libertos (em sua maioria registrados com praenomen, cognomen e
menção ao ex-dono), 31 pessoas identificadas com tria nomina, sem a marcação da filiação,
23 homens com tria nomina e filiação, 31 identificados com praenomen e nomen, 4
mencionados apenas com seus papéis familiares (avô, pai ou irmão), 01 com a inclusão de
uma distinção étnica (Vegeto Turdulo, nº 268) e, por fim, 02 indivíduos mencionados apenas
com seus respectivos cargos (duunviro, prefeito nº 301, e flâmine provincial nº 285), todos
indicados na tabela abaixo:

Tabela 7 – Identificação das Personagens Masculinas – Conventus Emeritensis

Nº Identificação Filiação Tribo Identificação Social Cursus honorum


307 Rufo - - - -
307 P. Modestino - - - -
230 Rústico - - - -
003 Marco Emilio Lépido - - - -
003 Lucio Arruntio - - - -
015 Julio Modesto - - - -
033 C. Saeliano - - - -
238 Albino - - - -
261 Publio Lucrecio - - - -
275 Caecilio Veto - - - -
276 Octobesano - - - -
209 Cancilio Modesto - - - -
248 Papirio Rufo Filho de Marcos - - -
259 Caio Voconio Proculo Filho de Caio - - -
009 Cneo Cornelio Filho de Cneo - - -
030 Marcos Julio Filho de Gaio - - -
030 Julio Rufino Filho de Marcio - - -
030 Caio Valerio Filho de Caio - - -
030 Lucio Macer Filho de Lucio - - -
030 Marcos Aemilio, Filho de Marcos - - -
030 Caio Julio Basso Filho de Lucio - - -
030 Lucio Aemilio Filho de Marcio - - -
030 Lucio Antonio Filho de Marcio - - -
030 Flavio (...) Filho de Lucio - - -
030 Marco Antonio Prisco Filho de Marcos - -
288 Caio Attenio Filho de Publio - - -
218 Vegetino Filho de Vegeto - - -
273 Lucio Hermelio Filho de Lucio Papiria - -
003 Publio MummioUrso Filho de Publio Galeria - -
003 Marco Emilio Fronto Filho de Marco Galeria - -
025 Quinto Julio Augustano Filho de Sexto Papiria - -
225 Marco Vitorio Galba Filho de Lucio Papiria - -
232 Marcos Iunio Filho de Marcos Papiria - -
249 Quinto Servilio Celer Filho de Quinto Papiria - -
251 Lucio Vosconio Filho de Lucio Papiria - -
104

256 Caio Rufo Filho de Julio Papiria - -


268 Lucio Antonio Filho de Lucio Quirina - -
272 Publio Alfio Filho de Tito Papiria - -
268 Lucio Antonio Filho de Lucio Quirina - -
272 Publio Alfio Filho de Tito Papiria - -
303 Lucio Otavio Filho de Lucio Galeria - -
033 Tito Aemilio Saturnino Filho de Tito Papiria - -
254 Publio Curtio Filho de Publio Papiria - -
305 Gaio Fuficio Clemens Filho de Quinto Papiria - -
306 Tito Etrilio Filho de Gaio Papiria - -
287 Quinto Caecilio Filho de Quinto Papiria - -
287 Tito Calventino Filho de Quinto Papiria - -
275 Lucio Publicio Filho de Lucio Papiria - -
276 Lucio Domito Vetto Filho de Tito Galeria - -
253 Publio Vario Filho de Quinto Papiria - -
272 Tito Alfio Filho de Tito Papiria Irmão -
259 Caio Voconio Filho de Caio Papiria Pai -
303 Lucio Otavio Urso Filho de Urso - Neto -
201 Publio Talio Filho de Quinto Papiria - 10ª Legião
246 Marcos Fidio Macer Filho de Fido Quirina - Tribuno, Duunviro
020 Lucio Marcio Avito Filho de Fuscio Quirina - Prefeito
228 Caio Julio Filho de Caio - - Senador do Povo Aug.
018 Lucio Cornelio Balbo Filho de Publio - - Imperator, Patrono
242 Lucio Mario Materno Filho de Tangino - - Decurião 1ª Ala
025 Toutonio, Filho de Arco - - Cônsul
025 Malgenio Filho de Manlio - - Cônsul
025 Celta Filho de - - Cônsul
Arantonio
025 Aminio Filho de Ato - - Cônsul
010 Albino Filho de Albui - - Flâmine
233 Lucio Vibio Reburro - Quirina - -
283 Publio Cincio Rufoino - Papiria - -
226 Marcos Valerio Ianuario - Quirina - -
243 Publio Valerio Cluniense - Galeria - -
283 Publio Cincio Tusco - Papiria - -
283 Publio Cincio Rufoino - Papiria - -
283 Publio Cincio Tusco - Papiria - -
297 Tiberio Claudio Crescens - Papiria Emeritense -
268 Vegeto Túrdulo - - Étnico -
288 Publio Attenio Amável - - Liberto Augustal
275 Thiamo - - Emeritense -
276 Domicio Fortunato - - Patrono -
269 Publio Memmio Ligustino - - - Duunviro
235 Sexto Aponio Scaevio - - Esposo Flâmine da Prov. Lusi.
236 Julio Rufo - - Patrono -
022 Caio Cantilio Modestino - - Evergeta -
024 Caio Cantilio Modestino - - Evergeta -
270 Gemeliano - - - -
285 - - - - Flâmine Provincial
282 Velen - - - -
282 - Filho de Acio - 2 anos -
274 - - Papiria - Soldado
294 - Filho Quirina - -
206 M. Porcio Catão Filho de M. - - Legado de Augusto
229 Lucio Cecilio Rufo Filho de Lucio Scaptia - Legado Propretor
257 Marcos Vibio Rufo - Papiria -
040 Lucio Cesio Filho de Caio - - Imperator
040 Geno Filho de - - Legado
040 Carcão Filho de Catão - - Legado
244 Caio Pompeu Filho de Prisco - - Flâmine, Duunviro
105

245 Quinto Aefulano - - Liberto -


245 Posforo - - Liberto Augustal
247 Marco Tavonio Filho de Marcio - - Soldado da 6ª Legião
247 Publio Sexto - - - Centurião
248 Papirio Modesto - - 4 anos -
248 Marco Papirio Prisco - - - -
250 Gemino Gargiliano - - - Soldado 7ª Gêmina
252 Caio Rubrio Proculo - Papiria 6 anos -
253 Ligur - - Liberto -
253 - - - Sogro -
253 - - - Avô -
254 Publio Curtio Cipaero - - Liberto -
258 Lucio Postumio - - Liberto Galeria
258 Apollonio Norbense - - Liberto Augustal
263 Caio Tito Claudio Filho de Caio - - Procurador
264 Publio Vitalio - - Liberto Tabulario Lusitânia e
Vettônia
264 Estefano - - Liberto e herdeiro -
265 Publio Aelio - - Liberto -
265 Alexandre - - Liberto Tabulário Prov.
Lusitânia
283 - - - Pai -
283 Augustano - - - Militar da 10ª Legião
283 - - - Pai -
301 - - - - Duunviro, Prefeito
016 Caio Antistio - - Liberto -
016 Caio Iucundo Palmenso - - - -
019 Marco Aurelio Fhilo - - De Roma -
231 Severiano - - Liberto Augustal
237 Marco Valerio Secundo - - - Abastecedor 7ª legião
Gêmina
237 Caio Aecio Hedichro - - - -
005 Quinto Audio Faieno - - - Legado, Propretor
266 Domicio Pastor - - - Veterano 7ª Legião
Gêmina
283 Augustano - - - Militar 10ª Legião
012 Caio Arruntio Catelio - - - Legado, Propretor
Celer
012 Lucio Iunio Latro - - - Flâmine de
Conímbriga
015 Sexto Furnio Juliano - - - Legado, Propretor
033 Rufo Juliano - - - Cônsul, Proconsul
255 Publio Clodio - - - Duunviro, Legado
255 Laetto Macrino - - - Propretor
009 Papilio Severo - - - Edil, Duunviro,
Flâmine
020 Marcio Materno - - - Prefeito da Ala dos
Cav.
289 Lucio Alfino Modesto - - - Veterano 7ª Gêmina
239 Caio Valerio Maxsumo - - - Veterano 7ª Gêmina
280 Quinto Julio Montano - - - Soldado 7ª Gêmina
036 Caio Allo Quadrato - - - Questor, Duunviro
040 Caio Mario - - - Cônsul
040 Caio Flavio - - - Cônsul
025 Lucio Damicio Aenobarbo - - - Cônsul
025 Publio Cornelio Scipião - - - Cônsul
203 Caio Licinio Saturnino Duunviro
203 Lucio Mummio Duunviro
Pomponiano
106

Nota-se ainda que em todos os casos emeritenses catalogados não são observáveis os
registros das idades dos indivíduos nas inscrições funerárias. Como evidenciado pelos dados
trazidos, nem todos os indivíduos se orientavam pelo sistema onomástico indicado pelos
gramáticos latinos. Todavia, deve-se considerar a possibilidade da perda material do
monumento ter provocado o estado fragmentado da inscrição e, por consequência, do registro
do tria nomina. Deste modo, uma vez reconhecidos os limites da presente tese, nos gráficos
abaixo apresentamos um mapeamento geral sobre a relação entre os registros dos tria nomina
completos (TC) e incompletos (TI) por cidade no conjunto das epígrafes catalogadas por nós.
107

Conventus Pacensis

Grafico 1 - Quantitativo dos registros da onomástica por civitate

40
30
20
10
0

Trianomina Completos Trianomina Incompletos

Gráfico 2 - Distribuição dos registros dos tria nomina completos por cidade/século
18
16
Nº de Casos

14
12
10
8
6
4
2 T.C. Século III d.C.
0
T.C. Século II d.C.
T.C. Século I d.C.

Civitates

Gráfico 3 - Distribuição dos registros dos tria nomina incompletos por cidade/século
12
10
nº de Casos

8
6
4 T.I. Século III d.C.
2 T.I. Século II d.C.
0
T.I. Século I d.C.

Civitates
108

Conventus Scallabitanus

Gráfico 4 - Quantitativo dos registros da onomástica por civitate

Trianomina Completos Trianomina Incompletos


38

7
3 1 2 1 2
0 0 0 0 0 0 0

Aeminium Aritium Bobadela Olisipo Sellium Scallabis Sem loc.


Vetus Turmulus

Gráfico 5 - Distribuição dos registros dos tria nomina completos por


cidade/século
30
nº dos Casos

25
20
15
10
5 T.C. Século III d.C.
0
T.C. Século II d.C.
T.C. Século I d.C.

Civitates

Gráfico 6 - Distribuição dos registros dos tria nomina incompletos por


cidade/século
1,2
nº de Casos

1
0,8
0,6
0,4
0,2 T.I. Século III d.C.
0
T.I. Século II d.C.
T.I. Século I d.C.

Civitates
109

Conventus Emeritensis

Gráfico 7 - Quantitativo dos registros da onomástica por civitate


Trianomina Completos Trianomina Incompletos

3031

10
5 5 6 6
33 2 11 33 3
00 00 00 00 00 01 10 1 00 00

Gráfico 8 - Distribuição dos registros dos tria nomina completos por cidade/século
12
nº de Casos

10
8
6
4 TC S/D
2 T.C. Século III d.C.
0
T.C. Século II d.C.
T.C. Século I d.C.
T.C. Século I a.C.

Civitates

Gráfico 09 - Distribuição dos registros dos tria nomina incompletos por


cidade/século
5
nº de Casos

4
3
2 T.I. Século I a.C.
1
0 T.I. Século I d.C.
T.I. Século II d.C.
T.I. Século III d.C.
T.I. S/D

Civitates
110

3.1.b A indicação da Tribo

No panorama provincial, a menção da tribo nas epígrafes avança mais um passo na


identificação dos cidadãos. José d’Encarnação 199 destaca que seu uso, mais comum nas
inscrições honoríficas e funerárias, auxilia na investigação do estatuto jurídico do indivíduo e
sua adscrição em um território. Nas dedicatórias, os registros geralmente aparecem indicados
após a filiação, em ablativo e em sigla, por exemplo, GAL(eria), ou PAP(iria). Sobre isso,
Encarnação reforça que, por ser uma circunstância de lugar, indicando o território que o
cidadão está adscrito, perante um locativo, o ablativo é o mais adequado’200. Compreende-se,
então, que a informação já seria comum na linguagem cotidiana, sendo mais comum
mencionar que o indivíduo é ‘da Galeria’, ou seja, sem o reforço do termo TRIBU.

Donato Fasolini201 destaca que, nas análises prosopográficas, o registro da tribu, em


conjunto com os dados onomásticos, contribui para a investigação da ação política dos grupos
e dos indivíduos, viabilizando a compreensão de sua mobilidade interna. Ou seja, permite a
análise da união dos grupos familiares ao permitir a identificação do nascimento dos vínculos
familiares entre famílias. A presença de indivíduos de outra tribo, diferente da tribo mais
comum em uma cidade, por exemplo, pode fornecer dados interessantes para a reflexão sobre
a criação de vínculos familiares e de clientela que permitiam, inclusive, o acesso dos
indivíduos aos cargos municipais.

Na maioria dos casos, a tribo do pai é a mesma dos filhos202, salvo os filhos ilegítimos,
geralmente inscritos em uma tribo distinta daquela do pai biológico 203. Pode haver, ainda,
algumas mutações em decorrência de fatores como per adoptionem, per deductionem in
coloniam, per praemium legis e, ao contrário, per animadversionem censoriam204. Ou seja, há
ocasiões em que o assentamento de um veterano em uma colônia distinta de sua cidade de
origem modifica a adscrição tribal de um filho, que será inscrito na tribo da localidade.
Giovani Forni 205 indica os casos de cidadãos com dupla tribo, isto é, um cidadão de um

199
d’ENCARNAÇÃO, op cit, 2003, p. 127.
200
D’ENCARNAÇÃO, J. ‘ A menção da tribo nas epígrafes: identificação e territorialidade’. In.: Revista Anas
15/16, 2002/2003, pp. 127-132.
201
FASOLINI, D. ‘La indicación de La tribu em el estúdio prosopografico’. In.: Del município a La corte: La
renovación de las elites romanas. CABALLOS-RUFINO, A. F. (Org). Sevilla: Universidad de Sevilla, 2012, p.
135-136.
202
D’ENCARNAÇÃO, J. op cit, 2002/2003, pp. 127-132
203
FASOLINI, D. op cit, 2012, pp. 135-146.
204
FASOLINI, D. op cit, 2012, p. 138.
205
FORNI, G. ‘La tribu papiria di Augusta Emerita’. In.: Revista Augusta Emerita, Madrid, 1976, pp.32-42.
111

município que imigra para outro e o filho passa a ter a tribo local, tendo dupla origem: a de
sua cidade de origem e a que recebeu na cidade que o adotou como cidadão.

Os terceiro e quarto casos remontam, possivelmente, ao período republicano, quando


os censores facultavam ao cidadão a possibilidade de escolher entre a própria tribo ou a que
tinha direito. Juan Francisco Rodriguez Neila206, rememorando as disposições vigentes entre
os séculos II e I a. C., esclarece que, nesses casos per praemium legis, um acusador poderia
ser premiado com a cidadania, caso não a possuísse, ou com a transferência à tribo do acusado
que fosse considerado réu culpado ou condenado207.
A inscrição na Tribo ajuda a obter, então, um panorama mais completo das
ramificações de uma família e da mobilidade dos indivíduos por enlaces matrimoniais, por
cargos em colônias ou municípios diferentes ao de origem e por sua deductio como veterano.
Fasolini208 explicita que, para a análise da posição social dos indivíduos inscritos, apenas o
registro na Tribo é pouco útil. Todavia, em se tratando dos libertos, há ocorrências em Roma
de libertos também inscritos nas tribos urbanas, sendo inúmeros casos agrupados na tribo
Palatina209. Outros casos são mais elucidativos quando associados aos dados onomásticos.
Neste nicho, a Tribo adquire maior significado, pois ajuda a determinar o lugar da origem ou
residência dos inscritos. Uma vez combinados, tais dados permitem a individualização dos
casos mais interessantes das cidades, como os que identificam a origem das famílias que
integraram o ordo decuriorum local.

Em relação ao registro da tribo no conjunto provincial da Lusitânia, é possível


observar 101 ocorrências: 37 contextualizadas no Conventus Pacensis (18 registros em
epígrafes honoríficas, 19 casos em epígrafes funerárias e 02 casos em epígrafes votivas), 25
no Conventus Scallabitanus (19 registros em epígrafes funerárias, 02 registros em epígrafe
votiva e 04 registros em epígrafes honoríficas) e 39 no Conventus Emeritensis (35 registros
em epígrafes funerárias, 06 registros em epígrafes honoríficas).

Os registros investigados apontam a presença das seguintes tribos na província da


Lusitânia: Galeria, Claudia, Quirina, Papiria, Sergia, Scaptia. Em relação à distribuição dos
registros por Conventus é possível identificar uma maior ocorrência da tribo Galeria para os

206
RODRIGUEZ-NEILA, J. F. Confidentes de Cesar: los Balbos de Cádiz. Madrid: Silex, 1992, p.45-46.
207
Para a análise do termo per animadversionem censoriam, ver o discurso de Marco Túlio Cícero na defesa de
Aulus Cluentius Habitus, Pro Cluentio, XLVI, vv.128-130.
208
FASOLINI, D. op cit, 2012, p. 142.
209
Vide os casos registrados no CIL VI, nº 39039. Já na Península Ibérica, registram-se os casos do CIL II, nº
14,31 (= HEp 7, nº 1032 = HEpOl nº 11819), dentre outros.
112

Conventus Pacensis e Scallabitanus, já no Conventus Emeritensis, observa-se a maior


presença de cidadãos inscritos na tribo Papiria, como demonstram os gráficos a seguir. No
que se refere à distribuição dos registros por civitates, no conventus Scallabitanus a maioria
dos registros catalogados contextualiza-se em Olisipo. Já em relação aos Conventus Pacensis
e Emeritensis, tem-se a seguinte proporção:

Gráfico 10 - Distribuição das tribos do C. Pacensis


3%

16% 21% Quirina


Galeria
Papiria
60% Sergia

Gráfico 11 - Distribuição das tribos do C. Emeritensis


3%

20%
Quirina
Galeria
10%
Papiria
67% Scaptia

Gráfico 12 - Distribuição das tribos do C. Scallabitanus

4% 4%

Tribo Galeria
Tribo Claudia
Tribo Quirina

92%
113

No que se refere à distribuição dos registros por civitates, no conventus Scallabitanus


a maioria dos registros catalogados contextualiza-se em Olisipo. Já em relação aos Conventus
Pacensis e Emeritensis, tem-se a seguinte proporção:

16
14
Quantidade

12
10
8
6
4
2
0 Série1

Gráfico 13- Distribuição do registro das tribos por Civitate do Conventus Pacensis

18
16
Quantidade

14
12
10
8
6
4
2
0
Série1

Gráfico 14 - Distribuição do registro das tribos por Civitate do Conventus


Emeritensis

Atendendo às interpretações sugeridas pelos gráficos, é imprescindível reforçar que as


informações apresentadas referem-se à província da Lusitânia e contextualizam-se no corpus
reunido para a presente pesquisa. Assim, os gráficos podem indicar distorções se comparados
a outros corporas que não atendam os mesmos objetivos formulados por nós, uma vez que
fazem referência aos dados coletados. São, portanto, parciais e relativos a um recorte
analítico.
114

As informações epigráficas citadas colocam em evidência dois vetores de identificação


das transformações culturais desencadeadas nas comunidades transformadas em província, a
saber, a introdução e uso da onomástica latina como forma de identificação dos indivíduos e o
registro da Tribo de votação. Nesse aspecto, o alargamento da cidadania romana, as
transformações sociais e o contato com outras culturas e sociedades (com suas formas de
identificação e seus nomes próprios) advindo da consolidação do sistema imperial agregaram
novas referências ao modelo onomástico, modificando sua frase. Diante da pluralidade das
civitates localizadas na província, definimos como estudo de caso a capital provincial,
Augusta Emérita. Articulado ao estudo da produção do espaço social levada a cabo com
fundação colonial, analisaremos a composição dos grupos de cidadãos emeritenses210.

3.2 O caso da capital provincial e as especificidades da sociedade emeritense

A fundação da Colonia Augusta Emerita está circunscrita ao início do território da


Lusitânia Extremenha, constituindo-se em elo intermediário entre a oficialidade romana e o
meio indígena do sudoeste peninsular. Seu estabelecimento foi ordenado pelo Imperador
Augusto no ano 25 a. C. 211 (729 de Roma), ao final da guerra contra os Cântabros e
Ástures212. Esta guerra foi emblemática pelos intensos combates contra as tribos nortenhas e
seu término contribuiu para a pacificação do território, a intensificação da exploração de
importantes minas de ouro e para a submissão total da Península ao domínio romano.
A colônia foi fundada quase no curso médio do extenso vale do Anas (atual rio
Guadiana), em sua margem direita. Nessa região, o rio corre limitado por montanhas que
dividem seu vale em duas partes igualmente férteis, planas e abertas: a hoje denominada
Vegas Altas, ao leste de Mérida, e as Vegas Bajas, que se estendem até o oeste da cidade, até
Badajoz. Na região escolhida para a colônia a corrente do rio, suavizada pelo vale, oferece
uma pequena ilha que divide o leito e facilita a passagem213.

210
Pareceu-nos pertinente retomar, nesta fase analítica, os estudos que desenvolvemos no mestrado a respeito da
colônia Augusta Emerita. No tratamento dos dados integrados à pesquisa do doutorado, as conclusões a respeito
da sociedade colonial emeritense ganharam mais nitidez, de modo que sua recupeação no presente capítulo visa a
contribuir para o aprofundamento estratégico do estudo.
211
Vide o texto de Antonio Marques de Faria em crítica ao posicionamento de Alicia Canto na Revista
Portuguesa de Arqueologia, volume 1, número 1,1998.
212
Dião Cassio, 54, 23, 7., Vide a análise de Giovanni Forni em ‘La popolazione di Augusta Emerita’ (1982).
213
ALMAGRO BASCH, M. La topografia de Augusta Emerita. In.: Bimilenario de la colonia
Caesaraugustana (vol. 1). Zaragoza: Univerciudad de Zaragoza, 1976, p. 191.
115

Esta geografia facilitou a construção da ponte no mesmo período da fundação da


214
cidade . No desenvolvimento da colônia, a ponte sobre o rio Anas teve um papel
fundamental, uma vez que vencia o flúmen e interligava a região com as áreas vizinhas. Além
disso, facilitava o comércio do sul e o norte peninsular, integrando e cruzando antigas estradas
com os trajetos econômico-militares. Através das estradas interligadas pela ponte, chegava-se
à desembocadura do Rio Guadalquivir na antiga Hispalis; à Itálica, primeira fundação romana
na Hispania em 207 a. C., e ainda ao porto de Cádiz, porta do Mar Mediterrâneo.
Do ponto de vista territorial, as transformações da região interagiram com a
reorganização provincial realizada por Augusto – de caráter político e administrativo.
Conforme já mencionamos, com a divisão da antiga província da Hispania Ulterior e a
criação das províncias da Lusitânia e Bética, Augusto reestruturou o território, modificando a
paisagem indígena. A fundação de Augusta Emérita, em 25 a. C., se insere nessa política ao
ser criada para ser o centro nuclear dentro da região e substituir a antiga intercessão viária
local. A nova colônia herdou o papel que Metellinum exerceu como base para as lutas entre
Metelo, Sertório e os Lusitanos, passando a ser o núcleo central da presença romana em um
ponto estratégico do rio Anas. Sua fundação estava diretamente ligada ao programa de
fundações que Augusto desenvolveu na península; em etapas progressivas, tendo como meta
essencial planejar a organização administrativa e a ampliação das redes de comunicações e
defesa do território.
Como indica a tese de Giovanni Forni215 seguida por Antonio Marques de Farias216 e
Patrick Le Roux 217 , embora Augusta Emerita fosse fundada pelos veterani emeriti de
Augusto, os soldados vitoriosos do Imperador, a presença de veteranos na região não atribuía
à colônia uma vocação militar. Simbolizava, claramente, a manutenção de longos tempos de
paz em um diálogo intenso com a representação imperial formulada por Augusto, esta sim,
fundamentada e baseada na vitória e no triunfo de Roma. Sua criação em meio a uma região
que fora palco de inúmeros conflitos militares, seria um marco testemunhal da glória romana.

214
ÁLVAREZ MARTINÉZ, J-M. “Algunas observaciones sobre el ‘territorium emeritense’”. In.: Homenaje a
Samuel de los Santos. Murcia: Albacete, 1988, pp. 185-192.
215
FORNI, G. ‘La popolazione di Augusta Emerita’. In.: Homenaje a Saenz de Buruaga. Madrid: s/e 1982, p.
73.
FARIA, A. ‘Algumas Questões em torno da fundação de Augusta Emerita’. In.: Revista
216

Portuguesa de Arquelogia, volume 1, numero 1, 1998, pp. 161-167.


217
LE ROUX, P. Mérida Capitale de la Province Romaine de Lusitanie. In.: GORGES, J.-G., CERRILLO, E. Y
BASARRATE, T. (Edts.) V Mesa Redonda Internacional sobre Lvsitania Romana: las comunicaciones
(Cáceres, 2002) Madrid: Ministério da Cultura, 2004, pp. 263-265.
116

Tese semelhante é defendida por Francisco Germán Rodríguez Martín 218 que, baseado em
Dion Cásio, Tácito, Higino e Agennio Urbico, aponta que depois da fundação da colônia
iniciou-se um processo de povoamento da região por colonos itálicos e a repartição das terras
às margens do rio Guadiana.
Seguindo a tradição romana, Emérita possuía quatro portas principais localizadas nos
extremos das vias principais, das quais saiam as principais estradas que atravessavam o
perimetro colonial: uma situada a leste, outra a oeste, uma ao sul e outra ao norte da cidade. A
porta norte, que dava acesso à ponte sobre o rio Anas, seguia uma formatação com um duplo
vão de passagem219. De acordo com os estudos de Alvarez Martínez (1981), interpreta-se que
tal formatação corresponderia com uma necessidade de viabilizar o tráfego da saída da ponte,
ou seja, corresponderia a uma porta de entrada e outra de saída, como demonstrado na planta
a seguir:
Planta 1 – Plano urbano e a muralha da colônia Augusta Emerita220

218
RODRÍGUEZ MARTÍN , F. G. ‘El paisaje urbano de "Augusta Emerita: reflexiones en torno al Guadiana y
las puertas de acceso a la ciudad’. In.: Revista portuguesa de arqueologia, Vol. 7, Nº. 2, 2004, 1999, págs.
365-406 1999.
219
Algumas moedas datadas nos primeiros anos da colônia fazem alusão a esta porta em suas representações.
Na parte II (Indexas and Plates) do primeiro volume do Roman Provincial Cainage (44 a.C. – 69 d.C.), 1992;
corresponde aos numistas de número 10, 12, 20, 21, 2, 23/16, 23/17, 24, 25, 27, 30, 31/1, 31/4, 32, 33, 38, 41,
42/15, 42/66, 43 e 44.
220
Plano de Mérida com o traçado da muralha romana com a demarcação do núcleo primitivo da cidade. Fonte:
DURÁN-CABELLO, R-M. El Teatro y el Anfiteatro de Augusta Emerita: contribuición al conocimiento
histórico de la capital de Lusitania. Oxford: BAR International Series 1207 / Archaeopress, 2004, anexos.
117

Como demonstrado no mapa de Corzo Sánches 221 (mapa 5), complementado pela
representação de Jonathan Edmondson 222 (mapa 6), o elo das coordenadas da colônia foi
formado pelo kardo maximus (caminhos 2 e 6) e o decumanus maximus (caminhos 4 e 8). Os
caminhos resultaram de uma planificação que tinha como meta realizar a formação de um elo
de coordenadas e marcos geográficos, com base para a orientação do território circuncidante.
Encontramos, assim, uma organização territorial planificada que culminou na fundação da
colônia.

Mapa 7 – Entrocamento de rotas no território colonial segundo C. Sanchez

221
Fonte: CORZO-SANCHEZ, D.R. ‘In finibus emeritensium’. In.: BLANCO FREIJEIRO, A. (org). Augusta
Emerita: actas del simpósio internacional commemorativo Del bimilenário de Mérida. Madrid: Ministério
del Patrimonio Artistico y Cultural del Ministério de Educación y Ciencia / Patronato de la ciudad de Mérida,
1976, PP.217.
222
EDMONSON, J. Romanization and Urban Developmente in Lusitânia. In: BLAGG, Th.; MILLET, M. The
Early Roman Empire in the West. London: Oxbow Books, 2002, p. 57.
118

Mapa 8 – Rotas da Lusitânia, com destaque para as vias que cortam Augusta Emerita, por J. Edmondson
119

Através das cunhagens monetárias emitidas por Publio Carisio, lugar tenente de
Augusto e fundador da colônia223, sabe-se que na nova cidade foram assentados os soldados
veteranos das legiões224 V Alaudae e X Gemina, ambas combateram nas guerras do norte, ao
lado de mais cinco legiões e suas correspondentes tropas auxiliares 225. Rosália-María Durán
Cabello226 aponta que atualmente é defendida a tese de que a fundação de Augusta Emérita
partiu de um núcleo primitivo mais reduzido e foi crescendo e remodelando-se como
consequência do aumento demográfico. Em decorrência desde incremento surgiram novas
necessidades urbanísticas que deviam ser solucionadas pela administração romana. Uma
dessas soluções consistiu na subdivisão do território emeritense em áreas administrativas
submetidas à administração geral da colônia.
Frente a isso, para a administração de um território tão vasto, foram criadas três
praefecturae227, das quais são conhecidos os nomes de duas: a Turgaliensis, em Turgalium
(Trujillo) e a Mullicensis 228 . Em relação aos limites coloniais, seguindo os estudos de
Álvarez-Martinéz 229 , podem-se apontar: ao sul, os territórios das civitates dos conventus
cornubensis e hispalensis: Lacinimurga Constantia Iulia, Iulipa (possivelmente), Municipium
Iulium (Azuaga), Regina, Curiga-Contributa, Nertobriga Regina, Curiga-Contributa,
Nertobriga e Seria. Ao norte, o campo norbense; na zona oriental, Valdecaballeros e no
ocidente, Borba Estremoz, confluindo com o território de Ebora. Dentro do amplo território
emeritense, foram agrupados importantes núcleos populacionais, interligados à colônia por
estradas (oficiais e secundárias) dos quais destacam-se Lacipea, Rodacis, Geraea, Contosolia,
Caspiana, Perceiana, Cauliana, Evandriana, Turgalium ad Sores.
Na colônia confluíam as estradas do sudoeste da Lusitânia formando um amplo
sistema de comunicações através do qual se organizou todo o território colonial, tendo na

223
Vide as cunhagens publicadas no primeiro volume do Roman Provincial Coinage. From de death of Caesar
to the death of Vitellius (44 bC – AD 69), editado por Andrew Burnett, Michel Amandry e Pere Pau Ripollès,
Paris/ Londres 1992, parte II: Indexes and Plates. São as moedas de número 1 ao 50. Ainda sobre o assunto,
outro importante (e recente) manual foi editado por Christopher Howgego, Volker Heuchert e Andrew Burnett,
“Coinage and Identity in the Roman Provinces”, Oxford, 2005.
224
Sobre este assunto, Farias aponta os posicionamentos de Keppie (1983, p. 83, n. 146), para o qual: «[t]hree
veterans of a legion XX are attested at Emerita within the Augustan period (CIL II 22*, 662, 719). These
cannotbe colonists of 25 B.C., who were drawn from legions V and X, but could document a later
reinforcement». No entanto, Farias ressalta que esta mesma hipótese já fora aventada por Wiegels (1976, p. 272),
que, paralelamente não tenha deixou de contemplar a eventualidade de um pequeno contingente de licenciados
da legião XX ter participado na fundação da colônia em 25 a.C. ao lado dos veteranos das legiões V e X. Vide:
Dion Casio (História de Roma 53:25, 2).
225
Alguns pesquisadores ainda incluem a XX Victrix.
226
DURÁN CABELLO, R-M. El teatro y el anfiteatro de Augusta Emerita: contribuición al conocimiento
histórico de la capital de Lusitania. Oxford: BAR International Series 1202, 2004, p.55.
227
Hyg. De limit. Const., 136.
228
Localizada por Alicia Canto (1989, p.176) na atual Montemolín.
229
ÁLVAREZ MARTINÉZ, J-M. Ciudades Romanas de Extremadura. Barcelona: s/e, 1993, pp.135.
120

colônia, o núcleo de intercessão230. Para tanto, duas pontes, em conjunto com a ponte sobre o
rio Guadiana, realizavam a integração da colônia com as vias de circulação intercolonial, uma
construída sobre o rio Albarrengas que dava saída para as estradas do norte e oeste desde o
cardo máximo (ainda que menor, sua arquitetura e monumentalidade mostram ser
contemporâneas à ponte do Anas) e outra, popularmente denominada de ‘Alcantarilla
Romana’, se localiza fora da cidade, cerca de dois quilômetros ao oeste, servindo para
permitir o acesso às estradas em direção a Olisipo (atual Lisboa)231.
Segundo Álvarez-Martinéz 232 , as estradas seguiam quatro princípios fundamentais:
consistiam em uma forma comunicação segura com as regiões mineiras do noroeste; eram
uma rota de saída para o mar pelos portos naturais da costa atlântica, uma vez que o Rio Anas
só era navegável em Myrtilis; consistiam em um rápido acesso ao Rio Guadalquivir e ao Mar
Mediterrâneo, além de ser uma saída para Meseta , como pode ser visualizado no próximo
mapa.

230
Sobre esta questão, vide os estudos de ALMAGRO-BASCH, 1976:193.
231
BERROCAL RANGEL, L. ‘La urbanistica de Augusta Emerita (I e II)’. In. Revista de Arqueologia n° 71 e
72, Madrid, 1987, p. 45.
232
ÁLVAREZ MARTINÉZ, J-M. Op. cit, 1993, p. 133.
121

Mapa 9 – A colônia de Augusta Emerita (C) e as vias de comunicação interprovincial233

233
MANTAS, V. G. ‘As Cidades Marítimas da Lusitania’. In.: Les Villes de la Lusitanie Romaine:
hiérarchies et territoires : table ronde internationale du CNRS, Talence, le 8-9 décembre 1988, 1990,
pp. 149-205, e ‘A Lusitânia e o Mediterrâneo: Identidade e Diversidade numa Província Romana’. In.: Arquivo
de Beja.Actas das III Jornadas Culturas Identidades e Globalização, tomo I. Beja: Câmara Municipal de
Beja, 199, p. 151-167.
122

Emérita fez parte de um conjunto especifico de cidades caracterizadas como fundações


de paz, isto é, como típicas fundações do período de consolidação da conquista e inseridas na
ideologia que sustentava o conceito de pax romana. Em geral, estas cidades possuíam
denominadores comuns: normalmente fundadas em zonas muito próximas a rios, funcionando
como cidades-ponte que além de integrar vias de comunicação (como o caso de Hispalis,
Scallabis, Corduba), estavam posicionadas como postos de vigilância e defesa de importantes
zonas fluviais. Outro aspecto importante era o fato de que tais cidades estavam ligadas às
rotas mais importantes para a comunicação. Interessante observar que as principais vias destas
cidades (decumanus e kardo) davam continuidade às vias de circulação dentro do espaço
urbano. Assim, Augusta Emerita e sua característica principal de ‘entroncamento de rotas’,
viabilizou uma estratégica interligação com as principais cidades das províncias Lusitania (em
relação ao sudoeste) e a Bética234.

Como demonstra o gráfico de Vicent Clément 235 (Gráfico 15), nas províncias da
Lusitânia e Bética, os romanos aplicaram um modelo territorial pré-estabelecido. No caso
peninsular, trata-se de regiões ricas em produção de minérios e gêneros alimentícios, tais
como o garum236. Nesse sistema, as duas províncias interligadas pelo sistema de rotas que
cruzam Augusta Emerita, são caracterizadas como áreas integradas política e economicamente
ao Império e diretamente submetidas à autoridade romana. As produções mineira, agrícola e
piscícola eram facilmente escoadas para a capital do Império através das vias e portos do
Oceano Atlântico (Olisipo) e do Mar Mediterrâneo (Gades). Ou seja, o antigo sistema de
trocas comerciais que teve lugar no sitio emeritense foi ampliado e integrado ao sistema
econômico gerenciado por Roma em toda Costa do Mediterrâneo e sua expansão pelo Oceano
Atlântico.

234
Encontramos análise sobre esta questão nos estudos de ALMARGO-BASCH, 1976: 192.
235
CLÉMENT, V. ‘Le territoire du Sud-Ouest de la péninsule Ibérique à I’époque romaine: du concepta u
modele d’organisation de I’espace’. In. GORGES, J.-G. et MARTÍN, G. (Orgs) Économie et territoire em
Lusitanie remaine. Madrid: Casa de Velásquez, 1999, pp. 109.
236
Molho de conserva à base de frutos do mar.
123

Gráfico 15 – Integração da Província da Lusitânia no Alto Imperio237

237
Vide o trabalho de Vincent Clement. Op. cit, 1999, p.109
124

Assim como destacado, Emerita era a cidade com a melhor malha de comunicações
dentro do território “lusitano”, unida tanto à Bética, como às terras do oeste e do noroeste
peninsular238. As relações de Emérita com a província da Bética ultrapassavam as questões
relativas aos limites territoriais. Desde antes a época augustana, os territórios que receberam a
província Lusitânia dependiam do ponto de vista administrativo da Hispania Ulterior. Com a
redivisão provincial realizada por Augusto, essa relação administrativa foi intensificada.
Relacionado a isso, é interessante observar que a procuratela per vicesima hereditarum, desde
que o cargo foi criado por Adriano, era desempenhada pelos mesmos indivíduos para as duas
províncias: Bética e Lusitania239. O lugar da residência do procurator era a capital da Bética,
Corduba, todavia, em Emérita existia um núcleo secundário onde se encontrava um
subprocurator. Da mesma forma, a onomástica emeritense apresenta gentilícios romanos que
se encontram plenamente atestados e fixados na Bética, enquanto que os elementos indígenas
são em menor número.

Com a promoção à capital da província da Lusitania, Augusta Emérita recebeu um


novo impulso e florescimento construtivo. Sobre esse tema Walter Trillmich ressalta que os
investimentos iniciais na arquitetura da colônia foram realizados pelo Princeps Otávio
Augusto e seus representantes no governo provincial. Frente a isso, o que se vê nos primeiros
anos de Emérita é a ausência de práticas de benemerência nos grandes monumentos públicos,
seja em sua construção, decoração, ampliação, reforma ou restauração. Como indica o
autor 240 , a progressiva construção e monumentalização de Augusta Emerita fez parte da
estratégia de divulgação da família imperial augustana, de cunho ideológico e voltado à
legitimação do novo sistema político.

Uma vez alçada à condição de capital, a colônia ganhou uma ampla projeção em meio
às demais civitates, ao converter-se no centro referencial da administração romana na região.
Nela se concentravam o governador, assim como os órgãos administrativos que garantiam a
justiça e o recolhimento dos impostos, os edifícios lúdicos e as atividades religiosas ligadas ao
culto ao Imperador, transformando-se em um lugar de circulação de pessoas e idéias. Era ali
que os funcionários romanos se dirigiam para realizar suas tarefas, assim como os
238
ALMAGRO BASCH, M. La topografia de Augusta Emerita. In.: Bimilenario de la colonia
Caesaraugustana (vol. 1). Zaragoza: Univerciudad de Zaragoza, 1976, p.190.
239
SAQUETE-CHAMIZO, J. C. ‘Territorios y gentes en el contexto histórico de la fundación de la colônia de
Augusta Emerita’. In.: NOGALES BASARRATE, T. (Org.) Augusta Emerita: Territorios, Espacios,
Imágenes y Gentes en Lusitania Romana. Mérida: MNAR, 2004, pp. 375-412.
240
TRILLMICH, W. ‘Monumentalización del espacio publico emeritense como reflejo de la evolución histórica
colonial: el ejemplo des teatro’, In.: BASARRATE, T. (Org.) Augusta Emerita: territorio, espacios, imagenes
y gentes en Lusitania Romana – Monografia Emeritense 8, Mérida: MNAR, 2005, p. 279.
125

comerciantes e as elites locais dos municípios, que vinham à capital para resolver assuntos e
para ‘deixar-se-ver’, intentando participar e buscar prestígio na vida e nas istituiçôes da
cidade, como ressalta Martin Almagro Basch241,

“[e]m Mérida, as civitates e gentes dos vetões (desde o Douro à Extremadura


espanhola), os Lusitanos (desde a serra da Estrela ao mar e ao sul do Tejo), os Céltas
da Extremadura e Beja Portuguesa, assim como os conios do Algarbe, entre outras
tribos menores, foram se fundindo nas Assembléias Provinciais celebradas na capital,
principalmente para cumprir a obrigação de render culto ao imperador e, outras vezes,
para tratar dos problemas econômicos, administrativos e até políticos que afetavam
aos governados242”.

O contexto da criação e o desenvolvimento da colônia implicaram diretamente na


sociedade que se constituiu em Augusta Emérita: caracterizada por uma mescla de cidadãos
romanos oriundos da Península Itálica e indivíduos que migraram das cidades locais
estabelecendo residência ou relações na nova civitas. Como colônia de direito romano, seus
cidadãos tinham como estatuto de cives romani, inscritos na tribo papiria e tinham como
característica geral a heterogeidade em relação às origens. Ou seja, o corpo dos ‘cidadãos’ era
constituído por veteranos estabelecidos em época augustea, pelas famílias assentadas por
Otão243 , incluindo as gentes de procedência externa - aceitos mediante adlectio dentro do
corpo de cidadãos na civitas local.

Dito de outro modo, seu estatuto de colonia civium romanorum, garantiu aos
habitantes o direito de cidadania e o Ius Italicum. Este englobava os aspectos fiscais e
jurídicos que conferiam autonomia restrita frente às competências do magistrado cum império
(o governador) e a condição jurídica do solo244. Ou seja, o solo da colônia estava definido
como ager provincialis e, portanto, sujeito ao tributum, uma vez que o Ius Italicum
equiparava as terras dos colonos ao território Itálico de tal modo que a sua propriedade era

241
ALMAGRO BASCH, M. La topografia de Augusta Emerita. In.: Bimilenario de la colonia
Caesaraugustana (vol. 1). Zaragoza: Univerciudad de Zaragoza, 1976, pp. 192-193.
242
Tradução nossa da passagem: “Em Mérida, las civitates y gentes de los vetones (desde el Duero a la
Extremadura española), los Lusitanos (desde la sierra de la Estrella al mar y al sur del Tajo), los Célticos de la
Extremadura y Beja portuguesa, así como los conios del Algarbe, entre otras tribus menores, se fueron
fundiendo en las Asambleas Provinciales que en La capital se celebraban, principalmente para cumplir la
obligación de rendir culto al Emperador y, a la vez, tratar cuantos problemas economicos y administrativos y
hasta políticos afectaban a los governados” (1976, pp.192-193).
243
Tac. Hist. I, 78, 1; Ag.Urb. De Contr. Agror., 44.
244
Este tema será aprofundado no próximo capítulo.
126

regida ex iure Quiritium 245 , compreendendo, especificamente, uma propriedade de pleno


direito. Embora as documentações sejam poucas, tradicionalmente, os historiadores
defenderam a tese de que, em Augusta Emérita, o Ius Italicum acompanhava a immunitas,
com a isenção do tributo246.

A partir das evidencias epigráficas, podemos compreender um perfil específico para


os grupos que constituíam a sociedade emeritense. Como em outras comunidades do mundo
romano, em Emérita uma Assembléia Popular, um senado local ou Curia247 consistiram nos
segmentos sociais em torno dos quais girava o funcionamento da colônia. Seguindo os
estudos de Saquete-Chamizo 248 , no tocante às inscrições que fazem parte do acervo do
M.N.A.R.249, é possível observar que a onomástica emeritense comporta uma considerável
variedade e dispersão de nomina de origens distintas. São documentados 190 gentilícios que
representam 723 indivíduos. Esta situação não é uma exclusividade de Emérita250, todavia, na
colônia, deve-se às deductiones realizadas em seu sitio, através das quais recebeu numerosas
migrações, viabilizando a latinização da onomástica indígena.

Entre os gentilícios de origem republicana é clara a ascendência latina, dentre os quais


se destacam: Cornelius (26 casos), Valerius (39), Iunius (17), Licinius (14), Caecilius (19) e
Aemilius (16), todos com expressivos números no cômputo geral. Sua difusão pode ser
atrelada à origem itálica de boa parte dos primeiros habitantes da colônia e a presença de
governadores romanos na região. Em relação aos gentilícios imperiais, estão documentados
com maior proporção: Claudius (13), Flavius (13), Aelius (12), Aurelius (8), com a exceção
de Ulpius (1). Em algumas ocasiões, sabe-se que se trata de libertos imperiais que,
possivelmente, cuidavam dos assuntos do Imperador a nível local. Além dessas questões,
pode-se destacar, em linhas gerais, a presença majoritária de gentilícios romanos, itálicos, de
procedência latina ou etrusca. Destacamos aqui a presença de gentilícios comuns aos
encontrados na província da Bética tais como: Atenius (7), Annius (6), Ennius (1), Avilius (2),

245
SANTAPAU PASTOR, Mª C. ‘La cateoria jurídica de la tierra em Hispania Romana’. In.: LVCENTVM -
XXI-XXII, Universidad de Alicante, 2002-2003, pp. 191-205. Para uma análise global do tema, ver: FERRETTI,
T. A. Derecho romano patrimonial. México (D.F.): Universidad Nacional Autónoma de México, 1992.
246
SAQUETE CHAMIZO, J. C. Las Elites Sociales de Augusta Emerita. Mérida: MNAR, 1997, pp. 61-62.
247
Esta mesma divisão se encontra nos municípios. Estudos focados em outras colônias hispânicas que
complementam a questão são vistos nas obras de J. M. Serrano, La colonia romana de Tucci, Martos, 1987, p.
67ss; S. Ordóñez, Colonia Augusta, p. 81ss; idem, Colonia Romula, p. 208ss.
248
Op. Cit, p. 77-80.
249
Fruto das escavações de 1973 até 1982, dos estudos de Garcia Iglesias e complementado pelos resultados das
escavações de 1995.
250
Vide os casos já documentados na cidade de Pompéia.
127

Aselius (1), Labelius (2) ou Servilius (6) 251 . Nesses casos, a maioria são membros que
desenvolveram atividades relacionadas à produção e ao comércio de azeite, que através do
estabelecimento de redes de relações familiares, alcançaram níveis de influencia social e
política considerável em suas comunidades, conseguindo em mais de uma ocasião, ascender
ao nível senatorial local – ordo decuriorum252.

Os cognomina documentados em Emérita são igualmente numerosos, todavia, a


predominância dos elementos tipicamente romanos suplanta aos poucos elementos de origem
indígena. Um aspecto interessante a ser destacado é a abundância dos cognomina de origem
‘Greco-oriental’, como Hedychrus, Diophanes, Nicephorus, Achaicus, Halys, dentre outros.
Destacam-se também, os casos de inscrições de nomes com declinação ‘semigrega’, como
Epithumete, Tyche, Methe, Apolaustre, Allage ou Eterpe. Nesses termos, o cognomen Greco-
oriental se relaciona com indivíduos de extração social servil, seja escravos ou libertos253.

Complementando os conhecimentos sobre a sociedade emeritense, outro importante


estudo foi realizado por Giovanni Forni254, nele é combinado às análises do plano urbanístico
de Augusta Emérita (vias de circulação, sistemas de abastecimento e centuriação), o cálculo
da capacidade dos grandes edifícios de espetáculo (teatro, anfiteatro e circo), com as estelas
funerárias a fim de realizar uma estimativa do número de indivíduos a que compunham. De
acordo com seus estudos, a sociedade emeritense sofreu um aumento progressivo e constante
pelo menos até a segunda metade do século I d. C., caracterizando-se por uma grande
diversidade populacional e pela composição mista típica de cidades de grande extensão no
mundo romano. Nas tabelas a seguir, destacamos as regiões de origem dos indivíduos que
migraram para a colônia:

251
SAQUETE-CHAMIZO, J. C. op. cit, 1997.
252
Em relação a este, não devemos direcionar o olhar apenas aos membros da cúria, ou senado local, mas
também, por extensão, as famílias das classes dirigentes da colônia.
253
SAQUETE-CHAMIZO, J. C. op. cit, 1997. p. 81.
FORNI, G. ‘La tribu papiria di Augusta Emerita’. In.: BLANCO FREIJEIRO, A. (Org.)
254

Augusta Emerita: actas del simposio international commemorativo del bimilenario de


Mérida. Madrid: Dirección General del Patrimonio Artistico y Cultural del Ministério de
Educación y Ciencia/ Patronato de la ciudad de Mérida, 1976, pp. 33-42
128

Tabela 8 – Fluxo migratório de outras regiões provinciais para Augusta Emérita 255

Província Cidade Casos Referência


a) DA LUSITÂNIA Aeminium 2 CIL II, 500 (lib.); HAEp, 12-16,
1836=AE, 1962, 65
Ammaia 1 CIL II, 501 (F.)
Aravi 1 CIL II, 502
Conimbriga 2 CIL II, 5264; HAEp., 4-5, 668
Ebora 1 CIL II, 504(f)
Interamnium 3 CIL II, 509, 519, 511 (30)
Lacipaea dei 2 EE, VIII, p. 364, 23 (58 d.C.)
tarmentini
Lama 1 CIL II, 513 (31)
Lancia oppidana 1 CM Badajoz, p. 244, 904;
Lancia 1 CIL II, 5261 (32)
Trascudana
Norba Caesarina 1 CIL II, 503
Pax Iulia 2 CIL II, 516; 517 (f)
Salácia 2[?] CIL II, 518
Tapori 5 CIL II, 519, 520, 521; HAEP., 4-5, 692;
epigrafe inédita? (f.lib. ) (33)
Turduli 1 CIL II
b) DA BÉTICA Italica 2 CIL II, 512 (35)
Osset 1 HAEP., 12-16, 1839
Tucci 1 CIL II, 522
c) DA TARRACONENSE Clunia 1 CIL II, 5265
Palma 1 CAM Badajoz, p. 202, 762
Segobriga 1 Epigrafe inédita ?
Tarraco 1 B. Soc. Antiq. France, 1914, p.34=AE,
1915, 34=CMBadajoz, p.212
Tritium 1 CM Badajoz, p.278,977=HEAp., 677 (36)
d) DE ORIGEM PENINSULAR / Corocuta 1 CIL II, 550
IBÉRICA Lebesinia Auges 1 EE, VIII, P. 365,25
Lobesa Veci 1 EE, VIII, P.370, 39
Medigenius 1 EE, IX, P.35, 72
Pusinca 1 CIL II, 590= EMERITA, XXXVI, 1968,
P. 305=AE, 1968, 210
Reburrus 1 CIL II, 591
Vrotal(a) 1 CM Badajoz, p. 224, 802

255
SAQUETE-CHAMIZO, J. C. op. cit, 1997. p. 81.
129

Tabela 9 – Fluxo migratório interprovincial (Itália e demais províncias) em direção à Augusta Emérita 256

Província Cidade Casos Referência


a) Itália Ateste 1 AE 1952,123, cfr. HAEP., 1-3, 269=AE, 1968, 206
(veterano legionário presente em nosso catálogo, nº 247)
Roma 1 AE, 1961, 48=HAEP. 8-11,14
Vercellae 1 CIL II, 468, CIL V, 6657
Italicus Natione 1 Epigrafe inédita (?)
b) Mauritania Tingis 2 Epigrafe inédita (?)
Maura/Maurus 3 HAEP., 8-11, 1635
c) Numidia Cirta 1 AE, 1911, 91
d) Africa Madauros 1 EE, VII, P. 367, 30
Proconsular Com o cognome 1 EE.VIII, P. 367, 29
Afer
e) Siria Neapolis 1 CIL II, 515
Laudice 3 EP. INÉDITA (?); Syra: CMBadajoz, p.250, 919=HAEP.,
13, 267; Suriacus: EE, IX, P.38, 84.

Deste modo vemos que, se a princípio, a sociedade emeritense era composta


basicamente por veteranos militares, com a promoção à capital provincial deram-se novos
movimentos para o desenvolvimento da colônia e seus grupos sociais. A migração de
numerosos elementos para a cidade tornou seu espectro social mais complexo e seu novo
status administrativo engrandeceu sua importância na província da Lusitânia. De acordo com
as documentações analisadas por Forni 257 , o maior impulso para imigração para Emerita
ocorreu dentro da província da Lusitânia. Tais dados parecem-nos suficientes para considerar
que em Augusta Emérita aconteceu um fenômeno de atração de grupos sociais distintos
viabilizado pelas facilidades que a infraestrutura da colônia proporcionava para os indivíduos,
ou ainda por iniciativa pessoal, para a constituição de família, ou por razões econômicas.

Como buscou-se demonstrar, no presente estudo tomamos a produção epigráfica como


um documento/ monumento, que, quando analisados conjuntamente e cotejados com o
horizonte cultural greco-romano, auxiliam a compreensão da dinâmica social desenvolvida no
contexto provincial. Se, como vimos, a missão primordial do monumento epigráfico consiste
em salvar o indivíduo do mortal medo do esquecimento, a prática epigráfica possibilitou a
inserção do indivíduo no espaço da cidade, integrando-o nos espaços públicos.
Concordamos com Claudia Beltrão da Rosa ao considerar que nas distintas cidades do
Império Romano, a vida comum assumiu a forma de um imenso espaço marcado por uma

256
SAQUETE-CHAMIZO, J. C. op. cit, 1997.
FORNI, G. ‘La popolazione di Augusta Emerita’. In.: Homenaje a Saenz de Buruaga.
257

Madrid: s/e 1982, pp. 74-79.


130

‘cultura convivial’ que sustentava redes de relações que, por sua vez, criavam e recriavam
linguagens, e compartilhavam um espaço marcado por ‘comunicação e performance’ social. A
vida comum é vista, nesta leitura, como um processo contínuo de criação e recriação de
identidades, alteridades, no qual objetos, utensílios, edifícios, rituais, ações e crenças
compartilhadas são mutáveis, assim como as pessoas que os criam, experimentam, utilizam e
vivenciam258. Deste modo, complementa a autora, viver na cidade romana implicava viver o
jogo social, os ritos, as religiões nas diversas práticas de sociabilidade.
De fato, as estelas funerárias e as homenagens públicas e votivas que povoavam os
espaços públicos foram os alicerces para a sobrevivência simbólica de pessoas que atuaram no
mundo em que viviam, mas não apenas isso. Tais produções materiais, quando reunidas e
analisadas sob o ponto de vista empírico, auxiliam a problematizar as práticas sociais, as
relações de poder e os vínculos sociais constantemente resignificados em meio aos espaços
públicos e privados que deram forma ao Imperium. Todavia, não se pode obliterar que os
registros epigráficos aqui analisados são parciais e restritos ao grupo social que tinham
condições de financiar sua produção.
Os registros aqui apresentados inserem-se numa cultura política muito particular, onde
o ‘ver’ e ‘ser visto’ fazia parte do jogo político. Como destaca Maria Isabel D’Agostino
Fleming, na medida em que as elites locais adquiriram status na aristocracia imperial, devem
ter tido que se identificar, primeiramente, como membros da nobreza romana e,
posteriormente, como membros das sociedades locais 259 . Logo, os intensos e dinâmicos
contatos culturais devem ser visto num contexto de extrema variabilidade.
Nessa perspectiva, as adaptações da onomástica e a adoção seletiva de elementos do
estilo de vida romano, são vistos como catalisadores deste processo, sobretudo por
decorrerem das diferentes respostas dos indivíduos em relação aos distintos níveis de diálogo
com o sistema cultural romano. As produções epigráficas provinciais resultam, assim, de
mudanças nas formas de representação social materializadas em outras formas de
identificação e inclusão em uma rede social ampla, que comporta valores e atitudes mais
cosmopolitas e heterogêneos frente aos sistemas locais de organização social, com base nas
relações de parentesco e regras sociais de comportamento260.

258
ROSA, C. B. ‘Cotidiano e sociabilidades, a congregatio imperial’. In.: SILVA, G. (et all) Cotidiano e
Sociabilidades no Império Romano. Vitória: Editora GM, 2015, p.9.
259
FLEMING, M. I. D. ‘Cotidiano e sociabilidades no Império Romano e as vasilhas de metal para banquete’.
In.: SILVA, G. (et all). Cotidiano e Sociabilidades no Império Romano. Vitória: Editora GM, 2015, p. 41.
260
FLEMING, M. I. D. op cit, p. 42.
131

Capítulo 4 - As formas de integração e as redes de comunicação das elites provinciais


lusitanas

No contexto imperial romano, a rede social desenvolvida nas cidades provinciais


englobava grupos diversos. Cidadãos romanos, libertos ricos e pobres, artífices, comerciantes,
proletários e escravos, jornaleiros pobres, pessoas de origens distintas que davam forma às
comunidades e povoavam as estradas, os centros urbanos e propriedades rurais que
integravam as civitates 261 . Nas províncias replicou-se o modelo social aristocrático, já
conhecido na República: eram os grupos das elites que integravam as instâncias
governamentais da cidade, aqueles que possuíam um alto nível econômico262, cuja riqueza
poderia ser oriunda da produção agrícola ou, como veremos nos casos da província da
Lusitânia, da exploração mineira, do comércio marítimo e da produção pesqueira.

Ao englobar uma monumental extensão territorial, o Império compreendia cerca de


1.000 cidades com estatutos jurídicos diferenciados. A maior parte destas possuía de 10 a
15.000 habitantes aproximadamente, ou, por vezes, 20.000 263 . Contudo, a cidadania era
restrita a poucos e sua concessão dependia do processo de conquista e dos estágios do projeto
de colonização que se desenvolvia em cada região anexada.

Augusto em sua obra Res Gestae, indica que no ano 28 a. C. existiam 4. 063.000
cidadãos romanos, número que se altera no ano 8 a. C. para 4.233.000 e, no ano 14 d. C., para
4.937.000, de acordo com os estudos de A. N. Sherwin-White 264 . Se considerarmos tais
valores, podemos conjecturar que seu rápido crescimento pode ser compreendido pela atuação
conjunta de vários fatores, tais como: a estabilização das guerras de conquista, a fundação de
novas cidades, o alargamento da urbanização e pela integração dos habitantes provinciais no
conjunto do Imperium.

Depois desse rápido avanço, a política de concessão da cidadania foi contida por
Tibério (entre os anos 14 – 37 d. C.), voltando a aumentar no reinado de Cláudio (entre os
anos 41-54 d. C.), quando Tácito indica mais de 1 milhão de cidadãos no ano 48 d. C 265. Sob

261
ALFÖLDY, op. cit., p. 108-109.
262
RODRIGUEZ NEILA, J. F. & MELCHOR GIL, E. Poder central y autonomia municipal: la
proyecciónpública de las elites romanas de Occidente. Córdoba: Grupo Ordo/Servicio de Publicaciones de la
Universidad de Cordoba, 2006.
263
Cifras presentes em ALFÖLDY, op. cit., p. 114.
264
SHERWIN-WHITE, A. N. The Roman Citizenship. Oxford University Press, 1973, p. 221.
265
Annais, 11, 25.
132

os Flávios, a cidadania passou a ser concedida a territórios pouco conhecidos e, por fim, no
reinado de Caracala (entre os anos 211-217 d. C.), quando, através da Constitutio Antoniniana
(datada no ano 212 d. C.), a cidadania romana foi concedida a todos os habitantes livres do
Império.

Nas últimas décadas, a análise da formação e das funções políticas das elites
provinciais romanas ganharam novas investigações. No aprofundamento dos conhecimentos
já consagrados sobre o tema, outros arranjos teórico-metodológicos266 evidenciaram aspectos
mais profundos a respeito da formação e consolidação dos grupos. Assim, a compreensão da
estrutura funcional, o estudo da mobilidade social, das formas de integração e composição dos
grupos, suas respectivas redes de influência, a materialização das alianças políticas, das ações
e representações do poder dos indivíduos receberam um lugar de destaque nas pesquisas,
evidenciando os aspectos essenciais e dinâmicos intrínsecos à vivência no território
provincial267.

Dialogando diretamente com tais investigações prosseguimos em direção ao último


eixo de estudos sobre as comunidades provinciais, a saber, a análise das formas de integração
jurídicas, administrativas e econômicas das elites lusitanas no conjunto do Império Romano.
Para tanto, recorremos à análise comparativa das leges municipais e imperiais e das epígrafes
públicas que compunham a monumentalidade dos espaços das civitates.

Efetivamente, das primeiras colônias fundadas por César, à nova realidade provincial
promovida por Augusto e ampliada pelas dinastias Alto Imperiais, é possível identificar
mudanças significativas tanto no tratamento da administração romana na região como nas
respostas da província a esse tratamento (e vice versa). No contexto provincial da Lusitânia, a
ampliação do acesso às magistraturas e da mobilidade social dos indivíduos nos instigam a

266
Tanto para atualizar os estudos e a montagem das bases de dados prosopográficas como na proposição de
novas abordagens para o estudo sobre o cursus honorum dos membros dos ordines senatorial, equestre e
decurional.
267
No estudo da Península Ibérica, uma das expressões desse movimento revisionista é desenvolvida pelo Grupo
de Investigação das Oligarquias Romanas do Ocidente – ORDO, sediado na Universidade de Sevilha e com
intensas interlocuções com importantes instituições de Portugal, França Itália, Bélgica, Holanda, Reino Unido,
Áustria e Alemanha. Tendo como precursores os Professores Carmen Castillo García, Juan Francisco Rodríguez
Neila, Joaquín Gómez Pantoja, Antonio Caballos Rufino, Javier Navarro Santana e Enrique Melchor Gil, é fruto
da parceria inicial entre as Universidades de Alcalá de Henares, Córdoba, Navarra e Sevilla. As atividades de
investigação desenvolvidas pelo grupo concentram-se no estudo dos processos de promoção e vertebração social
que caracterizaram o império romano, sendo o objetivo central a compreensão do surgimento, das identidades,
dinâmicas e das peculiaridades funcionais das elites hispano-romanas, tanto a nível municipal como imperial.
Assim como também, a atuação dos componentes da aristocracia imperial que exerceram as tarefas político-
administrativas. Para mais informações, consultar o link: http://personal.us.es/caballos/?page_id=278, acedido
em 01 de dezembro de 2015, as 14h 46 min.
133

aprofundar a investigação em torno dos desdobramentos ou as respostas das leges municipalis


da dinastia Flávia e da legislação de Caracala. Indagamos a produção epigráfica a fim de
verificar as especificidades deste processo e mapear as possíveis transformações no hábito
epigráfico desenvolvido na região em estudos.

Plínio – o velho, em sua História Natural 268 , destaca que ‘nos anos em que a
República sofreu as turbulências das desordens políticas, o Imperador Vespasiano Augusto
generalizou a toda a Hispania o direito latino269’. O testemunho de Plínio nos faz conhecer
um dos pontos fundamentais da história da Hispania romana no Alto Império, a saber: a
concessão do ius Latinum para toda a Península Ibérica por Vespasiano. Como assinala
Mauricio Pastor e Héctor F. Pastor Andrés270, este pode ser considerado um dos momentos
fundamentais para compreender a utilização do Direito romano como estratégia para finalizar
o processo de integração da região e da organização político-administrativa de todas as
cidades da Hispania e, com isso, dirimir as distinções jurídicas que existiam entre as civitates.

Destarte, o ius latium271 desempenhou um papel fulcral como veículo de integração


das comunidades peregrinas da Hispania. Através dele, Roma reconhecia os iura e instituta
locais das comunidades em questão e facilitava aos membros das elites locais o acesso à
cidadania romana, a civitas Romana per honorem, através do desempenho de alguma
magistratura municipal. Com a extensão do ius Latium passaram a conviver em uma mesma
comunidade cives latini e cive romani. Neste sentido, a comunidade contaria já com os
requisitos básicos para transformar-se em uma comunidade de ordenamento jurídico
tipicamente romano, isto é, em um municipium. Tal estatuto era entendido como uma
categoria jurídica concebida como marco genérico de referência no qual Roma podia pôr em

268
PLÍNIO, Naturalis Historia, Livro III, 3, 30: ‘Universae Hispaniae Vespasianus Imperator Augustus,
iactatum procellis rei publicae Latium tribuit’ – ‘O Imperador Vespasiano Augusto generalizou a toda a
Hispania o direito latino, que tinha sido atingido pelas tormentas do estado’ (tradução de Amilcar Guerra
disponível na obra: Plínio-o-Velho e a Lusitânia. Lisboa: Edições Colibri, 1995, p. 31.).
269
Tradução de Maurício Pastor e Héctor F. Pastor Andrés publicada no texto: ‘El Derecho como forma de
integración em la Hispania romana’. In.: BRAVO, G. & GONZÁLEZ SALINERO, R. (Edt.) Formas de
integración em el mundo romano. Madrid: Signifer Libros, 2009, p. 287.
270
Op. cit, p. 288.
271
ESPINOSA, ESPINOSA, D. ‘El ius latii y la integración jurídica de Occidente: latinización vs romanización’.
In.: Espacio, Tiempo y Forma, série II, História Antigua, t. 22, UNED, 2009.; GARCÍA FERNÁNDEZ, E. ‘El
ius Latii y los municipia latina’. In.: Studia historica. Historia antigua, nº 9, 1991 (Ejemplar dedicado a: Ius
latti y derechos indígenas en Hispania), págs. 29-42.
134

prática o ordenamento institucional através do exercício dos indivíduos que atuariam na


administração local272.

Posto isto, a extensão do ius latium supunha a conversão imediata da comunidade em


uma comunidade de estatuto municipal, sem a necessidade de um período de interinidade ou
de virtualidade municipal273, concluído apenas com a emissão de uma Lex municipalis por
parte de Roma274. De acordo com os relatos de Gaio275, Vespasiano teria estendido à Hispania
o latium minus. Uma das hipóteses para a compreensão de tal adjudicação consiste na
pretensão do Imperador em melhorar as bases econômicas da recém-criada dinastia Flavia ao
viabilizar a criação de novas elites, surgidas através das novas comunidades municipalizadas.
Deste modo, outros estudos276 apontam que toda a comunidade peninsular que não possuía o
estatuto municipal, a partir do ano 70 d. C., passou a experimentar a promoção logo após a
recepção do ius Latium. Ou seja, todas as comunidades que não possuíam esse estatuto
passaram a tê-lo a partir deste ano.

Aqui, cabe uma ressalva já indicada em outros momentos da presente investigação:


somente os civis romanus possuíam a cidadania e estavam submetidos ao direito romano no
cotidiano de suas vidas. Os demais indivíduos livres que viviam dentro do Império eram
considerados peregrini e estavam submetidos ao direito de seus lugares de procedência. Entre
civis e peregrini existiria, então, um estatuto jurídico intermediário, o civis latinus, ou seja,
aqueles indivíduos ou cidades que haviam recebido o ius Latium e que também se regiam pelo
ordenamento jurídico romano, ainda que somente em determinados aspectos. Além disso,

272
RODRIGUEZ NEILA, J. F. ‘A propósito de la noción de municipio en el mundo romano’. In.: Hispania
Antiqua, nº 6, 1976, pp. 147-149; PASTOR, M. & PASTOR ANDRÉS, H. F. ‘El Derecho como forma de
integración em la Hispania romana’. In.: BRAVO, G. & GONZÁLEZ SALINERO, R. (Edt.) Formas de
integración em el mundo romano. Madrid: Signifer Libros, 2009, p. 288-299.
273
Ortiz de Urbina defende a existência de uma municipalidade virtual nos artigos ORTIZ DE UBINA, E.
‘Derecho latino y municipalización virtual en Hispania, Africa y Gallia’. In.: ORTIZ DE URBINA & SANTOS,
J. (Edt.) Teoría y prática del ordenamiento municipal em Hispania. País Vasco: Vitória/Universidad del Pais
Vasco, 1996 e Las comunidades hispanas y el derecho latino: observaciones sobre los procesos de
integración local en la práctica político-administrativa al modo romano. País Vasco: Vitoria Gasteiz
/Universidad del País Vasco, 2001.
274
Para Pastor & Pastor Andrés, op cit, p. 298; a noção de municipalidade virtual não parece apropriada na
relação Latium – promoção municipal, se admitirmos que o ius Latium já seja reconhecido como ajustado ao
direito romano dos iura e os instituta locais da comunidade indígena. Para os autores é evidente que, a partir
deste reconhecimento, já hajam as condições indispensáveis para que o municipium comece a funcionar.
Todavia, concretamente em Hispania, a presença de testemunhos de municipia de promoção Flavia demonstraria
como no momento em que havia civis romani e o ordenamento institucional indígena se homogeneizava à
romana, surgia já o municipium como tal sem que tivessem que esperar que o mesmo fosse criado mediante uma
lei municipal. De fato, a lei já existia como marco de referencia desde Vespasiano (entre os anos 68 - 79), mas
que fora colocada por escrito possivelmente por Domiciano (entre os anos 81 – 96).
275
GAIO, Inst. I, 95.
276
RODRIGUES NEILA, J. F. Sociedad y administración local en la Bética romana. Córdoba: Publicaciones
del Monte de Piedad y Caja de Ahorros de Córdoba, 1981.
135

estavam os que habitavam fora das fronteiras do Império e que eram considerados
estrangeiros (barbarii, dedititii) e, por último, os escravos.

Diversos testemunhos epigráficos destacam a presença de tais categorias jurídicas na


Hispania desde fins do século III a. C., quando toda a franja mediterrânica e os vales da
Bética (sul peninsular) já haviam sido conquistados por Roma. Como vimos no capítulo 2, na
Península existiram diferentes tipos de civitates peregrinae: foederatae, que haviam firmado
um pacto de aliança com Roma (foedus); as stipendiariae, que deveriam pagar um tributo
anual (tributum, stipendum) e estavam submetidas ao controle do governador; as liberae, que
desfrutavam de ampla autonomia e não estavam sujeitas à autoridade do governador, ainda
que tivessem que pagar tributos (stipendia) e as taxas de alfândega (portoria) e, por fim, as
civitates liberae et immunes, cidades livres, autônomas e isentas do tributo anual por
privilégios especiais 277 . Em tais cidades, o ordenamento jurídico atribuído por Roma
constituía o direito de seus respectivos povos, as disposições da ordem pública e as normas do
ius gentium278.

277
Para aprofundar os estudos em outras frentes analíticas, vide: HARDY, E. G. Roman Laws and Charter:
three Spanish charters and oders documents. New Jersey: The Lawbook Exchange, 2005; SACO del
VALLE, A. O. ‘El território de las civitates peregrinas en los tratados de agrimensura: las civitates del noroeste
hispano’. In.: Revista Habis, nº 33, 2002, pp. 389-406; BOWMAN, A. K., CHAMPLIN, E. & LINTOTT, A.
The Cambridge Ancient History, Volume 10: the Augustan Empire 43 B.C. - 69 A.D. Cambridge:
Cambridge University Press, 1996.
278
Pareceram-nos pertinentes as reflexões de Paulo Emílio Vauthier Borges de Macedo sobre o ius gentium: O
ius gentium remonta a organização tribal, anterior à monarquia – que foi instituída ao mesmo tempo em que a
Cidade, em 754 a. C. – com um significado bastante diferente de direito internacional. A organização social da
península itálica baseava-se, nesses princípios, num sistema denominado “gentílico”, porque constituía o direito
das gens, das pessoas que pertenciam ao mesmo clã ou a clãs aparentados. Era possível distinguir entre “o ius
gentilicum que regia as relações entre as classes superiores e as inferiores no seio de uma mesma gente, o ius
gentilitatis que compreendia as leis em vigor no seio da classe superior dos gentis e o ius gentium que regulava
as relações entre as diferentes gentes”. A gens representava tanto a fonte normativa como o fato jurídico por
excelência; as normas jurídicas originavam-se e destinavam-se à gens romana. Mais tarde, o ius gentium romano
passou a aplicar-se àquelas relações entre os estrangeiros (peregrini) entre si e com os cives romanos. Tratava-se
de um conjunto de ordenações cujos destinatários eram seres humanos, não organizações políticas. Além disso,
consistia num direito intra gentes, não inter gentes. A partir de 242 a. C., era ministrado por um praetor
peregrinus, uma figura itinerante; fator que permitiu que seus editos pudessem harmonizar propostas culturais e
tradições jurídicas distintas. O pretor precisava, pois, privilegiar os acordos reais, não os vínculos formais, a
substância, em vez da forma, pois esta é própria de uma só comunidade e não se pode universalizá-la com
facilidade. Nos contratos, deveria privilegiar a volutas, o consensus, ainda que a forma fosse precária. Essa
qualidade destaca-se do restante do direito romano, formalista por essência. Mesmo nos seus primórdios, já se
delineia a tarefa fundamental desse ramo: “governar as relações entre os estranhos‟, entre seres que não
pertencem à mesma tribo, ao mesmo clã, à mesma nação, à mesma cultura, mas que compartilham somente uma
humanidade comum”. Deste modo, o ius gentium recepcionava e reelaborava os usos e costumes dos outros
povos. Introduziu-se assim um corpo de ius aequum caracterizado pela preferência pela vontade real, em vez de
uma fórmula instrumental; uma exigência de universalidade para favorecer a comunicação. Ademais, a noção de
bona fides, de fidelidade com a palavra empenhada, ocupava posição central. A boa fé revela-se fundamental
para a estabilidade e a perenidade das relações comerciais e constitui uma garantia de credibilidade pessoal.
Além de relações comerciais, Roma estabelecia com os estrangeiros relações de patronato, amicitia e hospitium.
O ius gentium, assim, ocupava-se também da preservação dos mores. Esses conteúdos éticos tornavam o direito
136

Além destas estavam as coloniae e municipium, cidades nas quais os cidadãos


romanos ou latinos organizavam-se e regiam as relações sociais a partir das leis outorgadas
pelo governo central. Todavia, do ponto de vista jurídico, nem todos os colonos ou munícipes
gozavam da mesma tipologia de cidadania. Certo é que todos os cidadãos romanos ou latinos
pagavam o tributo soli. Em se tratando da condição pessoal dos habitantes da Hispania, é
possível identificar as seguintes categorias jurídicas: servi, dedititii, peregrini, cives Latino
iure, cives Romani sem o ius Italicum e, por fim, o civis Romani optimo iure.
Seguindo os estudos de Pastor & Pastor Andrés279, o peregrino nascido livre, primeiro
devia conseguir o direito latino para depois alcançar a cidadania através do ius Latium. Além
disso, também poderia receber a promoção através do serviço militar, que viabilizava o acesso
direto ao grupo dos civis Romanorum sem passar pela latinidade 280 . Outra possibilidade
consistiria na concessão da cidadania de forma excepcional pelo Senado ou pelo próprio
Imperador, como favor especial, tanto para o indivíduo como para o conjunto de uma
comunidade constituída enquanto colônia civium Romanorum. Neste último caso, os
indivíduos não perderiam os vínculos pessoais nem os direitos jurídicos que tinham em sua
antiga cidade, mas sim que a cidadania romana equivaleria a uma espécie de vinculação
jurídica com o Império, permitindo-os a conservação do antigo direito de cidadania e a
manutenção dos benefícios do ius gentium281.
Vale destacar que diante da pluralidade de tipos de cidadania, era o ius Latium que
obrigava o desempenho de uma das magistraturas municipais e viabilizava o acesso à
cidadania per honorem e, com ela, a aquisição da condição de civis romanus (ius latium
minus). Deste modo, o que se percebe a partir do ano 75 d. C., é um movimento progressivo
de acesso de novos magistrados anuais e suas respectivas famílias à cidadania romana. Para
mais, já com Adriano (entre os anos 117 – 138), o pertencimento à Cúria ou ao Senado local
abriu para os indivíduos com cidadania latina o acesso à cidadania romana (Latium maius),
dando um passo à diante na promoção dos grupos de elites provinciais. De todo modo, a
distinção entre os municipia civium Romanorum e os municípios de direito latino seguiu pelo

das gentes mais próximo do direito natural do que do direito positivo. Dessa feita, como o ius gentium
apresentava-se como um conjunto de normas universais, com um processo de formação bastante vinculado ao do
costume – o qual se perde em tempos imemoriais –, não se deve estranhar o fato dele ter sido, não raro,
confundido com o próprio direito natural. In.: DE MACEDO, P. E. V. B. ‘A genealogia da noção de Direito
Internacional’. RFD-Revista da Faculdade de Direito da UERJ, n. 18, 2011.
279
Pastor & Pastor Andrés, op cit, p. 303.
280
Apenas após o serviço militar, aproximadamente 25 anos, quando obteria o diploma de honesta missiocom a
concessão da cidadania real. No corpus epigrafico da pesquisa, registramos um caso no municipium Olisipo,
localizado no Conventus Scallabitanus, vide nº 270 do anexo I.
281
Vide um caso do registro de origem e cidadania em cidades distintas no nº 101 do corpus epigráfico da
presente tese.
137

menos até 212, quando Caracala promulgou a Constitutio Antoniniana, concedendo a


cidadania romana a todos os habitantes livres do Império. Mesmo assim, na Península tal
medida não deve ter gerado um grande impacto, uma vez que já se podia conquistar a
cidadania mediante o exercício do decurionato municipal ou outra magistratura, como
veremos a seguir282.

4.1 As leges e os procedimentos de integração jurídica e de vinculação sócio-administrativa

Civitas, urbs, populus. Na literatura latina283, uma série de termos foi utilizada para
designar as relações socioespaciais desenvolvidas nos territórios anexados ao domínio
romano. Em breves linhas, sabemos que Civitas designaria o ordenamento sócio-jurídico da
cidade, isto é, trata-se de um conceito básico relacionado a uma organização política
diferenciada e regida por uma lei dotada de direito e instituições, sendo também interpretada
como cidadania. Urbs, por sua vez, referia-se à estrutura material do núcleo urbano e populus,
ao conjunto de homens vinculados por meio da civitas 284 . Entretanto, será na produção
epigráfica que encontraremos as informações a respeito da dinâmica local dos procedimentos,
estruturas administrativas e jurídicas das cidades localizadas nos territórios transformados em
província.

No contexto epigráfico, dois tipos documentais nos são úteis para a investigação, a
saber, os estatutos municipais 285 , que apresentam informações sobre o funcionamento das
cidades; e o heterogêneo conjunto dos textos honoríficos, funerários, votivos e monumentais
que nos apresentam uma parcela dos indivíduos que vivenciaram a dinâmica política em sua
plenitude. Quando analisados de forma comparativa, os textos viabilizam o reconhecimento
de alguns indivíduos que desempenharam um papel público preeminente a nível municipal,
provincial ou imperial, suas expectativas do poder, as gradações das funções desempenhadas,
os vínculos entre as famílias e as formas de relação entre as sociedades municipais e entre
estas e o governo central.
282
Pastor & Pastor Andrés, op cit, p. 304; BRADEEN, D. W. ‘Roman citizenship per honorem’.In.: The
classical Journal, nº 54, 1959.
283
Aqui citamos De Res Publica, de Marco Tulio Cícero, De Architectura, de Vitrúvio, Geographica, de
Estrabão, o Naturalis Historia de Plínio – o – Velho como algumas das produções importantes para o estudo da
temática.
284
NOVILLO LOPEZ, M. A. ‘La administración cesariana em la Província Hispania Ulterior’. In.: BRAVO, G.
& GONZÁLEZ SALINERO, R. Formas de integración en el mundo romano.. Madrid: Signifer Libros, 2009,
p. 282.
285
GARCÍA FERNÁNDEZ, E. ‘Sobre la función de la lex municipalis’. In.: Gérion, nº 13,Madrid, Servicio de
Publicaciones de la Universidad Complutense, 1995.
138

Na cultura política latina, as normativas municipais resultam da resposta romana à


questão agrária e ao processo de integração das comunidades cívicas italianas na
‘romanidade’ evidenciados durante a crise tardo-republicana286. Sua consolidação é fruto de
uma larga tradição institucional e resulta da experiência administrativa romana com as
comunidades itálicas, cuja formatação foi desenvolvida a partir de um longo processo de
adaptação e revisão. Deste modo, seu sentido histórico fundamenta-se na sistematização e
implantação dos estatutos municipais e coloniais nas comunidades, consolidando a integração
provincial subsequente ao processo de conquista287.

O início das formulações das normativas municipais remonta ao contexto dos Bellum
Sociorum 288 , as chamadas ‘Guerras Sociais’ ocorridas entre os aliados italianos (socii),
desejosos por manter sua autonomia local e a política expansionista da cidade de Roma289.
Como tentativas de solução das clivagens, foi publicada a Lex Licinia Mucia, em 95 a. C.,
contra a obtenção da cidadania pelos aliados. Todavia, a atenuação dos conflitos veio apenas
com a promulgação de um conjunto de leges encabeçado pela Lex Iulia (90 a. C.), através da
qual Roma outorgou a cidadania às cidades itálicas que haviam permanecido fiéis ou que
solicitassem a integração jurídica e administrativa; seguida pela Lex Plautia-Papiria (89 a.
C.), que concedia a cidadania a qualquer itálico que viesse a inscrever-se dentro de dois meses
nos registros do pretor e finalizada pela Lex Pompeia (89 a. C.), que outorgou o direito latino
às cidades da Galia Cisalpina que ainda não o tivessem, beneficiando as cidades situadas a
norte do rio Pó290.

Como desdobramentos deste processo, viu-se a progressiva substituição das


normativas locais por estatutos em consonância com as tradições jurídicas romanas, ou seja,
adequados às fórmulas jurídicas da organização da Urbe. Para Antonio F. Caballos Rufino291,
as promulgações legais que deram cabo às ‘Guerras Sociais’ não apenas generalizaram a

286
Vide o trabalho de FREDERIKSEN, M. W. ‘The republican municipal laws: errors and drafts’. In.: Journal
of Roman Studies 55, 1965, pp. 183- 198.
287
CABALLOS RUFINO, A. F. ‘Referencias a senados municipales en las leyes municipales y coloniales’. In.:
MELCHOR GIL, E; PÉREZ ZURITA, A. D. & RODRIGUESZ NEILA, J. F. Senados municipales y
decuriones en el Ocidente romano. Sevilla/Cordova: Universidad de Sevilla / Universidad de Cordoba, 2013,
pp. 35 - 55.
288
CRAWFORD, M. H. ‘How to create a municipium: Rome and Italy after the social war’. In.: Bulletin of the
Institute of Classical Studies Special Issue: Bulletin of the Institute of Classical Studies Supplement 71:
Modus Operandi ,Volume 42, Issue S71, February 1998, pp. 31–46,.
289
CABALLOS RUFINO, A. F. op. cit., 2013, p. 36-37. Vide ainda BRUNT, P. A. Italian Manpower: 225 a.
C, - 14 d. C. Oxford: Clarendon Press, 1987.
290
CHRISTOL, M. & NONY, D. Roma e o seu Império: das origens às invasões bárbaras. Lisboa:
Publicações Dom Quixote, 1999, p. 121.
291
CABALLOS RUFINO, A. F. op cit, 2013, p. 36.
139

cidadania, como imprimiram um ritmo forçado ao processo de assimilação das estruturas


organizativas romanas pelas comunidades italianas. Para o autor, a reordenação institucional
foi o fundamento ‘para a geração de um sentimento estatal forte’, levado à diante por Roma
através da difusão de uma expressão estandardizada do municipium. Conceitualmente, tal
‘normatização’ equivaleria a uma referência legal aplicada a qualquer tipo de categoria
jurídica urbana, resultante de um processo de progressiva homogeneização e que remonta a
um projeto de recompilação da legislação surgido com Pompeu, culminado em Augusto e
arrematado pelos Flávios. Desta forma, se está perante a um processo com desenvolvimento
orgânico, advindo da progressiva incorporação do corpo legal prévio das normativas
sucessivamente promulgadas e vinculadas à temática municipal292.

Em relação à tipologia do texto epigráfico, tais documentos abarcam o conjunto da


epigrafia jurídica 293 , formada pelas leis coloniais e municipais, cujo objetivo fundamental
consistiria no reforço da comunidade cívica e na consolidação dos limites de sua autonomia,
sobretudo no tocante aos argumentos de caráter jurídico e administrativo. No âmbito público,
Roma ditou uma série de leis ou disposições para estruturar a administração na Hispania. Em
conjunto com a organização provincial, a regulamentação interna das colônias e municípios
através das leges datae, isto é, promulgadas por um magistrado em virtude da autorização que
lhe conferia uma lei comicial, e não de leges rogatae, que eram votadas diretamente nos
comícios294.

Os estatutos fundacionais das colônias, por exemplo, assumiam a forma de leges


datae, assim como os regulamentos dos municípios e províncias e a concessão do direito de
cidadania. Desde o início do Império, as leges datae se converteram em atos legislativos
específicos do Imperador que as usava tanto para conceder a cidadania aos soldados
licenciados (veteranos), como para regulamentar o funcionamento de colônias e municípios.
Tais leis eram gravadas em bronze e expostas em locais públicos, sendo posteriormente

292
CABALLOS RUFINO, A. F. op cit, 2013, p. 37.
293
Em conjunto com o Corpus Inscriptionum Latinarum de Theodor Mommsen, está, para o estudo das fontes
jurídicas romanas, a obra formulada em 1909 por Carolus Georgius Bruns, intitulada Italian Iuris Romani
Antiqui (Tubinga). Dentre os corporas mais recentes merecem destaque a obra em dois volumes editada por M.
H. Crawford, Roman Statutes (BICS Supplement 64). London: Institute of Classical Studies, 1996, e o
exaustivo trabalho organizado por Allan Chester Johnson, Paul Robinson Coleman-Norton, Frank Card Bourne,
intitulado: Ancient Roman Statutes: a translation with introduction, commentary, glossary and index.
Clark/New Jersey: The Lawbook Exchange, 2003.
294
D’ORS, A. Epigrafia jurídica de la España Romana. Madrid: Ministerio de Justicia, 1953.
140

guardadas em arquivo público municipal. Assim sendo, seu desconhecimento não eximia os
cidadãos de seu cumprimento295.

Na Hispania, foram encontradas algumas leges datae e outros documentos jurídicos,


como diplomas militares (diplomata militare), tabulas de patronato e hospitalidade (tabulae
patronatus et hospitales), dentre outros. No conjunto ocidental do Império, em relação ao
montante das leges conservadas 296 , é possível observar dois grupos: (a) as leis que
teoricamente originariam de uma mesma tradição jurídica, tais como a Lex Osca Tabulae
Bantinae, a Lex Municipii Tarentini e a Lex Coloniae Genitivae Iuliae, e (b) as leis coloniais e
municipais que apresentam uma orientação mais específica, particularmente a Tabula
Heraclensis, a Lex de Gallia Cisalpina, além dos regulamentos cívicos da Hispania.

No contexto peninsular, a maioria das legislações conservadas consultadas por nós faz
referência à província da Bética e contextualizam-se no conjunto das legislações municipais
de época Flávia, datadas no governo de Domiciano, estando diretamente ligadas à concessão
do ius latium por Vespasiano. O conjunto abarca quarenta fragmentos, dentre os quais, seis
apresentam o município identificado e localizado, a saber: a Lex Flavia Irnitana (Irni), a Lex
Flavia Malacitana (Malaca), a Lex Flavia Salpensana (Salpensa), a Lex Flavia Villonensis, a
Lex Flavia Ostipponensis e Lex Italicensis297.

Como vimos, a organização política do Império se apoiava num suporte triplo


evidenciado pela Assembleia de cidadãos (comitium), cujas competências eram basicamente
eleitorais; os magistrados, entre os quais se destacam os duunviri, que teoricamente
possuiriam autoridade suprema e dirigiriam a vida cidadã, os aediles, que se encarregavam do

295
Pastor & Pastor Andrés, op cit, p. 306.
296
Dentre as normativas conservadas e datadas, Crowford (op. cit, 1996, número 16 ao 25) apresenta a seguinte
relação das Leges:
Para a Península Itálica:
- Tabula Heraclensis – IV a. C.
- Lex Tabulae Bantinae e a Lex Osca Tabulae Bantinae: século II a. C.
- Lex Municipii Tarentini – entre os anos 90 – 62 a. C.
- Fragmento I B de Falerio e Fragmento II de Falerio – 70 a. C.
- Lex Antonia de Termessibvs – 71 a. C.
- Fragmentos II e III de Veleia – fins do período republicano.
- Fragmento de Este.
- Fragmento B da Coleção Bauer.
- Fragmento de Susa – período Julio-Claudio.
- Fragmento de Fiésoli - período Julio-Claudio.
- Fragmento da Galleria Degli Uffizi – período Augústeo.
- Fragmento do Pacio Medici Riccardi – período Augústeo.
No tocante às legislações hispânicas, tem-se a Lex Coloniae Genitivae Iuliae – de época cesariana (da cidade de
Urso, na Província da Bética).
297
Dos outros trinta e um fragmentos não se sabem a procedência nem a localização.
141

controle e supervisão dos mercados, dos lugares e edifícios públicos e sagrados, dos
quaestores, responsáveis dos assuntos financeiros da comunidade e, por último, o Senado ou
ordo decurionum, composto pelos membros da elite local, que exerceriam o controle direto
sobre os magistrados e decidiriam sobre os assuntos mais importantes para a vida da
comunidade298.

No caso peninsular, as informações conhecidas a respeito das funções dos decuriões e


magistrados municipais e coloniais da Península advêm, em sua maioria, da análise conjunta
das leges supracitadas com a Lex Coloniae Genitivae Iuliae299 (LCGI), o estatuto da Colonia
Iulia Genitiva, estabelecida na cidade de Vrso por Julio César, desenvolvido por Antônio e
implementado com as consecutivas adequações normativas pelo então governador da
Província da Hispania Vlterior, C. Asinius Pollio. Também conhecida como lex
Ursonensis300, o documento registra a lei fundacional da colônia realizada por César após a
batalha de Munda em virtude da Lex Antonia de 44 a. C., segundo pode ser compreendido a
partir do texto da própria lei 301 . Em linhas gerais, na análise do texto, identificamos as
subsequentes sessões temáticas:

298
Pastor & Pastor Andrés, op cit, p. 306; GONZALEZ FERNANDEZ, J. Bronces Juridicos romanos de
Andalucia. Sevilla: Fundación Antonio Machado, 1990, p. 18.
299
A referida Lex encontra-se conservada em cinco conjuntos documentais dos quais um fragmento e partes dos
primeiros capítulos do texto recuperados no mercado de antiguidades, e uma tabula com o registro dos capítulos
13 ao 19 e a primeira linha do 20 recuperada de um forno de refundição do século XVIII na parte moderna da
cidade de Osuna estão conservadas no Museu Arqueológico de Sevilla. Cinco tábuas de bronze procedente do
fórum colonial e outros 11 fragmentos conhecidos como ‘Bronces de El Rubio’ encontrados em Sevilla estão no
Museu Arqueológico Nacional em Madri.
300
Desde fins do século XIX, multiplicaram-se as bibliografias dedicadas ao estudo da Lex Ursonensis. Dentre
os estudos mais citados estão os de M. Rodríguez de Berlanga, Los bronces de Osuna, Málaga (1873) e Los
nuevos bronces de Osuna (1876).
Já na década de 90 do século XX, são referências a edição editada por J. A. Pachón e M. Pastor, Los bronces de
Osuna y los nuevos bronces de Osuna (1995), publicado pela Universidade de Granada acompanhada por um
estudo preliminar; o artigo publicado por Ángel Gómez-Iglesias Casal na revista Studia Historica: historia
antigua, 15-16, pp. 247-266, intitulado ‘Lex Ursonensis cap. 109: la tutela en la Lex Ursonensis y la ley
municipal’ (1997).
A partir dos anos 2000, têm-se os trabalhos El nuevo bronce de Osuna y la política colonizadora romana
(2006), publicado por A. Caballos em Sevilla.
Já o texto da Lex foi publicado no CIL II, nº 5439; CIL II, nº 2, 5,1002; por D’Ors Epigrafia jurídica de la
España Romana. Madrid: Ministerio de Justicia, 1953; vê-se também em J. Gonzales Fernandez em Bronces
Juridicos romanos de Andalucia. Sevilla: Fundación Antonio Machado, 1990 e A. Stylow ‘Texto de la Lex
Ursonensis’. In.: MANGAS, J. & GARCIA GARRIDO, M. (Edt) Studia Historica: historia antigua, 15 (La
Lex Ursonensis: estúdio y edición crítica), 1997, pp. 269-302.
301
Capítulo LXVI: quos pontífices quosque augures C. Caesaris quive iussu eius coloniam deduxerit fecerit.
Complementado pelo capítulo CXXV: in decurionum loco ludos spectare vetatur, nisi qui yum magistratus erit
iussi C. Caesaris dictatoris. Texto disponível em: Pastor & Pastor Andrés, op cit, p. 306.
142

Tabela 10 a. Eixos temáticos e referências gerais LCGI

Eixos temáticos e referências gerais LCGI Capítulos

a. Sobre o uso das finanças públicas 13,65,69,70,96,134

b. Sobre o exercício da função de decurião 17,105,124

c. Sobre a organização das atividades cotidianas 64,128

d. Referências para a gestão dos espaços públicos 80,82,98, 99

e. Sobre a ‘política externa’ da cidade 92,131

f. Sobre a gestão das relações sociopolíticas no cotidiano da civitas 97,100,125,126,127,130

g. Sobre as atividades militares da cidade 103

h. Sobre a relação entre os magistrados e a administração urbana 129

Especificamente na LCGI não há o registro da palavra Senatus como referência à


Assembleia Colonial, somente as palavras ordo, em duas ocasiões, decurião, registrada 14
vezes no singular, e decuriões, com 88 ocorrências no plural. Abaixo, na tabela 10b 302 ,
apresentamos uma síntese das referências às atividades políticas do alto escalão municipal.

302
Tabela desenvolvida a partir da seleção e tradução publicada por Caballos Rufino, op cit, pp. 44 – 46.
143

Tabela 10 b. – Atribuições políticas e atividades públicas dos decuriões na LCCI

Capítulo Texto Requisito para aprovação


Cap. 13 Aprovação dos duunviros para a apresentação de fiadores e a Para aprovação é requerida
hipoteca de prédios como garantia do manejo do dinheiro a presença do mínimo de 25
decuriões.
público por parte dos duunviros e prefeitos;
Cap. 17 Requisito de dignidade e idoneidade para a função de decurião;
Cap. 64 Proposta dos duunviros aos decuriões sobre quais dias e Para aprovação é requerida
quantos desejam que estes sejam festivos e sobre quais a presença do mínimo de
2/3 dos decuriões
cerimônias oficiais devem fazer e quem deve realizá-las;
Cap. 65 O dinheiro público oriundo das multas deve ser utilizado para
cerimônias públicas e nada mais;
Cap. 69 Proposta dos duunviros aos decuriões da atribuição das Para aprovação é requerida
quantidades para o pagamento aos arrendatários dos sacrifícios a presença do mínimo de 20
decuriões
e os objetos de culto;
Designação e pagamento da quantidade aos arrendatários de Para aprovação é requerida
acordo com o decreto decurional; a presença do mínimo de 30
decuriões
Os duunviros devem se ocupar do pagamento aos arrendatários NI303
segundo foi decidido em proposta decurional, sempre que não
seja do dinheiro para as cerimônias sagradas;
Cap. 70 Decisão decurional sobre os espetáculos gladiatórios e NI
representações teatrais nos quais cada duunviro deve gastar
não menos do que 2.000 HS de dinheiro próprio e um máximo
de 2.000 HS de dinheiro público;
Cap. 80 Decisão decurional sobre a encomenda das gestões públicas; NI
Cap. 82 Necessidade de decreto decurional para a venda ou NI
arrendamento de campos, bosques e edifícios designados aos
colonos;
Cap. 92 Decisão sobre o envio de embaixadas por parte dos decuriões a Para aprovação é requerida
proposta dos duunviros. O eleito que não tenha desempenhado a presença da maioria dos
decuriões e o apoio com o
a Embaixada pode designar em seu lugar um substituto entre voto da maioria presente
os decuriões.
Cap. 96 Um decurião pode pedir a um duunviro que informe aos NI
decuriões a situação do dinheiro público e o motivo da
investigação e juízo. No dia seguinte o duunviro deve fazer
uma proposta neste sentido aos decuriões, promovendo um
decreto destes a respeito.
Cap. 97 Autoridade dos decuriões de nomear patronos por decreto, Para aprovação é requerida
mediante cotação por escrito; a maioria, sempre que
estejam presentes não
menos que 50 decuriões
Cap. 98 Decreto de obra pública por parte dos decuriões, com o limite Para aprovação é requerida
de não mais do que cinco dias de trabalho por homem ao ano, a maioria dos decuriões
nem mais de três dias ao ano por cada animal de carga e por
cada trabalho na terra e sempre que não se exija contra sua
vontade de trabalho de todo menor de 14 anos ou maior de 60;
Cap. 99 Proposta do duunviro aos decuriões sobre os terrenos da Para aprovação é necessário
colônia através do qual se conduzia a água, sempre que não o apoio com o voto da
maioria dos decuriões
seja através de um edifício não construído com este motivo; presentes, sempre que
assistam à sessão de um
mínimo de 2/3 dos
decuriões.

303
Não indicado.
144

Cap. 100 Proposta do duunviro, à petição de um colono, aos decuriões Para aprovação, se requer a
para a condução da água sobressalente para uso privado, sem maioria dos decuriões
presentes, sempre que
prejuízo para os particulares; assista um mínimo de 40.
Cap. 103 Decisão dos decuriões para conduzir armados aos colonos e Para aprovação é requerida
contributi para a defesa do território da colônia; a maioria dos decuriões
presentes.
Cap. 105 Sobre a dignidade ou indignidade dos decuriões NI
Cap. 124 Acusação de indignidade de um decurião por outro e suas NI
consequências;
Cap. 125 Decreto dos decuriões para determinar os assentos nos jogos Para aprovação deve estar
públicos no lugar reservado aos decuriões; presente não menos do que
a metade dos decuriões.
Cap. 126 Decreto dos decuriões para o estabelecimento do lugar a Para aprovação é requerida
distribuir, dar ou destinar lugares nos espetáculos públicos aos a presença mínima de 50
decuriões.
colonos, residentes, hóspedes e transeuntes;
Cap. 127 Lugar reservado na orquestra para os decuriões NI
Cap. 128 Decisão dos decuriões sobre a nomeação de encarregados para NI
a administração de lugares, edifícios e recintos consagrados;
Decreto dos decuriões para a celebração dos jogos circenses,
preparação de sacrifícios rituais e realização de cerimônias a
cargo dos duunviros, edis ou prefeitos;
Cap. 129 Os duunviros, edis, prefeitos e decuriões da colônia devem NI
obedecer e observar os decretos decurionais;
Cap. 130 Aprovação por decreto decurional da adoção, aceitação ou Para aprovação é requerida
nomeação de um senador ou filho de senador como patrono; a concordância de ¾ dos
decuriões em votação por
escrito.
Cap. 131 Aprovação por decreto decurional da adoção como hóspede, ou Para aprovação é requerida
do estabelecimento de um hospitium, ou uma tessera hospitalis a maioria dos decuriões em
votação por escrito.
com um senador ou filho de senador;
Cap. 134 Decreto dos decuriões para dar ou presentear dinheiro público NI
ou outro bem.

No caso da LCGI, veem-se elos de proximidade entre a normatização proposta e os


parâmetros que caracterizaram o exercício da soberania na cidade de Roma durante o sistema
republicano de governo, apresentado pela tradição historiográfica304 como o resultado da ação
conjunta do Senado (Conselho Consultivo), das Assembleias e dos Magistrados. Nesse
ínterim, havia a preocupação de ressaltar a integração do Populus Romanus e do princípio da
sua soberania como a suprema fonte de poder decisório. No entanto, se observarmos os
obstáculos existentes para uma efetiva participação do populus, veremos que o Senado sempre
exerceu uma posição de preeminência, fundamentada pelo poder idealmente considerado
‘inato’ dos patres, consolidando o caráter aristocrático do governo.

Na cultura política republicana, somente aos patres era reconhecida a titularidade dos
direitos, somente eles detinham o genius, a divindade protetora individual responsável pela
fertilidade e prosperidade da família. Também eram os guardiões dos mores maiorum, que

304
Vide POLÍBIO. Histórias. Brasília: UNB, 1996, Livro VI.
145

englobava os princípios fundamentais que norteavam a moral pública e privada, a vida


familiar, o comportamento político e religioso. Ao serem ensinados e praticados pela família
romana, tais costumes garantiam o respeito à tradição ancestral responsável pela grandeza de
Roma, constituindo-se, portanto, na base da educação do cidadão305.

As bases aristocráticas desta República foram reforçadas pela formação da


nobilitas306, pela consolidação da posição socioeconômica e política dos homines novi307 e
pela vitória militar, que forjou um ‘ethos social’ em relação à guerra, fundamentado nas
noções de laus (louvor) e de gloria308. Consolidava-se, assim, a posição dos que detinham o
poder e a riqueza, ou seja, daqueles que possuíam a dignitas309 e a auctoritas310. Estes nobiles
se autoperpetuavam no Senado e repartiam entre si os títulos e a posição de patronos da Res
publica: os principes civitatis, que dominavam as relações de poder porque detinham o
monopólio sobre todos os locais que conferiam auctoritas: eram os guardiões do latim escrito,
da preservação dos mores (tradição ancestral), monopolizavam o conhecimento da lei civil,
das práticas religiosas e das formas de medição do tempo.

Considerando-se essa tradição política, nos estatutos das cidades alto imperiais,
manteve-se o teor aristocrático tipicamente republicano, mas, agora, contando também com as
elites locais – ‘provinciais’. Ao registrar o nível de autonomia que Roma reconhecia e
outorgava a cada localidade, tais documentos possibilitam compreender o funcionamento das
civitates e observar as possibilidades de atuação dos grupos que dirigiam a política municipal.
Como é possível observar na Lex Ursonensis, o poder central não possuía representantes
diretos para o tratamento das demandas específicas da cidade. Sua autoridade estava delegada
aos órgãos do governo local, que, em se tratando de sua formatação administrativa, seguiam
um modelo geral em todas as comunidades, colônias ou municípios. Tais questões

305
BORGES, A. & MENDES, N. M. ‘Os calendários romanos como expressão de etnicidade’. In.: História:
Questões & Debates, n. 48/49, Curitiba, Editora UFPR, pp. 77-99, 2008.
306
Com a aprovação da Lei Canuléia, em 451 a. C., que suspendia a proibição de casamentos entre patrícios e
plebeus, formou-se uma nobreza patrícios - plebéia.
307
Indivíduos pertencentes às elites dos municípios italianos que receberam a cidadania romana plena.
308
A noção de “ethos social” corresponde às dimensões cívica, doméstica, produtiva e guerreira da vida do
homem em sociedade, interagindo numa dinâmica de interdependência e complementaridade com ação
imperialista. Vide HARRIS, W. V. Guerra e imperialismo en la Roma republicana (327-70 a.C.). Madrid:
Siglo XXI, 1989, p.17.
309
O termo dignitas significa a condição do cidadão comprovada publicamente, popularidade.
310
Princípio fundamental da cultura política romana e que era conferida apenas e somente pela dignitas da
pessoa, instituição ou corporação que sancionava uma decisão. É algo contínuo que depende da manutenção de
uma perpétua liderança militar e civil, como benfeitor da república. É demonstrada pelo meritum (virtudes e
realizações), pelos benefícios de sua atuação (officium), os quais geravam a gratidão (gratia).
146

demonstram a importância estratégica das normatizações e sua adequação à cultura política já


conhecida.

Adentrando-nos nas legislações municipais de época flaviana, consideramos que a


análise comparativa destas com a Lex da cidade de Urso, torna mais evidente as
especificidades da atuação dos magistrados responsáveis pela administração das cidades. Para
tanto, organizamos os eixos temáticos comuns às legislações supracitadas na tabela analítica
abaixo:

Tabela 11a - Eixos temáticos e referências gerais das Leges Flavianas

Eixos temáticos e referências gerais das Leges Flavianas Capítulos

a. Sobre o uso das finanças públicas Irn./Mal./Vill. 64, 66 e 67, Irn. 79 e


80
b. Sobre a organização das atividades cotidianas Irn. 81

c. Referências para a gestão dos espaços públicos Irn. /Mal.62, Irn. /Mal.63, Irn. 76,
Irn. 82,83
d. Sobre a ‘política externa’ da cidade Irn F, Irn. G, Irn. H, Irn. I

e. Sobre a gestão das relações sociopolíticas no cotidiano da cidade Irn. /Mal.61

f. Sobre a relação entre os magistrados e a administração da cidade Irn. A

g. Sobre o direito e o poder dos edis Irn. 19

h. Sobre a concessão da cidadania Irn. 21

i. Sobre as relações imperiais Irn./Salp 24

j. Sobre a gestão das relações sociais (escravos) Irn./ Salp 28 e 29, Irn. 78

l. Sobre o status político dos magistrados e futuros magistrados Irn. 30

m. Sobre a eleição de novos decuriões Irn. 31

n. Sobre a sessão de trabalho do ordo municipal Irn. B, Irn. C, Irn. D, Irn. E, Irn. K,
Irn. L
o. Sobre a gestão das atividades públicas Irn./Mal./Vill. 68

p. Sobre assuntos jurídicos Irn./Vill. 69, 70 e Irn. 71, Irn. 86, 92

q. Sobre a burocracia municipal Irn. 73

r. Sobre as atribuições religiosas dos decuriões Irn. 77

O que se percebe na análise comparativa das leges é uma proposta de organização do


território peninsular ‘desenhado’ e articulado ao modelo já conhecido na tradição republicana,
isto é, baseado na Cúria ou Senatus, com números variados de decuriões que tomavam as
decisões mais importantes no nível local. O Senado local era estabelecido em lei municipal,
cuja lista dos indivíduos era registrada em placa de bronze ou pedra (álbum decurional) e
ficava em um local público da cidade, no fórum, por exemplo. Associados a estes, estavam
147

diversas magistraturas com competências específicas e que levavam a cabo as decisões dos
decuriões. Portanto, observemos na tabela 11b os dados apresentados nas leges flavianas
sobre as atribuições políticas e as atividades públicas dos decuriões:

311
Tabela 11b – Atribuições políticas e atividades públicas dos decuriões nas Leges Flavianas
Capítulo Texto Requisito para
Referência Geral aprovação
Irn. 19 Do direito e poder dos edis As decisões dos decuriões sobre os assuntos
que deviam ser executados pelos edis, além das NI
demais competências destes.
Irn. 21 Como se consegue a Os magistrados nomeados entre os senadores,
cidadania romana no decuriões e conscritos do município fossem NI
municipio cidadãos romanos ao cessar seu cargo.
Irn. / Salp. 24 Do prefeito do Imperador Oferecimento por parte dos decuriões,
Domiciano Augusto conscritos ou munícipes do duunvirato ao
imperador Domiciano. Se este for aceito e NI
tivesse delegado um prefeito, tenha este poder
de duunviro único.
Irn. / Salp. 28 Da manumissão do escravo Legitimação da manumissão de escravos por
perante os duunviros parte de menores de 25 anos e número de
NI
decuriões necessários para aprovar os decretos
segundo esta lei
Irn. / Salp. 29 Da nomeação de tutores Nomeação de tutor solicitado ao duunviro por Para aprovação é
decreto dos decuriões requerida a presença
de ao menos 2/3 dos
decuriões.
Irn. 30 Do status dos decuriões ou Os presentes ou futuros senadores ou pró-
conscritos senadores, decuriões ou conscritos, pró-
decuriões ou pró-conscritos em Irni eram de NI
pleno direito e de maneira legal como qualquer
município latino.
Irn. 31 Da convocatória, por edito, O ano em que haja menos de 63 decuriões, os Para aprovação é
dos decuriões para a eleição duunviros proporão aos decuriões ou conscrito requerida a presença
e substituição dos decuriões o dia de eleição de titulares, suplentes ou de pelo menos 2/3
dos decuriões.
substitutos para completar a cifra mínima.
Irn. A (começo perdido) Proclamação da decisão tomada por maioria
dos decuriões ou conscritos e liberdade do NI
duunviro para propor aos decuriões.
Irn. B Em que ordem deviam ser Ordem de prelação dos decuriões nas votações.
pedidos os votos
NI
Irn. C Da publicação dos decretos Leitura por parte do proponente ante os
dos decuriões e sua decuriões do decreto aprovado por estes e prazo
conservação nos arquivos
NI
para seu depósito no arquivo municipal.
públicos
Irn. D Se fosse necessário revogar Para a revogação, suspensão ou anulação dos
alguns decretos dos decretos decurionais deviam assistir a sessão
decuriões, de que modo NI
2/3 dos decuriões e apoiar a monção um
devem ser revogados
mínimo de ¾ dos presentes.
Irn. E Que não seja suspensa nem Com a exceção de que quem suspenda seja
transladada para outro quem tenha convocado NI
lugar a sessão dos decuriões
Irn. F Da distribuição dos Para a eleição das embaixadas os duunviros
decuriões em três decúrias, deviam distribuir equitativamente os decuriões
que desempenhem as ou conscritos em três centúrias para efetuar NI
embaixadas por turno
logo o sorteio e para estabelecer a ordem de
turnos em que se selecionariam os legados

311
Tabela desenvolvida a partir da seleção e tradução publicada por Caballos Rufino, op. cit., pp. 49-54. As
normativas agrupadas integram as seguintes legislações: Lex Flavia Irnitana, a Lex Flavia Malacitana, a Lex
Flavia Salpensana, a Lex Flavia Villonensis.
148

Irn. G Do envio dos embaixadores Envio de embaixadores a proposta do duunviro


e a aceitação de aos decuriões ou conscritos, que determinavam
justificativas e/ou perdão o número, marcando-se exclusões de ofício. NI
Revogável apenas por vontade de 2/3 dos
duunviros ou conscritos, sendo previstas
escusas e multas pelas contravenções.
Irn. H Quanto deve ser dado aos As diárias serão decididas pelos decuriões
embaixadores
NI
Irn. I Daquele que não tenha Multa pelos embaixadores atuarem contra as
desempenhado sua instruções recebidas dos decuriões ou
embaixada segundo o
NI
conscritos.
decreto dos decuriões
Irn. K Do adiamento dos assuntos Propostas dos duunviros aos decuriões ou
conscritos sobre o adiamento dos assuntos
públicos pelos motivos e limitações que se NI
explicitam, aprovadas por decreto decurional e
promulgadas por edito.
Irn. L Que os duunviros que Constituição de um máximo de onze cúrias por
presidem a jurisdição decisão da maioria dos decuriões no prazo de
estabeleçam no máximo noventa dias desde que a lei entrou em vigor. NI
onze cúrias
(capítulo incompleto)
Irn. /Mal.61 Da seleção do patrono Por decreto da maioria dos decuriões. Para a aprovação é
requerida a presença
de 2/3 dos decuriões.
Irn. /Mal.62 Que ninguém derrube A não ser que tenha a autorização dos Para a aprovação é
edifícios que não vá decuriões. requerida a presença
reconstruir da maioria.
Irn. /Mal.63 Da exposição pública e das Exposição acessível dos contratos de
condições dos arrendamento nos lugares decretados pelos
arrendamentos e seu decuriões e conscritos NI
registro nos arquivos
municipais
Irn./Mal./Vill. 64 Da obrigação dos fiadores, Condições, seguindo o modelo de Roma, para a
dos imóveis e os avalistas venda por parte dos duunviros, segundo decreto
destes NI
decurional, dos bens entregues em hipoteca
como fiança.
Irn./Mal./Vill. 66 Das multas impostas Submissão ao juízo dos decuriões ou conscritos
das multas impostas pelos duunviros, prefeitos NI
ou edis.
Irn./ Mal./ Vill. 67 Dos fundos comuns dos Rendimento de contas públicas ante os
municípios e as contas dos decuriões ou conscritos ou ante quem tenha NI
mesmos recebido tal encargo por decreto decurional
Irn./Mal./Vill. 68 Da nomeação de patronos Consulta por parte do duunviro aos decuriões, Para aprovação é
da causa, quando se rendam ou conscritos reunidos por ele sobre quais três requerida a presença
contas pessoas seriam encarregadas da causa pública. de 2/3
Irn./Vill. 69 Do juízo de fundos comuns Capacidade judicial de decuriões ou conscritos Para aprovação é
por reclamações de mais de 500 HS. requerida a presença
Em caso de reclamações de 500 HS ou menos, de 2/3 dos decuriões
ou conscritos
esta capacidade de ajuizamento ficava
encomendada aos cinco decuriões ou
conscritos, que não tenha recusado ao efeito
312 Da nomeação de um Exame e nomeação pelos decuriões ou
Irn./Vill. 70
representante dos munícipes conscritos dos representantes do município em
e do soldo ou retribuição litígios e reclamações. Dentre os quais poderia NI
ser procuratores ou cognitores por edito do
governador, recebendo soldo por sua atuação.
Irn. 71 Que aquele que atuará como Em litígios e reclamações resguarda-se o direito
representante legal (do de convocar até dez testemunhas pelos
município) em juízo sobre representantes do município, nomeados
fundos públicos tenha
conforme esta lei ou por decreto decurional, e NI
direito de convocar
testemunhas por ordem de comparecimento das testemunhas
pelo duunviro.

312
Um importante estudo sobre este tema na Lex Irnitana, ver o artigo de Armando Torrent, ‘Lex Irnitana:
Cognitio de los magistrados locales en interdictos, y limitación a su competência por cuantia’, in.: AFDUCD, nº
12, 2008, pp. 987-1006.
149

Irn. 72 Da manumissão dos Consulta, pelo duunviro aos decuriões ou Para aprovação é
escravos públicos conscrito, sobre as manumissões dos escravos requerida a
públicos que se converteriam em latinos e presença de 2/3
munícipes do município, e a importância a ser dos decuriões.
recebida por eles.
Irn. 73 Dos escribas, seu juramento Aprovação por maioria dos decuriões e
e do salário dos subalternos conscritos dos escribas subalternos dos NI
duunviros e seu soldo.
Irn. 76 Da visita e inspeção dos Consulta do duunviro aos decuriões e Para aprovação é
limites e terrenos públicos conscritos, para inspecionar os terrenos requerida a
dados em arrendamento, se arrendados pelo município, emitindo o presença de 2/3
parece convincente ou não e
correspondente decreto e atribuindo a tarefa de dos decuriões.
se parece oportuno que
sejam visitados e inspeção.
inspecionados, por quem e
de que modo parece
oportuno que sejam
visitados e inspecionados
Irn. 77 Dos gastos para as práticas Consulta dos duunviros aos decuriões ou
religiosas, jogos e banquetes conscritos sobre as quantidades a estipular para
que serão oferecidos. NI
as atividades religiosas, jogos públicos e
banquetes comunais.
Irn. 78 Que se consulte aos Consulta do duunviro ao começo de sua
decuriões a qual função se magistratura ao maior número possível de
destina cada escravo público decuriões ou conscritos sobre a atribuição das NI
tarefas dos escravos públicos e a promulgação
do correspondente decreto decurional.
Irn. 79 Sobre quantos decuriões ou Nenhum duunviro podia consultar ou fazer
conscritos se deve consultar propostas aos decuriões ou conscritos sobre os
sobre o gasto dos fundos fundos públicos quando estes fossem menos de
públicos dos munícipes
¾ do número total. Todavia, estava permitido
fazer uma proposta a mais da metade dos NI
decuriões para gastos de tarefas religiosas,
jogos públicos, banquetes comunitários, soldos
de funcionários subalternos, embaixadas, obras
públicas e outros gastos de similar índole.
Irn. 80 Do dinheiro recebido em Os decuriões ou conscritos poderiam decretar a Para aprovação é
empréstimo pelo município assunção de empréstimos pelo município, requerida a
sempre que a soma anual para tal não superasse presença de ¾ do
os 50.000 HS, a não ser que fosse permitido número total de
pelo governador provincial. decuriões.
Irn. 81 Da colocação (do público) Localização do público nos espetáculos tal
nos espetáculos como se formula pelo decreto decurional ou
segundo as normativas imperiais de Augusto, NI
Tibério, Claudio, Galba, Vespasiano, Tito ou
Domiciano
Irn. 82 Das estradas, dos caminhos, Os duunviros tinham a capacidade de construir
dos cruzamentos, das ou modificar as vias, canalizações e redes de
represas (e aquedutos) e esgoto, sempre que atuarem por decreto NI
esgotos
decurional e as atuações não afetem aos
particulares.
Irn. 83 Das obras públicas Os decuriões ou conscritos decretavam o
trabalho ou as contribuições que deviam
contribuir a comunidade de munícipes e
íncolas, sempre que não tivesse menos de
quinze anos ou mais de sessenta, que não
sobrepassem cinco dias de trabalho ao ano e
sempre que indenizarem a quem sofrer danos NI
por essa colaboração.
Os edis eram aqueles que, de acordo com o
decreto decurional e tal como se explicitava em
outras seções da normativa municipal,
determinavam e exigiam estas contribuições,
tomavam garantias e impunham as
correspondentes multas.
Irn. 86 Da eleição e publicação (do Para os litígios privados os duunviros deviam
nome dos ) juízes NI
eleger dentre decuriões ou conscritos o número
150

de juízes que prescrevesse o governador


provincial. A estes seriam somados outros
juízes no número que estimasse conveniente o
governador dentre os munícipes restantes que
fossem livres de nascimento e idôneos, que não
fossem menores de vinte e cinco anos, tivessem
um patrimônio não inferior a 5.000 HS e não
estivessem entre os que eram excluídos por
alguma circunstância que se descrevem,
distribuindo-se estes juízes entre decúrias
equilibradas.
Irn. 92 Em quais dias não se deve Não se deve julgar litígios privados nem
julgar e em quais não se conceder o intertium em festivais nos dias em
deve conceder o intertium que, por decreto decurional, aconteçam
espetáculos públicos, se ofereçam banquetes
NI
comunitários, haja comício ou se assinale na lei
municipal que sejam suspensas as atividades
públicas, devido à sega ou vindima, com as
exceções já indicadas.

Frente a estes dados, compreende-se que a administração provincial constituía-se,


então, em uma rede com diversos agentes, sendo os decuriões e magistrados aqueles que
compunham o ordo responsável pela direção dos assuntos municipais. Os ordines decurionum
eram corporações fechadas que governavam as colônias e os municípios romanos e tinham
um número limitado de membros313. Todas essas informações instigam à compreensão das
formas de acesso dos indivíduos na referida estrutura administrativa. Dito de outro modo, nos
vemos perante a seguinte questão: quais eram os pré-requisitos para a entrada no ordo
municipal?

Perscrutando-a, se observa que podiam ascender a esses grupos aqueles que reuniam
certas condições mediante a um processo de seleção que envolvia alguns procedimentos
jurídicos. Todavia, para ascender a este estatuto social, era necessário também conjugar um
alto nível econômico com a manutenção de certo nível patrimonial imprescindível para
pertencer aos cargos aristocráticos, manter a dignitas e adquirir prestígio através da realização
do cursus honorum. Idealmente, a riqueza estava associada à dignitas, que se desvelava como
um estatuto social medido em termos patrimoniais e morais, caracterizado pelo uso prático
dos bens materiais na cidade, como forma de testemunhar o compromisso com a vida pública
e o bem estar das comunidades.

No cotidiano da cidade, tal postura implicou numa forma de conduta social, a


benemerência ou a munificência própria das aristocracias municipais, materializada pela

313
RODRIGUEZ NEILA, J. F. & MELCHOR GIL, E. ‘Ordines decurionum: procedimientos jurídicos de
integración y de vinculación honorífica (con especial referencia a Hispania)’. In.: CABALLOS RUFINO, A. F.
(org) Del município a la corte: La renovación de las elites romanas. Sevilla: Universidad de Sevilla, 2012, p.
243.
151

inversão da riqueza na ornamentação e monumentalização das civitates 314 . Aos políticos


municipais cabia a obrigação moral de dar, podendo receber como dividendos o
reconhecimento social através da ascensão aos cargos públicos 315 . De fato, a prática da
benemerência foi construída como uma expressão visível da ação dos grupos locais no espaço
urbano, dando corpo ao processo de construção das cidades316.

Melchor Gil317 define tal prática como a construção e financiamento privado de obras
públicas nas cidades, cujo desenvolvimento não se restringiu às províncias, mas esteve
presente também no centro do poder romano e nas cidades da Itália. Assim, o fenômeno pode
ser pensado como uma forma de conduta social desenvolvida no nível das comunidades
cívicas impulsionadas por fatores ideológicos e baseadas em um sistema econômico que
tendia a concentrar a riqueza em poucas mãos.

318
Seguindo uma abordagem semelhante, Javier Andreu Pintado caracteriza o
fenômeno evergeta como uma conduta social de caráter ‘urbano’ pela qual os notáveis da
cidade destinavam parte de sua riqueza à comunidade sob a forma de contribuições a
construção pública. Ao longo do tempo, tal conduta assumiu a forma de em uma estratégia
política que garantia a reprodução social das elites a nível local. Nesse sentido,
compreendemos que o fenômeno evergeta (ou benemerente319) ganhou matizes ao longo do
Alto Império e caracterizou-se por um movimento a respeito do qual é possível distinguir
quatro categorias: (1) o evergetismo dos libertos aos seus patronos, (2) dos locais às
divindades, (3) das elites locais aos Imperadores ou (4) à cidade como um todo (com o
financiamento de construções públicas, a organização de ludi, etc)320.

314
Nosso posicionamento referente à monumentalização dos edifícios segue a postura desenvolvida por Javier
Andreu Pintado no artigo: “Construcción pública y municipalización em la província Hispania Citerior: la época
flavia”. In.: Iberia, n. 7, 2004, pp. 39-75.
315
RODRIGUES NEILA, J. F. op Cit, p. 165-166.
316
MACKIE, N. ‘Urban munificence and the growth of urban consciousness in Roman Spain’. In.: BLAGG, F.
C. & MILLETT, M. The Early Roman Empire in the West. Oxford: Oxbow Books, 2002, pp. 179-192;
EDMONDSON, J. C. ‘Romanization and urban development in Lusitania’. In.: BLAGG, F. C. & MILLETT, M.
The Early Roman Empire in the West. Oxford: Oxbow Books, 2002, pp.152-178.
317
GIL, M. ‘Construcciones cívicas y evergetismo en Hispania romana’ In.: Espacio, Tiempo y Forma, Serie
II, H. Antigua, t. 6, 1993, págs. 443-466, e Consideraciones acerca del origen, motivación y evolución de las
conductas evergeticas en Hispania Romana’. In.: Studia Histórica: historia antigua, vol. XII, 1994, p.78.
318
ANDREAU PINTADO, J. ‘Construcción pública y municipalización em la Provincia Hispania Citerior: la
época flávia’. In.: Iberia, nº 7, 2004, pp. 39-75, ANDREU PINTADO, J. ‘Augustalidad, servitrato y
evergetismo: aproximación a la promoción social de los libertos em Ivsitania’. In.: Revista Vipasca:
Arqueologia e história, número 7, Aljustrel / Portugal, 1998, pp. 43-44.
319
Essencialmente, tal conceito assemelha-se ao conceito de benemerência. Ambos referem-se a um mesmo
processo, ainda que partam de tradições linguísticas de distintas.
320
Vide a obra já consagrada de Paul Veyne, Le pain et Le cirque: sociologie historique d’um pluralisme
politique. Paris: SEUIL, 1976.
152

Deste modo, além da construção da imagem pública dos agentes, os atos benemerentes
de caráter pessoal (ou de grupo), especialmente os de tipologia edilícia, agiam como formas
de dinamização da economia local ao gerar empregos diversos e proporcionar a ação dos
mercadores que traficavam a matéria prima e demais produtos necessários para sua realização.
Frente a isso, sua prática liberou as cidades de muitos gastos ao financiar a construção de
templos, aquedutos, fóruns, espaços de ócio (termas, teatros, anfiteatros e circo), favorecendo,
assim, o desenvolvimento urbanístico – monumental local 321 . Em outro nível de atuação,
estava a dedicação de estátuas ou a construção de epígrafes votivas em homenagem à domus
imperial ou a indivíduos específicos. Nos mais diversos casos, a honra adquirida mediante a
realização dos atos benemerentes conferia aos seus idealizadores a possibilidade de ingresso
na memória cívica da cidade, honra esta que poderia ser empregada pelo benemerente ou seus
familiares nas ações políticas a nível municipal e/ou imperial322.

4.2 As formas de ingresso nos ordines decuriorum

No estudo do ingresso de novos decuriões nos Senados locais, Juan Francisco


Rodriguez Neila e Enrique Melchor Gil323 demonstram que, nas fontes jurídicas e literárias,
três verbos são empregados: legere, sublegere e cooptare. Os termos servem para definir de
forma genérica a ação de eleger novos membros para as cúrias locais, independente se foi
realizada por um magistrado quinquenal ou pelo conjunto dos membros do ordo, mediante
votação. Contudo, os autores ressaltam que na análise das leges faz-se necessário diferenciar o
emprego das formas verbais dos substantivos lectio, sublectio e coopatatio, usados em
referência a diferentes matizes no sistema de eleição dos membros dos ordines.

À luz da Lex Irnitana, capítulo 31, e da Lex Coloniae Genetivae Iuliae, capítulo 67,
compreende-se que legere e sublegere são usados para se referir à eleição pelos decuriões dos

321
RODRIGUES NEILA, J. “Políticos Municipales y Gestión Publica en la Hispania Romana” In.: POLIS.
Revista de ideas y fornias políticas de la Antigüedad Clásica 15. 2003, p.166.
322
FERRER MAESTRO, J. ‘Em torno a la ejecucion de las obras públicas em la Hispania Romana: promotores
y artifices’. In.: Millars. Geografía e Historia, 1991, nº 14, pp.101-117; RODRIGUES NEILA, J. M. ‘Politicos
municipales y gestión pública em la Hispania Romana’. In.: Polis: revista de ideas y formas políticas de la
Antiguedad Clásica, nº 15, 2003, pp. 161-197; BLÁZQUEZ MARTINEZ, J. M. ‘El evergetismo em la
Hispania romana’. In.: Homenaje Académico a D. Emilio García Gómez, Madrid, 1993, pp. 371-382.
323
RODRIGUEZ NEILA, J. F. & MELCHOR GIL, E. ‘Ordines decurionum: procedimientos jurídicos de
integración y de vinculación honorífica (con especial referencia a Hispania)’. In.: CABALLOS RUFINO, A. F.
(org) Del município a la corte: La renovación de las elites romanas. Sevilla: Universidad de Sevilla, 2012, p.
245.
153

novos membros do Senado que possuíssem todos os requisitos para a investidura no cargo.
Em sua forma substantivada, refere-se à ação de eleger e não necessariamente ao sistema
utilizado para cobrir as vagas existentes. De acordo com essas legislações, no ano em que o
município tivesse menos de 63 decuriões, os duunviros deveriam convocar os membros da
cúria para eleger novos membros. Essa eleição poderia seguir por duas formas: através da
lectio e mediante a sublectio.

A lectio aconteceria a cada cinco anos, quando os duunviros quinquenais (censores) ou


a máxima magistratura local, nomeavam os novos membros do Senado, atualizavam e
confeccionavam o álbum municipal. Já a sublectio tratava-se de um procedimento anual no
qual os membros da Cúria elegiam, mediante votação, os decuriões que cobririam as vagas
produzidas no intervalo entre dois lectiones. Deste modo, tanto os novos decuriões admitidos
via lectio censoria, ou por votação anual, tinham lugar entre os magistrados ordinários ou de
plenos direitos entre o Senado local324.

A cooptatio, por sua vez, designaria o ato através do qual os membros de uma
corporação ou collegia elegiam ou admitiam novos indivíduos em substituição aos membros
mortos ou expulsos. Assim, os novos integrantes escolhidos por decisão dos membros do
ordo seriam integrados a cúria por cooptação325.

Em contra partida, a adlectio corresponderia à admissão de um indivíduo em um


determinado ordo ou grupo político-social como uma concessão particular, isto é, sem o
mesmo possuir os pré-requisitos exigidos pela Lex para formar parte daquele corpo. Tratar-se-
ia de uma honra especial recebida por seus méritos pessoais ou familiares e concedido por um
decreto do ordo decurionum. Neste caso, Rodrigues Neila, Melchor Gil 326 e Garnsey 327 ,
apontam que a adlectio abria, assim, a possibilidade de acesso ao ordo de pessoas que não
haviam desempenhado magistraturas o que consistiria em uma honra especial. Os autores
destacam, então, que a adlectio era formalmente definida como uma cooptatio produzida pela
deliberação dos decuriões.

324
MENTXAKA ELEXPE, R. El senado municipal em la Bética hispana a La luz de la Lex Irnitana.
Madrid: Instituto de Ciencias de la Antigüedad (UAM), 1993, pp. 83-89; RODRIGUEZ NEILA, J. F. &
MELCHOR GIL, E., op cit, p. 246.
325
ZARA, A. & EULA, E. ‘Cooptatio’. In.: Novissimo digesto Italiano, T. IV. Turín, 1981, pp. 841-842;
RODRIGUEZ NEILA, J. F. & MELCHOR GIL, E., op cit, p. 247-248.
326
Op cit, p. 249.
327
Garnsey, P. op. cit, p. 315-320.
154

Frente a isso, vale destacar alguns desdobramentos possíveis para a adlectio: (1) a
adlectio inter cives, onde se permitia o ingresso no ordo de pessoas que não possuíam a
cidadania local, mas que fossem originárias da mesma província ou procedente de outra,
distinta; (2) a adlectio ex beneficio, concedida como benesses de uma autoridade superior, via
nominatio imperial, por exemplo; (3) adlectio fora da idade legal, ou seja, abaixo dos 30
anos 328 ; (4) adlectio inter aedilicii, que permitia a certos jovens ingressar diretamente no
duunvirato, sem competir pelas magistraturas menores e sem ter que aguardar por três anos
após o exercício da edilidade para poder ascender a uma magistratura seguinte.

De todo modo, uma vez ingresso no conselho local via adlectio, o novo decurião
deveria pagar a summa honoraria, e poderia desenvolver o cursus honorum como pedani,
aedilicii, duunviralicii, quinquennalicii, etc. Assim, as fórmulas apresentadas indicam uma
pluralidade na tipologia de integração dos indivíduos no ordo, seja da cidade em questão ou
de outras cidades provinciais. No caso especifico da adlectio, observa-se a possibilidade de
aceleração das carreiras políticas dos mais novos, assim como também dos forasteiros que
haviam cumprido a carreira militar.

Tradicionalmente, a historiografia centrou-se nas carreiras políticas dos notáveis


municipais e coloniais, tendendo a afirmar que do desempenho na magistratura local, o
duunvirato, podia deduzir-se que um determinado personagem pertencia à elite decurional.
Nesse aspecto, diversos especialistas insistiram na heterogeneidade e uma relativa
permeabilidade dos ordines decurionum 329. Sobre isso, Antonio D. Pérez Zurita 330 ressalta
que não se podem confundir as elites locais com as elites decurionais, cuja distinção entre
ambas consiste no pertencimento ou não na máxima instituição colegiada municipal. Assim,
falar das elites dirigentes é referir-se ao grupo de pessoas que dominaram o âmbito político
municipal ou colonial e que também foi muito heterogêneo.

328
Durante a Republica a idade limite para o acesso ao conselho local era de trinta anos, mas durante os séculos I
e II a idade foi rebaixada para 25 anos, já anunciado por Augusto. Já em época severiana, no século III, se
admitia magistrados com menos de 25 anos, mas sem direito ao voto. (Digesto 50, 4, 8 e 50, 2, 6,1, legislação
estudada por KLEIJWEGT, M. Ancient youth: the ambiguity of youth and the absence of adolescence in
Greco-roman society. Amsterdam: J C Gieben, 1991, pp. 304-308, GARNSEY, P. op. cit, p. 316-317).
329
FINLEY, M. Política no mundo antigo. Lisboa: Edições 70, 1997; CHRISTOL, M. & NONY, D. Roma e o
seu Império: das origens às invasões bárbaras. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1999; LE ROUX, P.
Romanos de España: ciudades y política en las provincias (siglo II a. C. – siglo III d. C.). Barcelona:
Bellaterra, 2006 (1995 - 1ª edição).
330
PEREZ ZURITA, A. D. ‘Movilidad y categorias en los Ordines Decurionum’. In.: CABALLOS RUFINO, A.
F. (Org) Del município a la corte: la renovación de las elites romanas. Sevilla: Universidad de Sevilla, 2012,
pp. 272.
155

Quais critérios são utilizados, então, para identificar o seleto grupo das pessoas que
integraram os ordines decurionum? Essa é a pergunta chave realizada por Pérez - Zurita no
estudo da mobilidade e das categorias formativas dos ordines331. No enfoque da dinâmica do
poder local, o autor destaca que muitos historiadores corroboram a hipótese de que cada ordo
decurionum deveria estar dominado por algumas poucas famílias, ainda que seu número fosse
mais ou menos elevado em comunidades de certa importância, como por exemplo, as capitais
conventuais ou provinciais, onde haveria maiores possibilidades de promoção social.
Contudo, o conceito de elite supõe assumir que estamos perante um seleto grupo de pessoas,
isto é, de modo implícito, referimo-nos a poucas pessoas. Assim, concordamos com Perez
Zurita e Keith Hopkins332 na argumentação de que, por motivos biológicos, poucas famílias
não poderiam ter monopolizado as magistraturas, sobretudo se considerarmos que a baixa taxa
de natalidade não viabilizaria a atomização do patrimônio das mesmas.

Nessa perspectiva, o estudo das formas de acesso e mobilidade dos ordines torna-se
uma das frentes possíveis para investigar as estratégias de composição e renovação dos
grupos. Para tanto, Zurita analisa o fenômeno a partir do album ordinis (álbum com a lista dos
decuriões) de algumas cidades entre os séculos II e III d. C., a saber: Canusium, localizada no
sul da Itália do ano 223 d. C., Thamugadi, no norte da África e Ostia, na Península Itálica.

No album de Canusium, por exemplo, os membros efetivos do Senado local são


ordenados por categoria e antiguidade no cargo, começando pelos patronos da colônia e
concluindo com os praetextati vinculados ao ordo. Dentre os duunviralicii registrados, há
uma variedade de nomina pertencente a gentes distintas. O autor destaca que, dos trinta e dois
duunviros, vinte e cinco registram nomina diferentes, o que indica que pelo menos vinte e
cinco famílias distintas tiveram um de seus membros como integrantes da máxima
magistratura local entre os anos anteriores a 223 d. C. No tocante aos quinquennalicii, a
heterogeneidade se mantém ainda que em menor grau, para os trinta e nove duunviratos, vinte
e oito famílias tem algum membro representado333.

Na análise destes dados, dois caminhos analíticos são vislumbrados na historiografia


especializada, a saber: a possibilidade do acesso direto ao duunvirato sem passar pelas

331
Op. cit. p. 273
332
PEREZ ZURITA, A. D. op cit, p. 273; HOPKINS, K. Death and renewal. Cambridge: Cambridge
University Press, 1983, p. 73. Vide ainda, SETTIPANI, C. Continuité gentilice et continuité familial dans les
familles senatoriales romaines a l’epoque imperial: mithe et realité (Unit for Prosographical Research).
Oxford: Linacre College/University of Oxford, 2000.
333
PEREZ-ZURITA, A. D. op cit,p. 274;
156

magistraturas inferiores locais como justificativa para o pertencimento de um determinado


personagem na elite decurional de um município ou colônia. Ou, a possibilidade das epígrafes
registrarem apenas a honra máxima possuída pelo indivíduo no momento de construção do
monumento334. Se confrontarmos tais hipóteses com o Digesto335 de Justiniano, por exemplo,
veremos que, após uma fundação colonial ou promoção de uma comunidade a município, a
cidade poderia receber duunviros que não haviam desempenhado as magistraturas anteriores,
possivelmente em virtude da inexistência de candidatos ao cargo 336, de todo modo, o estudo
desta possibilidade deve atentar para o horizonte contextual das referidas documentações.

O mais longo cursus honorum registrado no Conventus Pacensis, na Província da


Lusitânia, de que temos conhecimento foi realizado por Lucio Cornelio Bocco, do qual
agrupamos no catálogo epigráfico da pesquisa quatro registros localizados em cidades
distintas, a saber: um em Caetobriga (nº 83), outro em Ebora (nº 114), e dois na Salacia (nº 78
e nº 82). Através dessas referências do cidadão salaciense, detectou-se a seguinte ascendência
na carreira das honras municipais com ingresso na ordem equestre: Tribuno militar da legião
3ª Augusta, Prefeito dos Césares, Prefeito dos Artífices, Edil, Duunviro, Flâmine, Pontífice,
todos possivelmente desempenhados entre reinados de Vespasiano e Tito337.

Outra questão a ser evidenciada quando se fala nas formas de vinculação ao ordo
decurionum consiste na investigação das formas fictícias de adesão, isto é, que não significam
uma incorporação direta no Senado, mas que podem demonstrar a adesão simbólica ao
sistema. Aqui referimo-nos diretamente aos símbolos honoríficos e aos signos de status que
distinguiam os membros, os chamados ornamenta ou o direito de usar as insigniae dignitatis,

334
A referência alude aos estudos de MACKIE, N. Local Administration in Roman Spain A.D. 14-212.
Oxford: B.A.R., 1983; FOLCANDO, E. ‘Cronologia del cursus honorum municipale’. In.: CHELOTTI, M. &
PANI, M. (Edt) Epigrafia e Territorio: política e società. Temi di antichità romane V. Bari: Edipuglia, 1999.
335
Muito embora tal obra esteja distante cronologicamente do período em estudos, vale destacar a continuidade
do desenvolvimento das possibilidades jurídicas do acesso ao cargo ainda no século VI. Para mais informações
sobre o tema, vide a publicação: CARLOS MARTIN, J. Lecciones de derecho privado romano. Buenos Aires:
Universidad Nacional de La Plata (Edulp), 2011.
336
Além dos estudos de Perez-Zurita, op cit, p. 275, vide o trabalho de ABASCAL PALAZÓN, J. M. ‘Pedestal
ecuestre para C. Laetilius M. f. em Carthago Nova (hispania Citerior)’. In.: Revista Mastia 9 - Revista del
Museo Arqueológico Municipal de Cartagena, 2009, pp. 103-113.
337
Ao observamos a documentação epigráfica de outras regiões, o que se percebe é uma escolha, por parte do
indivíduo de registrar só o duunvirato, mesmo havendo desempenhado outras magistraturas, como no caso de L.
Calpunius Danquinus, que recebeu uma honra como duunviro (CIL II/ 5, 498), mas também aparece como edil,
duunviro e prefeito em sua lápide funerária (registrada no CIL II/ 5,520). Ou ainda, C. Laetilius, de Carthago
Nova, conhecido pela magistratura quinquenal, mas que desempenhou um cursus honorum mais amplo, com a
edilatura, o duunvirato
157

sem estar vinculado diretamente ao Senado, no caso de Roma, ou no ordo decurionum de


alguma cidade338 provincial.

Como apontam os estudos de Rodriguez Neila e Melchor Gil339, os ornamenta eram


uma espécie de patrimônio dos ordines, funcionando como indicações claras e visíveis de
pertencimento a uma categoria social. Na Hispania, as fontes epigráficas salientam que, para
além da ordem senatorial, classificada de acordo com a escala hierárquica vigente no
estamento (ornamenta consularia, praetoria e quaestoria), a nível local, haveriam os
ornamenta próprios do decurionato e das magistraturas municipais: ornamenta decurionalia,
quinquenalicia, duunviralia, aedilicia e censoria340.

Em termos materiais, os ornamenta 341 baseavam-se em credenciais honoríficas, ou


seja, não conferiam assento no Senado municipal, nem capacidade de atuação política própria
dos decuriões de pleno direito. Tratava-se de privilégios cuja recepção correspondia às
expectativas daqueles que aspiravam um status social e jurídico superior ao que já possuía.
Receber um ornamentum significava, então, o reconhecimento da importância social do
indivíduo, sua honra e a observação das suas distinções sociais. Sendo subdivididas em alguns
tipos, a saber: para além dos ornamenta decurionalia, são reconhecidos ornamenta aedilicia
(documentados na Itália); duunviralia; de modo mais excepcional, os ornamenta
quinquennalitatis, próprio das magistraturas mais importantes.

Em Hispania há nove exemplos de ornamenta decurionais342, e nove exemplos de


ornamenta aedilicia343, não havendo ocorrência dos quinquennalitatis. A realização da honra
poderia acontecer em meio a cerimônias oficiais, banquetes públicos, dentre outras
possibilidades, compondo, assim, a cênica do rito político, ou ainda nos espaços, através do
registro epigráfico. Nestes, os agraciados registravam a honra recebida mediante o uso de
algumas expressões tais como: honoratus, decoratus, exornatus, inlustratus, ornatus, decurio
ornamentarius, etc. Além disso, podiam exibir (ou serem representados exibindo) suas

338
RODRIGUEZ NEILA, J. F. & MELCHOR GIL, E. op cit, p. 260.
339
Cronologicamente, os ornamenta se situam no século II d. C., sendo os de tipo decurionalia os mais
frequentes na Itália e nas províncias.
340
Não foram encontrados ornamenta da questura.
341
A maior parte dos ornamentarii foram localizados na Itália. G. L. Gregori recompilou cerca de cinquenta e
cinco casos de trinta cidades (GREGORI, G. L. ‘Concessione degli ornamenta decurionalia nelle città dell’Itália
setentrionale’. In.: SARTORI, A. & VALVO, A. (Edts.) Ceti medi in Cisalpina: l’epigrafia dei ceti intermedi
nell’Italia settentrionale di ETA romana. Milão: Civico Museo Archeologico, 2002, pp. 37-48).
342
Todos registrados no CIL II e distribuídos pelas cidades: Arva, Hispalis, Salpensa, Singilia Barba, Ugia,
Lucurgentum, Carisia Aurelia e Barcino.
343
Também registrados no CIL II e localizados nas cidades: Barcino, Dertosa, Tarraco e Edeta.
158

insígnias e privilégios ao lado dos magistrados ou decuriões, equiparando-se simbolicamente


à aristocracia municipal.

No estatuto de Urso344, o uso da toga praetexta aparece definido como próprio dos
ordines, sendo extensivo também aos ornamentarii, que, em casos excepcionais, ainda
poderiam sentar-se ao lado dos magistrados e decuriões durante os espetáculos e os banquetes
oficiais345. O que se estende também para a assistência durante os sacrifícios públicos e em
relação aos ritos funerários: quando poderiam receber os mesmos ritos fúnebres próprios dos
decuriões e magistrados346 sem haver exercido tais funções.

No tocante aos casos municipais, a baixa quantidade de documentos encontrados até o


momento dificulta o desenvolvimento de uma análise mais precisa. De todo modo, os poucos
registros dos quais se tem ciência levam a crer que a concessão dos ornamenta não era alvo de
uma supervisão atenta por parte do governo central. Tratar-se-ia de uma ação levada a cabo
pelos ordines decurionum por motivos diversos, cuja concessão deveria ter sido restrita e
outorgada apenas por seus membros, de acordo com o perfil social e político dos dirigentes de
cada cidade. Todavia, é possível afirmar que se destinavam a um reduzido número de pessoas,
sobretudo àquelas que se destacavam por alguma circunstância347.

No caso da Província da Lusitânia não encontramos exemplares dos ornamenta dentre


os registros reunidos por nós. De outra forma, os casos mais comuns de homenagem pública
consistem na ereção de monumentos honoríficos aos cidadãos, seja em vida ou quando de seu
falecimento. Tais monumentos podem vir acompanhados de um busto ou estátuas, além das
epígrafes de identificação da personagem homenageada, o motivo da honra pública, o
doador/financiador do reconhecimento e da permissão do ordo decurionum, quando
depositados em locais públicos.

Como indica Donato Fasolini 348 , é possível identificar as inscrições decurionais


porque são as que registram a tomada de decisão por parte dos decuriões, indicada por termos

344
Capítulos 62 e 66.
345
Como indicado na Lex Irnitana, capítulos 77 e 92.
346
CIL III, nº 1933.
347
SERRANO, J. M. ‘Consireaciones sociales acerca de los ornamenta municipales con especial referencia a los
libertos’. In.: CHASTAGNOL, A., DEMOUGIN, S. & LEPELLEY (Edts.) Splendidissima civitas: études
d’histoire romain en homage à François Jacques. Paris: Publications de la Sorbonne, 1996; RODRIGUEZ
NEILA, J. F. & MELCHOR GIL, E. op cit, p. 265.
348
FASOLINI, D. ‘La fórmula Decreto Decuriorum en la epigrafia de la Península Italiana’. In.: MELCHOR
GIL, E., PÉREZ ZURITA, A. D. & RODRIGUEZ NEILA, J. F. Senados municipales y decuriones em el
Occidente Roman.Sevilla/ Cordoba: Secretariado de Publicaciones de la Universidad de Sevilla/ Serviço de
Publicaciones de la Universidad de Córdoba, 2013.
159

como ordo, senatus, decuriones, municipium, res publica ou similares. Dentre as inscrições
‘assinadas’ pela coletividade, identificamos os seguintes casos nos conventus da província:

Tabela 12a - Fórmulas latinas com menção à coletividade da comunidade política

Conventus: Pacensis
Reg. Civitas Fórmula Latina Transcrição Cron.
169 Ammaia Oppidi Constitvti Opido Constituído N/A349
59 Balsa Res-Pvblica Republica II d. C.
63 Balsa Balsensivm (dentre os) Balsenses II d. C.
57 Balsa Civibvs Cidadãos II - III d. C.
38 Ebora Re- Publica Republica N/A
73 Miróbriga Adlecto Italiensi Cidadão I d. C.
66 Myrtilis Municipes Munícipes 164 d. C.
67 Myrtilis Cvnctis ‘todos’ II d. C.
46 Ossonoba Res-Publica Republica III d. C.
49 Ossonoba Civitas (a) Cidade III d. C.
93 Pax Ivlia Rem-Publicam Republica N/A
79 Salácia Rem-Publicam Republica I d. C.
80 Salácia Pleps População I d. C.

Tabela 12b - fórmulas latinas com menção à coletividade da comunidade política

Conventus: Scallabitanus
Reg. Civitas Fórmula Latina Transcrição Cron.
150 Olisipo municipes municipii (e) munícipes do município N/A
174 Olisipo Felicitas Iulia (Colônia) Felicitas Iulia N/A
(Olisipo)
175 Olisipo Felicitas Iulia Olisipo (Colônia) Felicitas Iulia 176-180 d.
Olisipo C.
17 S/ L350 populo qui conveniunt Artica (ao) povo que se reúne na
caput capital Ártica

349
Não Apresentada.
350
Sem Localização.
160

Tabela 12c - Fórmulas latinas com menção à coletividade da comunidade política


Conventus: Emeritense
Reg. Civitas Fórmula Latina Tradução Cron.
29 Augusta res-publica emeritensium Republica dos emeritenses 250 e 251 d.
Emerita C.
3 Augusta decuriones et municipes (os) decuriões e munícipes 6 d .C.
Emerita Martienses qui antea martienses, que antes
Ugienses / decurionibus et foram ugienses / decuriões
colonis coloniae Augustae e colonos da colônia
Emeritae Augusta Emerita
228 Augustobriga populusqve Povo de Augustobriga N/A
Augustobrigensi
290 Caurium vicani Arcobrigenses (povo) dos Arcobrigenses N/A
291 Caurium Arcobrigenses (povo) dos Arcobrigenses N/A
292 Caurium vicani ace[---]enses (povo) dos Arcobrigenses? N/A
208 Metellinum coloni coloniae colonos da Colonia I d. C.
metellinensis Metellinense
304 Salmatica ordo salmanticensium conselho de salmanticense 3 de maio de
198 d. C.
111 S/ L vicani munenses aldeãos monunenses N/A
278 S/ L vicani S[...]goaboiacenses (os) habitantes de N/A
S[...]goaboiacum
34 S/ L vicani Venienses (os) habitantes de Venium Entre 98 e 117
d. C
40 S/ L populus Seanoc[---ense] povo dos Seanocos (?) 104 d. C.

Dentre os casos coletados, as medidas do Senado local adotadas por um decreto


decurional registram o interesse por um número limitado de áreas, a saber: a concessão de
honras em forma de monumentos com ereção de estátuas dirigidos a cidadãos destacados ou
seus familiares, a funcionários relevantes, a divindades, aos membros da família imperial, e a
autorização para a dedicação de espaços a nível individual ou comunal (grupos e collegia)351.

Na análise dos casos agrupados por nós, subdividimos o corpus epigráfico em três
grandes grupos: (a.) os casos de concessão honorífica, (b.) os casos nos quais registram
diretamente a fórmula Decreto Decuriorum, e (c.) os personagens privados que honram os
membros da domus imperial. Apresentaremos, portanto, a distribuição dos casos catalogados
com a fórmula Decreto Decuriorum por conventus.

351
FASOLINI, D. op cit, 2013, p.57-68.
161

Tabela 13 - Epígrafes com o registro Decreto Decuriorum

Civitas Reg. Tipo de Texto Texto latino transcrito para o português Cron.
059 Honorífica (...) por decreto dos decuriões, a República de Balsa (...) Meados século II d. C.

A Tito Mânlio Faustino, filho de Tito, da tribo Quirina,


BALSA
natural de Balsa. Mânlia Faustina, filha de Tito, irmã, ao
062 Honorífica irmão modelo de piedade, duúnviro pela segunda vez. Por
Fins século II d. C.
decreto dos decuriões. Tendo oferecido um banquete.
Ao Imperador César Marco Aurélio Antonino Augusto
Armeniaco, pontífice máximo, no seu 18° poder
tribunicio, cônsul pela 3ª vez, filho do divino Antonino
Augusto, neto do divino Adriano, bisneto do divino
MYRTILIS 066 Honorífica Trajano Pártico, trineto do divino Nerva... Por decreto
164 d. C.
dos decuriões, os municipes do municipio de Mértola, por
intermédio dos duunviros Gaio Júlio Marino e Gaio
Márcio Optato.
054 Honorífica (?) [---]Por Decreto dos Decuriões [---] Século I d. C. (?)
Ao imperador César Públio Licinio Valeriano Pio Félix
Augusto, pontífex máximo, pai da Pátria, no seu terceiro
046 Honorífica poder tribunício, cônsul - A República Ossonobense, por Século III d. C.
decreto da ordem, ofereceu e dedicou, por devoção ao
seu gênio e majestade.
OSSONOBA
A Caio Iulio Felicior, filho de Lucio, Vispaciense ou
Olisiponense (?), flâmine pela primeira vez e duunviro
ossonobense, da Tribo Quirina. Lucio Vareio Samiario,
050 Honorífica Lucio Celio Optato, Caio Acilio Comato, Lucio Axio Tiro,
N/A
Caio Iulio Felicior, ao amigo benemerentíssimo e
piedosíssimo, dedicaram. Por decreto dos Decuriões.
Consagrado a Serápis Panteu, em honra de Gaio Mário
085 Votiva Prisciano, filho muito dedicado. A mãe, Estelina (?) 132-133 d. C.
Prisca. Por decreto dos decuriões.
C. PACENSIS

À Fúria Sabínia Tranquilina, sanctissima augusta


cônjuge do nosso senhor, o imperador César Marco
108 Honorífica António Gordiano, Pio, Félix, Augusto — o município
240 d. C.
eborense, por decreto dos decuriões.
A Alfurio [---] Cenesio da Juventude (?). Lugar
084 Honorífica concedido pela ordem dos decuriões.
N/A

A Gaio Júlio Pedão, filho de Gaio, da tribo Galéria,


duúnviro, flâmine dos divinos (imperadores), devido a ter
administrado bem a república e ter auxiliado com
093 Honorífica dinheiro o aprovisionamento de víveres — a população,
N/A
através de subscrição pública. Por decreto dos
decuriões(?).
(...) Provincia da Lusitânia [?] Deliberaram colocar (ou
097 Honorífica ‘da colônia’) Pax Iulia. Por decreto dos decuriões.
N/A

105 Honorífica Augustal (?). Por decreto dos Decuriões. N/A


PAX IULIA A Marco Aurélio, filho de Gaio, da tribo Galéria,
090 Honorífica dúunviro, flâmine de Tibério César Augusto, prefeito dos N/A
artifices, por decreto dos decuriões.
A Lúcio Élio Aurélio Cômodo, filho do imperador César
Tito Élio Adriano Antonino Augusto Pio, pai da Pátria, a
099 Honorífica Colônia de Pax lulia, por decreto dos decuriões, sendo
N/A
duúnviros Quinto Petrónio Materno e Gaio Júlio Juliano.
A Lucio Voconio Paullo, filho de Lucio, da Tribo Quirina,
edil, questor, duúmviro pela sexta vez, flamen de Roma e
dos (dois) Divinos Augustos, prefeito da coorte primeira
dos lusitanos e da coorte primeira dos Vetões. Devido a
seus serviços prestados às causas e defesas públicas,
segundo a amplíssima ordem, (sendo) muito fiel e
038 Honorífica constante, teve a função de legado de Roma em prol da
N/A
república gratuitamente (sem ter que pagar a summa
honoraria). A (colônia) Liberalitas Iulia Ebora, por
deliberação pública, decretou que fosse colocada no
fórum uma base com estátua (?) ou ‘este cipo honorário’
(?).
108 Honorífica N/A
162

A Júpiter Óptimo Máximo. Flávia Rufina, filha de Lúcio,


natural de Mérida, flamínia da província da Lusitânia
076 Votiva assim como perpétua da Colônia Emeritense e do
Século I d. C.
Municipio Salaciense. Por decreto dos decuriões.
Texto A
SALÁCIA A Lúcio (?) Júnio Fílon, filho de Lúcio, Júnio Fílon, filho
de Lúcio, da tribo Galéria, duúnviro; por decreto dos
decuriões, flâmine perpétuo do divino Augusto, (...)
079 Honorífica Durónio Modesto, filho de..., da tribo Galéria.
Século I d. C.
Texto B
... (para lembrar o mérito?) para com a República e a sua
população. Por decreto dos decuriões.
Consagrafo a Concórdia. Marco Baebio, filho de
150 Votiva Marcio. Munícipes do município Felicitas Iulia, N/A
dedicaram.
Consagrado a Mercurio Cesar Augusto, Caio Iulio Filo,
171 Votiva com permissão dos Decuriões, dedicou.
N/A
C. SCALLABITANUS

Lucio Cornelio Boccho, filho de Lucio, da Tribo Galeria.


Salaciense, flâmine da província da Lusitânia, por sete
OLISIPO 006 Honorífica vezes prefeito dos artífices, Tribuno militar da VIII legião
N/A
Augusta. Por decreto dos Decuriões.
Marco Petronio Basso, filho de Marcio, da Tribo Galeria,
147 Honorífica por decreto dos Decuriões.
N/A
A Caio Tenatio Justo, filho de Caio, inscrito na Tribo
148 Honorífica Galeria, por decreto dos Decuriões.
N/A
[- - -] Aponio Capitão, duunviro da colônia Augusta.
Prefeito dos artífices, flâmine da colônia Augusta Iulia
Scallabis, flâmine da província da Lusitânia, do divino
SCALLABIS 013 Honorífica Augusto e da divina Augusta. Aulo Vitellio, filho de Lucio
N/A
e Gaio Vispanio, cônsules. Por decreto dos Decuriões.

Aqui jaz Caio Pompeu, filho de Lucio Prisco, da Tribo


Papíria, flâmine colonial, duúnviro, flâmine da província
244 Funerária da Lusitânia. A ele o conselho (municipal) decretou o N/A
local da sepultura e dedicaram-lhe a estátua e o elogio
fúnebres. 38 anos, que a terra te seja leve.
Coronia Procula, filha de Publio. Por decreto dos
008 Honorífica Decuriões.
Século I d. C.
Sexto Furnio Juliano, legado de Augusto, propretor da
provincia de Lusitânia, cônsul e homem claríssimo, o
015 Honorífica explêndido conselho da cidade de Mérida ao seu ótimo
Entre 211 e 217 d. C.
AUGUSTA
patrono, pelo mérito de Julio Modesto e (...) prefeitos.
EMÉRITA À Quinto Herenio Etrusco Mesio Decio, nobilíssimo
César, filho do Imperador César Caio Mesio Quinto
029 Honorífica Trajano Decio Pío Felix Augusto, a República dos
Entre 250 e 251 d. C.
emeritenses mostrou sua devoção com estas estátuas.
Imperador Cesar Trajano Adriano Augusto, filho do
C. EMERITENSIS

divino Trajano Partico, neto do Divino Nerva, Pontífice


Maximo, com poder tribunício pela 19ª vez, Imperador
062 Honorífica Interino, Cônsul, aclamado pai da pátria pela 3ª vez, N/A
ótimo princeps, Restituiu a arquibancada destruída e o
proscenio do teatro destruído pelo incêndio (e) edificou o
palco cênico e dos jogos. Por decreto dos Decuriões.
A Júpiter Ótimo Maximo, os vicanos (do Vico)
290 Votiva Arcobrigenses, colocaram a ara por livre vontade.
N/A
A Júpiter Ótimo Maximo, os Arcobrigenses colocaram
291 Votiva por livre vontade.
N/A
A Júpiter Ótimo Máximo. Os habitantes do vico
CAURIUM 292 Votiva Ace(?)ense colocaram a ara em cumprimento de um N/A
voto, por livre vontade.
Ao Imperador César Trajano Adriano Augusto, Pontífice
Máximo, filho do divino Trajano Pártico, tendo obtido o
C. ARAVORUM 041 Honorífica poder tribunício pela 1ª vez e Cônsul pela 2ª vez. A
120 d. C.
cidade dos Aravos.
C. COBELCORUM
279 Votiva A Júpiter Óptimo Máximo, a cidade dos Cobelcos Século I d. C.

267 Votiva A Júpiter Ótimo Maximo. Civitas dos Cobelcos. N/A


C. Caio Cesar, filho de Augusto. Pontífice, cônsul,
IGAEDITANORUM 240 Honorífica imperador, príncipe da Juventude. A Civita dos N/A
Igaeditanos.
163

Ao Imperador Cesar Lucio Septimio Severo Pertinax


IRUENA Entre os anos 193 –
281 Honorífica Augusto. O conselho municipal V(---) de prata, de 5
211 d. C.
(unidade de peso).
METELLINUM 208 Votiva A Júpiter Optimo Máximo. Os colonos da colonia Século I d. C.
Metellinense fizeram.
Ao imperador Cesar Domiciano Augusto, filho do Divino
Vespasiano, pontífice Maximo,com poder tribunício, 2 Entre 1 de janeiro e13
URUNIA 277 Honorífica vezes imperador, pai da pátria, 8 vezes cônsul, 9 vezes de setembro de 82 d. C.
designado. Por decreto dos Decuriões.
111 Votiva A Júpiter Óptimo Máximo, os aldeãos munenses puseram N/A
Cosagrado a Júpiter Óptimo Máximo. Os habitantes de
278 Votiva S[...]goaboaicum mandaram erigir.
N/A
Pela saúde do Imperador Nerva Trajano Cesar Augusto
S. LOCALIZAÇÃO 034 Honorífica Germânico. Os Habitantes do vico Veniense, Entre 98 e 117 d. C.
consagraram o campo.

4.3 As relações econômicas provinciais: a Lusitânia e as relações regionais

O último ponto selecionado por nós para o estudo das formas de integração das elites
provinciais ao sistema de domínio romano consiste nas estreitas relações econômicas entre os
grupos e o poder central352.

Dada à constituição geográfica da Hispania, imagina-se que o mar estivesse presente


na história dos povos peninsulares desde há muito, quer se considere determinante a
influência do Mediterrâneo ou a do Atlântico. Nesse sentido, Carlos Fabião353 assinala que as
características geográficas da antiga província romana da Lusitânia assinalam sua potencial
orientação para a exploração dos recursos marinhos, a saber: uma ampla frente atlântica, rica
em recursos piscícolas e um clima quente, com estiagens longas e secas, adequado à produção
de sal354. Ainda assim, na literatura greco-latina foi-se construindo uma imagem estereotipada

352
Desde a década de 1960, historiadores se debruçam no estudo das economias antigas, sobretudo nos casos do
mundo Greco-romano. Dentre os modelos interpretativos construídos, é possível reconhecer dois grandes
grupos: a corrente modernista/ formalista, dedicada à compreensão da existência de analogias entre as sociedades
antigas mais desenvolvidas e o capitalismo moderno. Nessa leitura, as sociedades possuiriam elementos pré-
capitalistas, já sendo observável a relação de oferta e demanda. Paralelamente estaria a vertente primitivista/
substantivista, a qual compreende que os sistemas econômicos da antiguidade configuram ‘economias distintas’,
radicalmente diferentes da capitalista, tornando-se impossível aplicar o modelo da economia ocidental para
compreendê-las. Nesse modelo interpretativo, não se reconhece o mecanismo de oferta e demanda, mas sim
(dependendo do contexto), relações ligadas ao universo do parentesco, relações de poder, etc. Para não esgarçar
o limite temático do presente capítulo, não nos debruçaremos sobre tais teorias, assim, para uma introdução ao
estudo do tema vide os trabalhos de FINLEY, M. A Economia antiga (Volume 2 de Colecção Biblioteca das
ciências do homem: História). Lisboa: Afrontamento, 1980; DEININGER, J. ‘A teoria econômica dos Estados
antigos: a questão do capitalismo na Antiguidade na visão de Weber’. Tempo soc., São Paulo, v. 24, n. 1, p. 61-
84, 2012; PALMEIRA, M. S. Moses Finley e a economia antiga: a produção social de uma inovação
historiográfica (tese). São Paulo: FFLCH, 2007.
353
FABIÃO, C. ‘A dimensão atlântica da Lusitânia: periferia ou charneira no Império Romano?’, In.: Gorges, J.-
G., ENCARNAÇÃO, J. d’., NOGALES BASARRATE, T. & CARVALHO, A. (Edt.) Lusitânia Romana,
entre o mito e a realidade: Actas da VI Mesa-Redonda Internacional sobre a Lusitânia Romana. Cascais:
Câmara Municipal de Cascais, 2009, p. 53.
354
FABIÃO, C. ‘Cetárias, ânforas e sal: a exploração de recursos marinhos na Lusitania’. In.: Estudos
Arqueológicos de Oeiras, 17, Oeiras, Câmara Municipal, 2009, p. 555-594.
164

do extremo Ocidente, onde se é possível identificar alguns topoi discursivos, inicialmente


forjados em horizonte helenístico, para referirem-se à região como: “fim do mundo”, “terra
ignota”, “lugar de prodígios” e “sítio de barbárie”.
Por sua vez, continua o autor, a investigação portuguesa sobre a Península assumiu de
um modo ingênuo esta imagem de finisterra, à beira do terrífico mar Oceano, e interiorizou a
noção de uma Lusitânia ultra-periférica no contexto do Império Romano. Neste sentido, a
condição continental dos principais centros políticos da provincia constituía um argumento a
favor de uma depreciação do litoral. Paralelamente a isso, o desenvolvimento das pesquisas a
respeito de outras províncias, valorizou a importância de algumas rotas de circulação norte-
sul, designadamente o istmo gaulês e as rotas do Ródano e Reno, no abastecimento à
Britannia ou à Germania Inferior. Tais pesquisas sublinharam, ainda, a suposta condição
periférica hispânica desvalorizando a rota atlântica que, apesar de algumas dificuldades de
navegação, constituía a melhor escolha, atendendo à razão distância / custo. Deste modo, ao
mesclar acriticamente as distintas tradições literárias, com especial destaque para as primeiras,
tais estudos contribuíram para a perpetuação dos paradigmas construídos, obliterando sua
necessária problematização355.
Vale destacar que entre as décadas de 1970 e 1990 as atividades náuticas da província
da Lusitânia não se constituíam no principal foco de atenção das investigações. Mesmo
quando se procurava definir o lugar ocupado pelo comércio marítimo com o exterior da vida
econômica provincial, a temática aparece de forma dispersa em estudos de caráter mais
amplo356. Na análise desta conjuntura historiográfica, Vasco Gil Mantas atribui este aparente
desinteresse à exiguidade dos testemunhos diretamente relacionados às atividades
marítimas357. Neste panorama, a revisão de tal perspectiva adveio do avanço das pesquisas
arqueológicas, notadamente desenvolvidas tantos nos sítios costeiros às áreas litorâneas como
no próprio litoral 358 , que apresenta numerosos vestígios que confirmam a dimensão e

355
Op. cit., 2009, p. 56.
356
Dentre os trabalhos mais importantes, citamos como bom ponto de partida para a abordagem do
problema a obra de José Maria Blázquez, Historia económica de la Hispania Romana, Madrid,
1978, . No tratamento do território português, merece destaque a análise de Jorge de Alarcão, ‘A
produção e a circulação dos produtos’, publicado em Nova História de Portugal, I, Lisboa, 1990, p.
409-41; e a rica investigação de Vasco Mantas, ‘As cidades marítimas da Lusitânia’, publicado em
Les Villes de Lusitanie Romaine, Paris, 1990, p. 149-205, por fim, os estudos de Robert Étienne e
Françoise May et, intitulado ‘Laplace de la Lusitanie dans le commerce mediterranèen’, publicado em
Conimbriga, XXXII-XXXIII, 1993-1994, p. 201-218.
357
MANTAS, V. G. ‘Navegação, economia e relações interprovinciais: Lusitânia e Bética’. In:
HVMANITAS- Vol. L, 1998, pp. 199-239.
358
Vale destacar os importantíssimos achados arqueológicos realizados pelas pesquisas subaquáticas. Para a
análise do tema, vide os estudos de: Bombico, S. ‘Arqueologia Subaquática Romana em Portugal – Evidências,
165

relevância das atividades comerciais desenvolvidas. Assim, nos últimos anos, a franja
Atlântica ganhou novas perspectivas analíticas, sobretudo em relação às práticas econômicas
contextualizadas na fachada ocidental do Império Romano359.
Tais investigações permitiram não apenas construir uma nova ideia do Império
Romano, mas também reequacionar e resignificar o papel da província da Lusitânia 360. Por
outro lado, apesar de não apontar para um estudo dos materiais arqueológicos representativos
do comércio marítimo, não é possível duvidar da existência de uma 'cultura marítima' bastante
ativa no litoral provincial, principalmente, a partir dos dados epigráficos e imagéticos já

Perplexidades e Dificuldades’. In.: Actas das IV Jornadas de Jovens em Investigação Arqueológica (JIA
2011), Vol.II, Promontoria Monográfica 16, Universidade do Algarve, Faro, 2011, pp.99-106.
359
Destacam-se os estudos de: REMESAL RODRÍGUEZ, J. La Annona Militaris y la exportación de aceite
betico a Germania, con un corpus de sellos en ánforas Dressel 20 hallados en: Nimega, Colonia, Mainz,
Saalburg, Zugmantel y Nida. Madrid: Universidad Complutense, 1986;__________. ‘El abastecimiento militar
durante el Alto Imperio Romano: un modo de entender la economía antigua’. Boletim do CPA 17:163-182,
2004; __________. ‘Provincial interdependence in the Roman Empire: an explanatory model of Roman
economy’. In. FUNARI, P.P.A., GARRAFFONI, R. S. & LETALIEN, B. (Eds.) New Perspectives on the
Ancient World Modern perceptions, ancient representations (BAR Inter.Series 1782). Oxford: Archeopress,
2008, pp. 155-160; NAVEIRO LÓPEZ, J. L. El Comercio Antiguo en el N.W. Peninsular. Lectura Histórica
del Registro Arqueológico. Coruña: MuseuArqueológico, 1991, __________. ‘Registro cerâmico e
intercâmbios en el Noroeste en la época romana’. In.: FERNÁNDEZ OCHOA, C. (Ed.) Los
finisterresatlánticos en la antigüedad: época prerromana y romana(Coloquio Internacional): homenaje a
Manuel Fernández Miranda, 1996, pp.201-204.; CHIC GARCÍA, G. ‘Roma y el mar: del Mediterraneo al
Atlántico’. In.: ALONSOTRONCOSO, V. (Ed.) Guerra, exploraciones y navegación del
mundo Antigua a la edad moderna (Ferrol, 1994). Coruña: Universidade da Coruña, 1995, pp.55-
89;__________. ‘La “Gaditanización” de Hispania’. In.: Andalucía: reflexiones sobre su Historia. Sevilla:
Padilla Libros, 2003, pp. 7-44; CARRERAS, C. Economia de la Britannia Romana: La Importación
de Alimentos. Barcelona: Publicaciones Universidad de Barcelona, 2000; __________. ‘Consumo de Salazones
Béticos desde Época de Augustoa Los Julio-Claudios: Mercados Emergentes en AsturicaAugusta (Astorga),
Barcino (Barcelona) y Oppidum Cugernorum(Xanten)’. In.: Actas del Congreso Internacional CETARIAE:
salsas y salazones de pescado en Occidente durante la Antigüedad. Oxford: Archaeopress, 2005, pp. 215-
220.
360
No contexto português observam-se os estudos de FABIÃO, C. ‘A Exploração dos Recursos Marinhos’. In.:
Portugal Romano: a exploração dos recursos naturais. Lisboa: MNA, 1997; __________. ‘O vinho na
Lusitânia: reflexões em torno de um problema arqueológico’. In.: Revista Portuguesa de Arqueologia I(1), 1998,
pp. 169-198; __________. ‘Caminhos do Atlântico Romano: Evidências e Perplexidades’. In.: FERNÁNDEZ
OCHOA, C. & GARCÍA DÍAZ, P. (Eds.) III Colóquio Internacional de Arqueología en Gijón. Unidad y
diversidad en el Arco Atlántico en época romana. Gijón: s/e. 2005, pp. 83-85;__________. ‘A dimensão
atlântica da Lusitânia: periferia ou charneira no Império Romano?’, In.: Gorges, J.-G., ENCARNAÇÃO, J. d’.,
NOGALES BASARRATE, T. & CARVALHO, A. (Edt.) Lusitânia Romana, entre o mito e a realidade:
Actas da VI Mesa-Redonda Internacional sobre a Lusitânia Romana. Cascais: Câmara Municipal de
Cascais, 2009. Vê-se ainda os trabalhos de MANTAS, V. ‘As cidades marítimas da Lusitânia’. In.: Les Villes de
Lusitanie Romaine. Hiérarchies et Térritoires (Talence, 1988). Paris: Centre National de la Recherche
Scientifique, 1990, pp.149-205;__________. ‘Navegação, economia e relações interprovinciais: Lusitânia e
Bética’. In.: Humanitas 50, 1998, pp. 199-240;__________. ‘As villae marítimas e o problema do povoamento
do litoral português na época romana’. In.: GORGES, J.-G. & RODRÍGUEZ MARTÍN, G. (Eds.) Économie et
Territoire en Lusitanie Romaine. Madrid: Casa de Velázquez, 1999, pp. 135-156;__________. Portos
Marítimos Romanos. Lisboa: Academia da Marinha, 2000;__________. ‘O Atlântico e o Império Romano’.
In.: Revista Portuguesa de História 36(2), 2002-2003, pp. 445-468, e ;__________. ‘A Lusitânia e o
Mediterrâneo: identidade e diversidade numa província Romana’. In.: Conimbriga XLIII, 2004, pp. 63-83.
MORAIS, R. ‘Contributo para o estudo da economia na Lusitânia romana’. In.: Saguntum 40, 2007, pp. 133-
140.
166

361
conhecidos . A carência das referências concretas dos portos lusitanos reflete as
características especiais da navegação regional, relacionada com a cabotagem e com a prática
de transbordo de mercadorias em portos de trânsito. Por outro lado, deve-se considerar
também a sua integração num setor marítimo controlado pelos portos béticos desde a época
anterior ao domínio romano, limitando de forma persistente o desenvolvimento da navegação
direta entre a Lusitânia e outras regiões do Império.
Nesta lógica, a existência de uma extensa atividade de exploração de recursos
marinhos é observável a partir da distribuição ao longo da costa de inúmeros pontos de
povoamento com vestígios de ânforas cetárias 362 . Esta produção pode ser associada à
observação da cartografia de distribuição destes vestígios, o que aponta para o denso
povoamento costeiro de época romana. Estes testemunhos arqueológicos evidenciam que a
produção de preparados de peixe (garum) destinava-se não só a um consumo local e regional,
mas à exportação, daí a identificação de um grande número de centros oleiros produtores de
ânforas para o transporte de preparados piscícolas363.
No mapa a seguir é apresentada a distribuição dos centros produtores de ânforas
usadas para transportar tal condimento, com destaque para a relação entre a localização destas
olarias e os sítios arqueológicos com cetárias.

361
Aqui, referimo-nos aos mosaicos de temática marítima encontrados na Villae, e ao acervo epigráfico-
imagético de importância considerável. Dentre os inúmeros estudos existentes, citamos algumas referências: ‘O
mosaico luso-romano de Póvoa de Cós’, de Irinalva Nóbrega Moita. No território português da Lusitânia o
evergetismo exprime, salvo raras exceções, a ação dos grandes centros marítimos, vale recordar a construção do
proscénio e da orquestra do teatro de Olisipo (CIL II 183) e do pódio do circo de Balsa (CIL II 5165,5166/ IRCP
76,77).
362
FABIÃO, C. ‘Centros oleiros da Lusitania. Balanço dos conhecimentos e perspectivas de investigação’. In.:
Actas del Congreso Internacional FIGLINAE BAETICAE. Talleres alfareros y producciones cerámicas
en la Bética romana (ss. II a.C. – VII d.C.), Universidad de Cádiz, Noviembre 2003, B.A.R., int. ser., 1266,
Oxford, 2004, pp. 379-410; LAGÓSTENA BARRIOS, L. La producción de salsas y conservas de pescado en
la Hispania Romana: (II a.C. - VI d.C.) (Collección instrumenta 11). Barcelona: Universidade de Barcelona
Publicações, 2001.
363
Vide a produção da ânfora Dressel 14b, indiscutivelmente produzida na Lusitânia, nomeadamente no vale do
Sado.
167

Mapa 10 - Distribuição dos centros oleiros da Lusitânia por Carlos Jorge Fabião 364

Deste modo, a aparente contradição entre o silêncio das fontes literárias e a


multiplicidade dos testemunhos arqueológicos referentes à exportação de grande quantidade
de produtos lusitanos deve ser examinado levando em conta os contextos geográficos e
históricos da região. No tocante à navegação comercial, Mantas 365 destaca que a situação
geográfica da província e as características da sua economia, fortemente marcada pela
exportação de minérios366 e de produtos alimentares367, associados ao fato de a província ter
integrado inicialmente a Hispania Ulterior são circunstâncias que sugerem de imediato uma

364
Disponível em: ‘A dimensão atlântica da Lusitânia: periferia ou charneira no Império Romano?’, In.: Gorges,
J.-G., ENCARNAÇÃO, J. d’., NOGALES BASARRATE, T. & CARVALHO, A. (Edt.) Lusitânia Romana,
entre o mito e a realidade: Actas da VI Mesa-Redonda Internacional sobre a Lusitânia Romana. Cascais:
Câmara Municipal de Cascais, 2009, p. 62.
365
MANTAS, V. G. op. cit, 1998, pp. 210-215..
366
MARTINS, C. M. B. A exploração mineira romana e a metalurgia do ouro em Portugal. Braga: Unidade
de Arqueologia da Universidade do Minho, 2008.
367
ARIÑO GIL, E & DIAZ, P. C. ‘La economia agraria de la Hispania Romana: colonización y territorio’. In.:
Stvd. Hist.,Historia Antigua 17,1999, pp. 153-192.
168

estreita relação entre a Lusitânia e a Bética. Frente a isso, o autor defende a hipótese do
desenvolvimento do comércio marítimo baseado na importância da cabotagem na navegação
antiga, isto é, na forma como foram organizadas as correntes comerciais entre a Península e
outras regiões do Império, e na integração da extensa fachada marítima lusitana num espaço
atlântico controlado durante o Alto Império a partir dos grandes portos béticos.
Durante o período republicano a Salácia368 foi o porto mais importante da região que
recebeu a província da Lusitânia, o que aponta para a hipótese da continuidade das estruturas
do comércio marítimo pré-romano. Quanto a isso, Mantas369 defende ideia de que a integração
do comércio marítimo ao domínio romano foi desenvolvida através da dupla ação da
concorrência externa e da evolução das elites locais que o controlavam. Nessa leitura, a região
já teria acompanhado outros centros portuários da Hispania Ulterior na adesão aos partidários
de Pompeu, durante o primeiro Triunvirato (na segunda metade do século I a. C.).
Compreende-se, assim, a existência de uma comunidade de interesses cujo elo
fundamental era constituído pelo mar. Outro exemplo pode ser vislumbrado na fidelidade de
Gades a César, no que terá sido acompanhada por Olisipo, contrária ao movimento
generalizado de apoio aos pompeianos, ainda na segunda metade do século I a. C. Como
sinaliza o autor, tais eventos podem apontar tanto para a ação de clientelas cesarianas, como
para a existência de tensões anteriores de caráter econômico ou cultural. Destarte, Cádis teria
saído do período das guerras civis com a sua posição particularmente reforçada, ascendendo
ao estatuto de Municipium civium romanorum ainda 49 a. C, estatuto recebido por Olisipo
apenas sob o governo de Augusto. Logo, a ascensão de Olisipo à condição de municipium e
de principal porto da costa lusitana foi facilitada pelas relações com Gades e pelo fato das
estruturas administrativas provinciais serem as mesmas 370 , o que constituia o litoral da
Hispânia Ulterior em um setor único371.
Em relação à navegação entre o Mediterrâneo e o Atlântico, o desenvolvimento global
das atividades marítimas no quadro Pax Romana, permitiu articular de forma racional os

368
A denominação romana oficial da cidade de Alcácer do Sal foi Urbs Imperatoria Salacia, atribuído por Sexto
Pompeio. O primeiro elemento, Urbs, encontrado apenas na toponímia oficial das grandes cidades marítimas
hispânicas, realça a importância atingida pela cidade. Já o segundo termo, Imperatoria¸demonstra que ela foi
distinguida por um imperator. Já o último termo, Salacia, pode fazer referência à lógica que presidiu à
denominação da cidade, não a referência à existência de salinas na região, mas sim à deusa Salaca, esposa de
Neptuno. Para Vasco Gil Mantas, essa proposta de compreensão dos tria nomina da civitas refere-se ao o
império do mar detido pelos pompeianos e cujas características permitem a sua inclusão num grupo de
denominações republicanas já conhecidas na região (MANTAS, op cit, 1988, p. 222).
369
MANTAS, V. G. op. cit, 1998, pp. 221.
370
FABIÃO,C. ‘Modelos forenses nas cidades da Lusitania: balanços e perspectivas’. In.: NOGALES
BASARRATE, T. (Edt.). Ciudad y foro en Lusitania Romana. Studia Lusitana nº 4. Mérida: Junta de
Extremadura/MNAR, 2010.
371
MANTAS, V. G. op. cit, 1998, pp. 221-222.
169

diversos tráficos e rotas. É neste contexto que se deve integrar e interpretar o transporte dos
produtos lusitanos, escoados em grande parte através de navegação de cabotagem até aos
portos béticos da costa atlântica, onde eram transbordados para os navios que os conduziam
para os portos italianos ou para a Província da Narbonense. A distribuição de ânforas de
Tritium Magallum, largamente difundida na Lusitânia (cujo centro de distribuição teria sido a
colônia de Augusta Emerita), representam evidência desse processo372. Tal fato nos permite
avançar na hipótese de que a sua difusão na Bética tenha a ver com portos lusitanos,
eventualmente Olisipo ou Salacia, uma vez que a via Emerita-Hispalis, por Itálica, era
insipiente no trecho bético373.
Concordamos com Mantas na tese de que a criação das províncias Bética e
Lusitânia 374 acelerou o processo de enfraquecimento da Salacia 375 . Nessa perspectiva, o
municipium Olisipo pode ser considerado, tendo em conta o seu estatuto jurídico, as suas
funções de caput viarum e a excelência do seu porto, como autêntica capital litoral da
província376. O que se conhece das classes dirigentes de Olisipo e de Salacia demonstra que
em Olisipo, apesar da importância dos libertos, o domínio da economia se deu por parte de
uma aristocracia majoritariamente oriunda da emigração italiana, enquanto em Salácia a
intervenção dos libertos na vida pública parece determinante.
Por fim, destaca o autor, a conquista da Mauritânia, durante o principado de Cláudio,
apoiada a partir do Sudoeste hispânico, permitiu reunificar o espaço econômico definido
anteriormente pela ação fenício-púnica. Tal fato teve um importante desdobramento na Bética
e na Lusitânia, refletindo na atribuição do estatuto municipal a Baelo377 e, possivelmente, a
Ossonoba, ao mesmo tempo em que, na Mauritânia, Tingis (Tânger), Lixus (Larache) e
Volubilis ascenderam ao estatuto colonial, constituindo-se em promoções jurídicas claudianas
que destacam a unidade da área a ocidente do Estreito de Gibraltar378.

372
ALARCÃO, J. ‘As vias romanas de Olisipo a Augusta Emerita’. In.: Conimbriga, nº 45. Coimbra: Instituto
de Arqueologia, 2006, pp. 211-251.
373
MANTAS, V. G. op. cit, 1998, pp. 212-213, 223. Vida ainda, MANTAS, V. G. As vias romanas da
Lusitânia – Studia Romana n. 7. Mérida: MNAR, 2012.
374
Alguns autores datam a fundação da Província da Lusitânia em 27 a. C. (vide capítulo 2 da presente tese).
Vasco Gil Mantas não concorda com essa datação e atribui a datação entre os anos de 16 e 13 a. C.
375
MORAIS, R. M. L. de S. & Bernardes, J. P. L. Cornelius L. F. Bocchus E a Economia Da Lusitania.
Lisboa: Academia Portuguesa da História/ Madrid: Real Academia de la Historia, 2011.
376
Apesar da atividade desenvolvida por personalidades como L. Cornelius Bocchus, cujo cognome realça as
relações com a Mauritânia neo-púnica.Vide os registros de nº 83, nº 114, nº 78 e nº 82 do corpus epigrafico da
tese, e também o CIL II 35=IRCP 185; IRCP 188; CIL II 5617=EE VIII 4=IRCP 189; CIL II 5184=ZRCP 204.
377
Civitas considerada ‘porto de trânsito’ em relação às mercadorias exportadas pela Mauritânia Tingitana.
378
MANTAS, V. G. op. cit, 1998, pp. 212-213, 223.
170

Tais dados nos permitem concordar com o que Aarón A. Reyes Domínguez 379 chamou
de economia de circuito, na análise das relações econômicas desenvolvidas ao longo do Alto
Império Romano. Para o autor, a existência de relações comerciais e de mercado ao mesmo
tempo em que a frequente geração de lobbies com influência sobre a estrutura administrativa
central, criou um tipo específico de intercâmbios pessoais.

Em se tratando da hipótese da existência ou não de uma economia de mercado


estruturada e identificada no Império Romano, concordamos com Jean Andreau380 e Paulo
Duprat381 na interpretação da estrutura da economia romana como um sistema de mercados
fragmentados. Nesses termos, tais mercados não seriam unificados, quer fossem
impulsionados pela administração imperial ou pelo nível privado, local. Deste modo, ainda
que não se possa falar de uma economia de mercado para o mundo romano382, é possível
considerar que em algumas áreas foram formados mercados setoriais, que correspondiam às
especificidades de cada região.

Nessa conjuntura, há de se destacar que a ação imperialista romana pode ser


caracterizada pelo desenvolvimento de uma matizada rede de poder obtida e mantida pelas
alianças entre o poder central e os grupos locais - em distintos níveis. Deste modo, a anexação
do território e sua transformação em província coexistiram com outras formas de
relacionamento desenvolvidas entre as populações regionais e o poder imperial, tais como, o
estabelecimento de protetorados e a manutenção de zonas de influência, para citar dois
exemplos.

Dialogando com tais assertivas, Aldo Schiavone383 salienta que a economia imperial
Romana apresentou uma estruturação que se aproxima da ideia de uma ‘economia dual’.
Tratar-se-ía de um conjunto de iniciativas que coexistiram no tempo e espaço, cuja orientação
prática seria sustentada por dois planos essenciais, a saber: (a.) uma economia agrário-
mercantil-mineira de base escravista, imbricada nos circuitos comerciais mediterrânicos e

379
‘Economía de circuito y la renovación de los grupos de influencia provinciales em la metrópoli’. In.:
CABALLOS RUFNIO, A. F. (Edt.) Del municipio a la corte: la renovación de las elites romanas. Sevilla:
Secretariado de Publicaciones de la Universidad de Sevilla, 2012, p. 104ss.
380
ANDREAU, J. ‘L'économie gréco-romaine était-elle capitaliste?’. Conferência proferida no Seminário
“L'argent, l'enrichissement, la richesse de l'Antiquité à la Renaissance”, ocorrida na Université de Picardie Jules
Verne (UPJV), Amiens, França, 2013.
381
DUPRAT, P. P. Economia e Romanização em Bracara Augusta durante o Alto-Império: uma reflexão
comparativa (Dissertação de mestrado). Rio de Janeiro: PPGHC/UFRJ, 2015.
382
ANDREAU, J. op. cit., 2013, p. 6-14.
383
SCHIAVONE, A. Uma História rompida: Roma antiga e Ocidente moderno. São Paulo: Edusp, 2005, pp.
99-100.
171

amparada por uma circulação monetária, numa ampla rede viabilizada pelo domínio romano,
e (b.) uma economia de subsistência orientada para o consumo local ou regional. A
coexistência das duas frentes constituiria, então, a especificidade fulcral da economia imperial
romana384.

As análises apresentadas dialogam diretamente com os estudos de David J.


Mattingly385, que compreende o desempenho da economia romana a partir da observação da
aglomeração de economias regionais globalizadas. Estas seriam definidas por um conjunto de
mecanismos cujo funcionamento contribuiria para o controle de áreas de atividade econômica,
de acordo com as especificidades locais. A articulação integrada dos fenômenos formaria,
assim, economias discrepantes386, ainda que interligadas. Na proposta de mapear globalmente
a questão, o autor apresenta a seguinte tabela 387:

Tabela 14 - Economias do mundo romano por D. Mattingly

Estrutura Localização Mecanismos Econômicos Evidências Arqueológicas


Econômica

Economia Grande império e Impostos: exploração imperial Monetarização baseada nas


Imperial além- fronteiras sobre a terra, o trabalho, recursos, necessidades militares; na coleta de
redistribuição, donativos, impostos; na movimentação de longa
compromissos salariais. distância de bens para províncias
fronteiriças ou Roma e na distribuição
segundo padrões militares.
Economias Grande império e Economia de livre mercado Movimento interprovincial de
Extraprovinciais além- fronteiras respondendo às oportunidades do mercadorias para mercados locais;
suprimento militar; comércio de consumo de mercadoria importada em
prestígio áreas civis.
Economias Circunscritas às Economia de livre mercado, Mercados locais de distribuição de
Provinciais fronteiras provinciais, respondendo à taxação e à produtos produzidos localmente,
frequentemente monetarização. difusão da monetarização para centros
localizadas em torno comerciais.
das grandes cidades.

384
Vide a análise conjunta dos trabalhos de Aldo Schiavone e o modelo analítico de Keith Hopkins nos estudos
intitulados: ‘Taxes and Trade in the Roman Empire, 200 b. C. - 200 a. C.’ In: Journal of Roman Study, 1980,
p.101-125, e ‘Rome, taxes, rents and trade’. In: SCHEIDEL, W.; REDEN, S. von (Edts.). The Ancient
Economy. New York: Routledge, 2002, p. 190-230.
385
Cujas considerações podem ser lidas em conjunto com os trabalhos de Aldo Schiavone e o modelo analítico
de Keith Hopkins nos estudos intitulados: ‘Taxes and Trade in the Roman Empire, 200 b. C. - 200 a. C.’ In:
Journal of Roman Study, 1980, p.101-125, e ‘Rome, taxes, rents and trade’. In: SCHEIDEL, W.; REDEN, S.
von (Edts.). The Ancient Economy. New York: Routledge, 2002, p. 190-230.
386
MATTINGLY, D. J. ‘Imperial economy’. In: A Companion to the Roman Empire. POTTER, D. S. (Ed.).
Malden, MA: Blackwell, 2006, p. 283-297, e Imperialism, power, and identity: experiencing the Roman
Empire. Princeton: Princeton University Press, 2011, p.145.
387
Fonte: DUPRAT, P. P. Economia e Romanização em Bracara Augusta durante o Alto-Império: uma
reflexão comparativa (Dissertação de mestrado). Rio de Janeiro: PPGHC/UFRJ, 2015, p. 61.
172

388
Deste modo, concordamos com Paulo Duprat na compreensão de que a
conceituação proposta por Mattingly entende a economia romana segundo a lógica da
dinâmica de interdependência e complementaridade entre três entidades econômicas que,
vistas rapidamente, podem parecer desconexas, isto é: uma economia imperial, o conjunto
multifacetado das economias extraprovinciais, e um conjunto de economias provinciais
centradas regionalmente. Assim, se a economia imperial abrangeria as receitas e os gastos do
estado 389 , as economias extraprovinciais incluiriam toda a estrutura necessária para a
movimentação de bens pelas zonas aduaneiras fronteiriças aos territórios provinciais. Estas
deram corpo à expansão na escala e natureza do fluxo inter-regional de bens, no qual apenas
uma parte pode ser atribuída à economia imperial. O terceiro ponto desse sistema analítico
seriam, então, as economias provinciais que, como observado na Província da Lusitânia,
estariam relacionadas com o surgimento ou evolução de sistemas e redes de mercados locais,
caracterizadas pela produtividade rural-mineira-mercantil ou a diversificada atividade
manufatureira390.

388
DUPRAT, P. P. op cit, 2015, p. 62.
389
Incluindo, aqui, o exército, a infraestrutura de governo, o sistema de tributação, a exploração de recursos e o
abastecimento das necessidades da estrutura de governo.
390
MATTINGLY, D. J. op. cit., 2011, p. 138-40.
173

Considerações Finais

Durante o Principado, diante do contato com experiências culturais tão distintas, foram
construídas ‘mensagens oficiais’ que buscavam elaborar uma identidade ‘espaço-imperial’
para os romanos. Neste contexto sociopolítico e cultural, vimos que foram desenvolvidas
obras que buscavam sistematizar os símbolos de referências e atitudes particulares que
delimitavam a cultura imperial romana. Nessa perspectiva podem ser incluídos a
autobiografia de Otávio Augusto, as obras de Estrabão e Plínio – o – Velho, para citar alguns
exemplos. Como analisamos, em tais obras a fala principal é a descrição romana dos lugares,
pessoas e hábitos culturais das comunidades provinciais.

O presente trabalho teve como proposta matizar essa questão e buscar as outras vozes
na investigação a respeito das relações sociopolíticas desenvolvidas no horizonte do Império
Romano do Ocidente. No entanto, foi preciso considerar que os sistemas culturais da maioria
das comunidades peninsulares não incluía o registro sistemático dos acontecimentos. Por
outro lado, a introdução do hábito epigráfico foi uma realidade trazida pela presença romana.
Diante disso, a busca pelas outras vozes, para além da descrição romana dos acontecimentos,
revela-se um desafio.

Como uma saída possível, optamos por reconduzir o olhar de observação para a
documentação gerada pelo universo peninsular. Nesse sentido, a documentação que, em parte,
auxilia nessa tarefa consiste na intensa e extensa produção epigráfica. Nossa proposta
consistiu, então, em cotejar as informações presentes nos textos oficiais com as adaptações e
ajustes apresentados pela documentação epigráfica. Sabemos que ambos os suportes dialogam
profundamente com a oficialidade romana, mesmo assim, ao se ajustar as realidades locais, a
documentação epigráfica pode salientar aspectos não evidenciados em outros registros
textuais.

Nossa escolha por uma abordagem que tivesse como ponto de partida a perspectiva
sócio-espacial adveio da compreensão de que o estudo da temática espacial consiste em uma
importante ferramenta para análise da visão de mundo e do desenvolvimento das relações
sociais nos diversos grupos, observados tempo e espaço. O espaço é, pois, político,
formulado a partir e na conjuntura dialética das relações sociais. Rememorando as reflexões
174

de Henry Lefebvre391, o espaço é político e ideológico, sendo uma representação literalmente


povoada de ideologia. Quando problematizado, sua aparente homogeneidade e objetividade
dão lugar à complexidade das produções sociais que conferem outros sentidos para as
formulações conceituais urbanístico-arquitetônicas. Nesses termos, o ponto inicial da
investigação consistiu na análise da construção do espaço social provincial e, frente a isso, o
mapeamento da historicidade das ocupações do território que abrigou a Província da
Lusitânia.

Deste modo, o Império Romano pode ser visto como um mosaico de cidades, como
bem apontou Pierre Grimal, mas não apenas isso. Na presente investigação, o estudo do
Império Romano foi materializado no destaque dado à problemática dos diversificados
mundos provinciais, sobretudo nas distintas formas de integração dos territórios no quadro
político administrativo propiciado pelo Império Romano. A construção artificial da cidade
provincial romana, isto é, uma circunscrição dotada de uma definição jurídica, delimitada no
espaço e materializada nas construções não pode obliterar a observação da comunidade
enquanto coletividade, vivência cotidiana de pessoas de diversas origens e marcada,
sobretudo, pela heterogeneidade do conviver. Portanto, falar de integração no conjunto do
Império Romano é referir-se a um triplo movimento: geopolítico, jurídico, político-econômico
e, especialmente, social.

A proposta de investigar a organicidade da comunidade provincial assumiu o lugar


central no presente estudo. A consolidação da administração do território provincial foi
analisada por nós a partir do estudo integrado de um conjunto de aspectos, a saber: o
reordenamento espacial que deu origem à formação da Província da Lusitânia, a redistribuição
espacial das populações, o projeto de colonização e municipalização e a construção da
infraestrutura imperial no território. Ao indagar a mecânica dos acontecimentos, a busca por
um olhar mais acurado das interações advindas do contato das culturas locais com a cultura
Greco-romana redimensionou nosso olhar para a prática epigráfica fruto desse processo, a fim
de explicitar os três níveis de integração: espacial, social, jurídico-administrativo.

Em nossa leitura, a província foi interpretada como uma estrutura administrativa


utilizada para a estabilização do território, ao introduzir novas regras para o funcionamento e
usos do espaço. Sua constituição geográfica não se limitava à redefinição cartográfica.
Enquanto intercessão entre o governo imperial e os cidadãos (novos ou não), a nova
391
LEFEBVRE, H. Espaço e Política. Belo Horizonte: UFMG, 2008, p. 62
175

organização espacial introduzida fundamentava-se na compreensão de que os espaços


transformados em territórios combinavam paisagens organizadas, estratégias de exploração do
solo, a definição das propriedades pública e privada, a acessibilidade dos lugares, e,
sobretudo, a organização social que habitava e vivenciava o espaço físico. No estudo de caso
desenvolvido, as cidades e as comunidades locais constituíam-se, pois, na ‘ossatura’ da
província da Lusitânia.
Suas heranças culturais alicerçavam uma construção geográfica que fora reconduzida
pelas autoridades imperiais e recaracterizada pela regionalização e adaptação às realidades
locais. Neste ponto de vista, defendemos que a divisão e a fixação provincial desempenharam
um papel catalisador no cruzamento das histórias locais e a presença romana. Por esse ângulo,
o espaço provincial pode ser definido como o local da autoridade, tão simbólico, quanto
administrativo, extensível e maleável às especificidades locais. Enquanto que o território
cívico pode ser definido pela delimitação e fixação no espaço das civitates. Juntos, ambos
atuaram de forma coordenada na construção, regulação e consolidação das áreas conquistadas
Diante dessas questões, consideramos que o estudo da cultura material deve incluir as
estruturas simbólicas que dão forma e caracterizam as relações sociais, assim como o contexto
sociocultural das sociedades. Nessa lógica, a cultura material não foi vista como um mero
reflexo da adaptação ecológica ou da organização sociopolítica; mas sim como um elemento
ativo nas relações entre os grupos sociais. Ou seja, a cultura material não se constituiu
enquanto um mero espelho da sociedade que a formulou, ou como uma janela através da qual
podemos observá-la. De outra forma, sua produção está envolvida intrinsecamente com a
prática social e por isso deve ser contextualizada em seu contexto de produção.

Assim sendo, a produção epigráfica foi compreendida como fruto da conjunção de


todos esses vetores. Através dela, a tessitura da vivência cotidiana ganhou nova tonalidade e
evidenciou aquilo que a literatura mantém desfocado, a saber, as escolhas dos indivíduos, suas
estratégias políticas, suas omissões, a adaptação seletiva das normatizações sociais assim
como as distintas formas de apropriação dos elementos culturais. De fato, as inscrições, como
evidência direta do mundo antigo, estão entre as fontes mais importantes e numerosas para se
investigar a vida cotidiana no mundo romano em todos os seus aspectos.

Em relação ao texto epigráfico, na presente tese partimos da compreensão de que


estamos perante a uma mensagem que, ainda que sintética, fora pensada para a perenidade
(perennitas), dito em outras palavras, os textos apontam para o futuro e o não esquecimento.
Ou, como indica Giancarlo Susini, consistiria no “estudo da forma como, em determinado
176

momento, o homem selecionou ideias para deixar de si uma imagem para os vindouros”.
Como buscou-se eludicar ao longo dos capítulos dois e três, os monumentos epigráficos,
quando indagados, falam sobre pessoas, indivíduos com nome, filiação, vínculos sociais,
atuações políticas e militares. Por outro lado, quando associados às documentações jurídicas,
auxiliam na compreensão, ainda que teórica, dos parâmetros da relação desenvolvida entre
Roma e as comunidades locais.

Uma vez analisados comparativamente, os registros provinciais ganharam outras cores


e nisto esteve a grande contribuição do método comparativo para a pesquisa desenvolvida. O
cotejamento das informações oriundas dos três conventus que formaram a Província da
Lusitânia contribuiu para a problematização das generalizações a respeito do universo
provincial e para o rechaçamento de uma ideia homogeneizadora do mundo provincial. Logo,
a compreensão da dinâmica social inerente aos mundos provinciais trouxe para o centro da
pesquisa aquilo que, por tempos, habitou as periferias analíticas.

Nessa perspectiva, não priorizamos a contextualização de um determinado monumento


epigráfico, tão pouco se optou por desenvolver uma análise centrada na dinâmica interna dos
textos. Quando possível, conjugamos as duas possibilidades de trabalho e questionamos o
sentido e os usos dos conceitos que gravitam em torno das estratégias de integração do
indivíduo na visão de mundo imperial romana. A compreensão da historicidade de fórmulas
conceituais como, civitas, civis, municipium, ordo, dentre outras, permitiu examinar a
plasticidade das formulações jurídicas e sua adaptabilidade às cojunturas locais, tão plurais
quando vívidas.

No que se refere à dinâmica das relações sociopolíticas, observamos que inúmeros


intercâmbios culturais tiveram lugar. Tanto as novas práticas de representação política, quanto
às novas organizações geopolítica e sociocultural desenvolvidas em território peninsular
constituíram-se em interfaces de um intenso diálogo entre os indivíduos que fundamentaram o
espaço o transformando em ‘social’. Deste modo, na análise da integração das pessoas nas
novas configurações socioespaciais desenvolvidas a partir do domínio romano, face aos
limites dos registros epigráficos catalogados, optou-se por centralizar a investigação nos
grupos que constituíam o corpo de cidadãos das cidades.

Através da análise dos dados, a hipótese analítica que caracterizou o fenômeno da


integração social das elites provinciais em um triplo e gradual processo ganhou nitidez. A
partir da materialidade epigráfica dos registros pessoais, observamos a análise da interação
177

dos indivíduos com o espaço da cidade enquanto práticas que viabilizam a inserção de alguns
na memória da cidade. Aqui, a compreensão dos usos políticos do espaço mostrou-se uma
abordagem fundamental. Como hipótese central, defendemos que a produção epigráfica
presente nos espaços públicos foi pensada a partir de dois vetores: (a) uma vez apreendida, a
prática epigráfica foi utilizada como uma estratégia de vivência do espaço social pelos grupos
de elite provinciais, viabilizando sua integração na materialidade do espaço urbano das
civitates, e (b) tendo em vista a ampliação da produção entre os séculos I e II d. C., a prática
epigráfica transformou-se em uma das vias de diálogo, inserção e interação entre as
comunidades locais e o sistema de domínio imperial.

Uma vez contextualizada nas práticas culturais caras ao mundo mediterrânico, a


produção epigráfica introduzida pela administração romana no sudoeste da Península Ibérica
foi relida pelas comunidades locais. Como vimos, nesse processo de adaptação epigráfica, é
possível observar a manutenção de traços culturais próprios das tradições locais, seja na
manutenção da onomástica indígena, ainda que formatada de acordo com a onomástica latina,
seja no reforço do registro da origem dos indivíduos quando da confecção das lápides
funerárias, para citar dois exemplos. Nesses termos, na formação da ‘sociedade provincial’,
sobretudo entre os séculos I e II d. C., é possível obervar um movimento que incluiu (1º) a
sobrevivência das tradições locais frente ao arcabouço cultural introduzido por Roma, e (2º) a
introdução do indivíduo no imaginário da cidade.

A análise das inscrições epigráficas nos permitiu observar, assim, tanto as expectativas
de poder dos grupos locais, quanto às funções públicas desempenhadas pelos indivíduos, os
vínculos estabelecidos entre as famílias e as formas de relação entre as municipalidades.
Nessa lógica, a prática epigráfica vinculada às ações benemerentes foi vista por nós como
uma forma dinâmica de criar, reforçar e ampliar a imagem pública dos agentes e de afiançar
suas aspirações no jogo político local (regional) e imperial (global); ao mesmo tempo em que
contribuíram para a integração das elites municipais no sistema social imperial romano.

Por fim, a mudança na escala de observação permitiu olhar com mais nitidez as
negociações entre os indivíduos e o mundo social e, paralelamente a isto, problematizar os
desdobramentos dos contatos entre as tradições locais e a visão de mundo imperial. No
contexto das instituições romanas desenvolvidas na província, através da análise da
onomástica pessoal, do registro do cursus honorum dos indivíduos, da demonstração de apoio
e da adesão ao sistema de domínio imperial presentes nos textos epigráficos foi possível
178

decantar a organização jurídica e social da população provincial e, com isso, investigar os


mecanismos de mobilidade social e jurídica, assim como as ferramentas políticas de
autopromoção dos grupos. Decerto, a análise da experiência social na perspectiva apresentada
fez aparecer por detrás da tendência geral mais visível, as estratégias sociais desenvolvidas
pelos diferentes agentes em função de sua posição e de seus respectivos recursos individuais,
familiares ou de grupo.
179

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203

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841-842; RODRIGUEZ NEILA, J. F. & MELCHOR GIL, E., op cit, p. 247-248.
204

Anexo I – Corpus Epigráfico



205

Listagem das Instituições Museológicas

MAmm – Museu de Ammaia – Portalegre/Pt


MAN - Museu Arqueológico Nacional - Madrid/Es
MAP - Museo Arqueológico Provincial de Salamanca – Salamanca/Es
MAPB - Museo Arqueológico Provincial de Badajoz – Badajoz/Es
MAS - Museo de Alcácer de Sal - Setúbal/Pt
MAS - Museu Arqueológico de Sines - Sines/Pt
MASMO - Museu Arqueológico de São Miguel de Odrinhas – Sintra/Pt
MC – Museo Cateladricio - Lugo/Es
MC – Museu de Cáceres – Cáceres/Es
MCa - Museu do Carmo, Lisboa/ Pt
MCid - Museu da Cidade - Lisboa/Pt
MCR - Museu Ciudad Rodrigo - Salamanca/Es
MDLA - Museu D. Lopo de Almeida - Abrantes/Pt
MEl - Museu de Elvas - Elvas/Pt
MEv - Museu de Évora - Évora/Pt
MF - Museu de Faro - Faro/Pt
MG - Museu da Guarda - Guarda/Pt
ML - Museu de Lagos - Lagos/Pt
MM - Museu de Marvão - Marvão/Pt
MMa - Museu Manigoto - Pinhel/Pt
MMAS - Museu Municipal de Alcácer do Sal - Alcácer do Sal/Pt
MMC - Museu Monográfico de Conimbriga - Condeixa-a-Velha/Pt
MMe - Museu de Mértola - Mértola/Pt
MMS - Museu Municipal de Santarem - Santarém/Pt
MMS - Museu Municipal de Santarem - Santarém/Pt
MNA - Museu Nacional de Arqueologia – Lisboa/Pt
MNAR – Mérida/Es - Museu Nacional de Arte Romana - Mérida/Es
MNM - Museu Arqueológico Nacional - Madrid/Es
206

MNMC – Museu Nacional Machado de Castro - Coimbra/Pt


MPM - Museu Paroquial de Moncarapacho - Faro/Pt
MPo - Museu de Portalegre - Portalegre/Pt
MRA - Museu Regional de Arqueologia - Arganil/Pt
MRB - Museu Regional de Beja - Beja/Pt
MREv - Museu Regional de Évora - Évora/Pt
MSC - Museu de Santiago do Cacém - Santiago de Cacém/Pt
MSMS - Museu da Sociedade Martins Sarmento – Guimarães/Pt
MTP - Museu de Tavares Proença - Castelo Branco/Pt
NMACMCV - Núcleo Museológico de Arqueologia da Câmara Municipal de Castelo de
Vide –Castelo de Vide/Pt
RAcHis – Real Academia de História - Madrid/Es
207

Signos diacríticos utilizados

( ) Abreviatura resolvida e forma vulgar normalizada.


(---) Abreviatura não desenvolvida.
ABC Letras identificáveis ininteligíveis.
[abc] Letras perdidas que se pode restituir.
[.], [..], [...] Letras perdidas não restituíveis cujo número consta: um ponto por letra.
[-c.4-] Letras perdidas cujo numero se pode calcular.
[---] Letras perdidas cujo número não consta.
[------] Uma linha perdida.
------ Numero desconhecido de linhas perdidas.
[-] Praenomen perdido.
[[abc]] Letras em leituras que se apreciam.
+ Resto de letra inidentificável.
_ ¬ Letras que o editor do catálogo consultado corrigiu.
< > Letras omitidas por erro e restituídas pelo editor do catálogo consultado.
{ } Letras gravadas por erron que o editor exclui.
? Possivel reconstituição.
(!) Observar com atenção.
[?] Dúvidas a respeito da restituição do texto original.
[sic] Reprodução original do texto.
208

Listagem das palavras-chave por grupo temático

Grupo Temático Palavra-Chave


Tria nomina
Tribo
Registros individual
Origem
Onomástica
Administração colonial
Administração municipal
Cursus Honorum
Administração provincial
Exército
Sacerdote Imperial (Flâmine)
Sacerdócios Sacerdote Imperial (Flamínica)
Sacerdote Imperial (Augustal)
Atuação pública Benemerência
Cidadania
Dedicação imperial
Registro das atuações políticas coletivas Decreto dos decuriões / Permissão dos
decuriões
Coletividade colonial
Coletividade municipal
Republica
Relações sócio-políticas Patronato
Acordo de hospitalidade
Tabula de rendição
Grupos sociais Libertos
Escravos
Profissão
209

Conventus Pacensis

1. Ammaia
Status Jurídico: Municipium

Enquadramento Cronológico: Sem datação atribuída

Subgrupo Temático: Epígrafes Votivas

Nº de Registro: 169392 Palavra-Chave: onomástica


A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada em S. Salvador de
Aramenha, Marvão, Portugal.
Paradeiro MNAE - Marvão/Pt
Nº Inventário E 7089
Tipologia Ara
Material Granito
Medidas 81 x 53 x 30 cm
Descrição: Ara votiva em granito, trabalhada nas
quatro faces. Está boleada nas arestas por causa
da erosão. A inscrição ocupa as duas faces do
fuste: numa, está a fórmula consagratória; noutra,
encontra-se a identificação do dedicante e a
fórmula final.
B. Inscrição
GENIO · OPPID[I] / CONSTITVT[I] / SACRVM / C(aius) ANNIVS / VALENS / A(nimo) L(ibens)
D(edit)
Interpretação:
Consagrado ao Génio do Ópido Constituído. Gaio Ânio Valente deu de boa vontade.
C. Comentário Histórico
Da lista de dedicatórias ao Genio Oppidi apresentada em De Ruggiero (III p. 469-472, s.v.
“Genius”), resulta claro que a expressão só é usada na Península em Ronda (CIL II 1346), em
Córdoba (CIL II 2193) e em Cartagena (CIL II 3408). Segundo José d’Encarnação (1984, p. 668),
aqui se atesta o uso do adjetivo constitutus, interpretado no sentido de estabelecido, organizado, na
sequência das expressões ciceronianas: “civitas constituta” (Arg. 2, 10), “composita et constituta res
publica” (Leg. 3, 42). Na presente inscrição homenageia-se o numen que protegia o local
(fortificado?) e que se transformou em seu gênio tutelar. Nesses termos, o dedicante é um indígena
romanizado que se identifica com os tria nomina, omitindo, porém, a filiação: Annius é gentilicio
latino com fortes probabilidades de relacionação com estratos linguísticos pré-romanos, repetido em
Ammaia (IRCP, n° 611), em relação ao cognome latino Valens, há mais dois exemplos no
conventus: em Tróia (IRCP, n° 211) e em Évora (IRCP, n° 393).
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 604.
Catálogo Online: Não Registrado

392
O número de registro seguiu a ordem de lançamento da epígrafe no banco de dados ao longo do mapeamento
inicial da documentação material. Como as epígrafes foram reorganizadas de acordo com sua localização
geográfica e em ordem alfabética, essa numeração, nesta apresentação, não obedece a ordem crescente.
210

Nº de Registro: 170 Palavra-Chave: onomástica


A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrado em S. Salvador de
Aramenha, Marvão, Portugal.
Paradeiro MM - Marvão/Pt
Nº Inventário -
Tipologia Ara
Material Granito
Medidas 93 x 30,5 (36; 39)/33 x 29(35,5;
38)/31 cm
Descrição: Ara votiva em granito, trabalhada nas
quatro faces. Moldura de listei simples seguido
de garganta e filete diretos, em cima; na base,
filete reverso e moldura de tipo garganta reversa.

B. Inscrição
IOVI / O(ptimo) · M(aximo) / T(itus) CATEIVS [?] / QVIETVS
Interpretação:
Júpiter Óptimo Máximo — Tito Gateio (?) Quieto (?).
C. Comentário Histórico
Trata-se de uma inscrição que segue a tipologia de dedicatória simples e já frequente na Península.
Nestas, as siglas O e M enquanto IOVI vem por extenso, apenas com a identificação do dedicante e
sem fórmula final (ENCARNAÇÃO, J. d’. 1984, p. 670).
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 606.
Catálogo Online: Não Registrado
211

Enquadramento Cronológico: Século I d. C.

Subgrupo Temático: Epígrafes Funerárias

Nº de Registro: 295 Palavra-Chave: tribo, tria nomina


A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada em 1999 na Quinta do Deao, São
Salvador de Aramenha, Marvão, Portalegre,
Portugal.
Paradeiro MAmm – Portalegre/Pt
Nº Inventário -
Tipologia Estela
Material Mármore
Medidas 185 x 61,5 x 14,5 cm
Descrição: Estela de mármore, profusamente emoldurada na face
anterior, alisada nas laterais e desbastadana face posterior. Está
quebrada na parte inferior e fraturada até a metade. Está muito
erosionada na zona central do campo epigráfico, devido a uma
exposição prolongada aos danos por trabalhos agrícolas antes de
sua reutilização como material construtivo. A decoração evoca
uma pilastra: a parte superior está decorada com um friso foliáceo
e cinco rosáceas; o campo epigráfico está rebaixado e emoldurado
com folhas de acanto; a parte inferior tem nove acalanaduras (?)
gravadas.
B. Inscrição
G(aio) · Sentio / Quir(ina tribu) · /3Capitoni / [- - - - - - / - - -]R[- - - /6- - - - - -] / p(onendum) ·
c(uravit)
Interpretação:
A Gaio Sentius Capito, (da tribo) Quirina. [- - - - - - / - - -]R[- - - /- - - - - -] colocou.
C. Comentário Histórico
De acordo com Mantas (2004), G. Sentius Capito é o único representante da gens Sentia em
Ammaia. Deste modo, a menção à tribo Quirina resolve a inscrição dos Ammaienses nesta tribo, que
provavelmente ocorreu em época Flávia. Nesta lógica, o defunto devia ser um indígena romanizado,
cidadão de direito latino, provavelmente com promoção recente, como assinalaria o destaque dado
pela menção da tribo na inscrição. O nomen apresenta várias ocorrências na Bética e na Lusitânia. Na
capital desta última província, Augusta Emerita, há um terço dos 22 casos conhecidos. Nesse sentido,
o emeritense C. Sentius Macer (patrono de C. Sentius Ponticus) permite conhecer, através da
onomástica, as relações entre Augusta Emerita e Ammaia. Sobre a tipologia do documento, o autor
ainda destaca que o monumento segue características não comuns na Lusitânia, a saber, ainda que
seja uma estela funerária, recebeu o tratamento como se fosse um monumento honorífico, ao
combinar uma coluna inscrita e uma estela monumental com a forma estilizada de uma pilastra, fato
que faz recordar a decoração de alguns monumentos de Roma. Por fim, pela tipologia do
monumento, sua paleografia e o teor do texto, datar-se-ia na segunda metade do século I d. C.,
quando o corpo de cidadãos Ammaienses foi constituído.
Datação: Século I d. C.
D. Referências Bibliográficas
Hispania Epigraphica. Madrid: Universidad Complutense de Madrid, 2000, p.737, nº10; Hispania
Epigraphica. Madrid: Universidad Complutense de Madrid. nº13, 2003/2004, 1002; Hispania
Epigraphica 17, 2008, 250, MANTAS, V. G. Novidades epigráficas de Ammaia (S. Salvador de
Aramenha, Marvão) – Monografia. Rennes: Au Jardin des Hespérides. Mélanges offerts a Alain
Tranoy. 2004, 92-97, fig. 3
212

Catálogo Online: HEpOnl 23452

2. Balsa
Status Jurídico: Municipium

Enquadramento Cronológico: Séculos II - III d. C.

Subgrupo Temático: Epígrafes Votivas

Palavra-Chave: benemerência,
Nº de Registro: 057
administração municipal.
A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrado em Quinta da Torre d’Ares, Luz,
Tavira, Portugal.
Paradeiro MF - Faro/Pt
Nº Inventário 32 (sessão lapidar)
Tipologia Pedestal
Material Calcário
Medidas 119 x 6,5 (fuste) 32,5 x 60 (base) x 45 cm
Descrição: Pedestal (?) de calcário, trabalhado nas quatro
faces, que foi utilizado para plinto do púlpito duma igreja.
Polida em três faces.

B. Inscrição
FORTVNAE · AVG(ustae) · / SAGR(vm) · / ANNIVS · PRIMITIVVS / OB HONOREM · /5
IIIIIIVIR(atus) · SVI · / EDITO BARCARVM / CERTAMINE . ET · / PVGILVM SPORTVLIS /
ETIAM · CIVIBVS /10 DATIS · / D(e) · S(ua) · P(ecunia) · D(ono) · D(edit)
Interpretação:
Consagrado a Fortuna Augusta. Anio Primitivo ofereceu, em honra de seu sexvirato, tenfo realizado
um combate de barcas e de pugilistas e também oferecido dádivas aos cidadãos, a expensas suas.
C. Comentário Histórico
Como indica José d’Encaranção (1984, p. 125-126), o presente texto apresenta como primeiro
motivo de interesse a referência ao combate de barcas e de pugilistas (pugiles). Para ambos se
requeria local apropriado: a “batalha naval” no circo de Balsa ou num dos braços de mar da região, o
combate de pugilistas num lugar evidentemente fechado e à vista de todos. Além disso, e como
prova de ostentação, o povo foi agraciado com presentes, provavelmente em dinheiro, cujo montante
não vem indicado.
A inscrição (se excetuarmos o inédito combate de barcas) pode ser inserida no conjunto de incrições
de mesmo tipo presente nos índices do CIL II (nº 1047, 1055, 4465). Já nos índices de ILS são
significativos das inúmeras referências a jogos e presentes (p. 908-911) ou a combates (p. 916-918).
Variam as divindades a que tais textos se dirigem, mas à deusa Fortuna, ligada ou não ao culto
imperial (Fortuna augusta), que a maior parte é dedicada — os libertos atingiam o sexvirato também
por, através da sua atividade econômica, terem obtido riqueza, sendo, portanto, lógica a sua
veneração para com a Fortuna. No entanto, como bem frisou Mrozek (“Epigraphica” XXXIV 1972
p. 53), essas manifestações nada tinham de sentido filantrópico — a sua finalidade era política e
religiosa, por excelência, tanto que as dádivas eram habitualmente distribuídas às pessoas da mesma
213

categoria social dos dedicantes.


O séxviro identifica-se apenas através do nomen e do cognomen, omitindo a filiação. Do gentilicio
Annius, muito frequente na Península, registam-se mais exemplos no Algarve (IRCP, nº 10, 40 e
91). Primitivus é cognome latino com outros exemplos na Península (ILER p. 736). Note-se a boa
qualidade literária do texto: os dois genitivos do plural — barcarum e pugilum — enquadram o
vocábulo (certamine) de que dependem; a colocação do etiam depois de sportulis também é digna de
realce, bem como a do dativo civibus a preceder datis. Mal grado a utilização dum lapicida pouco
hábil, Ânio Primitivo soube demonstrar os seus conhecimentos da língua latina ou, pelo menos,
soube chamar a si a colaboração de alguém bastante culto. Quer num caso quer noutro, a sua posição
no contexto social econômico e cultural de Balsa sai bem reforçada, assim como a sua ligação com a
Península Itálica. A paleografia, a omissão do prenome, o uso da palavra sportula — que, segundo
Mrozek (“Epigraphica” XXX 1968 p. 167), só aparece nas inscrições de Itália a partir de 165, sendo
corrente até à segunda metade do séc. II — datam este texto do séc. III (Dados extraídos de IRCP,
1984, nº73).
Datação: Entre os séculos II-III d. C.
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 73.
Catálogo Online: Não Registrado

Palavra-Chave: administração
Nº de Registro: 058
municipal.
A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrado em Quinta da Torre d’Ares, Luz,
Tavira, Portugal.
Paradeiro MNAE?
Nº Inventário E6397
Tipologia Fragmento de Ara
Material Calcário
Medidas 40 x 32 x 35 cm
Descrição: Fragmento (de ara?) em calcário de pátina
amarelada, com resto de inscrição votiva.

B. Inscrição
[...] / AVG(ustae) · S[AC(rum)] / SPERATVS / BALS(ensium) · DIS[P(ensator)] /5 ANIMO ·
LI[B(ens)] / POS[VIT]
Interpretação:
A... Augusto(a). Esperado, administrador de Balsa, colocou de boa vontade.
C. Comentário Histórico
Seguindo os estudos de José d’Encarnação (1984, pag. 127), trata-se de uma dedicatória a uma
divindade augusta, masculina ou feminina. Speratus, o dedicante, tem um nome que significa
etimologicamente o desejo dos pais em relação à criança que vai nascer e que foi muito popular entre
os escravos, possivelmente utilizado por simples questão de hábito. O cargo municipal indicado era
habitualmente exercido por escravos e estava ligado à administração. Às inscrições peninsulares que
se referem a dispensatores, citadas em CIL II, p. 1171, acrescente-se uma outra, encontrada no termo
de Santacrís (Eslava), alusiva a um dispensator publicus: foi estudada por Garcia y Bellido
214

(“Homenaje a D. José Esteban Uranga” 1971 p. 390-1) que tece considerações acerca do prestígio
deste cargo. A datação do monumento é atribuída pela paleografia no século II d. C.

Datação: Século II d. C.
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 74.
Catálogo Online: Não Registrado

Subgrupo Temático: Epígrafes Honoríficas

Palavra-Chave: tria nomina, tribo,


Nº de Registro: 062
administração municipal.
A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada em Quinta da Torre d’Ares, Luz,
Tavira, Portugal.
Paradeiro MNAE - Faro/Pt
Nº Inventário E 6363
Tipologia Base Paralelepipédica
Material Calcário
Medidas 140 x 60 x 32 cm
Descrição: Base paralelepipédica, em calcário biogênico, com
pátina amarelada. Apenas na parte inferior o monumento se
encontra danificado, o que não prejudicou a inscrição.
Destaca-se que são mínimos os estragos provocados no texto
pela erosão.

B. Inscrição
T(ito) · MANLIO / T(iti) · F(ilio) · QVIR(irina tribu) · FAV/STINO · BALS(ensi) ·I MANLIA ·
T(iti) · F(ilia) /5 FAVSTINA / SOROR · FRA/TRI · PIISSIMO / IlVlR(duumviro) · II(bis) /
D(ecreto) · D(ecurionum) · / 10 EPVLO DATO
Interpretação:
A Tito Mânlio Faustino, filho de Tito, da tribo Quirina, natural de Balsa. Mânlia Faustina, filha de
Tito, irmã, ao irmão modelo de piedade, duúnviro pela segunda vez. Por decreto dos decuriões.
Tendo oferecido um banquete.
C. Comentário Histórico
Como indicam os estudos do Professor José d’Encarnação (1984, p. 133), a personagem é membro
da família dos T. Manlii, da qual há outros representantes no litoral algarvio (IRCP, nº 47 e 80),
Faustinus tem — tal como a irmã — um cognome latino frequente no mundo romano,
nomeadamente em África, algumas vezes atestado no conventus Pacensis (IRCP, nº 115 e 464) e na
Península (ILER p. 692). Trata-se de um membro das elites de Balsa que presidiu por duas vezes,
como duúnviro, ao senado municipal. A homenagem fraternal, sancionada como habitualmente por
um decreto da ordem dos decuriões — demonstrando, assim, uma vida administrativa em pleno
funcionamento, a homenagem acompanhou um banquete, que reuniria apenas as pessoas da classe
social do homenageado.
215

Ao declarar seu irmão como natural de Balsa e inscrito na tribo Quirina, o registro mandado fazer por
Mânlia Faustina contribuiu para a identificação da tribo de Balsa, que será, portanto, segundo
tudoleva a crer, mais um município flaviano . Nessa perspectiva, Encarnação aponta que, tal como C.
Turrânio Rufo, de Conimbriga (Étienne - Fabre,Conimbriga XI, 1972 p. 193-203), T. Mânlio
Faustino pode ter ascendido à cidadania romana após o exercício do duunvirato. E, como no caso de
Conimbriga, também aqui se tratará dum texto honorífico (a colocar eventualmente no forum) mas
possivelmente mandado lavrar após a morte do homenageado: assim no-lo dá a entender a presença
do superlativo piissimus, habitualmente usado só para defuntos.
Deste modo, concordamos com a datação atribuída por Hübner e Encarnação, isto é, o reinado de
Cómodo ou, em finais do séc. II, pela presença do superlativo.
Datação: Fins do século II d. C.
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 79. UNTERMANN, J. Elementos de
Un Atlas Antroponímico de la Hispania Antigua. Bibliotheca prehistorica hispana. vol. 7.
Madrid: Consejo Superior de Investigaciones Científicas, Instituto Español de Prehistoria/
Universidad de Madrid, 1965.
Catálogo Online: Não Registrado

Palavra-Chave: tria nomina, tribo,


Nº de Registro: 063
onomástica.
A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrado em Quinta da Torre d’Ares, Luz,
Tavira, Portugal.
Paradeiro Não Encontrado
Nº Inventário E 6372
Tipologia Bloco
Material Calcário
Medidas 122,5 x 51 x 28,5 cm
Descrição: Bloco paralelepipédico, em calcário conquífero, de
pátina amarelada, com inscrição honorífica. O suporte
apresenta-se partido em baixo à esquerda. A base é moldurada,
bem como o campo epigráfico.

B. Inscrição
T(ito) · RV.TILIO · GAL(eria tribu) . / TVSCILLIANO / Q(uinti) · RVTIL(us) · RVSTI/CINI ·
F(ilio) · T(iíi) · MAN/5LII · MARTIALIS · / N.EPOTI · IN HO/NOREM · EORVM · AMICI /
CVR(antibus) · L(ucio) · PACC(io) · MARCI/10ANO · ET · L(ucio) · GELL(io) · TVTO / L(ucius)
PACC(ius) · BA.SILEVS / P(ublius) . RVTIL(ius) · ANTIGONVS / T(ito) MANL(ius) EVTVCHES
/ T(itus) · MANL(tus) · EVTVCHIO /15 T(itus) . MECLON(ius) CAS.SIVS / PVBLICIVS
ALEXANDER / LAETILIANVS · BALSENSIVM
Interpretação:
A Tito Rutílio Tusciliano, da tribo Galéria, filho de Quinto Rutílio Rusticino, neto de Tito Mânlio
Marcial. Em sua honra, ao cuidado de Lúcio Pácio Marciano e Lúcio Gélio Tuto, os amigos da
216

família: Lúcio Pácio Basileu, Públio Rutílio Antígono, Tito Mânlio Êutiques, Tito Mânlio Eutiquião,
Tito Meclónio Cássio, Publício Alexandre Letiliano - dentre os Balsenses.
C. Comentário Histórico
Segundo os estudos de José d’Encarnação (1984, p.135-136), o texto refere T. Rutílio Tusciliano,
seu pai e seu avô, cujos nomes vêm indicados por inteiro; pai e filho têm o mesmo gentilicio, como é
normal, mas não o mesmo prenome; contudo, por não-identidade de gentilicio, é de supor que T.
Mânlio Marcial seja avô materno de Tusciliano, de quem apenas adotou o prenome. Embora
homenageado em Balsa, Tusciliano é, decerto, pela tribo Galéria, um cidadão romano inscrito numa
outra cidade, possivelmente Ossonoba. Já foram encontrados T. Manlius Lacon (IRCP, n.°47) e, na
inscrição anterior, T. Manlius Faustinus, filho de Tito Mânlio, irmão de Manlia Faustina; aqui, o avô
de Tusciliano é T. Manlius Martialis, a cuja família pertencerão naturalmente T. Manlius Eutyches e
T. Manlius Eutychio, libertos. Está, pois, bem localizado no Algarve este ramo da gens Manlia, que
— aqui como no resto da Península — forneceu inúmeros magistrados municipais.
A personagem em questão possuiu uma posição sócio-económica relevante, a julgar inclusive pela
existência de libertos: Eutyches é cognome de origem grega documentado na Península, algumas
vezes identificando expressamente libertos; quanto a Eutychio (= Eutychion) encontra-se registado
em CIL II 1218; Eutychia é mais frequente (CIL II p. 1082; nove exemplos). Martialis é cognome
latino que, na Península, surge também com frequência (IRCP, n.°10). A gens Rutilia, por seu turno,
não se encontra largamente representada. Contudo, a sua posição sócio-económica não deve ficar
muito a dever à gens Manlia com que se uniu. De fato, para além de um particular de que não são se
possuem dados (ILER 3908, P. Rutilius Mumus), encontramos na Península: um liberto, P. Rutilius
Menelaus, a quem foi atribuída a naturalidade do municipium Pontificiensis (Porcuna, Jaén, CIL II
2135 = ILER 1539); um marmorarius, P. Rutilius Sintropus, que oferece, em Cádis, um nicho
(theostasis) para o templo de Minerva (CIL II 1724 = ILER 2076 = 6444); e, em Lisboa (CIL II 5005
= ILER 4346), um L. Rutilius Severus, da tribo Galéria, cuja mãe também é Rutilia. Os cognomes de
pai e filho não são frequentes: Rusticinus (omisso, por lapso, nos índices do ILER) é citado por
Kajanto (p. 311) como identificando quatro homens e uma mulher, no conjunto do CIL. Na RE não
vem referido ninguém com este nome; em CIL VI 31234 memora-se Q. Lolleius Rusticinus.
Quanto a Tuscillianus, Kajanto (p. 157 e 188) apenas cita este exemplo. Antigonus como cognome
de liberto é muito mais frequente; aqui, o prenome é diferente, de sorte que podemos pensar que
Antigonus não será liberto nem de Tusciliano nem de seu pai. A encabeçar a lista dos amigos, L.
Paccius Marcianus e L. Gellius Tutus, possivelmente os encarregados legais, oficiais, de executarem
a homenagem. O gentilicio Paccius designa, na Península, pessoas de certo nível económico (IRCP,
n.°9); Marcianus, cognome latino derivado do gentilicio Marcius (K ajanto, p. 27), atesta-se na
Península e no conventus Pacensis, nomeadamente em relação a indivíduos com os tria nomina (cfr.
V. Ma ntas , «Conimbriga» XXI 1982 p. 39-40, 96-97, mapa II). Gellius inclui-se também nos
gentilicios ligados a pessoas de certo relevo social, documentado, por exemplo, em Lisboa (CIL II
186 = ILER 1104 e CIL II 5218 = ILER 4453).
Tutus é cognome latino, que surge em Écija como patronímico (CIL II 5455 = ILER 5072);
registado, sobretudo, como cristão (RE, VII A 2, 1629), não é muito frequente (Kajanto, p. 280).
Portanto, uma nomenclatura latina, salientada face a libertos de nomes gregos. Em letras menores, os
nomes de seis personagens — seviri ? O primeiro referirá, decerto, um liberto de L. Paccius
Marcianus — o seu cognome é Basileus e não Basilius (e E distingue-se nítido, na pedra e na foto),
que se documenta em Córdoba (CIL II 2221 = ILER 1723): deriva do grego βασιλεύς, rei.
Datação: Século II d. C.
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 80.
Catálogo Online: Não Registrado
217

Nº de Registro: 064 Palavra-Chave: dedicação imperial


A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada em Quinta das Antas, Luz,
Tavira, Portugal..
Paradeiro MNAE
Nº Inventário 14860
Tipologia Placa
Material Mármore
Medidas 7 x 8 x 1,6 cm
Descrição: Fragmento de placa em mármore do tipo
Trigaches, com veios azulados.
B. Inscrição

[---] / [---] [I?]MP(erator) · P[ONT(ifex) MAX(imus)?] / [TRIB(unicia) P]OT(estate) [---]


Interpretação:
[---] / [---] Imperador, Pontífice Maximo, com poder tribunício [---]
C. Comentário Histórico
Paleograficamente datada no início do século II d. C.
Datação: Século II d. C.
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 90, p. 149.
Catálogo Online: HEpOnl 23509
218

Palavra-Chave: tria nomina,


Nº de Registro: 116
onomástica.
A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrado em Quinta da Torre d'Ares, Luz,
Tavira, Portugal.
Paradeiro MNAE
Nº Inventário E 6359
Tipologia Pedestal
Material Calcário
Medidas 116 x 52,5 (62x62) x 44, 5 (54x54) cm
Descrição: Pedestal em calcário biogênico, moldurado apenas
em três faces e alisado atras. Está praticamente intato,
notando-se na base o trabalho em gradim. O capitel é liso na
parte superior, separado do fuste por duas gargantas diretas
unidas por listel. O campo epigráfico situa-se no nível da face
e se distingue dela mediante ranhura que envolve
exteriormente a moldura, formada por um cordão reentrante
seguido de meio-redondo côncavo. Na base, garganta inversa.

B. Inscrição
IVLIAE . TIB(erii) . F(iliae) (hedera) MAR/CIAE . GEMINAE (hedera) / AMICAE OPTIMAE
(hedera) / L(ucius) . QUINTIVS . PREISCION /5 CVM . CALLAEA . T(iti) . F(ilia) SEVERINA /
ET . QVINTIA . AVITA . FIL(ia) . D(ederunt) . D(edicaruntque)
Interpretação:
A Júlia Márcia Gémina, filha de Tibério, à amiga otima, deram e dedicaram Lúcio Quincio Priscião
com Caleia Severina, filha de Tito, e Quíncia Avita, (sua) filha.
C. Comentário Histórico
Como indica José d’Encarnação (1984, p. 144-145), a homenageada apresenta dois gentilicios, fato
que por vezes se observa na identificação de mulheres: o primeiro, Iulia, extraordinariamente
frequente; o segundo, Marcia, também está bem documentado, mesmo no conventus Pacensis. O
cognome latino Gemina já fora registrado em IRCP n.° 35. Quintius, gentilicio de dois dos
dedicantes (pai e filha), surge mais vezes no conventus Pacensis (IRCP, nº 92, 473 e 618) e na
Península Ibérica (CIL II p. 1071).
Priscion é cognomen latino raro (Kajanto, p. 288, só assinala CIL XI 7980), derivado de Priscus.
Callaea, gentilicio cuja terminação o assemelha a um cognomen, não é frequente na Península;
registam-se dois exemplos de Calleus em Évora, um (IRCP, n.° 390) certo, outro provável (IRCP, n.°
386); e um Callius em Écija (CIL II 1485).
Severinus, a, é cognome latino muito frequente, mesmo na Península (CIL II p. 1092); no conventus
Pacensis regista-se, provavelmente, em Beja (IRCP, n.° 318). Avitus, α, por seu turno, ainda é mais
comum (ultrapassa a vintena o número de exemplos no conventus). Encontramo-nos em face de uma
onomástica latina, identificando pessoas de condição livre, muito provavelmente pertencentes à
aristocracia de Balsa. Designando-a ‘amiga ótima’ os dedicantes mostram em relação à
homenageada, não apenas a sua dedicação afetiva, pois que patenteiam também uma atitude de
dependência, à qual em epigrafia o conceito de amizade andará intimamente ligado. Quanto aos
dedicantes, podemos pensar que se trata duma família — pai, mulher e filha — pois o vocábulo filia
deve referir-se a ambos.
Datação: Não Atribuída
219

D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 86
Catálogo Online: Não Registrado

Subgrupo Temático: Epígrafes Monumentais

Nº de Registro: 059 Palavra-Chave: decreto dos decuriões


A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrado em Quinta da Torre d’Ares, Luz,
Tavira, Portugal.
Paradeiro MNAE
Nº Inventário E 6412
Tipologia Fragmento de peça arquitetônica
Material Mármore Cinzento
Medidas 30 x 47 x 15 cm
Descrição: Fragmento de uma peça arquitetônica, em
mármore cinzento margoso. Na face da primeira inscrição o
traçado das fraturas deixa antever a existência de dois orifícios
redondos desnivelados, feitos posteriormente, com diâmetro de
9 cm e 11,5 cm de profundidade; a inscrição situa-se numa
almofada elevada em relação ao resto da superfície. Na outra
face, perpendicular à primeira, a inscrição situa-se num campo
epigráfico obtido por desbaste. Aparentemente o bloco seria
colocado de modo que a primeira inscrição ficasse na vertical
e a segunda se visse de baixo; portanto, num local
simultaneamente elevado e saliente possivelmente num
edifício de grandes dimensões.
B. Inscrição
Inscrição 1: [...] (hedera) DOM[...]
Inscrição 2: [EX DECRETO DECVRI ?]ONVM · R(es)-P(ublica) BALS[ENSIVM ?]
Interpretação:
Inscrição 2:\
C. Comentário Histórico
Apesar do seu estado atual, o fragmento atesta a existência duma obra de boas proporções levada a
cabo com a intervenção direta dos magistrados da “respublica”. Para José d’Encarnação (1984, p.
128), há a probabilidade de se tratar de um monumento do circo. O tipo de letra convém à segunda
metade do século II d. C. De acordo com as carcterísticas paleográficas, as duas inscrições parecem
ser da mesma época.
Datação: Século II d. C.
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 75.
Catálogo Online: Não Registrado
220

Palavra-Chave: tria nomina, onomástica,


Nº de Registro: 060
benemerência.
A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada em Quinta das Antas, Luz,
Tavira, Portugal.
Paradeiro MCa - Lisboa/ Pt
Nº Inventário -
Tipologia Placa
Material Calcário
Medidas 36 x 40 x 17 cm
Corpo da tabula ansata: 24 x 40 cm
Descrição: Placa de calcário muito atreito a abrir fendas,
algumas das quais visíveis na face epigrafada. O
monumento que integrava a inscrição destinar-se-ia a ser
colocado numa das paredes do circo, em homenagem ao
doador.
B. Inscrição
L (ucius) · CASSIVS · CELER / PODIVM CIRCI / PEDES · C(entum) / SVA IMPENSA /5 D(ono) .
D(edit) .
Interpretação:
Lúcio Cássio Celer deu, a expensas suas, cem pés do pódio do circo.
C. Comentário Histórico
Como indica José d’Encarnação (1984, p. 129), L. Cassius Celer, cuja doação à comunidade esta
placa memora, situa-se, pela onomástica, num contexto completamente latino — os Cassii e os
Celeres abundam na Península. A junção dos dois antropónimos é única e também o número dos L.
Cassii não é significativo.
De qualquer modo, trata-se de alguém de boa condição econômica; por omitir a filiação, usando os
tria nomina, poderá ser um indígena romanizado ou mesmo um liberto; não são igualmente indicados
quaisquer cargos ou funções que haja desempenhado e que, no seu exercício, implicassem de certo
modo uma despesa em prol da população. Nesta, e na inscrição seguinte, tudo se passa num clima de
modéstia, acentuado pelas pequenas dimensões das placas. A datação atribuída pela paleografia
indica o século II d. C.
Datação: Século II d. C.
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 76.
Catálogo Online: Não Registrado
221

Nº de Registro: 061 Palavra-Chave: tria nomina, benemerência.


A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada em Quinta das
Antas, Luz, Tavira, Portugal.
Paradeiro Mca - Lisboa/ Pt
Nº Inventário
Tipologia Placa
Material Calcário
Medidas 40 x 64 x 11 cm
Descrição: Placa de calcário, apenas com leves
escoriações nas arestas. Pelas características da
peça, destinava-se a ser colocada numa parede.
B. Inscrição
G(aius) LICINIVS · BADIVS · / PODIVM · CIRCI · P(edes) · C(entum) · / SVA · IMPENSA ·
D(ono) · D(edit) ·
Interpretação:
Gaio Licínio Bádio deu, a expensas suas, cem pés do pódio do circo.
C. Comentário Histórico
Na análise da inscrição, José d’Encarnação (1984, p.130) salienta que o doador tem um gentilicio
frequente em Ossonoba, sendo vários casos de Licinii registrados em IRCP, n° 10. Como cognome,
Badius surge em Évora (IRCP, n.° 408) e em Cádis (ILER 2898 = HAE 2002), havendo ainda os
casos registrados em CIL II 3706 (= ILER 2070) e o governador da Tarraconense, Badius Macrinus,
que homenageia Constantino Máximo em 323-326 registrado em CIL II 4106 (= ILER 1227). Pela
paleografia, a inscrição é datada nos finais do século II — princípios do III.

Sobre a vinculação desta inscrição com a anterior, Encarnação (pp. 130-131) ressalta que: "assumem,
pelo seu conteúdo, uma importância que não tem passado despercebida: demonstram, realmente, que
na área do seu achamento (Veiga, segundo Hübner, fala ‘dumas vastas ruínas descobertas pelas águas
do Guadiana’ sic) se construíra um circo cujo pódio tinha, pelo menos, duzentos pés — cerca de 60
metros. Não dispomos de dados acerca das dimensões do pódio em relação com a extensão do circo.
O pódio era uma balaustrada que se erguia diante da plataforma reservada às adeiras dos senadores e
das personagens mais importantes. Não é caso raro a doação de partes dum circo à comunidade;
assim, um texto de Zafra, na Bética (CIL II 984 = = ILER 2058), refere à doação de dez — apenas
dez — pés do pódio feita por dois abertos aquando da sua eleição como séxviros; no circo de Lyon,
cita-se a doação de dez lugares”.
Datação: Entre os séculos II - III d. C.
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 77, p. 130.
Catálogo Online: Não Registrado
222

3. Caetobriga
Status Jurídico: Municipium

Enquadramento Cronológico: Datação não atribuída.

Subgrupo Temático: Epígrafes Honoríficas

Palavra-Chave: tria nomina,


Nº de Registro: 083 onomástica, sacerdote imperial
(Flâmine).
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrada em Tróia, Melides, Grândola,
Portugal.
Paradeiro Desconhecido
Nº Inventário -
Tipologia Placa
Material Não Encontrado S/F393
Medidas Não Encontradas
Descrição: Segundo a descrição de Hubner, a epígrafe já se
encontrava incompleta, possuía ótimos caracteres distribuídos por
quatro fragmentos duma grande placa de tipo lápide. Não foram
apresentados mais pormenores descritivos nem dimensões.
B. Inscrição
[L (ucio) · CORNELIO . G(aii) · F(ilio) / [BJOCCHO / [FLAMI]NI · PROVINC(iae) / TR(ibuno)] ·
MIL(itum) · LEG(ionis) . III (tertiae) · AVG(ustae) / [...]
Interpretação:
A Lúcio Cornélio Boco, filho de Gaio (?), flâmine provincial, tribuno dos soldados da III Legião
Augusta...
C. Comentário Histórico

Alguns autores, (Hubner, Dessau, Henze) optam pela identificação deste Gornélio Boco com o de
Alcácer do Sal, opinando que se deve ler Gaii e não Lucii; outros (Étienne, Bandeira Ferreira)
sugerem que este é filho daquele, preferindo ler Lucii. Devido o desaparecimento da placa, o exame
mais específico da peça torna-se inviável e a espera por novos dados.
De todo modo, prosseguindo na posição definida por Hubner, Encarnação (1984, p. 276-277) destaca
que a segunda questão faz referência à identificação deste G. Boco com o historiador Cornélio Boco
mencionado por Plínio. Sinaliza o autor que Húbner se aproxima de tal identificação e, após justificar
como habitual no século I a omissão do número e do nome da legião (verificada na inscrição de
Alcácer), afirma: “E assim poder-se-ia supor que Boco, o escritor, era natural de Cetóbriga ou aí
tinha propriedades, aí tendo sido igualmente homenageado com uma estátua por diversas cidades
lusitanas. O fato de ter obtido o tribunado na III legião africana não vai contra a sua origem lusitana.
O cognomen Bocchus e outros semelhantes, quiçá de origem africana, também não são raros na
Lusitânia” (apud Encarnação, p. 277). A última questão consiste na identificação da cidade que se
liga o personagem, Caetobriga ou Salacia. Na posição de Encarnação, a inscrição encontrada em
Salácia (IRCP, nº189) elucida a questão uma vez que, nela, o mesmo G. Boco oferece um edifício.
Datação: I d.C.
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 207.
Catálogo Online: Não Registrado

393
Sem fotografia. Não encontramos nenhum registro fotográfico ou desenho do monumento ou da inscrição.
223

4. Metallum Vispaniense
Status Jurídico: Municipium

Enquadramento Cronológico: Século III d. C.

Subgrupo Temático: Epígrafes Honoríficas

Palavra-Chave: onomástica, tria


Nº de Registro: 068 nomina, liberto imperial, administração
municipal, benemerência.
A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrado em Aljustrel (perto das minas),
Portugal.
Paradeiro MNAE
Nº Inventário E 6348
Tipologia Pedestal
Material Não Encontrado
Medidas 99 x 57 x 46 cm
Descrição: Pedestal de boa realização em todas as faces,
apenas a parte inferior é de acabamento mais grosseiro.
Apresenta nítidos efeitos da erosão na face epigrafada,
nomeadamente na parte inferior.

B. Inscrição
BE[RY]LLO · AVG(usti) · LlB(erto) · PROC(uratori) · DILIGEN/TISSIMO · ET ·
AMANTÍSSIMO · RA/TIO[NALIV]M · VICAR(io) · HOMINI OP/TIMO · ET · IV[STI]SSIMO ·
RESTITV/5TORI · METALLO[R]VM / COLONI · AV[G(usti)?] [D(omini)?] N(ostri) METALLI
VIPAS/CENSIS / STATVAM · CVM · BASI · DE · SVO / LIBENTER · POSVERVNT · II / 10 QVI
· INFRA · SCRIPTI · SVNT / DEDICANTE · IPSO [...] / T(itus) IVNIVS [...] / [...] / [...] / « [...] /
[...] / [...] / [...] / [...] /20 D[ED]ICATA [ ...] / CN(aeo) · CLAVDIO [...]
Interpretação:
A Berilo, liberto de Augusto, procurador diligentíssimo e muito amado, vigário dos serviços
administrativos, homem óptimo e justíssimo reorganizador dos coutos mineiros — os colonos de
Augusto, nosso senhor, de Metalo Vipascense erigiram uma estátua com base, a expensas suas, de
livre vontade, os quais se subscrevem, tendo sido dedicante o próprio... Tito Júnio... (segue-se a lista
de nomes). Dedicada aos..., sendo cônsules Gneu Cláudio...
C. Comentário Histórico
De acordo com os estudos de José d’Encarnação (1984, p. 185-186) o texto apresenta um liberto
imperial designado apenas pelo seu cognome e que ocupa, as funções de procurator, de rationalium
vicarius e de restitutor metallorum, louvando-lhe os colonos, com superlativos, as suas qualidades
profissionais e humanas: (procurator) diligentissimus, amantissimus (rationalium vicarius), (homo)
optimus, iustissimus (restitutor metallorum). O elogio completo fora concebido com um requintado
paralelismo literário: procuratori diligentíssimo une-se a amantíssimo rationalium vicario através da
copulativa ET; homini optimo une-se a iustissimo restitutori metallorum igualmente através da
copulativa et.
Efetivamente, os adjetivos utilizados trazem importante carga afetiva, sobretudo amantissimus —
224

geralmente aplicado a pessoas íntimas, de família — já que a designação homo optimus é mais
habitual na epigrafia: diligentissimus aplica-se ao eficiente desempenho duma função; e iustissimus
salienta a equidade em elevado grau. A estatura moral e humana deste procurador deveria ter sido
muito grande o que justificaria a ampla homenagem. O texto não separar do conteúdo das tábuas —
nomeadamente Vipasca II dirigida exatamente a um procurador, segundo se crê, e onde se
estabelecem regras para a atividade dos coloni — informa-nos, em primeiro lugar, que o procurador
é, na ocasião, um liberto imperial, eventual representante do procurador equestre das minas da região
da Astúria e da Galícia. Conhecem-se outros libertos imperiais responsáveis por minas da Hispânia:
M. Ulpius Eutyches está à frente de uma mina cuja localização se ignora e que se designará metallum
Alboc(olense?) (CIL II 2598); Hermes, Zoilus, Aurelius Firmus e Μ. Aurelius Eutyches
administraram as arrugiae do vale do Duerna, como o demonstram as inscrições CIL II 2552 a 2556,
datáveis do século II d. C. Ao procurador competiria administrar o território da mina e proporcionar
aos colonos todas as condições com vista a uma exploração óptima dos filões (Domergue, art. Cit., p.
171). A forma como o texto se encontra redigido sugere que os outros dois atributos do procurador
— rationalium vicarius e restitutor metallorum — são, na realidade, funções que ele desempenhou
também. Se essas funções pertenciam geralmente a outras pessoas e se, portanto, o procurador em
questão as acumulou acidentalmente — parece-nos problema insolúvel de momento, enquanto outros
textos não nos vierem trazer mais esclarecimentos.
No entanto, Encarnação é da opinião de que, tratando-se de uma inscrição honorífica, os colonos
quiseram sublinhar dois aspectos da competência habitual do procurador, na medida em que ambas
são de índole administrativa. Assim, embora vicarius signifique substituto, rationalium será o
genitivo plural de rationalis, que se pode traduzir por contabilista, dado que ratio é uma
administração financeira, neste caso a mina dependente do fisco. Saliente-se que rationalis foi o
termo que, pouco a pouco, substituiu procurator e que, por outro lado, os jurisconsultos do século III
empregam indistintamente os dois termos.
Este procurador seria, então, o representante do procurator a rationibus, como habitualmente se vê
nas inscrições. A função de restitutor metallorum parece mais difícil de integrar à primeira vista:
restituro poderia assumir uma tonalidade jurídica — aquele que se encarrega de pagar uma
indenização; no entanto, como o genitivo plural metallorum significa ‘das minas’, ‘dos coutos
mineiros’, o autor prefere considerar esta expressão como um elogio à ação de reorganização dos
coutos mineiros de Vipasca.
Datação: Século III d. C.
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 121.
Catálogo Online: Não Registrado
225

5. Mirobriga Vettonum
Status Jurídico: Municipium

Enquadramento Cronológico: Séculos I- III d. C.

Subgrupo Temático: Epígrafes Funerárias

Nº de Registro: 074 Palavra-Chave: tria nomina, onomástica, origem.


A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada em Francisquinho,
S. Cruz, Santiago do Cacém,
Portugal.
Paradeiro MSC - Santiago de Cacém/Pt
Nº Inventário -
Tipologia Placa
Material Mármore
Medidas 37 x 44 x 5,5 cm
Descrição: Placa funerária em mármore branco.
Apresenta o canto superior esquerdo partido até
ao começo do D (1. 1); do lado direito, em
baixo, uma pequena falha.

B. Inscrição
D(is) (hedera) M(anibus) (hedera) S(aerum) (hedera) / C(aius) · PORCIVS SEVE/RVS
MIROBRIGEN(sis) / CELT(icus) · ANN(orum) · LX(sexaginta) · /5 H(ic) · S(itas) · E(st) · S(iti) ·
T(ibi) · T(erra) · L(em) ·
Interpretação:
Consagrado aos deuses Manes. Aqui jaz Gaio Pórcio Severo, mirobrigense céltico, de sessenta anos.
Que a terra te seja leve.
C. Comentário Histórico
Como salienta Encarnação (1984, p. 233-234), Porcius e Severus são nomes frequentes na Península,
havendo registros em Mértola e em Valência (CIL I I 3754), incluindo-se o registro de um L. Porcius
Severus. Como bem frisaram D. Fernando de Almeida, H. Gallsterer e A. Tovar (apud op cit, p. 234),
o grande interesse do texto é o fato de o defunto se dizer mirobrigensis celticus, o que daria o nome
da cidade, Miróbriga Celticum, de acordo com o texto de Plínio (Nat. Hist. IV 118) Mirobricenses
qui Celtici cognominantur.
Todavia, o autor ressalta que, normalmente, quando alguém morre na sua localidade de origem, não
indica a naturalidade uma vez que seria desnecessário. Por outro lado, sendo mirobrigense na sua
própria terra, que necessidade haveria de especificar a sua qualidade de ‘céltico’? Além disso, tendo-
se posto tanto empenho em fazer notar a naturalidade do defunto, não houve igual intenção de
afirmar para a posteridade a sua condição de homem livre, indicando a filiação. Nestes termos,
poder-se-ia, pois, suspeitar da autenticidade deste monumento, eventualmente forjado com a intenção
de bem especificar o nome da povoação cujas imponentes ruínas se encontram em Santiago do
Cacém.
Muito embora a adjunção ao topônimo de um etnônimo, em genitivo, seja documentada no mundo
romano (Venta Silurum, Lutetia Parisiorum...), inclusive na Península: Forum Bibalorum, Ossigi
Latonium, Sacili Martialium, seria, pois, admissível uma Mirobriga Celticum, que, a partir dos
Flávios, deveria ter mudado o nome para Flavia Miróbriga ou, melhor, Flavia Mirobriga Celticum,
ainda que a designação não seja comum. No CIL I I 880 se regista um Celtico Flavianus que, embora
se refira a uma desconhecida Celtico Flavia, poderia abonar, por analogia, um topônimo semelhante.
De todo modo, a invocação aos deuses Manes e a paleografia sugerem para esta epígrafe uma
datação do séc. II d. C.
Datação: Século II d. C.
226

D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 152.
Catálogo Online: Não Registrado

Palavra-Chave: tria nomina,


Nº de Registro: 075
onomástica, tribo.
A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada em Santiago do Cacém, Portugal.
Paradeiro O monumento original perdeu-se. Na parede
do chafariz de Nossa Senhora do Monte
(Santiago do Cacém) encontra-se uma cópia
em mármore.
Nº Inventário -
Tipologia Placa (?)
Material Não Encontrado
Medidas 98 x 51 cm.
Descrição: Não há descrição precisa do original, cuja forma
(placa) e paginação do texto foram eventualmente respeitadas.

B. Inscrição
Q(uinto) · SCRIBONIO / L(ucii) · F(ilio) · QVIRI(rina tribu) / PATERNO / L(ucius) SCRIBONIVS
/5 SATVRNINVS / PATER
Interpretação:
A Quinto Escribónio Paterno, filho de Lúcio, da tribo Quirina, o pai Lúcio Escribonio Saturnino.
C. Comentário Histórico
Na leitura do monumento, Encarnação (1984, p. 240) destaca que a menção repetida da filiação deve
ser considerada como ponto de honra, através do qual o dedicante quis, seguindo as regras oficiais da
identificação, frisar bem o caráter de homem livre e de cidadão romano do seu filho. Nesses termos,
se está perante uma nomenclatura com características latinas relacionadas, pelos cognomes, com
substratos nativos.
Scribonius é um gentilicio de escassa ocorrência na Península. Como visto nos casos IRCP, nº156 e
157, Paternus e Saturninus são apontados exatamente como ligados à antroponímia pré-romana por
Kajanto (p. 18), sendo Paternus em áreas célticas (Península Ibérica e Gálias , como aparece em CIL
XII e XIII); e Saturninus em África (1163 exemplos num total de 2507, ibidem p. 55 e 213).
Assim, a presente e única inscrição de Miróbriga na qual e a tribo aparece mencionada, se é tentado a
atribuir à localidade a tribo Quirina, como se vê na análise de Hubner no CIL II p. LXV. Se, de fato,
for seguida a interpretação registrada no CIL II 25 (n.° 150) onde M. F. foi interpretado como
m(unicipium) f(lavium), tal conviria à tese que considera a atribuição da tribo Quirina como uma
realização dos Flávios.
Datação: Entre os anos 69 - 96 d. C. - Dinastia Flaviana.
D. Referências Bibliográficas
227

D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da


romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 158.
Catálogo Online: Não Registrado

Subgrupo Temático: Epígrafes Votivas

Palavra-Chave: tria nomina, origem,


Nº de Registro: 069
aministração municipal, profissão.
A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada em Miróbriga, Portugal.
Paradeiro Na parede exterior do hospital velho
de Santiago de Cacém.
Nº Inventário -
Tipologia Placa
Material Calcário
Medidas 54,7 x 51 cm
Descrição: Placa votiva em calcário. O “caixilho
de cimento de que foi rodeada, aquando da
inclusão na parede, impede de saber se teria moldura.
A superfície está bastante deteriorada pela erosão e
pela percussão com pedras ou objectos ponteagudos, o
que impede a leitura perfeita do traçado das letras. A
pedra está partida longitudinalmente ao nível das
linhas 8 e 9, o que retirou um bom pedaço do texto do
lado esquerdo. Há vestígios de linhas auxiliares.
B. Inscrição
AESCVLAPIO (hedera) / DEO / C(aius) / ATTIVS IANVARIVS / MEDICVS PACENSIS / 5
TESTAMENTO LEGAVIT / OB MERITA SPLENDI/DISSIMI ORDINIS · / [QV]OD EI
[Q]VINQVATRI/[...]VM PRAESTITERIT /10 [F]ABIVS ISAS HERES / FAC(iendum) (hedera)
CVR(avit) (hedera)
Interpretação:
Ao deus Esculápio. Gaio Átio Januário, médico pacense, legou, por testamento (alguns bens) ao
excelente conselho municipal, que, honra lhe seja, organizou em honra de Esculápio, cinco dias de
festa. O herdeiro, Fábio Isas, mandou executar.
C. Comentário Histórico
De acordo com a avaliação de José d’Encarnação (1984, p. 219-220) o problema fundamental que o
presente texto epigráfico nos põe é o da sua interpretação. Trata-se, sem dúvida, de um legado
testamentário (testamento legavit, expressão que surge pela primeira vez) feito por um medicus
pacensis: verosimilmente, Gaio Átio Januário deixou dinheiro ao conselho municipal de Miróbriga
para que ele organizasse (praestiterit é forma do perfeito do conjuntivo) — ou continuasse a
organizar — as Quinquatrus em honra de Esculápio.
Neste caso, atribuir-se-ia ao verbo praestare o significado de «organizar»; contudo, não é esse o seu
significado habitual: em inscrições de Roma, por exemplo, fora detectado a maior parte das vezes
com o sentido de «trazer benefício»; em CIL V I 22 721 utiliza-se mesmo a expressão inpensam
praestititit — pagou a despesa; no entanto, em longo e tocante epitáfio em honra duma mulher, diz-
se que ela atingirá a idade prometida, devido à sua atitude terrena: «hoc tibi praestiterit pietas, hoc
vita pudica, hoc et amor generis...».
Encarnação discorre, então, as distintas opiniões arroladas a partir da análise do texto epigráfico da
228

inscrição. Citando Álvaro dOrs, na sequência de Mommsen (CIL I I 21), o autor observa esta
inscrição como exemplo de legado constituído por uma obra pública: para ele, Januário «legou uma
estátua ao deus Esculápio, em atenção aos benefícios recebidos da ordo dos decuriões; parece tratar-
se (continua A. dOrs), apesar de a leitura ser muito incompleta, da cedência do local para a realização
dum banquete de quatro dias» e acrescenta aquele investigador que a hipótese de Húbner —cedência
de dinheiro para jogos— «parece menos provável».
Apresentando a proposta de Cruz e Silva, indica que, diversamente as explicações de Húbner, para o
autor, “Ao médico estrangeiro fora concedido por um decreto do Conselho um lugar de honra nos
jogos” e, portanto, a inscrição “faz preito de reconhecimento e admiração ao deus Aesculapius —
pelas milagrosas curas realizadas” (p. 350). Relembrando as propostas do Prof. Lambrino, indica a
possibilidade de outro raciocínio: Átio Januário mandou lavrar a placa por os Senadores de
Miróbriga “terem oferecido festejos” a Esculápio. O texto assume, pois, um caráter de certo modo
sibilino, tanto mais que as festas Quinquatrus — se, na verdade, a elas se alude no texto — se
destinam tradicionalmente a honrar Minerva e a dedicatória está feita em honra de Esculápio. Para
Encarnação, talvez aí não haja, porém, grande problema: Minerva tem qualidades médicas e 19 de
Março, dia dessa festa, era também considerado o dia dos artífices entre os quais se incluíam os
médicos. Assim sendo, ter-se-ia aqui uma transposição do culto a Minerva para Esculápio — que,
aliás, se atendermos a que é seguido da palavra deus, assume aqui características de divindade local.
Datação: Século II d. C.
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 144.
Catálogo Online: Não Registrado
229

Subgrupo Temático: Epígrafes Honoríficas

Nº de Registro: 071 Palavra-Chave: dedicatória imperial


A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada em Santiago de Cacém, Portugal.
Paradeiro Alguns fragmentos no Museu de Santiago,
outros estão desaparecidos.
Nº Inventário -
Tipologia Placa (?)
Material Mármore
Medidas Fragmento A (?): 30 x 19 cm
Fragmento B: 28 x 18 x 4,2 cm
Fragmento C: 9 x 14 x 4 cm
Fragmento E: 10,5 x 8 x 4 cm
Descrição: Texto imperial repartido em cinco fragmentos em
mármore branco. O fragmento A não foi encontrado, mas
calcularam-se as dimensões em relação aos fragmentos B e C.
Da primeira letra deste último resta praticamente apenas o
vértice inferior.

B. Inscrição
lM[P(erator) CAESAR DOMITIVS A]VRELIANVS / PI[VS F E L IX AVGVSTVS P]ONTIFE[X]
/ MAXIMVS PARTHI]CVS MAXIMVS PAT/ER [PATRIAE TR(ibunicia) · POT(estate) · ] VI
(sexta) CONSVL / III /[...]NTI · ORO [...] MVLO / [...][IS ·? PROV(inciae) ·?] [...]S MIROC[...
?]ENSIVM
Fragmento A: IM / PI / M / TR
Fragmento B: [A]VRELIA[NVS] / [P]ONTIFE[X] / [M]AXIMV[S] / [CO]NSVL I[...] / 5 [...]NTI
ORO [...] / [ . . . ] S MIROC[...]
Fragmento C: [...] V S [M?] [...] / [,..]VI C[0?...]
Variantes: VSI / VICC (Almeida)
Fragmento D: [...]NV[...] / [,..]X / [...]PAT
Fragmento E: [,..]IS ·
Interpretação:
Imperador César Domício Aureliano Pio Félix Augusto, Pontífice Máximo, Pártico Máximo, Pai da
Pátria, no seu sexto poder tribunicio, cônsul pela terceira vez...
C. Comentário Histórico
Como já demonstrado por Encarnação (1984, p. 229), o texto refere-se ao Imperador Aureliano.
Como pouco comum dentre os demais exemplares peninsulares de epígrafes honoríficas, os títulos
imperatoriais vêm por extenso, denotando o relevo que se lhes confere. Outro dado relevante consiste
no fato de o monumento ter sido mandado lavrar por um particular com importantes funções em
Miróbriga ou pela direta intervenção das autoridades locais.
Datação: Entre os anos 235 e 284 d. C.
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 149, p. 229.
Catálogo Online: Não Registrado
230

Palavra-Chave: tria nomina,


Nº de Registro: 073
onomástica, cidadania.
A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrado em Santiago de Cacém, Portugal.
Paradeiro Ruínas de Miróbriga, na colina, sobre uma
base.
Nº Inventário -
Tipologia Pedestal
Material Mármore
Medidas 112 x 54 x 41 cm
Base: 30 x 61/83 x ? cm
Descrição: Pedestal paralelepipédico, em mármore de S.
Brissos. Encontra-se alisado nas quatro faces, polido à frente.
Tem na parte superior uma cavidade destinada possivelmente à
fixação duma estátua ou busto e, na inferior, um ferro cuja
finalidade seria segurar o bloco a uma base.

B. Inscrição – HONORÍFICA
G(aio) · AGRIO · RV/FO · SILONIS (filio) / ADLECTO ITALICENSI · /5 M(arcus) CASTRICI/VS
· LVCANIO · ET · / C(aius) VALERIVS · / PAEZON AMI/CO OPTIMO ·
Interpretação:
A Gaio Ágrio Rufo, filho de Silão, adotado como cidadão de Itálica. Marco Castrício Lucanião e
Gaio Valério Paezão ao ótimo amigo.
C. Comentário Histórico
Sobre a ocorrência dos termos que constituem os trianominas registrados na região, Encarnação
(1984, p. 231-232) destaca que tanto o gentilicio Agrius como o cognome Rufus já são conhecidos na
Península. O patronímico, Silonis, posicionado depois dos tria nomina, também já foi visto em
outros casos (CIL I I p. 1200), omitindo-se a palavra filius, como também é frequente na Lusitânia
(CIL II p. 1200). Silo é cognome que também se eencontra na Hispânia, nomeadamente atestado
como patronímico («Zephyrus» X V I I 1966 p. 127).
Seguindo as observações do autor (1984, p. 232), destaca-se que os dois amigos serão, pelos seus
cognomes, libertos ou descendentes de libertos; Castricius não é frequente na Península; Valerius
está bem documentado em Miróbriga e mesmo no conventus Pacensis. Lucanio supomos ser esta a
primeira vez que se encontra; deverá ter-se formado a partir do gentilicio Lucanius, de origem itálica
Paezon, cognome grego (embora não referido por Solin) que em Roma se regista seis vezes,
nomeadamente como nome de escravos e libertos (cfr. CIL VI, índices), ocorre, na Península, em
Cádis (CIL I I 1386 — ILE R 2964) e em Tarragona como cognome dum séxviro (CIL II 4288):
relaciona- se com o verbo παίζω no sentido de ‘brincalhão’.
Deste modo, Gaio Ágrio Rufo, que pertencia ao estrato indígena peninsular (atendendo à forma como
é indicada a filiação), elevado à categoria de cidadão de Itálica, foi homenageado em Miróbriga por
dois ‘amigos’ ligados às mais importantes famílias da localidade. O monumento contribui para a
reflexão, ainda que deixe as questões em aberto, a respeito dos possíveis motivos da homenagem e
dos laços que existiram entre as populações das duas localidades citadas.
Datação: Século I d. C. (?)
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 151, pp. 231-232.
231

Catálogo Online: Não Registrado

Subgrupo Temático: Epígrafes Monumentais

Palavra-Chave: tria nomina,


Nº de Registro: 072
onomástica, administração municipal.
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrado em Santiago do Cacém, Portugal.
Paradeiro Desconhecido
Nº Inventário -
Tipologia Fragmento de Placa (?)
Material Não Encontrado S/F
Medidas Não Encontradas
Descrição: Dois fragmentos que, segundo Hubner, poderão
pertencer ao mesmo monumento; a junção afigura-se
verossímil.
B. Inscrição
M(arco) · IVLIO · MAR/CELLO AED(ili) · [...] / E[T]P IIVIR(o) (duunviro) [...?] / M(unicipii?) ·
F(lavii?) · M[IROBRIG(ensis)?] /5 COD[ICARIO?] / I[...]A / [...] A SVIS / [...] ILLIVS · ATI/[LI
?]ANVS · HER(es) · /10 [PE]R · SVCCESSI[O]/NEM · P(onendum) · C(uravit) ·
Interpretação:
A Marcos Júlio Marcelo, edil (...) e duúnviro (...?) do município (?) de Flávia (?) Miróbriga (?),
caudicário (?)... Atiliano (?), herdeiro por sucessão, mandou colocar.
C. Comentário Histórico
Seguindo os estudos de Encarnação (1984, p. 231), o monumento merece atenção particular na
expressão heres per sucessionem, justamente posta em relevo na leitura de Álvaro d’Ors, pois se
opõe à forma, mais frequente, ex testamento. Segundo este autor, Atiliano poderia ser um herdeiro ab
intestato, ou seja, sem testamento pela ausência da invocação aos Deuses Manes, o uso do dativo e a
simplicidade da fórmula final atribuem-se uma datação remota, a saber, os primórdios do século I d.
C.
Datação: Início do século I d. C.
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 150.
Catálogo Online: Não Registrado
232

Subgrupo Temático: Outros

Palavra-Chave: acordo de
Nº de Registro: 004
hospitalidade
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrada a cerca de 100 metros do Castro
das Merchanas, junto ao caminho que conduz
à porta principal. Lumbrales, Salamanca,
Castilla y León, Espanha.
Paradeiro Integra a coleção de coleção de Serafín Tello.
Nº Inventário -
S/F
Tipologia Tessera
Material Bronze
Medidas 2,8 x 4,4 x 0,1cm
Descrição: Téssera de bronze retangular com bordas sinuosas
e irregulares.

B. Inscrição

Tesera / Cauriesis / magistratu / Turi


Interpretação:
Tessera Cauriense. Feita ou autorizada (?) pelo magistrado de Turi (?)
C. Comentário Histórico
Acordo de hospitalidade. Não sabemos ao certo se corresponderia a um local escrito em genitivo ou
o nome do magistrado em ablativo.
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
CIL I2, 3466
Catálogo Online: HEpOnl 26062
233

6. Salacia
Status Jurídico: Municipium

Enquadramento Cronológico: Século I d. C.

Subgrupo Temático: Epígrafes Votivas

Palavra-Chave: onomástica, origem,


Nº de Registro: 076 sacerdote imperial (Flamínica), decreto
dos decuriões.
A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada em Capela de S. João dos
Azinhais, Torrão, Alcácer do Sal, Portugal.
Paradeiro MREv - Évora/Pt
Nº Inventário -
Tipologia Ara
Material Mármore
Medidas 78 x 58,5 (base) x 41 (fuste) 52 (base) cm.
Águia em abertura das asas: 26 cm; altura
total: 31 cm; motivo vegetal: 44x28 cm
diâmetro do suporte: 27 cm.

Descrição: Ara votiva, a que falta o capitel e a parte superior


do fuste. Mármore branco de Pardais (Vila Viçosa), com
bandas cinzentas. Trabalhada nas quatro faces, tem moldura na
base. A inscrição ocupa uma face do fuste, estando o campo
epigráfico, rebaixado, limitado por uma moldura de dois toros
separados por uma unha com ranhura exterior. Do lado
esquerdo há, em relevo, uma águia de asas abertas,
verossimilmente olhando para a direita, apoiada numa nuvem
ou num tronco estilizado.

B. Inscrição – VOTIVA
IOVI · O(ptimo) · M(aximo) · / FLAVIA · L[ucii) · F(ilia) · RVFINA / EMERITENSIS ·
FLA/MINICA · PROVINC(iae) · /5 LVSITANIAE · ITEM · COL(oniae) / EMERITENSIS / ·
PERPET(ua) · / ET · MVNICIPI(i) . SALACIEN(sis) / D(ecreto) · D(ecurionum) ·
Interpretação:
A Júpiter Óptimo Máximo. Flávia Rufina, filha de Lúcio, natural de Mérida, flamínia da província da
Lusitânia assim como perpétua da Colônia Emeritense e do Municipio Salaciense. Por decreto dos
decuriões.
C. Comentário Histórico
Trata-se de uma dedicatória a Júpiter numa zona em que a sua ocorrência é muito rara
(ENCARNAÇÃO, 1984, p. 255). A epígrafe deve ser entendida como um testemunho oficial de
dedicação a Roma e de ostentação, do que como prova de devoção religiosa. Sobretudo se considerar
a cuidadosa decoração inspirada em motivos importados, oficiais, a saber: o relevo dado à fórmula
decreto decurionum — maior que o nome da divindade; a preocupação de Rufina em enumerar os
seus cargos. Frente a essas observações, a questão que se coloca tem como preocupação fundamental
saber se o monumento tem como objetivo central perpetuar a memória da flumínea provincial.
Sendo foi natural de Mérida, Rufina recebeu as honras do flaminado perpétuo na sua terra natal e no
234

município salaciense.
Assim sendo, a ereção do monumento epigráfico parece ter sido feita em um importante lugar de
culto. Tal fato documenta tanto a vitalidade da cidade como o seu apego ao governo provincial e
central e, ainda as estreitas relações entre Salácia e a capital provincial: em Mérida onde também se
registra igualmente a presença de salacienses (CIL II 518 = ILER 5403).
Observando-se o gentilicio da flaminia, compreende-se que Rufina seria pertencente a uma família
que teria recebido do imperador Vespasiano (70-79) o direito de cidadania. Seguindo nessa
perspectiva, Robert Étienne (1958, p. 166-167) data a inscrição do tempo dos Flávios. Assim sendo,
Salácia assume, no contexto da Lusitânia, uma importância muito particular.
Datação: Entre os anos 70 e 79 d. C.
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 183.
Catálogo Online: HEpOnl 21112

Subgrupo Temático: Epígrafes Honoríficas

Palavra-Chave: onomástica, dedicatória


Nº de Registro: 077
imperial.
A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrado em Alcácer do Sal,
Portugal.
Paradeiro MNAE – Pt
Nº Inventário E 6329
Tipologia Bloco
Material Granito
Medidas 44,5 x 90 x 31 cm
Descrição: Bloco paralelepipédico em granito
moscovítico de grão grosseiro, com inscrição honorífica.
Só trabalhado na face que recebeu a inscrição. Moldura
de dois toros.
B. Inscrição – DEDICATÓRIA IMPERIAL
IMP(eratori) · CAESARI · DIVI · F(ilio) · AVGVSTO / PONTIFICI · MAXVMO · CO(n)S(uli) ·
XII (duodecimum) / TRIB(unicia) · POTESTATE · XVIIII (decima nona) / VICANVS . BOVTI ·
F(ilius) /5 SACRVM
Interpretação:
Consagrado ao imperador César Augusto, filho do divino, pontífez máximo, cônsul pela 12ª verz, no
seu 18º poder tribunício. Vicano, filho de Búcio.
C. Comentário Histórico
O monumento testemunha o culto ao imperador Augusto prestado por um indivíduo recém-
romanizado (pela sua identificação à maneira indígena, isto é, através do seu cognome e do pai). De
acordo com os estudos de Encarnação (1984, p. 256 – 257), trata-se de um cognome latino utilizado
na Península em sentido coletivo: Tedi Vicani Vadiniensis (vide Vadinia, ILER 3492) Vicani
Camaloc... In (Crato, n.° 609), Vicani Tongobrigenses (CIL II 743).
O pai de Vicano tem nome tipicamente celta, Boutius, igualmente já documentado no conventus
(IRCP, 1984, n.° 130). O presente texto data de 5/4 a. C., pois Augusto teve o poder tribunicio pela
19.a vez desde 1 de Julho de 5 a 30 de Junho do ano 4 a. C., período a que efectivamente corresponde
o 12.° consulado (5/2 a.C.). Se a omissão do título de pater patriae se justifica, tendo em vista sua
atribuição oficial apenas em 5 de Fevereiro do ano 2 a. C., concordamos com as análises do autor de
235

que a indicação do sumo pontificado por extenso, assim como a palavra sacrum, elucidam bem da
aura sagrada com que o imperador é identificado.
O caráter essencial da dedicação, a saber, feita por um simples particular, sem explicitação de
motivos, sem intervenção de autoridades, leva às seguintes perguntas: afinal, quem se consagra? O
que é que se consagra? O monumento epigráfico ou a própria pessoa do dedicante? Encarnação
responde que, entendida como entrega pessoal, como devotio, a epígrafe assume proporções
insuspeitadas, a inscrição encontra paralelos com a encontrada em Gijón (CIL II 2703). Vale destacar
que essa inscrição, mais a dedicatória a I.O.M. feita por Flavia Rufina, flaminica municipii
Salaciensis perpetua (nº 76 do presente corpus), mediaram à hipótese que considera Salácia como
um foco do culto imperial.
Datação: Entre os anos 5 e 4 a. C.
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 184.
Catálogo Online: Não Registrado
236

Palavra-Chave: tria nomina,


Nº de Registro: 078 onomástica, sacerdote imperial
(Flâmine), administração colonial.
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrado em Alcácer do Sal, Portugal.
Paradeiro Murete da Quinta do Solar da Sempre Noiva
(freguesia de N.a Sr.a da Graça do
Divor,Évora), face nascente.
Nº Inventário -
Tipologia Cipo
Material Mármore
Medidas 29 x 49 (espessura não medida) cm S/F
Descrição: Cornide (apud ENCARNAÇÃO, 1984, p. 258)
considera o monumento um “cipó”, Bandeira Ferreira um
“bloco paralelepipédico de mármore azul”, talvez de Montes
Claros. Referido por Cornide entre as inscrições de Alcácer —
que não sabe donde copiou — ao texto foi naturalmente
atribuída essa origem, até ao momento em que idêntico letreiro
se descobriu no Solar da Sempre Noiva.
B. Inscrição
[L(ucio)] · C[ORN]ELIO · C(aii) · [F(ilio)] · / BOCCHO / [FL]AM(ini) · PRO[V]INC(iae) ·
TR(ibuno) · MlL(itum) · / [CO]LONIA · SCALLABITANA · /5 [OB · E(ius)] · MERITA · IN
COLON(iam)
Interpretação:
A Lúcio Cornélio Boco, filho de Gaio, flâmine provincial, tribuno militar - a colônia Escalabitana,
devido aos serviços por ele prestados à colônia.

C. Comentário Histórico
Cabe destacar que, seguindo uma sugestão de Hubner, “Cornelius Bocchus scriptor Lusitanus
nominatur apud Plin. 37, 7, 97. 9, 127 et in indicibus librorum 33 et 34; há muito se discute a
identificação do personagem de Alcácer com o escritor citado por Plínio. Recuperando as
interpretações de Encarnação (1984, p. 258-259), trata-se de Lucio Cornélio Boco, membro duma
família cujo nome está bem representado entre a as elites do conventus.
No caso específico em tela, Boco culminou a sua carreira municipal com o exercício do sacerdócio
provincial, ingressando na ordem equestre, possivelmente após ter sido praefectus fabrum, cargo que
raramente é omitido em epígrafes deste gênero. Dadas às características do formulário da inscrição,
como, por exemplo, a não menção da legião, atribui-se ao texto a datação em época de Cláudio
(ENCARNAÇÃO, op. Cit. p. 259, ÉTIENNE, R. 1958, p. 124).
Datação: Entre os anos 41 e 54 d. C.
D. Referências Bibliográficas
ÉTIENNE, R.. Le culte imperial dans la Péninsule Ibérique, d'Auguste. a Diocletien. Paris: E. de
Boccard, 1958; D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios
para o estudo da romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 185.
Catálogo Online: HEpOnl 21115
237

Palavra-Chave: tria nomina, onomástica, tribo,


Nº de Registro: 079
decreto dos decuriões.
A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrado em Alcácer do Sal,
Portugal.
Paradeiro MAS - Setúbal/Pt
Nº Inventário -
Tipologia Bloco
Material Mármore
Medidas 76,5 x 53,5 x43 cm.
Descrição: Bloco paralelepipédico em mármore
azul, liso nas cinco faces visíveis, com inscrições
em duas faces opostas.
B. Inscrição – HONORÍFICA
Texto A: [L(ucio)?] IVNIO · L(ucii) · F(ilio) . GAL(eria tribu) / [PJHILONI . IIVIR(o) (duumviro) ·
/ EX · D(ecreto) · D(ecurionum) / [FL]AMEN · DIVI · AVGVST[I] /5 [P?]ERPET[VVS?] [...]
DVRONIV[S] / [...] F(ilius) GAL(eria tribu) MODESTVS .

Texto B:[...] [OB MEMO ?]/[RA?]NDVM · M[ERIT(um)?] / IN · REM-P(ublicam) · [ET] PLEBEM


· SVAM / D (ecreto) · D (ecurionum)
Interpretação:
Texto A
A Lúcio (?) Júnio Fílon, filho de Lúcio, Júnio Fílon, filho de Lúcio, da tribo Galéria, duúnviro; por
decreto dos decuriões, flâmine perpétuo do divino Augusto, (...) Durónio Modesto, filho de..., da
tribo Galéria.

Texto B
... (para lembrar o mérito ?) para com a República e a sua população. Por decreto dos decuriões.
C. Comentário Histórico
Seguindo os estudos de José d’Encarnação, observa-se que o monumento registra a homenagem de
Junio, Duunviro, por ordem dos decuriões flâmine perpétuo do imperador Augusto divinizado,
cidadão romano inscrito na tribo Galéria (de Salácia). O personagem possui um cognome grego
registrado também na Vidigueira (vide IRCP, n.° 333a). Apesar de a decisão municipal estar
mencionada no texto B, parece que a homenagem foi feita por outro cidadão, Modesto, cujo
gentilicio — Duronius — ainda não havia sido atestado na Península.
Considerando o texto B a continuação do anterior, nele se encontraria o motivo da homenagem. LV
sugere a interpretação ob memorandum meritum, fórmula que, de acordo análise de Encarnação
(1984, p. 260), apesar de ainda não documentada é verossímil: a homenagem corresponderia aos
merecimentos de Fílon. Pela paleografia e pela indicação divi Augusti, o monumento é datado no
início do Império, possivelmente no século I d. C.
Datação: Século I d. C.
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 186.
Catálogo Online: Não Registrado
238

Palavra-Chave: tria nomina, onomástica,


Nº de Registro: 080 tribo, sacerdote imperial (Flâmine),
benemerência.
A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrado em Alcácer do Sal,
Portugal.
Paradeiro MAS - Setúbal/Pt
Nº Inventário -
Tipologia Cipo
Material Mármore
Medidas 124 x 52 x 47 cm
Descrição: Cipo em mármore, profusamente moldurado
nas quatro faces. Sob a cornija, há um denticulado
separa duas molduras com ornamentação de tipo
avalado, estando as molduras presente nas quatro faces
do fuste. Apresenta múltipla moldura da base: a
moldura de cima (gola reversa), apresenta o mesmo tipo
ornamental, de óvulos apontados para o fuste. O capitel
está bastante danificado, mormente do lado direito e nas
arestas; há escoriações por todo o monumento e uma
fenda horizontal no flanco direito.
B. Inscrição – HONORÍFICA
L(ucio) · PORCIO L(ucii) F(ilio) / GAL(eria tribu) HIMERO / IIVIR(o) (duumviro) · PRAEF(ecio)
· PRO / IIVIR(o) (duumviro) · FLAMINI /5 DIVORVM · BIS / OB · MERITA / PLEPS [sic] ·
AERE · CONLATO / HVIVS · TITVLI · HONORE / CONTENTVS · IMPENSAM /10 REMISIT
Interpretação:
A Lúcio Pórcio Himero, filho de Lúcio, da tribo Galéria, duúnviro, prefeito substituto do duúnviro,
flâmine por duas vezes dos imperadores divinizados. Devido aos seus méritos, a população, através
de subscrição. Satisfeito com a honra desta inscrição, reembolsou as despesas.
C. Comentário Histórico
O monumento registra um cidadão romano, inscrito na tribo Galéria, que é provavelmente a de
Salácia e cujo gentilicio já foi encontrado em Miróbriga (IRCP, n.° 152) e Myrtilis (IRCP, n.° 115),
frequente na antroponímia de flâmines hispânicos. Como indica Encarnação (1984, p. 2620),
Himerus surge num texto de Astorga (CIL II 2655 = ILER 4899) e registram-se vários no índice do
CIL VI (Roma), nomeadamente na onomástica de escravos e libertos. V.VI.VII.Assim sendo, este
cognome poderá provir do grego ίμερος, desejo apaixonado, ou do topónimo Himera, cidade da
Sicília. Como se observa na leitura, L. Pórcio Hímero percorreu uma notável carreira de magistrado
municipal: começou por ser duúnviro, substituiu como prefeito um dos duúnviros (ausente, doente ou
falecido antes de terminar o prazo do seu mandato) e foi eleito, por duas vezes, flâmine de dois
imperadores não identificados.
Os seus méritos valeram-lhe a gratidão das gentes (plebs) de Salácia, que organizaram para a
homenagem uma coleta. Segundo um hábito largamente documentado na epigrafia, Pórcio Hímero
retribuiu a honra pagando as despesas efetuadas com a ereção do monumento, aqui explicitamente
designado titulus. Embora não se indique a entidade administrativa onde o duúnviro exerceu a sua
atividade, supõe-se que se refira a Salácia. Pelo modo de identificação (indicando a tribo), pela
decoração e pelo tipo de letra data-se o monumento no séc. I d. C.
Datação: Século I d. C.
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 187.
Catálogo Online: Não Registrado
239

Palavra-Chave: tria nomina, onomástica, sacerdote


Nº de Registro: 082 imperial (Flâmine), administração colonial,
benemerência.
A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada em Alcácer do Sal,
Portugal.
Paradeiro MAS – Setúbal/Pt
Nº Inventário -
Tipologia Placa
Material Mármore
Medidas 53 x 164 x 10 cm
Descrição: Parte da direita duma placa em
mármore de Trigaches, destinada a ser
encaixada num monumento. A primeira fratura
ocorreu em cima, ao nível do orifício de
encaixe. Já o buraco da direita se mantém.
Apresenta superfície epigrafada bem
conservada, apenas com sinais de erosão na
vertical próximos ao meio. Não há vestígios de
moldura.
B. Inscrição – MONUMENTAL/HONORÍFICA
[L(ucius) · CORNELIVS · C(aii) . F(ilius) · BOC]CHVS · PR(aefectus) · CAESARVM · BIS /
[FLAM(em) · PROVINC(iae) · PON]T(ifex) · PERP(etuus) · FLAMEN · PERP(etuus) I
[DVVMVIR · AEDILIS ·] (?) II (bis) · PR(aefectus) · FABR(um) · V(quinquies) · TR(ibunus) .
MIL(itum) · D(e) · S(ua) · P(ecunia) · F(ecit)
Interpretação:
Lúcio Cornélio Boco, filho de Gaio, prefeito dos Césares pela segunda vez, flâmine provincial,
pontífice perpétuo, flâmine perpétuo, duúnviro, edil duas vezes, prefeito dos artífices cinco vezes,
tribuno militar, fez a expensas suas.
C. Comentário Histórico
Devido à identidade dos cargos enumerados, possivelmente se está perante o Cornélio Boco
registrado em IRCP, n.° 185 (ENCARNAÇÃO, 1984, p. 263-263). Esta epígrafe completaria, então,
os conhecimentos a respeito da carreira municipal da personagem: seu bom desempenho nas funções
sacerdotais e administrativas abriu-lhe a via da ordem equestre através da prefeitura dos artífices,
exercida cinco vezes, um feito não frequente.
Nesta ótica, o autor reconstruiu a 1inha 3, onde poderia figurar o nome do município —
[MVNICIPJII? — em que tais funções foram desempenhadas. No Conventus Pacensis este é o mais
notável dos cursus honorum municipais com ingresso na ordem equestre. Os Césares poderão ser
Augusto e Tibério, dado que se omite o nome da província e o número da legião de que Boco foi
tribuno militari. R. Étienne (1958, p. 124 e199) data o texto de Cláudio (41-54) ou do tempo de
Vespasiano (70-79), atendendo a que os Césares mencionados na inscrição poderão ser também
Vespasiano e Tito.
Datação: Entre o anos de 41e 96 d. C.
D. Referências Bibliográficas
ÉTIENNE, Robert. Le culte imperial dans 239a Péninsule Ibérique, d’Auguste. A Diocletien.
Paris: E. de Boccard, 1958; D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis:
subsídios para o estudo da romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 189.
Catálogo Online: HepOnl 8306
240

7. Myrtilis
Status Jurídico: Municipium

Enquadramento Cronológico: Séculos I - II d. C.

Subgrupo Temático: Epígrafes Funerárias

Palavra-Chave: tria nomina,


Nº de Registro: 067 onomástica, origem, libertos,
patronato.
A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada em Mértola, Portugal.
Paradeiro MNAE
Nº Inventário E 6404
Tipologia Ara
Material Mármore
Medidas 94 x 45 x 33/ 36 cm
Descrição: Ara funerária em mármore cinzento de Trigaches,
trabalhada nas quatro faces: moldura do tipo garganta
encestada em cima e de garganta reversa na base. Apesar das
perdas constatadas no lado inferior esquerdo, não apresenta
problemas na leitura nem da forma inicial do monumento nem
da inscrição. O capitel tem dois toros, um de cada lado,
decorados com motivos vegetais, ornados de rosetas de talvez
cinco pétalas nos topos, uma vez que apenas a da esquerda se
encontra bem conservada. Há dois frontões triangulares que
limitam adiante e atrás um espaço quadrangular de 24,5 X
21,5, possivelmente destinado a colocação duma estatueta ou
busto (parece-nos mais uma reutilização).
B. Inscrição
L(ucio) · IVLIO · APTO / GALLIO · PATRONVS / ITALA ME GENVIT TELLVS HISPANIA
TEXIT / LVSTRIS QVINQVE FVI SEXTA PEREMIT HIEMPS / 5 IGNOTVS CVNCTIS
HOSPESQVE HAC SEDE IACEBAM / OMNIA QVI NOBIS HIC DEDIT ET TVMVLVM
Interpretação:
A Lúcio Júlio Apto, o patrono Galião. A terra itálica me viu nascer, a Hispânia me sepultou. Vivi
cinco lustros, o sexto inverno matou-me. Neste território vivia ignorado de todos e como hóspede.
Aquele que tudo nos deu, aqui deu também o túmulo.
C. Comentário Histórico
Como indica Encarnação (1984, p. 161), o defunto identifica-se com os tria nomina (pertence à gens
lulia, do seu patrono), omitindo a filiação, como é costume entre os libertos. Aptus é cognomen
latino, de louvor, que se considera apropriado como nome de escravo, embora a sua utilização como
tal não seja de tal sorte frequente que o possamos asseverar peremptoriamente. Na Península é
encontrado em Idanha-a-Velha como nome de patrono dum liberto (ILER 4550) e em Conimbriga,
num peso (Fouilles II 1976 p. 177 n.° 398).
Gallio é considerado por Kajanto (p. 122 e 195) pouco popular, relacionável com a Gália pela sua
etimologia, embora não necessariamente característico de áreas célticas. Na Península encontramo-lo
outras vezes. L V (1929) tece considerações acerca das características métricas do carmen.
Constituído por dois dísticos (hexâmetro e pentâmetro), tem fórmulas equiparadas a outros textos
poéticos. Assim, a primeira frase encontra paralelo em Baetica me genuit do n.° 479 dos Carmina
Epigraphica de Bucheler, imitação, aliás, do epitáfio de Virgílio: Mantua me genuit.
Numa inscrição de Roma (CIL VI 15493) encontramos: «(...) cineres sola sacravimus ara quae genuit
241

tellus ossa teget tumulo (...)». Salientemos, contudo, a importância histórico-cultural a atribuir ao fato
de, em Mértola, um epitáfio ser redigido em verso, quando na Península tais manifestações artísticas
não são muito frequentes. Sintoma da cultura do patrono e, decerto, dos méritos do cliente que se
declara expressamente emigrante itálico, sendo assim a única personagem documentada no
conventus Pacensis cuja origem itálica está claramente atestada.
O texto documenta também um caso de hospitium, aplicando-se aqui com mais propriedade ao termo
hospes o significado de «forasteiro» preconizado por Álvaro d’Ors. Outro aspecto a considerar é a
utilização, poética, do vocábulo Hispania, que se documenta outra vez, no mesmo contexto, em
Cartagena (CIL II 3420). Não se deverá entender num sentido rigorosamente administrativo; será,
por exemplo, equivalente, neste caso, a Lusitânia. Pela tipologia e pelo tipo de letra, o texto
pertencerá aos finais do século II d. C. (Fonte dos dados: ENCARNAÇÃO, IRCP, 1984).
Datação: Século II d. C.
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 98.
Catálogo Online: Não Registrado
242

Nº de Registro: 118 Palavra-Chave: tria nomina, onomástica, tribo.


A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Provavelmente encontrado em
Mértola.
Paradeiro MNAE
Nº Inventário E 6355
Tipologia Ara
Material Mármore
Medidas 113 x 68,5(73 x 70, 5) X 37 (39 x 39)
cm. / Jarro: 27 X 19 cm

Descrição: Ara funerária em mármore cinzento de


Trigaches. Alisada e desbastada para utilização
posterior, estava trabalhada nas quatro faces. Do
monumento resta apenas o campo epigráfico, intacto,
no fuste, não rebaixado, limitado por uma espécie de
cordão reentrante. Do lado esquerdo, um trecho da
moldura em cima (garganta encestada e filete direto) e
em baixo (filete e garganta reversos), assim como um
jarro em relevo, de bojo elíptico, para a direita, pé alto,
colo curto, asa em arco pegando no bordo superior da
boca. Do lado direito, estaria eventualmente a pátera.
B. Inscrição
D(is) · M(anibus) · S(acrum) / L(ucius) . LIBVRNIVS · GAL (eria tribu) / MATERNVS .
ANN(orum) / XXIII (viginti trium) · L(ucius) LIBVRNIVS /5 MVS · PATER · FILIO ·
PIENTIS/SIMO · H(ic) · S(itus) · E(st) . S(it) · T(ibi) . T(erra) . L(evis) ·
Interpretação:
Consagrado aos deuses Manes. Aqui jaz Lúcio Libúrnio Materno, da tribo Galéria, de vinte e três
anos. Lúcio Libúrnio Mus, o pai, ao filho, modelo de piedade. Que a terra te seja leve.

C. Comentário Histórico
Na presente inscrição se encontra mais uma referência à gens Liburnia, documentada também em
Mértola. O contexto social é o mesmo da inscrição de Mértola: o pai, um liberto, identifica-se com os
tria nomina, omite a filiação e ostenta um cognome latino, Mus, aqui documentado pela primeira vez
na Península, poucas vezes usado no mundo romano, mas em proporção frequentemente dado a
libertos. O filho é cidadão romano, inscrito na tribo Galéria — possivelmente a de Mértola — e adota
um cognome latino (Maternus) frequente na zona (IRCP, nº 102 e 115).
A invocação aos deuses Manes, a paleografia, a menção da tribo e a presença do superlativo —
levam-nos a datar a epígrafe dos finais do século II d. C. (ENCARNAÇÃO, J. d’. 1984, p. 173-174).
Datação: Fins século II d. C.
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 110.
Catálogo Online: Não Registrado
243

Subgrupo Temático: Epígrafes Honoríficas

Palavra-Chave: trianomina,
Nº de Registro: 066 dedicatória imperial, administração
municipal, decreto dos decuriões.
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrado em Mértola, Portugal.
Paradeiro Parte do monumento foi aproveitado na
reconstrução da igreja.
Nº Inventário -
Tipologia Fragmento de lápide
Material Mármore (?)
Medidas S/F
40 x 23 x 16 cm
Descrição: A descrição de Viana deixa dúvidas se a respeito
deste ser o fragmento de uma lápide honorífica. De todo modo,
"(...) Além da falta de letras por efeito do corte, algumas das
restantes estão quase de todo ou mesmo de todo apagadas
pelas mossas infligidas à superfície portadorada inscrição"
(Viana).
B. Inscrição
[IMP(eratori) CAES(ari)] / [M(arco) · A[VRE]L[I]O · AN[TONINO · AVGVSTO] /
[ARME]NIACO · PONTI[F(ici) · MAX(imo) · TR(ibunicia) · P(otestate) · XVIII(duodevicesima)] /
[CO(n)S(uli) · III(tertium)] DIVI · ANTONINI · [AVG(usti) · F(ilio) . DIVI . HADRIANI] /
5
[ΝΕΡ(oti) · DIV]I · TRAIANI · PAR[THICI · PRONEP(oti)] / [DIVI NE]RVAE · ABNEP(oti) [...?
]/ EX . D(ecreto) · D(ecurionum) · M(unicip)ES · M(unicipii) MYR[TILENSI]S / PER · C(aium) ·
IVLIVM · MARINVM / C(aium) · MARCIVM · OPTATVM · IIVIR(os) (duunviros)
Interpretação:
Ao Imperador César Marco Aurélio Antonino Augusto Armeniaco, pontífice máximo, no seu 18°
poder tribunicio, cônsul pela 3ª vez, filho do divino Antonino Augusto, neto do divino Adriano,
bisneto do divino Trajano Pártico, trineto do divino Nerva... Por decreto dos decuriões, os municipes
do municipio de Mértola, por intermédio dos duunviros Gaio Júlio Marino e Gaio Márcio Optato.
C. Comentário Histórico
Para José d’Encarnação (1984, p. 158-159), estaremos perante uma dedicatória a M. Aurélio,
atendendo às referências a Antonino (1inha 4), a Trajano (1inha 5) e a Nerva (1inha 5), em genitivo,
o que leva a pensar na filiação frequente nas inscrições em honra deste imperador, embora essas
indicações costumem vir antes da enumeração dos títulos políticos. Todavida, o autor prefere o
dativo ao ablativo sugerido por HAE, dado o carácter honorífico atribuível ao monumento. Por outro
lado, atendendo à (provável) menção única do cognome Armeniacus, concedido a M. Aurélio em 164
ou mesmo nos finais de 163 (Cagnat p. 199), após a sua vitoriosa expedição contra a Arménia,
julgamos que deverá reconstituir-se o 18° e não o 19° poder tribunicio que só foi assumido a 10 de
Dezembro de 164.
O texto documentaria, assim, a única referência a este imperador considerado isoladamente, na
epigrafia do conventus, podendo inclusive relacioná-la com alguma das estátuas de togados achadas
em Mértola. Mértola mantinha, por conseguinte, em meados do séc. II, uma atividade importante, era
município onde funcionavam bem as estruturas oficiais: a homenagem é feita ex decreto ordinis e
dela são encarregados os duúnviros (como no IRCP n.° 291, de Beja).
Os magistrados têm gentilicios latinos documentados no conventus. O cognome Marinus, que já
encontrámos em Faro (IRCP n.° 64), atesta-se também em Miróbriga (IRCP n.° 145) e em Beja
(IRCP n.° 357); é de origem itálica designando indivíduos, de alta craveira social, da Lusitânia
244

meridional e central, como observam os autores de Fouilles II (1976 p. 95); Kajanto (p. 308) assinala
mais de 250 testemunhos no conjunto do CIL. De Optatus, cognome de origem latina, há também
muitos exemplos.

Datação: No ano 164 d. C.


D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 96 A.
Catálogo Online: Não Registrado

Palavra-Chave: tria nomina,


Nº de Registro: 117
onomástica, benemerência.
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrado em Mértola, nos entulhos das
obras de restauro da igreja Matriz.
Paradeiro Desaparecido
Nº Inventário -
Tipologia Bloco
Material Mármore
Medidas 77 x 53 x 19 cm S/F

Descrição: Segundo as descrições de Ferreira (apud


d'ENCARNAÇÃO, 1984, p. 159), trata-se de um bloco de
mármore azul, talvez de S. Brissos, com inscrição honorífica.
O texto estaria inserido em uma moldura formada por dois
sulcos, sendo o interior largo e de seção transversal
semicircular, e o exterior muito mais estreito.
B. Inscrição
[...] / HONORE · CON/[T]ENTVS · L(ucius) · HEL/VIVS · FLAVIA/[N]VS INPENSAM /5
REMISIT
Interpretação:
... Satisfeito com a honra, Lúcio Hélvio Flaviano pagou a despesa.
C. Comentário Histórico
Como inidica José d’Encarnação, (1984, p. 159), haveria, na parte que falta, o nome e cargos de L.
Hélvio bem como a indicação dos promotores da homenagem, eventualmente como na inscrição n.°
241. O homenageado, que se identifica pelos tria nomina, seria muito provavelmente um notável
municipal, cujo procedimento em relação à pública prova de simpatia, que lhe fora prestada, se
encontra bem documentado em epigrafia: pagou de seu próprio bolso a despesa para erigir a estátua
ou para mandar gravar a inscrição. Helvius é gentilicio que encontraremos no conventus Pacensis
quer sob a forma masculina (IRCP nº 08 570, 633) quer no feminino (IRCP, nº 496, 587) quer, ainda
na sua forma derivada, Helvianus (IRCP, n° 208).
Entre os augustais da Península, registra-se um M. Helvius Varus. L. Hélvio Flaviano poderia ser
também um augustal ou um flâmine, como M. Helvius Rufus. Flavianus surge pela primeira vez no
conventus Pacensis: formado a partir do gentilicio Flavius, este sim documentado, abunda em África
(51 exemplos num total de 161 — Kajanto, p. 146). Notar que o nome do homenageado foi
intercalado na fórmula e que esta foi gravada por extenso, vendo-se a grafia INPENSAM em vez de
IMPENSAM. Segundo Bandeira Ferreira, o texto é datável paleograficamente no séc. II d. C.
Datação: Século II d. C.
245

D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 97.
Catálogo Online: Não Registrado
246

8. Ossonoba
Status Jurídico: Municipium

Enquadramento Cronológico: Séculos I - III d. C.

Subgrupo Temático: Epígrafes Honoríficas

Palavra-Chave: dedicatória imperial,


Nº de Registro: 046
decreto dos decuriões, republica.
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrada em Faro, no forte chamado Mesa
dos Mouros, Portugal.
Paradeiro Desconhecido
Nº Inventário -
Tipologia Lápide. S/F
Material Não Encontrado
Medidas 4,5 x 2,5 palmos (Frei Vicente Salgado).
Descrição: trata-se de uma lápide. Não temos outras
informações a respeito do suporte.
B. Inscrição
IMP(eratori) · CAES(ari) · P(ublio) · LI/CINIO · VALERI/ANO · P(io) · F(elici) · AVG(usto) ·
PONT(ifici) / MAX(imo) · P(atri) · P(atriae) . TR(ibunicia) · POT(estate) · III(tertia) /5 CO(n)S(uli)
· RES · P(ublica) · OSSON(obensis) / EX · DECRETO · ORD(inis) I DEVOT[A] · NVMINI /
MAIESTATIQ(eu) · EIVS / D(edit) · D(edicavitque)
Interpretação:
Ao imperador César Públio Licinio Valeriano Pio Félix Augusto, pontífex máximo, pai da Pátria, no
seu terceiro poder tribunício, cônsul - A República Ossonobense, por decreto da ordem, ofereceu e
dedicou, por devoção ao seu gênio e majestade.
C. Comentário Histórico
Como indicar Encarnação (1984, p. 43), a cidade de Ossónoba surge aqui designada por república. À
primeira vista, o vocábulo levar-nos-ia a pensar que se tratava de designação oficial, indicativa dum
estatuto administrativo determinado. Todavia, neste caso respublica tem o sentido vago de "conjunto
de cidadãos", isto é, não deixa clara a situação jurídica o que viabiliza sua aplicação tanto em um
município como em uma colónia.
Datação: Século III d. C.
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 3, p. 44-45.
Catálogo Online: Não Registrado
247

Palavra-Chave: onomástica,
Nº de Registro: 047
administração provincial.
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrado em Faro, Portugal.
Paradeiro MF - Faro/Pt
Nº Inventário 18 (secção lapidar)
Tipologia Bloco Paralelepípedo
Material Calcário
Medidas 49 x 39 x 28 cm
Descrição: Bloco com inscrição de que restam apenas as duas S/F
últimas linhas e vestígios de letras da antepenúltima, ao nível
da qual foi partido longitudinalmente, há três faces alisadas.
Seguimos a interpretação de Encarnação (1984, pp. 48-49) ao
considerar que o monumento não consistiria em um pedestal
de estátua, mas sim um paralelepípedo simples destinado a ser
visto em local público e cuja função seria assinalar a
homenagem do texto em si ou outra obra.
B. Inscrição
[ ...]/ AV[...] / AVR(elius) VRSINVS V(ir) P(erfectissimus) PR(aeses) / PROVINC(iae) .
LVSITANI(ae)
Interpretação:
... Aurélio Ursino, varão perfeitíssimo, governador da Província da Lusitânia.
C. Comentário Histórico
Como demonstrado por José d’Encarnação (1984, p. 48-49), o texto dá-nos a conhecer um praeses da
província da Lusitânia, que teria homenageado o(s) imperador(es) reinante(s). Uma das hipóteses de
leitura compreende que a dedicatória poderia ter sido feita em honra de dois Augustos e de dois
Césares, aventando-se mesmo, ainda que interrogativamente, o leque cronológico de 293 a 305,
correspondente grosso modo ao reinado de Diocleciano, hipótese já levantada de resto pelo próprio
Hübner (CIL II 5140).
No entando, destaca o autor, o estado atual do monumento não permite a confirmação de qualquer
conjectura. No entanto, será anterior a 360, data a partir da qual o governo da Lusitânia foi exercido
por um consularis. O nome de Aurelius Ursinus não vem mencionado em outras inscrições
peninsulares. Encontramos-lhe, em Roma, dois homónimos: M. Aur. Ursinus e Aur. Ursinus, este
último num latérculo; embora tais personagens possam nada ter a ver entre si, verifica-se não ser caso
único a junção dos dois antropónimos. Aurelius é, de resto, gentilicio freqüente no conventus
Pacensis.
De Ursinus, cognome latino formado a partir do substantivo comum ursus, registam-se no CIL mais
de cem exemplos: a forma feminina é de grande frequência na zona oriental do Império. Não
admiraria, aliás, que este governador fosse oriundo dessa área, numa época em que os postos
político-administrativos mais importantes estavam nas mãos de cavaleiros com formação militar,
provenientes das províncias orientais.
Poderia mesmo contar entre os seus antepassados algum dos muitos que, após o édito de Caracala,
em 212, ascenderam à cidadania assumindo o gentilicio do imperador. O título vir perfectissimus era
concedido a esses membros da ordem equestre, da categoria de prefeitos, tornando-se usual no séc.
m, altura em que também se oficializa a designação praeses provinciae: aplicada inicialmente aos
governadores de pequenas províncias, que não pertenciam à classe senatorial, generaliza-se após o
édito de Galieno, de 261, justamente porque os legados senatoriais são então substituídos por
cavaleiros; com Diocleciano, o chefe militar (dux) passa a ter funções distintas do governador civil
(praeses), a quem é dado, portanto, o título de vir perfectissimus. Sem ousarmos, pois, adoptar as
reconstituições sugeridas por Borges de Figueiredo e por Hübner, concordamos em que o texto
completo seria uma homenagem ao poder central. Ossónoba nunca foi a capital da Lusitânia, mas o
248

facto de esta homenagem ali ter sido prestada pelo mais alto funcionário imperial bem demonstra a
sua importância — nomeadamente no sector económico — dentro do contexto das metrópoles
lusitanas. Aliás, o número de estátuas imperiais encontradas na villa de Milreu, que lhe fica
próximo, é nesse aspecto deveras sintomático: a villa foi decerto residência oficial e talvez a partir do
leque cronológico 293-305, se acaso podemos transferir para Milreu a data de S. Gucufate
(Vidigueira).
Datação: Século III d. C.
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 5.
Catálogo Online: Não Registrado

Nº de Registro: 048 Palavra-Chave: tria nomina, tribo.


A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrado em Faro, Portugal.
Paradeiro MF - Faro/Pt
Nº Inventário 30
Tipologia Bloco
Material Calcário S/F
Medidas 48 x 49 x 36 cm
Descrição: Bloco paralelepipédico, em calcário,
reaproveitado. Possui fratura irregular na parte inferior, ao
nível da 1inha 3 (sensivelmente a meio do N e do TO);
lateralmente, tem aspecto de ser o original.
B. Inscrição
L(ucio) ANNIO / QVIR(ina tribu) / NOVATO / [ . . . ]
Interpretação:
A Lúcio Ânio Novato, da tribo Quirina...
C. Comentário Histórico
De acordo com os estudos de José d’Encarnação (1984, p. 49), não se afasta a hipótese de se tratar de
um pedestal com um texto muito provavelmente honorífico. Inscrito na tribo Quirina, possivelmente
de Balsa, o homenageado pertence à gens Annia, da qual há outros testemunhos na região (nº 10 e
40), sendo um dos casos o de um Annius que promoveu a iniciativa do combate de barcas em Balsa
(IRCP, n.° 73).
O cognome Novatus não é frequente no mundo romano, onde se conhece 21 exemplos, sendo um
deles localizado em Utrera (Sevilha), um Annius Novatus mencionado num epitáfio em verso (CIL II
1293 = ILER 5801). Para Encarnação, embora os dados não sejam concludentes, sugerem que L.
Ânio Novato ostentou um elevado estatuto social, possivelmente detentor de cargos municipais que
viriam indicados a seguir. Circunstancialmente relacionado, através do registro da tribo, com Balsa,o
presente registro serve de vestígio para analisar a ligação entre as duas povoações ao tempo dos
Romanos, próximas no espaço e na atividade comercial a que ambas provavelmente se dedicariam.
Paleograficamente e devido à indicação da tribo, é texto do século I d. C.
Datação: Século I d. C.
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 6, p.49.
Catálogo Online: Não Registrado
249

Palavra-Chave: tria nomina, tribo,


Nº de Registro: 049
sacerdote imperial (Flâmine), patronato.
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrado em Faro, Largo da Sé, Portugal.
Paradeiro MF - Faro/Pt
Nº Inventário -
Tipologia Pedestal
Material Calcário S/F
Medidas 82 x 54 x 53 cm
Descrição: Bloco paralelepípedo de calcário, com pátina
amarela. Encontra-se alisado nas três faces e também em cima.
Pode-se considerar um pedestal.
B. Inscrição
M(arco) CORNELIO / Q(uinti) F(ilio) GAL(eria tribu) PERSAE / FLAMINI / PROVINCIAE
LVSITANI(ae) [sic] /5 CIVITAS OSSONOB(ensis) / PATRONO
Interpretação:
A Marco Cornélio Persa, filho de Quinto, da tribo Galéria, flâmine da província da Lusitânia - a cidade
de Ossonoma ao patrono.
C. Comentário Histórico
Encontrada no local onde muito possivelmente se situaria o forum da cidade, a epígrafe em tela dá a
conhecer mais um flâmine do culto imperial. Seguindo as análises de José d’Encarnação (1984, p.51),
Marco Cornélio Persa, patrono da civitas ossonobensis, era um cidadão romano inscrito na tribo
Galéria, de Faro, sendo incluídos entre os sete sacerdotes imperiais da Lusitânia com uma origem
geográfica precisa: conventus Pacensis, Ossonoba. A partir desta informação, compreende-se que se
trata de mais um registro que indica Ossonoba entre as cidades que elegem representantes seus à
assembleia provincial a fim de participarem na eleição do flâmine da província, demonstrando sua
vitalidade.
O autor defende a hipótese de que Cornélio Persa pertence ao conjunto de personagens locais
romanizados, não só devido à tribo como também ao cognome, Persa, que parece surgir aqui pela vez
primeira na epigrafia latina. Há de se considerar também a possibilidade de o cognome indicar uma
longínqua origem oriental. Tal ideia encontra força na consideração da localização da cidade, isto é, o
fato de se estar em um porto marítimo que manteve relações comerciais com o Mediterrâneo Oriental.
Quando confrontado com outros registros, observa-se a existência de um liberto, M. Cornélio, em
Ossonoba (IRCP, n° 11) que pode ter pertencido à família deste flâmine. Pela paleografia e pela
identificação, enquadra-se o monumento no século I d. C.
Deste modo, M. Cornélio Persa figuraria como um membro ilustre de uma família das elites
municipais de Ossónoba que libertou M. Cornélio Eridano, e que teria recebido a homenagem da
cidade que, com orgulho, o designou como seu patrono (título honorífico que dava direito a assistir às
sessões da ordo decurionum (conselho dos decuriões). Como destaca Encarnação, os Cornelii, os M.
Cornelii, estão muito ligados ao culto imperial na Península. De resto, é um nomen bastante
documentado no conventus Pacensis. Nas dedicatórias imperiais do século III os habitantes de
Ossónoba são designados respublica (IRCP, nº 3 e 4); aqui, surge o termo civitas.
A hipótese de outro estatuto administrativo é destacada, dando lugar a um hábito comum aos registros
da época, uma vez que as investigações apontam que o termo civitas é anterior a respublica. Por outro
lado, nos textos do séc. III d. C. é patente o bom funcionamento das estruturas municipais; neste,
parece não ter havido a habitual intervenção da ordo decurionum, pois se omite d(ecreto)
d(ecurionum).

Datação: Século III d. C.


250

D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 7.
Catálogo Online: Não Registrado

Palavra-Chave: tria nomina, tribo,


Nº de Registro: 050 sacerdote imperial (Flâmine), decreto
dos decuriões.
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrado em Faro, Portugal.
Paradeiro Paradeiro desconhecido.
Nº Inventário -
Tipologia Pedestal
S/F
Material Não Encontrado
Medidas Não Encontradas
Descrição: Seria um grande pedestal, fendido a meio, de alto a
baixo.
B. Inscrição
[C(aio) IVLI]O L(ucii) [F(ilio) / QVIR(ina tribu) F]ELICI/[ORI] VI[...E]NSI (hedera) I
[FL]AM[INI] ET II /5 VIR[O O]SSON/OB(ensi) [L(ucius) V]AREIVS / [S]AM[I]ARIVS [?] /
L(ucius) AEL[IVS] OPTATVS / [C(aius)] A[CILI]VS COMA/[TVS L(ucius) A]XIV[S / TIRO
C(aio) IVL(io) F]ELIGIORI / [AMICO BEN]EMEREN/[TISSIMO E]T PIENTIS/SIMO D(ecreto)
D(ecurionum)
Interpretação:
A Caio Iulio Felicior, filho de Lucio, Vispaciense ou Olisiponense (?), flâmine pela primeira vez e
duunviro ossonobense, da Tribo Quirina. Lucio Vareio Samiario, Lucio Celio Optato, Caio Acilio
Comato, Lucio Axio Tiro, Caio Iulio Felicior, ao amigo benemerentíssimo e piedosíssimo,
dedicaram. Por decreto dos Decuriões.
C. Comentário Histórico
Seguindo as interpretações de Hübner e Encarnação, (1984, 52-53), o texto constituiria a homenagem
de quatro amigos, cujos nomes são quase totalmente reconstituídos, ao flâmine e duúnviro
ossonobense, Gaio Júlio Felicior. Na 1inha 3, há a sugestão de uma naturalidade: Vipascensi ou
Ulisiponensi. O certo é que lhe atribui a tribo Quirina, que não é a de Lisboa. Caso a sugestão de
leitura seja mantida, estaríamos perante a migração de alguém que vem desempenhar funções
administrativas e religiosas num município diferente do da sua origem. Duúnviro de Ossonoba, teria
ascendido também à mais antiga dignidade religiosa, o flaminado, sacerdócio do culto imperial.
Dos antropônimos reconstituídos, nem todos têm a mesma probabilidade de efetivamente se
encontrarem no texto real, a começar pela identidade do duúnviro, cujo praenomen e nomen são
hipotéticos. Assim sendo, Encarnação aponta que LAFI (1inha 8) é interpretado L(ucius) AEL(ius);
que VAREIVS (1inha 6) seria hapax na Península (ILER p. 763), SAMIARIVS também (ILER p.
744). De Comatus, cognome latino de muito escassa representação no CIL (Kajanto, p. 222),
registra-se outro exemplo em Tarragona (CIL II 4155). Optatus é também cognome latino, muito
representado na Península (ILER p. 727) e na Lusitânia (V. Mantas, “Conimbriga” XXI 182 p. 24-
25); no conventus Pacensis, há registros em Mértola (IRCP, n°96) e em Marvão (IRCP, n°629). A
interpretação Decreto Decurionum — em vez de donum dant, proposta por Hubner — justifica-se,
atendendo a que uma homenagem pública exigiria a intervenção da ordo decurionum, para autorizá-
la mediante decreto.
251

Datação: Não Atribuída


D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 8.
Catálogo Online: Não Registrado

Subgrupo Temático: Epígrafes Monumentais

Palavra-Chave: tria nomina,


Nº de Registro: 052
onomástica.
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrado em Muralha do castelo de Faro,
junto à Porta Nova, Portugal.
Paradeiro Não Encontrado
Nº Inventário -
Tipologia Bloco
Material Calcário S/F
Medidas Bloco 1: 52,5 x 88 x 37 cm
Bloco 2: 51 x 38 x 55 cm
Descrição: Dois blocos de calcário paralelepipédicos. O
primeiro apresenta uma lista de nomes em duas colunas. Do
segundo resta, aparentemente, só a metade esquerda.
B. Inscrição
2.a coluna: Q(uintus) IVNIVS AVITIANVS / L(ucius) AEMILIVS THEMISON / L(ucius)
PVBLICIVS VRBANVS / L(ucius) CAECILIVS PLOCAMVS /5 L(ucius) LICINIVS FRVCTVS /
L(ucius) CAECILIVS NYMPHODOTVS / MARIVS MAXIMVS / M(arcus) FABIVS MYRTILVS
/ L (ucius) CAECILIVS SYMPHORVS / 10 M(arcus) IVLIVS AVITIANVS / [...] GEMINIVS
CALLISTVS // [...?] / [...]NIVS / [...]NTVS / [...] / 15 [...][OS]SONOBENSIVM / [...] / [...] / [...]

2.a coluna: L(ucius) LIVIVS MARTIALIS / L(ucius) LICINIVS CAL VV S / L(ucius) ANNIVS
LAPILLIANVS / L(ucius) CAECILIVS LIBERALIS /5 L(ucius) HERENNIVS COSCONIVS /
L(ucius) AELIVS SVPERSTES / CN(aeus) ACILIVS RVFVS / Q(uintus) IVNIVS
CHRYSANTHVS / M(arcus) CAECILIVS VRBANVS / 10 L(ucius) LICINIVS OPILIO
Interpretação:
1ª Coluna: Quinto Iunio Avitiano, Lucio Aemilio Themisão, Lucio Publicio Urbano, Luio Caecilio
Plocamo, Lucio Licinio Fruto, Lucio Caecilio Nymphodoto, Mario Maximo, Macro Fabio Myrtilo,
Lucio Caecilio Symphoro, Marcos Iulio Avitatiano, Geminio Callisto, (...) de Ossonoba.

2ª Coluna: Lucio Livio Martial, Lucio Licinio Calvo, Lucio Annio Lapilliano, Lucio Caecilio
Liberal, Lucio Herennio Cosconio, Lucio Aelio Superste, Cnaeu Acilio Rufo, Quinto Iunio
Chrysantho, Marco Caecilio Urbano, Lucio Licinio Opilio.
C. Comentário Histórico
LER COM CALMA E SINTETIZAR.
Dada à complexidade da leitura, citamos a descrição realizada pelo Prof. Dr. José d’Encarnação
(1984, pp. 55-58): ‘Torna-se difícil saber quantas linhas haveria no 2.° bloco — a hipótese de oito
baseia-se no espaço e em presumíveis vestígios de letras. O traçado dos caracteres impossibilita
distinguir aí um T, de um I. Na linha 6, parece-nos existir um V sob o primeiro N de Ossonobensium;
na linha 7, haverá um A precedido de M (?) e, no final, -NVS; na linha 8, afigura-se-nos um S.
Todavia, o conjunto está tão erodido que não ousamos lançar hipóteses de reconstituições. Decerto
252

que aí terminava a inscrição, não só porque há um nítido espaço em branco após a inha 8, como
também essa é a sugestão dada pelo vocábulo Ossonobensium, que se crê ser uma forma de
caracterizar os elementos da lista no todo ou em parte. Por outro lado, é de supor que o texto mais
importante do ponto de vista estrictamente histórico estaria em cima: aí se indicaria o teor e a razão
da homenagem, podendo a lista estar subordinada a uma frase do tipo de “di qui infra scripti sunt”,
como acontece no texto de Aljustrel (IRCP, n° 121).
(...) De que homenagem se trataria ou para que monumento toda esta gente contribuiu — não o
saberemos enquanto não se encontrar essa primeira parte. De qualquer modo, e para além do facto
em si — um grupo considerável de pessoas de Ossónoba que se juntam num empreendimento
comum — o monumento reveste-se da maior importância do ponto de vista onomástico, pelas
informações que nos dá. Daí que interesse debruçarmo-nos sobre os antropónimos aqui registados.
Analisaremos os gentilicios, por ordem alfabética, detendo- -nos logo nos cognomes que os
acompanham. Aliás, à excepção de Marius Maxumus (1inha 7), todas as personagens apresentam os
tria nomina. Na 1inha 11, há espaço para o praenomen, tanto mais que o gentilicio Geminiusse
encontra no alinhamento dos outros gentilicios, enquanto que, na 1inha 7, o M de Marius arranca na
linha dos praenomina”.
A gens Acilia, aqui representada por Cn. Acilius Rufus, e frequente na Peninsula Iberica (ILER p.
651-652); surge no conventus Pacensis (1) e noutra inscricao de Faro (n.° 2), nao sendo inedita a sua
uniao com o cognome Rufus(2). Este cognome, muito representado no conventus Pacensis, e,
segundo Kajanto (p. 65, 121), quase exclusivo de ingenui.
L. Aelius Superstes documenta a gens Aelia, bem representada na Peninsula, encontramos bastantes
L. Aelii com cognome latino, como aqui (4). E se nao podemos aceitar, sem mais, L. Aelius Optatus
da inscricao n.° 8, ja noutra inscricao de Faro (n.° 15) tal gentilicio nos aparece abreviado — o que
pode confirmar a notoriedade da familia. Superstes, por seu turno, e cognome latino (K a ja n t o , p.
94, 274), identificando na Peninsula, individuos com os tria nomina (ILER p. 752).
L. Aemilius Themison: bem documentados os L. Aemilii na Peninsula (ILER p. 653-4); no conventus
Pacensis esta gens esta representada a sul, sobretudo com elementos femininos. Themison, cognome
de origem grega, surge outra vez, em Malaga (CIL II 2021 = ILER 5416), identificando
provavelmente um liberto (5).
L. Annius Lapillianus — A gens Annia tem outros representantes no conventus Pacensis,
nomeadamente na zona costeira meridional: n.os 40, 73 e 91. Lapillianus não vem registado na lista
de Kajanto. Cremos ser a primeira vez que surge: tera a ver com o gentilicio Lapillius, atestado como
ceramista de Merida (6), eventualmente formado a partir do diminutivo lapillus, pequena pedra.
A gens Caecilia tem, neste monumento, cinco representantes, dos quais quatro com o praenomen
Lucius. Poderao ter pertencido ao mesmo senhor que os libertou. No conventus Pacensis, esta gens
nao esta muito documentada: a inscricao n.° 402 refere um L. Caecilius C(aii) f{ilius)\ a n.° 449
indicara tambem verosimilmente um L. Caecilius C(aii) f(ilius). Tanto Liberalis como Urbanus sao
cognomes latinos bem documentados. Nymphodotus e de origem grega; embora nao referido por
Solin, esta atestado no CIL VI, dado principalmente a escravos e libertos. Na Peninsula, Tarragona
apresenta um nucleo de individuos com este cognome, que sao muito provavelmente libertos (cfr.
RIT p. 495) (8). Plocamus (do grego πλόκαμος, anel de cabelo), nao referido por Solin, e cognome
atestado em Roma e nao se regista nos indices do ILER ou do CIL II.
Symphorus, cognome tambem de origem grega, encontra-se em Badajoz — um medico, L. Cordius
Symphorus (CIL II 470 — ILER 417) — e em Tarragona (CIL II 4392 = = ILER 4953 = RIT 628,
RIT 616).
M. Fabius Myrtilus tem um gentilicio mais vezes documentado no conventusPacensis, acompanhado
frequentemente de cognomes gregos. Myrtilus foi o nome dado ao filho de Mercurio e de Mirto GIG.
Nat. 3, 90); nas inscricoes de Roma, encontramos Myrtilus como cognome de escravos e de ingenui;
aqui, no entanto, poderemos perguntar-nos se tera relacionacao com Myrtilis, Mertola, qualificando
alguem originário desta localidade.
(...) Geminius Callistus: O gentilicio formou-se a partir do cognome Geminus; na Peninsula, atesta-se
algumas vezes (CIL II p. 1063). Callistus, de origem grega, também (ILER p. 674).
Da gens de L. Herennius Cosconius, bem documentada na Peninsula (ILER p. 701-2) ha um exemplo
253

em Mertola (n.° 107) e outro em Beja (n.° 261). Cosconius e um gentilicio, nao muito representado
na Peninsula Iberica (x), mas que exerce aqui as funcoes de cognome.
M. Iulius Avitianus: n a o a b u n d am os M. lulii no conventus Pacensis (n .os 150, 353 e 510).
Avitianus, cognomen somente documentado no conventus nesta inscrição conventus, formado a
partir deAvitus (K a ja n t o, p. 109, 304).
Dois membros da gens Iunia, ambos com o mesmo praenomen, o que nos induz a pensar tratar-se de
libertos da mesma personagem. Chrysanthus e a latinizacao de κρύσαντος (Solin, p. 115); surge-nos
numa inscricao de Marim (n.° 43); na Peninsula, documenta-se pelo menos mais quatro vezes (GIL II
p. 1081) e aplica-se geralmente a escravos e libertos.
Tres L. Licinii e denunciador de libertos do mesmo senhor pertencente a gens Licinia, bem
representada no conventus Pacensis, um pouco por toda a parte, havendo ate outros L. Licinii (n.os
132 e 458) (2); perto de Faro, encontramos uma Licinia (n.° 67) e foi um G. Licinius Badius que
ofereceu cem pes do podio no circo de Balsa (n.° 77). Calvus e cognome latino retirado duma
particularidade fisica (K a ja nto p. 235). Opilio — pastor —, cognome latino nao frequente (3),
atesta-se aqui pela primeira vez na Peninsula. Fructus, ja documentado (ILER p. 696), e considerado
por Kajanto (p. 337 e 352) como um provavel participio (de fruor, usufruir); na epigrafia de Roma
figura predominantemente como cognome de libertos.
L . Livius Martialis — Nao so encontramos outros Livii no conventus Pacensis (n.°s H 4? 433 e 517)
como na Peninsula, muito embora o seu numero nao seja numeroso (ILER p. 711). Martialis e
cognome latino extremamente espalhado na Peninsula (ILER p. 718), que encontraremos tambem no
n.° 80. Kajanto (p. 54-55, 212) pensa que Martialis, formado a partir de Mars, pode nao ter relacao
com a importância dessa divindade, sendo, em Africa, o equivalente latino de nomes divinos punicos.
Os autores de Fouilles II, p. 84, sugerem que o sucesso deste cognome em meio céltico se deve
relacionar com o substrato local; nao e o caso presente.
Marius Maxumus — frequente nas regioes ligadas ao mar, este gentilicio surge, no conventus
Pacensis, um pouco por toda a parte. E ate habitual aparecer sem praenomen, como aqui. Maxumus
apresenta u em vez de i, como outras vezes ocorrera no conventus, sem que se possa atribuir ao facto
um significado particular.
A identificacao de L. Publicius Urbanus merece atencao especial. Trata-se dum liberto; e, enquanto o
prenome lhe pode ter sido dado pela pessoa a quem pertenceu a iniciativa da sua libertacao, o
gentilicio e caracteristico dos libertos publicos (T h y l a n d e r , p. 82-3) e o cognome Urbanus (que
surge outra vez nesta inscricao) assinala decerto a sua condicao de antigo escravo da cidade. Temos
outro Publicius em Balsa (n.° 80) e reconstituímos esse nomen no n.° 107, de Mertola.
Estamos, por consequencia, muito provavelmente, perante uma lista de libertos.
Varias das familias a que pertencem — Acilia, Aelia, Aemilia, Annia, Licinia — sao-nos conhecidas
atraves doutros textos epigraficos; por isso nao se afigura impossível que a elas estejam ligados,
sendo eventualmente seus libertos in loco. Outras, apesar de documentadas no conventus Pacensis e
na Peninsula, nao tem por enquanto outros representantes locais, pelo que poderao ser de imigrantes.
De qualquer modo, nao so o texto em si e o seu significado e importante: o facto de, numa assentada,
conhecermos o nome de tantos libertos (ou de descendentes de libertos) nao deixa de ser sintomatico
numa cidade onde a actividade comercial — nas maos desses libertos — seria florescente.
Datação: fins século II d. C.
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 10.
Catálogo Online: Não Registrado
254

Palavra-Chave: tria nomina,


Nº de Registro: 053
onomástica, administração municipal.
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrado em Muralha da cidade de Faro,
Portugal.
Paradeiro MF - Faro/Pt
Nº Inventário -
Tipologia Bloco
Material Mármore S/F
Medidas 29 x 179 x 29 cm
Descrição: Bloco paralelepipédico de mármore, em forma de
lintel, destinava-se a ser colocado sobre a porta dum edifício
oferecido certamente pelos dois séxviros referidos na
inscrição. Na parte de trás há um ressalto para facilitar a
fixação; em baixo, dois buracos de cada lado para os gonzos.
B. Inscrição
M(arcus) · CORNELIVS · ERIDANVS · ET G(aius) · IVNIVS · RECEPTVS / OB · HONOREM ·
IIIIIIVIR(ato) · D(e) · S(ua) · P(ecunia) · D(ono) · D(ederunt)
Interpretação:
Marco Cornélio Eridano e Gaio Júnio Recepto, em honra do sexvirato, ofereceram a expensas suas.
C. Comentário Histórico
Como destaca José d’ Encarnação (1984, p.59), o texto refere dois séxviros, ou seja, dois libertos,
membros dum colégio de seis sacerdotes do culto imperial, designados nas inscrições como
augustales, seviri augustales ou simplesmente seviri. A identificação é feita no modo habitual: tria
nomina, ausência de filiação e cognome denotando a origem servil. Em IRCP, inscrição n.° 7 há
outro M. Cornelius, também de Ossónoba, flâmine, o que indica a possibilidade de estarmos perante
a mesma gens que o da presente inscrição. Mesmo sendo uma conjectura, o autor aponta que, em
ambos os casos, se atesta uma boa posição sócioeconômica: M. Cornélio Persa é patrono de
Ossónoba.
Eridanus: cognome de origem grega, regista-se, por exemplo, no mosaico circense de Barcelona (CIL
II 5129) aplicado a um homem e a um cavalo e, em Roma (CIL VI 9004), identificando um liberto
imperial. Receptus é, ao invés, cognomen latino, bem documentado (Kajanto , p. 355); na Península
Ibérica encontramo- lo em Salcedo (CIL II 2925). Na inscrição registrada no IRCP n.° 10, há outro
Iunius, de cognomen Avitianus, igualmente num contexto de libertos. Terão saído da servidão por
intermédio da mesma família?
O autor aponta que o caráter monumental da inscrição insere-se no costume de os séxviros
oferecerem à comunidade, por ocasião da sua elevação ao cargo, monumentos ou festejos. Costume
que era sinal de prestígio, mas simultaneamente um encargo financeiro de vulto, a que pouco a pouco
se procurou fugir. Mais uma vez se verifica a relação estreita entre os séxviros e o fenómeno urbano,
nomeadamente os portos. Ossonoba teria importante papel no tráfico marítimo das costas
meridionais, o que explica a existência dum escol cuja riqueza assentaria não só em bens imobiliários
como igualmente na actividade comercial. As dificuldades de interpretação advêm do fato do suporte
ter sido encontrado fora de qualquer contexto arqueológico.
Datação: Século II d. C.
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 11.
Catálogo Online: Não Registrado
255

Palavra-Chave: decreto dos


Nº de Registro: 054
decuriões.
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Possivelmente encontrado em Faro, Portugal.
Paradeiro MF - Faro/Pt
Nº Inventário 41 (sessão lapidar)
Tipologia Fragmento de placa
Material Calcário S/F
Medidas 29 x 24 x 17 cm
Descrição: Fragmento de placa, em calcário. Do lado direito,
resto de pátina amarela pode dar a entender que terminava
nessa superfície plana.
B. Inscrição
[...][M] · [III vel TII] [...] / [...A? R ?] M · A[E ? vel F ?] [...] / [...] D(ecreto). D(ecurionum) [vel
D(onum) · D (edit ederunt)]
Interpretação: -

C. Comentário Histórico
A datação foi atribuída pela paleografia. A epígrafe possui boa gravação em caracteres em capital
monumental quadrada. As letras finais apresentam-se de maior módulo, o que leva à hipotese de ter
registrado um texto oficial, onde a intervenção dos magistrados municipais tivesse de ser posta em
relevo.
Datação: Século I d. C.
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 13, p. 61.
Catálogo Online: Não Registrado
256

Palavra-Chave: tria nomina,


Nº de Registro: 055
onomástica, benemerência.
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrado em Faro, Portugal.
Paradeiro MF - Faro/Pt
Nº Inventário -
Tipologia Mosaico
Material -
Medidas 41 x 179,7 cm (dimensões interiores) S/F
Descrição: Mosaico vasto, com decoração geométrica e
vegetalista. Ao centro da decoração, dentro dum medalhão, há
uma cabeça de Oceano e aos cantos do quadrado circunscrito,
a representação dos ventos. Nesse esquema, a inscrição
encontra-se junto dum dos lados de tamanho menor, dentro
duma tabula ansata.
B. Inscrição
C(aius) · CAL.PVR.NI.VS [...]NVS · ET · G(aius) VI.BI.VS · QVINTI· / /LI.A.NVS · ET · L(ucius)
· AT.TI[VS? ...] S · ET · M(arcus) VER.RIVS CE.MI.NVS · / SOL[VM] TES.SEL.LAS [F(aciendum)
· CV.RA.R]VNT · ET · DONA.R[VN].T .
Interpretação:
Gaio Calpúrnio (...) e Gaio Vibio Quintiliano e Lúcio Átio (?) (...) e Marco Vérrio Gémino
mandaram executar e ofereceram o solo e as tesselas.
C. Comentário Histórico
Para José d’Encarnação (1984, p. 80), o texto tem um significado preciso: indica-se o nome dos
quatro doadores e especifica-se a doação. O primeiro doador pertence à gens Calpurnia, de que
existem outros membros no conventus Pacensis, nomeadamente em Évora, onde se regista uma
família senatorial com este nome (IRCP, nº 382); no conjunto do CIL II, os Calpurnii ocupam o 20°
lugar na lista dos gentilicios mais frequentes (66 exemplos, 0,97% — segundo R. C. Knapp 1978 p.
221).
G. Vibius Quintilianus, ο 2° doador mencionado, é membro da gens Vibia, de que no conventus
Pacensis se registam mais uns sete exemplos; na Península, os Vibii ocupam com maior densidade a
bacia do Guadalquivir. Quintilianus é cognome latino (Kajanto, p. 153) não muito frequente na
Península: ILER 1007 (Madrid), 4064 (Coruche), 5487 (Numância), 5543 (Tarragona) e 6225
(Mérida).
Também do 4.° doador há o nome completo: o gentilicio Verrius não figura nos índices das grandes
colecções epigráficas peninsulares; mesmo no conjunto do mundo romano, não se encontra muitas
vezes: umas vinte em Roma (CIL VI), por exemplo. Ceminus (= Geminus) é cognome latino
(Kajanto, p. 294) igualmente pouco frequente na Península (ILER p. 699); no conventus Pacensis,
um caso em Tavira (IRCP, n° 86) e outro em Eivas (IRCP, n° 594).
Deste modo, Encarnação indica que se está perante a uma onomástica perfeitamente latina, sem o
menor vestígio de indigenato, circunstância tanto mais relevante quanto julgamos estar perante ou os
quatuórviros de Ossonoba ou os magistri dum colégio, cujo escalão sócio-económico postulasse o
gasto de boas quantias, summa honorária, no exercício de certas funções municipais, ou mesmo os
membros duma corporação de naviculários (AE).
Datação: Século III d. C.
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 35.
Catálogo Online: Não Registrado
257

9. Pax Iulia
Status Jurídico: Coloniae

Enquadramento Cronológico: Séculos I a. C. a III d. C.

Subgrupo Temático: Epígrafes Funerárias

Nº de Registro: 101 Palavra-Chave: tria nomina, tribo, origem.


A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada em Monte de Torrejão,
Baleisão, Beja, Portugal.
Paradeiro Desconhecido
Nº Inventário -
Tipologia Ara
Material Pedra (?)
Medidas Não Encontradas
Descrição: As fontes mais antigas referem este
monumento como sendo uma pedra com três palmos de
comprimento e dois e meio de largo, e acrescentam:
“Acha-se esculpido em um canto desta pedra um globo
e no outro um jarro”. O “globo” será necessariamente
uma pátera; e, por isso, o monumento teria certamente a
forma duma ara funerária — o que é confirmado pelo
desenho de Cenáculo: nota-se bem o jarro à esquerda; a
decoração do lado direito não se distingue
(ENCARNAÇÃO, 1984, p.368).
B. Inscrição
[...] / [...] / ANN(orum) · XXXIII(triginta trium) / G(aius) · BLOSSIVS · SATV/RNINVS ·
GALERIA (tribu) / NAPOLITANVS · AFE/5 R · ARENIENSIS INCO/LA · BALSENSIS · FILI/AE
· PIENTISSIMAE · / H(ic) · S(ita) · E(st) · S(it) · T(ibi) · T(erra) · L(evis).
Interpretação:
Aqui jaz... de trinta e três anos. Gaio Blóssio Saturnino, da tribo Galéria, Napolitano de África,
Areniense, habitante de Balsa, à filha, modelo de piedade. Que a terra te seja leve.
C. Comentário Histórico
O gentilício Blossius possui três registros na África e Saturninus é cognome especialmente
característico da província africana (KAJANTO, p. 213, apud ENCARNAÇÃO, 1984, p. 366). O
outro cidadão de Neapolis que se conhece (CIL VI 29539) designa L. Volussius Saturninus Na(tione)
Afer Neapolitanus.
José d’Encarnação aponta que a Neapolis Africana, de que se trata no texto, é a Colonia Iulia
Neapolis, fundada por César na África Proconsular, perto da atual Nebel Kedim ou Nabeul. A
presente inscrição, analisada em conjunto com as registradas em CIL VIII 971 e 24098 onde se
referem indivíduos inscritos na tribo Arniensis, são os testemunhos sobre os quais se atribui Neapolis
à tribo Galeria. Nesses termos, observa o autor, Saturninus se diz Areniensis. Por outro lado,
apresenta-se também como incola Balsensis, habitante da cidade de Balsa (perto de Tavira); o termo
incola surge diversas vezes na epigrafia latina com o significado de alguém que habita numa civitas,
mas não está adscrito a ela, ou seja, não consta da lista dos cives. Daí passou para o território de Pax
Iulia, sendo-lhe atribuída a tribo Galéria.
Encarnação destaca que, no presente caso, não há a pertença a duas tribos, mas apenas a uma, a
Galéria; daí que o nome da tribo se haja transformado de certo modo num adjetivo, quando, se
seguíssemos as regras, teríamos Arn(iensi tribu). Esta mudança de tribo estará ligada naturalmente ao
exercício de cargos políticos, na colônia ou município para onde o cidadão se transferira. É de se
notar, também, que a indicação da tribo vem depois do cognome: trata-se de mais um exemplo que
258

comprova que a atribuição da tribo foi feita muito depois. Trata-se, portanto, de um indicativo da
relação entre Beja e África, com a vinda de colonos africanos para o território da colônia.
Observando a peculiaridade de tal transferência ter sido realizada com uma etapa intermediária em
Balsa. A partir do uso do adjetivo, a datação foi atribuída no século III d. C.
Datação: Século III d. C.
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 294.
Catálogo Online: -

Nº de Registro: 102 Palavra-Chave: tria nomina, origem.


A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada em Monte da Chaminé, Santa
Vitória, Beja, Portugal.
Paradeiro Neves, Beja (em casa do Sr. Padre Luís
Brenlha).
Nº Inventário -
Tipologia Placa
Material Mármore
Medidas 45,5 x 31,5 x 6 cm.
Descrição: Placa em mármore de Trigaches, completa, sem
moldura. Rudemente desbastada atrás e lateralmente, campo
epigráfico alisado. O orifício circular e ranhura são visíveis no
canto inferior direito documentam a sua utilização numa porta.

B. Inscrição – FUNERÁRIA
M(arcus) IVLIVS / AVITVS OLISIP(onensis) (hedera) ANNOR(um) / XXX(triginta) (hedera)
H(ic) S(itus) (hedera) E(st)
Interpretação:
Aqui jaz Marco Júlio Avito, olisiponense, de trinta anos.
C. Comentário Histórico
De acordo com as interpretações de Encarnação (1984, p. 370), não são muitos os M. Iulii
documentados no conventus Pacensis: registra-se um em Faro, M. Iulius Avitianus (IRCP, nº 10);
outro em Miróbriga, M. Iulius Marcellus (IRCP, nº 150), e um em Beja, Marcus Iulius Proculus
(IRCP nº 353 e nº 510). Deste modo, compreende-se que são antropônimos tipicamente
olisiponenses. Nesses termos, a própria tipologia do monumento aponta para uma tradição alheia a
esta zona do conventus.
Com a indicação da idade provavelmente arrendondada por lustros, o defunto identifica-se com os
tria nomina, sem filiação; como se diz natural de Lisboa e a onomástica é perfeitamente latina.
Assim sendo, julga-se estar em presença de um indígena romanizado. O exame paleográfico e as
características textuais indicam a datação no século I d. C.
Datação: Século I d. C.
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 296.
Catálogo Online: Não Registrado
259

Palavra-Chave: tria nomina,


Nº de Registro: 103
administração colonial.
A. Localização e Dados Gerais Imagem394
Procedência Encontrada em Monte da Torre da Cardeira,
Quintos, Beja, Portugal
Paradeiro MRB - Beja/Pt
Nº Inventário B94/95
Tipologia Ara
Material Mármore
Medidas Fragmento A: 72 x 26 x 37 cm; Fragmento
B: 71 x 20,7 x 37 cm.
Descrição: Metade direita duma ara funerária em mármore de
Trigaches composta por dois fragmentos.

B. Inscrição
[D(is) · M(anibus) ·] S(acrum) (hedera) / [C(aius)?] [IVL]IVS IVLI/[ANVS] . IIVIRA(lis)
(duumviralis) (hedera) / [ . ..? ] [NA]NORVM /5 [...] / [H(ic) · S(itus) · E(st) · S(it) · T(ibi) · T(erra)]
L(evis) (hedera)
Interpretação:
Consagrado aos deuses Manes. Aqui jaz Gaio Júlio Juliano, duunviral, de ... anos. Que a terra te seja
leve.
C. Comentário Histórico
José d’Encarnação (1984, p. 378) propõe a reconstituição de forma hipotética. De acordo com o
autor, é plausível desdobrar IIVIRA em duumviralis; sendo duunviral todo aquele que foi duúnviro
numa colônia ou município. O termo já e conhecido e surge em inscrições na Península, sendo a
primeira vez que aparece na Lusitânia.
Além disso, destaca o autor, a monumentalidade do epitáfio e o que resta da 1inha 2 induzem a ver
aqui a inscrição funerária do duúnviro citado na dedicatória a Lúvio Vero (IRCP, n° 291). Se assim
fosse, ambos os duúnviros dessa dedicatória teriam sido homenageados noutros monumentos
epigráficos, pois também é provável que o Q. Petronius Maternus da inscrição IRCP, nº 232 seja o
mesmo que o da dedicatória. A identificação foi confirmada pelo exame paleográfico.
Datação: Em fins do século II d. C.
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 305.
Catálogo Online: Não Registrado

394
José d’Encarnação apresenta outras duas fotografias com perspectivas diferentes para o mesmo monumento.
260

Nº de Registro: 104 Palavra-Chave: tria nomina, tribo.


A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada em Herdade da
Amendoeira, Neves, Beja,
Portugal.
Paradeiro MRB - Beja/Pt
Nº Inventário B144
Tipologia Placa
Material Mármore
Medidas 48 x 93 x 6,5 cm
Descrição: Placa retangular de mármore do tipo
Estremoz-Vila Viçosa, completa, sem campo
epigráfico distinto, sendo visível a presença de
linhas auxiliares.
B. Inscrição
D(ecimus) . IVLIVS · D(ecimi) · F(ilius) · GAL(eria tribu) · NAVVS / IVLIA · T(iti) · F(ilia) ·
ALBVRA / CORANIA / D(ecimus) · IVLIVS · D(ecimi) · F(ilius) · GAL(eria tribu) /5
SATVRNINVS / OCTAVIA
Interpretação:
Décimo Júlio Navo, filho de Décimo, da tribo Galéria; Júlia Albura, filha de Tito; Corânia; Décimo
Júlio Saturnino, filho de Décimo, da tribo Galéria; Octávia.
C. Comentário Histórico
Dada à ausência de fórmulas que esclareça o tipo de inscrição, José d’Encarnação (1984, p. 379)
procedeu o estudo e a identificação foi realizada através da análise do monumento. Deste modo, de
acordo a monumentalidade dos caracteres, a beleza do conjunto, a existência das linhas auxiliares e o
cuidado posto na paginação, o autor classificou a inscrição como funerária, indicando o jazigo
comum a várias personagens ligadas pelo sangue e/ou pela amizade.
Adentrando na inscrição, há o registro de uma lista de nomes: dois dos personagens, por terem
onomástica idêntica, serão parentes (não se sabe ao certo se são pai e filho). A primeira personagem
feminina tem de comum com eles o gentilicio, mas o patronímico varia, de sorte que uma ligação
familiar (mulher?) pode existir ou não; as outras duas personagens femininas, porém, apresentam-se
designadas exclusivamente por gentilicios diferentes entre si.
Na análise da onomástica presente no texto, o autor destaca que os Decimi Iulii não são frequentes na
Península e, dos outros quatro registrados, três estão ligados à onomástica indígena. Com o cognome
Navus, de origem latina — para além duma marca (CIL II 4972 81) — apenas se cita na Hispânia
uma Pisira Nava em Lamego, num contexto indígena (CIL II 5252 = ILER 3385). Saturninus é
cognome frequente (IRCP nº 158). Há a hipótese de outra possibilidade de identificação deste
Saturninus com o da dedicatória feita pelos publici liberti na inscrição presente no IRCP nº 240. O
cognome Albura, de ressonâncias indígenas, surge-nos no aro de Leiria (CIL II 73 = ILER 4070 e
CIL II 341 = ILER 4336). Coranius, a não é gentilicio frequente: conhecem-se mais dois exemplos.
Octavius só se documenta em Alcácer do Sal (IRCP nº 182).
Deste modo, a análise coloca em relevo mais um exemplo de adoção dos antropônimos latinos,
conservando aqui e além os cognomes indígenas. Por fim, destaca-se que todos os indivíduos citados
são de condição livre, e os homens são cidadãos de Beja, inscritos na tribo Galéria.
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 306.
Catálogo Online: Não Registrado
261

Nº de Registro: 113 Palavra-Chave: tria nomina, tribo.


A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrado em Ponte dos Frades, Tanquedos
Arrozes, Baleizão, Beja, Portugal.
Paradeiro Encontra-se guardada na Horta do Padre, na
Herdade em que foi encontrada.
Nº Inventário -
Tipologia Bloco
Material Mármore S/F
Medidas 18 x 38 x 9/12 cm
Descrição: Bloco de mármore cinzento de Triaches,
irregularmente paralelepípedico, alisado na face onde trás a
inscrição. Como a placa destinava-se a se inscrustrada no
frontespício do monumento funerário, não houve o cuidado de
fazer as arestas retilíneas.
B. Inscrição

C(aius) COSCONIVS / C(aii) . F(ilius) . GAL(eria tribu) . H(ic) . S(itus) .E(st)


Interpretação:
Aqui jaz Gaio Coscónio, filho de Gaio, da Tribo Galeria.
C. Comentário Histórico
Como indicam Rafael A. E. Aldefenin e José d’Encarnação (1997, nº 56, p. 9-12), o presente
monumento consiste em uma placa de um monumento funerário familiar na qual apenas o primeiro a
ser sepultado aparece identificado. Assim, apesar dos demais familiares terem sido enterrados ali,
apenas o primeiro recebeu a memória lapidar. O defunto pertenceu à tribo Galéria, de Pax Iulia,
sendo seu gentilício pouco frequente na epigrafia romana peninsular. De acordo com os índices de
ILER (p. 684), somente existiram quatro testemunhos documentados para esse gentilício, os
números: 5660, 5664, 3566 e 5545. Sendo o primeiro um soldado da X Legião Gêmea falecido em
Samora, inscrito na tribo Galéria e natural de Arse ou Arsa. O segundo registro também pertence a
um soldado, talvez da XV Legião e que recebeu o nome tipicamente lusitano "Reburrus". A terceira
inscrição assinala o espaço funerário de um duunviro de nome C Cosconius Taurus e de Sulpicia
Anus. Taurus, inscrito na tribo Papiria, era cidadão de Méria e exercia funções nessa colônia. Por
fim, o ILER aponta o registro do áugur L. Cosconius, natural de Vallata.
A estes casos, os autores unem o exemplar da mirobriguense Coscónia Materna. Encontrado numa
quinta de Badajoz, o monumento funerário registra os nomes de Q. Cosconius Cousanus e outra
Cosconia memorados no texto. Além do caso já anunciado por Alföldy e datado na primeira metade
do século I (HEP, 2, 1990, n.282), há o Cosconius Ovinianus que dedicou uma ara votiva (HEP 3,
1993, nº333). Com base em tais argumentos, os autores destacam a importância da linhagem de Gaio
Coscónio, integrando-o na primeira leva de colonos itálicos de Pax Iulia.
Datação: Século I a. C.
D. Referências Bibliográficas
Ficheiro Epigráfico (Suplemento da Revista Conimbriga) Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras.
Edição 56, 1997, nº 259.
Catálogo Online: Não Registrado
262

Palavra-Chave: onomástica, libertos, sacerdote


Nº de Registro: 119
imperial (Augustal).
A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrado em Beja, Portugal.
Paradeiro Casa de José Mendonça S.
Furtado e Januário, Monte da
Guerreira, Estiramantens, S.
Estêvão, Tavira.
Nº Inventário -
Tipologia Placa-Epitáfio
Material Mármore
Medidas 61 x 67 x 9 cm
Descrição: Placa funerária em mármore cinzento de
Trigaches, partida em dois pedaços ajustáveis. Do
lado direito e em baixo ainda resta um trecho da
aresta alisada inicial; do lado esquerdo é que foi
tudo fraturado.
B. Inscrição
[C(aius)l] [I]VLIVS . C(aii) · LI[B(ertus)] / NIGER · AVG(ustalis) / [IV]LIA C(aíi) LlB(erta) /
[P]RIMA /5 [H(ic) ]· S(iti) · S(unt) · S(it) · E(is) [sic] T(erra) L(evis)
Interpretação:
Aqui jazem Gaio Júlio Níger, liberto de Gaio, augustal e Júlia Prima, liberta de Gaio. Que a terra lhes
seja leve.
C. Comentário Histórico
Como indica Encarnação (1984, nº246), o texto dá-nos a conhecer dois libertos duma família lulia,
que, devido ao prenome Caius, se deve situar nos começos do Império, o que, aliás, não destoa da
paleografia. Ambos detêm cognomes bem latinos, documentados na Península e no conventus. Niger
é o segundo augustal de Beja (IRCP, n° 241); dele não se indicam, porém, nem o imperador que
serve (certamente dos Júlio- Cláudios, senão mesmo de Augusto) nem a colónia ou município onde
exerceu funções (Pax lulia).
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 246.
Catálogo Online: Não Registrado
263

Subgrupo Temático: Epígrafes Votivas

Palavra-Chave: onomástica, decreto


Nº de Registro: 085
dos decuriões.
A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrado em Beja, Portugal.
Paradeiro MRB - Beja/Pt
Nº Inventário B78
Tipologia Bloco
Material Mármore
Medidas 143 x 64 x 44,5 cm
Descrição: Grande paralelepípedo em mármore de Trigaches,
cinzento muito claro, praticamente branco, com inscrição
votiva. A inscrição foi gravada num campo epigráfico
moldurado. A superfície inscrita foi previamente polida, lê-se
bem o texto.

B. Inscrição
SERAPI PANTHEO / SACRVM / IN HONOREM G(aii) MA/RI · PRISCIANI · /5 STELINA
PRISCA / MATER FILII / INDVLGENTISSIMI / D(ecreto) D(ecurionum)
Interpretação:
Consagrado a Serápis Panteu, em honra de Gaio Mário Prisciano, filho muito dedicado. A mãe,
Estelina (?) Prisca. Por decreto dos decuriões.
C. Comentário Histórico
Tal como algumas inscrições de Miróbriga (IRCP nºs 145 e 146), esta se apresenta com
características simultaneamente votivas e funerárias, pois é erigida em honra de alguém já falecido.
Como dedicatória a Serápis, divindade egípcia cujo culto foi introduzido na Península através dos
contatos comerciais na Península, insere-se num grupo de epígrafes e de outros testemunhos
artísticos do culto (ENCARNAÇÃO, 1984, p. 304-305).
Sobre a datação, há divergências. Cagé relaciona essa devoção a Serápis com a devoção de Caracala
pelos seus deuses «da saúde», acrescentando: «Bom exemplo para mostrar como, nos confins do
Império (Astúria-Galiza), o zelo dum funcionário se ajunta ao movimento geral para habituar as
populações provinciais a considerar os deuses mais exóticos, se preferidos pelo imperador, como
divindades oficiais de Roma» (apud ENCARNAÇÃO, op cit, p. 305).
Como na inscrição de Beja, o dedicante é um particular, Manuela A. Dias tem outra opinião.
Dialogando com Beaujeu, considera possível datar este texto de 132/133, imediatamente a seguir à
estada de Adriano no Egipto — é com este príncipe que oficialmente se consagra a Serápis a
qualidade de Pantheus (apud ENCARNAÇÃO, op cit, p. 305).
Datação: Possivelmente entre os anos 132 e 133 d. C.
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 231.
Catálogo Online: Não Registrado
264

Palavra-Chave: onomástica, libertos,


Nº de Registro: 121
administração colonial, benemerência.
A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Possivelmente encontrado em Beja,
Portugal.
Paradeiro MRB - Beja/Pt
Nº Inventário B-36
Tipologia Placa
Material Mármore
Medidas 29 x 38 x 2 cm.
Descrição: Placa em mármore cinzento de Trigaches,
com inscrição votiva. Pequenos esboroamentos nas
arestas, os cantos superior esquerdo e inferior direito
encontram-se quebrados, embora só em cima a fratura
tenha atingido mais o campo epigráfico, levando a
primeira letra do texto. Os maus tratos erodiram e
provocaram mossas na superfície epigrafada, de modo
que a leitura encontra dificuldades. O campo
epigráfico está enquadrado por uma moldura de duas
ranhuras paralelas.
B. Inscrição
[M(ithrae)?] DEO INVICTO / SODALICIV(m) BRACA/RORVM STVDIVM SVA IN/PENSA
[sic] FECERVNT CVM (hedera) /5 CRATERA TI[TVLVM?] DONA/VIT MESSIVS [M(arci)
L(ibertus)] [?] [ARTE]MIDO/RVS MAGISTER · [C(oloniae)?] (hedera) P(acis?) (hedera) I(uliae?)
(hedera)
Interpretação:
A Mitra (?), Deus Invicto. O sodalicio dos Brácaros fizeram (sic) a expensas suas um edifício com
uma crátera. Méssio Artemidoro, liberto de Marcos (?), magistrado da Colónia de Pax Iulia (?), doou
a inscrição.
C. Comentário Histórico
Como destaca José d’Encarnação (1984, p. 417), o interesse do texto reside tanto pelos aspectos
propriamente epigráficos quanto por ser, nas palavras de Garcia y Bellido, ‘a única inscrição da
Península que nos dá a conhecer uma organização mitríaca’. De fato, para além do fato concreto que
o monumento comemora e que, segundo o autor, foi mandado perpetuar pelo magister de Pax Iulia
através desta placa por ele doada (donavit), resta claro que em Beja existiu em determinada altura
(possivelmente na segunda metade do século II, de acordo com Scarlat Lambrino) um colégio de
Brácaros, devotos de Mitra, colégio ou tertúlia que, como salienta G. Fabre (apud ENCARNAÇÃO,
op cit, p. 417), ‘devia permitir às gentes originárias de Brácara, que fossem aconselhadas e
defendessem, se fosse caso disso, os seus interesses’.
Messius é gentilicio não muito frequente na Península, documentado, sobretudo, na área de Sevilha,
nomeadamente identificando sodales augustales que atingiram o consulado na primeira metade do
sécuçp II. Em Beja, esse nomen que figura no fragmento IRCP, nº327; o outro testemunho registado
no conventus vem numa dedicatória a Endovélico (IRCP, n° 536), também acompanhado por um
cognome grego (Sympaeron).
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 339 p. 417.
Catálogo Online: Não Registrado
265

Subgrupo Temático: Epígrafes Honoríficas

Nº de Registro: 084 Palavra-Chave: decreto dos decuriões


A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrado em Beja, Portugal.
Paradeiro Desconhecido
Nº Inventário -
Tipologia Pedestal (?)
Material Não Encontrado
Medidas Não Encontradas
Descrição: De acordo com os estudos de José d’Encarnação,
o desenho de Cenáculo sugere tratar-se dum pedestal, com a
parte superior moldurada (escócia reversa). De acordo com
as descrições, compreende-se que, do lado direito, a peça
estaria incompleta. Atendendo à sua interpretação da fórmula
final, LV considera a existência de “um templo, edículo,
altar, coluna ou monumento semelhante, onde a lápide estava
encravada”.
B. Inscrição

ALPHVRIO [ ...] / CENESIS · EX / EVENTVTII [?] / [L(oco)?] D(ato?)· D(ecreto) · D(ecurionum)


Interpretação:
A Alfurio [---] Cenesio da Juventude (?). Lugar concedido pela ordem dos decuriões.
C. Comentário Histórico
Para Encarnação (1984, p. 303), se considerarmos válida a hipótese de Hubner, estaríamos perante o
único exemplo até agora atestado na Península, do culto a luventus ou Iuventas. Tal culto, segundo a
tradição fora instituído por Sérvio Túlio. Nele, os jovens depunham a toga pretexta e vestiam a toga
viril, fazendo uma oferta à deusa no seu templo sobre o Capitólio.
Como indica o autor, se excetuarmos CIL II 2563 (Brigantium), de interpretação duvidosa, há apenas
outro testemunho do culto a luventus na Península, mas como virtude imperial, a Iuventas Augusta.
Muito embora C. César tenha sido honrado em Idanha-a-Velha como ‘príncipe da juventude’,
nenhum outro documento peninsular se conhece, até ao momento; relativo a esta divindade abstrata.
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 230.
Catálogo Online: Não Registrado
266

Nº de Registro: 086 Palavra-Chave: administração colonial


A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrado em Beja, Portugal.
Paradeiro Desconhecido
Nº Inventário -
Tipologia Fragmento Paralelepipédico
Material Não Encontrado
Medidas Não Encontradas
Descrição: Fragmento paralelepipédico, registrado no
desenho de Cenáculo. Na representação, o fragmento tem
forma de cunha para a direita e registra apenas a parte
esquerda da face epigrafada.
B. Inscrição

[...] PAX [IVLIA?] [ ...] / [Q(uintus)?] PETR[ONIVS?] [MATERNVS?] [...]


Interpretação:
[---] Pax [Iulia] [---] Quinto Petrônio Materno.
C. Comentário Histórico
Aceitando a hipótese de Hubner, Encarnação (1984, p. 306) considera que estamos perante o final
duma inscrição honorífica, quiçá imperial. Nela estaria referido o(s) duúnviro(s) da dedicatória a
Lúcio Vero (IRCP, n° 291). Se assim for, a Colonia Pax Iulia dedicaria a homenagem, encarregando
os duúnviros de executá-la.

Datação: Não Atribuída


D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 232.
Catálogo Online: Não Registrado
267

Palavra-Chave: tria nomina,


Nº de Registro: 087
administração colonial.
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrado em Beja, Portugal.
Paradeiro Desconhecido
Nº Inventário -
Tipologia Não Encontrada
S/F
Material Mármore
Medidas Não Encontradas
Descrição: Não há descrições deste monumento. Sabe-se,
apenas que foi realizado em mármore.
B. Inscrição
C(aius) · IVLIVS · C(aii)-F(ilius) [...] / II-VIR(duumvir) · BIS · PRAE[F(ectus) · FABRVM?] / [ . . .
] VTRIQVE · SEM[...] / [ . . . ]
Interpretação:
Gaio Júlio (...), filho de Gaio, duúnviro pela segunda vez, prefeito dos artífices (?).
C. Comentário Histórico
Como indica Encarnação (ENCARNAÇÃO, 1984, p. 307), desconhece-se a verdadeira natureza
deste texto, onde parece haver referência a um magistrado municipali: depois de ser duúnviro por
duas vezes, foi decerto prefeito dos artífices. A 1inha 3 e seguintes indicavam quiçá os beneficiários
de qualquer empreendimento levado a cabo por Gaio Júlio.
Efetivamente, de acordo com a sugestão de Hubner — populo utriusque sexus — estaríamos perante
mais um caso de evergetismo: o magistrado poderia ter distribuído benesses à população de ambos os
sexos, fato a assinalar, pois raramente as mulheres eram beneficiárias desses gestos, por isso que era
devidamente referido nos textos. Gallsterer é, porém, doutra opinião: considerando possível a
existência de dois tipos de ordens ou assembleias de notáveis, sugere que G. Iulius poderia ter
pertencido ou presidido utrique sem(atui), hipótese mais condizente com as versões mais antigas do
texto (apud op cit, p. 307).
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 233.
Catálogo Online: Não Registrado
268

Palavra-Chave: administração
Nº de Registro: 088
colonial, ordem equestre.
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrado em Beja, Portugal.
Paradeiro Desconhecido
Nº Inventário -
Tipologia Fragmento Retangular
S/F
Material Não Encontrado
Medidas Não Encontradas
Descrição: Fragmento retangular, de que não existe qualquer
descrição e que apenas foi transmitido por André de Resende.
B. Inscrição

[...] / [...] EQVIT(um) · PRAEF(ectus) [...] / [PRAEF(ectus) · ?] FABRVM [...]


Interpretação:
Prefeito dos Equites. Prefeito dos Artífices.
C. Comentário Histórico
Caso seja autêntica, consistiria em uma inscrição que documenta parte do cursus honorum equestre
de um membro da elite municipal, eventualmente enumerado por ordem inversa, ou seja, após ter
exercido a prefeitura dos artífices, a personagem teria desempenhado funções militares num
destacamento de cavalaria.
Encarnação (1984, p. 307) levanta a hipótese de que o texto continuaria para a direita e para a
esquerda, o que sugere outra proposta de reconstituição. Por fim, destaca-se que nada impede que
este fragmento possa pertencer a alguns dos textos anteriores ou seguintes incompletos.
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 234.
Catálogo Online: Não Registrado
269

Palavra-Chave: tria nomina, tribo,


Nº de Registro: 091
administração colonial, escravo.
A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrado em Beja, Portugal.
Paradeiro Desconhecido
Nº Inventário -
Tipologia Não Encontrada
Material Não Encontrado
Medidas Não Encontradas
Descrição: Segundo o desenho de Cenáculo, o monumento
deveria ter sido uma placa honorífica, ou mesmo pedestal, de
que restava apenas a parte central com a inscrição. Ao nível
das 1inhas 1 e 2 parece terem existido dois buracos para
utilização posterior. Encarnação defende a hipótese de que,
pela forma trapezoidal, foi certamente utilizado como aduela
de um arco.
B. Inscrição – HONORÍFICA
[M(arco)?] [C]LO[D]IO · M(arci) · F(ilio) / [G?]A[L(eria tribu)? QVA?]DRAT[O] AEDILI / [ . .
.?] MODESTVS · S[E?R?(vus)] /5 [...]? D(e) S(uo)
Interpretação:
A Marco (?) Clódio Quadrado, filho de Marcos, da tribo Galéria (?), edil... Modesto, (seu) escravo
(?), a expensas suas.
C. Comentário Histórico
Modestus é um cognome frequentemente atribuído a escravos. Assim sendo, José de Encarnação
(1984, p. 311) aponta que, se aceitarmos essa interpretação, tratar-se-ia duma homenagem pessoal
(póstuma?) a um edil, certamente de Beja. A personagem pertenceria a uma gens, da qual há outros
testemunhos na mesa cidade (IRCP, nº 238, 255 e 344). Deste modo, Modestus teria retirado parte do
seu pecúlio (de suo) para perpetuar a memória do benfeitor.
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 307.
Catálogo Online: Não Registrado
270

Palavra-Chave: tria nomina, tribo, sacerdote


Nº de Registro: 092
imperial (Flâmine).
A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrado em Beja, Portugal.
Paradeiro Desconhecido
Nº Inventário -
Tipologia Não Encontrada
Material Não Encontrado
Medidas Não Encontradas
Descrição: O desenho de Cenáculo mostra o
fragmento irregular dum monumento, cuja tipologia
inicial se desconhece. Se vê apenas a linha 1 e
pequena parte da 1inha 2 da inscrição.
B. Inscrição
L(ucio) · CL[...]V · M(arci) · F(ilio) · GAL(eria tribu) · SALVIANO / [FLAM(ini)?] [DIVORV
?]M · AVG(ustorum) / [ ...]
Interpretação:
A Lúcio (...) Salviano, filho de Marcos, da tribo Galéria, flâmine (?) dos divinos (?) Augustos...
C. Comentário Histórico
O desenho da epígrafe que chegou até nós dá conta do mau estado da epígrafe em que se encontrava
o monumento quando de sua descrição. Nesse sentido, sem se distanciar da análise de Hubner,
Encarnação (1984, p. 311) propõe que parece tratar-se de uma inscrição honorífica cujo gentilicio
permanece desconhecido.
Das informações disponíveis, é possível conhecer sua condição de cidadão inscrito na tribo Galéria e
o cognome Salvianus. Em relação aos cargos, a possibilidade que se destaca é estarmos perante um
sacerdote imperial que poderia ter sido homenageado pela colônia de Pax Iulia.
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 238.
Catálogo Online: Não Registrado
271

Palavra-Chave: tria nomina, tribo,


administração colonial, sacerdote
Nº de Registro: 093
imperial (Flâmine), benemerência,
ordem dos decuriões.
A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrado em Beja, Portugal
Paradeiro MRB - Beja/Pt
Nº Inventário B118
Tipologia Bloco
Material Mármore
Medidas 85 x 57 x 160 cm
Descrição: Grande bloco de mármore, paralelepipédico, com
inscrição honorífica dentro de campo epigráfico moldurado. O
monumento foi partido nos angulos superior esquerdo e
inferior direito; em baixo, um dos fragmentos foi recuperado.

B. Inscrição
[C(aio) (?) · IVL]IO · C(aii) · F(ilio) / [G]AL(eria tribu) · PEDONI / [IIV]IR(o) (duumviro)
FLAMINI / [D]IVORVM · OB/5 REM . P(ublicam) · BENE / ADMINISTRA-/TAM · ET ·
ANNO/NAM · INLATA / PECVNIA · ADIV/ 10 TAM · PLEB[S] / AERE · C[ONLATO] /
[D(ecreto) D(ecurionum)] [ ?]
Interpretação:
A Gaio Júlio Pedão, filho de Gaio, da tribo Galéria, duúnviro, flâmine dos divinos (imperadores),
devido a ter administrado bem a república e ter auxiliado com dinheiro o aprovisionamento de
víveres — a população, através de subscrição pública. Por decreto dos decuriões(?).
C. Comentário Histórico
A epigrafe registra a existência de Gaio Júlio Pedão, membro da elite municipal, inscrito na tribo
Galéria e sacerdote do culto a imperadores desconhecidos. Pela paleografia da inscrição, tratar-se-ia
de imperadores da dinastia Júlio-cláudia. A personagem foi homenageada pelo seu zelo na gestão
municipal, enquanto duunviro, e por ter dado dinheiro do seu bolso destinado à compra de víveres
para a cidade numa altura de dificuldades econômicas para a população. Como destaca Encarnação
(1984, p. 313), a República não é identificada no texto, todavia, defende-se a hipótese de se referir a
Beja. O autor ressalta ainda que o vocábulo teria mais o sentido de fórmula epigráfica usual, a saber,
ob rempublicam bene administratam, do que o de atribuir a Beja uma classificação administrativa ou
política particular.
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 239.
Catálogo Online: HEpOnl 21133
272

Palavra-Chave: tria nomina, tribo,


Nº de Registro: 094
libertos.
A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada em Beja, Portugal
Paradeiro MRB - Beja/Pt
Nº Inventário B30
Tipologia Hermes
Material Mármore
Medidas 49 x 30 x 22 cm
Descrição: Hermes em mármore de Trigaches, com inscrição
honorífica. O busto foi arrancado e os maus tratos
deterioraram também o campo epigráfico e as arestas do
monumento sobretudo na parte inferior.

B. Inscrição

D(ecimo) · IVLIO · D(ecimi) . F(ilio) · GA[L(eria tribu)] / SAT[VR]NINO / PVBLICI LIBERTI

Interpretação:
A Décimo Júlio Saturnino, filho de Décimo, da tribo Galéria, os libertos públicos.
C. Comentário Histórico
Seguindo os estudos de José de Encarnação (1984, p. 314), o homenageado é apresentado como
cidadão romano, pertencente a uma família de Pax Iulia, talvez relacionada com a África. Tal
possibilidade é ancorada em outra inscrição registrada no IRCP sob o n.° 306. Referindo-se muito
provavelmente a dois outros membros, inscritos igualmente na tribo Galéria, com o mesmo prenome
e filiação, sendo um deles homônimo da personagem aqui referida, para o autor, mais do que para
simples homonímia, estaríamos perante a uma identidade, Décimo Júlio Saturnino, ali recordado em
epitáfio (?).
Seria, portanto, o mesmo que, porventura, por ter exercido qualquer função pública (embora vivesse
na sua villa, a poucos quilómetros de Beja), teria sido homenageado com um busto. Nesta
perspectiva, os dedicantes seriam escravos da colônia pacense, os quais Saturnino teria libertado
quando do exercício dessas funções oficiais. Todavia, em se tratando do ineditismo da inscrição, do
ponto de vista epigráfico, o conjunto e a posição do formulário. Assim sendo, se atendermos à
expressão servi publici, o autor destaca que seria mais lógico desdobrar como liberti publici. Pelas
suas características, data-se entre o século I a. C. e a metade do século I d. C.
Datação: Entre o século I a. C. e a metade do século I d. C.
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 240.
Catálogo Online: Não Registrado
273

Palavra-Chave: tria nomina, origem,


Nº de Registro: 095 sacerdote imperial (Augustal),
benemerência.
A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrado em Beja, Portugal
Paradeiro MRB - Beja/Pt
Nº Inventário D83
Tipologia Bloco
Material Mármore
Medidas 84 x 56,5 x 50 cm
Descrição: Bloco paralelepipédico em mármore de Trigaches,
com inscrição honorífica. Mutilado na parte inferior e em cima
à esquerda, onde o começo das linhas 1 e 3 foi destruído.

B. Inscrição
[L(ucio) MARCIO PIERO / [PACENSI / [AVGVSTALI · COL(oniae) . PACENSIS / ET
MVNICIPII · EBORENSIS /5 AMICI OB MERITA EIVS · / AER[E] CONLATO POSVERVNT /
L(ucius) MARCIVS PIERVS / HONORE CONTENTVS / INPENSAM [sic] REMISIT
Interpretação:
A Lúcio Márcio Píero, natural de Pax Iulia, augustal da colónia pacense e do município eborense —
os amigos, devido aos seus méritos, por subscrição pública, erigiram. Lúcio Márcio Píero, satisfeito
com a honra, pagou a despesa.
C. Comentário Histórico
O texto desta epígrafe oferece importantes informações tanto a respeito das funções que o
homenageado ocupou quanto no que diz respeito ao estatuto administrativo das cidades registradas, a
saber: Pax lulia designada como coloniae e Évora como municipium. No registro, pelo menos do
ponto de vista do culto imperial, as duas povoações surgem ligadas: o mesmo augustal, natural de
Beja, asseguraria o culto em ambas, como demonstra Encarnação (1984, p. 315).
Vale destacar que os dedicantes apresentam-se como amici. Mais do que uma simples relação de
amizade ao nível pessoal, os amici estariam ligados entre si por laço de dependência social e,
porventura, econômica. De fato, o texto não foge ao esquema habitual das homenagens registradas
na epigrafia romana, o que demonstra a profundidade da imersão dos dedicantes na cultura epigráfica
romana. Além disso, o cognome registra uma forte carga cultural “romana”, uma vez ser Pierus o
nome duma montanha consagrada às Musas (CIC. Nat. 3, 54).
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 241.
Catálogo Online: Não Registrado
274

Palavra-Chave: administração
Nº de Registro: 096
colonial, sacerdote imperial (Flâmine).
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrado em Beja, Portugal.
Paradeiro Desconhecido
Nº Inventário -
Tipologia Não Encontrada
Material Não Encontrado S/F
Medidas Não Encontradas
Descrição: Não se dispõe de qualquer descrição deste
fragmento de monumento epigráfico, que conteria a parte final
dum texto honorífico ou monumental.
B. Inscrição
[ --- ] / CVRIAE · PONT[IFEX?] / FLAM(em?) · PACIS · IVLIAE [ --- ] / VE · FLAMI[NI?] / · [---
]
Interpretação:
[---] pontífice da Curia, Flâmine de Pax Iulia (...). Ao Flâmine (?) [---]
C. Comentário Histórico
O texto apresenta dificuldades de interpretação e reconstituição, mesmo sem atendermos à variedade
de leituras. José d’Encarnação (1984, p. 316) destaca que, à primeira leitura, parecemos estar perante
uma homenagem feita a um magistrado municipal, pontífice e flâmine de Pax Iulia. Neste caso, teria
PONT[IFICI] e FLAM(mi) nas linhas 2 e 3. Se considerarmos curiae uma forma de curia, cúria, e se
atentarmos na indicada altura das letras, então teria mais a ver com um texto monumental.
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 242.
Catálogo Online: Não Registrado
275

Palavra-Chave: decreto dos


Nº de Registro: 097
decuriões.
A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrado em Beja, Portugal
Paradeiro MRB - Beja/Pt
Nº Inventário B80
Tipologia Pedestal
Material Mármore
Medidas 72 x 50 x 35 cm
Descrição: Pedestal em mármore de Trigaches, com resto
duma inscrição honorífica. Apresenta uma fratura, que
comprometeu parte do lado esquerdo do campo epigráfico. O
monumento foi alisado lateralmente e atrás, onde apresenta um
ressalto e a leitura apresenta dificuldade em virtude da erosão
sofrida.
B. Inscrição
[...] / [...]O[...] / [...]INI I [...]A[...] / . L[VS]I[TA]NIAE [?] / CI[...]IATIAME / [...] P(onendum vel -
αx) · I(ussit vel -ulia) · D(ecreto) · D(ecurionum)
Interpretação:
(...) Provincia da Lusitânia [?] Deliberaram colocar (ou ‘da colônia’) Pax Iulia. Por decreto dos
decuriões.
C. Comentário Histórico
O monumento registraria, caso a interpretação esteja correta, a presença de um personagem que pode
ter exercido um cargo provincial e ter sido alvo duma homenagem oficial de Pax Iulia
(ENCARNAÇÃO, 1984, p. 317).
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 243.
Catálogo Online: Não Registrado
276

Palavra-Chave: sacerdote imperial


Nº de Registro: 105
(Augustal), decredodos decuriões.
A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrado em Beja, Portugal
Paradeiro Desconhecido
Nº Inventário -
Tipologia Não Encontrada
Material Não Encontrado
Medidas “1 palmo de altura, 1,5 de comprimento e
3 de espessura”
Descrição: O desenho de Cenáculo mostra um fragmento
paralelepipédico (ENCARNAÇÃO, 1984, p. 418).
B. Inscrição

[A]VGVSTAL(i ?) / [DE]CVR(ionum) · DEC(reto)


Interpretação:
Augustal (?). Por decreto dos Decuriões.
C. Comentário Histórico
Parece fazer parte duma inscrição honorífica. Nela, a homenagem feita pela intervenção explícita do
conselho municipal, poderia ter tido como alvo ou executor um augustal desconhecido.
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 341.
Catálogo Online: Não Registrado
277

Nº de Registro: 120 Palavra-Chave: tria nomina, tribo.


A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrado em Beja, Portugal.
Paradeiro Desconhecido
Nº Inventário -
Tipologia Não Encontrada
Material Não Encontrado
Medidas Não Encontradas
Descrição: Não possuímos qualquer descrição deste
monumento funerário, cuja existência só foi atestada por
André de Resende.

B. Inscrição

C(aio) · IVLIO · L(ucii) · F(ilio) · GAL(eria tribu) / AVITO · FRATRI · [IVLI]/VS · SABINVS [...]

Interpretação:
A Gaio Júlio Avito, filho de Lúcio, da tribo Galéria. Júlio Sabino, ao irmão...
C. Comentário Histórico
O homenageado se apresenta como cidadão romano e tem um cognome muito comum (ILER p. 666-
7); seu irmão, também — Sabinus é antropónimo bem documentado na Península, como
documentado em Conimbriga (Fouilles... II 1976 p. 130 e 154). De acordo com Encarnação (1984, p.
338), a ausência de invocação aos deuses Manes, o uso do dativo, a expressão simples dos laços
familiares bem como o gentilicio, para mais precedido de Caius, induzem-nos a colocar a epígrafe na
dinastia dos júlios-cláudios.
Datação: Primeira metade do século I d. C.
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 265, p. 338
Catálogo Online: Não Registrado
278

Palavra-Chave: tria nomina, tribo,


sacerdote imperial (Flâmine),
Nº de Registro: 090
administração colonial, decreto dos
decuriões.
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrado em Beja, Portugal.
Paradeiro Desconhecido
Nº Inventário -
Tipologia Cippus Semifractus (pedestal de estátua?)
Material Não Encontrado S/F
Medidas Não Encontradas
Descrição: De acordo com as descrições de André Resende
(apud CIL), trata-se de um “Cippus semifractus”,
possivelmente um pedestal de estátuas (?)
B. Inscrição
M(arco) · AVRELIO . C(aii) · F(ilio) · GAL(eria tribu) · IIVIR(duumviro) . FLAMIN[I] / Tl(berii) ·
CAESARIS · AVG(usti) / PRAEFEC(to) · FABR(um) /5 D(ecreto) · D(ecurionum)
Interpretação:
A Marco Aurélio, filho de Gaio, da tribo Galéria, dúunviro, flâmine de Tibério César Augusto,
prefeito dos artifices, por decreto dos decuriões.
C. Comentário Histórico

Para José de Encarnação (1984, p 310), a epígrafe refere-se um notável municipal que, após ter sido
duunviro e flâmine, se prepara para ingressar na carreira equestre, assumindo o cargo preliminar da
prefeitura dos artífices, que fazia a transição entre as honras municipais e as militiae equestres. Como
Laet demonstrou (apud ENCARNAÇÃO, op cit, p. 311): “Augusto incitou o escol municipal a
elevar-se às classes sociais superiores para aí levar sangue novo e transformar pouco a pouco a
nobreza romana em nobreza do Império»; o procedimento manteve-se durante todo o Alto Império
— até aos meados do séc. II, uma carreira municipal desemboca normalmente nas carreiras
superiores: ‘Há poucos cavaleiros nos serviços imperiais que não tenham pertencido a princípio a
esta burguesia municipal’”.
Nessa perspectiva, complementa Encarnação, M. Aurélio seria sacerdote de Tibério numa altura em
que se procurava igualar este imperador a Augusto, associando-o ao culto do fundador do Império. O
seu gentilicio, muito mais frequente no Império a partir de Marco Aurélio (161-180), ocorre outras
vezes no conventus e está entre os mais frequentes na Lusitânia, segundo o CIL II. Deste modo, a
dedicatória mostra o bom funcionamento da estrutura municipal, pois que há a intervenção
(destacada na 1. 5) da assembleia dos decuriões. O monumento foi possivelmente erigido pelos
habitantes de Pax Iulia e deveria figurar no fórum da cidade. Por não se indicar expressamente o
dedicante, também se poderia pensar que a homenagem é da iniciativa do conselho.
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 236.
Catálogo Online: Não Registrado
279

Subgrupo Temático: Epígrafes Monumentais

Nº de Registro: 098 Palavra-Chave: tria nomina, tribo.


A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontradao em Beja, Portugal
Paradeiro MRB - Beja/Pt
Nº Inventário B34
Tipologia Fragmento
Material Mármore
Medidas 27 x 38 x 15 cm
Descrição: Fragmento em mármore de Trigaches, de forma
quase retangular, cinzento-amarelado.
B. Inscrição

[prenome, gentilicio] · GAL(eria tribu) · OP[TATVS?] / [---][IM][---]


Intepretação:
[prenome, gentilicio] da tribo Galéria. Optato (?)[---][IM][---]
C. Comentário Histórico
Para Encarnação (1984, p. 317), o grande módulo dos caracteres implica uma inscrição mais de
caráter monumental, honorífico, que simplesmente funerário. No presente caso, o homenageado,
cidadão romano aparece inscrito na tribo Galeria (a tribo de Pax Iulia), por conta dessa informação,
cogita-se a hipótese de estarmos perante um notável municipal.

Datação: Não Atribuída


D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 244.
Catálogo Online: Não Registrado
280

Palavra-Chave: tria nomina,


Nº de Registro: 099 aministração colonial, dedicação
imperial, decreto dos decuriões.
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrada em Herdade da Lobeira, Santiago
Maior, Beja, Portugal.
Paradeiro Escadaria dos Paços do Concelho (Beja).
Nº Inventário -
Tipologia Placa
Material Mármore
Medidas 88 x 64 cm
Descrição: Placa honorífica em mármore cinzento de
Trigaches, partida em cinco fragmentos que a completam. As
arestas foram bastante maltratadas, de sorte que se desconhece
se tinha moldura. Em todo o caso, parece epígrafe destinada a
figurar na parede dum edifício ou monumento.

B. Inscrição
L(ucio) · AELIO · AVRELIO / COMMODO / IMP(eratoris) · CAES(aris) · T(iti) · AELI ·
HA/DRIANI ANTONI/5NI · AVG(usti) · PII · P(atris) · P(atriae) · FILIO / COL(onia) . PAX ·
IVLIA / D(ecreto) D(ecurionum) / Q(uinto) · PETRONIO · MATERNO / C(aio) · IVLIO IVLIANO
/10 IIVIR(is) (duumviris)
Interpretação:
A Lúcio Élio Aurélio Cómodo, filho do imperador César Tito Élio Adriano Antonino Augusto Pio,
pai da Pátria, a Colónia de Pax lulia, por decreto dos decuriões, sendo duúnviros Quinto Petrónio
Materno e Gaio Júlio Juliano.
C. Comentário Histórico
De acordo com a interpretação de José d’Encarnação (1984, p. 362 – 363), trata-se duma dedicatória
a Lúcio Vero, após a sua adopção por Antonino Pio e antes da sua nomeação como imperador. Nesta
inscrição L. Vero é identificado do mesmo modo que o seu sucessor, Cómodo: L. Aelius Aurelius
Commodus — quando, habitualmente, a esses nomes se junta Verus. O elemento discriminatório é a
filiação: L. Vero é filho (adotivo) de Antonino, cuja nomenclatura vem aqui rigorosamente citada,
evidentemente sem a menção do consulado ou do poder tribunicio, que estaria a mais num texto que
não é em sua honra.
Assim sendo, os elementos chave para a compreensão da dedicatória são: a menção do título de pater
patriae, outorgado a Antonino em 139, e a subida ao trono de Lúcio Vero, após a morte de Antonino,
em 161. Tal como na inscrição nº 95 (=IRCP n.° 241), Pax Iulia é designada coloniae. Como é
comum em inscrições desta tipologia, a presente homenagem foi alvo de um decreto dos decuriões,
tendo os duúnviros sido encarregados de executá-la. No entanto, aqui a menção dos duúnviros tem
outra função, isto é, consiste em uma forma de datar a homenagem, à maneira da datação oficial
através do nome dos cônsules; neste aspecto, equivaleria a dizer-se: “no tempo em que eram
duúnviros...”.
Encarnação (1984, p. 363) destaca que, enquanto o gentilicio Iulius é muito frequente em Pax Iulia,
Petronius registra-se no conventus apenas em dedicatórias a Endovélico (IRCP, nº 465 e 520). Sobre
o cognome, o autor ressalta que ‘Maternus’ já fora encontrado em Mértola (IRCP, nº 115); já
Iulianus, cognome também de origem latina, registra-se provavelmente na inscrição IRCP n.° 305 e
em outras do Alto Alentejo (nº 398, 422 e 582). Encarnação destaca ainda que, embora o texto não
nos esclareça acerca do motivo que teria levado os habitantes de Pax Iulia a homenagearem Lúcio
Vero, uma das hipóteses possíveis consistiria na inscrição ser uma forma de manifestar ao poder
central a sua adesão à política seguida e a sua fidelidade ao futuro imperador, num período de
discreto florescimento do culto imperial, revelado na Hispânia por um formulário simples, sem
influência direta do vocabulário oficial.
281

Datação: Século II d. C.
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 291.
Catálogo Online: HEpOnl 21117

Nº de Registro: 100 Palavra-Chave: dedicação imperial


A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada em Ponte dos
Frangãos, Quintos, Beja,
Portugal
Paradeiro MRB - Beja/Pt
Nº Inventário B31
Tipologia Placa
Material Mármore
Medidas 38 x 63,5 x 22 cm.
Descrição: Fragmento duma grande inscrição
imperial, gravada numa placa em mármore de
Trigaches.
B. Inscrição

[---] [AV]GVSTVS [---] / [TRIB(unicia) P]OTEST(ate) XX[---]


Interpretação:
[---] Augusto[---] no vigésimo (ano ?) do poder tribunício [---]
C. Comentário Histórico
De acordo com as descrições395 de José de Encarnação (1984, p. 292), a beleza do fragmento sugere-
nos que a placa teria pertencido a um grande monumento público de Pax lulia. Observando as
características paleográficas do texto (elegantes capitais monumentais quadradas), observar-se-á o
registro de parte dos títulos de um imperador da dinastia Júlio-cláudia. O autor indica que a redação
por extenso da palavra Augustus leva-nos a pensar que se trata do próprio fundador do Império.

Nesse caso, como o poder tribunício é, pelo menos, o vigésimo (posição indicada pela posição do
traço horizontal superior que leva à interpretação da existência de outros algarismos) — a epígrafe
será posterior a 4 a. C. Todavia, se considerar a existência do flâmine de Tibério (IRCP, n.° 236), o
texto pode se referir a este imperador, datando-se, por conseguinte, da década de 20. Por fim, as
expressões como decurionum decreto, loco accepto, enquadram-se bem numa dedicatória imperial.
Datação: Século I d. C.
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 292.
Catálogo Online: Não Registrado

395
José d’Encarnação sugere a possibilidade de os fragmentos agrupados em CIL II 57 (IRCP nºs 340-342) ou
alguns dos outros desenhados por Cenáculo e hoje perdidos, terem pertencido a este texto.
282

10. Ebora
Status Jurídico: Coloniae

Enquadramento Cronológico: Século I - II d. C.

Subgrupo Temático: Epígrafes Funerárias

Palavra-Chave: tria nomina, sacerdote


Nº de Registro: 107
imperial (Flâmine), exército.
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrado no termo de Monsaraz, junto às
ruínas duma “mesquita”, Évora, Portugal.
Paradeiro MEv - Évora/Pt
Nº Inventário -
Tipologia Cipo
Material Mármore S/F
Medidas
Descrição: Cipo em mármore, trabalhado nas quatro faces. No
lado esquerdo há a representação de um prato (pátera?) em
relevo com rosáceas ao meio e, do lado direito, em relevo
também, um jarro para a direita.
B. Inscrição
D(is) M(anibus) S(acrum) / C(aio) · ANTONIO · C(aii) · F(ilio) · FLA/VINO · VI VIRO (seviro) ·
IVN(iori) / HAST(ato) · LEG(ionis) · II(secundae) · AVG(ustae) · TORQ(uem) /5 AVR(eum) · ET ·
AN(nonas) · DVPL(as) · OB · VIRT(utem) / DONATO · IVN(ia) · VERECVN/DA · FLAM(mica) ·
PERP(etua) · MVN(icipii) . EBOR(ensis) / · MATER · F(aciendum) · C(uravit) ·
Interpretação:
Consagrado aos deuses Manes. A Gaio António Flavino, filho de Gaio, séxviro júnior, lanceiro da 2.a
Legião Augusta, premiado pela sua valentia com um colar de ouro e soldo dobrado. A mãe, Júnia
Verecunda, flaminia perpétua do município eborense, mandou fazer.
C. Comentário Histórico
Recuperamos aqui, a discussão feita por José d’Encarnação (1984, p. 443):
Logo em CIL II 115 se transcrevem as suspeitas de Mommsen:
a) o formulário alusivo aos prêmios poderia ter sido colhido num passo de Vegécio (2, 7), que
também se refere em seguida (2, 8) aos hastati;
b) a muito rara alusão aos hastati sem qualquer outro qualificativo (prior, posterior);
c) ausência de referências epigráficas aos seviri iuniores, só conhecidos através de Apiano (v.c. 32,
2).
Mommsen voltará a debruçar-se sobre a epígrafe, transformando as suspeitas em certezas (EE IV
1881 p. 238), e Hubner, concordando (CIL II p. 805), sugere a hipótese de Resende ter forjado o
texto a partir de CIL V 4365. Note-se que, do ponto de vista paleográfico, está tudo praticamente
impecável.
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, Insc. Excluída B, p.443.
Catálogo Online: Não Registrado
283

Palavra-Chave: tria nomina, administração


Nº de Registro: 109
provincial.
A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada em Nossa Senhora da
Tourega, Évora, Portugal.
Paradeiro MEv - Évora/Pt
Nº Inventário 1722
Tipologia Placa
Material Mármore
Medidas 60,5 x 118,5 cm.
Descrição: Grande placa funerária em mármore de
Trigaches ou S. Brissos, cinzento-claro, destinada a
figurar num cenotáfio. Partida em três fragmentos
ajustáveis, uma das fraturas levou algumas letras, outras
foram danificadas, muito embora se consiga ler bem o
texto.
B. Inscrição
D(is) M(anibus) S(acrum) / Q(uinto) · IVL(io) · ΜΑΧΙΜΟ C(larissimo) · V(iro) · / QVAESTORI
PROV(inciae) · SICI/LIAE TRIB(uno) · PLEB(is) · LEG(ato) (hedera) I5 PROV(inciae) ·
NARBONENS(is) / GALLIAE PRAET(ori) · DE[SlG(nato)] / ANN(orum ) XLVIII (quadraginta
octo) / [C]ALPVRNIA SABI/NA MARITO O[PT]IMO II Q(uinto) · IVL(io) · CLARO ·
C(larissimo) · I(uveni) · IIII-VIRO (quattuorviro) / VIARVM CVRANDARVM / ANN(orum) · XXI
(viginti unius) · /5 Q(uinto) · IVL(ío) NEPOTIANO · C(larissimo) · I(uveni) · IIII-VIRO
(quattuorviro) VIARVM CVRAN/DARVM · ANN(orum ) XX (viginti) / CALP(urnia) SABINA ·
FILIIS
Interpretação:
Consagrado aos deuses Manes. A Quinto Júlio Máximo, varão preclaro, questor da província da
Sicília, tribuno da plebe, legado da província Narbonense da Gália, pretor designado, de quarenta e
oito anos. Calpúrnia Sabina ao marido óptimo. A Quinto Júlio Claro, jovem preclaro, quatuórviro
encarregado das estradas, de vinte e um anos. A Quinto Júlio Nepociano, jovem preclaro, quatuórviro
encarregado das estradas, de vinte anos. Calpúrnia Sabina aos filhos.
C. Comentário Histórico
Pela referência aos senadores e mencionar duas famílias importantes, Iulia e Calpurnia, a presente
inscrição ganha destaque dentre as demais do conventus Pacensis. De fato, a gens Calpurnia, foi a
que recebeu mais menções em Évora (IRCP, nº 391 e 399), mas sem quaisquer indícios de pertença à
classe senatorial. Tem-se discutido a origem desta família Iulia, procurando-se através da onomástica
estabelecer relações familiares com pessoas cuja existência se documenta noutras regiões. Sobre esse
tema, os autores (Lambrino, Barbieri) apontam para a naturalidade eborense em virtude do gentilício
presente na região. Todavia, Alarcão (1990), embora se não pronuncie abertamente contra esta tese,
sugere também a possibilidade de se tratar de descendentes de imigrantes itálicos.
Como indica José d’Encarnação (1984, p. 458), as análises paleográficas datam a inscrição no
começo do século III, o que coaduna com a ausência da indicação da tribo. Diante disso, o estudo da
carreira de Júlio Máximo assumiria maior importância e, por outro lado, poderia ser feito de forma
mais consentânea com as condições gerais do Império nessa altura.
Segundo o autor, interessa ver a partir dos eixos de análise viabilizados pela inscrição, se houve ou
não favoritismo na concessão de determinado cargo; se a questura da Sicília tinha, no contexto geral,
uma importância maior, efetiva, que outra questura qualquer; se o cargo de legado da Narbonense era
obtido com facilidade ou não, e ainda, uma análise da questura da Sicília ou da legacia da
Narbonense.
Frente a essas questões, salienta que, tendo morrido aos 48 anos, altura em que fora designado pretor,
Júlio Máximo não foi particularmente favorecido na sua carreira, pois o habitual era atingir-se a
pretura aos 39 anos. Também escapam os motivos de tão grande atraso. Omitindo, como era hábito, a
indicação dos cargos preliminares (vigintivirato e tribunado militar) o texto indica uma carreira
284

simples na ordem direta: uma questura provincial (a da Sicília importava devido ao fornecimento de
trigo e concomitantes problemas de contabilidade), o tribunado da plebe, a legacia junto do procônsul
da província senatorial da Gália Narbonense. A morte sobreveio quando o senador se preparava para
alcançar as mais altas honras da sua modesta carreira, a condizer com a categoria de provincial, de
homo novus. Seus filhos começavam então a carreira, ambos com uma das funções do vigintivirato, a
vigilância das ruas sob os auspícios dos edis.
Toda a onomástica patente na epígrafe é perfeitamente latina: Maximus, cognome muito frequente no
conventus Pacensis; Sabina, us, surgem em Beja (IRCP nº 265) e numa dedicatória a Endovélico
(IRCP nº 497); Nepotianus aparece em Collipo e em Tarragona (CIL II 4242), não sendo muito
frequente no conjunto do CIL (KAJANTO, p. 304 apud ENCARNAÇÃO idem). Clarus surge mais
vezes na Península (CIL II p. 1081 — nove exemplos).
Como visto, a forma do monumento sugere que estamos perante o texto a colocar num cenotáfio. O
fato de o pai ter sido designado pretor e de os filhos exercerem também cargos em Roma aponta para
que a morte os tenha surpreendido nessa cidade. No monumento erigido em sua memória, não
repousariam restos mortais, como, e resto, o parece indicar a ausência da fórmula funerária final (H-
S-S·)· Os lulii de Tourega lograram, pois, uma ligação — embora tardia, se atendermos à carreira do
pai — com o governo central, obtendo daí regalias, devidas certamente, na origem, à sua importância
social na região.
Datação: Século III d. C.
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 382.
Catálogo Online: Não Registrado

Nº de Registro: 110 Palavra-Chave: administração colonial


A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrado em Mosteiro de S. João,
Évora, Portugal.
Paradeiro MEv - Évora/Pt
Nº Inventário 1712
Tipologia Lintel
Material Mármore
Medidas 49 x 103 x 28 cm
Descrição: Fragmento decorado do lintel da porta dum
jazigo, em mármore claro com bandas castanho-claras,
do tipo Estremoz/Vila Viçosa, com inscrição. As faces
superior e laterais da pedra não foram trabalhadas, mas
em baixo existe, para além da ornamentação
geométrico-vegetalista da moldura, uma espécie de tirso
em relevo. Para José d’Encarnação (1984, p. 459) trata-
se de um tronco de palmeira, com fiadas de três folhas a
cobri-lo, duas fitas paralelas a cruzá-lo obliquamente a
meia altura e outra a prendê-lo em cima, formando dois
laços de longas pontas pendentes. Termina numa pinha,
enfrentando uma grande folha de acanto.
B. Inscrição
[... XV]IR(o) (decem-viro) . STLITIB(us) . IVDICAND(is / [... IV]LIA · Q(uinti) · F(ilia) · AVITA ·
MATER / [FACIENDVM (?) · CVRAVI]T · ITEMQVE · D(e)-D(ícavit)
285

Interpretação:
(...) decênviro para julgamento de pleitos (...). A mãe, Júlia Avita, filho de Quinto, mandou fazer e
também dedicou.
C. Comentário Histórico
Na inscrição falta a identificação do defunto: os tria nomina, filiação e tribo. Para o começo da 1inha
2, Scarlat Làmbrino (apud ENCARNAÇÃO, 1984, p. 460) sugere duas hipóteses, que são viáveis: a
indicação de mais um cargo do cursus honorum senatorial — o de trib(unus) mil(itum) por exemplo
— e da idade com que faleceu; ou a idade e pater et seguidos do nome da mãe, cujo gentilicio aquele
epigrafista restitui em Iulia, baseando-se no fato de existirem na Lusitânia mais duas famílias
senatoriais com esse gentilicio: a de Évora (110 do presente corpus) e a de Lisboa (CIL II 4994).
O cognome Avitus, α, é bastante frequente no conventus Pacensis. O monumento honraria, pois, a
memória dum senador em princípio de carreira: ser membro da comissão de dez indivíduos
encarregada de julgar os conflitos relacionados com o estado civil dos cidadãos era uma das funções
do vigintivirato. A riqueza do jazigo indicada pelo fragmento está de acordo com o que se sabe dos
senadores eborenses, da sua situação material e social (cfr. Lambrino apud ENCARNAÇÃO, idem).
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 383.
Catálogo Online: Não Registrado

Nº de Registro: 122 Palavra-Chave: tria nomina, tribo.


A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada em Herdade da Venda,
Azaruja, Évora, Portugal.
Paradeiro MREv - Évora/Pt
Nº 1824
Inventário
Tipologia Placa-Epitáfio
Material Mármore
Medidas 53 x 73,5 x 9,5 cm
Descrição: Placa funerária em mármore branco do tipo
Estremoz/Vila Viçosa. Só aparelhada à frente, bordos de
contorno irregular. O campo epigráfico aumenta de altura
da esquerda para a direita, é rebaixado em relação à
moldura. A última linha foi gravada na moldura.
B. Inscrição
Q(uintus) · TVLLIVS HABITI / F(ilius) · GAL(eria tribu) · MODESTVS / AN(norum) . XX
(viginti) · TVLLIA · HABITI / F(ilia) · TVSCA · AN(norum) · V(quinque) · Q(uintus)· ALFIVS /5
MODESTVS · H(ic) · S(iti) · S(unt) · S(it) · V(obis) · T(erra) · L(evis) / MATER F(aciendum)
C(uravit)
Interpretação:
Aqui jazem Quinto Túlio Modesto, filho de Hábito, da tribo Galéria, de vinte anos, Túlia Tusca, filha
de Hábito, de cinco anos, Quinto Álfio Modesto. Que a terra vos seja leve. A mãe mandou fazer.
C. Comentário Histórico
286

Seguindo as interpretações de José d’Encarnação (1984, p. 485-486), sendo a mãe a dedicante da


inscrição, seria lógico que os defuntos fossem seus filhos. Essa qualidade compreender-se-á
facilmente em relação aos dois primeiros: ambos têm o gentilicio Tullius e ambos são filhos de
Hábito, que seria portanto o marido da dedicante.
O primeiro, falecido com vinte anos, já recebera o direito de cidadania, tendo sido inscrito na tribo
Galéria (de Évora, provavelmente); a segunda, apenas com cinco anos. No entanto, o problema põe-
se em relação ao terceiro indivíduo mencionado, quer porque não traz a idade indicada quer por
apresentar gentilicio diferente (apesar da identidade de cognome com o primeiro). A hipótese mais
plausível para a filiação, de acordo com Encarnação, é que se trate de um filho natural, caso se queira
manter estritamente a relação de maternidade entre a dedicante e os defuntos.
O gentilicio Tullius (conhecido por ter sido o de Cícero) regista-se em Mértola (IRCP, n° 115).
Habitus, adjetivo que significa «o que se encontra em boas condições físicas», é cognome de origem
latina, cuja frequência não é grande, arrisca-se a pontuar que talvez seja a primeira vez que se registra
na Península. Do cognome Modestus abundam os exemplos no conventus. Em Évora, há outro
exemplo de Tuscus, -a (IRCP, n° 405). Pela única vez registado no conventus, o gentilicio Alfius
exemplifica-se abundantemente na Península (cfr. índices do CIL II, p. 1054 — 15 exemplos),
nomeadamente em Mérida (CIL II 526 — ILER 3481, 529 = 3570). O fato de a filiação ser dada à
maneira indígena, através do cognome paterno, induz-nos a pensar que estamos perante cidadãos
romanos que receberam a cidadania recentemente. A paleografia, a ausência da invocação aos deuses
Manes, a simplicidade com que é indicada a relação de parentesco, a posposição da dedicante à
fórmula final — tudo nos sugere a primeira metade do século I d. C.
Datação: Século I d. C.
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 407.
Catálogo Online: Não Registrado

Nº de Registro: 151 Palavra-Chave: tria nomina, tribo.


A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada em Évora, Portugal.
Paradeiro Torre do Sertório, castelo de Évora.
Embutida junto do patamar.
Nº Inventário -
Tipologia Placa-Epitáfio
Material Mármore
Medidas Não Encontradas
Descrição: Placa (?) funerária, em mármore de Trigaches,
picada em grande parte do campo epigráfico. A sua
localização impede uma análise.
B. Inscrição
L(ucio) · IVNIO · L(ucii) · F(ilio) · GAL(eria tribu) · / RVLLO / C(aius) · NORBANVS . L(ucii) ·
F(ilius) I IV[NIVS ·] DEXTER /5 HERES F(ecit) [...?]
Interpretação:
A Lúcio Júnio Rulo, filho de Lúcio, da tribo Galéria. Gaio Norbano Júnio (?) Dextro, filho de Lúcio,
o herdeiro, fez.
C. Comentário Histórico
287

lunia, bem documentada no conventus. Contudo, algumas ressalvas precisam ser feitas: se o
primeiro, Rulo, lhe pertence por nascimento, o segundo deve pertencer-lhe por adoção; quer dizer: a
sua família seria inicialmente a Norbana, que ele manteve no nome, acrescentando o gentilicio lunius
após ter sido adotado verossimilmente por aquele que o nomeou seu herdeiro. O gentilicio Norbanus
— de que encontramos um exemplo em Miróbriga (IRCP, n° 155) e outro em Évora (IRCP, n° 385)
— tem uma área limitada de difusão na Península: a região de Cáceres, mormente em torno de Norba
(Colonia Norbensis Caesarina), cuja fundação, em 35 a. C., pelo então pro-cônsul C. Norbanus
Flaccus (a quem ficou a dever o nome) parece demonstrada.
Como indica Encarnação, no conjunto do CIL, o cognome Rullus documenta-se, mais cinco vezes
(em CIL X e na Argélia). Dexter, cognome latino, documenta-se na Península, fora do conventus
(CIL II p. 1082, cinco exemplos), sem que a sua distribuição geográfica ofereça qualquer
particularidade. O termo heres explicita um laço simultaneamente familiar e jurídico entre dois
cidadãos romanos, inscrito o primeiro na tribo Galéria. O monumento surpreende um pouco pela
altura fora do comum, de sorte que podemos pensar tratar-se de pessoas de certa categoria
socioeconômica. A ausência de invocação aos Manes e de qualquer fórmula funerária, o uso do
dativo, a simplicidade com que é expressa a relação entre dedicante e homenageado, e a paleografia
— levando à datação nos primeiros tempos do século I d. C.

Datação: Início do século I d. C.


D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 400.
Catálogo Online: Não Registrado

Nº de Registro: 153 Palavra-Chave: tria nomina, origem.


A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrado em Coruche, Évora, Portugal.
Paradeiro Desconhecido
Nº Inventário -
Tipologia Placa
S/F
Material Não Encontrado
Medidas Não Encontradas
Descrição: Não dispomos de qualquer descrição do
monumento. Possivelmente tratar-se-ia de uma placa.
B. Inscrição
D(is) · M(anibus) · S(acrum) / MAR(ius) · Q(uinti) · F(ilius) . QVINTILIAN(us) ·
VLI/SIPONENS(is) · ANN(orum) · XVIII (duodeviginti) · [IVL]IA · RV/FINA · MATER . ET ·
MARIVS /5 MAX(imvs) · PATER . F(aciendum) · C(uraverunt) · H(ic) · S(itus) . E(st) · S (it) (tibi)
T(erra)· L(evis)
Interpretação:
Consagrado aos deuses Manes. Aqui jaz Mário Quintiliano, filho de Quinto, natural de Olisipo, de
dezoito anos. Júlia Rufina, a mãe, e Mário Máximo, o pai, mandaram fazer. Que a terra te seja leve.
C. Comentário Histórico
Por ser mais frequente, José d’Encarnação (1984, p. 494) prefere interpretar o nome do defunto em
nominativo em vez do dativo. Marius é gentilicio documentado no conventus (ICRP, n°10);
característico da zona litoral, registra-se também em Lisboa (CIL II 5004, CIL II 193). Quintilianus
já foi registrado no mosaico de Faro (IRCP, n°35). O autor destaca que, na epigrafia de Lisboa, não
foi encontrado nenhum personagem com este cognome. O gentilicio Iulius está muito registado em
288

Lisboa, havendo um Iulius Rufinus, edil designado (CIL II 225). Maximus é também frequente.
Todavia, o fato de serem o pai e a mãe a dedicar uma inscrição ao filho não é inusitado na epigrafia
lusitana (cfr. Fouilles II 1976 nº 36, 39, 60) nem mesmo no conventus (IRCP, n° 582).
A onomástica é totalmente latina, podendo atribuir-se a peregrinos já bem romanizados — note-se
que o gentilicio é transmitido de pai para filho. Não se sabe ao certo o que teria motivado a ida desta
família para a região de Coruche, cogita-se a hipótese da exploração agropecuária. A fórmula final
encontra-se incompleta. As características internas do texto apontam para o século II: invocação aos
deuses Manes, indicação simples das relações familiares.
Datação: Século II d. C.
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 415.
Catálogo Online: Não Registrado

Nº de Registro: 154 Palavra-Chave: tria nomina, origem.


A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada no Termo de Reguengos de
Monsaraz, Évora, Portugal.
Paradeiro MEv - Évora/Pt
Nº Inventário 1832
Tipologia Ara
Material Mármore
Medidas Dimensões totais: 81 x 32 (cornija) x 21
(cornija). Diâmetro da taça: 10,5; jarro: 22 x
10 cm

Descrição: Ara funerária em mármore branco do tipo


Estremoz/Vila Viçosa. Trabalhada nas quatro faces, encontra-
se bastante danificada, mormente no capitel, nas arestas e na
base, de que falta praticamente todo o lado direito. A inscrição
ocupa a face do fuste, muito sumida pela erosão, sobretudo por
baixo dum veio que a percorre obliquamente desde o fmal da
1. 1 ao começo da última linha.
Na face lateral esquerda do fuste, mal se distingue um jarro,
em relevo, para a direita, asa no prolongamento da boca, bojo
oval, pé largo. Na face lateral direita, uma taça (pátera)?
Também em relevo, apenas perceptível. O fuste separa-se da
base por filete reverso e ampla moldura de garganta reversa.
B. Inscrição
D(is) . M(anibus) · S(acrum) / D(ecimus) · IVLIVS · D(ecimi) [FI?/LIVS?] [...?] EBO[R(ensis)] /
[A]N(norum) XXX (triginta) [H(ic) S(itus) E(st) ?] /5 S(it) T(ibi) T(erra) L(evis) · [L(ucius) ?...] /[...]
AC[...] / [F(aciendum) C(uravit)?]
Interpretação:
Consagrado aos deuses Manes. Aqui jaz Décimo Júlio ..., Eborense, filho de Décimo, de trinta anos.
Que a terra te seja leve. Lúcio (?) ... Mandou fazer (?)
289

C. Comentário Histórico
Como salienta José d’Encarnação (1984, p.501), a presente epígrafe registra mais um testemunho da
gens lulia, com a particularidade de indicar Évora como sua terra natal. Pela presença da invocação
aos Deuses Manes e pelos escassos caracteres actuários completos que ainda restam, a epígrafe
afigura-se-nos datável da segunda metade do século II.
Datação: Segunda metade do século II d. C.
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 423.
Catálogo Online: Não Registrado

Nº de Registro: 155 Palavra-Chave: tria nomina, tribo.


A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada numa necrópole romana perto
de S. Pedro do Corval, Corval, Reguengos
de Monsaraz, Portugal.
Paradeiro MEv - Évora/Pt
Nº Inventário -
Tipologia Placa-Epitáfio
Material Ardósia
Medidas 90 x 53 x 4 cm
Descrição: Esteia funerária em ardósia, alisada
lateralmente mas de acabamento irregular em cima e em
baixo. Na face anterior, irregular também, foram traçadas
duas linhas paralelas a toda a largura, para limitar superior
e inferiormente o campo epigráfico escavado, de forma
quase quadrada.
B. Inscrição
P(ublii) · IVLI · G(aii) · F(ilii) · / GAL(eria tribu) · TANG/INI · AN(norum) · L (quinquaginta) ·
H(ic) · S(itus) · E(st) · S(it) · T(ibi) · T(erra) · L(evis)
Interpretação:
De Públio Júlio Tangino, filho de Gaio, da tribo Galéria, de cinquenta anos. Aqui jaz. Que a terra te
seja leve.
C. Comentário Histórico
Como analisa José d’Encaranação (1984, p. 503), o defunto identifica-se como cidadão romano, com
os tria nomina em genitivo (Iuli = Iulii, como é habitual). Inscrito na tribo Galéria (possivelmente de
Évora), podendo ser incluído na segunda geração que sofreu os efeitos da romanização: seu pai,
indígena romanizado, adotou a onomástica habitual nos primeiros anos do século I d. C. (?), o
prenome Gaius e o gentilicio Iulius, mantendo eventualmente o cognome original, Tanginus, que o
filho também conserva, usando, porém, outro praenomen.
Os Tangini = Tancini, que são característicos de entre Douro e Tejo (Untermann, Atlas, p. 170-1
apud Encarnação op cit), distribuem-se no conventus Pacensis unicamente no nordeste: zona de Vila
Viçosa (IRCP, n° 455), Alter do Chão (IRCP, n° 635, interpretação duvidosa) e Nisa (IRCP, n° 640);
o IRCP, n° 404 é uma cópia achada em Évora, mas que, pela onomástica, se prende também com o
nordeste. A utilização do genitivo, sem D-M-S, é característica dos começos da romanização no
conventus como é possível ver em outros exemplos no sudoeste alentejano.
290

Datação: Século I d. C.
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 425.
Catálogo Online: Não Registrado

Nº de Registro: 156 Palavra-Chave: tria nomina, tribo.


A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada na Quinta de S. Margarida,
freguesia de Nossa Senhora do Bispo,
Montemor-o-Novo, Portugal.
Paradeiro MEv - Évora/Pt
Nº Inventário 1815
Tipologia Placa-Epitáfio
Material Mármore
Medidas 51,5 x 88,5 x 7 cm
Descrição: Placa funerária em mármore de Trigaches
claro com pátina ferruginosa. Praticamente intacta;
contornos irregulares; ligeiras escoriações na moldura, a
maior a meio do troço inferior. Campo epigráfico
rebaixado, limitado por ranhura (visível, sobretudo, do
lado esquerdo) e moldura que poderemos, com reserva,
considerar formada por dois toros, o interior menor.
B. Inscrição
LVRIAE · T(iti) · F(iliae) · BOVTIAE (hedera?) / G(aius) · IVLIVS · L(ucii) · F(ilius) · GAL(eria
tribu) · SEVERVS / VXORI · SIBI · SVISQVE · F(aciendum) . C(uravit)
Interpretação:
A Lúria Búcia, filha de Tito. Gaio Júlio Severo, filho de Lúcio, da tribo Galéria; mandou fazer para a
mulher, para si e para os seus.
C. Comentário Histórico
Como indica José d’Encarnação (1984, p. 507), o texto foi mandado gravar possivelmente em vida
de todos os membros ou, quando muito, após a morte da mulher e assinala um jazigo de família.
Severus apresenta- se como cidadão romano de pleno direito, inscrito na tribo Galéria — que é a da
região —, tendo uma onomástica perfeitamente latina e com outros exemplos no conventus.
Em contrapartida, sua mulher tem um gentilicio que, ainda que seja muito atestado em Roma, em
território peninsular só aparece em Córdoba (CIL II 5536 = ILER 6227), identificando a liberta Luria
Faustilla. Todavia, o cognome, Boutia, de raiz pré-romana, é, como Untermann já assinalou (Atlas,
mapa 18 apud ENCARNAÇÃO, op cit), típico da região oriental da Lusitânia. Pode-se, então,
considerá-la uma descendente de colonos (pelo gentilicio) nascida na zona (pelo cognome). Pela
paleografia e pela onomástica, um monumento dos inícios do século I d. C.
Datação: Século I d. C.
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 428.
Catálogo Online: Não Registrado
291

Palavra-Chave: tria nomina, tribo,


Nº de Registro: 164
origem.
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrado em Elvas, Portugal.
Paradeiro Desconhecido
Nº Inventário -
Tipologia Jazigo
S/F
Material Não Encontrado
Medidas Não Encontradas
Descrição: Não há descrição do monumento. Deve tratar-se da
placa para um jazigo de família.
B. Inscrição
C(aius) · AXONIVS · Q(uinti) · F(ilius) · PAP(iria tribu) / LEG(ioni) · X X (vigesimae) · NAT(us) ·
COL(onia) / FIR(mo) · PICENO · SE · VIVO / MONIMENT(um) · FEC(iti) · SIBI · ET /5 FR(atri) ·
Q(uinto) · AX(onio) · Q(uinti) . F(ilio) ·
Interpretação:
Gaio Axónio, filho de Quinto, da tribo Papiria, da XX legião, natural da Colónia Firmo Piceno, fez
em vida o monumento para si e para o irmão, Quinto Axónio, filho de Quinto.
C. Comentário Histórico
Na análise da inscrição, José d’Encarnação (1984, p. 641-642) recorda que Hübner incluíra este texto
entre os falsos, com dois argumentos que G. Forni rebate convincentemente: “É verdade que Firmum
Picenum estava adscrita à tribo Velina, mas o veterano pode ter mudado esta sua tribo originária para
a tribo Papiria, de Augusta Emerita: conhecem-se efectivamente outras epígrafes de veteranos, nas
quais a tribo não corresponde à da cidade de origem, mas sim à tribo do local para onde foi
transferido ou se estabeleceu após o licenciamento. Quanto às abreviaturas da última linha, parece
que se pode ler fr(atri) Q. Ax(onio) Q. f(ilio), sem excessiva dificuldade, admitindo que a transcrição
esteja exacta” (apud ENCARNAÇÃO, op cit). Firmum Picenum, hoje Fermo, é uma colónia situada
na Península Itálica, junto da costa adriática (cfr. De Ruggiero III p. 85-6 e REV I2 col. 2380-1 s.v.
‘Firmum’).
O texto memora dois irmãos, um dos quais, militar da XX legião (cfr. Roldá nº1974, p. 208-9),
manda construir em vida o local de sepultura para ambos. Esta atitude documenta-se em outras
epígrafes peninsulares (CIL II p. 1202). O gentilicio Axonius — cuja ocorrência no n.° 287, de Beja,
considera-se muito provável — regista-se outras duas vezes com esta grafia, a darmos crédito ao T L
L (II col. 1641, s.v. «Axius»): CIL V 418 e V I II 16 922; poderá derivar diretamente do adjetivo
grego άξόνιος; estará também relacionado com Auxonius = Ausonius. Note-se a grafia monimentum
por monumentum (CIL II p. 1188).
O texto data-se preferentemente dos começos do Império: o Prof. Blázquez — que cita esta inscrição
como exemplo da referência a um imigrante — sugere os reinados de Augusto ou Tibério, datação
que é também apontada por Le Roux.
Datação: Inícios do século I d. C.
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 576.
Catálogo Online: HEpOnl 21102
292

Palavra-Chave: tria nomina, origem,


Nº de Registro: 165
exército, patronato, liberto.
A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada em Elvas, Portugal.
Paradeiro MEl - Elvas/Pt
Nº Inventário -
Tipologia Placa-Epitáfio
Material Mármore
Medidas 52 x 69 cm
Descrição: Placa funerária em mármore branco do tipo
Estremoz/Vila Viçosa, partida em quatro fragmentos mal
ajustados, embutida na parede do pátio interior do museu.
O texto e a pedra em geral estão muito danificados,
embora a reconstituição não seja complicada. Campo
epigráfico rebaixado em relação a uma moldura
praticamente destruída.
B. Inscrição
G(aio) IVLIO [G]ALLO / EMERI[TENSI ? V]ETERANO / [L]EG(ionis) V II(septimae) [G(eminae)
F(elicis)] · STIPENDIS / EMERITI[S] ANN(orum) LXX (septuaginta) /5 H(ic) S(itus) E(st) S(it)
T(ibi) T(erra) L(evis) IVLIA PRIMA / LIB(erta) ET CONIVX · PATRONO / BENEMER(enti ?) ·
D(e) · S(uo) F(aciendum) · C(uravit)
Interpretação:
A Gaio Júlio Galo, natural de Mérida, veterano da Legião 7ª Gémea Félix, que cumpriu
honradamente o tempo de serviço e faleceu com setenta anos. Aqui jaz. Que a terra te seja leve. Júlia
Prima, liberta e esposa, mandou fazer, a expensas suas, para o patrono tão digno de mérito.
C. Comentário Histórico
Como demonstra José d’Encarnação (1984, p. 643), de onomástica perfeitamente latina — o
cognome Gallus está documentado no conventus — o defunto é natural de Mérida. Patrick Le Roux
data este monumento na primeira metade do século II d. C., é de opinião que ele entrou ao serviço
entre os anos 70 e 90. Como veterano, ter-lhe-ia sido atribuída alguma propriedade na área de Elvas,
não longe da sua terra natal, aonde viria a falecer.
A dedicante é a esposa e liberta simultaneamente, fato que outras vezes se regista na epigrafia
peninsular (CIL II 613, 2233, 4299, 4306, 5856), mas que se deve salientar aqui: presumivelmente,
após ter cumprido o serviço, libertou a escrava com quem eventualmente já vivia e casou com ela;
daí, a utilização de patrono em vez de marito ou viro; o fato era corrente, embora na epigrafia
peninsular acredita-se que apenas desta vez esteja documentado. Roldán Hervás apresenta um quadro
das inscrições relativas a esta legião (1974 p. 306-314): em nenhuma delas se indica a circunstância
stipendiis emeritis (cfr., a propósito, De Ruggiero II p. 2104 s.v. «Emeritus»).
Datação: Entre os anos de 70 - 90 d. C.
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 577.
Catálogo Online: Não Registrado
293

Nº de Registro: 166 Palavra-Chave: tria nomina, tribo.


A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada na Herdade do Mateus,
Vaiamonte, Monforte, Portugal.
Paradeiro MNAE - Lisboa/Pt
Nº Inventário s/n
Tipologia Placa-Epitáfio
Material Mármore
Medidas 47 x 65 x 6 cm
Descrição: Placa funerária em mármore branco do tipo
Estremoz/Vila Viçosa, com pátina rosada, gasta na parte
central por efeito da erosão. Apenas subsiste a parte
superior da moldura (de talão?) que limitava o campo
epigráfico.
B. Inscrição
P(ublius) · ANONIVS · QVIRINA (tribu) / SILO · ANN(orum) LXI (sexaginta unius?) (hedera?)
H(ic) · S(itus) · E(st) / AQVILIA · CAMVLI · F(ilia) · CARA / [A]NN(orum) [LVI?] (quinquaginta
sex?) /5 [S]IBI · ET · VIRO · [S]VO · F(aciendum) · C(uravit) / S(it) (hedera) V(obis) (hedera)
T(erra) L(evis)
Interpretação:
Aqui jaz Públio Anónio Silão, da tribo Quirina, de sessenta e um (?) anos. Aquília Cara, filha de
Câmulo, de cinquenta e seis (?) anos, mandou fazer para si e para seu marido. Que a terra vos seja
leve.
C. Comentário Histórico
José d’Encarnação (1984, p. 644), salienta que muito embora o cognome já tenha sido registrado no
conventus em Miróbriga (IRCP, n°151) e em Avis (IRCP, n°437), P. Anónio Silão tem uma
denominação bem latina e, ao indicar por extenso a tribo em que foi inscrito seu marido, Aquília
pode querer demonstrar o orgulho sentido por ele ser cidadão romano. Muito provavelmente esse
direito fora adquirido recentemente, talvez a título pessoal. An(n)onius não é gentilicio frequente:
TLL (II col. 114 s.v. «Annonius») considera-o formado a partir de Annius e cita apenas CIL X I I
4590, V I II 8854 e 18 087; Schulze tem-no por de origem etrusca (1966 p. 305 e 403).
Aquilius também não é frequente: documenta-se em Santiago de Compostela (CIL II 2548 = IL ER
4023), Lugo (ILER 4639 = IRPL 37), Valência (CIL II 3754 = ILER 4805 = IRV 45) e em marcas
(CIL II 497040, 625719, 6262); Hubner (CIL II p. 1055) sugere que se relacione Aquília com Acilia.
Carusa, que Kajanto inclui entre os cognomes latinos (p. 284), é por M. L. Albertos relacionado com
os estratos linguísticos pré-romanos (O. Hisp. 1966 p. 79-80), o que não deixa de ser interessante
aqui, uma vez que Aquília se identifica à maneira indígena tomando como patronímico o cognome
do pai, Camulus, antropónimo que Holder considera também formado a partir duma raiz celta
significando «poderoso» (I col. 728, s.v. «Camulus») e de que não se encontrar outro exemplo na
Península; de Carus,a, haverá uma quinzena de exemplos (CIL II p. 1080, ILER p. 676 e p. 709).
Trata-se de um epitáfio para um sepulcro conjugal, mandado lavrar pela mulher; aqui se utilizando a
palavra vir, como outras vezes acontece (ILER 4647, 4649-51). A paleografia e o texto sugerem a
segunda metade do século I d. C.
Datação: Segunda metade do Século I d. C.
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 578.
Catálogo Online: Não Registrado
294

Nº de Registro: 167 Palavra-Chave: tria nomina, tribo.


A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada nos Arredores de Elvas,
Elvas, Portugal.
Paradeiro MEl - Elvas/Pt
Nº Inventário -
Tipologia Placa-Epitáfio
Material Mármore
Medidas 45 x 60 cm
Descrição: Placa funerária em mármore branco de
Estremoz/Vila Viçosa, apenas com uma escoriação no
canto inferior direito. Moldura do tipo gola encurtada,
com ranhura exterior e diagonais marcadas aos cantos.
B. Inscrição
Q(uintus) · ATTIVS · L(ucii)· F(ilius) · SER(gia tribu) / RVSTICVS · H(ic) · S(itus) · E(st) · S(it) ·
T(ibi) · T(erra) · L(evis) · / NVMITORIA · Q(uinti) · F(ilia) · / MAXVMA /5 F(aciendum) C(uravit)
Interpretação:
Aqui jaz Quinto Átio Rústico, filho de Lúcio, da tribo Sérgia. Que a terra te seja leve. Numitória
Máxuma, filha de Quinto, mandou fazer.
C. Comentário Histórico
José d’Encarnação (1984, p. 645) aponta que o defunto, cuja idade não vem mencionada, é cidadão
romano inscrito na tribo Sérgia — que surge aqui pela primeira vez no conventus, ainda que sejam
registrados outros exemplos desta gens. Rusticus é cognome latino muito frequente na Península
(CIL II p. 1091); no conventus Pacensis documenta-se em Mértola (IRCP, n° 113). A dedicante —
cujo eventual grau de parentesco com o defunto não é mencionado — possui um gentilicio atestado
em Barcelona (HAE 1950 = IRB 52) e Tarragona (RIT 21); o seu cognome é frequente. A
simplicidade do epitáfio, sem consagração aos Manes nem indicação de idade, a paleografia e a
menção da tribo sugerem o século I d. C.
Datação: Século I d. C.
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 579.
Catálogo Online: Não Registrado
295

Palavra-Chave: trianomina, tribo,


Nº de Registro: 168
exército.
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrado em Igreja de S. João Baptista,
Vila Boim, Elvas, Portugal.
Paradeiro Desconhecido
Nº Inventário -
Tipologia Fragmento de Placa-Epitáfio
S/F
Material Não Encontrado
Medidas Não Encontradas
Descrição: Não há qualquer descrição — pelo texto, será o
fragmento duma placa funerária. Seguimos o CIL, única fonte
ao nosso dispor.
B. Inscrição
[...] [CJORNELIVS / [... F(ilius) P]AP(iria tribu) · GALLVS / NA(norum) · LXXV (septuaginta
quinque) / [...] EGO [...]Q[···] /5[...] VIII F(aciendum) · C(uravit)
Interpretação:
... Cornélio Galo, ... da tribo Papíria, de setententa e cinco anos. ... Mandou fazer.
C. Comentário Histórico
De acordo com os estudos de José d’Encarnação (1984, p. 649), inscrito eventualmente na tribo
Papíria, de Mérida, o defunto tem gentilicio bem documentado no conventus; Gallus é também
cognome frequente. A eventual ausência de consagração aos Manes e a indicação da tribo poderão
datar o monumento do século I d. C.
Datação: Século I d. C.
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 584.
Catálogo Online: Não Registrado
296

Nº de Registro: 158 Palavra-Chave: tria nomina, tribo.


A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada em Veiros (?), Estremoz,
Portugal.
Paradeiro Fachada da igreja da Senhora do Mileu, em
Veiros.
Nº Inventário -
Tipologia Placa-Epitáfio
Material Mármore
Medidas 38,5 x 47 cm
Descrição: Placa funerária em mármore branco de
Estremoz/Vila Viçosa, intacta.
B. Inscrição
SEX(tus) . AEBVTIV/S · SEX(ti) · F(ilius) · PAP(iria tribu) · RVF/INVS · AN(orum) · XXXXV
(quinque et quadraginta) / HIC · EST · S(it) · T(ibi) · T(erra) · L(evis) · /5 F(ilius) · PATRI ·
P(onendum) · C(uravit) ·
Interpretação:
Aqui jaz Sexto Ebúcio Rufino, filho de Sexto, da tribo Papiria, de quarenta e cinco anos. Que a terra
te seja leve. O filho mandou fazer para o pai.
C. Comentário Histórico
Como aponta José d’Encarnação (1984, p. 524), o defunto, cuja idade decerto foi arredondada,
identifica-se como cidadão romano, inscrito na tribo Papiria, que é a de Mérida. Depois do achado do
monumento IRCP, 461, referente também a um membro desta tribo, fortalece-se a possibilidade de a
placa ter provindo de Veiros. Duas conclusões são apresentadas pelo autor: ou a região pertenceu
efetivamente ao território administrativamente dependente de Mérida ou conheceu, nos começos do
Império, uma colonização de emeritenses.
Para Encarnação, talvez esta segunda hipótese seja a mais viável pelo fato de Aebutius ser gentilicio
que ocorre um pouco por todo o mundo romano, identificando gentes inscritas nas tribos mais
diversas (TLL I col. 905-6); um Sex. Aebutius foi adversário de Cécina (Cic., Caecin. 1 seg.); na
Península documenta-se a Norte, em contexto onomástico pré-romano: León (CIL II 2672 e 2673 =
ILER 5159) e Bragança (CIL II 2500). Rufinus é cognome frequente. Destaca, ainda, que na fórmula
final preferiu-se hic est por extenso.
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 442.
Catálogo Online: Não Registrado
297

Nº de Registro: 159 Palavra-Chave: tria nomina, tribo.


A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrado em Monte Branco, Juromenha,
Alandroal, Portugal.
Paradeiro Desconhecido.
Nº Inventário -
Tipologia Coluna S/F
Material Não Encontrado
Medidas Não Encontradas
Descrição: “Coluna tosca, talvez com 2 m de altura” (P.e
Louro).
B. Inscrição

L(ucius) · CAECILIVS / C(aii) · F(ilius) · PAP(iria tribu) [ ?]/[...][? ] FE [ ?] [Hl ?]C · SITVS / EST

Interpretação:
Aqui jaz Lúcio Cecílio ..., filho de Gaio, da tribo Papíria.
C. Comentário Histórico
Seguindo a interpretação de José d’Encarnação (1984, p. 531), na 1inha 1 lê-se L(ucius), praenomen,
a l(ulius), dado que há o nomen Caecilius, aliás bastante frequente no conventus. Nas 1inhas 2/3,
encontram-se o nome da tribo e o cognome ou apenas este último. Para o autor, a primeira hipótese é
provável, se atendermos a que o editor leu sem dificuldade o P e o A, embora separados por pontos; a
letra final, em vez de D, pode ser o P — teríamos, assim, PAP(iria). Contudo, salienta, se
verificarmos que, na linha 3, deveremos ter por extenso HIC (de que restaria C), poucas letras
haveria para o cognome. A não ser que as faltas de letras não tivessem sido indicadas, o que não é
inviável. Outra hipótese a considerar será a ausência de cognomen, documentada curiosamente com
um L. Caecilius C. F. (IRCP, n° 402). Note-se a fórmula final por extenso.
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 449.
Catálogo Online: Não Registrado
298

Nº de Registro: 160 Palavra-Chave: tria nomina, tribo.


A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada na Herdade da Granaria,
Veiros, Estremoz, Portugal.
Paradeiro MEv - Évora/Pt
Nº Inventário 1700
Tipologia Placa-Epitáfio
Material Mármore
Medidas 62 x 105 x 10 cm
Descrição: Placa funerária em mármore branco de
Estremoz/Vila Viçosa, só alisada na face anterior. Campo
epigráfico obtido por rebaixamento da superfície.
B. Inscrição

L(ucius) · MARIVS · L(ucii) · F(ilius) / PAP(iria tribu) · / CAPRARIVS · / H(ic) · S(itus) · E(st)
Interpretação:
Aqui jaz Lúcio Mário Caprário, filho de Lúcio, da tribo Papíria.
C. Comentário Histórico
Seguindo as propostas de José d’Encarnação (1984, p. 543), trata-se de um epitáfio simples, dos
primórdios do Império, em que o defunto se identifica como cidadão romano, adscrito certamente a
Mérida pela tribo Papíria, desta cidade. Poderá ter sido, como Sex. Aebutius, um emeritense que se
estabeleceu nestas paragens e a monumentalidade da placa sugere tratar-se dum rico proprietário
rural.
Marius é gentilicio documentado no conventus; Caprarius, cognome latino com particular ocorrência
em África (8 dos 15 exemplos registados no conjunto do CIL, segundo Kajanto, p. 323) atesta-se, no
feminino, em Denia (CIL II 5963 — ILER 5412).
Datação: Século I d. C.
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 461.
Catálogo Online: HEpOnl 20378
299

Subgrupo Temático: Epígrafes Votivas

Palavra-Chave: tria nomina, tribo,


Nº de Registro: 157
exército.
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrado em Juromenha, Alandroal,
Portugal.
Paradeiro Desconhecido
Nº Inventário -
Tipologia Não Encontrada
S/F
Material Não Encontrado
Medidas Não Encontradas
Descrição: Não dispomos de qualquer descrição do
monumento, cuja única fonte é o manuscrito de Cenáculo.

B. Inscrição
[C(aius)?] · IVLIVS · [C(aii) · F(ilius) · GAL(eria tribu)] [?] / [M]AXSVM[VS...] / [M]ILES ·
L(egionis) . [VII (septimae) · G(eminae) · P(iae)] / [F]ELICIS · I(ovi) · [O(ptimo) · M(aximo)] [?] /5
V(otum) · S(olvit) · L(ibens) · [M(erito)]
Interpretação:
Gaio (?) Júlio Máxumo, filho de Gaio (?), da tribo Galéria (?), soldado da VII Legião Gémea Pia
Félix, cumpriu o voto de boa mente a Júpiter Óptimo Máximo.
C. Comentário Histórico
José d’Encarnação (1984, p. 521) concorda com a reconstituição de Húbner, já Patrick Le Roux
prefere só dois nomes da legião — Geminae Felicis — por extenso; considerando, ainda, que tal
circunstância se pode explicar pelo fato de a unidade não ser ainda bem conhecida na Península — o
que o leva à datação do texto (e em virtude do nome da divindade vir no fim), na segunda metade do
século I d. C.
Consiste em mais um testemunho, verossímil, do culto prestado a Júpiter por soldados por um
indígena romanizado, de onomástica latina, pertencente a uma legião de largas tradições na Hispânia
Romana (cfr., entre outros, García y B e llido, «Legio VII Gemina» 1970 p. 569-599 e Le Roux ,
o.c., passim).

Datação: Século I d. C.
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 439.
Catálogo Online: Não Registrado
300

Subgrupo Temático: Epígrafes Honoríficas

Palavra-Chave: tria nomina, tribo,


Nº de Registro: 038 administração colonial, exército,
sacerdote imperial (Flâmine).
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrado em Évora, Portugal.
Paradeiro MAN - Madrid/Es
Nº Inventário -
Tipologia Cipo S/F
Material Mármore
Medidas Não Encontradas
Descrição: Não Encontrada.
B. Inscrição
L(ucio) · Voconio L(ucii) · f(ilio) · / Quir(ina tribu) · Paullo aed(ili) q(uaestori) / IIvir(o) · VI ·
flam(ini) · Romae / Divorvm et Augg(ustorum duorum) / praef(ecto) · coh(ortis) · I · Lusitan(orum)
[et coh(ortis)] / I · Vettonum [c(enturioni)] leg(ionis) · III · I[talicae] / ob causas · [utilitates]q(ue)·
publi]/cas aput· ordin(em) [· ampliss(imum)] / fideliter et · const[anter] / defensas · legat[ione qua
gr/atuita Romae · pro · r(e)· p(ublica)· sua funct(us) · est] / Lib(eralitas) · Iul(ia) · Ebora / publice ·
in · foro (decrevit)
Interpretação396:
A Lucio Voconio Paullo, filho de Lucio, da Tribo Quirina, edil, questor, duúmviro pela sexta vez,
flamen de Roma e dos (dois) Divinos Augustos, prefeito da coorte primeira dos lusitanos e da coorte
primeira dos Vetões. Devido a seus serviços prestados às causas e defesas públicas, segundo a
amplíssima ordem, (sendo) muito fiel e constante, teve a função de legado de Roma em prol da
república gratuitamente (sem ter que pagar a summa honoraria). A (colonia) Liberalitas Iulia Ebora,
por deliberação pública, decretou que fosse colocada no fórum uma base com estátua (?) ou ‘este
cipo honorário’ (?).
C. Comentário Histórico
A presente inscrição, pelo registro dos tria nomina, da tribo e de magistraturas, auxilia a
compreensão a respeito da rede de integração promovida pelas administrações colonial e provincial.
Deste modo, quando cotejada com outros registros, tais informações ajudam a compreender a rede
administrativa desenvolvida em época imperial.

Datação: Não Atribuída


D. Referências Bibliográficas
Hispania Epigraphica. Madrid: Universidad Complutense de Madrid. nº 4, 1994, 1057; Hispania
Epigraphica. Madrid: Universidad Complutense de Madrid. nº 14, 2005, p. 439.
Catálogo Online: HEpOnl 25037

396
Nossa proposta de interpretação.
301

Palavra-Chave: tria nomina, tribo,


Nº de Registro: 045
patronato.
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrada em 1976 durante a demolição de
uma casa na rua da Alcárcova de Cima;
Évora, Portugal.
Paradeiro MEv - Évora/Pt
Nº Inventário -
Tipologia Placa S/F
Material Mármore
Medidas 36 x (39) x 9,5 cm
Descrição: Fragmento de placa de mármore branco de tipo
Estremoz.
B. Inscrição
[A(ulo) Cas]tricio A(uli) [f(ilio) Gal(eria?) / Iulia]no(?) patro[no / A(ulus) C(astricius) Phil]on(?)
subsel[lium d(edit)]
Interpretação397:
Ao patrono Aulo Castricio Iuliano, filho de Aulio, da Tribo Galeria. Aulio Castricio Philon dedicou
este assento.
C. Comentário Histórico
A presente inscrição, pelo registro dos tria nomina, da tribo e da relação de patronado, auxilia a
compreensão da rede de integração promovida pelas administrações colonial e provincial. Deste
modo, quando cotejada com outros registros, tais informações ajudam a compreender a rede
administrativa desenvolvida e consolidada em época imperial. A inscrição é datada na primeira
metade do século I. d. C.
Datação: Século I d. C.
D. Referências Bibliográficas
Hispania Epigraphica. Madrid: Universidad Complutense de Madrid. nº 3, 1993, 478, Hispania
Epigraphica. Madrid: Universidad Complutense de Madrid. nº 4, 1994, 1059.
Catálogo Online: HEpOnl 23004

397
Nossa proposta de interpretação.
302

Palavra-Chave: onomástica,
Nº de Registro: 106 sacerdote imperial (Flâmine),
patronato, liberto.
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Évora, Portugal
Paradeiro Não Encontrado
Nº Inventário -
Tipologia Não Encontrada S/F
Material Não Encontrado
Medidas Não Encontradas
Descrição: Não Encontrada
B. Inscrição
LABERIAE · L(ucii) · F(iliae) / GALLAE · FLA/MINICAE · MVNIC(ipii) / EBORENSIS · FLA/5
MINICAE · PROVIN/CIAE · LVSITANIAE / L(ucius) · LABERIVS · ARTEMAS / L(ucius) .
LABERIVS . CALLAECVS / L(ucius) · LABERIVS · ABASCANTVS / 10 L(ucius) · LABERIVS .
PARIS / L(ucius) · LABERIVS · LAVSVS / LIBERTI
Interpretação:
A Labéria Gala, filha de Lúcio, flaminia do Município Eborense, flaminia da província da Lusitânia
— Lúcio Labério Artemas, Lúcio Labério Galego, Lúcio Labério Abascanto, Lúcio Labério Páris,
Lúcio Labério Lauso, libertos.
C. Comentário Histórico
A presente inscrição, pelo registro dos tria nomina e, sobretudo, dos dados referente ao flaminato
provincial e das relações de patronagem, auxilia a compreender a rede de integração promovida pelas
administrações colonial e provincial. Deste modo, quando cotejada com outros registros, tais
informações ajudam a compreender a rede administrativa consoliadada em época imperial

Datação: Não Atribuída


D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, Insc. Excluída A, p.442.
Catálogo Online: Não Registrado
303

Palavra-Chave: dedicação imperial,


Nº de Registro: 108
decreto dos decuriões.
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrado em um edifício da via sellaria,
Évora, Portugal.
Paradeiro MEv - Évora/Pt
Nº Inventário-
Tipologia Cipo S/F
Material Não Encontrado
Medidas Não Encontradas
Descrição: “Cipus utrinque mutilatus” (CIL apud
ENCARNAÇÃO, 1984, p. 453)
B. Inscrição
[FVRIAE SABINIAE] / [TRA]NQVI[LLINAE] / [SAN]CTISS[IMAE] / [AVG(ustae)]
CO<N>IVG[I D(omini) · N(ostri) ·] /5 [IMP(eratoris) ·] CAES(aris) · [M(arci)·] A[NTONII] /
[GOR]DIANI [PII FE]/[LIC]IS · AVG(usti) · [MVN(icipium)] / [EBO]RENSE [D(ecreto) ·
D(ecurionum)]
Interpretação:
A Fúria Sabínia Tranquilina, sanctissima augusta cônjuge do nosso senhor, o imperador César Marco
António Gordiano, Pio, Félix, Augusto — o município eborense, por decreto dos decuriões.
C. Comentário Histórico
Pela reconstituição de Húbner (apud ENCARNAÇÃO, 1984, P. 453) estaríamos perante uma
dedicatória à mulher de Gordiano III, Tranquilina (241-244), feita pelo município de Évora. O
documento demonstraria a dedicação da população ao governo central, através da homenagem ao
“casal” imperial, que é apresentado nas moedas como exemplo de bom entendimento conjugal,
“concordia Augustorum’ (cfr. RIC IV 3 p. 14 e 41-42).
Encarnação (idem) aponta que a homenagem poderia ter sido prestada por ocasião das núpcias
imperiais, acontecimento que se teria repercutido até ao Ocidente. Na realidade, desconhece-se
qualquer intervenção direta deste imperador ou desta imperatriz em relação a Évora ou mesmo à
Península: as dedicatórias a Gordiano (CIL II p. 1106) são efeito de atos públicos, pois que os
dedicantes, entidades administrativas, utilizam a expressão consagrada devotus numini maiestatique
eius (ETIENNE, R.1958, p.506-507 apud ENCARNÇÃO ibidem); mesmo as epígrafes a Tranquilina
apresentam a mesma característica: CIL II 2070 é mandada lavrar pelo conselho municipal de
Iliberris, CIL II 4607 pelo de Baetulo, CIL II 4620 pela resp. Gerundensis; em EE VIII 143 não se
explicita o nome do dedicante, mas a fórmula decreto decurionum patenteia o seu caráter público.
Esta inscrição, que em virtude do caráter conjectural da interpretação acabou por não ter recebido a
devida importância, foi já referida devido à nomenclatura: salienta-se que Tranquilina é aqui
designada santíssima (ETIENNE,R. p. 510 apud ENCARNAÇÃO, ibidem), adjetivo que apenas se
encontra em CIL II 4607; que surge com Gordiano III, pela primeira vez, na Península, o título de
dominus (ETIENNE, R. 1958, p. 509).
Datação: Ano 240 d. C.
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 380.
Catálogo Online: Não Registrado
304

Palavra-Chave: tria nomina, tribo,


Nº de Registro: 152
administração colonial.
A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada em Herdade da Igreja,
Santiago do Escoural, Montemor-o-Novo,
Portugal.
Paradeiro Évora, Rua do Raimundo, n.° 110 (em
abril de 1982 estava em posse da Senhora
Dona Joana Camões Banha Bezelgas
Ferreira).
Nº Inventário -
Tipologia Placa Honorífica
Material Mármore
Medidas 56,5 x 54 x 4/3 cm
Descrição: Placa honorífica (?) em mármore branco do tipo
Estremoz/Vila Viçosa, a que falta a parte inferior, partida
irregularmente. Não trabalhada atrás. Quebrado o ângulo
superior direito. Campo epigráfico, pouco rebaixado,
limitado por ranhura seguida de moldura do tipo gola direta
com diagonal marcada nos cantos.
B. Inscrição
(Quinto) IVLIO / D(ecimi) F(ilio) GAL(eria tribu)· / CORDO / IVNIO MA<V>[?]/5 RICO
III/[VIRO...]
Interpretação:
A Quinto Júlio Cordo, Júnio Maurico (?), filho de Décimo, da Tribo Galéria, triúnviro...
C. Comentário Histórico
Para José d’Encarnação (1984, p. 493), a epígrafe revela um senador originário de Évora, cujos
cargos deveriam ser indicados a seguir, por ordem direta. Contudo, cogita-se a leitura da função de
que ainda resta o início na pedra como a de triumvir monetalis ou capitalis. De acordo com a
interpretação de G. Alföldy, o autor concorda com a leitura Mauricus (considerando ter havido
esquecimento do V por parte do lapicida), nome conhecido na aristocracia senhorial, sublinhando o
seu possível parentesco — se não mesmo identidade — com Q. lulius Cordus, legado da Aquitânia
em 69 (Tacito Hist. I 76).
Encarnação avança nas análises e, recuperando os estudos de Kajanto, destaca que Mauricus é, de
fato, um cognome que identificou vários senadores, sendo mais frequente em África. Nesses termos,
o fato de o personagem usar após o cognome Cordus um gentilicio e outro cognome, em jeito de
cognomes também, atesta a sua categoria social, sobretudo se considerarmos que esses nomes lhe
poderão ter advindo por adoção. Os gentilicios são comuns no conventus e a zona de Évora teve uma
gens Iulia senatorial (IRCP, nº 382 e 383). De Cordus há outro testemunho em Beja (IRCP, n° 290),
cogita-se a hipótese de existir, aí, uma relação familiar.

Datação: Não Atribuída


D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 414.
Catálogo Online: Não Registrado
305

11. Salácia
Status Jurídico: Municipium

Enquadramento Cronológico: Século I a. C

Subgrupo Temático: Epígrafes Votivas

Nº de Registro: 215 Palavra-Chave: liberto, benemerência.


A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Não Encontrada
Paradeiro Não Encontrado
Nº Inventário -
Tipologia Placa
Material Mármore
Medidas 52 x 34 x 10 cm
Descrição: Placa de mármore branco cristalino de
boa qualidade, possivelmente oriundo das pedreiras
de Estremoz / Vila Viçosa. Tem representação de
uma árula moldurada, com inscrição, e, sob esta,
uma ovelha, em cima de um plinto, de que apenas se
tem uma porção – 18 x (33) cm –, com parte de duas
linhas de inscrição. A árula, que se apresenta
sobressaindo dum plano liso, mede 33 x 20/18,7/27
x 3,8 cm (do lado esquerdo) e 2,5 (à direita) cm.
Capitel com toros delineados (4 cm de diâmetro), de
corolas nos topos; frontão triangular (4 cm de altura
x 14,3 da base). A ovelha (23,5 cm de comprimento,
12,7 cm de altura máxima, 7 cm de largura do corpo,
3 cm na cabeça), como que caminha para a esquerda,
sobre um plinto (27 cm de comprimento x 2 de
altura), de cabeça baixa, dir-se-ia em posição
submissa de quem pode ir ser sacrificado; não há,
porém, devido ao desgaste, possibilidade de se saber
se teriam sido representados olhos ou boca
(estilização ou resultado do posterior desgaste?); a
identificação como ovelha deu-se pela ausência de
chifres. Pormenorizadamente esculpida, ainda que,
como se disse, haja sofrido algum desgaste: a lã
finamente sugerida por traços na parte inferior do
lombo; as patas de casco bem desenhado; rabo longo
e lãzudo, caído ao longo das patas traseiras. Todo o
conjunto está bastante deteriorado.
B. Inscrição
DEDICA/VIT / [Q(uintus] · PORCI(us) (POMPEI)]us (hedera) Q(uinti filius) . PO[RCIO
POMPEIO] / [LIB(erto)] · [H]EMERO[S]
Interpretação398:
Quinto Porcio Pompeio, filho de Quinto, (dedicou) a Porcio Pompeio Hemero, liberto.
C. Comentário Histórico
Trata-se de um monumento de fino recorte estético. A divindade está omitida, todavia, pode-se
contextualizar o monumento como de tipologia votivo e destinado a vigorar em um culto, porventura

398
Nossa proposta de interpretação.
306

um templete, em cujo frontispício estaria incrustada, sendo a divindade protectora da criação de


gado, nomeadamente lanígero. Em se tratando da divindade honrada, Hermes / Mercúrio seriam duas
boas possibilidades e se enquadrariam bem no contexto de uma cidade em que o comércio ocupou
papel preponderante.
Vale destacar a qualidade das lãs salacienses, descritas na documentação conhecida. Deste modo, em
meio a essa interpretação, o liberto manifestava a gratidão da família ao númen que muito contribuíra
para a enriquecer. O relevo dado à forma verbal dedicavit denota a importância que se lhe atribui, a
assinalar que se trata de dedicatória solene. Pelo texto e pela paleografia, atribui-se a datação no
século I a. C.
Datação: Século I a. C.
D. Referências Bibliográficas
Ficheiro Epigráfico (Suplemento da Revista Conimbriga) Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras.
Edição 93, 2012, nº 416.
Catálogo Online: Não Registrado
307

12. Epígrafes sem localização da Cidade

Enquadramento Cronológico: Século I d. C.

Subgrupo Temático: Epígrafes Funerárias

Nº de Registro: 161 Palavra-Chave: tria nomina, tribo.


A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada em Termo de Bencatel, Vila
Viçosa, Portugal.
Paradeiro MNAE – Pt
Nº Inventário E6349
Tipologia Placa-Epitáfio
Material Mármore
Medidas 38 x 45 x 11 cm
Descrição: Placa funerária em mármore branco do tipo
Estremoz/Vila Viçosa, muito patinado. Campo epigráfico
bastante rebaixado em relação à moldura, que é do tipo gola
direta com ranhura exterior.
B. Inscrição
Q(uintus) ROMANIVS / Q(uinti) · F(ilius) · CAL(eria tribu) · TVSCVS / AN(norum) · XVII
(decem septem) · BAEBIA / BOVTIA · F(ilio) . F(aciendum) · C(uravit)
Interpretação:
Aqui jaz Quinto Românio Tusco, filho de Quinto, da tribo Galéria, de dezessete anos. Bébia Búcia
mandou fazer ao filho.
C. Comentário Histórico
Como indica José d’Encarnação (1984, p. 547-548), o epitáfio é exemplo de aculturação linguística e
de integração social: a mãe indígena, o filho cidadão romano, que, por sinal, recebe como gentilicio
Romanius, o que denota seguramente o seu orgulho em ter sido elevado à cidadania. Possivelmente
seria este o único exemplo deste gentilicio na Península; nos índices do CIL VI (Roma) registam-se
mais de duas dezenas de casos, no masculino e no feminino, alguns relativos a libertos.
Tuscus é cognome latino que, no conventus Pacensis, se distribui predominantemente no nordeste:
testemunhos em Évora (IRCP, nº 405 e 407) e em Elvas (IRCP, nº 591). Do gentilicio Baebius é este
o único testemunho no conventus e mesmo na Lusitânia; no conjunto do GIL II encontra-se entre os
vinte gentilicios mais frequentes (Knapp, o.c., p. 221). Boutia é antropônimo pré-romano
(Untermann , Atlas, mapa 18, a que se deve juntar este exemplo), de que há outros testemunhos no
conventus. Há hipóteses da tribo Galéria aqui mencionada ser a de Évora. Pela ausência da invocação
aos Manes, pela indicação da tribo, pela simplicidade do formulário, pela onomástica e pela
paleografia — data-se o monumento no século I d. C.
Datação: Século I d. C.
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 467.
Catálogo Online: Não Registrado

Subgrupo Temático: Epígrafes Honoríficas


308

Palavra-Chave: onomástica,
Nº de Registro: 114
sacerdote imperial (Flâmine).
A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrado no Convento de Nossa Senhora
de Aracoelli, Alcácer do Sal, Portugal.
Paradeiro MMAS - Alcácer do Sal/PT
Nº Inventário -
Tipologia Bloco
Material Mármore
Medidas 21,5 x 25,5 x 14,2 cm
Descrição: Fragmento de bloco paralelepipédico, de mármore
branco com veios cinzentos. Apenas conserva parte do topo
original, encontrando-se partido nos lados esquerdo, direito, na
base e na espessura. Conserva vestígios de três linhas,
qualquer delas partida à esquerda e à direita, estando também
danificada no sentido longitudinal.
B. Inscrição

[---C]ORNEL[IO---] / [BOCCH[O---] / [---FLAMIN]I PROVINC[IAE---]


Interpretação:
A [---C]ornél[io---] Boc[o---] [---Flâmin]e da provínc[ia---]
C. Comentário Histórico
Como indicam A. M. Diogo Dias, João Carlos L. Faria e Marisol A. Ferreira (FE 52, 1996, p. 7), a
epígrafe pertence a um dos Cornelii Bocchi da cidade de Alcácer do Sal romana. Infelizmente o
estado de conservação impede uma caracterização mais segura. O suporte e o texto encontram-se
muito danificados, faltando o prae nomen e a filiação do indivíduo referenciado no documento. Tais
motivos impedem a atribuição a um dos C. Bocchi já conhecidos. Também faltam a terminação do
nomen e do cognomen, informações estas que ajudariam a caracterizar o monumento. Deste modo,
os epigrafistas baseiam sua leitura na terminação I de Flamini e estipulam a datação provável em
meados do século I d. C.
Datação: Século I d. C.
D. Referências Bibliográficas
Ficheiro Epigráfico (Suplemento da Revista Conimbriga) Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras.
Edição 52, 1996, nº 235.
Catálogo Online: Não Registrado
309

Subgrupo Temático: Epígrafes Votivas

Nº de Registro: 163 Palavra-Chave: tria nomina, tribo.


A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrado em S. Miguel da Mota, Terena,
Alandroal, Portugal.
Paradeiro Esteve no pórtico de S. Maria da Graça, em
Vila Viçosa. Perdeu-
Nº Inventário -
Tipologia Não Encontrada S/F
Material Não Encontrado
Medidas Não Encontradas
Descrição: Tipologia não referida. André de Resende inclui o
texto dentro dum retângulo com uma base estilizada.
B. Inscrição
Q(uintus) · SEVIVS · Q(uinti) · F(ilius) / PAP(iria tribu) · FIRMANVS / VOTVM DEO /
ENDOVOLICO /5 S(olvit) · L(ibens) · M(erito)
Interpretação:
Quinto Sévio Firmano, filho de Quinto, da tribo Papíria, cumpriu de bom grado a promessa ao deus
Endovólico.
C. Comentário Histórico
Para José d’Encarnação (1984, 604), trata-se de um texto de estrutura não habitual, pois indica em
primeiro lugar o nome do dedicante e só depois o teónimo, a meio da fórmula votiva, para mais com
uma grafia inusitada (com O e um L apenas) e precedido de deo para lhe acentuar o carácter
indígena.
O dedicante afirma claramente a sua condição de cidadão romano, eventualmente adscrito a Mérida
pela tribo Papíria dessa cidade. Na Península, o gentilicio Sevius apenas se atesta em Arroniz (CIL II
2972 = ILER 4915) e identifica o arquitecto eminiense do farol de Corufia (CIL II 2559 = 5639 =
ILER 250); Firmanus é, por seu turno, mais frequente (CIL II p. 1083), apesar de exemplo único no
conventus: Kajanto considera-o relacionado com a cidade de Firmum, na Península Itálica (p. 50),
não deixando, porém, de lhe atribuir também um sentido de firme, tenaz (p. 258).
Na fórmula final, note-se votum por extenso e a substituição do mais vulgar animo por merito,
palavra cuja tradução não é fácil, pois visa sublinhar a justeza da dedicatória face à benevolência da
divindade.
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
ENCARNAÇÃO, José d’. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo
da romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 526.
Catálogo Online: Não Registrado
310

Subgrupo Temático: Outros

Palavra-Chave: tria nomina,


Nº de Registro: 162
administração, acordo de hospitalidade.
A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrado em Juromenha, Alandroal,
Portugal.
Paradeiro MNAE
Nº Inventário s/n
Tipologia Placa
Material Bronze
Medidas 37, 5 x 29 x 0,4 cm
Descrição: Placa de bronze lisa, com moldura incompleta na
parte superior, também em bronze. A placa, se atendermos às
extremidades da moldura em viés, esteve moldurada em todo o
seu perímetro, como é habitual.
B. Inscrição
TI(berio) · CAESARE · V(quintum) · L(uco) · AELIO · SEIANO / CO(n)S(ulibus) / XII (duodecim
diebus ante) · K(alendas) · FEBR(uarias) / Q(uintus) · STERTINIVS . Q(uinti) · F(ilius) · BASSVS
/5 Q(uintus) · STERTINIVS · Q(uinti) · F(ilius) · RVFVS / L(ucius) · STERTINIVS · Q(uinti) ·
F(ilius) · RVFINVS / HOSPITIVM · FECERVNT · CVM · L(bcto) · FVLCINIO / TRIONE ·
LEG(ato) · TI(berii) · CAESARIS · LIBERIS / POSTERISQVE · EIVS · /10 L(ucius) · FVLCINIVS
· TRIO · LEG(atus) · Tiberii) · CAESARIS · Q (uintum) / STERTINIVM · Q(uinti) · F(ilium) ·
BASSVM . Q(uintum) . STERTINIVM / Q(uinti) . F(ilium). RVFVM . L(ucium) STERTINIVM .
Q(uintI) . F(ilium) · RVFINVM · LIBE/ROS · POSTEROSQ(eu) · EORVM · IN FIDEM ·
CLIENTELAMQ(eu) / SVAM · LIBERORVM · POSTERORVM · SVORVM /15 RECEPIT
Interpretação:
Aos doze dias antes das calendas de Fevereiro (21 de Janeiro) do ano em que foram cônsules Tibério
César, pela quinta vez, e Lúcio Élio Sejano (31 d. C.), Quinto Estertínio Basso, filho de Quinto,
Quinto Estertínio Rufo, filho de Quinto, Lúcio Estertínio Rufino, filho de Quinto, fizeram um pacto
de hospitalidade com Lúcio Fulcínio Trião, legado de Tibério César, seus filhos e descendentes.
Lúcio Fulcínio Trião, legado de Tibério César, aceitou tal preito de fidelidade e recebeu como seus
clientes — e de seus filhos e descendentes — Quinto Estertínio Basso, filho de Quinto, Quinto
Estertínio Rufo, filho de Quinto, Lúcio Estertínio Rufino, filho de Quinto, assim como seus filhos e
descendentes.
C. Comentário Histórico
Seguindo os estudos de José d’encarnação (1984, p. 556-557), trata-se de um texto contratual —
datado de 21 de Janeiro e não de 22, como por lapso escrevem Lambrino e Balil — feito
necessariamente em duplicado, destinava-se a ser guardado como documento, colocado talvez em
lugar de relevo da casa. Tem, por isso, duas partes distintas: na primeira, os clientes afirmam a sua
intenção de se colocarem — a si, seus filhos e descendentes — sob a proteção do legado imperial; na
segunda, o legado manifesta a sua concordância, aceitando o ato de fidelidade e incluindo os
requerentes no número dos seus clientes; aliás, o compromisso de Trião envolve também a sua
família (filhos e descendentes), ou seja, as duas partes fazem um pacto de futuro e não apenas
momentâneo.
Avançando pelo conteúdo das expressões utilizadas, o autor compreende que o termo Hospitium
fecerunt não sugere um ato oficial; trata-se, sim, dum contrato privado, de ligame pessoal,
independentemente do fato de um dos contratantes desempenhar um cargo público. Encarnação
destaca que tais patos ligam-se, muito provavelmente, a hábitos das populações pré-romanas da
311

Península: a necessidade de defesa (política, militar, jurídica), os problemas de subsistência


económica, a simples amizade ou gratidão podem determinar a sua realização, tal como acontecerá
nos tempos medievais. A inexistência duma sociedade perfeitamente escalonada — administrativa,
jurídica e politicamente — induz obviamente a práticas deste gênero.
Se hospitium envolvia ou não uma relação espacial torna-se difícil sabê-lo. Contudo, é provável que
os «hóspedes» se transferissem para a residência do protetor ou — o que nos parece mais verosímil
— tendo posto os haveres à sua disposição, passariam a considerar-se teoricamente (e de fato) seus
«hóspedes», sem que, para tal, houvesse lugar para mudança de residência. A fórmula usada por
Trião completa a anterior: Trião recebeu os três irmãos in fidem clientelamque. Por conseguinte,
alarga-se aqui o conceito inicial de hospitium. Alarga-se e precisa-se, sem que, no fundo, o seu
conteúdo se altere. Assim, para além da inclusão na clientela, o vocábulo fides acentua o caráter de
juramento, fidelidade à palavra dada. Fidelidade pessoal e, sobretudo, fidelidade política.
Datação: 21 de janeiro de 31 d.C.
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Inscrições romanas do Conventus Pacensis: subsídios para o estudo da
romanização. Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras, 1984, nº 479.
Catálogo Online: Não Registrado
312

Conventus Scallabitanus

1. Aeminium
Status Jurídico: Cidade Estipendiária

Enquadramento Cronológico: Datação não atribuída.

Subgrupo Temático: Epígrafe Votiva

Palavra-Chave: decreto dos


Nº de Registro: 138
decuriões (?)
A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada no entulho do criptopórtico de
Aeminium, Coimbra, Portugal.
Paradeiro MNMC - Coimbra/Pt
Nº Inventário -
Tipologia Árula
Material Calcário
Medidas (18,2) x 11,2 x 8 cm
Descrição: Trata-se da parte superior de um árula em calcário.

B. Inscrição
Genio / Basele/cae s/[acrum?] / - - - - - -
Interpretação:
Consagrado ao Gênio Baseleco (?)
C. Comentário Histórico
Apesar do estado fragmentado da incrição, levantamos a hipótese de ser o registro de uma divindade
toponímia tutelar.

Datação: Não Atribuída


D. Referências Bibliográficas
OLEIRO, J.M.B. “O Criptopórtico de Aeminium.” Revista Humanitas 7-8 7-8, 1955, pp. 151–60.

Catálogo Online: HEpOnl 20064


313

Subgrupo Temático: Epígrafe Honorífica

Palavra-Chave: tria nomina,


Nº de Registro: 139
administração colonial.
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrada em Coimbra, Portugal.
Paradeiro Não Encontrado
Nº Inventário -
Tipologia Não Encontrada S/F
Material Não Encontrado
Medidas Não Encontradas
Descrição: Não Encontrada
B. Inscrição

L(ucius) Licinius C(aius) Iulius a(ediles?) Aulus Sedillus [---]


Interpretação:
Lucio Licinio, Caio Julio, edis. Aulo Sedillo [---]
C. Comentário Histórico
-

Datação: Não Atribuída


D. Referências Bibliográficas
AE 1959, 113
Catálogo Online: HEpOnl 20065
314

2. Aritium Vetus
Status Jurídico: ?

Enquadramento Cronológico: Datação não atribuída.

Subgrupo Temático: Epígrafe Honorífica

Palavra-Chave: administração
Nº de Registro: 219
colonial, administração provincial.
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrada em Alvega, Abrantes, Santarem,
Portugal.
Paradeiro Desconhecido
Nº Inventário -
Tipologia Não Encontrada S/F
Material Não Encontrado
Medidas Não Encontradas
Descrição: Não Encontrada
B. Inscrição – FUNERÁRIA

aedilis IIvir flamen prov(inciae) Lusitaniae

Interpretação:
Edil, Duunviro, Flâmine da Província da Lusitânia.
C. Comentário Histórico
-

Datação: Não Atribuída


D. Referências Bibliográficas
Hispania Epigraphica. Madrid: Universidad Complutense de Madrid. nº 4, 1994, 1080.

Catálogo Online: HEpOnl 23105


315

3. Bobadela
Status Jurídico: ?

Enquadramento Cronológico: Século I d. C.

Subgrupo Temático: Epígrafes Honoríficas

Nº de Registro: 211 Palavra-Chave: patronato


A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrada em Bobadela, Portugal.
Paradeiro A cópia encontra-se embutida no cunhal
esquerdo da torre.
Nº Inventário -
Tipologia Não Encontrada
Material Não Encontrado S/F
Medidas Não Encontradas
Descrição: Trata-se de uma inscrição apócrifa, isto é, uma
cópia do original. Encontra-se gravada em uma das pedras que
formam a torre sineira, construção visivelmente posterior ao
corpo da igreja.
B. Inscrição

Iuliae, Cn(aei) f(iliae) / flavinae / Iulius / Rufus / patronae / d(onvm) d(edit) ou d(at) d(edicat)

Interpretação:
Julio Rufo, obsequiou a sua protetora Júlia Flavina, filha de Gneu.
C. Comentário Histórico
A inscrição destaca uma questão importante, a saber, as especificidades das relações de patronagem
na província da Lusitânia. Como indica Regina Anacleto (1981, p. 35-37), se seguirmos os indicios
epigráficos, a frequência do gentilício IVLIA destaca que Bobadela foi uma civitas politicamente
próxima da gens Julia. No presente caso, RVFVS é um liberto que demonstra sua gratidão à patrona
IVLIA por dar-lhe entrada em seu grupo gentilício, vinculando-o à sua clientela e dando-lhe
proteção. Nessa relação, a contrapartida de RVFVS enquanto cliente foi cumprida ao expor
publicamente a gratidão à sua protetora.
Deste modo, a epígrafe aponta para a presença de uma Instituição tipicamente romana, o patronato.
Esta promove a integração social dos indivíduos que, uma vez integrados em famílias bem situadas
politicamente, comungam do regime de comunhão de interesses caro à cultura política provincial.
Acompanhando os argumentos da autora, consideramos segura, ainda que ampla, a datação da
inscrição no apogeu dos Júlios, à exceção do dedicante que, por falta do prae nomem, tem a datação
aproximada no tempo dos Antoninos.
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
ANACLETO, R. Bobadela Epigrafica. Coimbra: Epatur, 1981, nº 2, pp. 25-37.
Catálogo Online: Não Registrado
316

Palavra-Chave: tria nomina, sacerdote


Nº de Registro: 213
imperial (Flamínica).
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrada em Bobadela, Portugal.
Paradeiro Desaparecido
Nº Inventário -
Tipologia Não Encontrada
Material Não Encontrado S/F
Medidas Não Encontradas
Descrição: Não se possui informações sobre a descrição do
monumento. Conhece-se apenas a legenda avaliada por
Hübner como bem copiada.
B. Inscrição
PIETATI . SACRVUM / IVLIA . MODESTA . EX . PATRIMONIO . SVO / IN . HONOREM .
GENTIS . SEX(ti) . APONI / SCAEVI . FLACCI . MARITI . SVI . FLAMINIS / 5 PROVINC(iae) .
LVSIT(aniae) . ET . IN . HONOREM / GENTIS . IVLIORVM . PARENTVM . SVORVM

Interpretação:
Consagrado à Piedade. Júlia Modesta, a expensas suas (promoveu esta homenagem) em honra da
gens do seu marido, Sexto Aponiscevo Flaco, flâmine da província da Lusitânia, e em honra da gens
dos seus progenitores, ambos júlios.
C. Comentário Histórico
Nesta epígrafe podem-se destacar dois pontos importantes: (1) o culto à pietas e (2) a honra de
Modesta à família de seu marido. Ao buscar o significado do vocábulo pietas vê-se que refere-se a
abstração divinizada do sentimento de respeito para com os deuses, os pais, a família, os amigos e,
em diversas vezes, usado para designar o respeito a terra que se vive, a província que pertence e o
próprio Estado (ANACLETO, R. 1981, p. 67).
Nessa lógica, é por ser pius que o Imperador que garante a sobrevivência do Estado, sua perenidade.
Roma é eterna porque quem a governa, sendo pius é felix, bem sucedido.Desta feita, o Imperator
enquanto pius, sairá triunfante de todas as contendas, sendo um Victor Aeternvs Invictus. Todavia,
caso os deuses (que zelam pela ordem natural das coisas) não tutelarem o Imperador, a segurança do
império será abalada. Assim sendo, cabe ao Imperador ser, antes do mais, pius. Contudo, Anacleto
assinala: "Donde a preocupação de, sobretudo no Baixo Império, quando as hostes mais se
encarniçavam contra o mundo romano, o de incluírem nos seus títulos o de PIVS. Deixará de o ser
quando, por exemplo, perder o temor dos deuses e não tomar auspicia para, nos atos da governação,
conhecer a sua vontade e agir de conformidade com ela. Então será pius, com todas as funestas
consequências implícitas no odioso termo" (op. Cit, p. 68).
Na segunda questão em torno do vocábulo, Ivlia Modesta recorre à Pietas para sacrificar em honra
de sua gens e a de seu marido e, com isso, tornar-se grata aos olhos da deusa e obter dela favores para
si e seus familiares. Uma terceira questão extraída do texto sublinha e reforça a hipótese de Bobadela
ter sido um lugar de predomínio dos IVLII, nas palavras da autora, "um autêntico feudo da sua
GENS, que por descendência ou clientela terá alcançado uma vasta rede de interesses, relações e
influências. Um dos aspectos mais relevantes desta questão foi o casamento de Modesta com o
flâmine da Lusitânia, que por inerência do cargo, deveria habitar em Mérida". E acrescenta, "de tal
casamento não pouco prestígio deve ter advindo à Gens Ivliorvm e particularmente a Modesta,
elevada às honras do sacerdócio flamínico, zelador, entre outras funções, do culto imperial. E tanto
mais assim é que a própria pietas, objeto da consagração da flamínica bobadelense, mais de uma vez
tomou os traços fisionômicos da viúva do primeiro Augusto e mãe do segundo, Lívia, cultuada sob a
designação de Ivlia Avgusta" (op cit, p. 68).
Datação: Século I d. C.
D. Referências Bibliográficas
317

ANACLETO, R.. Bobadela Epigrafica. Coimbra: Epatur, 1981, nº 6, pp. 63-69.


Catálogo Online: Não Registrado

Subgrupo Temático: Epígrafes Monumentais

Palavra-Chave: sacerdote imperial


Nº de Registro: 210
(Flamínica).
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrada em Bobadela, Oliveira do
Hospital, Coimbra, Portugal.
Paradeiro Encontra-se gravado na sobreverga da porta
principal da Igreja.
Nº Inventário -
Tipologia Não Encontrada
Material Não Encontrado S/F
Medidas Não Encontradas
Descrição: O monumento atual consiste em uma cópia do
original perdido por desgaste, vide as informações dos autores
do século XVII, Brás Garcia de Mascarenhas, na obra
'Informação Paroquial' de 1721, e o padre Luís Cardoso em
seu 'Diccionario Geografico', de 1751.
B. Inscrição
Splendidissimae civitati Ivlia Modesta / flamínica
Interpretação:
A flamínica Júlia Modesta (ergueu esse monumento) à mais esplêndida das cidades.
C. Comentário Histórico
Segundo Anacleto, (1981, p. 23-27), a inscrição revela a importância da cidade no período romano,
uma vez que destaca a existência de uma sacerdotisa de elevada condição religiosa no culto imperial,
a saber, uma flamínica. Tal fato pressupõe a existência de um templo apropriado. A personagem,
Julia Modesta, esposa do flamem da Lusitânia, figura também em outra inscrição procedente de
Bobadela. Tais indícios, amparados pelo adjetivo 'esplendíssima', possibilitam conjecturar que se
trata de uma cidade de aspecto monumental. No tocante ao culto Imperial, o texto pode-se referir à
Roma, associada à pessoa augusta do Imperador em toda a sua perenidade. Frente a isso,
concordamos com Anacleto ao considerar a lápide datável na época de Augusto, nos primórdios do
Império.
Datação: Século I d. C.
D. Referências Bibliográficas
ANACLETO, R. Bobadela Epigrafica. Coimbra: Epatur, 1981; Hispania Epigraphica. Madrid:
Universidad Complutense de Madrid. nº 13, 2003/2004, p. 976.
Catálogo Online: Não Registrado
318

Nº de Registro: 212 Palavra-Chave: benemerência.


A. Localização e Dados Gerais
Procedência Bobadela, Portugal.
Paradeiro MRA - Arganil/Pt
Nº Inventário 26
Tipologia Bloco
Material Granito S/F
Medidas Na frente 57 cm e atrás 64 cm.
Descrição: Bloco de granito de cor cinzenta. Está partido no
topo. A superfície é lisa e não possui nenhuma moldura ou
friso.
B. Inscrição

[Rom(ae) et] Aug(usto) Elau[ius / et s]ui parente[s / /ex pa]trimonio / [po]uervnt

Interpretação:
Elávio e os seus progenitores ergueram à sua custa (este monumento) em homenagem a Roma e
Augusto.
C. Comentário Histórico
Como indica Anacleto (1981, p. 60-62.), o texto constitui-se em uma confirmação categórica sobre o
desenvolvimento do culto imperial na região que, unida a outros achados (cabeça monumental
laureada, presente no Museu Machado de Castro, e inscrições atribuídas a Flâmines), dão contorno
mais específicos sobre as especificidades do culto em Bobadela.
A inscrição é vista, desde modo, como uma importante expressão da mística teológica da investidura
imperial, a saber, a personificação de Roma em Augusto, a junção da identidade deste naquela.
Ambos tornam-se uma só pessoa, isto é, a AETERNITAS IMPERII assegurada pelo VICTOR
AETERNVS - ideia presente no início do século I d. C., "época áurea do culto imperial e da fusão
mística de Roma com Augusto". Outra questão pertinente consiste na percepção, pelo texto, de que o
culto não é rendido apenas pela província, conventus, municipium ou civitas, mas uma família
particular: pais e filhos que financiam a obra com seus recursos. Tal iniciativa destaca uma
demonstração de profunda identificação com a cultura romana, próximo da devotio.
Datação: Século I d. C.
D. Referências Bibliográficas
ANACLETO, R. Bobadela Epigrafica. Coimbra: Epatur, 1981, nº 5, pp. 55-62.
Catálogo Online: Não Registrado
319

4. Olisipo
Status Jurídico: Municipium

Enquadramento Cronológico: Século I - II d. C.

Subgrupo Temático: Epígrafes Funerárias

Nº de Registro: 123 Palavra-Chave: trianomina, tribo.


A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrado em Cascais, Portugal.
Paradeiro Desconhecido
Nº Inventário -
Tipologia Não Encontrada
S/F
Material Não Encontrado
Medidas Não Encontradas
Descrição: Trata-se de uma inscrição funerária que consta no
Anônimo Napolitano.
B. Inscrição
Q(uintus) . CAESIVS Q(uinti) . F(ilius) . GAL(eria tribu) / FVNDANVS AN(norum) XXV (quinque
et viginti) H(ic) . S(itus) . E(st)
Interpretação:
Aqui jaz Quinto Césio Fundano, filho de Quinto, da tribo Galéria, de vinte e cinco anos.
C. Comentário Histórico
De acordo com os estudos de José d'Encarnação (2001, p. 34-35), o defunto é cidadão de Olisipo pela
tribo Galéria. O gentilício Caesius (IRCP, 1984, nº 17, p. 466) é frequente em toda a península
ibérica, registrando-se, quando usado no feminino, com funções de cognome - o que pode atestar a
sua popularidade logo nos primórdios dos processos de romanização e indicar laços familiares
expressados de forma deficiente.
Já em relação ao cognome Fundanus, o autor aponta a posição de dois autores. Para J. Cardim
Ribeiro (1982-1983, 259-262 e figura 40), teria a ver com a sua distribuição geográfica - com
destaque para a África e, afinal, também para o sul da Lusitânia – “não será viável [...] contrapor,
como elementos-base na formação deste antropônimo 'o substantivo masculino fundus, propriedade,
atendendo inclusive à existência ai de grandes propriedades”. Outra posição destacada refere-se à
proposta de Kajanto, que o relaciona com a cidade itálica de Fundi (1965, p.182). Encarnação
salienta, ainda, o arredondamento da idade em lustros, tal como nos acontece ainda hoje na
linguagem corrente. Segundo o autor, não há opinião unânime entre os historiadores para explicar o
arredondamento da idade romana de cinco em cinco. Pela estrutura textual, designadamente pela
ausência da invocação aos Manes e da fórmula S.T.T.L.- é monumento datável dos primórdios do
século I d. C.

Datação: Meados do século I d. C.


D. Referências Bibliográficas
Hispania Epigraphica. Madrid: Universidad Complutense de Madrid. nº6, n. 1053,
D’ENCARNAÇÃO, J. Roteiro Epigráfico Romano de Cascais (2ª edição). Cascais: Câmara
Municipal de Cascais, 2001, nº 5.

Catálogo Online: Não Registrado


320

Nº de Registro: 124 Palavra-Chave: tria nomina, tribo.


A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrado em Pau Gordo, Estoril, Lisboa,
Portugal.
Paradeiro MCCG - Guimarães, Pt.
Nº Inventário -
Tipologia Cupa
Material Mármore
Medidas S/F
44 x 44,5 x 87 cm
Descrição: Cupa funerária de mármore rosáceo conquífero de
S. Domingos de Rana, adaptada para servir de bebedouro para
animais (por isso encontra-se aplanada na zona superior, que
antes era abaulada). Tem inscrição quase completa, num dos
topos. A ligação com o soco está sugerida lateralmente por
meio de uma faixa de 14 cm de largura.
B. Inscrição
M(arcus) CLODIVS / M(arci) . F(ilius) . GAL(eria tribu) AVITIVS / NA(norum) . XXV (quinque
el viginti) H(ic) . S(itus) [E(st)]
Interpretação:
Aqui jaz Marco Clódio Avito, filho de Marco, da tribo Galéria, de vinte e cinco anos.
C. Comentário Histórico
Como indicam os estudos de José d’Encarnação (2001, pp. 38-40), tanto Clodius como Avitus são
antropônimos latinos frequentes na epigrafia peninsular. O defunto em questão é cidadão romano de
Olisipo, inscrito na tribo Galéria. Ressalta-se, ainda, a existência de um homônimo em Sintra,
embora de praenomen Publius. Ajustando o enfoque para Olisipo, memora-se ainda uma Clodia
Montana, filha de Tito e mulher de Pisão. Por fim, destaca-se que, até o momento, esses são os
únicos testemunhos desta gens no ager Olisiponensis.
Pela paleografia e dada a simplicidade do texto, é monumento datável do século I d. C.
Datação: Século I d. C.
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Roteiro Epigráfico Romano de Cascais (2ª edição). Cascais: Câmara
Municipal de Cascais, 2001, nº 7, pp. 38-40.
Catálogo Online: Não Registrado
321

Nº de Registro: 125 Palavra-Chave: tria nomina, tribo.


A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrado na Capela de S. Paulo, Carrascal
de Manique, Alcabideche, Lisboa, Portugal.
Paradeiro Desconhecido
Nº Inventário -
Tipologia Placa-Epitáfio
Material Não Encontrado
S/F
Medidas Não Encontradas
Descrição: Monumento de tipologia desconhecida, cuja
inscrição funerária consta no Anônimo Napolitano, encimada
pela expressão "A Sam Paulo". A partir da inscrição deduz-se
que estamos perante uma placa, ou, mais verossimilmente, o
fragmento de uma estola, talvez reutilizado na construção e
que tenha ficado com a inscrição para o lado de fora.
B. Inscrição
L(ucius) . CORANIVS L(ucii) . F(ilius) . GAL(eria tribu) . / BVBBVS [sic] HIC S(itus) E(st)
Interpretação:
Aqui jaz Lúcio Coânio Bubo, filho de Lúcio, da Tribo Galéria.
C. Comentário Histórico
Como destaca José de Encarnação (2001, pp. 41-42), trata-se de uma onomástica inteiramente alheia
à Península Ibérica. Nesses termos é possível incluir o cidadão romano Lucio Coânio Bubo entre os
primeiros colonos de Olisipo. A simplicidade do texto e a circunstancia de parte da fórmula final
estar por extenso sugerem uma datação da primeira metade do século I da nossa era.
Datação: Primeira metade do século I d. C.
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Roteiro Epigráfico Romano de Cascais (2ª edição). Cascais: Câmara
Municipal de Cascais, 2001, nº 8, pp. 41-42.
Catálogo Online: Não Registrado
322

Nº de Registro: 126 Palavra-Chave: tria nomina, tribo.


A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrado no Casal de Santa Teresinha,
Alapraia, Estoril, Portugal.
Paradeiro MCCG - Cascais/ Pt
Nº Inventário -
Tipologia Cupa
Material Mármore
Medidas 45x45 cm no topo epigráfico; comprimento:
89 cm. S/F
Descrição: Cupa de mármore róseo conquífero de S.
Domingos de Rana, com inscrição quase completa num dos
topos, identificada por F. Alves Pereira no cunhal de um
tanque particular no local de encontro. Quase completa,
apresenta ligeiras esmurradelas nas arestas, tendo a maior
destas afetado a parte inicial de todas as linhas da inscrição.
Quando da reutilização, o campo epigráfico foi coberto com
camada de cal e cimento de difícil remoção.
B. Inscrição
M(arcus) . TORINVS . G(aii) / [F(ilius)] [G]AL(eria tribu) . VICTOR . H(ic) [S(itus)] / [E(st)]
[IV?]LIA G(aii) F(ilia) AM/[OO]ENA . A S(e) . F(aciendum) . C(uravit).
Interpretação:
Aqui jaz Marco Tório Vítor, filho de Gaio, da tribo Galéria. Júlia Amena mandou fazer por sua
iniciativa.
C. Comentário Histórico
Retomando as considerações feitas em 1995, José d’Encarnação (2001, pp. 74-77) destaca que se
trata de um testemunho da gens Toria (e não Vitoria). A presença deste gentilício reforça os
argumentos que apontam no sentido de ser de origem itálica a primeira população romana da
chamada península de Lisboa. Este testemunho se une a outros dois testemunhos desta mesma
família na epigrafia península: Q. Torius Culleo, que foi um notável e benemérito procurador
imperial da província da Bética, a quem, provavelmente no século II da nossa era, a população de
Cástulo prestou solene homenagem (ILER 1417); e um liberto, Torius Zosimus, que, a expensas
suas, manda erigir uma estátua a Vênus Augusta (IRC III 18 = HEp 4, 396) em Ampúrias.
Sendo a área de maior expressão deste nome a Itália do Norte e Central, a presente epígrafe auxilia
na compreensão do povoamento do ager Olisiponensis. Estando esta análise correta, as Iuliae
Amoenae se poderão facilmente relacionar com o estrato populacional pré-romano, esta ligação com
os Torii é mais um indício do amplo relacionamento entre os dois estratos populacionais. O cognome
Victor - de origem latina e muito frequente, designadamente em África está bem representado na
Península Ibérica (ILER, p. 765). Com base nas características paleográficas e atendendo à
simplicidade do texto, poderemos datar o monumento da segunda metade do século I d. C.
Datação: Segunda metade do Século I d. C.
D. Referências Bibliográficas
Hispania Epigraphica. Madrid: Universidad Complutense de Madrid. nº 4, 1994, 396; Hispania
Epigraphica. Madrid: Universidad Complutense de Madrid. nº 6, 1996, 1050, D’ENCARNAÇÃO, J. Roteiro
Epigráfico Romano de Cascais (2ª edição). Cascais: Câmara Municipal de Cascais, 2001, nº 21, pp. 74-77.
Catálogo Online: Não Registrado
323

Nº de Registro: 127 Palavra-Chave: tria nomina, exército.


A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrado em Caparide, São Domingos de
Rana, Lisboa, Portugal.
Paradeiro MNA – Lisboa/Pt
Nº Inventário -
Tipologia Cupa
Material Mármore S/F
Medidas Topo: 44x43, Comprimento: 66 cm
Descrição: Cupa incompleta de mármore róseo de S.
Domingos de Rana. Não se conhece o contexto arqueológico
inicial. Contém num dos topos uma inscrição funerária
incompleta. Não restam vestígios do soco.
B. Inscrição
[IVLI?]A . G(aii) . F(ilia) AMO/[ENA] H(ic) . S(ita) . E(st) . Q(uintus) [APR?]ONIVS . AVITVS /
[V]ET(eranus) . LEG(ionis) XXII (vigesimae secundae) [PR(imigeniae) / 5 P(iae) F(idelis)]
F(aciendum) [C(uravit)]
Interpretação:
Aqui jaz Julia (?) Amena, filha de Gaio. Quinto Aprónio (?) Avito, veterano da 22ª Legião
Primigénia Pia Fiel mandou fazer.
C. Comentário Histórico
A presente epígrafe, ao não aludir a um possível grau de parentesco entre o dedicante da inscrição e a
defunta que ela memora, parece documentar uma circunstância que se generalizou no Império, a
saber, ao terminar o tempo de serviço militar, o soldado não regressava à terra natal, criando laços de
amizade e até familiares com as gentes da região onde servira (ENCARNAÇÃO, J. d’ 1981, p. 306).

Partindo deste princípio, Encarnação citando Cardim Ribeiro (ibidem, p. 306), destaca que a leitura
Apronius, supõe que o veterano fora mais facilmente relacionável com uma ambiência mediterrânea
(acaso africana) do que com uma ambiência de cariz pré-latino. Em contrapartida, a Amena
pertenceria à população local. Pela paleografia, pela estrutura textual e pela designação da legião, é
datável da última década do século I d. C. ou dos primórdios do século II.
Datação: Entre os séculos I e II d. C.
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Roteiro Epigráfico Romano de Cascais (2ª edição). Cascais: Câmara
Municipal de Cascais, 2001, nº 11, 47-49.
Catálogo Online: Não Registrado
324

Nº de Registro: 128 Palavra-Chave: tria nomina, tribo.


A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrado na Igreja Matriz de Alcabideche,
Lisboa, Portugal.
Paradeiro Está embutida na parece norte da Igreja
Matriz de Alcabideche.
Nº Inventário -
Tipologia Cupa S/F
Material Mármore
Medidas Não Encontradas
Descrição: Cupa funerária de mármore roseo de S. Domingos
de Rana. Não se podem calcular as dimensões dada a
reutilização.
B. Inscrição
G(aius) . IVLIVS GAL(eria tribu) R[V]/FVS . AN(norum) . XXV (quinque et viginti) / H(ic) S(itus)
E(st) / ET . IVLIA . G(aii) . F(ilia) . FVN[DA]/5 NA . H(ic) [S(ita) E(st)]
Interpretação:
Aqui jaz Gaio Júlio Rufo, da tribo Galéria, de vinte e cinco anos, e aqui jaz Júlia Fundaria, filha de
Gaio.
C. Comentário Histórico
Trata-se de mais um testemunho da gens Iulia, adscrita ao municipium de Olisipo pela tribo Galéria.
José d’Encarnação (2001, pp. 53-54) destaca que a omissão da filiação denuncia uma provável
origem indígena. No caso em tela, são dois defuntos que pertencem a mesma gens. Fundana pode ser
irmã ou filha de Rufo, uma vez que nada garante que o Gaio Júlio de que é filha seja o mesmo
memorado pelo epitáfio. O fato de não indicar a idade poderá significar que o monumento foi
mandado fazer pela filha, para o pai e para si própria ainda em vida. Pela paleografia e pela
simplicidade textual, data-se na primeira metade do século I d. C.
Datação: Século I d. C.
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Roteiro Epigráfico Romano de Cascais (2ª edição). Cascais: Câmara
Municipal de Cascais, 2001, nº 13, pp. 53-54.
Catálogo Online: Não Registrado
325

Nº de Registro: 129 Palavra-Chave: tria nomina, tribo.


A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrado no Jardim do Palácio dos Condes
de Pombeiro, Lisboa, Portugal.
Paradeiro A peça encontra-se cimentada embaixo e
encostada a uma das paredes da casa de
arrecadações do Jardim.
Nº Inventário -
Tipologia Cipo
S/F
Material Mármore
Medidas 120 x 64 x 42 cm
Descrição: Cipo funerário de mármore róseo. O monumento
está praticamente intacto, possuindo apenas leves e naturais
escoriações nas arestas. Poderá ter sido aproveitado como pia,
porquanto a parte superior se apresenta escavada, embora de
paredes interiores não alisadas.
B. Inscrição
DIS MAN[I]BVS / L(ucii) LICINI(i) / F(ilii) GAL(eria tribu) RVFI/5 AN(norum) XXX (tringinta) .
H(ic) . S(itus) / MATER . F(ecit)
Interpretação:
Aos deuses Manes de Lúcio Licínio Rufo, filho de Lúcio, da tribo Galéria, de trinta anos. Aqui jaz. A
mãe fez.
C. Comentário Histórico
Como indica Encarnação (2001, nº 16), Licinius é um gentilício bem representado na Península
Ibérica, inclusive na Lusitânia ocidental, e Rufus é um cognome latino já encontrado na região de
Cascais. No presente caso, depara-se com uma dedicante feminina, que se esconde anonimamente na
menção do grau de parentesco: mater. E se de fato a gravação estiver correta, em vez de faciendum
curavit, está somente fecit, mais se acentua o papel relevante que a mulher parece ter tido, a julgar
pela epigrafia, nesta primeira sociedade olisiponense. Pela paleografia, pela tribo Galéria e pela
estrutura do texto, o monumento é datável em meados do século I d. C.
Datação: Século I d. C.
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Roteiro Epigráfico Romano de Cascais (2ª edição). Cascais: Câmara
Municipal de Cascais, 2001, nº 16, pp. 61-63.
Catálogo Online: Não Registrado
326

Nº de Registro: 130 Palavra-Chave: tria nomina, tribo.


A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrado em Caparide, S. Domingos de
Rana, Lisboa, Portugal.
Paradeiro Desconhecido
Nº Inventário -
Tipologia Não Encontrada
S/F
Material Não Encontrado
Medidas Não Encontradas
Descrição: Monumento de tipologia desconhecida, cuja
inscrição funerária, consta do Anônimo Napolitano com a
informação "em Caparil". Nada se sabe do seu paradeiro.
B. Inscrição
DIS / MANIBVS / M(arci) . LOREI(i) M(arci) . F(ilii) . GAL(eria tribu) / MATERNI AN(norum)
XXV (quinque et viginti) /5 CAESIA AVITA / MATER . F(aciendum) . C(uravit)
Interpretação:
Aos deuses Manes de Marco Loreiro Materno, filho de Marco, da tribo Galéria, de vinte e cinco
anos. Césia Avita, a mãe, mandou fazer.
C. Comentário Histórico
Hübner assinalara a semelhança entre esta epígrafe e o epitáfio de Lúcio Loreio Máximo registrado
no CIL II 309, sendo ambos os exemplares incluídos entre os monumentos olisiponenses. Tanto o
caso citado no CIL como a presente inscrição é contemporâneo e foram, ao o que tudo indica,
encomendados pela família na mesma oficina. Um dos argumentos de sustentação desta hipótese
consiste na observação dos seguintes traços comuns: a invocação aos deuses Manes por extenso e
nome do defunto em genitivo. Em ambos os casos se memoram jovens e, apesar de omissos, no texto
de Máximo foram provavelmente os pais os dedicantes; no caso presente, é apenas a mãe, o que,
aliás, não é anormal na região (vide os exemplos em ENCARNAÇÃO, J. d’ 2001, nº 12, 16 e 19).
José d’Encarnação destaca que, na Península, há ainda o testemunho de Loreia Laeta na província
espanhola de Badajoz (ILER 2202) e em Roma (CIL VI 21512). Frente a isto, os Loreii são
considerados estranhos ao território peninsular, consistindo em colonos ou descendentes dos
primeiros colonos. Já Maternus é um cognome de origem latina, de frequente ocorrência, mesmo em
contexto indígena (cf IRCP, p. 193). O defunto é cidadão romano de Olisipo pela tribo Galéria e
pode ser incluído no número dos descendentes dos primeiros colonos chegados ao território. Assim,
o estudo da onomástica encontra, aqui, um exemplo de cognomes típicos dos primeiros momentos da
Romanização. Nesses termos, pela sua estrutura, o texto pode ser datado em meados do século I d. C.
Datação: Século I d. C.
D. Referências Bibliográficas
Hispania Epigraphica. Madrid: Universidad Complutense de Madrid. nº6, 1996, nº 1056,
D’ENCARNAÇÃO, J. Roteiro Epigráfico Romano de Cascais (2ª edição). Cascais: Câmara
Municipal de Cascais, 2001, nº 17, pp. 64-65.

Catálogo Online: Não Registrado


327

Nº de Registro: 131 Palavra-Chave: tria nomina, tribo.


A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrado em Quinta da Bela Vista,
Alapraia, Estoril, Lisboa, Portugal.
Paradeiro MCCG - Cascais/ Pt
Nº Inventário -
Tipologia Fragmento de Estela
Material Mármore
Medidas (54,5) x 44 x 25 cm
S/F
Descrição: Fragmento de estela funerária paralelepipédica, de
mármore róseo, conquífero, de S. Domingos de Rana. Resta a
parte superior do monumento com a inscrição. Todas as faces
foram alisadas, com exceção da posterior, que se apresenta
apenas desbastada. Embora se desconheça como o monumento
terminaria na parte superior, pode ser comparado com as
estelas de topo arredondado, por vezes com decoração de
rosácea central.
B. Inscrição
Q(uintus) MARIVS [...] / F(ilius) GAL(eria tribu) . TAN[GI]/NVS . IVLIA M(arci) F(ilia) /
ARANTA . H(ic) S(iti) [S(unt)]
Interpretação:
Aqui jazem Quinto Mário Tangino, filho de (...), da tribo Galéria, Júlia Aranta, filha de Marco.
C. Comentário Histórico
Em seus estudos, José d’Encarnação aponta que o defunto tem um gentilício já identificado no
conselho de Oeiras, e frequente em regiões ligadas ao mar (IRCP, p. 58; ILER, p. 717). Embora
identificadas à maneira romana - Iulia tem um gentilicio comum a essa região - as duas personagens
(cujo laço de parentesco não vem assinalado) receberam cognomes de tradição indígena: Tanginus
(IRCP, p. 483) e Aranta (IRCP, p. 687), antropônimos típicos comum na área lusitana. Aranta deve
estar relacionado a um dos epítetos do deus indígena Aracus. Trata-se do exemplo mais característico
da identificação de personagens mediante nomes de raiz céltica, ao lado de nomes romanos,
nomeadamente quando estamos perante cidadãos de pleno direito. Pela paleografia e pela
simplicidade textual, é monumento dos primórdios do século I d. C.
Datação: Primórdios do século I d. C.
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Roteiro Epigráfico Romano de Cascais (2ª edição). Cascais: Câmara
Municipal de Cascais, 2001, nº 18 (com fotografia), pp. 66-67.
Catálogo Online: Não Registrado
328

Nº de Registro: 132 Palavra-Chave: tria nomina, tribo.


A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrado em Capela de S. Paulo, Carrascal
de Manique, Alcabideche, Lisboa, Portugal.
Paradeiro Desconhecido
Nº Inventário -
Tipologia Não Encontrada
Material Não Encontrado
Medidas Não Encontradas S/F

Descrição: Monumento de tipologia desconhecida cuja


inscrição, funerária, consta da página do Anônimo Napolitano
encimada pela expressão "A Sam Paulo". Trata-se de um
monumento, quiçá uma placa ou talvez um fragmento de estela
possivelmente reutilizado na construção e que tenha ficado
com a inscrição para o lado de fora. Não foi ainda identificado.
B. Inscrição
DIS M(anibus) / L(ucii). RVTILI(i) . F(ilii) . GAL(eria tribu) . SEVERIAN(norum) XXX (triginta)
/5 RVTILIA MATER . D(e) . S(uo) . F(aciendum) . C(uravit)
Interpretação:
Aos deuses Manes de Lúcio Rutílio Severo, filho de Lúcio, da tribo Galéria, de trinta anos. Rutília, a
mãe, a expensas suas mandou fazer.
C. Comentário Histórico
Recuperando as análises de José d’Encarnação (2001, pp. 69-71), veremos que identidade de
gentilícios da mãe e do filio poderá ter como explicação mais plausível a importância local da gens
Rutilia a que o pai também pertenceria por adoção. Todavia, desta gens - sem dúvida com
representantes ilustres a nível peninsular (IRCP, p. 135) - não se dispõe de mais informações
concretas no ager Olisiponensis. Há de se destacar, portanto, que um dos duúnviros de Olisipo em
exercício ao mesmo tempo da homenagem prestada à imperatriz Sabina, mulher de Adriano, é M.
Gellius Rutilianus (CIL II 4992 = 5221 = ILER 1268); a mesma personagem surge, em outro registro
(CIL II 5218 = ILER 4453), como marido de uma flamínia, Caelia Vegeta. Deste modo, o cognome
Marco Gélio indica uma clara ligação à gens Rutilia, certamente por via materna.
É nesse contexto que o autor coloca em destaque, ainda que indiretamente, a importância desta gens.
Outro argumento que complementa a análise é que em Balsa, a gens Rutilia deteve também um papel
preponderante (IRCP, p.80). De fato, um dos dois encarregados de executar a homenagem a um dos
membros dessa família, Tito Rutílio Tusciliano, inscrito na tribo Galéria, é precisamente um Lúcio
Gpelio Tuto. Estamos, por conseguinte, perante laços familiares que se mantém em duas cidades
portuárias lusitanas. Severus é, por sua vez, um cognome latino muito frequente, com outras
ocorrências na epigrafia olisiponense. Vale indicar que o monumento integra-se na série de oito a que
J. Cardim Ribeiro alude quando enumera as epígrafes achadas no território do municipium
olisiponense que trazem expressa referência aos gastos pessoais feitos para a execução da obra,
designadamente de índole funerária (1982-1983, p. 276). Não deixa de ser intrigante verificar a
ocorrência desta fórmula encontrada em outros registros (IRCP nº 23 e nº 21).
Para Encarnação é viável defender a hipótese de se tratar apenas de um tique das oficinas epigráficas
locais, já que esta menção poderá ter a ver, em primeiro lugar, com a imponência dos monumentos:
não se exibe uma obra se ela não detiver considerável valor, se ela se não distinguir das demais. Esta
obra ganha destaque porque em CIL II 214 = ILER 3527, ela vem expressamente mencionada - hoc
maesolium -, e a dedicante é a mãe. Na inscrição nº1, estudada por Vasco Mantas (1982), procedente
de Torres Vedras, não há qualquer menção específica, subentendo-se, por isso, que a obra é o próprio
túmulo com inscrição, por sinal, uma cupa singela; e, portanto a existência de um nexo MA antes da
fórmula final levou a reconstituir aí a identificação da dedicante: MA(ter) d(e) s(uo) f(aciendum)
c(uravit), o que se compreende, uma vez que a defunta, mais uma Iulia Amoena, faleceu com apenas
329

doze anos. Também em CIL II 212 = ILER 4847 o M se reconstituiu M(ater). Essas reconstituições
vêm, de resto, na linha do que parece normal nas epígrafes da região: também aqui é uma palavra
mater, por extenso, que antecede a fórmula final.
De acordo com essa leitura, um elo comum parece unir estas epígrafes: é o fato de serem mandadas
fazer por mulheres ou, mais raramente, por alguém que, em teoria, não teria disso nenhuma
obrigação. Acentue-se, porém, a afirmação matriarcal (digamos assim), passível de detectar-se em
outras ocorrências epigráficas. Pela presença da invocação aos deuses Manes - com Dis por extenso e
sem a palavra S(acrum) - e devido à menção da idade (aqui, mais uma vez, arredondada em lustros),
é monumento datável de meados do século I d. C.; a circunstância de a mãe estar identificada sem
cognome poderá, no entanto, fazê-lo remontar para os finais da primeira metade.
Datação: Século I d. C.
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. Roteiro Epigráfico Romano de Cascais (2ª edição). Cascais: Câmara
Municipal de Cascais, 2001, pp. 69-71.
Catálogo Online: Não Registrado
330

Nº de Registro: 133 Palavra-Chave: tria nomina, tribo.


A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrado em Villa romana do Alto do
Cidreira, Carrascal de Alvide, Alcabideche,
Lisboa, Portugal.
Paradeiro Até 2001 estava em posse do Prof. Dr. José
d'Encarnação.
Nº Inventário -
Tipologia Tijolo
Material Barro
Medidas 9 x 18 x 14 cm
Descrição: Tijolo de barro grosseiro, com grãos de quartzo, S/F
retirado do hipocausto da villa romana do Alto do Cidreira no
decorrer das sondagens aí realizadas, sob a orientação de
Guilherme Cardoso e José d'Encarnação, em setembro de
1982. Apresenta todas as faces afeiçoadas, à exceção da que
podemos designar superior, que foi escacilhada para facilitar o
encaixe. Na face maior e mais lisa, há vestígios de letras
gravados em relevo e às avessas, pertencentes a uma inscrição
funerária. Trata-se de um fragmento de placa epigrafada
reaproveitado pelo tijoleiro, em jeito de forma, para moldar os
tijolos por ele fabricados.
B. Inscrição
[---]F(ilius) GAL(eria tribu) [---]
Interpretação:
[---] Filho de [---], da tribo Galéria.
C. Comentário Histórico
Para José d’Encarnação, “o tijolo é um importante documento histórico que, embora possa situar-se
no âmbito da epigrafia, muito tem a ver também com aspectos da vida econômica quotidiana. Na
verdade, se o escasso texto nos dá conta de uma inscrição desaparecida, fica mais uma vez
confirmada a existência de uma atividade local, a lapidar, porque se nos afigura mais razoável
considerar, aqui, o aproveitamento de um desperdício, ou seja, de algo que, por defeituoso, deixou de
ter utilidade. Mesmo diante dificuldade de aceitar a possibilidade de o tijolo não ter sido fabricado in
situ, o presente fragmento documenta uma atividade cerâmica, cujo caráter local ou regional ao
tempo dos romanos foi preponderante”. Assim, considerando as características da epigrafia da região
e a menção da tribo Galéria, parece viável, considerar esta estampagem o vestígio, em negativo, de
uma inscrição funerária. Muito embora falte a identificação do defunto, sabe-se que era um cidadão
de Olisipo.VIII.
Datação: Século I d. C.
D. Referências Bibliográficas
Hispania Epigraphica. Madrid: Universidad Complutense de Madrid. nº6 e nº1046,
D’ENCARNAÇÃO, J. Roteiro Epigráfico Romano de Cascais (2ª edição). Cascais: Câmara
Municipal de Cascais, 2001, nº 26, pp. 87-88.

Catálogo Online: Não Registrado


331

Nº de Registro: 140 Palavra-Chave: tria nomina, tribo.


A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrado em Lisboa, Portugal.
Paradeiro Não Encontrado
Nº Inventário -
Tipologia Não Encontrada
Material Não Encontrado
Medidas Não Encontradas
Descrição: Não Encontrada

B. Inscrição
C(aius) Ursius P(ubli) f(ilius) / <G=C>al(eria) Clemens / ann(orum) XXI h(ic) s(itus) e(st)
Tradução:
Aqui jaz Caio Ursio Clemens, filho de Publio, (da Tribo) Galeria, 21 anos.
C. Comentário Histórico
-

Datação: Não Atribuída


D. Referências Bibliográficas
Almeida, Justino Mendes de, Fernando Bandeira Ferreira. “Varia Epigrafica. (Nova Série).” Revista
de Guimarães 75, 1965, pp. 82–109.
Catálogo Online: HEpOnl 20117
332

Nº de Registro: 141 Palavra-Chave: tria nomina, tribo.


A. Localização e Dados Gerais
Procedência Não Encontrada

Paradeiro Não Encontrado


Nº Inventário -
Tipologia Não Encontrada
Material Mármore
Medidas Não Encontradas
Descrição: Não Encontrada

B. Inscrição

C(aius) Terentius / C(ai) f(ilius) Gal(eria) / Saturninus / h(ic) s(itus) e(st)


Interpretação:
Aqui jaz Caio Terenio Saturnino, filho de Caio, (da Tribo) Galeria.
C. Comentário Histórico
-

Datação: Não Atribuída


D. Referências Bibliográficas
Almeida, Justino Mendes de & Fernando Bandeira Ferreira. “Varia Epigrafica” (Nova Série).
Revista de Guimarães 75, 1965, pp. 82–109.
Catálogo Online: HEpOnl 20118
333

Nº de Registro: 142 Palavra-Chave: tria nomina, tribo.


A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrado em 1961 na Praça da Figueira,
Lisboa, Portugal.
Paradeiro MCid - Lisboa/ Pt
Nº Inventário MC.ARQ.PF.61.EP.0001
Tipologia Placa-Epitáfio
Material Mármore
Medidas 36 x 29,5 x 2,5 cm
Descrição: Encontrada fragmentada e incompleta, durante a
intervenção arqueológica realizada na Praça da Figueira, por
ocasião das obras do Metropolitano de Lisboa em 1961, esta
placa funerária de topo redondo foi exumada numa zona onde
foram achadas urnas de incineração.

B. Inscrição

T(itus) · Calla[eus] / T(iti) · f(ilius) · Ga[l(eria)] / Salvianus / h(ic) s(itus) e(st)

Interpretação:
Tito Caleu Salviano, filho de Tito, da tribo Galéria, aqui jaz.
C. Comentário Histórico
De acordo com os estudos de José d’Encarnação, o epitáfio segue os modelos textuais funerários da
sua época. O que se destaca no texto é o nome de família de Tito, CALLA[EVS] (que podemos
“aportuguesar” para “Caleu”). A palavra não aparece completa já que a placa não apareceu inteira,
mas que pode ser reconstituída à semelhança de outros dois casos nos quais se é registrado prenomen
“Caleus” no território do município, um dos quais também no perímetro urbano da cidade. A palavra
não é de origem latina, muito embora o nome de família já apareça em um cidadão romano que,
como todos os do município a que pertence, está inscrito na tribo Galéria. Deste modo, trata-se de
uma palavra numa língua indígena que se “latinizou”. E assim, este monumento é um testemunho
claro de um processo de romanização que culminou com a latinização de um nome não latino e a
integração de uma família indígena no corpo cívico romano. O texto funerário curto e simples (que se
resume ao nome da defunta e à formula funerária “Aqui jaz”), associado à referência à tribo
permitem situar cronologicamente a vida e morte de Tito Salviano no século I d. C.
Datação: Século I d. C.
D. Referências Bibliográficas
AE 1969/70, 243. Fonte dos dados:
http://www.museudacidade.pt/Coleccoes/Epigrafia/Paginas/Placa-funeraria-II.aspx. Acedido pela
última vez em 14 de novembro de 2014, às 14h 50min.
Catálogo Online: HEpOnl 20227
334

Nº de Registro: 143 Palavra-Chave: tria nomina, tribo.


A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrado em Sintra, Portugal.
Paradeiro MAS - São Miguel de Odrinhas Sintra/PT.
Nº Inventário XCII, 227-232
Tipologia Ara
Material Granito S/F
Medidas Não Encontradas
Descrição: Ara de granito cujas quatro primeiras linhas estão
danificadas devido à sua reutilização como pé de altar. Está
colocada em sentido inverso na hermita de S. Romão.
B. Inscrição
D(is) M(anibus) / P(ubli) Stai G(ai) f(ilii) Gal(eria) Exo/rati fla(minis) divi / Vesp(asiani) ann(orum)
XXXIIII
Interpretação:
Aos Deuses Manes. Publio Staio Suplicante, filho de Caio, inscrito na Tribo Galéria, flâmine do
Divino Vespasiano, 34 anos.
C. Comentário Histórico
O monumento documenta o culto imperial na região, sendo datado em época flávia, podendo ser
incluido no período de Domiciano. Destaca-se ainda que o flamem se relaciona com um liberto de
Évora (CIL II 120).
Datação: Século I d. C.
D. Referências Bibliográficas
Hispania Epigraphica. Madrid: Universidad Complutense de Madrid, nº 2, 1990, 816
Catálogo Online: HEpOnl 20535
335

Nº de Registro: 144 Palavra-Chave: tria nomina, tribo.


A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrado no pátio do Casal de la Granja
dos Serrões, Montelavar, Sintra,
Lisboa, Portugal.
Paradeiro MA - São Miguel de Odrinhas Sintra/Pt
Nº Inventário -
Tipologia Placa-Epitáfio
Material Não Encontrado
Medidas 72 x 100 x 26 cm
Descrição: Lápide fraturada verticalmente em duas partes.
B. Inscrição
[-] Iulius C(ai) f(ilius) Gal(eria) M[aelo?] / h(ic) s(itus) [e(st)] / Q(uintus) Caecilius Q(uinti) f(ilius) Gal(eria)
[- - -] / h(ic) s(itus) e(st)
Interpretação:
Julio Maelo, filho de Caio, inscrito na Tribo Galéria, aqui jaz. Quinto Caecilio, filho de Quinto, incrito na
Tribo Galéria, aqui jaz.
C. Comentário Histórico
-

Datação: Não Atribuída


D. Referências Bibliográficas
CARDOSO, M., 1961. "Novas inscrições lusitano-romanas do Museu de São Miguel de Odrinhas, Sintra".
Revista de Guimarães 71, 265–286, nº 7.
Catálogo Online: HEpOnl 20536
336

Nº de Registro: 146 Palavra-Chave: tria nomina, tribo.


A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrado em Lisboa, Portugal.
Paradeiro Não Encontrado
Nº Inventário -
Tipologia Não Encontrada S/F
Material Não Encontrado
Medidas Não Encontradas
Descrição: Não Encontrada

B. Inscrição

T(itus) Callaeus / T(iti) f(ilius) Gal(eria) Niger / Veter(anus) s(it) t(ibi) t(erra) l(evis)
Interpretação:
Veterano Tito Callaeu Niger, filho de Tito, inscrito na Tribo Galeria, aqui jaz.
C. Comentário Histórico
-

Datação: Não Atribuída


D. Referências Bibliográficas
AE 1994, 827
Catálogo Online: HEpOnl 20779
337

Nº de Registro: 216 Palavra-Chave: tria nomina, tribo.


A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Largo do Contador-Mor, Lisboa, Portugal.
Paradeiro Desconhecido
Nº Inventário -
Tipologia Placa-Epitáfio
Material Calcário
Medidas 2: 67 x 53 x 33 cm
Descrição: Estela funerária em calcário de cor rosa,
habitualmente designado por lioz rosa (frequente nas pedreiras da
região de Lisboa). Encontra-se partida em cinco fragmentos, o
que dificulta determinar as dimensões totais do monumento.
Mesmo diante de tais especificidades, ao que tudo indica, trata-se
de um monumento de grandes dimensões, sem decoração ou
mesmo campo epigráfico delimitado por qualquer espécie de
moldura e com o topo redondo, seguindo um modelo muito
comum na epigrafia funerária de época romana em Lisboa.

B. Inscrição
C(aius)· CANIDIVS / [C(aii) · ?] F(ilius) (hedera) GAL(eria tribu)· FVNDANVS / H(ic)· [S(itus) ·
] E(st)
Interpretação:
Caio Canídio Fundano, filho de Caio, inscrito na tribo Galeria, aqui jaz.
C. Comentário Histórico
Os estudos desenvolvidos apontam que as opções técnicas e estéticas associadas a um texto funerário
conciso, isto é, que registra a referência aos nomes do defunto em nominativo, à sua filiação e à tribo
(elemento que o distingue na sociedade da sua época), seguida da fórmula H. S. E., sem indicar a
idade com que faleceu, permitem colocar este monumento na primeira metade do século I. O texto
gravado na estela apresenta mais um cidadão romano de Felicitas Iulia Olisipo, pertencente a uma
família, nunca antes documentada na área do municipium: a Gens Canidia. O gentilicium Canidius é
pouco atestado nas fontes literárias que destacam apenas uma personagem notável com esse nome,
Publius Canidius Crassus, que foi cônsul em 40 a. C., serviu com Lépido nas Gálias, apoiou Marco
Antônio e foi eliminado por volta de 30 a. C., quando das vitórias de Otaviano. Se na literatura o
nomen é raro, na epigrafia do mundo romano também não é frequente. Na Lusitânia, contudo, o
nome Canidius / Canidia registra-se mais duas vezes: uma Canidia Albina de ordem senatorial
aparece num monumento epigráfico datável do século III, encontrado em Évora (CIL II 111=IRCP
381) e, também num monumento de Évora datável dos finais do século II aos inícios do século III, se
registra um Canidius, mas neste caso a palavra é usada sozinha e com o valor de cognomen (IRCP
375).
Afirmam os autores: “No contexto da Península Ibérica, Canidius é considerado um gentilício fóssil,
ou seja, um dos que fazem parte do grupo de gentilícios raros que se atestam na Península Itálica
durante o período republicano até quase desaparecerem nessa zona para reaparecerem, sempre
raramente, pelas províncias, testemunhando fenômenos migratórios que acompanham processos de
conquista e de colonização e rotas de administração e comércio. O cognomen Fundanus / Fundana,
na Lusitânia, registra-se 19 vezes, 8 vezes no espaço do que foi o município romano de Lisboa (3 na
cidade e 5 no territorium) e é também um nome de latinidade antiga que só costuma aparecer em
ambientes muito romanizados, em zonas que foram conquistadas muito cedo, onde as comunidades
têm um estatuto jurídico privilegiado, como é o caso do municipium civium Romanorum, Felicitas
Iulia Olisipo”
Datação: Primeira metade do século I d. C.
338

D. Referências Bibliográficas
Ficheiro Epigráfico (Suplemento da Revista Conimbriga) Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras.
Edição 91, 2011, nº 410.
Catálogo Online: -

Palavra-Chave: administração
Nº de Registro: 220 municipal, sacerdote imperial
(Flâmine).
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Sintra, Lisboa, Portugal.
Paradeiro Desconhecido
Nº Inventário -
Tipologia Não Encontrada S/F
Material Não Encontrado
Medidas Não Encontradas
Descrição: Não Encontrada
B. Inscrição
- - - - - - / [- - - II]v(ir?) fla(men) aug(ustalis?) / d(onum) p(osuit) / d(e) s(uo) f(aciendum) c(uravit) /
[an(norum)] XL (o I?) h(ic) s(itus) [e(st)]
Interpretação:
Duunviro, Flâmine e Augustal, doado e executado por seu empenho, 40 (?) anos, aqui jaz.
C. Comentário Histórico
-

Datação: Não Atribuída


D. Referências Bibliográficas
RAP 541.
Catálogo Online: HEpOnl 23119
339

Nº de Registro: 221 Palavra-Chave: tria nomina, tribo.


A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada no Castelo de São Jorge,
Lisboa, Portugal.
Paradeiro MCid - Lisboa/ Pt
Nº Inventário MC.ARQ.CSJ.39.EP.0001
Tipologia Placa-Epitáfio
Material Calcário
Medidas 112 x 50 x 20 cm
Descrição: Estela encontrada na década de 1940, durante
as obras de restauro do Castelo de São Jorge. Apesar de ter
sido utilizada como material de construção, chegou aos
nossos dias relativamente bem conservada. O monumento
apareceu inteiro, tem topo redondo, mas destaca-se da
maioria dos exemplares conhecidos por possuir, escavada
antes do epitáfio, uma edícula, ainda com vestígios de
moldura e tímpano, destinada a receber uma placa metálica
como parecem indicar os dois pequenos orifícios dos cantos
superiores ainda com vestígios dos cravos, que
provavelmente representaria o defunto.
B. Inscrição

M(arcus) IVLIVS M(arci) F(ilius)/ GAL(eria tribu) PISO H(ic) S(itus) E(st)/ ANN(orum) III

Interpretação:
Marco Júlio Pisão, filho de Marco, inscrito na tribo Galéria, de três anos, aqui jaz.
C. Comentário Histórico
Como a maioria dos textos epigráficos romanos, este é lacônico, mas em poucas palavras transmite
informações importantes. Para além do nome do defunto, salienta a sua condição de cidadão romano.
Só os cidadãos romanos estavam inscritos numa das 35 tribos pelas quais se distribuía o corpo cívico
romano. A epigrafia funerária do município de Felicitas Iulia Olisipo prova que os seus cidadãos
eram todos inscritos na tribo Galéria. Esta preocupação em indicar a pertença a uma tribo
corresponde a uma época em que a maioria da população do município não gozava do estatuto de
cidadania romana. A referência à tribo acabará por deixar de se fazer a partir da década de 70 do
século I d.C., quando o imperador Vespasiano e o seu filho Tito integram toda a população livre da
Península Ibérica na comunidade cívica do Estado romano. A partir daí, estar inscrito numa tribo
deixa de ser exceção e não merece destaque. O fato do epitáfio de Marco Júlio Pisão indicar que ele
morreu com 3 anos de idade causa estranheza: era criança quando faleceu e isso significa que nunca
atingiu a maioridade. Portanto, ou houve erro na gravação do numeral ou, mais provavelmente, esta
criança, ao contrário do pai, quando atingisse a maioridade tornar-se-ia cidadão romano de pleno
direito, enquanto que ao pai, talvez um escravo libertado, esse estatuto estaria vedado. A morte
prematura de Pisão não fez cessar o orgulho do pai no estatuto futuro do seu filho. O texto curto e
simples que se resume ao nome o defunto e à indicação da tribo a que pertence, sem sequer informar
sobre a idade do falecido (ao contrário do que era mais comum), associadas à fórmula “aqui jaz”
permite situar cronologicamente a vida de Marco Júlio Pisão no século I d. C.
Datação: Século I d. C.
D. Referências Bibliográficas
Fonte das informações históricas: http://www.museudacidade.pt/Coleccoes/Epigrafia/Paginas/Estela-
funeraria-com-edicula.aspx, acedido em 10 de julho de 2014, às 12h 40 min.
Catálogo Online: HEpOnl 25065
340

Nº de Registro: 223 Palavra-Chave: tria nomina, tribo.


A. Localização e Dados Gerais
Procedência Pau-Gordo, Cascais, Lisboa, Portugal.
Paradeiro Desconhecido
Nº Inventário -
Tipologia Cupa S/F
Material Pedra
Medidas 50 x 93 x 50 cm
Descrição: Cupa com inscrição em uma das laterais.
B. Inscrição
M(arcus) . Clodius / M(arci) . f(ilius) . Cl(audia tribu) . Avit[us] / an(norum) . XXV . h(ic) . s(itus) .
[e(st)]
Interpretação:
Marco Clodio Avito, filho de Marco, inscrito naTribo Cláudia, 25 anos, aqui jaz.
C. Comentário Histórico
-

Datação: Não Atribuída


D. Referências Bibliográficas
F. A. Pereira, "Antiqvitvs", OAP 21, 1916, 204, fig. 2.
Catálogo Online: HEpOnl 25080
341

Subgrupo Temático: Epígrafes Votivas

Palavra-Chave:Tria nomina,
Nº de Registro: 001
sacerdote imperial (Augustal).
A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada nas "Termas da rua de Prata",
Lisboa, Portugal
Paradeiro MNA – Lisboa/Pt
Nº. Inventário E 5517
Tipologia Bloco
Material Mármore
Medidas: 73x 72x 53 cm
Descrição: base de estátua em mármore branco cuja face
superior apresenta um orifício destinado ao encaixe de uma
possível estátua. O bloco é alisado nas faces laterais e anterior
e encontra-se fraturada na face posterior.

B. Inscrição
Transcrição: Sacrum / Aesculapio / M(arcus) · Afranius · Euporio / et / L(ucius) Fabius · Daphnus /
aug(ustales) / municipio d(onum) d(ederunt)
Interpretação:
Consagrado a Esculápio. Marco Afranio Euporio e Lúcio Fábio Daphno, augustais do município,
deram e dedicaram.
C. Comentário Histórico
Comentário Histórico: O registro onomástico dos dedicantes apresenta antropônimos de matriz
greicizante e ambas as personagens apresentam-se como augustais. Apesar dos cargos religiosos, a
dedicatória pode não estar associada apenas ao culto, mas também a um ato de benemerência à
cidade.
Datação: Entre os anos 14 - 37 d. C.
D. Bibliografia
Referências: Catálogo da exposição: Religiões da Lusitânia. Loquuntur saxa (Ficha de autoria de
Carla Alves Fernandes), 2014.
Catálogo Online: HEpOnl 21264
342

Nº de Registro: 002 Palavra-Chave: onomástica, augustal.


A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada em Portugal -
Junto à Igreja de Santiago.
Reapareceu em outubro de
2009 no Largo do Contador-
Mor, 3 e 4 e lá permanece.
Lisboa, Portugal.
Paradeiro Permanece no local do
achamento.
Nº Inventário -
Tipologia Pedestal
Material Mármore rosado
Medidas: 118 x 112 x 60 cm.
Descrição: Pedestal de mármore rosado
(provavelmente de S. Domingos de Rana), sem
decoração.
B. Inscrição
Divo · Augusto / C(aius) · Arrius · Optatus / C(aius) · Iulius · Eutichus / Augustales
Interpretação:
Ao divino Augusto – Gaio Árrio Optato, Gaio Júlio Eutico, augustais.
C. Comentário Histórico

Em virtude do tipo de sacerdócio, pode-se datá-lo pouco tempo depois da divinização de Augusto
(falecido no ano 14). Trata-se de uma homenagem da elite local à família imperial. No caso em tela,
a homenagem foi realizada por dois augustais do município olisiponense.
Datação: Entre os anos 14 - 37 d. C. – Governo de Tibério
D. Bibliografia
QUINTEIRA, C. & ENCARNAÇÃO, J. d’. "Pedestal ao divino Augusto, de Olisipo, reencontrado",
Sylloge Epigraphica Barcinonensis VII, 2009, 143-146, com fotos.
Catálogo Online: HEpOnl 21271
343

Nº de Registro: 037 Palavra-Chave: onomástica


A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada na Freguesia de Santo Tomas das
Lamas, Cadaval, Lisboa, Portugal.
Paradeiro Não Encontrado
Nº Inventário -
Tipologia Ara
Material Granito
Medidas Não Encontradas
Descrição: Ara em granito.

B. Inscrição
------/ [- - -]i pronepoti divi Ner/[vae(?) ab]nepoti(?) [- - -] FLA FRV(?) / [- - -]OB per C(aium)
Iulium Taur/[um(?)] A(ulum) Malonium Marcio/[nem(?)] Num[erium(?)] Avitia/[n]um et M(arcum)
Iul(ium) Taurum
Interpretação:
------/ [---] bisneto, trineto do divino Nerva [- - -] através de Caio Iulio Tauro, Aulo Molonio, Marcio
Numerio Avitiano e Marco Iulio Tauro.
C. Comentário Histórico
Datação atribuída pela menção imperial.
Datação: Entre os anos de 161 e 180 d. C.
D. Referências Bibliográficas
Hispania Epigraphica. Madrid: Universidad Complutense de Madrid. nº 4, 1994, 1071; AE 1898,
RAP 508.
Catálogo Online: HEpOnl 23101
344

Nº de Registro: 136 Palavra-Chave: onomástica, liberto.


A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrado nas escavações de 1935,
debaixo do imóvel nº 3 da rua das
Canastras, Lisboa, Portugal.
Paradeiro MNA – Lisboa/Pt
Nº Inventário -
Tipologia Bloco
Material Calcário
Medidas 93,5 x 48 x 48 cm
Descrição: Bloco em calcário de cor cinzenta.

B. Inscrição

Apollini / sacrum / M(arcus) · Iul(ius) · M(arci) · lib(ertus) / Tyrannus / Augusta[li]s / d(ono) d(edit)
Interpretação:
Consagrado a Apolo. Marco Iulio Marcio, augustal, liberto de Tyrano, dedicou.
C. Comentário Histórico
A partir da inscrição se é possível observar o registro do nomen, e de um sacerdócio típico de
libertos, os augustais. Essa informação é confirmada pela própria inscrição, uma vez que seus
dedicantes autointitulam sua condição. Quando cotejada com outros registros, tais informações
ajudam a compreender a rede social desenvolvida na região em época imperial.

Datação: Não Atribuída


D. Referências Bibliográficas
L. Chaves, "Lisboa romana. Monumento epigráfico dedicado a Apolo por un augustal", Revista de
Arqueología 2, 1934-1935, 242-245.
Catálogo Online: HEpOnl 16760
345

Palavra-Chave: tria nomina,


Nº de Registro: 137
onomástica, administração provincial.
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrado em Sintra, Lisboa, Portugal.
Paradeiro Não Encontrado
Nº Inventário -
Tipologia Não Encontrada S/F
Material Não Encontrado
Medidas Não Encontradas
Descrição: Não Encontrada
B. Inscrição
S[oli Aet]ern[o] / C(aius) Iuli[us] C(ai) f(ilius) Qu[i]r(ina) Celsus / IVB(?)[- - - adlec / tu]s in
amplissimum [o]r[dinem ab] {i}eodem / [- - -]LG[- - -] missus [- - -] D[- - -] SV[- - -] a l]ib(ellis) /
[e]t a censib(us) proc(urator) provin(ciae) Lu[sitaniae(?) - - - / - - -]R milit[- - -]O[- - -]NIAPI[- - - / -
- -]N pro[c(urator) - - -]EIL[- - - proc(urator) Neaspo]/leo[s e]t mausole[i Ale]xandriae /
pro[c(urator)] XX [h]er(editatium) pe[r] pro[vin(cias) Nar]bom(ensem) et Aq[uit(anicam)] /
cur[ator] vi[ar(um)] Aem[iliae et T]rium[p]h(alis) / d(onum?) d(edit?)
Interpretação:
Ao Sol Eterno. Caio Iulio Celso, filho de Caio, da Tribo Quirina, Celso, com júbilo (?), cooptado na
amplíssima ordem [---] enviado como [---] encarregado dos requerimentos e dos censos da Província
Lusitania; [---] [tribuno?] dos militares/militar; procurador de [---]; procurador de Neaspolis e do
Mausoléu de Alexandria; procurador da vigésima das heranças nas províncias Narbonense e
Aquitania; curador das vias Emilia e Triunfal, dedicou.
C. Comentário Histórico
Apesar do estado fragmentado da inscrição, a partir dela se é possível observar o registro dos tria
nomina, da tribo e de magistraturas importantes no território provincial. Quando cotejada com outros
registros, tais informações ajudam a compreender a rede administrativa estabelecida em época
imperial.

Alexandria, contextualizada no Egito, tomado por Augusto em 30 a.C., convertendo –o como sua
propriedade particular
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
AE 1954, 253, RAP 430 a
Catálogo Online: HEpOnl 16771
346

Palavra-Chave: tria nomina,


Nº de Registro: 150
coletividade municipal.
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrado em Lisboa, Portugal.
Paradeiro Não Encontrado
Nº Inventário -
Tipologia Não Encontrada S/F
Material Não Encontrado
Medidas Não Encontradas
Descrição: Não Encontrada.
B. Inscrição
Concordiae / sacrum / M(arcus) · Baebius · M(arci) · f(ilius) / m(uniceps) · m(unicipii) · Felic(itatis)
· Iul(iae) / dat
Interpretação:
Consagrafo à Concórdia. Marco Baebio, filho de Marcio. Munícipes do município Felicitas Iulia,
dedicaram.
C. Comentário Histórico
Trata-se de uma inscrição votiva, dedicada à deusa Concórdia, a partir qual é possível observar o
registro dos tria nomina do dedicante e, ainda, a assinatura da coletividade municipal. Quando
cotejada com outros registros, tais informações ajudam a compreender a dinâmica da rede social
desenvolvida em época imperial.
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
CIL II 176, p XXXIX, 692; RAP 241.
Catálogo Online: HEpOnl 21265
347

Palavra-Chave: tria nomina,


Nº de Registro: 171
permissão dos decuriões.
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrado em Lisboa, Portugal.
Paradeiro Não Encontrado
Nº Inventário -
Tipologia Não Encontrada S/F
Material Não Encontrado
Medidas Não Encontradas
Descrição: Não Encontrada.
B. Inscrição
Mercur[io] / Caesa[ris] / August[i] / C(aius) Iulius Phi[lus?] / permissu dec[uri(onum)] / dedit
d(edicavit)
Interpretação:
Consagrado a Mercúrio Cesar Augusto, Caio Iulio Filo, com permissão dos Decuriões, dedicou.
C. Comentário Histórico
A partir da análise da inscrição votiva é possível observar o registro dos tria nomina, de uma
dedicação imperial e da permissão do ordo local para a ereção do monumento, sob a fórmula
permissu decurionum. Quando cotejada com outros registros, tais informações ajudam a
compreender das redes administrativa e social estabelecidas em época imperial.

Datação: Não Atribuída


D. Referências Bibliográficas
CIL II 180 p 810; RAP 405
Catálogo Online: HEpOnl 21269
348

Palavra-Chave: onomástica, sacerdote


Nº de Registro: 172
imperial (Augustal).
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrado em Lisboa, Portugal.
Paradeiro Não Encontrado
Nº Inventário -
Tipologia Não Encontrada S/F
Material Não Encontrado
Medidas Não Encontradas
Descrição: Não Encontrada.
B. Inscrição
Mercurio · Aug(usto) / sacrum / C(aius) · Iulius C[a]tuli[nus?] / Augustalis d(ono) d(edit)
Interpretação:
Consagrado a MercurioAugusto. O Augustal Iulio Catulino dedicou.
C. Comentário Histórico
A partir da análise da inscrição votiva é possível observar o registro dos tria nomina, de uma
dedicação imperial e do tipode sacerdócio exercido pelo dedicante, a saber, Augustal. Quando
comparada com outros registros, tais informações ajudam a compreender das redes administrativa e
social estabelecidas em época imperial.
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
CIL II 181; RAP 406
Catálogo Online: HEpOnl 21270
349

Nº de Registro: 222 Palavra-Chave: tria nomina, tribo.


A. Localização e Dados Gerais
Procedência Castelo de São Jorge, Lisboa, Portugal.
Paradeiro MCid - Lisboa/ Pt
Nº Inventário MC.ARQ.CSJ.40.EP.0005
Tipologia Fragmento
Material Não Encontrado
Medidas (28) x 31 x 18,5 cm
Descrição: Fragmento de monumento epigráfico romano
encontrado na década de 1940, durante as obras de restauro do S/F
Castelo de São Jorge. O estado muito incompleto que
apresenta explica-se pelo fato de ter sido utilizado como
material de construção. Apesar de muito cortado e furado com
um orifício circular, o que resta, juntamente com o texto que
tem gravado, levam a crer que se trata de parte de uma estela,
cujo topo (em princípio redondo, como era moda em Felicitas
Iulia Olisipo) e a parte inferior não foram conservados
(originalmente a estela atingiria cerca de um metro de altura).
B. Inscrição
Q(uintus) CAECILIVS/ [C(aii)] F(ilius) GAL(eria tribu) M[AC]ER/ H(ic) S(itus) E(st)
Interpretação:
Quinto Cecílio Macro (ou Mácer), filho de Caio, inscrito na tribo Galéria, aqui jaz.
C. Comentário Histórico
Como a maioria dos textos epigráficos romanos, é lacónico, mas em poucas palavras transmite
informações importantes. Para além do nome do defunto, salienta a sua condição de cidadão romano.
Só os cidadãos romanos estão inscritos numa das 35 tribos pelas quais se distribui o corpo cívico
romano. A epigrafia funerária do município de Felicitas Iulia Olisipo prova que os seus cidadãos
eram todos inscritos na tribo Galéria.
Esta preocupação em indicar a pertença a uma tribo corresponde uma época em que a maioria da
população do município não gozava do estatuto de cidadania romana. A referência à tribo acabará
por deixar de se fazer a partir da década de 70 do século I d. C., quando o imperador Vespasiano e o
seu filho Tito integram toda a população livre da Península Ibérica na comunidade cívica do Estado
romano e a partir daí estar inscrito numa tribo deixa de ser exceção e não merece destaque. O texto
curto e simples que se resume ao nome o defunto e à indicação da tribo a que pertence, sem sequer
informar sobre a idade do falecido (ao contrário do que era mais comum), associadas à fórmula “aqui
jaz” permite situar cronologicamente a vida de Quinto Cecílio Macro no século I d. C.
Datação: Século I d. C.
D. Referências Bibliográficas
Fonte do comentário histórico:
http://www.museudacidade.pt/Coleccoes/Epigrafia/Paginas/Fragmento-de-estela-funeraria-III.aspx,
acedido em 30 de agosto de 2014, às 13h 45min.
Catálogo Online: HEpOnl 25067
350

Subgrupo Temático: Epígrafes Honoríficas

Palavra-Chave: tria nomina, tribo,


Nº de Registro: 006 sacerdote imperial (Flâmine), exército,
decreto dos decuriões.
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrada nas Termas dos Cássios,
Freguesia de Madalena, Lisboa, Portugal.
Paradeiro Não Encontrado
Nº Inventário -
Tipologia Bloco
Material Calcário
Medidas 99 x 49 x 48,5 cm
Descrição: Encontra-se em bom estado de conservação e,
apesar de alguns danos nos lados direito e esquerdo, o campo
epigráfico não foi afetado em sua totalidade. S/F
Bloco paralelepípedo em pedra de lioz de veios rosados,
eventualmente poderia ser o fuste de um pedestal de estátua. O
monumento deveria ter uma base e um capeamento
autônomos, apresenta-se bem conservado apesar de estar
parcialmente lascado no lado direito do campo epigráfico, o
que danificou o final do texto das linhas 1 a 5 - muito embora
isso não tenha afetado a leitura da inscrição. A face lateral
esquerda também se encontra parcialmente danificada,
enquanto na direita são visíveis duas letras: RS, dispostas
linearmente e em posição invertida em relação à epígrafe, pelo
que nada terão a ver com esta.
B. Inscrição
L(ucio) . CORNELIO / L(ucci) . F(ilio) . Gal(eria tribu) BOCCHO / SALACIENSI / FLAMINI .
PROVI[N]/5CIAE . LVSITANIA[E] / PRAEF(ecto) . FABRVM . V(uinquies) / TRI(buno) .
MILIT(um) . LEG(ionis) . VIII(octavae) / AVG(ustae) / D(ecreto) D(ecurionum)
Interpretação399:
Lucio Cornelio Boccho, filho de Lucio, inscrito na Tribo Galeria. Salaciense, flâmine da província da
Lusitânia, 7 vezes prefeito dos artífices, Tribuno militar da VIII legião Augusta. Por decreto dos
Decuriões.
C. Comentário Histórico
Como indica V.G. MANTAS (1998a, 47), a personagem que recebe a homenagem dos decuriões
olisiponenses é Cornelii Bochii, membro da importante familia dos Cornelii Bochii de Salacia e
possuidor do cursus equestre. As atualizações das interpretações disponíveis permite identificar este
L. Cornelius com o da placa fragmentada de Alcácer do Sal (publicada também em IRCP 189). A
partir desta leitura intertextual, compreende-se que a personagem ainda foi cinco vezes praefectus
fabrum e prefecto dos Césares.

Seguindo a análise A. M. Dias Diogo e Laura Trindade (1999, pp. 4-10), do monumento
depreendem-se cinco questões para a análise:
(1) A primeira questão consiste na reutilização de um monumento feito para ser mostrado no fórum,
nas Termas dos Cássios. Embora construídas no século I d. C, a inscrição encontrada em 1771
(registrada no CIL II, sob o número de registro 191) indica que as Termas foram algo de uma
importante reforma em 336. A epígrafe em tela foi encontrada numa parede (em opus latericium) do

399
Nossa proposta de interpretação.
351

hipocausto. Essa reutilização indica que o fórum já estava desmantelado e suas pedras foram
reutilizadas na construção ou reparo de outras construções.
(2) O monumento foi mandado construir por Decreto dos Decuriões, obviamente do município
olisiponense, em honra de Lúcio Cornélio Boco, filho de Lúcio e natural da Salácia (atual Alcácer do
Sal). Como membro da ordem equestre, Lúcio Cornélio apresenta um cursus honorum amplo: fora
tribuno militar após ter sido prefeito dos artífices por cinco vezes. Há de se ressaltar que o Dr. José
d’Encarnação já havia observado outra inscrição em uma placa monumental encontrada em Alcácer
do Sal (CIL II 2479 e 5617, IRCP 189) onde também aparece o registro de um indivíduo que exerceu
a prefeitura dos artífices por cinco vezes. Esta inscrição encontra-se incompleta, sendo legível apenas
a terminação do cognome [...]CHVS, restituível como [Boc]chus. Dada essas características e sendo-
lhe atribuída uma cronologia posterior, as pode-se levantar a hipótese de estarmos perante a mesma
personalidade. A placa de Alcácer indica, ainda, a prefeitura dos Césares pela segunda vez que,
graças a Legião registrada na inscrição de Lisboa, sabe-se que tinha de ser Augusto e Tibério e não
Vespasiano e Tito.
(3) A legião referida da epígrafe trata-se da VII Augusta. Do conjunto de monumentos já estudados e
atribuíveis aos Cornelii Bocchi, apenas o proveniente de Troia (CIL II 5184, IRCP, 207), embora
fragmentado, conserva o nome da legião, a III Augusta. Esta inscrição honorífica, hoje perdida, tem
vindo a ser alvo de controvérsia devido à imprecisão da filiação de Cornélio Boco. Foi atribuído por
alguns autores a L(ucio) C(aii) filio, enquanto outros preferiram L(ucio) L(ucii) filio. Dada a
referência à legião, esta inscrição não poderá deixar de ser deidicada ao filho de Caio, ao contrário do
que acreditava Leite de Vasconcelos (Excursão archaelogica a Alcacer-do-Sal, in: O Arqueologo
Português, I, Lisboa 1985, p. 69-73).
(4) A VII Legião Augustana, de formação augustana, como o nome pressagia, não deixará de ser a
posteriormente conhecida como VII Claudia Pia Fidelis, assim renomeada por Cláudio em 42 por ter
se recusado a apoiar a revolta de Escriboniano. Acantonada na Macedônia, foi enviada em 10 d. C.
para a Dalmácia, sendo aí empregue na construção de estradas até 68, conjuntamente com a XI
Legião.

Observações Importantíssimas:

 para as autoras, as epígrafes mais completas já conhecidas dizem respeito a dois Cornelii
Bocchi, ambos com o prenome Lúcio e indicam 3 gerações: Caio, Lúcio, filho de Caio e Lúcio filho
de Lúcio. Este último a quem, para além da inscrição aqui estudada, pode ainda ser atribuída uma
monumental de Alcácer do Sal (CIL II 2479 e 5617, ircp 189), terá exercido, dentre outras funções,
a de prefeito dos Césares por duas vezes, flâmine da província da Lusitânia, pontífice perpétuo,
flâmine perpétuo, duúnviro, prefeito dos artífices por5 vezes, tribuno militar da VII Legião Augusta.
Pelo que os textos nos deixam perceber, a sua atividade desenrolou-se principalmente durante o
reinado de Tibério.
 A Lúcio, filho de Gaio, cuja atividade mais importante terá decorrido durante o principado
augustano, é atribuível a inscrição de Tróia (CIL II 5184, IRCP 207), assim como uma provável base
de estátua (CIL II 35, IRCP 185), hoje perdida, tratando-se de um monumento mandado edificar
pelal colônia escalabitana em Salácia, cidade de residência do homenageado. Do seu cursus honorum
sabe-se apenas que exerceu o tribunato militar da III legião Augustana e foi flâmine provincial.
 A quantidade de inscrições já conhecidas, atribuída aos dois Lucii Cornelii Bocchi, as suas
características, honoríficas ou monumentais, as funções que exerceram e o fato de duas delas
poderem pertencer a estátuas mandadas erigir pela Colonia Escalabitana e pelo Município
Olisiponense, os carateriza como pertencentes à elite econômica provincial. Dada a sua cronologia, a
origem salaciense e os sítios onde lhes conhecemos interesses: para além de Alcácer do Sal, Troia,
Lisboa e a cabeça do convento Scalabitano, poderiam estar ligados à industria e à exploração das
conservas de peixe. Por último, é ainda de referir a possibilidade, por várias vezes publica por
Hubner (Notícias de Portugal, p. 27, nota, etc) e repetida por múltiplos investigadores, de estarmos
aqui em presença do escritor Cornélio Boco, citado por Plínio e Solino. Dada a cronologia que lhe é
atribuída, este poderia ser Lúcio, filho de Lúcio.

Deste modo, a datação da epígrafe segue a menção da legião, cujo cognomentum permite indicar a
352

cronologia marcada após o ano 42 d. C.


Datação: Após o ano 42 d. C.
D. Referências Bibliográficas
Hispania Epigraphica. Madrid: Universidad Complutense de Madrid. nº8, 1998, 608; Hispania
Epigraphica. Madrid: Universidad Complutense de Madrid. nº12, 2002, 654; Ficheiro Epigráfico
(Suplemento da Revista Conimbriga) Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras. Edição 100, 2012
Addenda et Carrigenda ad n. 275; Ficheiro Epigráfico (Suplemento da Revista Conimbriga)
Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras. Edição 60, 1999, nº 275.
Catálogo Online: Não Registrado

Palavra-Chave: tria nomina, sacerdote


Nº de Registro: 011
imperial (Flâmine).
A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada próximo a São Vicente
de Fora, Lisboa, Portugal.
Paradeiro MNA - Lisboa/Pt
Nº Inventário -
Tipologia Bloco
Material Calcário
Medidas (69) x 44,5 x 46,5 cm.
Descrição: De acordo com as características do suporte,
compreende-se ser o monumento a base de uma estátua
honorífica em pedra calcária dura, cor de rosa.

B. Inscrição

[Cae?]liae [- - - f(iliae)?] / Vegeta[e] / Flaminic[ae] / M(arcus) · Gellius / Rutilianu(s) / maritus


Interpretação:
À Flamínica Vegeta, filha de Caelio (?), de seu marido Marco Gellio Rutiliano.
C. Comentário Histórico
Inscrição honorífica de uma flamínica.
Datação: Século I d. C.
D. Referências Bibliográficas
Religiões Antigas de Portugal (RAP) 539.
Catálogo Online: HEpOnl 20924
353

Palavra-Chave: tria nomina, sacerdote imperial


Nº de Registro: 023
(Flâmine), benemerência.
A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada no depósito de agua
do lugar de Armes, Terrugem,
Sintra, Lisboa, Portugal.
Paradeiro Não Encontrado
Nº Inventário -
Tipologia Dintel
Material Granito (?)
Medidas: 17 x 206,5 x 17 cm.
Descrição: Dintel em granito
B. Inscrição

L(ucius) · Iulius · Maelo · Caudic(us) · flam(en) · divi · Aug(usti) d(e) s(uo) f(ecit)
Interpretação:
Feito por Julio Maelo Caudicus, flâmine do Divino Augusto.
C. Comentário Histórico
A partir da inscrição é possível observar o registro do nomen e de um sacerdócio importante no
território provincial, a saber, o flaminato. Quando analisada em cojunto com outros registros, tais
informações ajudam a compreender a rede social estabelecida em época imperial.

Datação: Não Atribuída


D. Referências Bibliográficas
AE 1987, 478a; RAP 540.
Catálogo Online: HEpOnl 21313
354

Palavra-Chave: onomástica, administração,


Nº de Registro: 135
liberto imperial.
A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada em Lisboa, Portugal -
na década de 1940, durante as obras
de restauração do Castelo de São
Jorge.
Paradeiro MCid - Lisboa/ Pt
Nº Inventário MC.ARQ. CSJ.40.EP.0002
Tipologia Placa (?)
Material Calcário
Medidas (54) x (69) x 42 cm
Descrição: A peça original foi cortada na parte
superior e numa das faces laterais (a direita). Trata-se
de um monumento em calcário Lioz, cuja face
epigrafada apresenta um buraco circular a meio da
linha final. Estas circunstâncias dificultam a
identificação do tipo de monumento, desconhecendo-
se se estamos perante um pedestal ou um ara de
grandes dimensões.

B. Inscrição
NEMETE[VS?]/ FIRMVS AV[GG(ustorum)]/ VER(na) VIL(icus)· XX(vicesima)/ HERE[D(itatium)
L vel E] S(uo?) F(ecit?)
Interpretação:
Nemeteu Firmo, servo dos Augustos, feitor (ou administrador) da vicesima hereditatium …
C. Comentário Histórico
Embora esta inscrição não seja suficiente para determinar se estamos perante a parte final de um
texto funerário, votivo, ou honorífico (em que Nemeteu Firmo é o dedicante), ou se é outra situação
que aí está registrada. Este monumento é o único, na epigrafia romana encontrada no território
nacional, que regisrta: um verna (escravo dos Augustos, ou seja um escravo público da época
imperial, quando a propriedade do Estado romano se confunde com a propriedade privada dos
imperadores); um vilicus (feitor ou administrador); e ainda, o único a referir a vicesima hereditatium,
introduzida em 6 a. C. pelo imperador Augusto (taxa de 5% sobre as transmissões por herança,
cobrada aos cidadãos romanos, pelo menos até aos fins do século III d.C.).
Estamos, portanto, perante uma personagem que, embora não goze do estatuto de cidadania romana,
nem mesmo de liberdade, não deixa de ter grande importância econômico-social e até mesmo política
no município de Felicitas Iulia Olisipo. Este texto epigráfico é raro, tanto no contexto peninsular
como no restante império romano. De fato, as epígrafes inventariadas, que referem personagens desta
natureza e importância, não ultrapassam as duas centenas em todo o território que esteve sob o
domínio romano.
Datação: Entre os séculos I – III d. C.
D. Referências Bibliográficas
Fonte do comentário histórico:
http://www.museudacidade.pt/Coleccoes/Epigrafia/Paginas/Fragmento-de-monumento-
epigrafico.aspx. Acedido pela última vez em 14 de novembro de 2014, às 16h 20min.
Catálogo Online: HEpOnl 16748
355

Palavra-Chave: tria nomina, tribo,


Nº de Registro: 147
decreto dos decuriões.
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrado em Lisboa, Portugal.
Paradeiro Não Encontrado
Nº Inventário -
Tipologia Não Encontrada S/F
Material Não Encontrado
Medidas Não Encontradas
Descrição: Não Encontrada
B. Inscrição

M(arco) Petronio / M(arci) f(ilio) Gal(eria) / Basso d(ecreto) d(ecurionum)


Interpretação:
Marco Petrônio Basso, filho de Marcio, inscrito na Tribo Galeria, por decreto dos Decuriões.
C. Comentário Histórico
-

Datação: Não Atribuída


D. Referências Bibliográficas
CIL II 198
Catálogo Online: HEpOnl 20925
356

Palavra-Chave: tria nomina, tribo,


Nº de Registro: 148
decreto dos decuriões.
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrado em Lisboa, Portugal.
Paradeiro Não Encontrado
Nº Inventário -
Tipologia Não Encontrada S/F
Material Não Encontrado
Medidas Não Encontradas
Descrição: Não Encontrada.
B. Inscrição
C(aio) Tenatio C(ai) f(ilio) / Gal(eria) Iusto / d(ecreto) d(ecurionum)
Tradução:
A Caio Tenatio Justo, filho de Caio, inscrito na Tribo Galeria, por decreto dos Decuriões
C. Comentário Histórico
-

Datação: Não Atribuída


D. Referências Bibliográficas
CIL II 199
Catálogo Online: HEpOnl 20926
357

Nº de Registro: 149 Palavra-Chave: tria nomina, tribo.


A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrado em Lisboa, Portugal.
Paradeiro Não Encontrado
Nº Inventário -
Tipologia Não Encontrada S/F
Material Não Encontrado
Medidas Não Encontradas
Descrição: Não Encontrada.
B. Inscrição

[- - -] Cassio C(ai) f(ilio) / Gal(eria) / [G]allioni / [op]time de / TVDII


Interpretação:
Cassio Gallione, filho de Caio, inscrito na Tribo Galeria, ótimo ????????
C. Comentário Histórico
-

Datação: Não Atribuída


D. Referências Bibliográficas
CIL II 208, p 692.
Catálogo Online: HEpOnl 20935
358

Palavra-Chave: dedicação imperial,


Nº de Registro: 174
administração municipal.
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrada na Lisboa, Portugal.
Paradeiro Não Encontrado
Nº Inventário -
Tipologia Não Encontrada S/F
Material Não Encontrado
Medidas Não Encontradas
Descrição: Não encontrada
B. Inscrição
Imp(eratori) Caesari / Traiano Hadriano / Aug(usto) divi Nervae nep(oti) / divi Traiani Dac(ici)
Par(thici) fil(io) / co(n)s(uli) III trib(unicia) potest(ate) V[- - -] / Felicitas Iulia[- - -] / d(onum) d(edit)
/ per M(arcum) Gellium Ruf[um] / et L(ucium) Iulium Avitum d(uo)[v(iros?)]
Interpretação:
(Ao) Imperador César Trajano Adriano Augusto, neto do divino Nerva, filho do divino Trajano
Dácico Pártico, cônsul, 3 vezes Tribuno, V [---]. Felicita Iulia [---]. Doado por Marcos Gellio Ruffo e
Lucio Iulio Avito, duunviros.
C. Comentário Histórico
Dedicatória Imperial realizada pelos duunviros.
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
CIL II 186, p 692; RAP 501
Catálogo Online: HEpOnl 21275
359

Palavra-Chave: dedicação imperial,


Nº de Registro: 175
aministração municipal.
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrada na rua da Madalena, junto a Rua
das Pedras Negras, Lisboa, Portugal.
Paradeiro Não Encontrado
Nº Inventário -
Tipologia Não Encontrada S/F
Material Não Encontrado
Medidas Não Encontradas
Descrição: Não encontrada.
B. Inscrição
Imp(eratori) Caes(ari) Imper(atoris) / M(arci) Aurel(i) Antonini / Aug(usti) f(ilii) divi Pii nep(oti)
divi / Hadr(iani) pron(epoti) divi / Trai(ani) Parthici abnep(oti) / L(ucio) Aurelio Commodo /
Aug(usto) German(ico) Sarm(atico) / Fel(icitas) Iul(ia) Olis(ipo) / per Q(uintum) Coelium
Cassianum / et M(arcum) Fulvi/um Tuscum IIvir(os)
Interpretação:
(Ao) Imperador César Imperador (?)

Marco Aurélio Antonino Augusto, filho do divino Pio, neto do divino Adriano, bisneto do divino
Trajano Pártico, trineto de Lucio Aurelio Comodo Augusto Germânico Sármata. (O municipio)
Felicitas Iulia Olisipo (dedicou), por Quinto Coelio Cassiano e Marco Fulvio Tuscum, duunviros.
C. Comentário Histórico
Dedicatória Imperial realizada pelos duunviros.

Datação: Entre os anos 176-180 d. C.


D. Referências Bibliográficas
CIL II 187, p XXXIX, 692; RAP 510.
Catálogo Online: HEpOnl 21276
360

Subgrupo Temático: Epígrafes Monumentais

Palavra-Chave: dedicação imperial,


Nº de Registro: 173 sacerdote imperial (Augustal),
benemerência.
A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrado em 1798 sob os escombros
do terremoto de 1755,
Lisboa, Portugal.
Paradeiro Encontra-se no teatro romano, situado
próximo às ruas de S. Mamede e de
Saúde.
Nº Inventário -
Tipologia Bloco
Material Pedra
Medidas Não encontradas
Descrição: Não encontrada.

B. Inscrição
NERONI CLAVDIO DIVI· CLAVDI · F(ilio) · GER(manici) [- - -]AESARI /[- - -]AESARIS[- - -]
AVG(usto) GERMANICO /PONT(ifici) MAX(imo) TRIB(unitia) POT(estate) III IMP(eratori) III
CO(n)S(uli) II DESIGNATO III /PROSCAENIVM ET· ORCHESTRAM CVM ORNAMENTIS
/AVGVSTALIS PERPETVVS C(aius) HEIVS PRIMVS [- - -]
Interpretação:
A Nero Cláudio Augusto, Germanico, filho do divo Cláudio Germânico, Pontífice Máximo, no seu
terceiro poder tribunício, Imperador pela terceira vez, consul pela segunda vez e designado para a
terceira. O proscénio e a orquestra com ornamentos, o augustal perpétuo, Caio Heio Primo
(FERNANDES, 2005, p. 30, nota 3)
C. Comentário Histórico
Reuperamos aqui a análise de Lidia Fernandes (2005, p.105-110):

“ sendo o proscaenium, nos teatros, um elemento da fachada frontal do palco perfeitamente visível
das bancadas, é um local de eleição tanto para a ornamentação como para a comunicação através de
mensagens escritas. Assim, é fácil compreender que no proscaenium do teatro romano de Lisboa
tenha sido gravado um texto que terá constituído, no edifício, um dos elementos mais notáveis
daquilo que Giancarlo Susini (1982, 17-18) designou por “paisagem epigráfica”, ou seja, uma escrita
exposta aos olhos de todos que cumpria uma função comunicativa considerada importante”.
(...)
“A arte da inscrição, cultivada pela civilização romana, tinha propósitos eminentemente práticos:
informar, recordar, exaltar e influenciar. A epígrafe do proscaenium é bom exemplo disso. Como a
maioria das mensagens epigráficas romanas era concisa e clara. Numa só linha, constituída por
poucas palavras, cumpria simultaneamente várias funções: exaltava a figura do imperador em
exercício e ao mesmo tempo que especificava os trabalhos de embelezamento, localizando-os no
tempo, recordava o benemérito que os promovera, numa estratégia propagandística muito clara para
influenciar a opinião pública. O imperador a quem é dedicada a inscrição é Nero. Declarado hostis
publicus em 68 d.C., a sua condenação ao esquecimento, através do instrumento legal da damnatio
memoriae, obrigaria, em princípio, à martelagem de todos os nomes e títulos que o identificassem na
inscrição, o que nunca chegou a acontecer, no caso do texto do proscaenium do Teatro de Lisboa.
Este não é um caso único nem raro. O cumprimento pouco rigoroso das implicações práticas da
condenação tem sido explicado com a conturbação dos anos 68-70 e com a política moderada de
Vespasiano (PAILLER; SABLAYROLLES, 1994, p. 11-15). A dedicação a Nero é uma
manifestação do culto imperial. O culto aos imperadores, colocando a religião ao serviço do Estado,
361

foi um vector de romanização e um elemento fundamental para a estabilidade do Império. Na


Península Ibérica, beneficiando de tradições ancestrais, implantou-se e desenvolveu-se com alguma
facilidade, sendo detectável na Lusitânia já na época de Augusto. As manifestações desse culto a
nível provincial e local eram promovidas por sacerdotes de origem livre, os flâmines que, tal como os
pontífices e os áugures, eram representantes da religião oficial romana. Se inicialmente só eram alvo
de culto os imperadores divinizados após a morte, gradualmente também algumas das suas esposas
foram declaradas divas postumamente e mereceram cerimónias oficiais de culto, promovidas por
flamínicas. A partir dos finais do século I, flâmines e flamínicas começam a promover o culto a
imperadores vivos (ETIÉNNE, 1974, p. 121-126; 199-200 e 359-362; idem, 1990, p. 215-231; idem,
2002, p. 99-101 e 103)”
“Todavia, a dedicação a Nero do proscaenium do teatro romano de Lisboa não é promovida por um
flâ- mine45. A inscrição é feita em vida do imperador numa época em que os flâmines apenas se
ocupam com o culto a imperadores declarados divi, após a morte. De facto, Caius Heius Primus,
omitindo a sua filiação, declara-se augustal perpétuo, o que denuncia a sua condição de libertus. Os
liberti, dada a sua origem servil, estão legalmente impedidos do exercício de magistraturas políticas e
de sacerdócios oficiais importantes, mas nada condiciona a sua prosperidade económica, como o acto
recordado no texto do proscaenium bem demonstra. Um estudo (FERNANDES, 2005, p. 29-40),
partindo da análise do nomen deste augustal perpétuo de Felicitas Iulia Olisipo ajuda a explicar a
origem dessa enorme fortuna.
Heius é um gentilício itálico, pouco difundido no mundo romano, mas presente em importantes
centros portuários: os Heii mais antigos registam-se no sul de Itália, na cidade litoral de Cumae, nos
fins do século III a. C.; a partir do século II a. C. estão presentes em duas cidades portuárias da
Sicília, Messana e Lylybaeum e também na Grécia, em Delos, Corinthus e Mantineia; em número
mais escasso há ainda Heii no Norte de Itália e no Norte de África e testemunhos isolados em
Nemausus, na Germania e em Siscia, na Pannonia Superior. Nos locais de maior concentração do
gentílico, a epigrafia, registando Heii de nascimento livre e libertos, faz prova do seu dinamismo
político-social através dos cargos que exercem e assinala as suas actividades munificentes em
edifícios públicos, resultado da grande riqueza acumulada graças ao comércio marítimo e à produção
de cerâmica de construção.
A importância econômica de Felicitas Iulia Olisipo, cidade portuária do estuário do Tejo, escala
essencial da navegação atlântica e centro de activa cabotagem, em especial com a Bética, tem vindo a
ser demonstrada (MANTAS, 1975, 167-169; idem, 1990, p. 169-172; idem, 1997, p. 15-41). A
prosperidade de Olisipo ter-se-á baseado nas atividades produtoras como os preparados piscícolas, na
comercialização de produtos agro-pecuá- rios e na exploração pedreira e mineira dos arredores.
Olisipo, como local de oportunidades para negotiatores, apresenta o ambiente económico onde é
habitual encontrar Heii e poderá legitimamente supor-se que a fortuna de Caius Heius Primus se deva
a actividades económicas ligadas à função portuária da cidade.
Como é relativamente frequente nos grandes portos do Império romano, também em Olisipo a
epigrafia demonstra que os libertos constituíam um grupo social importante na cidade e regista uma
quantidade importante de nomes de origem grega que devem significar, mais do que uma corrente
cultural helenizante, uma população de origem greco-oriental (MANTAS, 1994, p. 72). Através de
um monumento honorífico que esteve colocado no teatro, em homenagem ao próprio Caius Heius
Primus46 é possível conhecer outros Heii de Olisipo. São os seus libertos e respectivos descendentes,
já de nascimento livre, que aparecem c como dedicantes do monumento. É interessante verificar que
nessa epígrafe, Caius Heius Primus, augustal perpétuo, é referido claramente como liberto de um
Caius e que a maioria desses seus herdeiros possui nomes de origem grega.
A hipótese de que Caius Heius Primus, augustal perpétuo em Olisipo, seja liberto de um dos Caius
Heius que actuaram como negotiatores no Mediterrâneo Oriental (FERNANDES, 2005, p. 35), é,
portanto muito provável. A Caius Heius Primus, liberto muito rico de Olisipo, estão vedados os
cargos políticos e os principais sacerdócios do municipium civium romanorum, contudo a sua fortuna
notável abre-lhe uma via de acesso ao protagonismo sócio-político: a ordo (conselho) augustalium.
Os augustais, escolhidos pelos decuriões, preferencialmente entre os libertos mais abastados e de
melhor reputação da comunidade, constituíam uma espécie de confraria religiosa oficialmente
reconhecida que, no seio das colónias e municípios, se ocupava com homenagens a imperadores
vivos, mesmo na época, como é o caso presente, em que os flâmines só promoviam o culto a
362

imperadores divinizados.
O cargo de augustal, considerado uma honra anual, com direito à toga praetexta e à sella curulis era
sujeito à summa honoraria. Assim a augustalidade funcionava, para os libertos especialmente
abastados, como via de entrada nas elites locais e nos modos de vida aristocráticos. Como augustal
perpétuo, Caius Heius Primusrecebeu a honra máxima que lhe permite manter o título e o prestígio
vitaliciamente. Essa honra foi certamente antecedida e acompanhada por actos de evergetismo
marcantes, como a epigrafia do Teatro romano, nomeadamente a inscrição do proscaenium, tão
claramente demonstra. Foi também descoberto, em reutilização num edifício da Rua da Saudade,
próximo do local das ruínas, o que aparenta ter sido um lintel do Teatro, com a seguinte gravação,
[C(aius) HEI]VS PRIMVS DEDIT48. Não deverá surpreender que o teatro tivesse sido o edifício que
Caius Heius Primus escolheu para patrocinar.
De fato, como têm sido salientado, os teatros estavam relacionados com o desenvolvimento de
cerimónias de culto imperial, pelo que participar na sua construção, ou reforma funcionava como um
acto pú- blico de lealdade face aos imperadores divinizados e ao imperador em exercício (GROS,
2002, p. 30; MERCHOL GIL, 2002, p. 73), ao mesmo tempo que preenchia o dé- fice crónico dos
fundos públicos municipais, dependentes do evergetismo privado (CEBELLOS HORNERO, 2002-
2003, p. 83-106; idem, 2004, p. 334-348)”.
Datação: Ano 57 d. C.
D. Referências Bibliográficas
Hispania Epigraphica. Madrid: Universidad Complutense de Madrid, nº4, 1994, 1074; Hispania
Epigraphica. Madrid: Universidad Complutense de Madrid, nº11, 2001, 690, FERNANDES, L;
CAESSA, A. O proscaenium do teatro romano de Lisboa: aspectos arquitectônicos, escultóricos e
epigráficos da renovação decorativa do espaço cénico. In.: Arqueologia & História nº56/57 -
2004/2005, pp. 95-102.
Catálogo Online: HEpOnl 21272
363

5. Sellium Turmulus
Status Jurídico: ?

Enquadramento Cronológico: Datação não atribuída

Subgrupo Temático: Epígrafe Votiva

Palavra-Chave: decreto dos


Nº de Registro: 145
decuriões.
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrada em 1912 na torre "homenaje del
castillo", Tomar, Santarém, Portugal.
Paradeiro Não Encontrado
Nº Inventário -
Tipologia Não Encontrada S/F
Material Não Encontrado
Medidas 89 x 50 x 50 cm
Descrição: Não Encontrada
B. Inscrição

Genio / municipi(i)
Interpretação:
Ao Gênio do Município
C. Comentário Histórico
Trata-se de uma inscrição votiva, dedicada a uma divindade tutelar, ou seja, o Genio do município.

Datação: Não Atribuída


D. Referências Bibliográficas
AE 1993, 881; RAP 256
Catálogo Online: HEpOnl 20675
364

6. Scallabis
Status Jurídico: Coloniae

Enquadramento Cronológico: Datação não atribuída.

Subgrupo Temático: Epígrafe Honorífica

Palavra-Chave: tria nomina,


Nº de Registro: 013 administração colonial, sacerdote
imperial (Flâmine).
A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Possivelmente encontrada durante a
demolição do convento de S. Domingos,
Santarém, Portugal.
Paradeiro MMS - Santarém/Pt
Nº Inventário -
Tipologia Pedestal
Material Mármore
Medidas 120 x 49,5 x 42 cm
Descrição: Monolito que serviu de base de estátua. Na parte
superior há uma cavidade quadrada, estando
longitudinalmente retalhado no lado esquerdo, fato este que
afetou o inicio de todas as linhas. O lado direito também está
danificado.
B. Inscrição – HONORÍFICA
[- - -] Aponio [- - - / C]apitoni II / [vir(o)] col(oniae) · Aug(ustae) . [- - - / pr]aef(ecto) fabrum /
[fla]mini col(oniae) . Aug(ustae) · l[(uliae) S(callabis) ? / fla]mini provinc(iae) · [Lu/sita]niae divi
Aug(usti) / divae Aug(ustae) / [A(ulo) Vite]llio · L(ucii) · f(ilio) G(aio) · Vipstanio / co(n)s(ulibus)
d(ecreto) d(ecurionum)
Interpretação:
[- - -] Aponio Capitão, duunviro da colônia Augusta. Prefeito dos artífices, flâmine da colônia
Augusta Iulia Scallabis, flâmine da província da Lusitânia, do divino Augusto e da divina Augusta.
Aulo Vitellio, filho de Lucio e Gaio Vispanio, cônsules. Por decreto dos Decuriões.

C. Comentário Histórico
Na presente inscrição é possível observar o registro dos tria nomina e de magistraturas importantes
no território provincial, a saber: o duunvirato, a praefactura e, ainda, de um sacerdócio provincial,
no caso, o flaminato. A inscrição foi feita com a autorização do decreto decurionum.
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
Hispania Epigraphica. Madrid: Universidad Complutense de Madrid. nº4, 1994, 1084.
Catálogo Online: HEpOnl 23107
365

7. Epígrafes sem localização da Cidade.

Enquadramento Cronológico: Século I d. C.

Subgrupo Temático: Epígrafe Votiva

Nº de Registro: 134 Palavra-Chave: dedicação imperial


A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrado em Castelo de S.
Paio, São Cristovão de Nogueira,
Cinfães, Viseu, Portugal.
Paradeiro MSMS - Guimarães/Pt
Nº Inventário -
Tipologia Não Encontrada
Material Não Encontrado
Medidas Não Encontradas
Descrição: Não encontrada.
B. Inscrição

Imp(eratori) · Augusto · divi / f(ilio) sacrum publice / [- - - I]ulius


Interpretação:
Ao Imperador Augusto, filho do divino, consagrado publicamente. Iulius [---]
C. Comentário Histórico
Trata-se de uma inscrição votiva, dedicada ao Imperador Augusto divinizado.

Datação: Não Atribuída


D. Referências Bibliográficas
EE IX 269; RAP 480
Catálogo Online: HEpOnl 7717
366

Subgrupo Temático: Epígrafe Monumental

Palavra-Chave: dedicação imperial, benemerência,


Nº de Registro: 014
aministração.
A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada na parede de uma
casa de Póvoa de Midões,
Portugal.
Paradeiro Não Encontrado
Nº Inventário -
Tipologia Bloco
Material Granito
Medidas 150 x 35 x ? cm
Descrição: Bloco de granito paralelepipédico
longitudinal com o campo epigráfico rebaixado
com forma próxima a uma tabula ansata.
Pertenceu a fachada de uma fonte.
B. Inscrição

Imp(eratore) Tito · VIII · co(n)s(ule) / fontem · aedificavit / Severus · Vituli · f(ilius)


Interpretação400:
Em honra do imperador Tito, durante seu oitavo consulado, Severo, filho de Vivio, construiu esta
fonte.
C. Comentário Histórico
Datação atribuída através da titulatura imperial, a saber, oitavo consulado do imperador Tito, é
possível contextualizar o monumento no período de 1 de janeiro de 80 d. C. a 13 de setembro de 81
d. C.
Datação: Entre os anos 80 – 81 d. C.
D. Referências Bibliográficas
ANACLETO, Regina. Bobadela Epigráfica, Coimbra, 1981, nº 9, p. 76; Hispania Epigraphica.
Madrid: Universidad Complutense de Madrid. Nº2, 1990, 783.
Catálogo Online: HEpOnl 21079

400
Tradução da transcrição: “En honor del emperador Tito, durante su octavo consulado, Severo, hijo de Vivio,
construyó esta fuente” (ANACLETO, R. 1981, nº 9).
367

Subgrupo Temático: Outro

Palavra-Chave: acordo de
Nº de Registro: 017
hospitalidade.
A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada em Campo Maior, Portalegre,
Portugal.
Paradeiro Não Encontrado
Nº Inventário -
Tipologia Placa
Material Bronze
Medidas 17,2 x 8,9 x 0,3
Descrição: Placa retangular emoldurada com um anel em forma de
arco para suspensão no lado superior. A placa, incluindo a moldura,
parece obtida por fundição. A face principal apresenta alguns
defeitos de fundição.

B. Inscrição
Caburius / Tangini f(ilius) / tesseram / populo qui / conveniunt / ARTICA capud / de suo donavit
Interpretação401:
Caburio, filho de Tangino, oferece a seus custos esta téssera ao povo que se reúne na capital Ártica.
C. Comentário Histórico
Segundo Encarnação (2009, p. 128), devido as suas circunstâncias de achado e à estranha
composição da forma e texto, cabem dúvidas sobre sua autenticidade.
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
D’ENCARNAÇÃO, J. “Da invenção de inscrições romanas, ontem e hoje: a propósito de uma
téssera de bronze”, Revista Portuguesa de Arqueologia, 12 (1), 2009, pp. 127-138.
Catálogo Online: HEpOnl 25982

401
Tradução da transcrição: “Caburio, hijo de Tangino, ofrece a su costa esta tésera al pueblo que se reune en la
capital Ártica” (HEpOnl 25982).
368

Conventus Emeritensis

1. Augusta Emérita
Status Jurídico: Coloniae

Enquadramento Cronológico: Século I - III d. C.

Subgrupo Temático: Epígrafes Funerárias

Nº de Registro: 230 Palavra-Chave: tria nomina, tribo.


A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrada em Mérida, Badajoz,
Extremadura, Espanha.
Paradeiro MNAR – Mérida/Es
Nº Inventário S/nº
Tipologia Bloco
Material Granito S/F
Medidas (33) x (89,5) x 63 cm
Descrição: Parte superior de un bloco de granito marrón-
amarelado, com os lados quebrados e um orificio circular na
superficie frontal. Todos os danos são frutos de sua
reutilização. Provavelmente foi parte de um mausoléo, talvez
utilizado como parte do dintel da porta de entrada.
B. Inscrição
[- - -] M(arci) · f(iliae) · matri · et · Fabiae · M(arci) · f(iliae) · M[- - - /- - -] · s[e]cunda · sit · nob[is
- - - / - - - Pa]p(iria tribu) Rusticus · eques · stat[- - -] / - - - - - -
Interpretação:
[---] Mãe, filha de Marcio e Fabia, filha de Marcio, M[---/---] Secunda, aqui jazem. [---/--- (inscrito
na Tribo) Papíria, o cavaleiro Rústico.
C. Comentário Histórico
Apesar do estado de deteriorização da peça e da subsequente dificuldade na identificação da tipologia
do monumento, Jonathan Edmondson (2006, nº 23) destaca que o responsável pela sua ereção foi um
cidadão romano emeritense, do qual foi conservado apenas o cognomen, Rusticus.
As homenageadas foram sua mãe, cujo nome foi perdido, e uma segunda mulher, Fabia. Sobre esta,
há algumas hipóteses, poderia ser outro caso de menção que carece de cognomen e ser, por exemplo,
sua m[atertera], ou ainda apresentar um cognomen que iniciasse com M. Para o autor (2006, nº 23, p.
14) essa possibilidade é preferível ante a possibilidade de se tratar de sua irmã, esposa ou filha.

Datação: Século I d. C.
D. Referências Bibliográficas
Hispania Epigraphica. Madrid: Universidad Complutense de Madrid. nº15, 2006, 23.

Catálogo Online: HEpOnl 5417


369

Nº de Registro: 234 Palavra-Chave: sacerdote imperial (Flâmine)


A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada em 1967 nas obras de
pavimentação da rua Mariano José de
Larra nº 16, próxima da chamada
Casa Romana del Anfiteatro, Mérida,
Badajoz, Extremadura, Espanha.
Paradeiro MNAR – Mérida/Es
Nº Inventário -
Tipologia Placa-Epitáfio
Material Mármore
Medidas 46 x (42-24) x 8 cm
Descrição: Placa de mármore branco com partículas
de calcário e manchas. Está fraturada
longitudinalmente, restando apenas o lado esquerdo. O
campo epigráfico possui uma moldura em forma de S.
B. Inscrição
Helvia · M(arci) [f(ilia) - - -] / Flamin(ica) [- - -]/ provinc(iae) [Lusitaniae] / h(ic) [s(ita) e(st) s(it)
t(ibi) t(erra) l(evis)]
Interpretação402:
Helvia, filha de Marcio, Flamínica [---] da província da Lusitania, aqui jaz, que a terra te seja leve.
C. Comentário Histórico
Como indica Velázquez Jiménez (1988, p. 125), a inscrição de Helvia é um importante testemunho
de uma flamínica encontrado em Mérida, sobretudo se levarmos em conta a lápide desaparecida de
Valeria Viniciana, flamínica conhecida apenas pelos textos que descrevem a peça. Assim,
contrastando com os registros dos flâmines, em maior número, o testemunho em tela ganha ainda
mais destaque. Outro ponto de interesse desencadeado pela inscrição consiste no estudo
prosopográfico que a inscrição viabiliza. No tocante ao estudo das principais familias emeritenses, os
Helvios ganham destaque. Percorrendo os estudos de Carmen Castillo (apud VELAZQUEZ
JIMÉNEZ, op. Cit, p. 127-1280) é possível mapeá-los na província da Bética como uma das familias
de notoriedade. Seguindo a autora, compreende-se que durante a República (197 a. C.) um M.
Helvius foi praetor da Hispania Ulterior, e alguns decendentes dos antigos colonizadores alcançaram
postos proeminentes em suas cidades.
Deste modo, a presença dos Helvii em Hispalis é documentada M. Helvius Agrippa, homenageado
pelo conselho da cidade. Há, ainda, os casos de L. Helvius Agrippa, proconsul da Sardenha (68 - 69 )
e M. Accenna Helvius Agripa, senador na época dos antoninos. Em Urgavo deve ter existido um
ramo da familia identificado por M. Helvius Varus, augustal perpétuo, casado com Helvia Procula, e
M. Helvius Novatus, que desempenhou em sua cidade vários cargos municipais. Pelos textos
clássicos se conhece ainda que uma tia e a mãe de Séneca que se chamava Helvia e que uma Helvia
Procula estava casada com um senador da Bética assassinado em 70 d. C.
A hipótese defendida consiste na compreensão de que o presente monumento seja um dos vestígios
materiais que testificam a presença de um ramo da família em Augusta Emérita, e sua importância na
própria província da Lusitânia. Deste modo, quando contextualizado com os demais achados (seja
dos fora, do teatro, do "templo de Diana", ou ainda as inscrições de flâmines datadas em época
Cláudia), reforçam as hipóteses do desenvolvimento de um importante culto imperial oficial mais ou
menos organizado na colônia, específicamente, e em toda a província. Se considerarmos os demais
vestígios de mesma tipologia datados no período de Tibério (se não antes) e estendendo-se para além
dos Flávios, pode-se atribuir nesta mesma demarcação cronológica a atuação da flamínica e de sua
família.

402
Nossa interpretação.
370

Datação: Entre as dinastias Flávia e Antonina.


D. Referências Bibliográficas
A. Velázquez Jiménez, "Una Helvia, Flaminica en Augusta Emerita". Anas 1, 1988, 125-130, lám.
22, fig. 2; Hispania Epigraphica. Madrid: Universidad Complutense de Madrid. nº 2, 1990, 40.

Catálogo Online: HEpOnl 18930

Palavra-Chave: tria nomina, tribo, sacerdote


Nº de Registro: 244
imperial (Flâmine).
A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada em Mérida, Badajoz,
Extremadura, Espanha.
Paradeiro MNAR – Mérida/Es.
Nº Inventário -
Tipologia Não Encontrada
Material Não Encontrado
Medidas Não Encontradas
Descrição: Não Encontrada.

B. Inscrição
C(aius) Pompeius L(uci) f(ilius) Pap(iria) Priscus / flam(en) col(oniae) IIvir flam(en) pr(ovinciae)
Lusit(aniae) / huic ordo decrevit loc(um) sepult(urae) / impens(am) funer(is) statuam et
laudat(ionem) / ann(orum) XXXVII h(ic) s(itus) e(st) s(it) t(ibi) t(erra) l(evis)
Interpretação403:
Aqui jaz Caio Pompeu, filho de Lucio Prisco, da Tribo Papíria, flâmine colonial, duúnviro, flâmine
da província da Lusitânia. A ele o conselho (municipal) decretou o local da sepultura e dedicaram-lhe
a estátua e o elogio fúnebres. 38 anos, que a terra te seja leve.

C. Comentário Histórico
A partir da inscrição é possível observar o registro dos tria nomina, da tribo e de uma magistratura e
do sacerdócio de culto imperial provincial, a saber, o flaminato. Quando comparada com outros
registros, tais informações ajudam a compreender as redes social e administrativa estabelecidas em
época imperial.

Datação: Não Atribuída


D. Referências Bibliográficas
HAE 2358; ERAE 112; AE 1967, 187.
Catálogo Online: HEpOnl 20175

403
Nossa interpretação.
371

Palavra-Chave: tria nomina, sacerdote


Nº de Registro: 245
imperial (Augustal).
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrada em Mérida, Badajoz,
Extremadura, Espanha.
Paradeiro MNAR – Mérida/Es
Nº Inventário -
Tipologia Não Encontrada S/F
Material Não Encontrado
Medidas Não Encontradas
Descrição: Não Encontrada
B. Inscrição
Q(uintus) Aefulanus Q(uinti) lib(ertus) / Posphorus aug(ustalis) / ann(orum) LXXXV h(ic) s(itus)
e(st) s(it) t(ibi) t(erra) l(evis)
Interpretação404:
Quinto Aefulano Posfóro, liberto de Quinto, augustal de 85 anos, aqui jaz, que a terra vos seja leve.
C. Comentário Histórico
A presente inscrição funerária registra dois libertos. Um indica sua condição explicitamente, a partir
da auto referenciação como libertus, sobre o outro, é possível deduzir a partir do tipo de sacerdócio
ewxercido, típico de libertos, a saber, augustal.
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
AE 1967, 188.
Catálogo Online: HEpOnl 20176

404
Nossa interpretação.
372

Nº de Registro: 247 Palavra-Chave: tria nomina, exército.


A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada em Mérida, Badajoz,
Extremadura, Espanha.
Paradeiro MNAR – Mérida/Es
Nº Inventário -
Tipologia Placa-Epitáfio
Material Mármore
Medidas 29 x 40 x 5 cm
Descrição: Placa de Mármore.

B. Inscrição
M(arcus) . Tavonius . / M(arci) . f(ilius) . Rom(ilia) . Firmus . / dom(o) . Ateste . mil(es) . / leg(ionis)
. VI . Victr(icis) . |(centuria) . P(ubli) . Sexti / an(norum) . XXX . Era(orum) . XI . H(ic) . S(itus) .
E(st) . / s(it) . T(ibi) . T(erra) . L(evis) .
Interpretação405:
Marco Tavonio Firmo, filho de Marcio, da tribo Romilia, domiciliado em Ateste, soldado da legião
VI Victrixna centúria de Publio Sexto, de 30 anos, da ERAORUM (?) XI, aqui jaz, que a terra vos
seja leve.
C. Comentário Histórico
Inscrição funerária de um veterano, possivelmente pertencente à primeira leva de colonos assentados
na colônia. O cognome Victrix foi atribuído à legião por Nero, por isso datamos a inscrição nesse
períoodo.
Datação: Governo de Nero
D. Referências Bibliográficas
Cerezo Magán, M. "Miscelánea epigráfica. Inscripciones de la provincia de Badajoz", Emerita 36,
1968, 318, lám. 3.
Catálogo Online: HEpOnl 20205

405
Nossa interpretação.
373

Palavra-Chave: tria nomina,


Nº de Registro: 248
onomástica, tribo, liberta.
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrada em Mérida, Badajoz,
Extremadura, Espanha.
Paradeiro Desconhecido
Nº Inventário -
Tipologia Não Encontrada S/F
Material Não Encontrado
Medidas Não Encontradas
Descrição: Não Encontrada
B. Inscrição
[P]apirius M(arci) f(ilius) / [- - -] Pap(iria) Rufus / Papiria M(arci) l(iberta) Turpa / Papiria M(arci)
l(iberta) Severa / Papiria M(arci) l(iberta) Tapora / Papirius Modestus an(norum) IIII / M[- - -] / PI[-
- -] / ex t[estamento - - -] / f(aciendum) c(uraverunt) / M(arcus) P[apirius - - -] / Pri[sco] / h(ic)
[situs]
Interpretação406:
Papirio Rufo, filho de Marcos, [---] da tribo Papíria; Papiria Turpa, liberta de Marcio, Papiria Severa,
liberta de Marcio, Papiria Tapora, liberta de Marcio, Papirio Modesto de 4 anos. M [---] PI[---].
Cuidou para ser cumprido por testamento. Marco Papirio Prisco, aqui jaz [---].
C. Comentário Histórico
É possível identificar seis personagens na inscrição. O primeiro, Papírio Rufo é cidadão inscrito na
tribo Papíria cuja identificação só apresenta o praenomen e o cognomen, possívelmente o registro do
nomen foi perdido.
As três personagens femininas, Papiria Turpa, Papiria Severa e Papiria Tapora são libertas de um
Marcio do qual não se tem outras informações, contudo, diante do praenomen das mulheres, recebido
quando da manumissão, trata-se de um membro da gen Papiria.
Há, ainda o registro de um Papirio Modesto, de quatro anos. Em virtude do falecimento precoce, o
pequeno Modesto recebeu o praenomen antes de completar 17 anos (quando assumiria a Toga Viril e
passaria da infância para a adolescência).
Por fim, registra-se Marco Papirio Prisco, único indivídio identificado com os tria nomina.
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
ERAE 342.
Catálogo Online: HEpOnl 20232

406
Nossa interpretação.
374

Nº de Registro: 250 Palavra-Chave: tria nomina, exército.


A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada em Mérida, Badajoz,
Extremadura, Espanha.
Paradeiro MNAR – Mérida/Es.
Nº Inventário -
Tipologia Não Encontrada
Material Não Encontrado
Medidas Não Encontradas
Descrição: Não Encontrada

B. Inscrição
Miniciae Paternae ann(orum) XXXV / coniugi dulcissimae et castissimae / Geminius Gargilianus
mil(es) leg(ionis) VII G(eminae) b(ene)f(iciarius)
Interpretação407:
A Minicia Paterna, 35 anos, conjuge dulcíssima e castissima. Geminio Gargiliano, soldado da VII
Legião Gêmina, concedeu-lhe o benefício.
C. Comentário Histórico
Inscrição de veterano à sua esposa. Possivelmente foram integrantes da primeira leva de colonos
(veternanos da 7ª legião Gêmina) assentados quando da fundação da colônia Augusta Emerita,
fundada em 25 a. C. pelo Imperado Augusto.
Datação: Após 25 a. C.
D. Referências Bibliográficas
GARCÍA Y BELLIDO, A. Esculturas romanas de España y Portugal, Madrid, 1949, 297, nº 290.
Catálogo Online: HEpOnl 20285

407
Nossa interpretação.
375

Palavra-Chave: onomástica, tria


Nº de Registro: 252
nomina, tribo.
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrada em Mérida, Badajoz,
Extremadura, Espanha.
Paradeiro Não Encontrado
Nº Inventário -
Tipologia Placa-Epitáfio S/F
Material Mármore
Medidas 39 x 20 x 2 cm
Descrição: Placa de mármore quebrada em sete fragmentos,
com neto em forma de tabula ansata.
B. Inscrição
Numeria Q(uinti) l(iberta) Pri/ma sibi et suis / posterisque C(aius) Rubrius / Proculus Pap(iria)
an(norum) VI / h(ic) s(itus) e(st) s(it) t(ibi) t(erra) l(evis)
Interpretação408:
Numeria Prima, liberta de Quinto, fez para si e sua posteridade. Caio Rubrio Proculo da tribo Papíria,
de 6 anos. Aqui jaz, que a terra te seja leve.
C. Comentário Histórico
Numeria Prima é liberta de um indivíduo do qual sabemos apenas o praenomen, Quinto. A ligeiresa
da menção ao cidadão se dá, ao nosso ver, em virtude do registro fúnebre estar destinado ao filho de
Numeria, Caio Rubrio Proculo, de seis anos.
O uso dos tria nomina e da inscrição na tribo Papíria na identificação da criança falecida reintera a
importância atribuída à cidadania romana adquirida precocemente. O orgulho frente ao status do
filho também pode ser observado no reforço do destino do monumento, a saber: ‘para si e sua
posteridade’.
Por fim, trata-se de mais um caso do recebimento do praenomina antes da cerimônia da Toga Virilis.
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
GARCIA IGLESIAS, L. ‘Sobre epigrafía emeritense’, Homenaje a Sáenz de Buruaga
BURUAGA. Diputación de Badajoz: Institución cultural "Pedro de Valencia" 1982, 94 com foto
(AE 1982, 483).
Catálogo Online: HEpOnl 20419

408
Nossa interpretação.
376

Nº de Registro: 253 Palavra-Chave: tria nomina, tribo.


A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada em Cuartel de
Artillería,nas obras de urbanização,
Mérida (comarca), Badajoz,
Extremadura, Espanha.
Paradeiro MNAR – Mérida/Es
Nº Inventário -
Tipologia Placa-Epitáfio
Material Mármore
Medidas 75,5 x 90 x 6 cm.
Descrição: Lápide retangular de mármore branco
emoldurada. Há damnatio memoriae (de caráter local
ou familiar) de um primeiro dedicante nas linhas 5 e 7.
B. Inscrição
P(ublio) . Vario . Q(uinti) . f(ilio) . Pap(iria) . Liguri / Liciniae . C(ai) . l(ibertae) . Theli d(e) . s(uo)
f(aciendum) c(uravit) / P(ublio) . Vario . P(ubli) . f(ilio) . Pap(iria) . Severo / Variae . P(ubli) .
f(iliae) . Avitae . d(e) . s(uo) . f(aciendum) . c(uravit) / [[- - -]] / socero . socrui . socerino / uxsori . [[-
- -]] / Iulia . Q(uinti) . f(ilia) . Severa / h(oc) . m(onumentum) . s(ive) s(epulcrum) . e(xterum) .
H(eredem) . N(on) . S(equetur)
Interpretação409:
A Publio Vario, filho de Quinto, da tribo Papiria; Ligur e Licinia, liberta de Caio Trelis, que de
própria vontade deixaram-no disposto;.........ao sogro, à sogra, ao sogro avô e à sua
esposa.............Julia Severa, filha de Quinto, fez este monumento para si e os seus que não hão de
passar aos herdeiros (Segundo José Ramón Mélida).
C. Comentário Histórico
A presente inscrição dedica o monumento a quatro personagens diretamente identificadas e outras
quatro apenas mencionadas. Tratam-se do cidadão Publio Vario, filho de Quinto e inscrito na tribo
Papiria, do qual não foi registrado o cognomen; um indivíduo chamado Ligur; uma Licinia, liberta de
Caio Trelis e uma Julia Severa, filha de Quinto. As pessoas apenas mencionadas são o sogro, a sogra,
o sogro avô e sua esposa.

O registro dos destinatários é bem salientada pela dedicante do monumento, Julia Severa, que
também enfatiza que o monumento foi feito para si e os seus, estes não deverão passar para os
herdeiros. Colocamos a hipótese de estarmos perante a um jazigo familiar.
Datação: Século I d. C.
D. Referências Bibliográficas
GARCÍA IGLESIAS, L. ‘Notas de epigrafía emeritense’, Revista de Extremadura (REEX) 39,
1983, 586-588, III D, lâmina VI (AE 1983, 494); EDMONDSON, J. Conmemoración funeraria y
relaciones familiares em Augusta Emerita. IV Mesa Redonda Internacional. Cultura y
Sociedad em Lusitania Romana. 2000, p. 323, lam. 10; MANGAS MANJARRÉS, J. Esclavos y
Libertos em la España Romana. 197, p. 323; VELÁZQUEZ JIMÉNEZ, A. Hispania: El legado
de Roma, en el año de Trajano. La Lonja, Zaragoza, septiembre-noviembre de 1998, p. 551, nº
175; VELÁZQUEZ JIMÉNEZ, A. Hispania: El legado de Roma, en el año de Trajano, Mérida:
Museo Nacional de Arte Romano, febrero-abril 1999, p. 605, nº 175.
Catálogo Online: HEpOnl 20445

409
Nossa tradução do texto: “A Publio Vario, hijo de Quinto, de la tribu Papiria. Ligur y Licinia liberta de Caio
Trelis, que de propia voluntad lo dejaron dispuesto;.........al suegro, a la suegra, al suegro abuelo y a su
esposa.............Julia Severa, hija de Quinto, hizo este monumento para sí y los suyos que no há de pasar a los
herederos (Segundo José Ramón Mélida)”.
377

Palavra-Chave: tria nomina, tribo,


Nº de Registro: 254
onomástica, liberto.
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrada em Mérida, Badajoz,
Extremadura, Espanha.
Paradeiro MNAR – Mérida/Es
Nº Inventário -
Tipologia Placa-Epitáfio S/F
Material Mármore
Medidas 59,5 x 91 x 10 cm
Descrição: Placa emoldurada de mármore reutilizada como
tampa de tumba.
B. Inscrição
P(ublius) · Curtius · Cypaerus / h(ic) s(itus) e(st) /3 P(ublius) · Curtius · P(ublii) · f(ilius) · Papiria
(tribu) / Italicus · na(norum) · XXXVIII
Interpretação410:
Publio Curtio Cipaero, aqui jaz. Publio Curtio, filho de Publio da tribo Papíria, no ano itálico de 38.
C. Comentário Histórico
O primeiro defunto seria um liberto, enquanto que o segundo seria um livre emeritense por sua tribo.
Uma das hipóteses levantadas consiste na identificação desses dois personagens com outro,
denominado Curtius de Mérida (ERAE 261), mencionado em uma lápide de características similares
procedente da mesma necrópole.
Uma das interpretações possíveis seria a de que todos foram depositados em um mesmo monumento
funerário familiar. Deste modo, pelo suporte e pelo formulário da inscrição, atribui-se a datação na
segunda metade do século I ou começo do século II d. C.
Datação: Metade do século I - começo do século II d. C.
D. Referências Bibliográficas
Hispania Epigraphica. Madrid: Universidad Complutense de Madrid. nº5, 1995, 93.
Catálogo Online: HEpOnl 20714

410
Nossa interpretação.
378

Palavra-Chave: tria nomina, tribo,


Nº de Registro: 258 onomástica, sacerdote imperial
(Augustal), liberto.
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrada em Mérida, Badajoz,
Extremadura, Espanha.
Paradeiro MNAR – Mérida/Es
Nº Inventário -
Tipologia Placa-Epitáfio S/F
Material Mármore
Medidas Não Encontradas
Descrição: Não Encontrada
B. Inscrição
[L(ucius)? P]ostumius . L(uci) . lib(ertus) . Gal(eria tribu) . / Apollonius . Norbensis / aug(ustalis) .
ann(orum) LXXX (vacat) / Volosinia . Secundina . uxor / ann(orum) . XXX hic . s(ita) . e(st) . s(it) .
t(ibi) . t(erra) . L(evis)
Interpretação411:
Lucio Postumio Apolonio, liberto de Lucio, da tribo Galeria, norbense, augustal de 80 anos. A esposa
Volsina Secunda, 30 anos, aqui jaz, que a terra te seja leve.
C. Comentário Histórico
Uma das discussões mais recentes sobre a inscrição (vide HEp 14, 2005, 57.) incide na procedência
do augustal [P]ostumius L. lib. Apollonius. Uma das hipóteses consiste em seu pertencimento à tribo
Galeria, dado, sobretudo, pela localização do topônimo de origem, Norbensis.
Outra possibilidade estaria relacionada à magistratura e pela distribuição peninsular do nome
Postumius, que nos colocaria possivelmente diante de um Olisiponensis que decidiu emigrar para
Norba, ou que dispunha de possessões na colônia, e que, num dado momento, decidiu liberar o
escravo. Nessa leitura, este adotaria a tribo de seu amo e, posteriormente, se transferiria para Emerita,
onde enriqueceria e ascenderia à augustalidade. Por fim, tratar-se-ia de uma lectio simplex e
consistiria em um caso de cidade com dupla tribo.
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
Hispania Epigraphica. Madrid: Universidad Complutense de Madrid. nº 7, 1997, 125; SAQUETE
CHAMIZO, J. C. Las elites sociales de Augusta Emerita (Cuadernos Emeritenses 13). Mérida:
MNAR, 1997, nº146, nota 590 e Apêndice, 174, nº 32, lám. VIII.2; JORDÁN, A. A. ‘Algunas
reflexiones en torno a la distribución geográfica de “Augustales” en la Península Ibérica’. In.: L.
HERNÁNDEZ GUERRA, L.& ALVAR EZQUERRA, J. (Edt.) Jerarquías religiosas y control
social en el mundo antiguo. Actas del XXVII Congreso Internacional GIREA-ARYS IX
(Valladolid, 7-9 de noviembre de 2002), Valladolid 2004, p. 338; Hispania Epigraphica. Madrid:
Universidad Complutense de Madrid. nº 14, 2005, p. 57.
Catálogo Online: HEpOnl 20850

411
Nossa interpretação.
379

Nº de Registro: 259 Palavra-Chave: tria nomina, tribo.


A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrada nos columbarios, Mérida,
Badajoz, Extremadura, Espanha.
Paradeiro MNAR – Mérida/Es
Nº Inventário CE00704
Tipologia Estela
Material Mármore
Medidas 55 x 71 x 12 cm S/F
Descrição: Estela funerária em mármore ocre ou amarelado.
Na parte superior prancha, há um alto-relevo de boa realização
que representa uma correia militar (sem couraça) com nove
phalerae, flanqueado por outras condecorações militares, a
saber: duas duplas de torques e dois armillae ou braceletes em
forma de serpente.
B. Inscrição
C(aio) Voconio C(ai) f(ilio) Pap(iria) patri / Caeciliae Anui matri / Voconiae C(ai) f(iliae) Mariae
sorori / C(aius) Voconius C(ai) f(ilius) Proculus fecit
Interpretação412:
A Caio Voconio, filho de Caio, da tribo Papiria, seu pai; Cecilia Anui, sua mãe; Voconia Maria, filha
de Caio, sua irmã; Caio Voconio Proculo, filho de Caio, elevou o monumento.
C. Comentário Histórico
Como descreveu Jonathan Edmondson (200, pp. 299-302), trata-se de uma família nuclear de
cidadãos romanos livres. A inscrição integra um epitáfio ricamente adornado com uma série de
condecorações militares ganhas pelo pai durante o serviço nas legiões romanas no cargo de
centiurião ou inferior: dois torquers, dois braceletes (armillae) em forma de serpente e, entre eles,
uma armação de couro que serve como suporte para nove phalerae. Seu nome carece de cognomen o
que significa que a inscrição deve ser datada antes do final do reinado de Tibério.

Nesse sentido, Edmondson defende a hipótese de estarmos perante a um dos soldados veteranos
originários (emeriti) que foram estabelecidos na fundação da colônia Augusta Emérita em 25 a.C.
Datação: Até o ano 37 d. C.
D. Referências Bibliográficas
BENDALA GALÁN, M. ‘Los llamados Columbarios de Mérida’. In.: Revista Habis nº 3, 1972. Pp.
235-236; EDMONDSON, J. ‘Conmemoración funeraria y relaciones familiares em Augusta
Emerita’.In.: BASARRATE, T. & GORGES, J. – G. Sociedad y Cultura em Lusitania romana –
IV Mesa Redonda Internacional. Mérida: MNAR, 2000, pp. 299 - 303; EDMONDSON, J. Granite
funerary stelae from Augusta Emerita - Monografías emeritenses 9. Mérida: MNAR, 2006, p.
70, fig 2.7; Memoria de la Junta Superior de Excavaciones y Antigüedades; MÁRQUEZ, J. Los
Columbarios. Arquitectura y Paisaje Funerario. Mérida: s/e, 2007.
Catálogo Online: HEpOnl 20902

412
Tradução nossa do texto: “A Cayo Voconio, hijo de Cayo, de la tribu Papiria, su padre; Cecilia Anui, su
madre; Voconia María, hija de Cayo, su hermana: Cayo Voconio Proculo, hijo de Cayo, elevó el monumento (
Según J.R. Mélida)”.
380

Palavra-Chave: tria nomina,


Nº de Registro: 263
administração provincial, exército.
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Mérida, Badajoz, Extremadura, Espanha.
Paradeiro Não Encontrado
Nº Inventário -
Tipologia Não Encontrada S/F
Material Não Encontrado
Medidas Não Encontradas
Descrição: Não Encontrado
B. Inscrição
C(aio) Titio C(ai) f(ilio) Cl(audio) Simili Agrip[p]inensi proc(uratori) prov(inciae) / Lusitaniae et
Vettoniae et curatori rei pu/blicae Emerit(ae) proc(uratori) prov(iniciae) M[y]siae(!) inferio/ris
eiusdem provinciae ius gladii prae/posito vexill(ationum) e[xpeditionis pe]r Asiam L[y]ciam /
Pamph[y]liam et Phr[y]giam primipilo leg(ionis) / III Aug(ustae) Piae Vindicis principi
peregrin(orum) / centurioni frumentar(iorum) centurioni le/gion(is) X [
Interpretação413:
Caio Tito Claudio, filho de Caio Simile. Procurador agripiniense da província da Lusitania e da
Vetônia, paralelamente, e curador da República de Emerita. Procurador da província da Mésia
Inferior e (detentor do) direito de vida ou morte (Ius Gladii) da mesma província. Comandante dos
vexilários pela Ásia Licia Panfília e Frígia. Primipilo da legião III Augusta Pia- Vindex, príncipe dos
peregrinos, centurião frumentário, centurião da legião X [---]
C. Comentário Histórico
A personagem homenageada apresenta uma identificação com tria nomina e filiação de origem
romana. O extenso cursus honorum nos permite tecer algumas considerações sobre sua circulação
pelo Império.

Na Hispania, especialmente na Provincia da Lusitânia, a inscrição apresenta o registro da Vettonia


enquanto um segmento administrativo vinculado à Lusitânia. Como analisa Eduardo Sánchez
Moreno (2009, p. 76), territorialmente a Vettonia histórica (amplo espaço hoje ocupado por parte de
Castilla-León, parte da Extremadura espanhola e parte em território português) correspondeu a uma
reorganização provincial alto-imperial, mais uma elaboração literária do que a um estado com limites
políticos claros pré-romanos. Isto é, trata-se da denominação de um amplo território a partir da
extensão do nome de uma das povos que o habitava (os vetões), em um momento no qual os espaços
indígenas foram redefinidos na nova ordem impulsionada pelo princeps Augusto. A criação
definitiva da província da Lusitânia, entre os anos 15 e 19 a.C., na Hispânia Ulterior, passou a
integrar os vetões. Tempos depois, a província passou a incluir também dois distritos fiscais ou
subunidades territoriais, a Lusitânia e Vettonia, sendo a segunda correspondente à região oriental da
província. A presente inscrição consiste em um dos testemunhos que mencionam os procuratores da
adscrição.

Na Asia, menciona-se as regiões da Licia e da Panfilia, duas províncias que foram unidas por
Vespadiano em 74. A região da Licia foi incorporada ao Imperium como província procuratória em
43-44 por Nero. Somente em 74 tornou-se uma província autônoma imperial e foi unida à Panfilia,
passando a ser governada por um legado imperial de ordem pretoria. Em 135, tornou-se província
senatoria, sob o comando de um proconsul provincial. Em 297 fez parte da Diocesis Asiana junto
com as províncias da Asia, Hellespontus, Caria, Panfilia, Lidia, Pisidia, Phrygia I e Phrygia II. Até
que, sob Constantino I, as regiões de Licia e Panfilia foram tranformadas na nova província da
Panfilia, integrando a prefeitura do pretório d’Oriente. Sob Teodósio I foi novamente subdividida em
Licia e Panfilia.

413
Nossa interpretação.
381

Datação: Século III d. C.


D. Referências Bibliográficas
ILS 1372; ERAE 98; PEREZ-VILATELA, L. Lusitania: Historia y Etnología. Madrid: Real
Academia de La História, 2000, p.227; SANCHEZ-MORENO, E. ‘Vettones y Vettonia: etnicidad
versus ordenatio romana’. In: Jornadas de Arqueología – UAM, Madrid: UAM, 2009, pp. 65-81;
HAYWOOD, J. (et al) Historical Atlas of the Classical World: 500 BC – AD 600. New York:
Barnes & Noble Book, 2002;
Catálogo Online: HEpOnl 21503

Palavra-Chave: tria nomina, tribo,


Nº de Registro: 264 onomástica, administração provincial,
patronagem, liberto.
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Mérida, Badajoz, Extremadura, Espanha.
Paradeiro MNAR – Mérida/Es
Nº Inventário -
Tipologia Epitáfio S/F
Material Pedra
Medidas Não Encontradas
Descrição: Não Encontrada
B. Inscrição
D(is) M(anibus) s(acrum) / P(ublio) Aelio Vitali / Aug(usti) lib(erto) tabul(ario) / provinc(iae)
Lusitan/iae et Vettoniae / Stephanus lib(ertus) / et heres patro/no fecit
Interpretação414:
Consagrado aos Deuses Manes. Publio Vitalio, liberto de Augusto, tabulário da província da
Lusitânia e Vetônia. Estefano, liberto e herdeiro (do?) patrono, fez.
C. Comentário Histórico
A inscrição apresenta dois personagens: um Publio Vitalio, liberto de Augusto e Estefano, liberto e
herdeiro do patrono. Se interpretarmos que Publio seja o patrono homenageado por Estafano,
estamos perante um liberto que, ao ascender socialmente, enriquecer e tornar-se tabulário provincial,
possuiu escravos e também os libertou, perpetuando as relações de patronagem e clientelia que ele
mesmo já esteve imerso.
A presente inscrição junta-se à anterior, nº 263, ao registrar a Vettonia como um segmento
administrativo vinculado à província da Lusitânia.
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
ERAE 115. SANCHEZ-MORENO, E. ‘Vettones y Vettonia: etnicidad versus ordenatio romana’. In:
Jornadas de Arqueología – UAM, Madrid: UAM, 2009, pp. 65-81.
Catálogo Online: HEpOnl 21504

414
Nossa interpretação.
382

Palavra-Chave: onomástica, libertos,


Nº de Registro: 265
administração provincial.
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrada em Mérida, Badajoz,
Extremadura, Espanha.
Paradeiro Não Encontrado
Nº Inventário -
Tipologia Não Encontrada S/F
Material Não Encontrado
Medidas Não Encontradas
Descrição: Não Encontrada

B. Inscrição
D(is) M(anibus) s(acrum) / Iuliae Optatae / an(norum) XXIII / P(ublius) Aelius Aug(usti) lib(ertus) /
Alexander tab(ularius) / provinciae Lusit(aniae) / coniugi dulcissimae / fecit
Interpretação415:
Consagrado aos Deuses Manes. A Julia Optata, 23 anos. Publio Aelio, liberto de Augusto Alexandre, tabulario
da província da Lusitânia, para a sua dulcíssima cônjuge fez.
C. Comentário Histórico
A inscrição apresenta três personagens: Julia Optata, Publio Aelio (liberto de Augusto e Alexandre,
tabulário da província da Lusitânia. A inscrição teria sido mandada fazer pela esposa do Tabulario.

Tabulário consiste em uma das funções que integravam a administração das províncias sendo,
especificamente, o funcionário responsável pela redação dos documentos oficiais. O sistema de
registro das informações era uma prerrogativa do tabularium ou registro municipal (ou provincial), o
local de guarda dos documentos. Muitos instrumenta estavam redigidos sobre tabulae ceratae, a princípio
agrupadas em códices. Em sua análise das leges das cidades de Urso e Irna, Juan Francisco Rodrigues Neila
(2003, p.190) indica que também era função dos escribas controlar as contas da colônia. Para isso,
deveriam ser honestos nos registros e não falsear os documentos. Além disso, organizavam o arquivo
das tabulae (tabuinhas), rationes (contas) e os (libri (livros), de modo fidedigno. Assim sendo,
tratar-se-ia de um cargo de alta confiança dos magistrados locais.

Datação: Não Atribuída


D. Referências Bibliográficas
ERAE 117; RODRIGUEZ-NEILA, J. F. ‘Políticos municipales y gestión pública en la Hispania
Romana’. In.: Polis – Revista de ideas y formas políticas de la antiguedad clasica nº 15, 2003, pp.
161-197.
Catálogo Online: HEpOnl 21505

415
Nossa interpretação.
383

Palavra-Chave: tria nomina,


Nº de Registro: 266
onomástica, exército.
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Mérida, Badajoz, Extremadura, Espanha.
Paradeiro Não Encontrado
Nº Inventário -
Tipologia Ara
Material Mármore
Medidas 34 x 19 x 11 cm
S/F
Descrição: Árula de mármore branco com coranamento que
apresenta duas volutas incisas nos extremos dos lados frontal e
posterior, debaixo de uma moldura dá passo ao corpo central
com o campo epigráfico. Na parte esquerda deste, na altura da
linha 5, há um buraco recente. Outra moldura, como na parte
superior, dá passo à base erodida. A moldura percorre as
quatro faces, todas polidas.
B. Inscrição
D(is) M(anibus) s(acrum) / Domitio . Pas./[t]ori . vete.rano / [l]eg(ionis) . Sept(imae) . Gem(inae) /
[a]nn(orum) LXXXVI / Val(eria) Ver.na.cla / [h]ospiti . Pienti[s/s]imo . F.ec(it) / [h(ic) s(itus) e(st)
s(it)] t(ibi) . T(erra) . L(evis)
Interpretação416:
Consagrado aos Deuses Manes. Domintio Pastor, veterano da legião VII Gêmina, 86 anos. Valéria
Vernacla, (ao) piedosissimo anfitrião. Aqui jazem, que a terra vos seja leve.
C. Comentário Histórico

A inscrição registra a existência de duas personagens: o veterano Domitio Pastor, integrado à legião
7ª Gêmina, assentada na colônia de Augusta Emérita em 25 a.C. e da defunta Valeria Vernacla, quem
dedica a inscrição ao anfitrião. A epígrafe é, pois, um entre os vários exemplos das relações patronais
desenvolvidas na rede social da província da Lusitânia.
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
Hispania Epigraphica. Madrid: Universidad Complutense de Madrid. nº4, 1994, 165.
Catálogo Online: HEpOnl 21508

416
Nossa interpretação.
384

Nº de Registro: 268 Palavra-Chave: tria nomina, tribo.


A. Localização e Dados Gerais
Procedência Mérida, Badajoz, Extremadura, Espanha.
Paradeiro Domicilio particular em Mérida
Nº Inventário -
Tipologia Placa-Epitáfio
Material Mármore S/F
Medidas (88) x 58 x 14 cm
Descrição: Placa retangular de mármore, fragmentada na pare
inferior. Na parte superior apresenta um saliente retangular
que serviria para encaixar a peça em um monumento funerário.
O campo epigráfico é emoldurado.
B. Inscrição
L(ucio) · Antonio / L(uci) · f(ilio) · Quir(ina tribu) /3Vegeto Turdulo / Iunia · G(nei) · f(ilia) /
S[e]rena · mat[er] /6[fil]io piì[ssimo / fecit o fac(iendum) curavit]
Interpretação417:
Lucio Antonio, filho de Lucio, da tribo Quirina. Vegeto Turdulo; a mãe Julia Serena, filha de Gneu,
ao filho piedosíssimo, mandou colocar.
C. Comentário Histórico
O monumento segue a onomástica usual e, convém ressaltar a presença do termo Turdulo,
documentado também no CIL II 523, igualmente procedente de Mérida. A referência ao difunto é
feita pela menção da origem com um étnico e não como uma referência a uma civitas. Aqui se
destaca a constância de seu pertencimento ao povo túrdulo, que já aparece na obra 'Geographica'
(3,1,6) de Estrabão, como localizado na região em que foi implantada a colônia de Augusta Emerita.
Convém destacar que além de um étnico, também há registros para Turdulus como um topônimo na
região de Coria (vide HEp 8, 1998, 76). Pelas características do formulário, a menção da tribo e a
origem em seu sítio correspondente datam o monumento em fins do século I e a primeira metade do
século II d. C.
Datação: Em fins do século I e a primeira metade do século II d. C.
D. Referências Bibliográficas
Hispania Epigraphica. Madrid: Universidad Complutense de Madrid. nº 8, 1998, 28, pp. 13-14.
Catálogo Online: HEpOnl 20890

417
Nossa interpretação.
385

Palavra-Chave: tria nomina, tribo,


Nº de Registro: 272
liberta.
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Mérida, Badajoz, Extremadura, Espanha.
Paradeiro Não Encontrado
Nº Inventário -
Tipologia Não Encontrada
S/F
Material Não Encontrado
Medidas Não Encontradas
Descrição: Não Encontrada

B. Inscrição
P(ublius) Alfius T(iti) f(ilius) Pap(iria) / monumentum fecit / sibi et T(ito) Alfio T(iti) f(ilio)
Pap(iria) / fratri et Alfiae / Iucundae libertae / impensa sua
Interpretação418:
Publio Alfio, filho de Tito, da tribo Papiria, fez o monumento para si e para o irmão Tito Alfio, filho
de Tito, da tribo Papiria, e também para Alfia Jucunda, liberta, às suas custas.
C. Comentário Histórico
-

Datação: Não Atribuída


D. Referências Bibliográficas
CIL II 528, p XL.
Catálogo Online: HEpOnl 21548

418
Nossa interpretação.
386

Palavra-Chave: tria nomina, tribo,


Nº de Registro: 283
onomástica, exército.
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrado na Catedral, Badajoz,
Extremadura, Espanha.
Paradeiro Perdido
Nº Inventário -
Tipologia Placa-Epitáfio S/F
Material Mármore
Medidas Não Encontrada
Descrição: Não Encontrada
B. Inscrição
P(ublio) . Cincio . Pap(iria) . Ruf(o/ino) / A(ugustano) . m(iliti) . leg(ionis) . X / P(ublius) . Cincius .
Pap(iria) . Tuscus / patri . suo . et . sibi / per . se . d(e) . s(uo) . f(aciendum) . C(uravit)
Interpretação419:
A Publio Cincio Rufo (ou Rufoino) Augustano, da tribo Papiria, soldado da legião XX. Seu pai
Publio Cincio Tusco, datribo Papiria, mandou colocar para si e para ele.
C. Comentário Histórico
A inscrição apresenta o registro de quatro indivíduos: dos cidadãos com tria nomina e a inscrição na
Tribo: Publio Cincio Rufoino e Publio Cincio Tusco, ambos da tribo Papiria. Há ainda o registro de
um soldado da 10ª legião (não indica se é a Equestris fundada por César antes de 58 a.C. ou a
Fretensis fundada por augusto em 41 a.C.) identificado apenas com o praenomen Augustano e aquele
que seria o pai de Publio Cincio Tusco (e seu irmão Publio Cincio Tusco? A inscrição não confirma
o parentesco ainda que a gens seja a mesma).
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
FORNI, G. "La Tribu Papiria di Augusta Emerita". In. BLANCO FREIJEIRO, A. (Ed.), Augusta
Emerita. Actas del Bimilenario de Mérida. Madrid: Mérida: Dirección General del Patrimonio
Artístico y Cultural del Ministerio de Educación y Ciencia y Patronato de la ciudad de Mérida, 1976,
pp. 37-38.
Catálogo Online: HEpOnl 21844

419
Nossa interpretação.
387

Nº de Registro: 296 Palavra-Chave: tribo (?)


A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrado na Carretera de Circunvalación,
Mérida (comarca), Badajoz, no contexto de
uma escavação.
Paradeiro MNAR – Es
Nº Inventário CE07073
Tipologia Fragmento
Material Mármore
Medidas -
Descrição: Fragmento de lápide com uma única linha
preservada, na qual há o registro de um membro da tribo
Papiria.
B. Inscrição
[---] PA(I?) [

Interpretação: -
C. Comentário Histórico
Os romanos escreviam grandes inscrições gravadas em pedra para colocar nos espaços públicos
(fórum, templos, pedestais de estátuas, pontes, etc.) e que escassamente sobreviveram. Nesse tipo de
placa, honra-se uma pessoa, pública ou privada, um deus, ou publicam-se as leis, plebiscitos,
respostas do Senado, editos dos magistrados, dentre outros.
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
Disponível no site: http://ceres.mcu.es/ . Acedido pela última vez em 02 de dezembro de 2014, às
13h 54 min.
Catálogo Online: Não Registrado
388

Nº de Registro: 297 Palavra-Chave: tribo (?)


A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada nas proximidades de García de
Soto, Jesús, Plaza de Santo Domingo, Mérida
(comarca), Badajoz, Extremadura, Espanha.
Paradeiro MNAR – Mérida/Es
Nº Inventário CE13298
Tipologia Ara
Material Mármore
Medidas 29 x 16,30 x 12 cm
Descrição: Ara funerária com coroamento de acróteras e
moldura no frontão e na base. A parte superior está rebaixada
para servir de focus.

B. Inscrição
D(is) . M(anibus) . S(acrum) / TIB(erius) . CLAVDI(us) . CRESCENCIVS / PAP(iria tribu) .
EMERI(tensis) / ANN. LXX / H(ic) . S(it) . E(est) . S(it) . T(ibi) . T(erra) . L(evis)
Interpretação420:
Consagrado aos Deuses Manes. Tibério Cláudio Crescens, da tribo Papíria, emeritense, 70 anos.
Aqui jaz, que a terra te seja leve.
C. Comentário Histórico
Trata-se da memória de Tibério Cláudio Crescens, da tribo Papiria, na qual estavam inscritos os
cidadãos da colônia Augusta Emérita.
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
Disponível no site: http://ceres.mcu.es/ . Acedido pela última vez em 02 de dezembro de 2014, às
14h 00min.
Catálogo Online: Não Registrado

420
Nossa interpretação.
389

Nº de Registro: 298 Palavra-Chave: administração (?)


A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada casualmente na casa de D.
Hilario Vinagre, Delgado Fernández,
Alfonso Calle Holguín, Mérida (comarca),
Badajoz, nº 37, Extremadura, Espanha.
Paradeiro MNAR – Mérida/Es
Nº Inventário CE06309
Tipologia Fragmento
Material Mármore
Medidas 16 x 33 x 5,60 cm
Descrição: Fragmento de placa que conserva uma linha de
inscrição. A borda esquerda há um ponto de ancoragem. As
letras apresentam restos de pintura vermelha.
B. Inscrição
-
Interpretação: -
C. Comentário Histórico
Devido o estado da inscrição, defende-se a hipótese de ser a lápide funerária de um membro da tribo
Quirina ou uma lápide comemorativa de um duunvir, magistrado que possuía funções legislativas,
administrativas ou judiciais.
Os romanos escreviam grandes inscrições gravadas em pedra para colocar nos espaços públicos
(fórum, templos, pedestais de estátuas, pontes, etc.) e que escassamente sobreviveram. Nesse tipo de
placa, honra-se uma pessoa, pública ou privada, um deus, ou publicam-se as leis, plebiscitos,
respostas do Senado, editos dos magistrados, dentre outros.
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
Disponível no site: http://ceres.mcu.es/ . Acedido pela última vez em 02 de dezembro de 2014, às
14h 10min.
Catálogo Online: Não Registrado
390

Nº de Registro: 299 Palavra-Chave: administração (?)


A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrado no Solar de D. José y D. Miguel
Calvo, Calle Vespasiano, Mérida (comarca),
Badajoz, Extremadura, Espanha.
Paradeiro MNAR – Mérida/Es
Nº Inventário CE08862
Tipologia Fragmento
Material Mármore
Medidas Não Encontradas
Descrição: Fragmento de lápide funerária com três linhas de
inscrição.
B. Inscrição
-
Interpretação: -
C. Comentário Histórico
O fragmento conserva pode corresponder na primeira linha ao nomen do difunto. Na segunda linha
estaria o cognomen não identificável e a abreviatura da tribo, Papíria. O difunto pode ser vinculado à
VII legião Gêmina. As cinzas da cremação eram depositadas em vasilhas de pedra, cerâmica, vidro ou
prata, e enterrada ou depositada nos mausoléus coletivos com uma ou mais salas edificados na
superfície ou escavados na terra. As vasilhas eram introduzidas nos nichos e depois fechadas com uma
lápide gravada, cujo presente suporte é um exemplar, do mesmo modo que as lápides funerárias atuais.
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
Disponível no site: http://ceres.mcu.es/. Acedido pela última vez em 02 de dezembro de 2014, às 14h
16min.
Catálogo Online: Não Registrado
391

Palavra-Chave: administração
Nº de Registro: 301
colonial, tria nomina, tribo.
A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada na Calle Legión X, Mérida
(comarca), Badajoz, Extremadura, Espanha.
Paradeiro MNAR – Mérida/Es
Nº Inventário CE08547
Tipologia Fragmento
Material Mármore
Medidas 30 x 35 x 8 cm
Descrição: Fragmento de lápide funerária de um personagem
que fui duunvir. As bordas superior e direita são originais, as
outras estão quebradas. Conserva três linhas de inscrição, mas
não o nome do difunto.
B. Inscrição
---]M . E . PAP[---/ (V)IR . PRA(E)[...
Interpretação: -
C. Comentário Histórico
Duunviro é o mais importante magistrado municipal e que também foi prefeito, outro cargo
importante da administração local. Pertencia à tribo Papiria, a mesma que estavam inscritos os
emeritenses.
As cinzas da cremação eram depositadas em vasilhas de pedra, cerâmica, vidro ou prata, e enterrada
ou depositada nos mausoléus coletivos com uma ou mais salas edificados na superfície ou escavados
na terra. As vasilhas eram introduzidas nos nichos e depois fechadas com uma lápide gravada, cujo
presente suporte é um exemplar, do mesmo modo que as lápides funerárias atuais.
Datação:
D. Referências Bibliográficas
Disponível no site: http://ceres.mcu.es/ . Acedido pela última vez em 02 de dezembro de 2014, às
14h 30min.
Catálogo Online: Não Registrado
392

Nº de Registro: 302 Palavra-Chave: tria nomina


A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrado na Casa do Anfiteatro durante as
escavações, Mérida (comarca), Badajoz,
Extremadura, Espanha. A data de ingresso no
fundo do Museu foi em 22 de março de 1972.
Paradeiro MNAR – Mérida/Es
Nº Inventário CE13866
Tipologia Fragmentos
Material Mármore
Medidas 34 x 34 x 6 cm
Fragmento maior: 27,30 x 34 x 6 cm
Fragmento menor: 21 x 8,80 x 6 cm
Descrição: Dois fragmentos de uma lápide funerária que
conserva uma moldura nos lados inferior, esquerdo e na parte
superior. A fratura está na parte direita e tem a trajetória
inclinada.
B. Inscrição
-
Interpretação:-
C. Comentário Histórico
A lápide conserva três linhas de inscrição. Na primeira há a inicial do praenomen do difunto, na
segunda, na forma abreviada, de quem era filho, conservando, ainda, parte da inicial da tribo que
pertencia (Papíria, onde estavam inscritos os emeritenses) ou o do cognomen.
Na terceira e última linha está o registro da idade na qual morreu, 19 anos. As cinzas da cremação
eram depositadas em vasilhas de pedra, cerâmica, vidro ou prata, e enterrada ou depositada nos
mausoléus coletivos com uma ou mais salas edificados na superfície ou escavados na terra. As
vasilhas eram introduzidas nos nichos e depois fechadas com uma lápide gravada, cujo presente
suporte é um exemplar, do mesmo modo que as lápides funerárias atuais.
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
Disponível no site: http://ceres.mcu.es/. Acedido pela última vez em 02 de dezembro de 2014, às 16h
00min.
Catálogo Online: Não Registrado
393

Nº de Registro: 303 Palavra-Chave: tria nomina, tribo.


A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrado em Mérida, Badajoz,
Extremadura, Espanha.
Paradeiro Não Encontrado
Nº Inventário -
Tipologia Fragmento
Material Granito S/F
Medidas (70) x 56 x 38-35 cm
Descrição: Fragmento superior de estela em granito cinzento
de grão médio com arremate semicircular. Está com danos na
lateral esquerda, o que afeta o texto. Em relação à linha 2, uma
cavidade triangular também afeta sua leitura.
B. Inscrição
L(ucius) · Octavius · L(uci) · f(ilius) / Ga[l(eria tribu)] hic · sit(us) · est /3[L(ucius)?] Octavius ·
L(uci) · f(ilius) · / Ursus · nepos / [hic si]tus est /6[- - - - - - ? / - - - - - - ?]
Interpretação421:
Lucio Otavio, filho de Lucio, da tribo Galeria, aqui jaz. Lucio Otavio Urso, filho de Lucio, neto, aqui
jaz [- - - - - - ? / - - - - - - ?]
C. Comentário Histórico
De acordo com a análise de J. Edmondson (1999), se a leitura da tribo na linha 2 estiver correta, o
defunto deve ter sido um emigrante em Emérita, sendo oriundo de outra cidade na Lusitânia. Seja
uma colônia ou uma comunidade promovida através do estatuto municipal. O primeiro indivíduo não
registra o cognomen, mas segundo, sim. Pela paleografia e o formulário da inscrição, o monumento
é datável na primeira metade do século I d. C.
Datação: Primeira metade do século I d. C.
D. Referências Bibliográficas
EDMONDSON, J. 1999, 388-391, nº 3, láms. 5-6; Hispania Epigraphica 9, 1999, p. 97.
Catálogo Online: HEpOnl 23951

421
Nossa interpretação.
394

Nº de Registro: 305 Palavra-Chave: tria nomina, tribo.


A. Localização e Dados Gerais
Procedência Foi encontrada na rua Oviedo, nº 32, na área
correspondente ao Cerro de San Albín, onde
existia uma necrópole extramuros em
conexão com a via que conduzia a Corduba.
Mérida, Badajoz, Extremadura, Espanha.
Paradeiro MNAR – Mérida/Es
Nº Inventário -
Tipologia Estela S/F
Material Granito
Medidas (81) x 44 x 22,5 cm
Descrição: Estela em granito, de cabeceira reta com arco
semicircular em relevo. Está danificada em sua parte superior
e cortada em seus pés, o que possivelmente levou à perda de
parte de seu texto. Apresenta dois orificios retangulares nas
laterais.
B. Inscrição
G(aius) · Fuficius / Q(uinti) · f(ilius) · Pap(iria tribu) / Clemens / h(ic) · s(itus) · e(st) · s(it) · t(ibi) ·
t(erra) l(evis) / [i]n [fr(onte) p(edes) … / in agr(o) p(edes) …]
Interpretação422:
Aqui jaz Gaio Fuficio Clemens, filho de Quinto, da tribo Papiria, que a terra te seja leve. (...) de
frente mede [---], de profundidade mede [---].
C. Comentário Histórico
A inscrição registra o cidadão Gaio Fuficio Clemens (com tria nomina), a filiação e o registro da
tribo Papiria portanto, a fórmula onomástica completa.
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
Hispania Epigraphica. Madrid: Universidad Complutense de Madrid. nº15, 2006, p. 31.
Catálogo Online: HEpOnl 25930

422
Nossa interpretação.
395

Nº de Registro: 306 Palavra-Chave: tria nomina, tribo.


A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrada em Mérida, Badajoz,
Extremadura, Espanha.
Paradeiro Encontra-se no interior da Alcazaba.
Nº Inventário -
Tipologia Bloco S/F
Material Granito
Medidas 58 x (62) x 42,5-34,5 cm
Descrição: Bloco de granito cinza, cortado na lateral direita.
Apresenta um epitáfio inscrito em tabula ansata.
B. Inscrição
T(itus) · Etrili[us] / C(ai) · f(ilius) · Pap(iria tribu) [· h(ic)] / situs · est [heres?] / ex · testam[ento]
Interpretação423:
Tito Etrilio, filho de Caio, da tribo Papiria, aqui jaz. O herdeiro com seu testamento.
C. Comentário Histórico
A inscrição apresenta um cidadão cuja identificação inclui o praenomen e um nomen, além da
filiação e da inscrição na Tribo.
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
Hispania Epigraphica. Madrid: Universidad Complutense de Madrid. nº 15, 2006, 24; AE 2006,
614.
Catálogo Online: HEpOnl 25944

423
Nossa interpretação.
396

Nº de Registro: 307 Palavra-Chave: tria nomina, exército.


A. Localização e Dados Gerais
Procedência Procede do antigo "Cuartel de Artillería",
Mérida, Badajoz, Extremadura, Espanha.
Paradeiro MNAR – Mérida/Es
Nº Inventário -
Tipologia Fragmentos
Material Mármore
S/F
Medidas 44,5 x (102) x 6 e 44,5 x (70) x 6 cm
Descrição: Dois fragmentos, que não se encaixam, de uma
placa funerária emoldurada de mármore de mausoléu. Os dois
fragmentos possuem a mesma altura, a mesma profundidade e
a mesma forma de moldura, manifestando também na primeira
linha traços similares a um texto anteriormente apagado.
B. Inscrição
[- - -] Rufo . vet(erano) leg(ionis) . X . Geminae . P(iae) F(idelis) [- - - / - - -] P(- - -) . Modestino
Aurelia [- - - / - - -] Cantinia . L(uci) . F(ilia) . Severa . Uxor . V[- - -] / [- - -] Aurelio . L(uci) . F(ilio)
/ [- - -]in . S(uo?)
Interpretação424:
[---] Rufo, veterano da legião XX Gêmina Pia Fiel [- - - / - - -], P (---) Modestino, Aurelia [- - - / - -
-] Cantinia, filha de Lucio, Severa, esposa V[- - -] / [- - -] Aurelio, filho de Lucio, em sua (?) ou
soldalis (?)
C. Comentário Histórico
Inscrição funerária apresenta cinco personagens: um veterano identificado apenas com o cognomen
(?) Rufo da legião X Gemina, possivelmente um dos primeiros colonos de Augusta Emérita; P.
Modestino; Aurelia Cantinia; Severa (esposa de Rufo?) e V. Aurelio, filho de Lucio (seria esse o
prenomen de Rufo?). Pelo o que parece, trata-se de um jazigo familiar.
Datação: Não Atribuída, possivelmente fins do século I a. C., início do século I d. C.
D. Referências Bibliográficas
ILER 5668; ERAE 216; EDMONDSON, J. & HIDALGO MARTÍN, L. A. “Hallazgo de dos
epitafios de veterani en Mérida”, Mérida. Excavaciones arqueológicas 2004 (Memoria 10), Mérida
2007, 489, nota 27, figura 6A y 6B.
Catálogo Online: HEpOnl 26035

424
Nossa interpretação.
397

Subgrupo Temático: Epígrafes Votivas

Nº de Registro: 016 Palavra-Chave: benemeência, liberto.


A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrado no recinto exterior
do teatro romano, Mérida,
Badajoz, Extremadura, Espanha.
Paradeiro MNAR – Mérida/Es
Nº Inventário CE00568
Tipologia Pedestal
Material Mármore
Medidas 6 x 15 x 9 cm
Descrição: Pedestal quadrangular com moldura
de dupla franja que demarca o campo epigráfico.
Na parte superior leva um orifício para receber
uma estatua. As letras são de diferentes tamanhos
e feitios, possuindo arremates bem marcados.
B. Inscrição
G(enio) c(oloniae) I(uliae) A(ugustae) E(meritae) / C(aius) Antistius / C(ai) lib(ertus) / Iucundus /
palm(am) ex p(ondo) II(unciarum) / v(otum) s(olvit) l(ibens) a(nimo)
Interpretação425:
Ao Genio da cidade Augusta Emerita, Caio Antistio, liberto de Caio Iucundo Palmenso, às suas
custas cumpriram e voto que de bom grado fizeram.
C. Comentário Histórico
Trata-se de uma inscrição votiva, dedicada ao Gênio da colônia Augusta Emérita por um liberto.
Este, aparece identificado com o mesmo praenomen de seu ex-senhor, Caio, acrescido de um
cognomen, Antistio. Já o senhor, apresenta os tria nomina: Caio Iucundo Palmenso.
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
ÁLVAREZ MARTÍNEZ, J. M. “El genio de la colonia de Augusta Emerita”, Revista Habis, 2,
1971, pp. 257-261; RAMÍREZ SÁDABA, J. L. “Panorámica religiosa de Augusta Emerita”. In:
Religio deorum: Actas del Coloquio Internacional de Epigrafia Culto y Sociedad en Occidente,
1993, p. 390.
Catálogo Online: HEpOnl 20489

425
Nossa tradução da interpretação: “Al Genio de la Ciudad Augusta Emerita, Cayo Antistio, liberto de Cayo
Iucundo Palmenso, a su costa cumplieron el voto que de buen grado hicieron” (HEpOnl 20489).
398

Nº de Registro: 019 Palavra-Chave: tria nomina, origem.


A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrada no anfiteatro romano de
Mérida, Badajoz, Extremadura,
Espanha.
Paradeiro MNAR – Mérida/Es
Nº Inventário -
Tipologia Tábula
Material Estuco
Medidas 87 x 32 x 5 cm
Descrição: Tabula ansata de estuco pintado em
vermelho com letras em branco. A superfície é
emoldurada por linhas levemente entalhadas, mas
perceptíveis. A última linha perdeu-se quase por
completo.
B. Inscrição
Deae Invictae / Caelesti Nemesi / M(arcus) Aurelius Fhilo (!) / Roma v(otum) s(olvit) a(nimo)
l(ibens) / sacra v(ota) s(olvit) m(erito)
Interpretação426:
À invicta deusa Caelestis Nemesis, Marco Aurelio Fhilo (!), de Roma, o dispôs de bom ânimo e
colocou o sagrado voto.
C. Comentário Histórico
Datação atribuída pela onomástica e pela difusão do culto a Nêmesis entre os anos 200 e 300 d. C.,
deve-se atentar, ainda, para o registro da origo, ‘de Roma’.
Datação: Entre os anos 200 e 300 d. C.
D. Referências Bibliográficas
NOGALES BASARRATE, T., Espectáculos em Augusta Emerita: espacios imágenes y
protagonistas del ocio y espectáculo em la sociedad romana emeritense - Monografías
Emeritenses, 5. Mérida: MNAR, 2000, p. 87;
Catálogo Online: HEpOnl 16834

426
Nossa tradução da leitura: “A la invicta diosa Caelestis Nemesis, Marco Aurelio Fhilo (!), de Roma, lo
dispuso de buen ánimo y puso el sagrado voto” (HEpOnl 16834).
399

Nº de Registro: 027 Palavra-Chave: dedicação imperial


A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Não Encontrada
Paradeiro Não Encontrado
Nº Inventário -
Tipologia Não Encontrada
Material Não Encontrado
Medidas Não Encontradas
Descrição: Não Encontrada

B. Inscrição
[Im]p(eratori) Caesari [- - - / di]vi Vespasian[i f(ilio) - - - / [Do]mitiano [Aug(usto) - - - / po]nti[f(ici)
maximo]
Interpretação427:
Ao Imperador Cesar, filho do divino Vespasiano ---/ Domiciano Augusto ---/ pontífice maximo
C. Comentário Histórico
Inscrição votiva ao Imperador.

Datação: Entre os anos de 81- 96 d. C. – Governo de Domiciano


D. Referências Bibliográficas
SAQUETE CHAMIZO, J. C. ‘Materiales epigráficos procedentes del área del gran templo de culto
imperial de Augusta Emerita: uma revisión necesaria’, Revista Habis 36, 2005, pp. 283-284, fig. 4.
Catálogo Online: HEpOnl 21496

427
Nossa interpretação.
400

Nº de Registro: 031 Palavra-Chave: dedicação imperial


A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada em 1758 no Hospital de
Jesús, zona do atual Parador
Nacional, Mérida, Badajoz,
Extremadura, Espanha.
Paradeiro O suporte foi destruído para a
construção da borda da cisterna do
Hospital de Jesús.
Nº Inventário -
Tipologia Não Encontrada
Material Não Encontrado
Medidas 105 x 105 x 29 cm
Descrição: Inscrição bastante picada com letras de
grandes proporções, lidas com clareza.
B. Inscrição
Tib(erio) · Caesari / divi · Augusti · f(ilio)
Interpretação428:
A Tibério Cesar, filho do Divino Augusto
C. Comentário Histórico
Inscrição votiva ao Imperador divinizado.

Datação: Não Atribuída


D. Referências Bibliográficas
SAQUETE CHAMIZO, J. L. ‘Materiales epigráficos procedentes del área del gran templo de culto
imperial de Augusta Emerita: uma revisión necesaria’, Revista Habis 36, 2005, pp. 278-281, fig. 1.
Catálogo Online: HEpOnl 25668

428
Nossa interpretação.
401

Palavra-Chave: sacerdote imperial


Nº de Registro: 231
(Augustal)
A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada em Garrovilla, La, Badajoz,
Extremadura, Espanha.
Paradeiro MAPB - Badajoz/Es
Nº Inventário -
Tipologia Ara
Material Mármore
Medidas (20) x 14 x 8 cm
Descrição: Ara de mármore branco com rodapé e cimácio.
Está fragmentada na parte superior.

B. Inscrição
- - - - - - / Proserpinae / Severianus / Aug(ustalis) . / a(nimo) . l(ibens) . v(otum) . s(olvit) .
Interpretação429:
- - - - - - / À Proserpina. O Augustal Severiano cumpriu o voto de livre vontade.
C. Comentário Histórico
No presente monumento, o dedicante é um augustal que porta apenas o cognomen Severianus. Em
virtude da fratura, não é possível desdobrar mais informações.

Datação: Não Atribuída


D. Referências Bibliográficas
RAMÍREZ SÁDABA, J. L. ‘La demografía del Territorium Emeritense (excepto el casco urbano)
según la documentación epigráfica’, Studia Histórica. Historia Antigua. Vol. X-XI, 1992-1993, p.
140 nota 20; Hispania Epigraphica. Madrid: Universidad Complutense de Madrid. nº 5, 1995, p.
76; STYLOW, A. U. ‘Nuevo testimonio emeritense de Ataecina’, REEx 53, 1997, 14, com foto.

Catálogo Online: HEpOnl 5483

429
Nossa interpretação.
402

Nº de Registro: 044 Palavra-Chave: dedicatória imperial


A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada na Plaza de San Tiago;
Mérida, Badajoz, Extremadura,
Espanha.
Paradeiro No século XVII foi colocada no
obelisco comemorativo de Santa
Eulalia
Nº Inventário -
Tipologia Não Encontrada
Material Não Encontrado
Medidas Não Encontradas
Descrição: Não Encontrada
B. Inscrição
Concordiae / Augusti
Interpretação430:
À Concórdia Augusta
C. Comentário Histórico
Trata-se de uma inscrição votiva, dedicada à Concórdia Augusta.
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
ERAE 51; CIIAE 52.
Catálogo Online: HEpOnl 21484

430
Nossa interpretação.
403

Palavra-Chave: tria nomina, exército,


Nº de Registro: 237
evergetismo.
A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada em Mérida, Badajoz,
Extremadura, Espanha.
Paradeiro MNAR – Mérida/Es
Nº Inventário -
Tipologia Ara
Material Mármore
Medidas 66 x 47 x 25 cm
Descrição: Ara de mármore branco, com um praefericulum
e uma patera em relevo.

B. Inscrição
Ann(o) col(oniae) CLXXX / aram Genesis / Invicti Mithrae / M(arcus) Val(erius) Secundus /
fr(umentarius) leg(ionis) VII Gem(inae) dono / ponendam merito curavit / G(aio!) Accio Hedychro
pa(t)re
Introdução431:
No ano 180 da fundação da colônia, Marco Valerio Segundo, abastecedor da legião 7ª Gêmina,
cuidou de colocar como dádiva própria e como era justo a presente ara do gênesis do invicto Mitra,
sendo seu pai nesta regeneração Caio Aecio Hedichro.
C. Comentário Histórico
Datação atribuída pela própria inscrição. As duas personagens registram os trianomina: Marco
Valerio Secundo e Caio Aecio Hedichro.
Datação: No ano 155 d. C.
D. Referências Bibliográficas
GARCÍA Y BELLIDO, A., Religiones orientales, 1967, pp. 23-25, nº 1; MORENO PABLOS, Mª
J., La Religión del Ejército Romano: Hispania em los siglos I-III, Madrid 2001 (Graeco-Romanae
Religionis Electa Collectio/7), pp.170-180; VV.AA., Religioes de Lusitania. Loquintur saxa.
Catálogo de la Exposición. Lisboa: Museu Nacional de Arqueologia, 2002, p. 479, nº 154.
Catálogo Online: HEpOnl 19990

431
Nossa tradução da leitura: “En el año 180 de la fundación de la colonia, Marco Valerio Segundo, abastecedor
de la legión Septima Gémina, cuidó de poner como dádiva propia y como era justo la presente ara del génesis del
invicto Mitra, siendo su padre en esta regeneración Caio Aecio Hedychro” (HEpOnl 19990).
404

Subgrupo Temático: Epígrafes Honoríficas

Nº de Registro: 005 Palavra-Chave: tria nomina, administração colonial.


A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada no Teatro
Romano de Mérida, Badajoz,
Extremadura, Espanha.
Paradeiro MNAR - Mérida/Es
Nº Inventário CE00658
Tipologia Herma
Material Mármore
Medidas 58 x 26 x 23 cm
Descrição: Herma de mármore em tom azulado,
fragmentada. Falta a cabeça do personagem
representado.

B. Inscrição
Q(uintus) Acutius Faienanus / leg(atus) pro pr(aetore)
Interpretação:
Quinto Auctio Faieano, legado propretor.
C. Comentário Histórico
Datação atribuída por Stylow entre as épocas flávia e os primeiros decênios do século II com base
nos critérios paleográficos. O homenageado apresenta-se perfeitamente identificado com os tria
nomina.
Datação: Entre os anos 76 – 120, séculos I e II d. C.
D. Referências Bibliográficas
STYLOW, A.U. “Más hermas”. Revista Anas. Mérida: Museo Nacional de Arte Romano, 1989, pp.
199-201, nº 4; Hispania Epigraphica. Madrid: Universidad Complutense de Madrid. nº4, 1994, 172;
RAMÍREZ SÁDABA, J. L. El nacimiento de las élites de Augusta Emerita. 2001, p. 261.
Catálogo Online: HEpOnl 16840
405

Nº de Registro: 008 Palavra-Chave: decreto dos decuriões


A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada durante as
escavações da Postescena do
Teatro romano, Mérida,
Badajoz, Extremadura,
Espanha.
Paradeiro MNAR- Mérida/Es
Nº Inventário DO34656
Tipologia Pedestal
Material Mármore
Medidas 0,44 x 1,25x 0,58 m
Descrição: Pedestal em mármore azulado.

B. Inscrição

Coroniae / P(ubli) f(iliae) Proculae / d(ecreto) d(ecurionum)


Interpretação432:
Coronia Procula, filha de Publio. Por decreto dos Decuriões.
C. Comentário Histórico
Pedestal de Coronia Procula, monumento erigido por decreto dos decuriões.
Datação: Século I d. C.
D. Referências Bibliográficas
GARCÍA IGLESIAS, L. Las inscripciones romanas de Augusta Emerita. Tesis Doctoral. Madrid:
Universidad Complutense de Madrid, 1973. Pág. 213-14, nº 96.
Catálogo Online: HEpOnl 24738

432
Nossa interpretação.
406

Palavra-Chave: tria nomina, sacerdote imperial


Nº de Registro: 010
(Flâmine).
A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada em Mérida, Badajoz,
Extremadura, Espanha.
Paradeiro Não Encontrado
Nº Inventário -
Tipologia Bloco
Material Mármore
Medidas (38,5) x (28,7) x 12,5 cm
Descrição: Fragmento superior esquerdo de um
bloco de mármore. Aparentemente recortado nos
lados direito e inferior para ser reutilizado como
plinto. Por conta disso, calcula-se que foram
perdidas duas partes da linha 1-2, assim como as
últimas linhas da inscrição original. Na face
superior do bloco há um orifício circular de 5 cm
de diâmetro distante do extremo esquerdo da
parte frontal em 15 cm. Presume-se sua utilização
como base de um objeto votivo, possivelmente
um busto ou estátua de bronze.
B. Inscrição
Divo Augusto [et divae Aug(ustae)] / Albinus Albui f(ilius) flamen d[ivi Augusti et] / divae
Aug(ustae) provinciae Lusitan[iae dedicavit]
Interpretação433:
Aos divino Augusto e divina Augusta, Albino, filho de Albuus, flâmine do divino Augusto e da
divina Augusta, da Província da Lusitânia, dedicou.
C. Comentário Histórico
Segundo Edmondson (1997) trata-se de uma dedicação a Augusto e Lívia deificados. A inscrição
pode ser incluída em um conjunto de outras evidências que evidenciam a união de cultos destinados a
diferentes membros da família imperial. Frente a ausência dos tria nomina do dedicante, várias
hipóteses foram formuladas: (1) tratar-se-ia de um membro da elite indígena que havia
desempenhado a função de flâmine provincial nas primeiras etapas da implantação do culto imperial
na província, ou (2) pela menção ao cognomen Albinus, referindo-se a um indivíduo recém
romanizado, um cidadão de pleno direito, já conhecido na colônia a partir de outra inscrição e por
isso identificável facilmente apenas pela indicação do cognomen.
Destaca-se que o nome Albuius é escasso e só é documentado nas regiões mais ocidentais da
Lusitânia, no centro e no norte de Portugal. Pela paleografia, data-se a inscrição na metade do século
I d. C., durante o reinado de Cláudio.
Datação: Século I d. C. – Governo de Cláudio
D. Referências Bibliográficas
EDMONSON, J. ‘New light on doctors, medical training and links between Augusta Emerita and
Olisipo in the mid-first century AD’. In.: Espacios, Usos y formas en la epigrafia hispana. Anejos
de AEspa XLVIII, 1997, pp. 91-103, láms. 6b-7; Hispania Epigraphica. Madrid: Universidad
Complutense de Madrid. nº 7, 1997, pp. 110 e 111; Hispania Epigraphica. Madrid: Universidad
Complutense de Madrid. nº 9, 1999, p. 101; Hispania Epigraphica. Madrid: Universidad
Complutense de Madrid. nº14, 2005, p. 59.
Catálogo Online: HEpOnl 21492

433
Nossa interpretação.
407

Palavra-Chave: tria nomina, dedicatória


Nº de Registro: 012
imperial, sacerdote imperial (Flâmine).
A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrado em Mérida, Badajoz,
Extremadura, Espanha.
Paradeiro MAN - Madrid/Es
Nº Inventário 38.377
Tipologia Pedestal
Material Mármore
Medidas 31,6 x 19 x 11/11,5 cm.
Descrição: Pedestal em mármore, com zócalo e cornisa
preeminente em ambos os lados. Carece de decoração lateral
e possui traços de moldura nas partes superior e inferior. No
dorso, há uma perfuração para possível fixação na parede. Há
ainda outra perfuração na superfície superior para receber um
retrato ou palma.

B. Inscrição
T(ito) Caesari Aug(usti) f(ilio) / Vespasiano pontif(ici) / imp(eratori) XII trib(unicia) pote(state) VII
/ co(n)s(uli) VI / provincia Lusitania / C(aio) Arruntio Catellio / Celere leg(ato) Aug(usti) pro
pr(aetore) / L(ucio) Iunio Latrone / Conimbrige(n)se flamine / provinciae Lusitaniae / ex auri
p(ondo) V
Interpretação434:
A Tito Cesar Augusto, filho de Vespasiano, Pontífice, 12 vezes Imperador, com poder tribunício pela
7ª vez, seis vezes cônsul. Província da Lusitânia. A Caio Arruntio Catellio Celere, legado de Augusto
como propretor; Lucio Iunio Latrão, flâmine de Conimbriga [...] Província da Lusitânia. De 5 pesos
de ouro.
C. Comentário Histórico
O texto documenta a expansão do culto imperial na província da Lusitânia durante a era Flávia,
momento no qual passou a se realizar o culto aos imperadores ainda vivos. Nesse sentido, o
monumento faz referência direta ao templo localizado na Lusitânia, onde se localizaria a inscrição.
Ramírez Sábada (2003) destaca que a inscrição respeita a regulação da Lex de flamonio provinciae
Narbonensis segundo a qual os sacerdotes podiam ser honrados pela cúria municipal no momento de
sua retirada, para se dedicar estátuas ou bustos do imperador, numa clara demonstração de que o
culto imperial foi reformulado não por iniciativa local, mas pela centralização de parte das
autoridades responsáveis em Roma.
O autor acrescenta que, pela análise dos verbos da inscrição, seria preciso considerar que o
governador provincial C. Arruntius Catellius Celer havia atuado como dedicante em colaboração
com o flamen provincial M. Iunius Latro. Para AE 1999, 870 esta proposta não convence na medida
em que a dedicação emana do mesmo concilium, que utiliza referências locais para datar solenemente
uma assembleia. Para o autor, o texto dá a entender que o governador intervinha na organização do
culto em um período precoce, fato este que não está estatisticamente comprovado pelas referências
aos governadores, ao contrário reforça a hipótese de que é uma lei similar a de Narbona, da qual
havia dependido o culto provincial de Mérida.
Datação: Ano 77 d. C.
D. Referências Bibliográficas
Hispania Epigraphica. Madrid: Universidad Complutense de Madrid. nº9, 1999, 102; RAMIREZ
SABADA, J. L. Catálogo de las Inscripciones Imperiales de Augusta Emerita - Cuadernos
Emeritenses 21. Mérida: MNAR - Fundacion de Estudios Romanos, 2003, nº24.
Catálogo Online: HEpOnl 22055

434
Nossa interpretação.
408

Palavra-Chave: tria nomina, administração


Nº de Registro: 015
provincial, patronato.
A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada na Cloaca de
Pancaliente, entre as escavações
realizadas entre 1934 e 1936
por Floriano no “Molino de
Pancaliente”, Mérida, Badajoz,
Extremadura, Espanha.
Paradeiro MNAR – Mérida/Es
Nº Inventário 6035 – 6036
Tipologia Placa
Material Mármore
Medidas 199 x 51 x 15 cm
Descrição: Dois fragmentos de mármore que
unidos não chegam a constituir o total da
epígrafe. Vale ressaltar a ausência de um pedaço
pelo lado esquerdo, ainda que isso não afete
demasiadamente a leitura do texto.

B. Inscrição
Sex(to) Furnio / Iuliano / [l]eg(ato) Aug(usti) pr(o) pr(aetore) prov(inciae) / [L]usitaniae c(larissimo)
v(iro) co(n)s(ulari) / [or]do splendissimus / [E]meritensium / [pr(a)]esidi innocentissimo / [pa]trono
optimo / ob merita / [- - - Iul]io Modest[o / [et - - -] ouin[- - -] / praefectis
Interpretação435:
Sexto Furnio Juliano, legado de Augusto, propretor da provincia de Lusitânia, cônsul e homem
claríssimo, o explêndido conselho da cidade de Mérida ao seu ótimo patrono, pelo mérito de Julio
Modesto e (...) prefeitos.
C. Comentário Histórico
Trata-se de uma homenagem pública a Sexto Furnio Juliano, cuja datação pode ser atribuída de
acordo com as características prosopográficas e paleográficas entre os anos de 211 e 217 d. C.
Datação: Entre os anos de 211 e 217 d. C
D. Referências Bibliográficas
SAQUETE CHAMIZO, J. C., Las elites sociales de Augusta Emerita - Cuadernos Emeritenses 13.
Mérida: MNAR/Fundación de Esudios Romanos, 1997, pp. 89-90 y 215.
Catálogo Online: HEpOnl 16755

435
Nossa tradução da interpretação: “Sexto Furnio Juliano, legado de Augusto, propretor de la provincia de
Lusitania, cónsul y hombre clarísimo, el esplendesísimo ordo de la ciudad de Mérida a su óptimo patrón, por el
mérito de Julio Modesto y (...) prefectos” (HEpOnl 16755).
409

Palavra-Chave: tria nomina, dedicatória


Nº de Registro: 029
imperial, republica.
A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada em 2002, no vertedero
(lixeira) da piscina do Templo de Diana,
embora deva proceder do fórum.
Mérida, Badajoz, Extremadura,
Espanha.
Paradeiro Armazém do Consorcio da cidade de
Mérida - Espanha.
Nº Inventário -
Tipologia Pedestal
Material Mármore
Medidas 67 x 34-27,5 x 17-14 cm
Descrição: Pedestal de mármore com plinto e cornisa
moldurados, parte posterior e lateral lisos. Na superfície
superior foi feito uma caixa de 5 cm de lado e 3,5cm de
profundidade para embutir a base de uma estatua de
bronze.

B. Inscrição
Q(uinto) . Herennio Etrusco / Mes(s)io Decio . / nobilissimo Caes(ari) / [f]ilio Imp(eratoris)
Caes(aris) . / C(ai) Messi Q(uinti) Traiani Deci / Pii Fel(icis) Aug(usti) respubli(ca) / Emerite(n)sium
devota . / numini maistatique / eorum
Interpretação436:
À Quinto Herenio Etrusco Mesio Decio, nobilíssimo César, filho do Imperador César Caio Mesio
Quinto Trajano Decio Pío Felix Augusto, a República dos emeritenses mostrou sua devoção com
estas estátuas.
C. Comentário Histórico
Datação atribuída pelos personagens. É a primeira vez que aparece a sequencia técnica "Respublica
Emeritensium" em uma dedicação feita pela colônia emeritense, termo usual no século III (cf. CIL II
484). O plural final eorum sugere que havia outro pedestal, atualmente desaparecido, associado a este
e dedicado ao seu pai, o Imperador Decio. Apesar de possuir concreções e erosões, não há
impedimentos para a leitura do texto.
Datação: Entre os anos de 250 e 251 d. C.
D. Referências Bibliográficas
RAMÍREZ SÁDABA, J. L. Catálogo de las Inscripciones imperiales de Augusta Emerita -
cuadernos emeritenses – nº21. Mérida: MNAR/ Fundación de Estudios Romanos, 2003, pp. 370-372,
nº 27, foto 118; Hispania Epigraphica. Madrid: Universidad Complutense de Madrid. nº13, 2003-
2004, 100.
Catálogo Online: HEpOnl 24413

436
“A Quinto Herenio Etrusco Mesio Decio, nobilísimo césar, hijo del césar emperador Caio Mesio Quinto Trajo
Decio Pío Felix Augusto, la República emeritenses mostró su devoción con estas estatuas” (HEpOnl 24413).
410

Nº de Registro: 032 Palavra-Chave: dedicatória imperial


A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada em Mérida, Badajoz,
Extremadura, Espanha.
Paradeiro MNAR – Mérida/Es (Sala II)
Nº Inventário -
Tipologia Placa
Material Mármore
Medidas (53) x (38,5) x 6 cm
Descrição: Placa rompida na parte inferior e em
ambos os lados.

B. Inscrição

[A]grippa[e Iulio] / [- - -]August[i f. Caesari]


Interpretação437:
A Agripa, a Julio [---] Augusto, filho de Cesar
C. Comentário Histórico
Datação atribuída pelo personagem entre os anos de 4 e 14 d. C. Foi identificada como uma
dedicatória a Agripa por ERAE e hesitando entre esse personagem e seu filho Agripa Júnior por
CIILAE. Assim, destaca-se a seguinte variante de leitura: [- - -A]grippa[- - -] / [- - -]August[ - - -]
Datação: Entre os anos 4 e 14 d. C.
D. Referências Bibliográficas
ERAE 46; CIIAE 12.
Catálogo Online: HEpOnl 24739

437
Nossa interpretação.
411

Palavra-Chave: tria nomina, tribo, administração


Nº de Registro: 033
colonial, administração provincial.
A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada durante as escavações
realizadas entre 1934 e 1936 por
Floriano no “Molino de
Pancaliente”, Mérida, Badajoz,
Extremadura, Espanha.
Paradeiro MNAR – Mérida/Es
Nº Inventário -
Tipologia Lápide
Material Mármore
Medidas (102) x (60) x 16,5 cm
Descrição: Fragmento de uma lápide rompida na
parte superior (especialmente no lado direito e um
pouco menos no esquerdo). Conserva molduras
laterais que permitem calcular a amplitude do
espaço perdido nas linhas incompletas.

B. Inscrição
[- - -]C[- - - / - - -]i Saelia[n(o) - - - / - - -]o Rufo Iulian[o / co(n)s(uli)] proco(n)s(uli) prov(inciae) /
[Af]ric(ae) VIIvir(o) epul(onum) / [fet]iali sodali Flavi/[a]li Titiali / ex testamento / T(iti) Aemili
T(iti) f(ilii) Pap(iria) / Saturnini
Interpretação438:
[---]C[- - - / - - -]i Saeliano - - - / - - -]o Rufo Juliano, cônsul, proconsul da província da África,
duunviro das festas e banquetes públicos, fecial do colégio dos Tito Flavios. Por testamento de Tito
Aemilio Saturnino, filho de Tito, da tribo Papiria.
C. Comentário Histórico
Se nossa leitura estiverar correta, dado o estado fragmentado da inscrição, trata-se de três
personagens: um C. Saeliano, um Rufo Juliano e um Tito Aemilio Saturnino.
Rufo Juliano nos apresenta um cursus honorum interessante. Foi cônsul, proconsul da província da
África, duunviro dos baquetes e Fecial dos Tito Flavios, ou seja, trata-se de um indivíduo que
circulou entre as províncias ocidentais, sobretudo, África, Hispania, além do centro imperial. Por não
haver o registro da tribu nem da origo, não é possível afirmar se tratar-se-ia de um individuo da
península.
Já nossa terceira personagem, Tito Aemilio Saturnino, se identifica com os tria nomina que o integra
à importante gen dos Aemili, já conhecida na região. Além de registrar a filiação, sabe-se que é
cidadão de Augusta Emérita pela tribu Papiria.
Datação: Entre os anos 100 e 300 d. C.
D. Referências Bibliográficas
SAENZ DE BURUAGA, J. A. ‘Museo Arqueológico de Mérida (Badajoz)’, MMAP 7, 1946, p. 37;
CABALLOS RUFINO, A., Los senadores hispanorromanos y la romanización de Hispania (siglos I-
III) I. Prosopografía. Vol. I y II, Écija, 1990, nº I, 69, p. 454.
Catálogo Online: HEpOnl 16754

438
Nossa interpretação.
412

Palavra-Chave: tria nomina,


Nº de Registro: 039
administração colonial.
A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada em Mérida, Badajoz,
Extremadura, Espanha.
Paradeiro Dintel da porta que liga o teatro ao
anfiteatro romano de Mérida.
Nº Inventário -
Tipologia Dintel
Material Granito
Medidas Não Encontradas
Descrição: Não Encontrada

B. Inscrição
M(arcus) Agrippa L(uci) f(ilius) co(n)s(ul) III / trib(unicia) pot(estate) III
Interpretação439:
Marcos Agripa, filho de Lucio, 3 vezes Cônsul, no terceiro ano do poder tribunício.
C. Comentário Histórico
Dedicação Imperial.
Datação: Ano 16 d. C.
D. Referências Bibliográficas
ILS 130; AE 1911, 3; ERAE 44b; CIIAE 3.
Catálogo Online: HEpOnl 25800

439
Nossa interpretação.
413

Palavra-Chave: dedicatória imperial,


Nº de Registro: 255
administração colonial.
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrada no nº 11 de la calle Cimbrón,
próximo a área do chamado "Fórum Velho",
Mérida, Badajoz, Extremadura, Espanha.
Paradeiro MNAR – Mérida/Es
Nº Inventário -
Tipologia Pedestal
Material Mármore
Medidas 100 x 72 x 58 cm
Descrição: Pedestal de mármore branco, provavelmente
procedente de Estremoz. O monumento foi reutilizado para S/F
gravar a inscrição. A moldura, sujo estilo foi até começos do
século II, foi suprimida totalmente no dorso, enquanto que na
frente foi "picada", provavelmente para ampliar a superfície do
campo epigráfico. Na parte superior apresenta dois grandes
orificios, um circular e outro mais alargado, parcialmente
recheados de chumbo para receber a estátua. Merece destaque
o fato de o nome do imperador ter sofrido damnatio memoriae,
quase por completo.

B. Inscrição
Imp(eratori) Caes(ari) / Publio [[Licinio Egnatio / Gallieno Pio Felici Aug(usto)]] / pontifici maximo
Daci(co) / maximo Germ(anico) max(imo) tr(ibunicia) / pot(estate) X co(n)s(uli) III imp(eratori) III
pro(con)s(uli)(!) / p(atri) p(atriae) / P(ublius) Clodius Laetus / Macrinus v(ir) c(larissimus) leg(atus)
eor(um)(!) / pr(o) pr(aetore) devotus [n]umini / maiestatique eius
Interpretação440:
Ao Imperador Cesar. Publio Licino, Egnato. Gallieno Pío Felix Augusto, Pontífice Maximo, Dacico
Maximo, Germanico Maximo, no X ano do poder tribunício, 3 vezes Cônsul, 3 vezes Imperador, (!)
Proconsul, Pai da Patria. Publio Clodio Laetto Macrino, senador, seu legado pró-pretor devoto do
numen e sua majestade.
C. Comentário Histórico
J.L. Ramírez Sádaba, A. Velázquez Jiménez e E. Gijón Gabriel consideram que os dados trazidos
pelo pedestal auxiliam a compreender os problemas referentes aos reinados dos imperadores Galieno
e Valeriano: a X potestade tribunicia de Galieno (261) não "encaixa" com seu III consulado (257).
Sobre essa questão poderia se supor um erro do lapicida que poderia ter confundido a letra I da
palavra seguinte coma cifra I do quarto consulado, nem com a concessão do título Dacicus maximus
(258-260; com a possibilidade de datação nº 259). Tais hipóteses dificultam a interpretação em
relação a III saudação imperial, para a qual há duas datas: 257 ou 261. P. Clodius Laetus Macrinus é
mencionado como legatus eorum, plural que se refere a Valeriano - Salonino só obteve o título de
Cesar obteve o título de Cesar - e a Galieno, em um período em que Valeriano estava prisioneiro
após sua derrota contra os persas.
O legado P. Clodio Laeto Macrino havia tornado pública sua lealdade aos imperadores legítimos,
sobretudo a Galieno, anteriormente ao reconhecimento póstumo da Lusitânia (seguramente a partir
do ano 262). Pouco depois se apaga o nome do imperador Galieno, o que demonstra uma mudança
política. A damnatio poderia ser explicada como uma reação pró-Póstumo após este ser reconhecido
na Hispania após 261, até esta data a província se manteve fiel a Galieno. O pedestal confirma

440
Nossa interpretação.
414

também a função de Augusta Emérita como capital da Lusitânia no século III. Outra questão que
deve ser assinalada consiste no cargo senatorial do legatus Augustorum pro praetore, ou seja, a
reforma iniciada por Galieno ainda não havia alcançado a Lusitânia.
Datação: Após o ano 261 d. C.
D. Referências Bibliográficas
RAMIREZ SABADA, J. L., VELÁZQUEZ JIMÉNEZ, A. & GIJÓN GABRIEL, E. Anas 6, 1993,
75-84, lâminas 18-19 e desenho; AE 1993, 914; Hispania Epigraphica. Madrid: Universidad
Complutense de Madrid. nº 5, 1995, 87.
Catálogo Online: HEpOnl 20720

Palavra-Chave: dedicação imperial,


Nº de Registro: 260
administração colonial.
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Mérida, Badajoz, Extremadura, Espanha.
Paradeiro Não Encontrado
Nº Inventário -
Tipologia Fragmento S/F
Material Mármore
Medidas Não Encontradas
Descrição: Não Encontrada
B. Inscrição
[Imp(eratori) C]aesari / [- - -] imp(eratori) VIII / [- - -] co(n)s(uli) III / [- - -]emérito
Interpretação441:
Imperador Cesar [---] 8 vezes Imperador, 3 vezes Cônsul, [---] emérito
C. Comentário Histórico
Datação atribuída pela titulatura: Imp. 8
Datação: Entre os anos 25 - 20 a. C.
D. Referências Bibliográficas
ERAE 89.
Catálogo Online: HEpOnl 21491

441
Nossa interpretação.
415

Nº de Registro: 261 Palavra-Chave: dedicação imperial


A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrada em Mérida, Badajoz,
Extremadura, Espanha.
Paradeiro Não Encontrado
Nº Inventário -
Tipologia Não Encontrada S/F
Material Não Encontrado
Medidas Não Encontradas
Descrição: Não Encontrada
B. Inscrição
Ti(berio) · Claudio [- - -] / P(ublius) · Lucr[etius - - -]
Interpretação442:
A Tibério Claudio [---] Publio Lucr[ecio ---]
C. Comentário Histórico
Inscrição honorífica a Tibério Cláudio.

Datação: Entre os anos 41 - 54 d. C.


D. Referências Bibliográficas
ERAE 56; CIIAE 88.
Catálogo Online: HEpOnl 21495

442
Nossa interpretação.
416

Palavra-Chave: dedicação imperial, decreto dos


Nº de Registro: 262
decuriões.
A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada em Mérida, Badajoz,
Extremadura, Espanha.
Paradeiro De acordo com CIL II, encontra-se
a 478 km no castillo de la Navas del z
Marqués.
Nº Inventário -
Tipologia Não Encontrada
Material Não Encontrado
Medidas Não Encontradas
Descrição: Não Encontrada
B. Inscrição
Imp(erator) [Caesar divi Traiani Parth(ici) f(ilius) divi Nervae n(epos)] / Traia[nus Hadrianus
Aug]ust[us] / pont[if(ex) max(imus) trib(unicia) pot(estate)] XVIIII [imp(erator) i]teru[m / co(n)s(ul)
I]II p(ater) p(atriae) o[ptimus] princ[eps] / cuneu[m et p]ros[caenium theatri in]cendio / [consumpta
restituit editisque ludis scaenicis et] circen[sibus d(ecreto d(ecurionum)]
Interpretação443:
Imperador Cesar Trajano Adriano Augusto, filho do divino Trajano Partico, neto do Divino Nerva,
Pontífice Maximo, com poder tribunício pela 19ª vez, Imperador Interino, Cônsul, aclamado pai da
pátria pela 3ª vez, ótimo princeps, Restituiu a arquibancada destruída e o proscenio do teatro
destruído pelo incêndio (e) edificou o palco cênico e dos jogos. Por decreto dos Decuriões.
C. Comentário Histórico
-
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
CIL II 478.
Catálogo Online: HEpOnl 21497

443
Nossa interpretação.
417

Palavra-Chave: administração
Nº de Registro: 271
colonial, administração provincial.
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrada em Mérida, Badajoz,
Extremadura, Espanha.
Paradeiro Não Encontrado
Nº Inventário -
Tipologia Não Encontrada S/F
Material Não Encontrado
Medidas Não Encontradas
Descrição: Não Encontrada
B. Inscrição
II]vir bis IIvir praef(ectus) [- - - / prov]inciae Lusitania[e
Interpretação444:
[---] Duunviro, duas vezes duunviro, prefeito, [--- prov]íncia da Lusitânia.

C. Comentário Histórico
Inscrição honorífica (?) como registro de magistraturas importantes para a administração imperial na
província.
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
CIL II 493.
Catálogo Online: HEpOnl 21512

444
Nossa interpretação.
418

Palavra-Chave: administração
Nº de Registro: 284
colonial, administração provincial.
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Mérida, Badajoz, Extremadura, Espanha.
Paradeiro Não Encontrado
Nº Inventário -
Tipologia Não Encontrada S/F
Material Não Encontrado
Medidas Não Encontradas
Descrição: Não Encontrada
B. Inscrição
- - - - - - / [- - - colonia]e Aug(ustae) Emer[itae - - - / - - - pr]ovinc(iae) Lus[itaniae - - - / - - -]
dedic[avit - - -] / - - - - - -?
Interpretação445:
- - - - - - / [- - - À Colônia Augusta Emerita - - - / - - -Pr]ovinia da Lusitânia - - - / - - -] dedicou ------?
C. Comentário Histórico
Inscrição honorífica da colônia Augusta Emerita(?) com a identificação da Província da Lusiânia.

Datação: Não Atribuída


D. Referências Bibliográficas
EE IX 45; ERAE 107.
Catálogo Online: HEpOnl 22184

445
Nossa interpretação.
419

Subgrupo Temático: Epígrafes Monumentais

Palavra-Chave: tria nomina, administração colonial,


Nº de Registro: 009
sacerdote imperial (Flâmine), exército.
A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada no Teatro romano
durante as escavações da Post-
escena; Mérida, Badajoz,
Extremadura, Espanha.
Paradeiro MNAR - Mérida/Es
Nº Inventário CE00657
Tipologia Lápide
Material Mármore
Medidas 86 x 59 x 2,50 cm
Descrição: Lápide em mármore branco com
traços azulados. Atualmente faltam as linhas 1 e
3 da inscrição.

B. Inscrição
[C]n(aeo) Cornelio C(ai) f(ilio) Pa[p(iria)] / Sev(ero) aed(ili) II(viro) / [fl(amini)] Iuliae Augustae /
praefecto fabr(um) / amici / X (decem) pago Aug(usto)
Interpretação 446:
A Cneo Cornelio, filho de Cneo, e Papirio Severo, edil, duunviro, flamen de Julia Augusta, mestre
dos engenheiros militares, seus amigos do décimo distrito de Augusto, dedicaram este monumento.
C. Comentário Histórico
Datação atribuída pela titulatura do cursus honorum do personagem. Trata-se da dedicação feita
pelos amigos a Cneus Cornelius Severus, edil, duumviro, sacerdote de Iulia Augusta e encarregado
das obras públicas.
Datação: Entre os anos 14- 37 d. C. – Governo de Tibério
D. Referências Bibliográficas
VIVES, J. Inscripciones latinas de la España romana. 1971. nº 1558; SAQUETE CHAMIZO, J.
C. Las élites sociales de Augusta Emerita - Cuadernos emeritenses, 13. Mérida: MNAR/ Fundación
de Estudios Romanos, 1997, pp. 116, 171.
Catálogo Online: HEpOnl 20014

446
Leitura de J. R. Mélida (apud SAQUETE CHAMIZO, 1997, p. 116): “A Cneo Cornelio, hijo de Cneo, y
Papirio Severo, edil, duunviro, flamen de Julia Augusta, maestro de ingenieros militares, sus amigos del décimo
distrito de Augusto, dedicaron este monumento”.
420

Subgrupo Temático: Outros

Palavra-Chave: tria nomina, tribo,


Nº de Registro: 003 administração municipal, acordo de
hospitalidade.
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrada no Teatro romano
durante as escavações no recinto
final do peristilo. Mérida
(comarca), Badajoz, Extremadura,
Espanha.
Paradeiro MNAR - Mérida/Es
Nº. Inventário CE00721
Tipologia Tábula de Hospitalidade
Material Bronze
Medidas Não Encontradas
Descrição: Tabula de bronze quebrada na parte
superior e rachada no centro. Ainda conserva três
furos destinados aos pregos utilizados em sua fixação
na parte esquerda e outro no lado direito.
B. Inscrição
[M(arco) Aemilio Lepid]o L(ucio) Arrun[tio] / co(n)s(ulibus) / decuriones et municipes Mar/tienses
qui antea Ugienses / fuerunt hospitium fecerunt / cum decurionibus et colonis / coloniae Augustae
Emeritae / sibi liberis posterisq(ue) eorum / egerunt legati / P(ublius) Mummius P(ubli) f(ilius)
Gal(eria) Ursus / M(arcus) Aemilius M(arci) f(ilius) Gal(eria) Fronto
Interpretação447: -
(A. d’Ors, 1948) “Sendo cônsules Marco Emilio Lépido (e) Lucio Arruntio, os decuriões e
munícipes martienses, que antes foram ugienses, fizeram um pacto de hospitalidade com os decuriões
e colonos da colônia Augusta Emerita, para sí mesmos, seus filhos e seus descendentes. Fizeram o
pacto os legados Publio Mummio Urso, filho de Publio, da tribo Galeria, e Marco Emilio Fronto,
filho de Marco, da tribo Galeria”.
C. Comentário Histórico
Trata-se de uma Tábula de Hospitalidade entre Vgia e a colônia de Augusta Emerita. Segundo D´Ors
(1948), a leitura de L.Arrv[tivs], assinala a dupla possibilidade de que se trate dos cônsules M.
Claudio Marcelo e L. Arruntio do ano 22 a. C. ou de M. Emilio Lépido e L. Arruntio, no ano 6 d. C.
Seguimos os estudos de Nogales-Basarrate (1990) e adotamos a segunda datação.

Datação: Ano 6 d .C.


D. Referências Bibliográficas
D´ORS, A. ‘Una nueva tabula emeritense de Hospitium publicum’. Emerita. 1948, pp. 46-74;
D´ORS, A. ‘Epigrafía jurídica de la España romana’, Emerita, XVI 1948, pp. 46-74; NOGALES
BASARRATE, T. Bronces romanos en Augusta Emérita. Bronces romanos en España. Madrid:
Centro Nacional de Exposiciones, 1990, pág. 105.
Catálogo Online: HEpOnl 16751

447
Nossa tradução da leitura de d’Ors (1948): “Siendo cónsules Marco Emilio Lépido (y) Lucio Arruntio, los
decuriones y munícipes martienses, que antes fueron ugienses, hicieron un pacto de hospitalidad con los
decuriones y colonos de la colonia Augusta Emerita, para sí mismos, sus hijos y sus descendientes. Lo hicieron
los legados Publio Mummio Urso, hijo de Publio, de la tribu Galeria, y Marco Emilio Fronto, hijo de Marco, de
la tribu Galeria”.
421

Nº de Registro: 030 Palavra-Chave: tria nomina


A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada no estanque oriental
do Templo de Diana (solar de Sta.
Catalina). Mérida, Badajoz,
Extremadura, Espanha.
Paradeiro Armazém do Consorcio da cidade
de Mérida - Espanha.
Nº Inventário -
Tipologia Placa
Material Mármore
Medidas (65,5) x (52) x 3,5-2,5 cm
Descrição: Placa com frisos cinza azulado,
fragmentada em seis pedaços que se encaixam.
Também está quebrada na parte de cima e no lado
direito, estando com o dorso sem trabalhar. Seu
canto esquerdo inferior é genuíno.
B. Inscrição
- - - - - -? / (vacat v.1) / [- - -] (vacat) [- - -]lius · C(ai) · f(ilius) · [- - - / - - -]acer (vacat) M(arcus) ·
Iulius · C(ai) · f(ilius) · [- - -] / [-] · Iulius · M(arci) · f(ilius) · Rufinus (vacat) C(aius) · Valerius ·
C(ai) · f(ilius) · [- - -] / L(ucius) · Iulius · L(uci) · f(ilius) · Macer (vacat) M(arcus) · Aemilius ·
M(arci) · f(ilius) · [- - -] / C(aius) · Iulius · L(uci) · f(ilius) · Bassus (vacat) L(ucius) · Aemilius ·
M(arci) · f(ilius) [- - -] / L(ucius) · Antonius · M(arci) · f(ilius) · Laetus (vacat) L(ucius) · Flavius ·
L(uci) · f(ilius) · U[- - -] / M(arcus) · Antonius · M(arci) · f(ilius) · Priscus (vacat) L(ucius) ·
Marcius · L(uci) · f(ilius) · +[- - -] / L(ucius) · Valerius · L(uci) · f(ilius) · Aper (vacat) P(ublius) ·
Marcius · L(uci) · f(ilius) · +[- - -] / C(aius) · Valerius · C(ai) · f(ilius) · Capito (vacat) L(ucius) ·
Fabius · L(uci) · f(ilius) · Asp+[- - -] / M(arcus) · Iulius · M(arci) · f(ilius) · Clemens (vacat)
M(arcus) · Manilius · C(ai) · f(ilius) · +[- - -] / Q(uintus) · Iulius · M(arci) · f(ilius) · Laetus (vacat)
C(aius) · Iulius · C(ai) · f(ilius) · Satu[rninus] / (vacant vv. 6)
Interpretação:
[---] Julio, filho de Caio; Marcos Julio, filho de Caio; [---] Julio Rufino, filho de Marcio; Caio
Valerio, filho de Caio; Lucio Macer, filho de Lucio; Marcos Aemilio, filho de Márcio; Caio Julio
Basso, filho de Lucio; Lucio Aemilio, filho de Marcio; Lucio Antonio Laeto, filho de Marcio; Flavio
[---] U., filho de Lucio; Marco Antonio Prisco, filho de Marcio [------]
C. Comentário Histórico
De acordo com as informações publicadas no Hispania Epigráfica (2003-2004), a inscrição pode ser
datada em época flavia, mas pode ser estendida à época Trajanea. No presente catálogo, o cognomen
Clemens também aparece na inscrição nº 305.

Datação: Segunda metade do século I d. C.


D. Referências Bibliográficas
RAMÍREZ SÁDABA, Jose Luis. “Anexo C. Epigrafía”. In: Álvarez Martínez, J. M. - Nogales
Basarrate, T., Forum Coloniae Augustae Emeritae. Templo de Diana. Mérida: MNAR, 2003, pp.
372-374, nº 28, lám 119; Hispania Epigraphica. Madrid: Universidad Complutense de Madrid.
nº13, 2003/2004, 127; A. STYLOW y Á. VENTURA VILLANUEVA, "Los hallazgos epigráficos",
en R. Ayerbe Vélez, T. Barrientos Vera, F. Palma García (Edt), El foro de "Augusta Emerita":
genesis y evolución de sus recintos monumentales, ANEJOS DE AEspA LIII, 2009, pp. 455-457,
nº 1, fig. 1-2 (com mais um fragmento).
Catálogo Online: HEpOnl 24436
422

2. Augustobriga
Status Jurídico: Municipium

Enquadramento Cronológico: Século I d. C.

Subgrupo Temático: Epígrafes Funerárias

Nº de Registro: 233 Palavra-Chave: tria nomina, tribo, onomástica.


A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada em Bohonal de Ibor,
Talavera la Vieja, Cáceres,
Extremadura, Espanha.
Paradeiro Foi doada por Andrés Arroyo em 14
de setembro de 1912 à Academia de
Historia.
Nº Inventário 1452
Tipologia Placa-Epitáfio
Material Mármore
Medidas 37 x 32 x 3 cm
Descrição: Placa de mármore branco, rompida
verticalmente nos dois pedaços, falta um pequeno
fragmento na parte superior. O campo epigráfico está
rebaixado e limitado por molduras.
B. Inscrição
L(ucio) · Vibio [- - -] Quiri(na tribu) / · Reburro · /3 Valeria Tagana / Duelonis · filia / testamento ·
poni · iussit
Interpretação448:
Lucio Vibio Reburro, da tribo Quirina. Valéria Tagana, filha de Duelonio, por testamento.
C. Comentário Histórico
Os editores destacam a falta da filiação com o colchete na linha 1. Possivelmente trata-se do registro
de um cidadão.
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
Hispania Epigraphica. Madrid: Universidad Complutense de Madrid. nº10, 2000, 141.

Catálogo Online: HEpOnl 6463

448
Nossa interpretação.
423

Palavra-Chave: tria nomina, tribo,


Nº de Registro: 287
exército, liberto.
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrada em Mérida, Badajoz,
Extremadura, Espanha.
Paradeiro MNAR – Mérida/Es
Nº Inventário -
Tipologia Placa-Epitáfio S/F
Material Mármore
Medidas 62 x 100 x 5/4,5 cm
Descrição: Placa de mármore.
B. Inscrição
Q(uintus) · Caecilius · Q(uinti) · f(ilius) · Pap(iria tribu) / Varica /3cohortis · Antistianae / praetoriae
/ T(itus) · Caecilius · Q(uinti) · f(ilius) · Pap(iria tribu) · Calventius /6Caecilia · T(iti) · l(iberta) ·
Urbana · h(ic) · s(iti) · s(unt)
Interpretação449:
Quinto Caecilio, filho de Quinto, da tribo Papiria; Varica, (da) coorte pretoriana Antistiana; Tito
Caecilio Calventino, filho de Quinto, da tribo Papiria; Caecilia Urbana, liberta de Tito, aqui jazem.
C. Comentário Histórico
Por diversos elementos, José Ramirez Sábada e Patrick Le Roux (1993, p. 85-93) datam a inscrição
entre os anos de 50-75/80 d. C. Segundo os autores, a composição do texto nas duas primeiras linhas
é anômala. O conteúdo coloca alguns problemas que dificultam a interpretação: o cognomen Varica é
muito raro, derivando de Varus, “patizambo”, sobrenome adaptado às preocupações militares.
Ramirez-Sábada e Le Roux também recordam os cognomina terminados em ‘a’ frequentes entre os
soldados. Assim sendo, sugerem que quando Varica ingressou no exército carecia de um cognomen,
sendo Calventinus normalmente um gentilício. A inscrição foi gravada depois da morte de Caecilia
Urbana, esposa ou concubina de Calventius. Varica deve ter sido um soldado ou um veterano de uma
cohorte auxiliar, a Antistiana, mencionada aqui pela primeira vez.
Trata-se de um dos escassos exemplos em que uma cohorte se denomina com o nome de seu
comandante que, neste caso, foi o legado de Augusto, C. Antistius Vetus, durante as campanhas
contra os astures (27 - 24 a. C.). O qualitativo praetoria, indisossiável de Antistiana, significa que a
unidade havia servido como guarda pessoal do general e pode ter sido recrutada na Hispania dede o
principio em virtude destas campanhas.
Datação: Entre os anos 50 - 75/80 d. C.
D. Referências Bibliográficas
RAMIREZ SABADA, J. L & LE ROUX, P. Anas 6, 1993, 85-93; Hispania Epigraphica. Madrid:
Universidad Complutense de Madrid. nº 5, 1995, 99.
Catálogo Online: HEpOnl 23116

449
Nossa interpretação.
424

Subgrupo Temático: Epígrafes Honoríficas

Palavra-Chave: tria nomina,


Nº de Registro: 228
administração colonial.
A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada em 1887, no trecho da
muralha voltada ao Tajo, Bohonal de Ibor
- Talavera la Vieja, Cáceres, Extremadura,
Espanha.
Paradeiro Domicilio de Madrid da familia Reguera.
Nº Inventário -
Tipologia Placa
Material Mármore
Medidas 41 x (40) x 6 cm
Descrição: Placa retangular de mármore fragmentada no
lado direito.

B. Inscrição
C(aius) . Iulius C(ai) . f(ilius) Gl[- - -] / senatui . popu[loq(ue)] / Augustobr[igensi] / hospes .
d[onum] / dat
Interpretação450:
Caio Julio, filho de Caio, GL[---], senador do povo augustobrigense, doou ao anfitrião.
C. Comentário Histórico
-
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
GAMALLO, J. L., GIMENO, H & VARGAS, G. ‘Inscripciones del Norte y Sudoeste de la provincia
de Cáceres: revisión y nuevas aportaciones. II’, CuPAUAM 19, 1992, 406 nº 13 com foto.
Catálogo Online: HEpOnl 4412

450
Nossa interpretação.
425

Palavra-Chave: tria nomina, sacerdote


Nº de Registro: 288
imperial (Augustal).
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Mérida, Badajoz, Extremadura, Espanha.
Paradeiro MAN - Madrid/Es
Nº Inventário -
Tipologia Placa-Epitáfio S/F
Material Não Encontrado
Medidas Não Encontradas
Descrição: Não Encontrada
B. Inscrição
[- - -]++ VITV+A[- - -] / P(ublius) · Atte[nnius - - -?] / Ama[bilis] / augu[stalis] / C(aius) · Attennius
· P(ubli) [f(ilius) - - -]
Interpretação451:
...Publio Attenio Amável, augustal; Caio Atennio, filho de Publio...
C. Comentário Histórico

De acordo com a paleografia, data-se o monumento em época augústea.


Datação: Em época augústea.
D. Referências Bibliográficas
Hispania Epigraphica. Madrid: Universidad Complutense de Madrid. nº5, 1995, 106; Hispania
Epigraphica. Madrid: Universidad Complutense de Madrid. nº13, 2003/2004, 168.
Catálogo Online: HEpOnl 23120

451
Nossa tradução da leitura: “...Publio Attenio Amable, augustal, Caio Atennio, hijo de Publio...” (HEpOnl
23120).
426

Subgrupo Temático: Epígrafes Monumentais

Palavra-Chave: tria nomina,


Nº de Registro: 286
dedicação imperial.
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrada em Mérida, Badajoz,
Extremadura, Espanha.
Paradeiro MNAR – Mérida/Es
Nº Inventário Não Encontrado
Tipologia - S/F
Material Não Encontrada
Medidas Não Encontrado
Descrição: Não Encontrada
B. Inscrição
[Anno] coloniae CXXX[- - - / - - - C]aes(ar) Aug(ustus) Ger(manicus) Dacic(us) [- - - provi]nciae
Lusit[aniae - - - / - - -]ari Larum et imaginum [- - -]d dat [- - -]A D[- - -]
Interpretação452:
No ano 130 da colônia [---/--- C]esar Augusto Germanico Dacico à [---Provi]nia da Lusit[ânia] um
altar aos deuses Lares e imagens, doou.
C. Comentário Histórico
Inscrição monumental com a dedicatória imperial e a assinatura da província. Se a leitura estiver
correta, dado o estado fragmentado da inscrição, a datação está na própria inscrição.
Datação: fins do século I d.C.
D. Referências Bibliográficas
TRILLMICH, W. "Un sacrarium del culto imperial en el teatro de Mérida", Anas 2-3,1989-1990, 87-
96, láms. VIII, 1-3; IX, 1-7; Hispania Epigraphica. Madrid: Universidad Complutense de Madrid.
nº 4, 1994, 167.
Catálogo Online: HEpOnl 23024

452
Nossa interpretação.
427

3. Caesarobriga
Status Juridico: Municipium

Enquadramento Cronológico: Datação não atribuída.

Subgrupo Temático: Epígrafes Honoríficas

Palavra-Chave: Onomástica,
Nº de Registro: 224
sacerdote imperial (Flamínica).
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrada em Talavera de la Reina, Toledo,
Castilla-La Mancha, Espanha.
Paradeiro MAN - Madrid/Es
Nº Inventário -
Tipologia Base
S/F
Material Mármore
Medidas 100 x 76 x 67 cm
Descrição: Base de mármore branco com moldura completa
nas partes superiores, bordeando toda a base exceto na zona
posterior. Falta parte das bordas inferiores.
B. Inscrição
Domitia L(ucii) f(ilia) / Proculina / [F]laminica provin[c(iae) / Lusitan(iae) et Flamini(ca) /
[M]unicipi sui · prim[a] / et perpetua
Interpretação453:
À Domicia Proculina, filha de Lucio, flamínica da província Lusitânia, e primeira flamínica de seu
município e perpétua....
C. Comentário Histórico
Inscrição honorífica a uma flamínica que exerceu o sacerdócio em duas instâncias: municipal e
provincial.

Datação: Não Atribuída


D. Referências Bibliográficas
ÉTIENNE, R. Le culte impérial dans la péninsule ibérique d´Aguste à Dioclétien. Paris: Bibl.
Des Écoles Franç. d`Athénes et de Rome (BEFAR 191), 1958, p. 166, tab. III, p. 168 com nota 2, p.
239, nº 2.; MAROTO GARRIDO, M. Fuentes documentales para el estudio de la Arqueología em
la provincia de Toledo. Toledo: s/e, 1991, p. 219, fig. 11.
Catálogo Online: HEpOnl 282

453
Nossa tradução da leitura: “A Domicia Proculina, hija de Lucio, flaminica de la provincia Lusitana, y primera
flaminica de su municipio y perpetua....” (HEpOnl 282).
428

4. Capera
Status Jurídico: Coloniae

Enquadramento Cronológico: Século I d. C.

Subgrupo Temático: Epígrafes Funerárias

Nº de Registro: 043 Palavra-Chave: onomástica


A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada na parede da igreja de Santa
María e foi transladada ao castelo das Navas
del Marqués; Oliva de Plasencia, Cáparra,
Cáceres, Extremadura, Espanha.
Paradeiro MAN - Madrid/Es
Nº Inventário -
Tipologia Pedestal
Material Mármore
Medidas Não encontradas
Descrição: Não Encontrada

B. Inscrição
Avitae Modera/ti · filiae · aviae / ob honorem quot / civis recepta est / Caperae Cocceia / Celsi ·
fil(ia) · Severa / Norbensis / cura et impensa / Avitae Modera/ti aviae suae / posuit
Interpretação454:
A Avita, avó, filha de Moderato, recebeu pela honra de cidadã. Capera Cocceia, filha de Celso;
cuidou de colocar às próprias custas à avó Avita de Moderato.
C. Comentário Histórico
Inscrição honorífica.
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
CIL II 813; ILS 6901; CPILC 186.
Catálogo Online: HEpOnl 19015

454
Nossa interpretação.
429

Nº de Registro: 226 Palavra-Chave: tria nomina, tribo.


A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada em Villar de Plasencia, Cáceres,
Extremadura, Espanha.
Paradeiro Desconhecido
Nº Inventário -
Tipologia Placa-Epitáfio
Material Granito
Medidas (114) x 55 x 21 cm
Descrição: Estela de granito partida em dois fragmentos.

B. Inscrição
M(arcus) Valerius Ia/nuarius Quir(ina) BENS/TIBVAIRVS / ann(orum) LX / ex impens(a) / funeris
/ Vicinia / f(aciendum) c(uravit)
Interpretação455:
Marcos Valerio Ianuario, da tribo Quirina. BENSTIBVAIRVS (?), 60 anos, gastos fúnebres pagos
sob os cuidados de Vicinia
C. Comentário Histórico
Inscrição funerária de um cidadão registrado na tribo Quirina. Não conseguimos encontrar o
significado da palavra BENSTIBVAIRVS.
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
Hispania Epigraphica. Madrid: Universidad Complutense de Madrid. nº 2, 1990 224.

Catálogo Online: HEpOnl 759

455
Nossa interpretação.
430

Nº de Registro: 275 Palavra-Chave: tria nomina, tribo.


A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrada no pavimento de Santa María,
Oliva de Plasencia - Cáparra, Cáceres,
Extremadura, Espanha.
Paradeiro Não Encontrado
Nº Inventário -
S/F
Tipologia Estela
Material Pedra
Medidas Não Encontradas
Descrição: Não Encontrada
B. Inscrição
L(ucius) Publi/cius L(uci) f(ilius) / Pap(iria) Thi/amus / Emerit(ensis) / an(norum) XXVII / h(ic)
s(itus) e(st) s(it) t(ibi) t(erra) l(evis) / Caecilius / Vetto so/dali cip/pum / d(e) s(uo) f(ecit)
Interpretação456:
Lucio Publicio Thiamo, filho de Lucio, da tribo Papiria, emeritense, de 27 anos, aqui jaz, que a terra
vos seja leve. Caecilio Vetto, colega (ou comilitão), mandou fazer o Cipo.
C. Comentário Histórico
Inscrição funerária com o registro dos tria nomina e da tribo.

Datação: Não Atribuída


D. Referências Bibliográficas
CIL II 823; CPILC 348.
Catálogo Online: HEpOnl 21762

456
Nossa interpretação.
431

Palavra-Chave: tria nomina, tribo,


Nº de Registro: 276
patronato.
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Procedente de uma casa em Cáparra, Oliva
de Plasencia, Cáparra, Cáceres, Extremadura,
Espanha.
Paradeiro Atualmente serve de apoio na fachada da
casa nº 22 da rua La
Nº Inventário -
Tipologia Estela S/F
Material Granito
Medidas 134 x 57 x 28 cm
Descrição: Estela de granito, com cabeceira semicircular,
muito desgastada no lado esquerdo. Apresenta adorno com
rosa tetrapétala igualmente no lado esquerdo.
B. Inscrição
L(ucius) Domitius / T(iti) f(ilius) Gal(eria) Vetto / Otobesani / h(ic) s(itus) e(st) s(it) t(ibi) t(erra)
l(evis) / Domitius / Fortunat(us) / patrono / d(e) s(uo) f(ecit)
Interpretação457:
Lucio Domito Vetto Otobesano, filho de Tito, da tribo Galeria, aqui jaz que a terra te seja leve. O
patrono Domitio Fortunato, mandou fazer às próprias custas.
C. Comentário Histórico
Inscrição funerária com o registro dos tria nomina, da tribo e de uma relação de patronagem.

Datação: Não Atribuída


D. Referências Bibliográficas
CIL II 829; CPILC 350.
Catálogo Online: HEpOnl 21768

457
Nossa interpretação.
432

Subgrupo Temático: Epígrafes Honoríficas

Palavra-Chave: tria nomina, tribo, administração


Nº de Registro: 246
colonial.
A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada em Plasencia - Cáparra,
Cáceres, Extremadura, Espanha.
Paradeiro Encontra-se a 500m a sul do arco,
na quinta Casablanca, onde serve de
reservatório de água para o gado.
Nº Inventário -
Tipologia Bloco
Material Granito
Medidas 52 x (160) x 47 cm
Descrição: Inscrição gravada em um silar de granito
do qual falta a parte direita. O campo epigráfico é
rebaixado e com forma de tabula ansata.
B. Inscrição
Aug(ustae) . Trebar[unae] / M(arcus) . Fidius . Fidi . f(ilius) . Quir(ina) . [Macer] / Mag(istratus) . III .
II . Vir . II . Praef(ectus) Fa[brum - - -]
Interpretação458:
Augusta Trebaruna; Marcos Fidio Macer, filho de Fido, da tribo Quirina, magistrado pela 3ª vez, 2
vezes duunviro, prefeito dos artífices
C. Comentário Histórico
De acordo com González Herrero (2002, 93), a tipologia permite supor que o monumento serviria de
dintel em um edifício, talvez um pequeno templo, onde se oferecia culto à deusa protetora das águas
procedentes do castellum aquae. Outra possibilidade que não pode ser descartada consiste na
existência de uma fonte sagrada, junto à aqua augusta, que abasteceria de agua a Capera.
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
GONZÁLEZ HERRERO, M. 2002b, 424-431, nº 3 fotos 4-6; Hispania Epigraphica. Madrid:
Universidad Complutense de Madrid. nº 12, 2002, 93.

Catálogo Online: HEpOnl 20182

458
Nossa interpretação.
433

Palavra-Chave: tria nomina,


Nº de Registro: 269
administração colonial.
A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrado em 1993, durante a escavação
do forum de Cápara, Oliva de Plasencia,
Cápara, Extremadura, Espanha.
Paradeiro Não Encontrado
Nº Inventário -
Tipologia Fragmento
Material Mármore
Medidas (14) x (14,5) x 2,6 cm
Descrição: Fragmento superior esquerdo de uma placa de
mármore e outro fragmento que se encaixam de tons
cinzentos e frisos cinzentos. Vale destacar que os fragmentos
foram encontrados em campanhas arqueológicas diferentes.
O primeiro foi publicado em 1998 (HEp 8, 1998, 89) e o
segundo em 1999 (Hep 9, 1999, 252).
B. Inscrição

P(ublio) · Mem[mio ---] / Ligus[tino ---] /3TA[---] / II[viro--- /-------]

Interpretação459:
A Publio Memmio Ligustino Ta[---], duunviro
C. Comentário Histórico
Uma vez unidos, os fragmentos desvelam a identidade do personagem homenageado. Trata-se de um
Ligustinus, nome este poucas vezes atestado nas inscrições (vide os casos em OPEL III, 2000, p. 28,
acrescendo ainda o registro do CIL X 2716. Merece destaque ainda outro caso hispano que figura em
um epitáfio visto em Aldeanueva del Camino, Cáceres (CPILC 40), proveniente de uma necrópole a
sudeste de Capara).
Na linha 3 os editores sugerem que TA[---] corresponde à seqüência do cursus honorum do
personagem, possivelmente como menção ao duovirato na linha 4. Outra leitura possível é relacionar
a sílaba ao patronímico do indivíduo talvez Tanginus, Tangius, Taporus ou outra possibilidade
similar. Todos estes são nomes correntes na Lusitânia podendo, inclusive, aparecer conjugados com
nomes plenamente latinos.
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
Hispania Epigraphica. Madrid: Universidad Complutense de Madrid. nº 8, 1998, 89; Hispania
Epigraphica. Madrid: Universidad Complutense de Madrid. nº 9, 1999, 252.
Catálogo Online: HEpOnl 20891

459
Nossa interpretação.
434

Subgrupo Temático: Epígrafes Monumentais

Nº de Registro: 238 Palavra-Chave: onomástica


A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada em Oliva de Plasencia -
Cáparra, Cáceres, Extremadura,
Espanha.
Paradeiro Encontra-se na casa de guarda da Quinta
Casablanca.
Nº Inventário -
Tipologia Bloco
Material Granito
Medidas 46 x 360 x ? cm
Descrição: Inscrição monumental fragmentada em cinco
blocos de granito, dos quais se conservam dois.

B. Inscrição
[Pro · sa]lute · municipi(i) · [F]lavi · Ca[perens(is)] / Aqua Augusta / [c. 5-8] Albinus · [ex] ·
te[st]amento [f(ieri?) iussit?]
Interpretação460:
Aqua Augusta. À saúde do Municipio Flavio Caperense. Albino seu testamento fez cumprir.
C. Comentário Histórico
Datação atribuída pela titulatura imperial. Levantamos duas hipóteses para a identificação do
dedicante: ou tratar-se-ia de um indivíduo amplamente conhecido na localidade, ou os outros
elementos da onomástica perderam-se na reutilização da peça.
Datação: Entre os anos 69 – 96 d. C.
D. Referências Bibliográficas
BLÁZQUEZ, J. Mª, "Excavaciones en Cáparra II" In: Excavaciones arqueológicas en España 54, 1966, pp.
36-37, nº VIII, lám. XXI, 3 (CPILC 815); STYLOW, A., “Apuntes sobre epigrafía de época flavia en
Hispania”, Gerión 4, 1986, p. 303-307 (AE 1986, 307; Hispania Epigraphica. Madrid: Universidad
Complutense de Madrid. nº1, 1989, 158); CERRILLO, E. – HERRERA, G., Ruinas romanas de Caparra
(Guías arqueológicas 1), Mérida, 1992, p. 24; CERRILLO, E., “El anfiteatro de Caparra”. In. Bimilenario del
anfiteatro romano de Mérida. Coloquio Internacional El anfiteatro en la Hispania romana (Mérida,
1992), Mérida, 1995, pp. 311-312 y 320-321; ORTIZ DE URBINA, E., “La res publica en las comunidades
hispanas a partir de la fórmula epigráfica omnibus honoribus functus”. In: Ciudades privilegiadas en el
occidente romano, J. González, ed., Sevilla, 1999, p. 143; ANDREU PINTADO, J., Munificiencia pública en
la Provincia Lusitania (siglos I-IV d.C.), Zaragoza, 2004, p. 201, nº 3.
Catálogo Online: HEpOnl 20037

460
Nossa interpretação.
435

5. Caurium
Status Jurídico: Municipium

Enquadramento Cronológico: datação não atribuída.

Subgrupo Temático: Epígrafes Votivas

Palavra-Chave: coletividade
Nº de Registro: 290
municipal
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrado em uma parede do pasto "Dehesa
de Arriba", Perales del Puerto, Cáceres,
Extremadura, Espanha.
Paradeiro Encontra-se no domicilio particular de
Acebo.
Nº Inventário -
S/F
Tipologia Ara
Material Ganito
Medidas (57) x 37 x 20 cm
Descrição: Ara de granito com coroamento de três molduras
nas quatro faces e quebrada por baixo.
B. Inscrição
Iovi / Op(timo) . Ma(ximo) / vicani . / Arcobri/genses / [a(ram)] . p(osuerunt) . a(nimo) . L(ibentes)
Interpretação461:
A Jupiter Ótimo Maximo, os vicanos (do Vico) Arcobrigenses, colocaram a ara por livre vontade.
C. Comentário Histórico
Inscrição votiva a Jupiter Optimo Maximo. De acordo com os editores da inscrição votiva, uma das
hipóteses explicativas consiste na atribuição desta e das duas próximas inscrições, aos vicani.
Possivelmente, Júpiter estaria identificado com o deus Salama, sua possível versão indígena.

Datação: Não Atribuída


D. Referências Bibliográficas
Hispania Epigraphica. Madrid: Universidad Complutense de Madrid. nº 5, 1995, 226.
Catálogo Online: HEpOnl 23148

461
Nossa interpretação.
436

Palavra-Chave: coletividade
Nº de Registro: 291
municipal
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrada na parede do pasto "Dehesa de
Arriba", Perales del Puerto, Cáceres,
Extremadura, Espanha.
Paradeiro Encontra-se em uma coleção particular de
Badajoz.
Nº Inventário -
S/F
Tipologia Ara
Material Granito
Medidas Não Encontradas
Descrição: Ara em granito local. Encontra-se muito
danificada.
B. Inscrição
Iovi Op(timo) / Ma(ximo) Ar/cobrigenses / a(nimo) l(ibentes) p(osuerunt)
Interpretação462:
A Júpiter Otimo Maximo, os Arcobrigenses colocaram por livre vontade.
C. Comentário Histórico
Inscrição votiva a Júpiter Optimo Maximo com a assinatura do populus.

Datação: Não Atribuída


D. Referências Bibliográficas
Hispania Epigraphica. Madrid: Universidad Complutense de Madrid. nº 5, 1995, 227.
Catálogo Online: HEpOnl 23149

462
Nossa interpretação.
437

Palavra-Chave: coletividade
Nº de Registro: 292
municipal
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrada em Perales del Puerto, Cáceres,
Extremadura, Espanha.
Paradeiro Perdido
Nº Inventário -
Tipologia Árula
S/F
Material Granito
Medidas Não Encontradas
Descrição: Árula de granito com molduras e focus muito
desgastada pelos lados e por cima, pois fora utilizada como
pedra de afiar.
B. Inscrição
[Iovi] / Optumo /3Maxum[o] / vican[i] / ace[-c.1-2-]/6enses / [a]ram / [p]osuer/9_unt¬ v(otum)
s(olverunt) l(ibentes) [a(nimo)?]
Interpretação463:
A Jupiter Otimo Máximo. Os habitantes do vico Ace(?)ense colocaram a ara em cumprimento de um
voto, por livre vontade.
C. Comentário Histórico
Inscrição votiva a Jupiter Optimo Maximo, com possível registro do populus.

Datação: Não Atribuída


D. Referências Bibliográficas
Hispania Epigraphica. Madrid: Universidad Complutense de Madrid. nº5, 1995, 228
Catálogo Online: HEpOnl 23150

463
Nossa interpretação.
438

6 Civitas Aravorum
Status Jurírico: Municipium

Enquadramento Cronológico: Século II d. C.

Subgrupo Temático: Epígrafe Honorífica

Palavra-Chave: dedicação imperial,


Nº de Registro: 041
coletividade municipal.
A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada em Devesa, Marialva, Meda,
Guarda, Portugal
Paradeiro MG - Guarda/Pt
Nº Inventário -
Tipologia Pedestal (?)
Material Pedra (?)
Medidas Não Encontradas
Descrição: Pedestal em pedra (?).

B. Inscrição
IMP(eratori) . CAES(ari) . DIVI . TRAIA / PARTICI . F(ilio) TRAIANO/ HADRIANO. AVG(usto)
.
/ PONT(ifici) . MAX(imo) . TRIB(uniciae) . / POTES(tatis) . I . CO(n)S(uli) . II / CIVITAS
ARAVOR(um)
Interpretação:
Ao Imperador César Trajano Adriano Augusto, Pontífice Máximo, filho do divino Trajano Pártico,
tendo obtido o poder tribunício pela 1ª vez e Cônsul pela 2ª vez. A cidade dos Aravos.
C. Comentário Histórico
Seguindo as considerações de Perestrelo (2002, p. 57), a inscrição poderá datar de cerca de 120 d. C.
Vale ressaltar que no ano de 119 Adriano era cônsul pela segunda vez e em 134 obteve o consulado
pela terceira vez (RODRIGUES, 1983, p. 71, apud PERESTRELO, op. Cit).
Datação: Ano 120 d. C.
D. Referências Bibliográficas
PERESTRELO, M. S. G. A romanização na bacia do Côa. Vale do Côa: Ministério da Cultua/
Instituto Português de Arqueologia, 2002, pp. 55-57.
Catálogo Online: HEpOnl 21446
439

7. Civitas Cobelcorum
Status Juridico: Municipium

Enquadramento Cronológico: Século I d. C.

Subgrupo Temático: Epígrafes Votivas

Palavra-Chave: coletividade
Nº de Registro: 267
municipal
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrada em 1997 nas escavações de Torre
de Almofala, dentro da zona do fórum, a uns
20 metros do tempo. Almofala, Figueira de
Castelo Rodrigo, Guarda, Portugal.
Paradeiro Casa de Cultura de Figueira de Castelo
Rodrigo.
Nº Inventário -
Tipologia Ara S/F
Material Granito
Medidas 89,5 x 44 x 24 cm
Descrição: Ara em granito de grão fino, emoldurada em seus
quatro lados. O coronamento tem fúculo central; na parte
dianteira e traseira apresenta sendas reentradas de caráter
decorativo.
B. Inscrição
Iovi Optumo / Maxumo / civitas / Cobelcorum
Interpretação464:
A Jupiter Otimo Maximo. Civitas dos Cobelcos
C. Comentário Histórico
Inscrição votiva a Jupiter Optimo Maximo. De acordo com os estudos de H. Frade (1998), a inscrição
permite assegurar a existência do templo (a Júpiter) no Fórum da civitas dos Cobelci. Deste modo,
Cobelcus (vide referências em Hep 2, 1990, 793; Hep 3, 1993, 95; AE 1985, 46) seria um étnico e
não um cognomen.
Os Cobelcos eram um povo indígena que ocupava a região de Figueira de Castelo Rodrigo, cujo
centro político-administrativo localizava-se na colina da Torre de Almofala. Pela paleografía e
tipologia data-se o monumento em inícios do século I d. C. Outra datação possível, isto é, no período
flávio ou no II século é vista em AE 1998, 700.
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
FRADE, H. ‘Ara a Júpiter da civitas Cobelcorum’, 1998, Hispania Epigraphica. Madrid:
Universidad Complutense de Madrid. nº 8, 1998, 601.
Catálogo Online: HEpOnl 20883

464
Nossa interpretação.
440

Palavra-Chave: coletividade
Nº de Registro: 279
municipal
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Torre das Águias, Almofada, Figueira de
Castelo Rodrigo, Guarda, Portugal.
Paradeiro Não Identificado
Nº Inventário -
Tipologia Ara
S/F
Material Granito (?)
Medidas Não Encontradas
Descrição: A bibliografia consultada não indicou as
dimensões do suporte.

B. Inscrição
IOVI . OPTVMO / MAXUMO / CIVITAS / COBELCORUM
Interpretação465:
A Júpiter Óptimo Máximo, a cidade dos Cobelcos
C. Comentário Histórico
Perestrelo indica que a descoberta dessa inscrição auxiliou nas duvidas referentes à natureza da
estação arqueológica localizada na Torre de Almofala, já há muito conhecida pela bibliografia
nacional e regional. O texto atesta a existência de mais um grupo étnico na região, os Colbeci (já
indicados em outras inscrições de forma abreviada).
Os Colbeci seriam, assim, um povo pré-romano que vivia na região de Figueira de Castelo Rodrigo e,
em época romana, tinha seu centro político-administrativo na colina onde segue a referida torre.
(FRADE, 1998, p. 266 - apud PERESTRELO, 2002, p. 91).
Datação: Século I d. C.
D. Referências Bibliográficas
PERESTRELO, M. S. G. A romanização na bacia do Côa. Vale do Côa: Ministério da Cultua/
Instituto Português de Arqueologia, 2002, p. 90-91.
Catálogo Online: Não Registrado

465
FRADE, 1998, p. 266, apud Perestrelo, M. S. G. op cit., 2002, p. 90-91.
441

8. Civitas Taporium
Status Jurídico: Municipium

Enquadramento Cronológico: Datação não atribuída.

Subgrupo Temático: Epígrafe Votiva

Palavra-Chave: tria nomina, sacerdote


Nº de Registro: 235
imperial (Flamínica).
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrada em Bobadela, Oliveira do
Hospital, Coimbra, Portugal.
Paradeiro Desconhecido
Nº Inventário -
Tipologia Não Encontrada S/F
Material Não Encontrado
Medidas Não Encontradas
Descrição: Não Encontrada

B. Inscrição
Pietati · sacrum / Iulia · Modesta ex patrimonio suo in honorem gentis / Sex(ti) Aponi · Scaevi Flacci
mariti sui flaminis provinc(iae) · / Lusit(aniae) · et · in honorem gentis Iuliorum parentum suorum
Interpretação466:
Consagrado à Piedade. Julia Modesta mandou fazer com seu matrimônio em honra da gens de Sexto
Aponio Scaevio, seu marido, flâmine da província da Lusitânia e em honra da gens Julia e de seus
parentes.
C. Comentário Histórico
Inscrição votiva feita pos Julia Modesta, esposa do flâmine provincial Sexto A. Scaevio, em honra de
seus parentes da gens Julia e da gens do marido.
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
RAP 421.
Catálogo Online: HEpOnl 18955

466
Nossa interpretação.
442

Subgrupo Temático: Epígrafe Honorífica

Palavra-Chave: tria nomina,


Nº de Registro: 236
patronato.
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrada em Bobadela, Oliveira do
Hospital, Coimbra, Portugal.
Paradeiro Desconhecido
Nº Inventário -
Tipologia Não Encontrada S/F
Material Não Encontrado
Medidas Não Encontradas
Descrição: Não Encontrada
B. Inscrição
Iuliae Cn(aei) [f(iliae)] / Flavina[e] / Iulius / Rufus / patronae
Interpretação467:
A Julia Flavina, filha de Cneu. Julio Rufo, à patroa, dedicou.
C. Comentário Histórico
Inscrição honorífica de um patrono.

Datação: Não Atribuída


D. Referências Bibliográficas
CIL II 399 (p 817).
Catálogo Online: HEpOnl 18958

467
Nossa interpretação.
443

9. Civitas Igaeditanorum
Status Jurírico: Municipium

Enquadramento Cronológico: Séculos I a. C. e I d. C.

Subgrupo Temático: Epígrafe Funerária

Palavra-Chave: tria nomina, tribo,


Nº de Registro: 020
exército.
A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada em Idanha-a-Nova, Castelo
Branco, Portugal.
Paradeiro Não Encontrado
Nº Inventário -
Tipologia Estela
Material Granito
Medidas (88) x (58) x 20 cm
Descrição: Estela de granito, fraturada por cima e pela direita,
o que fez desaparecer a parte final das linhas.

B. Inscrição
L(ucio) · Marci[o] / Fusci · f(ilio) · Quir(ina) Avit[o] / praef(ecto) fabr(um) / praef(ecto) coh(ortis) I
S[u]/ror(um) sagitta[r(iorum)] / trib(uno) mil(itum) leg(ionis) X Freten[sis] / praef(ecto) · eq(uitum)
alae I sing[u]/lar(ium) c(ivium) R(omanorum) donis dona[to] / Marcius Maternus e[qu]/es alae
eiusdem praefe[cto] / optumo ob mérito
Interpretação468:
A Lucio Marcio Avito, filho de Fuscio, da tribo Quirina; prefeito dos artífices, prefeito das coortes,
1ª dos Suror Sagitários, da ala 1ª dos cavaleiros singulares legião X Fretense, prefeito da ala dos
cavaleiros, notável cidadão romano. Presenteou Marcio Materno, igualmente prefeito da ala dos
cavaleiros, pelo seu ótimo mérito.
C. Comentário Histórico
A inscrição homenageia Lucio Marcio Avito, identificado com os tria nomina, a filiação e a inscrição
na tribo Quirina. Dotado de um cursus honorum amplo, Avito foi homenageado pelo prefeito da ala
dos cavaleiros Marcio Materno.
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
FERREIRA, A. Epigrafia funeraria romana da Beira interior: Inovação ou continuidade?
(Trabalhos de Arqueologia 34), Lisboa, 2004, 127 nº 115.
Catálogo Online: : HEpOnl 20087

468
Nossa interpretação.
444

Subgrupo Temático: Epígrafe Votiva

Palavra-Chave: tria nomina,


Nº de Registro: 022
benemerência.
A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada em Idanha-a-Nova, Castelo
Branco, Portugal.
Paradeiro Reutilizado no interior da Catedral.
Nº Inventário -
Tipologia Bloco
Material Granito
Medidas 48 x 101 x ? cm
Descrição: Bloco arquitetônico de granito. Possui na parte
superior uma moldura de duplo cordão.

B. Inscrição

[Mar]ti te[mplum / C(aius) Canti]us Mo[destinus / ex pa]trimo[nio suo]


Interpretação469:
Templo de Marte. Caio Cantilio Modestino, de seu patrimônio.
C. Comentário Histórico
Inscrição votiva e evergeta.
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
Mantas, V. G. "Orarium donauit igaiditanis: epigrafia e funções urbanas numa capital regional
lusitana". I Congreso Peninsular de Historia Antigua, vol. II, Santiago (1986) 1988, 428-432 com
foto (Hispania Epigraphica. Madrid: Universidad Complutense de Madrid. nº 2, 1990, 773); SÁ, A.
M. de. Civitas Igaeditanorum: os deuses e os homens. Idanha-a-Nova: Câmara Municipa de
Idanha-a-Nova, 2007, p.45, nº 22 com foto.
Catálogo Online: HEpOnl 22946

469
Nossa interpretação.
445

Palavra-Chave: tria nomina, administração colonial,


Nº de Registro: 024
benemerência.
A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada em Idanha-a-Velha,
Castelo Branco, Portugal.
Paradeiro Depósito Quintais Marrocos,
Idanha-a-Velha.
Nº Inventário -
Tipologia Não Encontrada
Material Não Encontrado
Medidas Não Encontradas
Descrição: Não Encontrada
B. Inscrição
[Vene]ris · templum / [C(aius) Canti]us · Modestinus / [ex] patrimonio · suo
Interpretação470:
Templo de Vênus. Caio Cantio Modestino, de seu patrimônio.
C. Comentário Histórico
Inscrição votiva e evergeta.
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
AE 1967, 143; AE 1992, 952; RAP 439.
Catálogo Online: HEpOnl 20659

470
Nossa interpretação.
446

Subgrupo Temático: Epígrafes Honoríficas

Palavra-Chave: tria nomina, administração


Nº de Registro: 025
colonial, benemerência.
A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrado em Idanha-a-Nova,
Castelo Branco, Portugal.
Paradeiro Não Encontrado
Nº Inventário -
Tipologia Relógio Solar
Material Granito
Medidas 34 x 44 x 12 cm
Descrição: Relógio solar em granito.

B. Inscrição
Q(uintus) Iullius Sex(ti) f(ilius) Papi(ria) Augu(stanus) / orarium donavit / Igaiditanis l(oco)
a(ccepto) f(ecit) per mag(istros) / Toutoni(um) Arci f(ilium) Malgeini(um) Manli f(ilium) / Celti(um)
Arantoni f(ilium) / Ammini(um) Ati f(ilium) / L(ucio) Domitio Aenobarbo / P(ublio) Cornelio
Scipione co(n)[s(ulibus)]
Interpretação471:
Quinto Iulio Augustano, filho de Sexto, da tribo Papiria, doou neste lugar, um relógio solar aos
Igaeditanis. Que foi executado e aceito para os magistrados: Toutonio, filho de Arco; Malgenio, filho
de Manlio; Celta, filho de Arantonio; Aminio, filho de Ato; Lucio Damicio Aenobarbo, Publio
Cornelio Scipião, cônsules.
C. Comentário Histórico
Pelas titulaturas, data-se o monumento no primeiro semestre do ano 16 a. C.

Datação: Ano de 16 a. C.
D. Referências Bibliográficas
Mantas, V. G. "Orarium donauit igaiditanis: epigrafia e funções urbanas numa capital regional
lusitana". I Congreso Peninsular de Historia Antigua, vol. II, Santiago (1986) 1988, 421-422 com
fotos; Hispania Epigraphica. Madrid: Universidad Complutense de Madrid. nº 2, 1990, 770; D’
Encarnação, J. ‘Dos Monumentos Epigráficos da Civitas Igaeditanorum’, Revista Praça Velha 26,
2009, 165-167 com fotos.
Catálogo Online: HEpOnl 22943

471
Nossa interpretação.
447

Nº de Registro: 018 Palavra-Chave: tria nomina, patronato.


A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada em 1930 durante a
destruição de um trecho da muralha,
Cáceres, Cáceres, Extremadura,
Espanha.
Paradeiro Se conserva no Alcalde del
Ayuntamiento de Cáceres.
Nº Inventário -
Tipologia Bloco
Material Granito
Medidas: 56,5 x 37,4 x ? cm (Floriano: 1 m de
largura; 0,58 de largura; 0,40 de
largura)
Descrição: Bloco em granito.
B. Inscrição472

[L(ucio)] Cornelio . / [P(ubli) f(ilio)] Balbo . imp(eratori) / Norb(enses) . Caesa/[rini] patrono


Interpretação473:
A Lucio Cornelio Balbo, filho de Publio, imperador, patrono de Norba Caesarina.
C. Comentário Histórico
Homenagem a L. Cornelio Balbo. Datação atribuída pela datação do consulado de Lucio Cornelio
Balbo em 40 a.C.

Datação: a partir de 40 a.C.


D. Referências Bibliográficas
Floriano, A. Cáceres ante la Historia, Cáceres: s/e, 1931, 3 ss; AE 1962, 71.
Catálogo Online: HEpOnl 20096

472
Variação de leitura: [L(ucio) . ] Cornelio . P(ubli) [. f(ilio)] / Balbo . imp(eratori) . [Col(oni)?] / Norb(enses) .
Caesa[rini] / (vacat) patrono (HEpOnl 20096)
473
Nossa intepretação.
448

Palavra-Chave: tria nomina, administração


Nº de Registro: 240
colonial.
A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada em Idanha-a-Velha,
Idanha-a-Nova, Castelo Branco,
Portugal.
Paradeiro Não Encontrado
Nº Inventário -
Tipologia Não Encontrada
Material Granito
Medidas Não Encontradas
Descrição: Não Encontrada

B. Inscrição
C(aio) · Caesari Augusti · f(ilio) / pontif(ici) · co(n)s(uli) · imp(eratori) / principi · iuventutis /
civitas Igaedit(anorum)
Interpretação474:
Caio Cesar, filho de Augusto. Pontífice, cônsul, imperador, príncipe da Juventude. A Civita dos
Igaeditanos.
C. Comentário Histórico

Inscrição honorífica da coletividade da Civitas ao filho do Imperador Augusto.


Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
RAP 484.
Catálogo Online: HEpOnl 20073

474
Nossa interpretação.
449

Palavra-Chave: tria nomina,


Nº de Registro: 242
administração colonial.
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrada em Idanha-a-Nova, Idanha-a-
Nova, Castelo Branco, Portugal.
Paradeiro Não Encontrado
Nº Inventário -
Tipologia Não Encontrada S/F
Material Não Encontrado
Medidas Não Encontradas
Descrição: Não Encontrada
B. Inscrição
L(ucio) Marcio / Tangini f(ilio) Materno / dec(urioni) alae I / [Singular(ium) C(ivium)
R(omanorum?)]
Interpretação475:
A Lucio Marcio Materno, filho de Tangino, decurião da 1ª Ala, notável cidadão romano.
C. Comentário Histórico
-

Datação: Não Atribuída


D. Referências Bibliográficas
AE 1961, 359.
Catálogo Online: HEpOnl 20088

475
Nossa interpretação.
450

Nº de Registro: 243 Palavra-Chave: tria nomina, tribo.


A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada em Idanha-a-Velha,
Idanha-a-Nova, Castelo Branco,
Portugal.
Paradeiro Encontra-se na denominada “catedral”
de Idanha-a-Velha.
Nº Inventário -
Tipologia Bloco
Material Granito
Medidas (46) x (55) x 50 cm
Descrição: Fragmento de um bloco de granito.
B. Inscrição
P(ublio) Valerio / Celti · f(ilio) · Quir(ina) / Clementi / C(aius) Valerius / Gal(eria) Clu(niensis) / - -
----
Interpretação476:
A Publio Valerio Clemente, filho de Celta, da tribo Quirina. Caio Valerio Cluniense, da tribo Galéria,
---/----
C. Comentário Histórico
A inscrição apresenta duas personagens identificados com tria nomina. O primeiro, Clemente,
apresenta a filiação e a inscrição nas tribus Quirina. Enquanto que o segundo, Cluniense, é inscrito na
tribo Galeria. Tratam-se, portanto, de dois cidadãos romanos plenos.

Datação: Não Atribuída


D. Referências Bibliográficas
FERREIRA, A. P. R. Epigrafia funeraria romana da Beira interior: Inovação ou continuidade?
(Trabalhos de Arqueologia 34), Lisboa, 2004, 143-144, nº 136; SÁ, A. M. de, Civitas
Igaeditanorum: os deuses e os homens. Idanha-a-Nova: Câmara Municipal de Idanha-a-Nova,
2007, 87, nº 106 com foto,
Catálogo Online: HEpOnl 20170

476
Nossa interpretação.
451

Nº de Registro: 270 Palavra-Chave: cidadania


A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrado em Idanha-a-Velha, Idanha-a-
Nova, Castelo Branco, Portugal.
Paradeiro Não Encontrado
Nº Inventário -
Tipologia Cipo
Material Granito
Medidas (46) x 57 x 46 cm
Descrição: Cipo de granito quebrado em cima. O texto ocupa
a parte superior.
B. Inscrição
- - - - - - / Gemellianae c(ivium) R(omanorum) / misso . Honesta / missione
Interpretação477:
------/ dos cidadãos romanos da (legião?) Gemeliana enviados em honesta missão.
C. Comentário Histórico
-

Datação: Não Atribuída


D. Referências Bibliográficas
SÁ, A. M. de Civitas Igaeditanorum: os deuses e os homens. Idanha-a-Nova: Câmara Municipal
de Idanha-a-Nova, 2007, 160, nº 236 com foto.
Catálogo Online: HEpOnl 21456

477
Nossa interpretação.
452

Palavra-Chave: sacerdote imperial


Nº de Registro: 285
(Flâmine).
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrada em Idanha-a-Nova, Idanha-a-
Nova, Castelo Branco, Portugal.
Paradeiro Não Encontrado
Nº Inventário -
Tipologia Não Encontrada S/F
Material Não Encontrado
Medidas Não Encontradas
Descrição: Não Encontrada
B. Inscrição

- - - - -]usco / [- - - fl]amini / [pr]ovinciae

Interpretação478:
-----]usco, flâmine da província.
C. Comentário Histórico
Inscrição com registro de um(a) Flâmine (Flamínica?) provincial.

Datação: Não Atribuída


D. Referências Bibliográficas
Hispania Epigraphica. Madrid: Universidad Complutense de Madrid. nº9, 1999, 739.
Catálogo Online: HEpOnl 22689

478
Nossa interpretação.
453

10. Poliba
Status Jurídico: Coloniae

Enquadramento Cronológico: Século III d. C.

Subgrupo Temático: Epígrafe Honorífica

Nº de Registro: 35 Palavra-Chave: dedicatória imperial


A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada no curral de uma casa,
propriedade de Jesús Sánchez Terán, em
Pedro Toro, aldeia de Ciudad Rodrigo.
Todavia, o monumento procede de
Cáceres, Extremadura, Espanha.
Paradeiro Não Encontrado
Nº Inventário -
Tipologia Ara
Material Mármore
Medidas Não Encontradas
Descrição: Ara de mármore finamente talhada com
frontão e extremos dos cornos (?) marcados por uma forte
incisão (também no reverso) na cabeceira e base
moldurada. Não possui foculus, interpreta-se que
monumento ficou inconcluso.

B. Inscrição

Imp(eratori) . Caes(ari) / G(aio) . Iulio . Vero / Maximino / Pio Felici / Aug(usto).


Interpretação479:
Ao Imperador Cesar Caio Julio Vero Maximino Pío Felix Augusto
C. Comentário Histórico
Datação atribuída pela titulatura entre março de e 235 e meados de maio de 238 d. C.
Datação: Entre os anos de 235 e 238 d. C.
D. Referências Bibliográficas
MARTÍN VALLS, R. ‘Inscripción dedicada al Emperador Maximino’, BSAA 46, 1980, 193-197,
com foto (AE 1980, 555).
Catálogo Online: HEpOnl 20384

479
Nossa interpretação.
454

11. Iruena
Status Jurídico: Municipium

Enquadramento Cronológico: Datação não atribuída.

Subgrupo Temático: Epígrafe Funerária

Palavra-Chave: onomástica, sacerdote


Nº de Registro: 282
imperial (Flamínica).
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrada em Ciudad Rodrigo, Salamanca,
Castilla y León, Espanha.
Paradeiro Não Encontrado
Nº Inventário -
Tipologia Não Encontrada S/F
Material Não Encontrado
Medidas Não Encontradas
Descrição: Não Encontrada
B. Inscrição
D(is) M(anibus) / Velen(- - -) flamin(ica) FILIX / ann(orum) XXXX h(ic) s(ita) t(ibi) t(erra) l(evis) /
D(is) M(anibus) / [- - -]acc[- - -]us Acci fil(ius) II / [a]n(n)o[r]um L h(ic) s(itus) t(ibi) t(erra) l(evis)
Interpretação480:
Aos Deuses Manes. Velen(---) Flamínica Filix (?), 40 anos, aqui jaz, que a terra te seja leve. Aos
Deuses Manes, [- - -]acc[- - -]us, filho de Acio, 2 anos e 50 dias aqui jaz, que a terra te seja leve.
C. Comentário Histórico
Inscrição funerária de uma flamínica e de um pequeno cidadão romano, identificado apenas pela
filiação ‘filho de Acio’, de dois anos. Provavelmente trata-se de mais uma criança que recebeu o
praenomen antes de completar 17 anos em virtude da morte precoce.
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
CIL II 869.
Catálogo Online: HEpOnl 21807

480
Nossa interpretação.
455

Subgrupo Temático: Epígrafe Honorífica

Palavra-Chave: dedicação imperial,


Nº de Registro: 281
coletividade municipal.
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrada em Ciudad Rodrigo, Salamanca,
Castilla y León, Espanha.
Paradeiro Não Encontrado
Nº Inventário -
Tipologia Não Encontrada S/F
Material Não Encontrado
Medidas Não Encontradas
Descrição: Não Encontrada
B. Inscrição
Imp(eratori) Caes(ari) / L(ucio) Sept(imio) Severo / Pertinaci Aug(usto) / o(rdo) m(unicipii) V(- - -)
ex / a(rgenti) p(ondo) V
Interpretação481:
Ao Imperador Cesar Lucio Septimio Severo Pertinax Augusto. O conselho municipal V(---) de
prata, de 5 (unidade de peso).
C. Comentário Histórico
Inscrição honorífica realizada pelo conselho municipal.

Datação: Entre os anos 193 - 211


D. Referências Bibliográficas
CIL II 863.
Catálogo Online: HEpOnl 21801

481
Nossa interpretação.
456

12. Norba Caesarina


Status Jurídico: Coloniae

Enquadramento Cronológico: Séculos I a. C. e II d. C.

Subgrupo Temático: Epígrafes Funerárias

Palavra-Chave: tria nomina, tribo,


Nº de Registro: 274
exército.
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrada em "La Aldehuela", na ermita de
Santa Olalla, a 7 km de Cáceres,
Extremadura, Espanha.
Paradeiro Não Encontrado
Nº Inventário -
Tipologia Estela S/F
Material Granito
Medidas Não Encontradas
Descrição: Estela de granito na qual "debajo había figurada
muy mal una mujer de medio cuerpo".
B. Inscrição
- - - - - - / [- - - Pa]piria / [- - -]Leg(ionis) . XX / [- - -]ETVO[- - -] / L a(nnorum) . LX . A[- - -] / h(ic)
. s(itus) . e(st) . s(it) . t(ibi) . t(erra) . l(evis) / et . Uxsor / Sequnda
Interpretação482:
------/ (inscrito na Tribo?) Papíria. [---] na 20ª legião. [---]ETVO[---]. 60 anos. A[---] aqui jaz, que a
terra te seja leve,. A mulher, Secunda, colocou.
C. Comentário Histórico
Inscrição funerária com o registro dos tria nomina e da tribo de um cidadão veterano e de sua esposa
(?).
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
BOXOYO, S. B. Noticias históricas de la muy noble y leal villa de Cáceres, Provincia de
Extremadura. Monumentos de la antigüedad que conserva [1794]. (Cáceres, 1952), 152; CIL II 719
(CPILC 108); CILCC I, 135, nº 162.
Catálogo Online: HEpOnl 21697

482
Nossa interpretação.
457

Palavra-Chave: tria nomina, tribo,


Nº de Registro: 289
exército.
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrada na propriedade de Francisco
Nogales, nas imediações do Castillo, Brozas,
Cáceres, Extremadura, Espanha.
Paradeiro Encontra-se no local de achamento.
Nº Inventário -
Tipologia Estela S/F
Material Granito
Medidas (43) x 24 x 20 cm
Descrição: Estela de granito. Tem cornisa emoldurada e falta
a parte inferior do fuste e o zócalo.
B. Inscrição
L(ucius) Afini/us Mo/destus vet(eranus) leg(ionis) / VII Gem(inae) / [F]elici[s] / - - - - - -
Interpretação483:
Lucio Afinio Modesto, veterano da legião VII Gêmina Feliz ------
C. Comentário Histórico
Seguindo as análises de Salas-Martin e Gonzales-Cordero (1994, pp. 11-12), pela forma do
monumento, sua paleografia e o epíteto Gemina, pode-se datar o monumento em meados do II século
d. C.
Datação: Meados do II século d. C.
D. Referências Bibliográficas
SALAS MARTIN, J. & GONZALEZ CORDERO, A. “Nuevas aportaciones a la epigrafía latina de
la provincia de Cáceres”. Norba 11-12, 1991-1992 [1994], 171-173 nº 1 con foto; Hispania
Epigraphica. Madrid: Universidad Complutense de Madrid. nº 5, 1995, 191.
Catálogo Online: HEpOnl 23139

483
Nossa interpretação.
458

Subgrupo Temático: Outros

Nº de Registro: 042 Palavra-Chave: acordo de hospitalidade


A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrado no acampamento de
Cáceres el Viejo, Cáceres,
Extremadura, Espanha.
Paradeiro Foi adquirida por D. Fulgencio
Riesco, mas atualmente encontra-se
perdida.
Nº Inventário -
Tipologia Tesserae Hospitales
Material Bronze
Medidas Não Encontradas
Descrição: Tessera de hospitalidade de bronze inscrita
em uma peça que representa a figura de um golfinho.
Tal representação é vista em exemplares celtibéricos já
conhecidos.
B. Inscrição
H(ospitium) . F(ecit) / quom . Elandorian
Interpretação484:
A hospedeira fez acordo com Eladorianos (?).
C. Comentário Histórico
Com datação presumida na primera metade do século I a. C.
Datação: Século I a. C.
D. Referências Bibliográficas
TOVAR, A. "El bronce de Luzaga y las téseras de hospitalidad latinas y celtibéricas", Emérita, 16,
1948, 75; Hispania Epigraphica. Madrid: Universidad Complutense de Madrid. nº 5, 1995, 192;
DÍAZ ARIÑO, B. Epigrafía latina republicana de Hispania, Barcelona 2008, 201-202, U-8.

Catálogo Online: HEpOnl 21074

484
Nossa interpretação.
459

13. Metellinum
Status Jurídico: Coloniae

Enquadramento Cronológico: Século I a. C. - I d. C.

Subgrupo Temático: Epígrafes Funerárias

Palavra-Chave: tria nomina, tribo,


Nº de Registro: 201
exército.
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrada em Medellín, Espanha.
Paradeiro Desconhecido
Nº Inventário -
Tipologia Não Encontrada
S/F
Material Não Encontrado
Medidas Não encontradas
Descrição: Desconhecida.

B. Inscrição
P(ublius) Talius Q(uinti) f(ilius) Pap(iria) Leg(ionis) X / hic sitvs est.
Interpretação485:
Publio Talio, filho de Quinto, da tribo Papiria, da Legião 10ª, aqui está enterrado.

C. Comentário Histórico
De acordo com o levantamento de Salvadora Haba Quirós (1998, p. 117), a inscrição estaria em uma
peda encontrada no ângulo formado pela únião dos rios Zújar e do Guadiana. No local há destígios
de uma povoação romana, cujo nome não se pode precisar, ainda que haja especulações de que se
tenha chamado Porticulus. Neste mesmo lugar teria sido encontrado um pássaro grande, um pequeno
ídolo com o mesmo motivo e um aldabón de ouro, outro dado relevante seria o fato de o entorno
arqueológico ter sido carcterizado como abundante em poços e norias.
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
HABA QUIROS, S. Medellín romano: la colonia "Medellinensis" y su territorio (Colección
Arte/arqueología, núm. 21). Diputación de Badajoz: Departamento de Publicaciones, 1998, nº 29.
Catálogo Online: Não Registrado

485
Nossa tradução da transcrição: “Publio Talio, hijo de Quinto, de la tribu Papiria, de la Legión X, aquí está
enterrado” (HABA QUIRÓS, S. 1998, nº 29).
460

Nº de Registro: 294 Palavra-Chave: tria nomina, tribo.


A. Localização e Dados Gerais
Procedência Medellín, Badajoz, Extremadura, Espanha.
Paradeiro MAPB - Badajoz/Es
Nº Inventário 2611 e D-755
Tipologia Fragmento
Material Mármore S/F
Medidas (36,5) x (23,5) x 6,5 cm
Descrição: Fragmento de lápide retangular de mármore da
qual falta toda a margem esquerda.
B. Inscrição486
- - -] f(ilius) Qui(rina tribu ?) / [- - -]ber · f(aciendum) · c(uravit) · d(e) · s(ua) · p(ecunia) /3 [- - - ex
tes]tamento / [ here]des insti/[tuerunt] ei tiberium /6 [- - - sun]t · aut · essent / [testa]me[n]to · TI/[- - -
]SVS.
Interpretação487:
---] filho de (?), da tribo Quirina, [---]ber, cuidou da execução com seu próprio dinheiro [---], por
testamento os seus herdeiros instituíram para si (?), fazendo parte do testamento (?) [ ---] Ti[--sus---]
(?).
C. Comentário Histórico
Se seguirmos as observações de Ramírez Sábada (1994, 649), estaremos perante a um defunto que
pertenceu à tribo Quirina. Caso assim seja, tal fato tornar-se-ia importante em virtude de, para essa
localização, ser conhecida apenas a menção da tribo Sérgia.
Pela perda do lado esquerdo, apenas é possível supor que depois de TIBERIUM estaria, na linha
seguinte, estar gravado a continuidade do nome do personagem. Uma possibilidade seria
CAESAREM, como uma referência ao imperador.
Datação: Século I d. C.
D. Referências Bibliográficas
J.L. RAMÍREZ SÁDABA, 1994, 649-651, nº 6, lám. 6; . SALAS MARTÍN, J., ESTEBAN
ORTEGA, J., REDONDO RODRÍGUEZ, J. A. & SÁNCHEZ, J. L. ABAL, 1997, 54, nº 41, lám.
XLI.; Hispania Epigraphica. Madrid: Universidad Complutense de Madrid. nº6, 1996, 77;
Hispania Epigraphica. Madrid: Universidad Complutense de Madrid. nº8, 1998, 21.
Catálogo Online: HEpOnl 23219

486
Leitura do texto epigráfico proposta por J. SALAS MARTÍN; J. ESTEBAN ORTEGA; J.A. REDONDO
RODRÍGUEZ – J.L. SÁNCHEZ ABAL, 1997.
487
Nossa interpretação.
461

Subgrupo Temático: Epígrafes Votivas

Nº de Registro: 202 Palavra-Chave: tria nomina, patronato.


A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrada na rua dos Pescadores (Solano),
Medellín, Espanha.
Paradeiro Desconhecido
Nº Inventário -
Tipologia Pedestal S/F
Material Desconhecido
Medidas Desconhecidas
Descrição: Base ou pedestal cujo material e dimensões são
desconhecidos.
B. Inscrição
Druso Caesari / Germanici / Caesaris f(ilio) / Divi Augusti / pronepoti / patron(o)
Interpretação488:
A César Druso, filho de César Germânico, bisneto do Divino Augusto, [nosso] Patrono.
C. Comentário Histórico
Um dos aspectos de maior destaque nesta inscrição é o fato de estar dedicada a César Druso. Druso era
filho de Germânico e Agripina, neta de Augusto. O César Druso, que aparece nas moedas de Calígula,
morreu em 33 d. C., assim sendo, a epígrafe em análise apresenta uma data recente. Há outro
registroepigráfico que registra uma dedicatória a Druso César procedente de Sagunto que, em conjunto
com o de Medellín, constituem-se em raros exemplares já identificados na Península. Por fim, há
possibilidades de um terceiro registro localizado em Ucubi e registrado no CIL II 1553.
Datação: Início do Século I d. C.
D. Referências Bibliográficas
HABA QUIROS, S. Medellín romano: la colonia "Medellinensis" y su territorio (Colección
Arte/arqueología, núm. 21). Diputación de Badajoz: Departamento de Publicaciones, 1998, Nº 37, p.
123.
Catálogo Online: Não Registrado

488
Nossa tradução da transcrição: “Al César Druso, hijo del César Germánico, biznieto del Divino Augusto,
[nuestro] Patrono” (HABA QUIRÓS, 1998, nº37, p. 123).
462

Nº de Registro: 205 Palavra-Chave: dedicatória imperial


A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrada em Medellín, Espanha.
Paradeiro Desconhecido
Nº Inventário -
Tipologia Desconhecida
Material Desconhecido S/F
Medidas Desconhecidas
Descrição: Inscrição honorífica cujo material e dimensões são
desconhecidos.
B. Inscrição
DIVO.CAESARI.AVGVSTO.GERMANICO. PRINCIPI. IVVENTVTIS.
Interpretação 489:
Ao Divino César Augusto Germânico, Príncipe da Juventude.
C. Comentário Histórico
Imperador já divinizado

Datação: Não Atribuída


D. Referências Bibliográficas
HABA QUIROS, S. Medellín romano: la colonia "Medellinensis" y su territorio (Colección
Arte/arqueología, núm. 21). Diputación de Badajoz: Departamento de Publicaciones, 1998, nº 40.
Catálogo Online: Não Registrado

489
Nossa tradução da transcrição: “Al Divino César Augusto Germánico, Príncipe de la Juventud” (HABA
QUIROZ, 1998, nº 40).
463

Palavra-Chave: dedicatótia imperial,


Nº de Registro: 208
coletividade colonial.
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrada em Medellín, Espanha.
Paradeiro Desconhecida
Nº Inventário -
Tipologia Ara
Material Granito
Medidas S/F
0,40 x 0,28 x 0,20 cm
Descrição: Ara de granito, rompida na base. Segundo as
descrições do Marqués de Monsalud (Monsalud,1899, p. 415-
416, apud HABA QUIROS, 1998, nº 46) no momento do
achamento ela conservava a cornisa do coroamento e o neto
era ocupado pela inscrição.
B. Inscrição
I(ovi) O(ptimo) M(aximo) / C(oloni) C(oloniae) M(etellinensis) / F(aciendum) C(uraverunt)
Interpretação 490:
A Júpiter Optimo Máximo. Os colonos da colonia Metellinense fizeram.
C. Comentário Histórico
Datação atribuida por Monsalud no século I d. C., em virtude da tipologia paleográfica. O presente
registro foi encontrado na propriedade rural "Las Lomas", a noroeste do núcleo urbano, no mesmo
lugar onde foram encontrados distintos materiais que atestam a presença de uma Villa Romana, a
saber, prensas olearias, mármores, cerâmicas, etc. Peeters (apud Haba Quiros, op Cit p. 133) destaca
que a maioria das epígrafes dedicadas a Júpiter são datadas nos séculos II e III, sendo poucos os
registros datáveis no I século d. C. Por outro lado, a Lusitânia ocupa o segundo lugar em número de
inscrições dedicadas a esta divindade.
Uma das hipóteses que explica essa difusão está ligada ao interesse dos imperadores e ao papel do
exército. De fato, Júpiter Optimo Máximo é a invocação que alcançou maior propagação e suas
dedicações provêm de todos os grupos sociais. Outros estudos apontam ainda para um número maior
de regitros epigráficos a I.O.M. na Extremadura, sobretudo nas zonas de forte presença indígena e
onde registrou-se maior resistência à dominação romana. Nesses casos, a dedicação ocorria em
emulatio ou interpretatio com uma divindade indígena.
No caso em tela, o monumento foi erigido pelos colonos da própria colônia, isto é, cidadãos
romanos. Outra peculiaridade da inscrição reside no fato de ser uma inscrição assinada por uma
coletividade, ou seja, por um conjunto particular de colonos deste núcleo urbano, o que
corresponderia a 3% das inscrições dedicadas a IOM (dados de Peeters divulgados pela autora).
Assim sendo, a produção da epígrafe pode estar ligada a um lugar mais próximo ao núcleo urbano ou
mesmo no centro de uma cidade, possivelmente próximo aos antigos caminhos que vinham de
Mérida, não se excluindo a possível existência de um pequeno templo dedicado a Jupiter.
Há vários exemplos registrados no CIL II a respeito das dedicações epigráficas realizadas por
C(oloni) C(oloniae), sendo a grande maioria localizada na Bética e dirigidas a individuos particulares
de especial prestigio para a comunidade, são exemplos: em Astigi (CIL II 1479) se dedica o
monumento a P. Numerius Martialis, sexvir e patrono; em Corduba, com varias inscrições com a
sigla C.C.P. (coloni Coloniae Patriciae), dedicações a sacerdotes (CIL 2229), a um médico (CIL
2348), a um flamen e duovir (CIL 5523), etc. São escassos os exemplos de epígrafes dirigidas pelos
colonos de uma colonia a uma divinidade, sendo um deles localizado em Hispalis (CIL II 1188). Por
fim, há determinações nas leis de Urso (LXXXII) na qual menciona os colonos como comunidade

490
Nossa tradução da transcrição: “A Júpiter Optimo Máximo. Los colonos de la colonia Metellinense de
hacerlo” (HABA QUIROS, 1998, nº 46, pp. 132-133).
464

que possui edificios próprios e outras possessões, vide o texto: [Qui agri quaeque silvae quaeque
aedificia c(olonis) c(oloniae) G (enetivae) I (uliae), quibus publice utantur, data adtributa erunt....],
mas não fala das normas em relação a ereção de um monumento ou a uma divindade por parte dos
colonos.
Datação: Século I d. C.
D. Referências Bibliográficas
HABA QUIROS, S. Medellín romano: la colonia "Medellinensis" y su territorio (Colección
Arte/arqueología, núm. 21). Diputación de Badajoz: Departamento de Publicaciones, 1998, nº 46, pp.
132-133.
Catálogo Online: HEpOnl 19983

Subgrupo Temático: Epígrafes Honoríficas

Palavra-Chave: tria nomina,


Nº de Registro: 203
administração colonial.
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrada em Medellín, Espanha.
Paradeiro Desconhecido
Nº Inventário -
Tipologia Não Encontrada
Material Não Encontrado S/F
Medidas Não encontradas
Descrição: Inscrição honorífica cujo material e dimensões são
desconhecidos.
B. Inscrição
[---] Domiti(ae) / August(ae) [---] / G(aius) Licinius / Saturninus / et L(ucius) Mummius /
Pomponianus / II viri.
Interpretação491:
À Domicia Augusta. Caio Licinio Saturnino e Lucio Mummio Pomponiano, duunviros.
C. Comentário Histórico
Trata-se de uma dedicação à Imperatriz Domiciana, filha de Domicio Corbulón e esposa do
Imperador Domiciano desde o ano 82 d. C. Assim sendo, a inscrição pode ser datada entre esta data e
o ano de 96 d. C., quando o imperador foi assassinado. Por outro lado, esta epigrafe é o único
documento encontrado em Medellín, que menciona explicitamente os cargos públicos municipais da
cidade, neste caso, seus dois representantes máximos, os duunviros.
Seguindo a digressão de Haba Quirós (1998, p. 124), observa-se que Lara Peinado recolheu em
Lérida a inscrição de um personagem chamado C. Licinio C. f. Gal. Saturnino, que foi edil e duunvir
naquela cidade. Já Mallon y Marín publicaram um fragmento epigráfico, procedente de Mérida, mas
depositado na coleção Monsalud de Almendralejo, na qual se lê: DOMITIA. Elaborado em mármore
branco, os autores conjecturam que se pode estar perante uma peça que serviu como pedestal de
estatua a Domicia Longina, erigida pelos duunviros de Mérida, assemelhando-se ao exemplar de
Medellín. Sobre o nomen Mummius, há outros registros na Bética, também relacionados a cargos
públicos; seriam os casos do duovir L. Mummio... F. Ser. Rufo (CIL II 1684), de Tucci e Q.
Mummio L. f. Gal. Gallo, também duovir, de Baena (CIL II 1584). Todavia, Pomponianus é o único

491
Nossa tradução da transcrição: “A Domicia Augusta. Gayo Licinio Saturnino y Lucio Mummio Pomponiano,
duunviros” (HABA QUIRÓS, 1998, nº 38, p. 124).
465

registrado nos índices do CIL, sendo escasso seu registro como cognomen.

Datação: Entre os anos 82 e 96 d. C.


D. Referências Bibliográficas
HABA QUIROS, S. Medellín romano: la colonia "Medellinensis" y su territorio (Colección
Arte/arqueología, núm. 21). Diputación de Badajoz: Departamento de Publicaciones, 1998, nº 38, p.
124.
Catálogo Online: Não Registrado

Nº de Registro: 204 Palavra-Chave: dedicatória imperial


A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrada em Medellín, Espanha.
Paradeiro Desconhecido
Nº Inventário -
Tipologia Não Encontrada
Material Não Encontrado S/F
Medidas Não encontradas
Descrição: Inscrição honorífica cujo material e dimensões são
desconhecidos.
B. Inscrição
Cl(audio) Caesari Ti(berio) Aug(usti) f(ilio) Pont(ifici) Co(n)s(uli) / Principi Iuventutis
Interpretação 492:
A Tiberio Claudio César, filho de Augusto, Pontífice, Cônsul, Príncipe da Juventude ...
C. Comentário Histórico
Como indica Haba Quirós, (1998, p. 125), apesar da escassez dos dados a respeito da inscrição
dedicada ao imperador Tibério, defende-se a hipótese de sua datação em inícios do Império. Em
virtude da tipologia do texto, devia estar situada em um forum ou outro lugar público.

Datação: Entre os anos 14 e 37 d. C. – Governo de Tibério


D. Referências Bibliográficas
HABA QUIROS, S. Medellín romano: la colonia "Medellinensis" y su territorio (Colección
Arte/arqueología, núm. 21). Diputación de Badajoz: Departamento de Publicaciones, 1998, 1998, nº
39.
Catálogo Online: Não Registrado

492
Nossa tradução da transcrição: “A Tiberio Claudio César, hijo de Augusto, Pontífice, Cónsul, Príncipe de la
Juventud ...” (HABA QUIRÓS, 1998, nº 39).
466

Palavra-Chave: tria nomina,


Nº de Registro: 206
administração colonial.
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrada em Medellín, Espanha.
Paradeiro Desconhecido
Nº Inventário -
Tipologia Desconhecida
Material Desconhecido S/F
Medidas Desconhecidas
Descrição: Inscrição honorífica cujo material e dimensões são
desconhecidos.
B. Inscrição
[Ti . Claudi]o Caesari A[ug(usto) Germ(anico) / Pont(ifici) Max(imo)] tr]ib(unitia) potest(ate) VI
co(n)s(uli) d[esignato IIII P.P.] / [M. Porcius M. (?)] f(ilius) Cato leg(atus) Caes(aris) [Aug(usti)---.
Interpretação493:
A Tito Claudio Cesar Augusto Germanico. Pontifice Maximo, no 6º ano do poder tribunício, 4 vezes
cônsul designado, Pai da Pátria. M. Porcio Catão, filho de Marcio, legado de Cesar Augusto ---
C. Comentário Histórico
O CIL apresenta três restituições possíveis para a presente lápide: a dedicação poderia dirigir-se a
Tibério, a Nero ou a Tito e seria datada nos anos 46, 59 ou 76 d. C., respectivamente. Como indica
Haba Quiros (1998, p. 126), já é conhecida a existência do legado M. Porcio Catão, membro de uma
família de grande renome em Roma. Percorrendo as hipóteses apresentadas no CIL, a autora destaca
que, se o idealizador foi o legado de Augusto, o monumento pode ter sido feito em honra de Tiberio.
Contudo, o mesmo também poderia estar cumprindo a função de um legado pretorial de Tiberio
como César e não Augusto.
No caso de estar dedicado a outro imperador, o referido Catão seria um filho ou neto do ilustre
político M. Porcio Catón. Todavia, concordando com a transcrição e a interpretação de G. Alföldy
destaca-se que a epígrafe fala de um legatus Caesaris que pertence à família senatorial dos Porcio
Catones, sendo a personagem em tela, muito provavelmente, o filho ou neto de M. Porcio Catón,
cônsul suffectus no ano de 36 d. C. Assim, de acordo com as observações de Alföldy, o imperador no
qual a inscrição se dirige é Claudio, sendo o exemplar datado entre os anos de 45 - 46 d. C. Na
Lusitânia, este legado, M. Porcio Catón, foi o sucessor de L. Calvinius Vetus Carminius e, anos mais
tarde, após seu mandato como governador da província, tornou-se consul suffectus.
Datação: Entre os anos 45 e 46 d. C – Governo de Cláudio
D. Referências Bibliográficas
HABA QUIROS, S. Medellín romano: la colonia "Medellinensis" y su territorio (Colección
Arte/arqueología, núm. 21). Diputación de Badajoz: Departamento de Publicaciones, 1998, nº 41.
Catálogo Online: Não Registrado

493
Nossa interpretação.
467

Palavra-Chave: tria nomina,


Nº de Registro: 209
benemerência.
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrada em Medellín, Espanha.
Paradeiro Desconhecido.
Nº Inventário -
Tipologia Não Encontrada
Material Não Encontrado S/F
Medidas Não Encontradas
Descrição: Inscrição de caráter votivo. São desconhecidos o
material, as características e dimensões do suporte.
B. Inscrição
- -------] / Cancili/vs Mod/[e]stvs d(e)s(vo) d(edit).
Interpretação494:
... ? Cancilio Modesto apoiou com seu dinheiro.
C. Comentário Histórico
Inscrição evergeta.
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
HAE 4/5, 737; HABA QUIROS, S. Medellín romano: la colonia "Medellinensis" y su territorio
(Colección Arte/arqueología, núm. 21). Diputación de Badajoz: Departamento de Publicaciones,
1998, nº 47.
Catálogo Online: Não Registrado

494
Nossa tradução da transcrição: “... ? Cancilius Modestus, apoyó con su dinero” (HABA QUIROS, 1998, nº
47).
468

Palavra-Chave: tria nomina, tribo, administração


Nº de Registro: 229
provincial.
A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada em Mengabril, Badajoz,
Extremadura, Espanha.
Paradeiro Está conservada na paragem Vegas
de Ortiga, próximo da casa de M.
Gallego Arrias e do campo de
futebol.
Nº Inventário -
Tipologia Bloco
Material Granito
Medidas 22,5 x 51 x 175 cm
Descrição: Bloco de granito, possível base de
estatua equestre. Na borda da parte superior direita
há restos de uma moldura.
B. Inscrição
L(ucio) Caecilio L(uci) f(ilio) / Sca(ptia) Rufo / legato pro(praetore) pr(ovinciae)

Interpretação495:
A Lucio Cecilio Rufo, filho de Lucio, da tribo Scaptia, legado propretor na/da província.
C. Comentário Histórico
Trata-se da primeira documentação da tribo Scaptia na Lusitânia. O personagem, até então
desconhecido, era governador da provincia da Lusitânia. A análise da paleografia aponta as épocas
de Augusto e de Tiberio como muito tardias, em virtude do registro da titulatura (leg. pro. pr.) sem
menção da provincia. Quiçá poderia ser parente de C. Caecilius Rufus cos., de 17 d. C. (Pir C 141).
Pelas dimensões A. U. S. (HEp 4, 1994, 159) destaca que poderia ser a base de uma estátua equestre,
talvez erijida pelo Conselho de Metellinum.
Como indica Salvadora Haba Quirós (1998, p. 128-129), o personagem desta epígrafe foi governador
da provincia da Lusitânia. Recuperando os estudos de A. U. Stylow (apud HABA QUIROS, op cit),
indica, pela paleografía da lápide, o enquadramento do monumento na época de Augusto ou Tiberio
seria muito tardio, principalmente em virtude da fórmula de registro do título leg. Pro pr., com ou
sem menção da província. A autora ainda destaca que uma das áreas de distribuição da importante
gens Caecilia estende-se dos rios Tejo e do Guadiana até a zona de Sagunto-Valencia.
Procedente desta última registra-se um monumento epigráfico dedicado a P. Caecilius Rufus pelos
membros de sua família (CIL 3960), que poderia ter alguma relação com o personagem da epígrafe
em tela. Há, ainda, o caso de Q. Caecilius Rufus, de Olisipo (CIL 4996), inscrito na tribu Galeria,
cuja inscrição foi-lhe dedicada pela mãe, Antistia Maela. Todavia, não há muitas dúvidas sobre o
parentesco mais direto do presente legado lusitano com L. Caecilius Rufus L.f., irmão por parte de
mãe de P. Cornelio Sila. Este personagem foi tribuno da plebe em 64 a. C. e depois pro-cônsul, sendo
feito prisioneiro por César em 49 a. C. na cidade de Corfinium (CIL I 639). Pode-se ainda pensar em
um parentesco com C. Caecilius Rufus, cônsul em 17 d. C.
Pelas dimensões do monumento, pode-se estar perante uma base de estátua equestre erigida, talvez,
pelo conselho de Metellinum. Destaca-se que, para o território peninsular, a tribu Scaptia está
registrada três vezes no CIL II. Em relação a isso, os testemunhos procedem de Asturica Augusta
(CIL 5662), Cartago Nova (CIL 3455) e Tarraco (CIL 6073), ou seja, importantes e profundamente
romanizados centros urbanos.
Datação: I século d. C. – Entre os governos de Augusto e Tibério.
D. Referências Bibliográficas

495
Nossa interpretação.
469

GONZÁLEZ CORDERO, A.; VENEGAS SANZ, J. S. & ALVARADO GONZALO, M. "Nuevas aportaciones
a la epigrafía de Extremadura". Alcántara 21, 1990, 147-148, nº 24, dib. 24; Hispania Epigraphica. Madrid:
Universidad Complutense de Madrid. nº 4, 1994, 159; HABA QUIROS, S. Medellín romano: la colonia
"Medellinensis" y su territorio (Colección Arte/arqueología, núm. 21). Diputación de Badajoz:
Departamento de Publicaciones, 1998, pp. 127-129, nº 43.
Catálogo Online: HEpOnl 5373
470

14. Salmatica
Status Juridico: ?

Enquadramento Cronológico: Século II d. C.

Subgrupo Temático: Epígrafe Honorífica

Palavra-Chave: dedicação imperial,


Nº de Registro: 304
ordo decurionum.
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrada na biblioteca do Colegio de Santa
María de los Ángeles, Salamanca, Castilla y
León, Espanha.
Paradeiro MAP - Salamanca/Es
Nº Inventário -
Tipologia Pedestal S/F
Material Mármore
Medidas 54 x 24/19 x 12 cm
Descrição: Base de mármore branco cinzento com molduras
na parte inferior e superior que marcam o campo epigráfico
onde se encontra a inscrição. Apresenta sinais de desgaste.
B. Inscrição
Imp(eratori) Caes(ari) / M(arco) Aur(elio) Anto/nino Aug(usto) / f(ilio) L(uci) Sep(timii) Seve/ri
ordo / salmanticen(sium)

Interpretação 496:
O conselho Salmanticense (dedicou) ao Imperador Cesar Marco Aurelio Augusto, filho de Lucio
Septimio Severo.
C. Comentário Histórico
Trata-se de uma dedicatória comemorativa realizada por uma instituição local da cidade de
Salmantica ao imperador Caracala (198 - 211 d. C.). De acordo com os editores da inscrição (Hep 11,
2001, 395), a existência de um ordo salmanticense pode ser uma justificação para atestar a existência
de um municipium anterior à época de Caracala. Pelo título de Augustus, data-se a inscrição a partir
de 3 de maio de 198 d. C.
Datação: A partir de 3 de maio de 198 d. C.
D. Referências Bibliográficas
Hispania Epigraphica. Madrid: Universidad Complutense de Madrid. nº 11, 2001, 395
Catálogo Online: HEpOnl 24278

496
Nossa tradução do texto: “El Ordo Salmanticense (se lo dedicó) al Emperador Cesar Marco Aurelio Augusto,
hijo de Lucio Septimio Severo” (HEpOnl 24278).
471

15. Turgallium
Status Jurídico: Coloniae

Enquadramento Cronológico: Séculos I e II d. C.

Subgrupo Temático: Epígrafes Funerárias

Nº de Registro: 225 Palavra-Chave: tria nomina, tribo.


A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada em Madrigalejo, Cáceres,
Extremadura, Espanha.
Paradeiro Encontra-se reutilizada como dintel esquerdo
da porta na rua.
Nº Inventário -
Tipologia Placa-Epitáfio
Material Granito
Medidas (75) x (45) x (20) cm
Descrição: Estela funerária de granito com o campo epigráfico
rebaixado.

B. Inscrição
M(arcus) . Victori/us . L(uci) . f(ilius) . Pap(iria) / Galba . an(norum) / LXX . h(ic) . s(itus) . e(st) . /
s(it) . t(ibi) . t(erra) . L(evis)
Interpretação497:
Marco Vitorio Galba, filho de Lucio,da tribo Papiria, de 70 anos. Aqui jaz, que a terra te seja leve.
C. Comentário Histórico
A inscrição apresenta o cidadão romano Marco Vitorio Galba da tribo Papiria. Galba também é
identificado com os tria nomina e a filiação.
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
CIL II 5294; CILCC II, 159-160, nº 615, foto 615.
Catálogo Online: HEpOnl 416

497
Nossa interpretação.
472

Nº de Registro: 232 Palavra-Chave: tria nomina, tribo.


A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrada em Madrigalejo, Cáceres,
Extremadura, Espanha.
Paradeiro Encontra-se em Malpica de Tajo, Toledo,
Castilla-La Mancha, Espanha.
Nº Inventário -
Tipologia Placa-Epitáfio S/F
Material Granito
Medidas (60) x 45 x 23 cm
Descrição: Estela de granito de grão grosso. Muito embora
atualmente tenha o arremate reto, há indícios de que talvez
tenha tido um remate semicircular.
B. Inscrição

M(arcus) . Iuniu/s . M(arci) . f(ilius) . Pap(iria) / hic . sit(us) . / est

Interpretação498:
Marcos Iunio, filho de Marcos, da tribo Papíria, aqui jaz.
C. Comentário Histórico
A datação foi atribuída pela análise do formulário funerário.

Datação: Primeira metade do século I d. C.


D. Referências Bibliográficas
Hispania Epigraphica. Madrid: Universidad Complutense de Madrid. nº 8, 1998, 88a; EDMONDSON, J.
"Some new granite funerary stelae from Augusta Emerita", Memoria. Excavaciones Arqueológicas em
Mérida 5, 1999, 391, nota 25.
Catálogo Online: HEpOnl 5855

498
Nossa interpretação.
473

Nº de Registro: 249 Palavra-Chave: tria nomina, tribo.


A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada em Herguijuela, Cáceres,
Extremadura, Espanha.
Paradeiro Encontra-se no “Ejido de los Solises”, onde
serve de assento na entrada de uma casa.
Nº Inventário -
Tipologia Estela
Material Granito
Medidas 92 x 32 x 18 cm
Descrição: Estela de granito com cabeceira semicircular adornada
com rosácea.

B. Inscrição
Q(uintus) . Serv/ilius . Q(uinti) . f(ilius) / Pap(iria) Ce/ler . an(norum) / XXX . h(ic) . s(itus) . / est
Interpretação499:
Quinto Servilio Celer, filho de Quinto, da tribo Papiria, de 30 anos, aqui jaz.
C. Comentário Histórico
Inscrição funerária com o registro dos tria nomina e da tribo do defunto.

Datação: Não Atribuída


D. Referências Bibliográficas
CALLEJO SERRANO, C. “Nuevo repertorio epigráfico de la provincia de Cáceres”, AEspA 43,
1970, 139-141 nº 6 con foto.
Catálogo Online: HEpOnl 20239

499
Nossa interpretação.
474

Nº de Registro: 251 Palavra-Chave: tria nomina, tribo.


A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada em Puerto de Santa Cruz,
Cáceres, Extremadura, Espanha.
Paradeiro Não Encontrado
Nº Inventário -
Tipologia Estela
Material Granito
Medidas (43) x 60 x 20 cm
Descrição: Estela em granito cinzento, com cabeceira
arredondada e quebrada por baixo. Uma linha incisa separa a
primeira linha do texto das demais.
B. Inscrição
L(ucius) Vocconius / L(uci) f(ilius) Pap(iria) hic e(st) / [sit(us)]
Interpretação500:
Lucio Voconio, filho de Lucio, da tribo Papíria, aqui jaz.
C. Comentário Histórico
Inscrição funerária com o registro dos tria nomina e da tribo, Papiria.

Datação: Não Atribuída


D. Referências Bibliográficas
BELTRÁN LLORIS, M. “Aportaciones a la epigrafía y arqueología romana de Cáceres”,
Caesaraugusta 39-40 (1975-1976), 64-65 nº 44 com foto (AE 1977, 417).
Catálogo Online: HEpOnl 20339

500
Nossa interpretação.
475

Nº de Registro: 256 Palavra-Chave: tria nomina, tribo.


A. Localização e Dados Gerais
Procedência Trujillo, Cáceres, Extremadura, Espanha.
Paradeiro Não Encontrado
Nº Inventário -
Tipologia Estela
S/F
Material Granito
Medidas Não Encontradas
Descrição: Estela com crescente lunar sobre peana na
cabeceira.
B. Inscrição
C(aius) Iulius [- f(ilius)] / Pap(iria) . Ruf[us] / an(norum) . C . h(ic) . s(itus) e(st) s(it) [t(ibi)] / t(erra)
l(evis) . Rufill[a] / f(ilia) f(aciendum) c(uravit)
Interpretação501:
Caio Rufo, filho de Julio, da tribo Papíria, de 100 anos, aqui jaz, que a terra te seja leve. Sua filha
Rufilla mandou fazer.
C. Comentário Histórico
Pelo formulário da inscrição, atribui-se a datação entre os séculos I e II d. C.
Datação: Entre os séculos I e II d. C.
D. Referências Bibliográficas
Hispania Epigraphica. Madrid: Universidad Complutense de Madrid. nº5, 1995, 269.
Catálogo Online: HEpOnl 20731

501
Nossa interpretação.
476

Nº de Registro: 257 Palavra-Chave: tria nomina, tribo.


A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrado no portal do Conselho em frente
a Iglesia, Alcollarín, Cáceres, Extremadura,
Espanha.
Paradeiro Perdido.
Nº Inventário - S/F
Tipologia Não Encontrada
Material Não Encontrado
Medidas Não Encontradas
Descrição: Não Encontrada
B. Inscrição
M(arcus) . Vibi⌐u¬/s . Rufus / Pap(iria) an(norum) L . / hic . s(itus) . e(st) . s(it) . / t(ibi) . t(erra) .
l(evis) . AIAI / - - - - - -?
Interpretação502:
Marcos Vibio Rufo, da tribo Papíria, de 50 anos, aqui jaz, que a terra te seja leve. AIAI (?)------
C. Comentário Histórico
Epígrafe com o registro dos tria nomina e da tribo, Papiria.
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
Hispania Epigraphica. Madrid: Universidad Complutense de Madrid. nº5, 1995, 172.
Catálogo Online: HEpOnl 20750

16. Urunia

502
Nossa interpretação.
477

Status Jurídico: Coloniae

Enquadramento Cronológico: Século II d. C.

Subgrupo Temático: Epígrafe Honorífica

Palavra-Chave: dedicação imperial,


Nº de Registro: 277
decreto dos decuriões.
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrada em Irueña, Fuenteguinaldo,
Salamanca, Castilla y León, Espanha.
Paradeiro MC - Lugo/Es
Nº Inventário -
Tipologia Pedestal S/F
Material Mármore
Medidas 34 x 21 x 12 cm
Descrição: Pedestal de mármore branco emoldurado.
B. Inscrição
Imp(eratoris) · Caes(aris) · divi / Vespasiani f(ilii) / Domitiani · Aug(usti) / pont(ificis) · max(imi) ·
trib(unicia) / p(otestate) · imp(eratoris) · II · p(atris) · p(atriae) · co(n)s(ulis) / VIII · desig(nati) ·
VIIII / d(ecreto) · d(ecurionum) ·
Interpretação503:
Ao imperador Cesar Domiciano Augusto, filho do Divino Vespasiano, pontífice Maximo,com poder
tribunício, 2 vezes imperador, pai da pátria, 8 vezes cônsul, 9 vezes designado. Por decreto dos
Decuriões.
C. Comentário Histórico
Datação atribuída pela titulatura imperial.

Datação: Entre as datas 1 de janeiro-13 de setembro de 82 d.C.


D. Referências Bibliográficas
MALUQUER DE MOTES, J., Carta arqueológica de España. Salamanca, Salamanca, 1956, p.
135, nº 29; GÓMEZ MORENO, M., Catálogo Monumental de España. Provincia de Salamanca,
Madri: Editora Valencia, 1967, p. 5; MARTÍN VALLS, R., ‘Nuevos hallazgos arqueológicos em
Ciudad Rodrigo’, Zaephyrus 26-27, 1976, p. 387; MANGAS MANJARES, J., ‘Ciudades antiguas de
la Provincia de Salamanca (siglo III a.C.- Diocleciano)’. In.: I Congreso de Historia de Salamanca
(Salamanca 1989) – vol. 1. Salamanca: Universidad de Salamanca, 1992, pp. 262-263; SALINAS
DE FRÍAS. M., ‘Los inicios de la epigrafía em Lusitania Occidental’. In.: BELTRÁN LLORIS, F.
Coloquio sobre Roma y el nacimiento de la cultura epigráfica em Occidente (4-6 de noviembre
de 1992). Zaragoza, 1995, p. 291.
Catálogo Online: HEpOnl 21800

503
Nossa interpretação.
478

17. Epígrafes sem localização da cidade:

Enquadramento Cronológico: Século I – III d. C.

Subgrupo Temático: Epígrafes Funerárias

Nº de Registro: 239 Palavra-Chave: tria nomina, exército.


A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada em Alburquerque, Badajoz,
Extremadura, Espanha.
Paradeiro MAPB - Badajoz/Es.
Nº Inventário -
Tipologia Ara
Material Mármore
Medidas 43 x 29 x 30 cm
Descrição: Ara em mármore, com danos no ângulo superior
direito e nos inferiores. O texto está emoldurado.

B. Inscrição
D(is) · M(anibus) · s(acrum) / C(aius) · Valerius / Maxsumus · Cae[s]/araugusta · veter(anus) /
leg(ionis) · VII Geminae / Felicis · ann(orum) · LV / h(ic) · s(itus) · e(st) · s(it) · t(ibi) · t(erra) ·
l(evis) / Valeria Maxsu/ma · patri · pio / f(aciendum) · c(uravit)
Interpretação504:
Consagrado aos Deuses Manes. Caio Valerio Maxsumo, veterano de Caesaraugusta (?) da 7ª Legião
Gemina Felix, de 55 anos, aqui jaz, que a terra te seja leve. Valéria Maxsuma, ao piedoso pai,
mandou fazer.
C. Comentário Histórico
A datação foi atribuída pela observância da cognominação Gemina Pía Félix para esta unidade.
Assim sendo, a cronologia enquadra-se no período posterior a Vespasiano e anterior a Caracala.

Datação: Entre o governo dos imperadores Vespasiano e Caracala.


D. Referências Bibliográficas
AE 1946, 200.
Catálogo Online: HEpOnl 20043

504
Nossa interpretação.
479

Nº de Registro: 273 Palavra-Chave: tria nomina, exército.


A. Localização e Dados Gerais
Procedência Foi encontrado na casa de Juan García
Adamez, servindo de boca em um forno de
pão, Villamesías, Cáceres, Extremadura,
Espanha.
Paradeiro Não Encontrado
Nº Inventário - S/F
Tipologia Não Encontrada
Material Não Encontrado
Medidas Não Encontradas
Descrição: Não Encontrada
B. Inscrição
L(ucius) . Hermelius / L(uci) . f(ilius) . Pap(iria) . vet(eranus) . Leg(ionis) / XX / - - - - - -?
Interpretação505:
Lucio Hermelio, filho de Lucio, da tribo Papíria, veterano da 20ª Legião, ------?
C. Comentário Histórico
Inscrição funerária com o registro dos tria nomina e da tribo de um veterano.
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
CPILC 604; ILER 5670.
Catálogo Online: HEpOnl 21641

505
Nossa interpretação.
480

Subgrupo Temático: Epígrafes Votivas

Palavra-Chave: coletividade
Nº de Registro: 111
municipal
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrada em Villasbuenas de Gata,
Cáceres, Extremadura, Espanha.
Paradeiro MC – Cáceres/Es
Nº Inventário 6277
Tipologia Ara
Material Granito
Medidas 76 x 37 x 24 cm
Descrição: Ara de granito avermelhado com cabecera apenas S/F
insinuada. Possui duas molduras, vistas apenas nas laterais, e
um crescente lunar inciso, tudo muito deteriorado. Acima há
um fóculo redondo e na base, de forma biselada de tosca
realização e pouco elaborada, há restos de outras molduras
muito desgastadas. O campo epigráfico está rebaixado, as
letras, em capitais quadratas com traços rústicos e sem
interpunção, possuem um traço irregular e desigual.

B. Inscrição
IOVI . OP/TVMO . MA/XVMO . VI/CANI . MVNE/NSES . ARA(m) . P(osuerunt)
Interpretação:
A Júpiter Óptimo Máximo, os aldeãos munenses puseram
C. Comentário Histórico
A presente epígrafe integra um conjunto de inscrições dedicadas pelos Vicani a Júpiter. Julio Esteban
Ortega e José Salas Martín (2002) destacam que no reduzido espaço de Cáceres são documentados
três casos: os vicani Arcobriguenses, os vicani Mace[..]nses, em Perales del Puerto e os vicani
Munenses ou Munienses em Villasbuenas de Gata. São conhecidos também, os vicani Tongobriceses
em Brozas e, em Casar de Cáceres, os vicani Roudenses. Há ainda as viciniae de Oliva de Plasencia e
Villar de Plasencia, localidades igualmente de Cáceres e muito próxima das mencionadas.
Uma das interpretações possíveis vincula as dedicatórias dos vicani a Júpiter ao culto a uma
divinidade local, possivelmente Salama, divindade identificada por Albertos (apud Esteban Ortega &
Salas Martín, 2002, p. 314) com o monte Jálama situado ao norte de Villasbuenas de Gata.
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
Ficheiro Epigráfico (Suplemento da Revista Conimbriga) Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras.
Edição 70, 2002, nº 314.
Catálogo Online: Não Registrado
481

Nº de Registro: 218 Palavra-Chave: tria nomina


A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada em agosto de 2005, durante o
acompanhamento arqueológico das obras de
requalificação da envolvente da Sé-Catedral
de Idanha-a-Velha por um dos signatários (J.
C. L.), Idanha-a-Nova, em Idanha-a-Velha,
Castelo Branco, Portugal.
Paradeiro Encontra-se no Pavilhão Epigráfico de
Idanha-a-Velha.
Nº Inventário -
Tipologia Ara
Material Granito
Medidas 14 x 30 x 20,5 cm; fuste – 22 (?) x 24,8 x 16
cm
Descrição: Ara votiva constituída de granito de grão fino,
polido e trabalhado nas quatro faces, encontrando-se truncado
na oblíqua. Falta-lhe parte do fuste (início da 3ª linha e quase
totalidade da 4ª) e toda a base. O capitel foi também bastante
danificado, sobretudo no lado direito, e apresenta sinais de ter
sido queimado, nomeadamente no topo e laterais, sendo as
queimaduras posteriores ou contemporâneas das escoriações
que sofreu. Devido à mutilação de que o monumento sofreu,
não subsistem quaisquer indícios que permitam caracterizar a
sua base, assim como a zona de transição do fuste para esta. O
fuste é bastante simples e não possui decoração lateral nem
moldura a delimitar o campo epigráfico.
B. Inscrição
I(ovi) . O(ptimo) . M(aximo) / VEGETI/[N]VS . VEGE/[TI F(ilius) A(nimo)] L(ibens) V(otum)
S(olvit)

Interpretação:
A Júpiter Óptimo Máximo. Vegetino, filho de Vegeto.
C. Comentário Histórico
De acordo com os editores da inscrição, trata-se de uma inscrição dedicada a Júpiter por um
indivíduo que se identifica à maneira indígena, através de um só nome, seguido da filiação. A
onomástica é corrente na Lusitânia, nomeadamente o antropónimo Vegeto. Apesar de Vegetinus ser
um nome menos frequente na região lusitana, duas das seis inscrições anteriormente já conhecidas
que a ele aludem provêm de Idanha-a-Velha.
Em relação ao teônimo, ainda que mais um testemunho do culto a Júpiter nesta região da Lusitânia
não seja de estranhar, pois é relativamente abundante por toda a actual Beira Interior e, em especial,
na Beira Baixa, este se revela de particular interesse pelo fato de ser proveniente da capital da civitas
Igaeditanorum, onde, até ao momento, só eram conhecidas duas epígrafes consagradas a esta
divindade, apesar de serem ainda em número reduzido e de não se saber qual o seu local original de
deposição, o crescente número de inscrições a Júpiter encontradas na Egitânia parece vir reforçar a
ideia de que o templo principal do forum desta cidade seria consagrado a esta divindade e não a
Vênus, ou mesmo a Marte, que, de acordo com a epigrafia, também possuíram locais de culto
próprios em Idanha, construídospor C. Cantius Modestinus.
De resto, parece também que só deste modo se poderá explicar a grande difusão que o culto a Júpiter
teve no território rural desta civitas, sobretudo quando comparado com a fraca devoção demonstrada
pela comunidade rural para com Vênus e Marte. Pela paleografia, nomeadamente a forma do O, do
482

M e do G, e pelo modo de identificação do dedicante, é monumento datável de meados do século I da


nossa era, quiçá, da época flávia, quando a civitas terá sido elevada a município.

Datação: Não Atribuída


D. Referências Bibliográficas
Ficheiro Epigráfico (Suplemento da Revista Conimbriga) Coimbra: Inst. Arq. da Fac. de Letras.
Edição 81, 2006, nº 361.
Catálogo Online: Não Registrado

Nº de Registro: 227 Palavra-Chave: tria nomina


A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada na Quinta Mezquita, próxima do
Petrón de Cogolludo, Navalvillar de Pela,
Badajoz, Extremadura, Espanha.
Paradeiro Encontra-se, desde 2005, no pátio de um antigo
lagar de azeite.
Nº Inventário -
Tipologia Ara
Material Granito
Medidas Possui mais de 100 cm
Descrição: Ara em granito com cabeceira fuste e base.

B. Inscrição
Genio Laci/murgae / Norbana / Q(uinti) f(ilia) Quint/illa Nor/bensis
Interpretação506:
Ao Gênio de Lacimurga. Norbana Quintila, filha de Quinto, norbense.
C. Comentário Histórico
Inscrição votiva o Gênio oferecida por uma mulher.

Datação: Século I d. C.
D. Referências Bibliográficas
Hispania Epigraphica. Madrid: Universidad Complutense de Madrid. nº 18, 2009, 52.
Catálogo Online: HEpOnl 1758

506
Nossa interpretação.
483

Palavra-Chave: coletividade
Nº de Registro: 278
municipal
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Coriscada, Meda, Guarda, Portugal.
Paradeiro Não Identificado.
Nº Inventário -
Tipologia Ara
Material Granito S/F
Medidas 34 x 21 x 12 cm
Descrição: Ara de granito de grão médio. Foi partida ao meio
e os toros foram destruídos.
B. Inscrição
IOVI O[PT]/UMO M[AX]VMO . AS[CR] / VICANI . S[...] / GOABOAIC(enses).
Interpretação507:
Cosagrado a Júpiter Óptimo Máximo. Os habitantes de S[...]goaboaicum mandaram erigir.
C. Comentário Histórico
De acordo com Perestrelo (2002, p. 53), a ara poderá demonstrar a existência de um vicus cujo nome
não é totalmente conhecido, mas que poderá ter sido chamado de "Segoabonca" (vide ALARCÃO,
1988b, p. 150 e 1988a, p. 150) ou Sagoaboiaco. Para Alarcão (op. Cit) junto à aldeia foram
recolhidos abundantes vestígios da ocupação de época romana. Um exemplo desses materiais
consiste em um capitel de grandes proporções encontrado na povoação de Coriscada, junto à estrada,
e outro, menor. Ambos são de granito de grão fino/médio, respectivamente. Há ainda dois fustes de
coluna também em granito, na mesma estrada do centro da povoação.
Perestrelo complementa que os elementos de coluna e da ara constituem o conjunto de vestígios
conhecidos até o momento na Coriscada e que poderão ter vindo de outro local nas proximidades,
mais precisamente da zona do Gravato, onde abundam os vestígios romanos.
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
PERESTRELO, M. S. G. A romanização na bacia do Côa. Vale do Côa: Ministério da Cultua/
Instituto Português de Arqueologia, 2002, p. 53.
Catálogo Online: Não Registrado

507
Interpretação de Fernando Curado,1985c, p. 45.
484

Nº de Registro: 280 Palavra-Chave: tria nomina, exército.


A. Localização e Dados Gerais
Procedência Coutada de Longrovia, Longrovia, Meda,
Guarda, Portugal.
Paradeiro Não Identificado
Nº Inventário -
Tipologia Ara S/F
Material Granito
Medidas Não Encontradas
Descrição: Ara de granito. A bibliografia consultada não
informa as dimensões do suporte.
B. Inscrição
Q(uintus) . IULIUS / MONTAA[NUS] / EQ(ues) . LEG(ionis) VII (Septimae) / [G(eminae)] /
F(elicis). BANDI . [L?]O/NGOBRICV / V(otum) . S(olvit) . A(nimo).

Interpretação:
Quinto Júlio Montano, soldado de cavalaria da 7ª Legião Gêmina Félix, cumpriu de boa bontade o
seu voto a Bande Longóbricu (ou Ongóbico)508
C. Comentário Histórico
De acordo com Perestrelo (2002, p. 92-93), na chamada Veiga de Longrovia ou Coutada de
Longrovia estende-se uma área onde foram encontrados muitos vestígios romanos. O núcleo pré-
romano, de nome Longobrica, situado no cabeço, foi amplamente romanizado. A designação de
Longobrica poderá corresponder ao nome do castellum.
Seguindo os estudos de Alarcão (1988, pp 4-71 apud PERESTRELO op cit), considera-se que nessa
região poderia ter existido um destacamento dessa legião encarregado de vigiar a exploração das
minas de chumbo.Vale ressaltar que nesse mesmo sítio tem sido encontrado colunas, cerâmicas de
construção, pesos de tear, mós, instrumentos de ferro (um machado - martelo e chaves), aras, fíbulas,
cerâmicas, moedas de cobre e bronze, contas de um ábaco, etc. (vide Rodrigues, 1983, p. 83-87 apud
PERESTRELO, op cit). Complementando tais achados, têm-se a identificação de uma Villa da qual
também foram encontrados vestígios.
Datação: Não Atribuída
D. Referências Bibliográficas
PERESTRELO, M. S. G. A romanização na bacia do Côa. Vale do Côa: Ministério da Cultua/
Instituto Português de Arqueologia, 2002, p. 92-93.
Catálogo Online: Não Registrado

508
Interpretação proposta por Fernando Curado, 1985b, p. 44.
485

Subgrupo Temático: Epígrafes Honoríficas

Nº de Registro: 034 Palavra-Chave: dedicação imperial


A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada em Meimoa, Penamacôr, Castelo
Branco, Portugal.
Paradeiro Encontra-se na Casa-Museu Dr. Mário Pires
Bento em Meimoa.
Nº Inventário -
Tipologia Ara
Material Granito
Medidas 102 x 39 x 20 cm
Descrição: Ara em granito.
B. Inscrição
Pro salute / imp(eratoris) · Narvae / [T]raiani · Caes(aris) / [A]ug(usti) Ger(manici) · vic/[a]ni
Venienses / campum consacrave/runt

Interpretação509:
Pela saúde do Imperador Nerva Trajano Cesar Augusto Germânico. Os Habitantes do vico Veniense,
consagraram o campo.
C. Comentário Histórico
Inscrição honorífica.

Datação: Entre os anos 98 e 117 d. C – Governo de Trajano.


D. Referências Bibliográficas
CURADO, F. ‘Epigrafia das Beiras’, Conimbriga 18, 1979, 145-148.
Catálogo Online: HEpOnl 16950

509
Nossa interpretação.
486

Nº de Registro: 036 Palavra-Chave: dedicação imperial


A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada em 1845 na Ermita de
Santiago, já em ruínas, situada a 5 km. a
leste (E) do povoamento; Alburquerque,
Badajoz, Extremadura, Espanha.
Paradeiro MAPB - Badajoz/Es
Nº Inventário -
Tipologia Pedestal (Base de Estátua)
Material Mármore
Medidas 98 x 59 x 50 cm
Descrição: Pedestal de forma prismática retangular. O
mármore apresenta um tom de cinza frizado.

B. Inscrição
G(aio) · Allio · / Quadrato / quaestori / VIII vir(o) / G(aius) · Allius Syria/cus · pater et Al/lia ·
Serani f(ilia) / Maxuma · ma/ter f(aciendum) c(uraverunt)
Interpretação510:
A Gaio Allo Quadrato, 8 vezes questor, duunviro. Caio Allio Syriaco, pai, e Allia, filha de Serano,
Máxima, mãe, mandaram fazer.
C. Comentário Histórico
-

Datação: Meados do Século I d. C.


D. Referências Bibliográficas
CIL II 724; EE IX 119; IMBA 2.
Catálogo Online: HEpOnl 21702

510
Nossa interpretação.
487

Palavra-Chave: dedicatória
Nº de Registro: 028
imperial
A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada em Argomil, Pomares, Pinhel,
Guarda, Portugal.
Paradeiro Atual Igreja de Argomil.
Nº Inventário -
Tipologia Estela
Material Granito
Medidas 164 x 42 x 25,5 cm
Descrição: Estela honorífica de granito, de formato retangular e
em bom estado de conservação, com símbolos geométricos
abaixo do texto.

B. Inscrição

Imp(erator) / Caesar / Divi f(ilius) / Augustu[s] / co(n)s(ul) XI / imp(erator) VIII

Interpretação:
Ao Imperador Augusto (Otavio), filho do Divino.
C. Comentário Histórico
Como indica Perestrelo (2002, p. 77), alguns autores consideraram que se trataria de um terminus
augustalis sem a identificação dos povos que delimitava (vide ALARCÃO, 1985), já outros
consideraram uma inscrição comemorativa da construção de uma via que possivelmente passaria na
região (vide VAZ, 1985). Optamos por concordar com o autor e não nos aproximarmos de ambas as
hipóteses em virtude da tipologia da inscrição.
Segundo Perestrelo, em relação à tipologia da região, pode-se estar em uma zona de fronteira, quiçá,
desde a época romana. Nesse sentido, destaca que em termos geomorfológicos, a zona parece
corresponder a uma área de vales encaixados junto ao leito das ribeiras e uma região de planaltos
mais ou menos suaves. Por conta das titulaturas registradas, atribui-se a datação do monumento entre
os anos de 23 - 20 a. C.
Datação: Entre os anos 23 e 20 a. C.
D. Referências Bibliográficas
Hispania Epigraphica. Madrid: Universidad Complutense de Madrid. Nº 1, 1989, 682; Perestrelo,
Manuel Sabino G. A romanização na bacia do Côa. Vale do Côa: Ministério da Cultua/ Instituto
Português de Arqueologia, 2002, p. 77; Hispania Epigraphica. Madrid: Universidad Complutense
de Madrid. nº 15, 2006, 502.
Catálogo Online: HEpOnl 22862
488

Subgrupo Temático: Epígrafes Monumentais

Subgrupo Temático: Outros

Palavra-Chave: coletividade
Nº de Registro: 021
municipal, benemerência.
A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada na chamada “Ponte de
Alcántara” em Alcántara, Cáceres,
Extremadura, Espanha.
Paradeiro Não Encontrado
Nº Inventário -
Tipologia Placa
Material Mármore
Medidas Não Encontradas
Descrição: A placa atual é uma reprodução das placas
originais de mármore. O desenho é de Francisco de Holanda
– 1571 (Arquivo Municipal de Lisboa).

B. Inscrição
- - - - - / [Tur]d[e]tani / Lanci{n}enses · Oppidani / ++++++ / [-ca. 7-]nienses / Colarni /
Lanci{n}enses · Tran(s)cudani / Aravi / Meidubricenses [- - - / - - -] / P{r}aesures

Variantes: Municipia / provinciae / Lusitaniae stipe / conlata quae opus / pontis perfecerunt /
Igaeditani / Lancienses Oppidani / Talori / Interannienses / Colarni / Lancienses / Transcudani /
Aravi / Meidubrigenses / Arabrigenses / Banienses / Paesures

Interpretação511:
Os municipios estipendiarios da provincia de Lusitania que contribuíram com a obra da ponte, foram,
os igaeditanos, os lancienses opidanos, os talores, os interannienses, os colarnos, os lancienses
transcudanos, os araves, os medobrigenses, os arabrigenses, os banienses e os paesures.
C. Comentário Histórico
-

Datação: Ano 105 d. C.


D. Referências Bibliográficas
Alarcão, Jorge, "On the civitates mentioned in the inscription on the bridge at Alcántara", Journal of
Iberian Archaeology 0, 1998, pp. 143-157; Liz Guiral, Jesús, “Ciudades y monumentos romanos de
Hispania: El puente de Alcántara”, En el año de Trajano. Hispania. El legado de Roma (La Lonja
- Zaragoza. Septiembre - noviembre de 1998), Zaragoza - Madrid, 1998, pp. 445-448; Mantas, Vasco
Gil, "O espaço urbano nas cidades do norte da Lusitânia". In: A. Rodríguez Colmenero (Cord), Los
orígenes de la ciudad em el Noroeste hispánico (Actas del Congreso Internacional. Lugo 15-18 de
mayo 1996), Lugo, 1998, tomo I, pp. 355-391; Hispania Epigraphica. Madrid: Universidad
Complutense de Madrid. nº 16, 2007, 62.
Catálogo Online: HEpOnl 21738

511
Nossa tradução transcrição: “Los municipios estipendiarios de la provincia de Lusitania que contribuyeron a
la obra del puente, fueron, los igaeditanos, los lancienses opidanos, los talores, los interannienses, loa colarnos,
los lancienses transcudanos, los araves, los medobrigenses, los arabrigenses, los banienses y los paesures”
(HEpOnl 21738).
489

Nº de Registro: 040 Palavra-Chave: tria nomina, tabula de rendição.


A. Localização e Dados Gerais Imagem
Procedência Encontrada no Castro de
Villavieja, Alcântara, Cáceres,
Extremadura, Espanha.
Paradeiro MC – Cáceres/Es
Nº Inventário -
Tipologia Placa
Material Bronze
Medidas 21,5 x (19,3) x 4 cm
Descrição: Tábula (?) em bronze, rompida na
margem direita. Encontra-se em ótimo estado de
conservação, com exceção da pequena mutilação
mencionada.
B. Inscrição

C(aio) Mario Flavio [co(n)s(ulibus)] / L(ucio) Caesio C(ai) f(ilio) imperatore populus Seanoc[- - -
se] / dedit L(ucius) Caesius C(ai) f(ilius) imperator postquam [eos in deditionem] / accepit ad
consilium retolit quid eis im[perandum] / censerent de consili(i) sententia imperav[it ut omnes] /
captivos equos equas quas cepis(s)ent [traderent haec] / omnis dederunt deinde eos L(ucius) Caesius
C(ai) [f(ilius) imperator liberos] / esse iussit agros et aedificia leges cete[ra omnia] / quae sua
fuissent pridie quam se dedid[erunt quae tum] / extarent eis redidit dum populus [senatusque] /
Roomanus(!) vellet deque ea re eos [qui aderunt - - -] / eire iussit legatos Cren[us? - - -] / Arco
Cantoni f(ilius) legates

Interpretação512:
No consulado de Caio Mario e Caio Flavio. A Lucio Cesio, filho de Caio, imperator, se rendeu o
povo dos Seano(cos?). Lucio Cesio, filho de Caio, imperator, depois que aceitou, perguntou ao
conselho o que considerava adequado pedir-lhes. A partir do parecer do Conselho, exigiu-se-lhes os
prisioneiros, os cavalos e as éguas que possuíam. Entregaram-no tudo. Depois, Lucio Cesio, filho de
Caio determinou que ficassem como estavam os campos e as construções, as leis e as demais coisas
que possuíam até o dia da rendição foram-lhes devolvidas para que seguissem em uso enquanto o
povo romano quisesse. E em relação a este assunto, ordenaram-lhes os legados que foram (...?)
Cren(o, filho de...?) e Arcão, filho de Cantono, (atuaram como) legados.
C. Comentário Histórico

512
Nossa tradução da transcrição: “En el consulado de Cayo Mario y Cayo Flavio. A Lucio Cesio, hijo de Cayo,
imperator, se rindió el pueblo de los Seano(cos?). Lucio Cesio, hijo de Cayo, imperator, después que hubo
aceptado preguntó al consejo lo que consideraba adecuado exigirles. A partir del dictamen del consejo, exigió los
prisioneros, los caballos y las yeguas que hubieran cogido. Lo entregaron todo. Después Lucio Cesio, hijo de
Cayo, determino que quedaran como estaban los campos y las construcciones; las leyes y las demás cosas que
hubieran tenido hasta el día de la rendición se las devolvió para que siguieran en uso mientras el pueblo romano
quisiera. Y en relación con este asunto les ordenó a los legados que fueran (...?) Cren(o, hijo de...?) y Arcón, hijo
de Cantono, (actuaron como) legados” (Hep 15, 2006, 91).
490

De acordo com G. Freyburger (FREYBURGER, G. 2005, 167-176 apud Hep 15, 2006, 91) trata-se
do procedimento da deditio, isto é, do ato de rendição de um povo a Roma, colocando-se baixo a sua
leal proteção. Muito embora haja um debate a respeito do nível de severidade entre a deditio e a
dedition infidem, o autor concorda com os autores que compreendem que as duas expressões fazem
referência a uma mesma realidade. Em ambos os casos, o dediticius se apresenta como suplicante,
entregando sua pessoa e bens e aceita, sem condições, as disposições promulgadas pelo vencedor,
que, por sua vez, deve perdoar a vida do submetido e assegurar sua integridade e proteção.

Para o autor, a inscrição de Alcântara exemplifica o processo de dediticio em geral e a equivalência


entre as duas fórmulas: os Seanoci realizam uma deditio de si mesmos e de seus bens que é aceita
pelo general, quem depois se dirige ao seu consilium para que este estipule as exigências precisas (o
ato de entrega de armas, reféns, etc). Não obstante, uma vez executadas tais condições, o general
devolve aos Seanoci sua liberdade, suas terras ou suas leis, sempre que tais disposições sejam
aprovadas pelo senado e pelo povo romano. Nesta perspectiva, parece claro que não há diferenças
entre a deditio, supostamente mais severa, e a deditio in fidem, porque, se bem os Seanoci ficam a
disposição de Roma, os preceitos que lhes são impostos são benignos, apesar de não haver uma
menção direta à fides. A distinção entre deditio e deditio in fidem fora traçada, em boa medida, em
função de vários textos de Tito Livio. Todavia, um detalhado estudo das passagens do historiador a
respeito das deditiones de Collatia (I, 38, 1-2), dos Gauleses invasores (XXXIX, 54), ou dos
Samnitas (VIII, 1, 10) demonstram notáveis semelhanças entre estas e o documentado na inscrição de
Alcântara. Assim sendo, as variações formularias da obra de Lívio a respeito das deditiones devem-
se exclusivamente aos aspectos retóricos inerentes ao gênero historiográfico.

Datação: Ano 104 d. C.


D. Referências Bibliográficas
López Melero, R. et all., “El Bronce de Alcántara”, Gerión, 2, 1984, 265-323; J. Richardson,
Hispaniae, Cambridge, 1986, 199-201; CASTILLO, C., “Miscelanea epigráfica Hispano-romana”
SDHI 52, 1986, pp. 353-94; Hispania Epigraphica. Madrid: Universidad Complutense de Madrid.
nº 2, 1990, 191; Hispania Epigraphica. Madrid: Universidad Complutense de Madrid. nº3, 1993,
113; L.A. García Moreno, “Reflexiones de un historiador sobre el Bronce de Alcántara”. In:
Memorias del Seminario de Hª Antigua I, Universidad de Alcalá,1987; M. Almagro Gorbea y A.
Martín Bravo. Castros y Oppida en Extremadura. S/L: Editorial Complutense, extra nº 4, 1994;
Ana Mª Martín Bravo, “Los Orígenes de Lusitania, Real Academia de la Historia”, BAH-2, Madrid,
1999; Hispania Epigraphica. Madrid: Universidad Complutense de Madrid. nº15, 2006, 91.

Catálogo Online: HEpOnl 22832


491

Palavra-Chave: coletividade
Nº de Registro: 293
municipal
A. Localização e Dados Gerais
Procedência Encontrado em Ansião, Leiria, Portugal.
Paradeiro Não Encontrado
Nº Inventário -
Tipologia Bloco
Material Calcário S/F
Medidas 24,5 x 56 cm
Descrição: Bloco paralelepipédico em calcário branco, um
pouco danificado.
B. Inscrição
Ve(ctigale) r(ei) p(ublicae) m(unicipii) vicini
Interpretação513:
Imposto da republica do município vizinho.
C. Comentário Histórico
De acordo com A.J. Nunes Monteiro e J. d'Encarnação, a epígrafe atesta a preocupação das entidades
locais em definir corretamente os territórios de seus tributários.
Os autores acrescentam ainda que o lugar do achado confirma a hipótese de que a linha divisória
entre os territórios de Sellium e Conimbriga passaria pelo pico das colinas que se orientam de leste a
oeste, ao sul da Junqueira. É atribuída a possível datação em início do século III, muito embora a
formatação da letra P mais aberta, também levaria ao século I d. C.
Datação: Início do século III d. C.
D. Referências Bibliográficas
Nunes Monteiro, A. J. & Encarnação, J. d’. Conimbriga 32-33, 1993-1994, 303-311, fotos 1 e 2;
Hispania Epigraphica. Madrid: Universidad Complutense de Madrid. nº5, 1995, 1032.
Catálogo Online: HEpOnl 23176

513
Nossa interpretação.

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