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Segurança de barragens

Bianca Penteado de Almeida Tonus


UNIDADE IV

Gestão de riscos e
planos de emergência
GESTÃO DE RISCOS E PLANOS DE EMERGÊNCIA
Unidade 4

1. Gestão de riscos
Segundo a ANA (2011) ao se tratar de riscos em barragens, trata-se de um risco
tecnológico, usualmente definido como as consequências esperadas associadas à
ocorrência de um evento adverso. Em linguagem matemática risco é:
Risco = Probabilidade x Consequência
Ou ainda:
Risco = P(evento) x P(reação adversa para dado evento) x Consequência do
evento
A análise de risco está presente nas atividades cotidianas, por exemplo, se você vai
atravessar a rua:
• O que pode dar errado (evento)? – pode não dar tempo para você atravessar a
rua e você pode ser atingido por um veículo
• Quanto isso é provável (probabilidade do evento)? – você verifica se há grande
movimento de veículos na via e se há algum se aproximando
• Que perdas isto causará (consequências)? – você pode ser atropelado e isto
custar a sua saúde ou, até mesmo, a sua vida
Com base nestes três elementos: evento, probabilidade e consequências, tomam-
se decisões, estabelecem-se controles e, até mesmo, delineiam-se planos de
contingência para a ameaça.
Seguindo no exemplo, após a avaliação do risco de atravessar a rua, toma-se uma
decisão:
• Aceitar o risco, atravessando a rua imediatamente.
• Minimizar o risco, atravessando a rua quando não houver nenhum veículo
próximo.
• Eliminar o risco, apenas atravessando a rua na faixa para pedestres quando o
sinal de pedestres estiver verde e todos os veículos parados.
Nesse exemplo, a possibilidade de correr caso um veículo se aproximasse
rapidamente, seria o plano de contingência.
Estes elementos são as bases do Gerenciamento de Riscos em Projetos,
conforme pode ser visto na Figura 1.
Figura 1 – Gerenciamento de riscos em projetos
FONTE: ANA (2011)

A segurança deve constituir o objetivo fundamental no projeto, construção e


operação de barragens. Este deve ser o referencial a ser buscado, uma vez que a
ruptura de uma barragem pode ter consequências imensuráveis em termos de impactos
socioeconômicos e ambientais.
Biedermann (1997) apud ANA (2011) considera que a segurança de barragens pode
ser obtida apoiando-se em três pilares básicos: segurança estrutural (projeto,
construção e manutenção adequados), monitoramento e gestão de emergência, como
apresentado na Figura 2.

Figura 2 – Pilares básicos da segurança de barragens


FONTE: ANA (2011)
Nas fases de projeto e construção, devem ser feitos investimentos de forma que os
riscos associados a cada estrutura civil sejam minimizados. Entretanto, sabe-se que
alguns riscos são inerentes à construção de uma barragem, como transbordamento por
falha na operação dos extravasores ou envelhecimento dos materiais de construção.
Assim, mesmo sendo o projeto e construção adequados, existe um risco
remanescente a ser controlado através de um processo de acompanhamento e
avaliação permanentes do desempenho das estruturas. Este processo é usualmente
denominado de auscultação de barragens, e engloba as atividades de observação,
detecção e caracterização de eventuais deteriorações que possam aumentar o potencial
de risco de uma estrutura (Fonseca, 2003).
O objetivo final da auscultação é fornecer elementos para as avaliações do
comportamento de barragens e indicar a necessidade de reparos para o
restabelecimento das condições de segurança desejadas ou mesmo a necessidade de
adoção de medidas emergenciais.
A gestão da segurança de barragens é uma questão de controle de riscos e tomada
de decisões sob condições de incertezas. As incertezas são intrínsecas aos processos
de engenharia e, não as reconhecer explicitamente reflete na confiabilidade dos
resultados obtidos. Abaixo são citados os diferentes tipos de incertezas na gestão de
riscos de barragens:
• Incertezas de fatores naturais ou ambientais
• Incertezas de fatores internos (dependentes da barragem)
• Incertezas de fatores socioeconômicos
Os riscos devido aos fatores naturais podem derivar de risco hidrológico,
sismicidade, escorregamento em reservatórios e ações agressivas.
Os riscos devido aos fatores dependentes da barragem podem ser riscos na
operação do reservatório, riscos geológicos, riscos estruturais, riscos associados ao
monitoramento, riscos técnico-organizacionais, riscos associados a gestão de
emergências e riscos de ruptura de barragens em cascata.
Quanto aos fatores sócio-econômicos, o risco está associado ao aumento da
população no vale a jusante.
Para o conhecimento de todos os riscos envolvidos e seu controle, estabelecem-se
as etapas definidas na Figura 3.
Figura 3 - Etapas do processo de gestão de riscos em barragens
FONTE: ANA (2011)

Uma análise de riscos pode ser realizada de forma qualitativa, semi-quantitativa ou


quantitativa. Na análise qualitativa, as probabilidades e consequências são descritas por
palavras. Na análise semi-quantitativa, associam-se valores numéricos a essas
descrições. Na análise quantitativa, todas as quantificações são numéricas.
No entanto, métodos de análise quantitativa de riscos são relativamente complexos.
Portanto, os métodos mais usuais de análise de risco são qualitativos ou semi-
quantitativos, sendo os métodos de índices, associados ou não a matrizes de riscos.
As seguintes referências: Risk Based Profiling System (USBR, 2001), The global risk
index (ICOLD, 1982) e Lafitte index (Lafitte, 1996) trazem exemplos de métodos de
análise de risco utilizados em barragens.
The global risk index (ICOLD, 1982) é um método de utilização simples e permite
uma visão macro dos riscos associados a um portfólio de barragens. Motivos pelos quais
é o proposto e que vem sendo regulamentado para atendimento à Lei 12.334/2010, que
estabelece a Política Nacional de Segurança de Barragens. Seus índices são
apresentados na Figura 4.
Figura 4 - Tabela de Índices do GRI
FONTE: ANA (2011)

A Gestão de riscos na Lei 12.334/2010 é citada com a utilização do método de


análise de risco por índices ou matrizes de classificação e tem seus critérios
regulamentados pelo CNRH por meio da Resolução nº 143, conforme visto na Unidade
3. A Figura 5 apresenta quais são os índices considerados.

Figura 5 - Critérios para classificação de barragens segundo a Lei 12.334/2010


FONTE: ANA (2011)

Pela lei:
Risco = Categoria de risco x Categoria de dano potencial associado
Risco = (CT + EC + PS) x DPA

2. Planos de ações de emergência


O objetivo de um plano de ação emergencial (PAE) é estabelecer procedimentos
para contornar situações de risco com a barragem.
Existem diferentes níveis de risco, como por exemplo:
1) A situação pode ser controlada com medidas operacionais, como o
rebaixamento do nível do reservatório.
2) O controle da situação é incerto, o nível de água deve ser abaixado, e o
sistema de alarme deve ser preparado. É necessária observação permanente da área
da barragem.
3) Iminência da ruptura da barragem, evacuação da população nas zonas
potenciais de risco à jusante, acionamento de alarme.
São medidas importantes no PAE:
• Planejamento: determinar a área de inundação em caso de ruptura da barragem
• Equipamento: instalação de dispositivos de alerta (sirenes)
• Organização: o responsável pela segurança da barragem deve analisar o risco
e acionar o alarme. Deve haver atuação íntima com a defesa civil e outros órgãos
da segurança pública
Recomenda-se separar os planos de ações de emergência em Interno (Barragem)
e Externo (Vale):
• Interno – Plano de Ações Emergenciais de Barragens (PAE) – Detecção,
Tomada de decisão e Notificação
• Externo – Plano de Emergência Externo (PEE) – Alertas e Evacuação
Sob responsabilidade do operador e do proprietário estão: detecção, tomada de
decisão e notificação. Sob responsabilidade das autoridades de proteção da população
estão os processos de: alerta, alarme e evacuação.
Segundo a lei 12.334 (2010):
Art. 12. O PAE estabelecerá as ações a serem executadas pelo empreendedor
da barragem em caso de situação de emergência, bem como identificará os
agentes a serem notificados dessa ocorrência, devendo contemplar pelo menos:
I – identificação e análise das possíveis situações de emergência;
II – procedimentos para identificação e notificação de mau funcionamento ou
condições potenciais de ruptura da barragem;
III – procedimentos preventivos e corretivos a serem adotados em situações de
emergência, com indicação do responsável pela ação;
IV – estratégia e meio de divulgação e alerta para as comunidades
potencialmente afetadas em situação de emergência.
Parágrafo único. O PAE deve estar disponível no empreendimento e nas
prefeituras envolvidas, bem como ser encaminhado às autoridades competentes
e aos organismos de defesa civil.
O plano de ação de emergência (PAE) deve estar implementado antes do primeiro
enchimento da barragem, quando ela sofre sua primeira grande solicitação, sendo
efetivamente testada. Ele deve ser testado e atualizado periodicamente, garantindo sua
eficiência nas diferentes fases da vida da barragem e quando for necessária sua
colocação em prática.
O treinamento do pessoal envolvido na supervisão da segurança e operação das
barragens é peça “chave” no processo de atenuação de risco. Os envolvidos na
operação e manutenção da barragem se deparam com questões como essas:
– Que evento ou deterioração pode ameaçar a segurança da barragem?
– Se houve uma ocorrência excepcional, como avalio a gravidade?
– O que fazer? Agir imediatamente, aguardar instruções, fugir?
– Quem e como avisar/notificar/alertar?
– Como lidar com o problema? Como devo agir?
– Consigo agir sozinho ou devo contactar outras empresas/pessoas?
– Quais áreas estão ameaçadas e quais são seguras?
O PAE deve conter informações e recomendações para responder a todas essas
questões através de procedimentos para as fases de uma emergência deflagrada a
partir da detecção de uma situação anormal ou de insegurança.
Seu objetivo é evitar ou minimizar o possível acidente e os danos provenientes dele
através de medidas tecnicamente adequadas e ágeis.
O conteúdo mínimo que o PAE deve apresentar é listado a seguir:
– Detecção, avaliação e classificação da emergência
– Preparação (procedimentos de resposta, sistemas de comunicação,
recursos necessários)
– Responsabilidades
– Procedimentos de notificação
– Mapas de inundação
– Documentos para desenvolvimento e manutenção do plano
Os mapas de inundação são extremamente importantes para a definição da área de
jusante que pode ser atingida por um eventual acidente, bem como a velocidade e
volume do material expelido.
A definição dos níveis de água a jusante também é de interesse para o planejamento
da Defesa Civil. Quando a cheia que está sendo propagada no trecho a jusante da
barragem pode ameaçar as comunidades, a Defesa Civil deve ser notificada pelo
responsável pelo PAE. Esses níveis de água podem ser vistos na Figura 6.

Figura 6 - Níveis de água de interesse para o planejamento da Defesa Civil


FONTE: ANA (2011)
A detecção de possíveis situações de emergência pode se dar através de inspeções
visuais, instrumentação de auscultação das estruturas civis, sistemas de monitoramento
de eventos naturais (cheias e sismos, por exemplo), equipes treinadas para identificar
situações de risco e definição de níveis de segurança (alerta/emergência).
A seguir são listadas algumas orientações para o êxito do PAE:
1. Formação com antecedência de uma comissão de emergência com
especialistas em:
– GEOTECNIA
– ESTRUTURAS
– TOPOGRAFIA
– ELETRÔNICA/ELETROTÉCNICA
– HIDROLOGIA
– MECÂNICA
2. Funcionários das barragens devem possuir procedimentos simples e serem
treinados para operar em situações de emergência
3. Deve-se realizar análises prévias das:
– CONDIÇÕES DE ACESSO APÓS GRANDES CHEIAS
– POSSIBILIDADE DE PERDA DE COMUNICAÇÃO COM O CENTRO DE
OPERAÇÃO
4. Inspeções periódicas dos reservatórios e trechos do vale a jusante, objetivando
detectar restrições operacionais
5. Devem ser estabelecidos procedimentos formais para a divulgação de alertas,
avisos e contatos com o público. Tais medidas devem ser implantadas junto com:
DEFESA CIVIL, PREFEITURAS, CORPO DE BOMBEIROS, EXÉRCITO,
MARINHA, AERONÁUTICA, ENTIDADES PRIVADAS - ONG’s.
6. Consciência da população da necessidade das barragens, pois quanto mais
cresce a população maior é a necessidade de água, de energia, de
beneficiamento de minérios, etc. Além da preparação da população residente na
área de risco.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
• ANA. Curso Segurança de Barragens 2011. MÓDULO III: GESTÃO E
DESEMPENHO DE BARRAGENS. UNIDADE 1: ANÁLISE E GESTÃO DE
RISCOS. Brasília, 2011.

• ANA. Curso Segurança de Barragens 2011. MÓDULO III: GESTÃO E


DESEMPENHO DE BARRAGENS. UNIDADE 2: PLANOS DE AÇÕES DE
EMERGÊNCIA. Brasília, 2011.
• FONSECA, A.R. Auscultação por Instrumentação de Barragens de Terra e
Enrocamento para Geração de Energia Elétrica – Estudo de Caso das
Barragens da UHE São Simão. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal
de Ouro Preto, 2003.

• SILVEIRA, J. F. A. Curso instrumentação e segurança de barragens. SBB


Engenharia, 2012.

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