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Classicismo

O Classicismo foi um movimento cultural que fez parte do Renascimento europeu, durante
os séculos XV e XVI. Como o próprio nome aponta, a proposta do Classicismo era um
retorno às formas e temas da Antiguidade Clássica, ou seja, Grécia e Roma antigas.
Em arte, classicismo refere-se ao mundo antigo, ou seja, à valorização da Antiguidade
Clássica como padrão por excelência do sentido estético. A arte classicista procura a
pureza formal, o equilíbrio, o rigor ou, segundo a nomenclatura proposta por Friedrich
Nietzsche, pretende ser mais apolínea que dionisíaca.
Alguns historiadores de arte, entre eles Giulio Carlo Argan, alegam que, na história da arte,
concorrem duas grandes forças, constantes e antagônicas: uma delas é o espírito clássico;
a outra, o romântico. As três grandes manifestações classicistas da Idade Moderna
europeia são o renascimento, o humanismo e o neoclassicismo. A arte clássica, por conta
de seu contexto histórico, é impulsionada por grande explosão de vida e confiança no ser
humano. Por isso, essas manifestações artísticas são marcadas pela visão antropocêntrica,
que evidenciará a beleza do corpo humano na pintura e na escultura.

Contexto Histórico
O período da Idade Média durou cerca de 10 séculos na Europa (século V – século XV).
Durante esse longo período de tempo, o desenvolvimento científico e cultural dependia do
aval ou do aceite da Igreja Católica, que exercia influência política e socioeconômica em
toda a Europa.
Enquanto a riqueza na Idade Média estava relacionada à posse da terra e à tradição, as
trocas comerciais que se estabeleceram com o mercantilismo tornaram o dinheiro a grande
fonte de poder. O intercâmbio com civilizações da Ásia e da África, sobretudo com povos de
origem árabe, abriu para os europeus novos horizontes, como o desenvolvimento da
matemática e os instrumentos de navegação, como o astrolábio.
Os espaços geográficos abriam-se, com a descoberta de novas rotas pelo mar, levando até
a chegada aos territórios do grande continente americano: eram as Grandes Navegações.
Tudo isso foi possível graças ao Renascimento, movimento científico e cultural que tomou
conta da Europa no século XV. Esquivando-se da censura ideológica da Igreja, pensadores
e cientistas elaboraram novas teorias e invenções: Nicolau Copérnico propõe o modelo
heliocêntrico do Universo, Galileu Galilei descobre as leis que regem a queda dos corpos,
Johann Gutemberg inventa os tipos móveis para imprimir os livros, tarefa antes delegada
aos monges copistas.
O horizonte cultural do Renascimento era a Antiguidade Clássica. A Grécia Antiga é
considerada o berço do pensamento ocidental (tendo influenciado diretamente a cultura dos
romanos), por isso o retorno às formas clássicas foi o propósito estético dos renascentistas.
O Classicismo tem sua gênese na Itália, ao final do século XIII, com o surgimento do
pensamento humanista.

Sentido Alternativo do Termo


O termo "clássico" também serve para designar uma obra ou um autor depositário do
elemento fundador de determinada corrente artística.

Literatura
Os escritores classicistas retomaram a ideia de que a arte deve fundamentar-se na razão,
que controla a expressão das emoções. Por isso, buscavam o equilíbrio entre os
sentimentos e a razão, procurando assim alcançar uma representação universal da
realidade, desprezando o que fosse puramente ocasional ou particular. Os versos deixam
de ser escritos em redondilhas (cinco ou sete sílabas poéticas) – que passa a ser chamada
medida velha – e passam a ser escritos em decassílabos (dez sílabas poéticas) – que
recebeu a denominação de medida nova. Introduz-se o soneto, 14 versos decassilábicos
distribuídos em dois quartetos e dois tercetos. A literatura se enriquece com a incorporação
de muitas palavras latinas. Luís Vaz de Camões foi o mais importante poeta do classicismo
português, sendo sua maior obra, Os Lusíadas, a maior epopeia já escrita em português.

Características gerais do Classicismo


•Individualismo;
•Universalismo;
•Racionalismo;
•Antropocentrismo;
•Neoplatonismo;
•Nacionalismo;
•Paganismo;
•Predomínio da razão;
•Influência da cultura greco-romana;
•Fusionismo: mitologia pagã e cristã;
•Simplicidade, clareza e concisão;
•Equilíbrio, harmonia e senso de proporção (rigor e perfeição formal);
•Mimese (imitação da Natureza: Aristóteles);
•Soneto (2 quartetos e 2 tercetos);
•Versos com até dez sílabas métricas (estilo doce novo e medida nova);
•Rimas consoantes, por vezes e até ricas.
•Retorno aos modelos clássicos (greco-romano);
•Busca da perfeição estética;
•Rigor formal;
•Razão e equilíbrio;
•Nacionalismo e antropocentrismo;
•Racionalismo e cientificismo;
•Uso de sonetos e versos decassílabos;
•Temas religiosos e mitológicos.
•Principais Autores e Obras

Origem do Classicismo
O classicismo é o período artístico que ocorreu no século XVI e surgiu na Itália junto com o
movimento Renascentista.
Na literatura portuguesa, o classicismo tem início com a chegada do escritor português
Francisco Sá de Miranda à Portugal em 1537.
Ele retornou da Itália trazendo consigo modelos novos. Estes, foram introduzidos na
literatura sobretudo, os sonetos, que ficaram conhecidos como “dolce stil nuevo” (Doce
estilo novo).
O soneto é uma forma poética fixa, formada por dois quartetos (estrofes de quatro versos) e
dois tercetos (estrofes de três versos).
O fim do Classicismo corresponde ao ano da morte de Camões, em 1580. Após o
Classicismo tem início o movimento artístico do Barroco.
Principais autores e obras
•Sá de Miranda (1481-1558) e a obra “Poesias” (1677)
•Luís de Camões (1524-1580) e a epopeia “Os Lusíadas” (1572)
•Bernardim Ribeiro (1482-1552) e a novela “Menina e Moça” (1554)
•António Ferreira (1528-1569) e a tragédia “A Castro” (1587)
•Miguel de Cervantes (1547-1616) e o romance “Dom Quixote” (1605).
•Dante Alighieri 1265-1321) e o poema épico “A Divina Comédia” (1555);
•Francesco Petrarca (1304-1374) e a obra poética “Cancioneiro e o Triunfo”;
•Giovanni Boccacio (1313-1375) e a novela “Decamerão” (1348 e 1353).

Trecho da obra “Os Lusíadas” de Luís de Camões


Canto IX

" Tiveram longamente na cidade,


Sem vender-se, a fazenda os dous feitores,
Que os Infiéis, por manha e falsidade,
Fazem que não lha comprem mercadores;
Que todo seu propósito e vontade
Era deter ali os descobridores
Da Índia tanto tempo que viessem
De Meca as naus, que as suas desfizessem."

Soneto de Sá de Miranda
O sol é grande, caem coa calma as aves,
Do tempo em tal sazão que sói ser fria:
Esta água, que d'alto cai, acordar-me-ia,
Do sono não, mas de cuidados graves.

Ó coisas todas vãs, todas mudaves,


Qual é o coração que em vós confia?
Passando um dia vai, passa outro dia,
Incertos todos mais que ao vento as naves!

Eu vi já por aqui sombras e flores,


Vi águas, e vi fontes, vi verdura;
As aves vi cantar todas d'amores.

Mudo e seco é já tudo; e de mistura,


Também fazendo-me eu fui doutras cores;
tudo o mais renova, isto é sem cura.

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