MEDITAÇÃO DIÁRIA
TEXTO BÁSICO: “Que tendes vós, vós que dizeis esta parábola acerca da terra de Israel, dizendo:
Os pais comeram uvas verdes, a os dentes dos filhos se embotaram? Vivo eu, diz o Senhor Jeová,
que nunca mais direis este provérbio em Israel” (Ez 18:2 a 3).
INTRODUÇÃO
Alguns acreditam a ensinam que os cristãos podem estar sujeitos à maldição de seus
ancestrais. Existem livros e seminários que se prestam ao ensino de como quebrar as cadeias da
maldição hereditária. Eles se baseiam principalmente em Êxodo 20:5 e Deuteronômio 5:9. Aliás,
por causa de uma má interpretação destes textos, surgiu um ditado que se tornou muito popular em
Israel "Os pais comeram uvas verdes, a os dentes dos filhos é que se embotaram”.Vemos esta idéia
em Lamentações 5:7: “Nossos pais pecaram, e já não existem; nós é que levamos o castigo das suas
iniqüidade”.
Bem, Jeremias já havia previsto um dia em que este provérbio não mais seria proferido:
“Naqueles dias já não dirão: Os pais comeram uvas verdes, a os dentes dos filhos é que se
embotaram” (Jr 31:29). E Ezequiel afirma que este dia já chegara: "Que tendes vós, vós que, acerca
de Israel, proferis este provérbio, dizendo: os pais comeram uvas verdes, a os dentes dos filhos é
que embotaram? Tão certo como Eu vivo, diz o Senhor Deus, jamais direis este provérbio em
Israel” (Ez 18:2 e 3).
Para uma compreensão melhor desta passagem é aconselhável o estudo de todo capítulo
18 de Ezequiel. Ambos os profetas eram contra esta perniciosa doutrina, que descambava em
irresponsabilidade e fatalismo, pois é muito conveniente para alguns desviar a culpa de si mesmos e
transferi-la para gerações anteriores, ou então, culpar o destino a as forças ocultas por nossos
fracassos, pecados, vícios e misérias; chegando ao ponto de acusar o próprio Deus de injustiça,
como visto em Ezequiel 18:25: "No entanto dizeis: o caminho do Senhor não é direito...” Em
outras palavras, Ezequiel nos ensina que, em vez de voltarmos nossos olhos para trás em busca de
resposta para os infortúnios do presente, em vez de culparmos nossos antepassados, ou os
demônios, ou o destino, deveríamos olhar para nós mesmos, pedindo a Deus que venha sondar os
nossos corações, vendo se há em nós caminho mal, guiando-nos pelos seus santos caminhos (Sl
139). O pecado, sim, é que traz maldição: "... pois aquilo que o homem semear, isso também
ceifará”(Gl 6:7). Sabemos também que "a maldição sem causa não se cumpre” (Pv 26:2); E na
Bíblia também temos registrado: "Amou a maldição: ela o apanhe; não quis a bênção: aparte-se
dele” (Sl 109.17); Outro texto bastante elucidador é o que diz: "Eis que hoje eu ponho diante de vós
a bênção e a maldição” (Dt 11:26). Repare aí que bênção e maldição estão diante e não atrás das
pessoas, dependendo da conduta de cada um.
INFLUÊNCIA PAGÃ
Religiões pagãs como feitiçaria e macumba sempre atribuíram poderes extraordinários
aos pronunciamentos de bênção e maldição. Para eles, uma vez proferida uma maldição, ela passa a
ter vida própria e não sossega até se concretizar. E, para se ver livre de tal encanto, um homem
precisaria recorrer a um feitiço ainda maior. Perceba que tudo fica no campo da magia.
Biblicamente falando, o pecado é que traz maldição, pois o pecado separa o homem de
Deus, que é a única fonte de verdadeiras bênçãos. Como bênção é o oposto de maldição, maldição
seria estar distante de Deus que é o Senhor das bênçãos.
Ainda neste sentido, é curioso também notar dois registros paralelos do mesmo fato, um
em 2 Sm 24 e o outro em 1 Cr 21. Na primeira descrição, lemos que foi Deus quem incitou Davi a
levantar o censo. Na segunda, lemos que foi Satanás. Lembrando que Crônicas foi escrito bem
depois do livro de Samuel, o que pode ajudar a explicar o porquê da mudança, pois, entre os
hebreus, o conceito de Satanás foi sendo formado com o tempo através de uma revelação
progressiva, sendo que, a princípio, o que bastava para eles era saber que Deus era soberano.
Jó também diz que Deus é quem dá e quem tira (1.21), quem dá o bem e também o mal
(2.10), e o v. 11 diz que "em tudo isto Jó não ofendeu a Deus com palavras". Em Lm 3, como vimos
acima Jeremias afirma o mesmo. E, em 2 Cr 7.13, é o próprio Deus quem diz: "Quando eu fechar o
céu de modo que não haja chuva, ou quando eu ordenar aos gafanhotos que consumam a terra, ou
quando eu mandar a peste contra o meu povo". Veja que aqui quem manda a praga é Deus. Aí não
dá para "amarrar" ou "declarar" nada. Aí o caminho para a libertação dessa calamidade é a
humilhação de um coração verdadeiramente arrependido que suplica por misericórdia diante de
Deus, como vemos no versículo seguinte: "Se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se
humilhar e orar e se arrepender dos seus maus caminhos, então, eu ouvirei dos céus, perdoarei os
seus pecados e sararei a sua terra" (2Cr 7.14).
A Bíblia está repleta de registros dos juízos de Deus sobre a terra, povos, famílias,
indivíduos e até mesmo sobre os crentes, pois o juízo começa pela casa de Deus (1Pe 4.17). Tais
juízos incluem pragas, enfermidades, destruição e morte. E realmente, não dá para anular tais coisas
com frases do tipo "tá amarrado" ou "eu rejeito", mas é somente através do arrependimento e da
contrição de coração num retorno para Deus (2 Cr 7.14). Notar aqui que a oração de arrependimento
é coletiva e não individual: "Se o meu povo...". O que não significa dizer que não tenha nada a ver
com o indivíduo, mas que Deus está tratando com o povo e não apenas com indivíduos. Vivemos
numa sociedade muito individualista que tende a se esquecer de que estamos enraizados na
sociedade e de que possuímos uma identidade grupal, que nos coloca numa relação de
interdependência. Daniel orou pedindo perdão pelo pecado de seu povo, solidarizando-se com sua
nação: "enquanto estava eu ainda falando e orando, e confessando o meu pecado, e o pecado do
meu povo Israel, e lançando a minha súplica perante a face do Senhor, meu Deus, pelo monte santo
do meu Deus" (Daniel 9:20). Quando algo de ruim nos acontece, devemos esquadrinhar os nossos
caminhos de modo não apenas pessoal, mas também coletivo (Lm 3.40).
O mal pode ser consequência natural dos erros humanos, tanto individual como
coletivo, pois não estamos sós no mundo, pertencemos a raça humana, estamos ligados uns aos
outros por distintos laços e temos responsabilidades sociais, de modo que nossas ações, quer sejam
boas ou más têm alcance e repercussão que vão muito além de nós mesmos. Como seres humanos
partilhamos de muitas coisas em comum, como exemplo, envelhecemos, ficamos doentes e
morremos em consequências do pecado de Adão e Eva, sofremos as consequências de guerra, da
poluição, das injustiças sociais, da violência, etc. Caim mata o Abel e tenta se esquivar da pergunta
de Deus: "Onde está o teu irmão?", respondendo: "sou eu o guardião de meu irmão?". Conclui-se do
texto que Deus nos colocou como guardiões ou responsáveis uns pelos outros. Acã peca e Israel
perde a batalha, pois a ira do Senhor se acendeu contra todo o Israel (Js 7.1) e Deus diz: "Israel
pecou" (Js 7.11) e "... por isso os filhos de Israel não puderam subsistir diante de seus inimigos" (v.
12). Saul peca e não somente ele é afetado, mas todo o Israel, como também toda sua família, pois
seu filho Jônatas morre, seu neto Mefibosete fica aleijado e pobre (2 Sm 4), mas pela virtude de
Jônatas e sua amizade com Davi, Mefibosete acaba sendo grandemente abençoado (2 Sm 9). Não
batalhamos sozinhos, mas uns pelos outros: "Pois quero que saibais quão grande luta tenho por vós,
e pelos que estão em Laodicéia, e por quantos não viram a minha pessoa" (Colossenses 2:1, ver
também o v. 24) e "Saúda-vos Epafras, que é um de vós, servo de Cristo Jesus, e que sempre luta
por vós nas suas orações, para que permaneçais perfeitos e plenamente seguros em toda a vontade
de Deus" (Colossenses 4:12). Jesus também santificava-se para o bem dos discípulos: "E por eles eu
me santifico, para que também eles sejam santificados na verdade" (João 17:19).
Então, precisamos entender melhor a complexidade da causas que podem estar por trás
de uma adversidade, pois a questão não se resume a lógica simplista que diz: "Se é bom, vem de
Deus; se é ruim, vem do diabo". Porque nem toda coisa boa é fruto da "sorte" ou do esforço pessoal
e nem tão pouco toda coisa ruim é oriunda da falta de esforço pessoal, das escolhas erradas ou do
"azar".
Não quero dizer que não exista o elemento de causa ou efeito (Gl 6.7), mas apenas que
isto não explica tudo. Pior ainda quando se pensa em causa e efeito apenas em termos individuais.
O sofrimento não pode ser interpretado apenas como um colheita do que se plantou, pois tem raízes
muito mais profundas que chegam até Adão. O sofrimento pode ser um juízo de Deus sobre o
pecado humano, pode ser algo pedagógico, "porque o Senhor repreende aquele a quem ama, assim
como o pai ao filho a quem quer bem" (Pv 3.12) e pode vir sobre nós para provar a integridade de
nosso amor a Deus como no caso de Jó. Até mesmo quando algum mal não parece ser uma
consequência natural de algum pecado específico que tenhamos cometido, precisamos reconhecer
que, como pecadores que somos, já cometemos pecados que seriam suficientes para nossa
condenação, razão pela qual já estamos no lucro pelo simples fato de ainda estarmos vivos, pois é
pela misericórdia do Senhor que ainda não fomos consumidos (Lm 3.22). Até quando sofremos em
decorrência do erro dos outros e também quando somos perseguidos por fazer o bem, devemos
entender que Deus está usando aquele drama para exercitar nossos espíritos. "Recebemos a graça de
não apenas crermos, mas também de padecermos por Cristo" (Fl 1.29). "Todas as coisas cooperam
para o bem daqueles que amam a Deus" (Rm 8.28). "Mas em todas estas coisas somos mais do que
vencedores por intermédio daquele que nos amou" (Rm 8.37).
Deus se vale do mal para nos enriquecer e aperfeiçoar. Posso até encarar meus
adversários e adversidades como instrumentos de Deus para a minha santificação! O espinho da
carne de Paulo era obra de um mensageiro de Satanás que, consciente ou não, estava promovendo a
humildade e a santidade de Paulo, servindo, assim, aos propósitos divinos ( 2Co 12.7). Neste caso,
nem as 3 orações de Paulo foram suficientes para remover a chaga, pois a resposta de Deus foi: "a
minha graça te basta e o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza", de modo que Paulo passou então a
glorificar e dar graças a Deus por toda aquela adversidade, pois conseguia ver o propósito divino e o
cuidado de Deus por sua alma: "e Ele me disse: A minha graça te basta, porque o meu poder se
aperfeiçoa na fraqueza. Por isso, de boa vontade antes me gloriarei nas minhas fraquezas, a fim de
que repouse sobre mim o poder de Cristo" (2Co 12.9).
Disse Balaão a Balaque: "Como posso amaldiçoar a quem o Senhor não amaldiçoou?"
(Nm 23:8). "Ele abençoou, não o posso revogar... O Senhor seu Deus está com ele... pois contra
Jacó não vale encantamento” (Nm 23:20, 21 a 23). Balaão sabia que não se amaldiçoa o povo de
Deus com feitiços ou rogando pragas, mas, seduzido pelos tesouros do Rei, ensinou Balaão a
Balaque como seria possível realmente atingir o povo de Israel, lançando tropeços e tentações para
que o povo caísse em pecado de modo a se afastar de Deus, sua fonte de bênçãos e proteção
(Apocalipse 2:14; Nm 25:1-18 e Nm 31:8 a 16).
As palavras não possuem tanto poder como querem alguns, conforme concluímos das
seguintes passagens: Tg. 2:15-16 e I Jo 3:18.
Salmo 109:17 "Amaldiçoem eles, mas Tu, abençoa; sejam confundidos os que contra
mim se levantam; alegre-se, porém, o teu servo”.E, em Neemias 13:2, lemos: "Deus converte a
maldição em bênção"; e, além disso, o ímpio não sai impune do seu intento de nos prejudicar:
"amaldiçoarei os que to amaldiçoarem" (Gn 12:3, cf. Cl 2:14-15 a Pv. 3:26, 33).
"Quem está em Cristo, nova criatura é, as coisas velhas já passaram, tudo novo se
tornou”(2 Co 5:17). Não precisamos nos preocupar em desenhar nossa árvore genealógica,
regredindo até a terceira ou quarta geração quebrando as cadeias. Em primeiro lugar, porque pactos
feitos pelos ancestrais não se transmitem automaticamente aos filhos. Favor não confundir
conseqüências dos pecados dos pais com maldição. Pois é óbvio que os pais exercem forte
influência sobre os filhos, ou para o bem ou para o mal. Mas isto não é o mesmo que dizer que os
filhos estejam debaixo de uma maldição, de um feitiço ou sob algum encantamento, que
necessariamente precisa ser quebrado para livrá-los de tal destino. Não devemos nos esquivar de
nossas responsabilidades pessoais. Sabemos também que, quando nos convertemos, o sangue
precioso de Jesus nos purifica de todo o pecado e as coisas velhas ficam para trás de modo que
nenhuma condenação ou maldição há para os que estão em Cristo Jesus (1 Jo 1:7; 2 Co 5.17 e Rm
8.1).
Não é necessário uma sessão de regressão a vida uterina e muito menos à vidas passadas
para experimentarmos o novo nascimento em Cristo como bem ensinou Jesus a Nicomendos,
conforme registrado no capítulo 3 do Evangelho de João. Um crente que volta atrás para quebrar
cadeias de maldições hereditárias está pondo em dúvida a sua fé na obra de salvação de Cristo; Não
está crendo que é nova criatura a que as coisas velhas já passaram; Não está descansando no poder
de Deus e nem confiando no poder purificador e libertador do sangue de Jesus (Cl 2:14-15; A 1:5;
Rm 5:9; Ef 1:7, Hb 9:12, 14; 1 Pe 1:18-19).
Em vez de retrocedermos devemos fazer como o apóstolo Paulo disse: “... mas uma
coisa faço: esquecendo-me das coisas que para trás ficam e avançando para as que diante de mim
estão, prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus. (Fp
3:13b)”.
Não há mais nenhuma maldição e nem condenação para os que estão em Cristo (Rm.
8:1), pois se Deus é por nós, quem será contra nós? (Rm 8:31). Tendo em mente a definição bíblica
de maldição: separado de Deus, ouçamos o que a apóstolo Paulo ainda tem a dizer em Romanos
8:33-39: "quem intentará acusação contra os eleitos de Deus?... quem os condenará?... quem nos
separará do amor de Cristo?... Pois eu estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem anjos,
nem principados, nem coisas do presente, nem do porvir, nem poderes, nem altura, nem
profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo
Jesus nosso Senhor"!
"Ele nos libertou do império das trevas a nos transportou pare o reino do Filho do Seu
amor, no qual temos a remissão dos pecados, a redenção" (Co 1:13, 14, ver também Co 2:12-15;
3:1-3 10; Ef 1:3-14, 18-20).
BIBLIOGRAFIA
Romeiro, Paulo - Super Crentes - Mundo Cristão - São Paulo - SP -1993.Gondin, Ricardo - O
Evangelho da Nova Era - Abba Press - São Paulo - SP -1993
Artigo especial da revista "Vos Scripturae 3:2 (setembro de 1993) pág.131 a 150.
Artigo de Alan B. Pierrat, intitulado:” O Segredo da Espiritualidade da Prosperidade."