HISTÓRIA AULA 08 e 09

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HISTÓRIA AULA 08 e 09/ PRIMEIRO ANO/

CONTEÚDO: PRÉ-HISTÓRIA

Higiene antiga: banheiros dos deuses

Dizem que a marca de qualquer civilização avançada é a qualidade de seus encanamentos e sistemas sanitários.
Banheiros e latrinas são conveniências importantes. Encanamentos e sistemas sanitários são fruto da ciência da irrigação,
algo desenvolvido há 25 mil anos, pelo menos. Há cerca de 3 mil anos, os antigos persas descobriram um método para
escavar aquedutos subterrâneos que levavam água da base das montanhas para suas planícies áridas. Ainda existentes e
funcionais, os sistemas de irrigação proporcionam 75% da água usada hoje no Irã. (Scientific American, abril de 1968).
Durante séculos, as condições sanitárias da Europa foram deploráveis. O tratamento descuidado dos dejetos humanos
sustentou as horríveis pestes que quase dizimaram o continente em diversas ocasiões. No entanto, há mais de 5 mil anos, no
Vale do rio Tigre, perto de Bagdá, a cidade de Tel Asmar tinha casas e templos com sofisticados dispositivos sanitários. Um
dos templos encontrados em escavações tinha seis latrinas e cinco banheiros, com a maior parte da canalização “ligada a
drenos que descarregavam em um esgoto central, com um metro de altura e 50 de comprimento [...] Ao identificarem o
dreno, os pesquisadores encontraram uma linha de canos de cerâmica. Uma das extremidades de cada seção tinha cerca de
20 centímetros de diâmetro, enquanto a outra se estreitava para 18, para que os canos pudessem se encaixar, como se faz
com canos de drenagem no século XX” {ScienƟfic American, julho de 1935). O homem antigo fazia túneis através de
montanhas para fins de irrigação, e às vezes construía represas gigantescas ou realizava outros grandes feitos de engenharia
hidráulica. A grande represa construída pela rainha de Sabá em Marib, no Iêmen, é um bom exemplo. Imensas obras
hidráulicas do homem anƟgo, até então desconhecidas, estão vindo à tona. A. D. Fernanado, arqueólogo do Sri Lanka, relata
em um arƟgo no Journal of the Sri Lanka Branch of the Royal AsiaƟc Society (1982) as incríveis descobertas feitas quando
engenheiros do Sri Lanka propuseram-se a construir uma represa em Maduru Oya, alagando um grande vale. Quando os
tratores começaram a trabalhar, encontraram Ɵjolos que já estavam no solo. Para espanto de todos, os engenheiros
préhistóricos Ɵnham feito os mesmos cálculos e construíram uma represa no mesmo lugar! Arqueólogos noruegueses que
visitaram o local afirmaram que a grandiosidade dessas obras megalíƟcas pré-históricas teria impressionado um faraó. Thor
Heyerdahl diz que boa parte do sistema hidráulico foi construída com blocos de pedra de 15 toneladas e 10 metros de altura,
dispostos na forma de túneis e muros quadrados. As represas Ɵnham canais de drenagem com mais de 10 quilômetros de
comprimento para controlar o fluxo de água até um conjunto de lagos arƟficiais. Milhões de toneladas de água foram
canalizadas por meio dessa imensa e sofisticada represa. Há cem anos, os historiadores supunham que, como as tribos
nômades não Ɵnham banheiros ou sistemas de esgotos formais, todos os outros povos deviam viver da mesma maneira. As
tribos nômades costumavam desmontar as tendas e se mudar para outro local quando o lixo e o esgoto ficavam
insuportáveis. No entanto, é muito mais diİcil fazer isso com uma cidade. Os primeiros arqueólogos ingleses imaginavam que
o homem anƟgo não dispunha de sofisƟcados sistemas de esgoto e águas, e que apenas deixavam a água das chuvas levar o
esgoto para algum rio ou córrego das imediações. Entretanto, muitos dos banheiros do mundo anƟgo eram bastante
sofisƟcados, com belos vasos sanitários e banheiras, tal como hoje. Reginald Reynolds, em seu espirituoso livro sobre
sistemas sanitários anƟgos, Cleanliness and godliness, alega que os anƟgos sabiam que era necessário dispor dos dejetos,
mas Ɵnham dois sistemas niƟdamente separados: O senhor Ernest Mackay, eminente arqueólogo, é de opinião que esses
drenos não eram usados para a eliminação do esgoto, e como prova disso ele menciona o CharakaSamhita, obra
presumidamente datada do segundo século da Era Cristã, na qual se diz que as latrinas se desƟnavam apenas aos doentes e
enfermos; para os demais, era preciso se afastar de casa a uma distância de uma flechada para fazer suas necessidades [...]
Às vezes as águas escorriam pelas paredes das casas, fato que seria nocivo caso conƟvessem dejetos. Mas ele esquece que a
proposição contrária teria sido, em uma cidade, ainda mais nociva do que uma fossa aberta; e como havia tanto descargas
como drenos fechados nessas casas, seria mais razoável supor que esses dois sistemas Ɵnham propósitos disƟntos, sendo
um para levar a água das chuvas e dos banhos, e o outro para eliminar dejetos. Isso, pelo menos, não é quesƟonado com
relação aos moradores da Montanha dos Mortos [Mohenjo-Daro, no Paquistão], que dispunham de banheiros bem
equipados, conjugados ao sistema de drenagem que mencionei [...] como parte da Vanguarda Sanitária da Humanidade. Sir
G. Maspero, que foi diretor-geral do Departamento de AnƟgüidades do Egito, falava muito bem dos excelentes disposiƟvos
higiênicos e sanitários conhecidos no anƟgo Egito, especialmente do complexo banheiro descoberto na casa de um
funcionário de alto escalão da 18ª dinasƟa. E comenta também que, no meio das ruas pavimentadas, eles faziam um canal
de pedra para coleta de águas. E nesse mesmo banheiro de Tel elAmarna foi descoberto um vaso sanitário muito bem
preservado e ocultado por um biombo, um vaso dotado de tampa de calcário de formas elegantes. Heródoto considerava os
egípcios o povo mais saudável de todos, disƟnguindo-os dos demais pela singularidade de suas insƟtuições e de seus modos.
Reynolds nos diz que “os egípcios - como os pitagóricos, que os imitavam - também evitavam comer feijão, produto que
consideravam impuro, por moƟvos que não sei explicar muito bem; embora alguns digam que, nesse aspecto, Pitágoras foi
mal compreendido por Aristóteles”. As pessoas já evitavam feijão há cinco mil anos. Quanto aos vasos sanitários, Reynolds
diz que os egípcios preferiam os “granulados”: [Eles] geralmente usavam terra no lugar de água, mas ainda não sei se somos
mais espertos do que os faraós; pois a higiene sanitária não deve ser confundida com qualquer conceito popular ou sistema
corrente, mas deve ser analisada com relação à melhor e mais eficiente forma de eliminação dos dejetos, à redução das
doenças e causas de infecção, à ferƟlidade do solo e muitas outras questões, como o clima e os meios à disposição do
homem. Mas sabemos, graças a essas observações gerais, que os sacerdotes-médicos que orientavam a saúde pública do
Egito consideravam a limpeza algo próximo da divindade, e preocupavam-se em manter saudáveis pelo menos os bairros de
classe alta de suas cidades. Os egípcios conheciam inclusive a arte de confeccionar drenos em cobre martelado, e um desses
foi encontrado, com 411 metros de comprimento, no Templo de Sahara, embora servisse apenas para a coleta de água
pluvial. E sabemos que o fornecimento de água era considerado um problema relevante, chamando a atenção de um
funcionário graduado do Estado, conforme se lê em inscrição que trata dos deveres do vizir da 18ª dinasƟa. Nessa inscrição,
diz-se do vizir: “Será ele quem despachará a equipe oficial para cuidar do fornecimento de água para toda a Terra”; e “Será
ele quem inspecionará o fornecimento de água no primeiro dia de cada período de dez dias”. Em seu boleƟm Science
FronƟers (no 123, maio-junho de 1999), William Corliss conta que os anƟgos egípcios não apenas dispunham de avançados
toaletes e banheiros, como também usavam cosméƟcos em abundância. As mulheres das classes altas, bem como muitos
homens, preferiam maquiagem verde, branca e preta. Esses pós-cosméƟcos, datados de 2.000 a.C., foram excepcionalmente
bem preservados em seus frascos originais de alabastro, de madeira ou de cerâmica. Uma equipe de químicos franceses
liderada por P. Walter não se surpreendeu quando a análise desses pós detectou galena e cerussita moídas (dois minérios de
chumbo). Contudo, eles quase derrubaram seus tubos de ensaio quando encontraram compostos químicos extremamente
raros na natureza, especialmente laurionita (PbOHCI) e fosgenita (Pb2CI2CO3). Na verdade, esses compostos são tão raros
na natureza que os pós egípcios devem ser arƟficiais. P. Walter et. al. escreveram: “Juntos, esses resultados indicam que a
laurionita e a fosgenita devem ter sido sinteƟzadas no anƟgo Egito por meio de química úmida. Os egípcios fabricavam
compostos arƟficiais à base de chumbo, adicionando-os a produtos cosméƟcos. As reações químicas envolvidas são simples,
mas o processo como um todo, incluindo diversas operações repetitivas, deve ter sido bastante complicado de se executar”.
AdmiƟu-se anteriormente que, 500 anos antes, em 2.500 a.C., os químicos egípcios usavam tecnologia à base de fogo para
fabricar pigmento azul. A química úmida representou outro passo tecnológico para a frente (Nature, no 397,1999). Corliss
comenta que “sem se deixarem inƟmidar pelos sucessos dos anƟgos químicos egípcios, os químicos da Nissan sinteƟzaram
excrementos arƟficiais de ave para uso em testes de pintura automoƟva. Como se sabe, o produto natural apresenta
inconsistências de lote para lote”. Banheiros de qualidade precisam de bons sabonetes, e a própria palavra sabonete - soap,
em inglês - vem da anƟga palavra egípcia swab. Em 1931, o doutor Rendei Harris, egiptólogo inglês, afirmou que as palavras
swab e swabber - “grumete”, “pessoa que usa esfregão” - derivam da língua egípcia e são muito anƟgas. Diz ele que wdb,
para os anƟgos egípcios, significava “puro”, e dessa palavra deriva o nome dos wahabis que são os atuais puritanos do Islã.
Além disso, ele afirma que a letra S expressa causa, de modo que ankh, palavra que significa “vida”, transforma-se, com a
adição de S, em S-ankh, “dar a vida”. A partir daí ele conclui que, se wdb é puro, S-wdb seria “tornar puro”, ou seja, limpar ou
esfregar (swab). E como o doutor Harris acreditava que os egípcios eram um povo de bons navegadores, ele afirmava que a
palavra swab chegou à língua inglesa graças às viagens dos marinheiros, cuja gíria pode ser, em parte, mais anƟga do que as
línguas hoje faladas na Europa. Para comprovar o uso náuƟco da palavra, ele invoca Shakespeare, que escreveu: The master,
the swabber, the boatswain and I... {1} A habilidade náuƟca dos egípcios era considerável, e não se discute que eles Ɵnham
grandes frotas de navios. Aparentemente, esfregar (swabhing) o convés vem do egípcio antigo, e a palavra inglesa soap
deriva de swab - “aquilo que torna limpo”. Higiene adequada, água limpa, sabonetes e sistemas de esgotos são necessários
para o progresso de qualquer civilização tecnológica. Quando se trata da tecnologia dos deuses, a limpeza se aproxima da
divindade. MRESPONDER:

1- Por que a marca de qualquer civilização avançada é a qualidade de seus encanamentos e sistemas sanitários de uma
civilização.?
2- Que complicações o Período Neolítico trouxe para a qualidade de vida humana segundo as ideias apontadas no
texto?
3- De acordo com o texto, qual a importância da genética para o estudo da Pré-história?

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