apresenta
BELEZA PURA
(título provisório)
novela de
ANDREA MALTAROLLI
Supervisão de texto
SILVIO DE ABREU
19 HORAS
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SINOPSE
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BELEZA PURA
(título provisório)
Uma ainda não caiu na conversa dele. E é dessas que ele gosta mais. Nada co-
mo um desafio na vida de GUILHERME, especialmente quando o desafio é uma
mulher. É a vizinha de prédio, a moradora do primeiro andar, SÔNIA, uma mu-
lher no esplendor de sua beleza. Ela é ranzinza, ambiciosa, egoísta e muito
prepotente. Tem dois filhos, KLAUS de 16 anos e DOMINIQUE de 10, mas
não está muito aí para as crianças. Freqüentemente esquece a hora de buscá-
los no colégio e eles acabam na rua. Com exceção das vezes em que acabam na
casa de GUILHERME por conta disso. Não que ele abra a porta, porque está
sempre fora, trabalhando (e se não estivesse arranjaria uma péssima desculpa
para não abrir). Mas sua empregada deixa as crianças entrarem, para desgos-
to dele, que não gosta de “surpresas” na sua rotina tão bem organizada em
torno de si mesmo. Mas GUILHERME quer conquistar a mãe – ou pelo menos
dar uma saidinha com ela. E por isso se esforça para engolir a bagunça que as
crianças deixam quando vão embora.
Com isso, GUILHERME é impedido de voltar para ver seus projetos. Ele es-
braveja, nenhum projeto dele jamais deu errado! Tem certeza de que a culpa
não é dele! Mas é jogado na rua pelos seguranças. Sem entregar os pontos,
GUILHERME apela para sua grande amiga e também engenheira dentro da
empresa, NORMA. A amiga consegue ver os projetos, analisa tudo e... confir-
ma para GUILHERME que houve sim um problema de cálculo. Coisa pequena
que ele deixou passar, mas o suficiente para que a empresa faça um recall.
Talvez por causa do stress, talvez por causa do cansaço, talvez por causa das
mulheres que ele não larga, alfineta. NORMA tenta consolá-lo, mas em vão. Já
RAUL, seu melhor amigo e gerente da área de informática da empresa, tem
uma idéia melhor: leva GUILHERME para beber e tentar esquecer as mágoas.
Isso dá um pouco mais certo.
SÔNIA não volta na data marcada e seu celular não atende. Então, no domingo
à tardinha, ele assiste no telejornal local a notícia de que outro helicóptero
havia caído e desaparecido, desta vez em alto-mar. Pelas buscas conclui-se que
não havia sobreviventes dentre os quatro passageiros e o piloto. E entre os
mortos, SÔNIA AMARANTE. O helicóptero era um dos que usava o motor
projetado por ele.
O choque é demais para GUILHERME. Mas nada é pior do que a cena pela qual
ele teve que passar, um déjà-vu do que já havia acontecido em sua própria his-
tória. Foi quando ele teve que entrar no quarto dos meninos para contar que a
mãe estava morta. GUILHERME passou por aquilo quando tinha a mesma idade
de KLAUS. A tia entrou no seu quarto para avisar que os pais haviam morrido
num acidente de carro. GUILHERME ainda lembra que só tomou consciência
do que havia acontecido alguns dias depois. Depois do enterro, depois das fé-
rias, no primeiro dia de aula, sua mãe não foi acordá-lo como costumava fazer.
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Então ele entendeu que não tinha mais os pais. E agora lá estava ele. Dando a
mesma notícia para outro rapazinho, que o olhava com o mesmo olhar atônito,
incrédulo, e que assim ficaria até que um dia acordasse e entendesse que ago-
ra estava sozinho. A diferença é que, se não fosse por ele, GUILHERME, a
mãe das crianças ainda estaria viva. Nem queria pensar na reação delas se
soubessem que ele havia construído aquele helicóptero defeituoso. E, ao pen-
sar nisso, ele não consegue deixar de voltar a pensar em como ele tinha come-
tido um erro... ele nunca tinha cometido nenhum erro! Mas, por mais que se
esforce, nada vêm à cabeça. Está feito. Sua vida estava acabada. E as daque-
las pessoas também.
Consumido pela culpa, GUILHERME não tem nem tempo de ficar deprimido,
pois precisa consolar e cuidar das crianças. E agora? Eles não têm família, vão
acabar indo para um orfanato. Pior, estão totalmente endividadas, porque
SÔNIA investira tudo o que tinha e bela parte do que não tinha num novo ne-
gócio. A viagem, ele descobre, era para conseguir um novo empréstimo.
Depois de muito pensar e sofrer, GUILHERME resolve que vai fazer de tudo
para adotar as crianças. Elas concordam. Ele dá entrada na papelada. GUI-
LHERME consegue a guarda provisória dos filhos de SÔNIA. Ele nem tenta
contar sua versão sobre o helicóptero para as crianças. Sabe que algum dia
esse assunto será inevitável, mas já é o bastante agora para ele e para os me-
ninos terem que conviver com a falta de SÔNIA.
GUILHERME achava que com isso estaria apaziguando sua consciência. Mas,
contra todas as suas expectativas, não é o que acontece. Ele sonha com SÔ-
NIA e com os outros mortos que nem conheceu, mas viu as fotos na televisão
e nos jornais. Pesadelos horríveis, nos quais eles o acusam de ter cortado suas
vidas pela metade, de tê-los impedido de realizar seus sonhos e projetos.
ESTÉTICA DA IGNORÂNCIA
mas sem imaginar como ficar quite com a própria consciência. Além disso, está
numa situação econômica deplorável. Ainda tem a cobertura e algum pouco di-
nheiro – ele nunca foi econômico. Assim, faz tudo para reduzir os gastos, e a
primeira providência é despedir Meu Bem. Entre pesadelos com as vítimas,
crises de raiva e de depressão, problemas infinitos causados pela sua nova
condição de “pai e dono–de-casa”, o tempo passa.
Só tem um problema: SÔNIA não era engenheira aeronáutica, como ele. Nem
balconista, nem professora, nem atriz, nem comerciante. SÔNIA era esteti-
cista. E GUILHERME rói as unhas e acha que creme hidratante serve para
matar a sede.
RAUL
RAUL fica embasbacado com o que aconteceu com o amigo e tenta apoiá-lo de
todas as maneiras. Mas quando GUILHERME fala de sua decisão, RAUL não se
contém: “cara, você tá maluco??”. Mas no final compreende, afinal conhece a
personalidade impulsiva e workaholic de GUILHERME há longos anos.
RAUL é apaixonado por NORMA e sofre com isso. Primeiro porque NORMA
não dá a mínima para ele. Depois porque sabe que ela gosta de GUILHERME,
embora não calcule o tanto. E finalmente porque GUILHERME nunca, jamais
percebeu seus sentimentos. Ele achava que o amigo poderia ajudá-lo a conquis-
tar NORMA. Mas também entende que prestar atenção nos outros não é uma
especialidade de GUILHERME.
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VALENTINA
Ninguém levanta um sorriso como VALENTINA. Para ela não existe gente feia,
só as que não passaram pelas suas prendadas mãos de dermatologista. Mas o
renomado cirurgião plástico CRISTIANO RONALDO PONTES não dá trégua à
sua assistente. Por qualquer bobagem, humilha-a aos berros, na frente de toda
a equipe que trabalha com ele na estrelada Clínica Cristiano Ronaldo Pontes.
Todos tremem ao vozeirão dele, porque CRISTIANO RONALDO é cruel. Ele
faz de tudo para que a moça não adquira autoconfiança, não indo assim traba-
lhar com algum concorrente. Além disso, ele tem uma queda, uma bela queda
pela moça. Então, os gritos e humilhações são em seu coraçãozinho perturbado
uma maneira de ter alguma comunicação com ela. Por mais que VALENTINA se
esforce, ele sempre descobre uma falha. Ela acaba muitas vezes chorando de
madrugada, sozinha no apartamentinho que aluga no Bairro de Fátima, centro
do Rio de Janeiro. VALENTINA sonha sim em ter sua própria clínica. Mas...
Como? Quando? Por que sua vida é tão diferente da dos outros?
Ela está quase desistindo. Tudo parece negro e perdido, não fosse um sonho
antigo que está quase concretizado. VALENTINA acabou de descobrir onde
mora sua mãe. A mãe que a deixou num orfanato, recém-nascida. A nossa de-
dicada dermatologista idealiza essa mulher. Para ela, a mãe desconhecida é
uma espécie de fada, que certamente teve um motivo imperioso para deixá-la
naquele orfanato. VALENTINA juntou dinheiro e comprou um lindo vestido
para impressionar a mãe. Ela já tem o endereço, seu coração bate rápido
quando pensa que vai lá no dia seguinte. E fantasia. Sonha que a mãe vai chorar
ao vê-la, abraçá-la, pedir perdão e elas serão felizes juntas para sempre. O
nome dessa mãe VALENTINA sabe de cor de tanto dizê-lo, como um mantra
que tem o poder mágico de acabar com qualquer tristeza. Ela o repete sem
parar: SÔNIA AMARANTE.
ela. Mas NORMA, embora atraída por ele, nunca quis nada com o bolsista po-
bre e galinha demais para os padrões dela. O affair não consumado acabou
numa amizade. Ambos eram muito bons e faziam ótimos projetos juntos. De-
pois, GUILHERME se destacou, enriqueceu. E NORMA se apaixonou. Sempre
achando que o melhor a fazer era bancar a durona, para ser diferente das
“outras”. Usava roupas, ou melhor, tailleurs caríssimos, achando que sua pos-
tura profissional e beleza iriam enfim enfeitiçar GUILHERME. Além disso, era
inteligente, muito inteligente. NORMA não suporta gente burra. Especialmen-
te homem burro. Seja como for, GUILHERME não a notava. Mulheres ele ti-
nha várias à disposição. Para que se estressar por uma só? Ademais, ele a-
prendeu a gostar de NORMA como um amigo. E a moça sofria vendo-o sair
com outras mulheres e ainda servindo de eventual confidente. GUILHERME a
tratava com tapas nas costas e a chamava para tomar chope no bar da esquina.
Cinema? Nunca. Jantar? Só se fosse de negócios. A frustração crescia em
NORMA e o despeito também.
A gota dágua foi uma festa de aniversário de NORMA. GUILHERME foi espe-
cialmente simpático e carinhoso nos dias precedentes, até a chamou para al-
moçar, só os dois. NORMA viveu num paraíso durante duas semanas. Tinha
certeza de que GUILHERME finalmente havia compreendido que ela é que era
a mulher da vida dele. Iria pegar na sua mão, beijá-la, iriam ter um caso de
amor daqueles de esfregar na cara de todo mundo, especialmente daquelas...
“zinhas” com quem ele saía. Veio a festa, patrocinada por GUILHERME. E nela,
GUILHERME se declarou. Não para ela, mas para uma subordinada dela. Uma
linda profissional, muito recatada, que nunca saía de casa nem dava bola a nin-
guém do escritório. Mas que, certamente, compareceria à festa de aniversário
da chefe. NORMA descobriu que GUILHERME armara tudo.
Nada podia ser pior. Como...?, ela pensava. Como ele faz tudo isso e depois diz
que está apaixonado por uma vigaristazinha qualquer? O mundo de NORMA
caiu, e foi necessário todo o seu orgulho, que nunca foi pouco, para mantê-la
estável sobre os escarpins, sempre pretos. Como era do seu feitio, contou
mentiras sobre a moça, pessoais e profissionais e demitiu-a na primeira opor-
tunidade. Mas jurou que aquilo jamais aconteceria de novo. Iria se vingar de
GUILHERME, fazê-lo pagar por todo aquele desprezo. Mais que isso, iria fa-
zê-lo ficar a seus pés.
novo motor em que GUILHERME trabalhava estava para sair do papel, NOR-
MA fez, com gosto, uma leve, levíssima, imperceptível, modificação no projeto.
Arriscou-se, mas conseguiu. Foi ela quem criou as condições e depois armou o
flagrante com a mulher do presidente da empresa. NORMA não podia permitir
que GUILHERME ficasse nem mais um dia na fábrica. Só GUILHERME poderia
descobrir a modificação, e esse risco ela não poderia correr.
Mas por que Kelson, os magros e o cara que morava na própria pele não expli-
caram em lugar nenhum o que significava “carboxiterapia”? E um “peeling de
diamante”, usa-se no dedo ou no pescoço?? E desde quando estão empregando
a tecnologia laser para matar celulites e não mais os inimigos do Império??
Aos poucos, e de maneiras bem degradantes para sua auto-estima, GUI-
LHERME perde a mão completamente da clínica. Nada dá certo e ele acumula
bobagens que dão bastante prejuízo. E olha que o estabelecimento ainda nem
abriu.
GASPAR: por volta dos 60 anos, um cirurgião plástico aposentado, que já tra-
balhou em várias clínicas não muito boas do Rio de Janeiro. No passado, teve
sua própria clínica e era respeitado no circuito. No entanto, desde que alguma
coisa muito ruim, sobre a qual ele não fala, aconteceu, se desencantou da vida
e do bisturi. Acabou indo trabalhar no tal salão, fazendo procedimentos sim-
ples, que davam pra pagar as contas e ele não se aborrece muito. GASPAR,
longe de ser um totem de beleza, tem um borogodó incrível com as mulheres.
Todas ficam loucas por ele, mas GASPAR não está nem aí. No fundo, só queria
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achar sua cara-metade, casar e ter uma vida tranqüila. Nunca conseguiu. Acha
que é um fracassado.
A clínica abre em fase experimental, sem anúncios, enfim, só para que GUI-
LHERME tenha oportunidade de testar seu novo empreendimento. O pro-
blema é que tudo vai dando errado. GASPAR se recusa a usar os tratamen-
tos e aparelhos de ponta oferecidos pela clínica, tem resistência a qualquer
coisa nova e acha que os velhos métodos ainda funcionam muito bem. FELIPE,
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O ENCONTRO
PERDIDOS
Agora tudo parece ter voltado ao normal para GUILHERME. Melhor ainda,
agora ele tem a mulher que ama ao lado e tudo está dando certo. Por incrível
que pareça, não tem mais vontade de procurar outras. VALENTINA é tudo!
KLAUS e DOMINIQUE se apegaram a ela – são meio-irmãos afinal -, e GUI-
LHERME começa a pensar em noivado.
ALEX GOMES: por volta dos 35 anos. Médico ginecologista que fez especiali-
zação, anos depois, em medicina estética. Apaixonou-se pelo tema e, pouco
antes do acidente, estava escrevendo um livro sobre medicina estética para
leigos. ALEX era casado com DÉBORA, uma dona-de-casa e tem uma filha,
LUÍSA, de 17 anos.
Além da dor na consciência, em parte aplacada pelo trabalho que está fazendo
na Clínica BELEZA PURA e por estar cuidando das crianças, Guilherme está
enfrentando um processo movido pelas famílias das vítimas do acidente com o
helicóptero. O advogado que tomou à frente da ação foi JOSÉ HENRIQUE,
que já era advogado de OLAVO PEDERNEIRAS e que foi “herdado” pelo so-
brinho ROBSON.
NORMA resolve jogar com todas as suas armas. De um jeito “inocente” conta
para VALENTINA tudo que incrimina GUILHERME. Do helicóptero no qual a
mãe morreu, cujo motor defeituoso tinha sido projetado por ele. E que matou
não só a mãe dela, como mais quatro pessoas. VALENTINA fica arrasada.
Também fala das infidelidades constantes. Conta, acrescentando um ponto,
que GUILHERME seduziu sua subordinada, que estava noiva. Que não conse-
guia ficar com aquele zíper das calças fechado. Olha só quem vai criar seus
irmãos!, ela adverte. Também envenena-a em relação a CATRINA, a esteticis-
ta da clínica, que vivia lançando olhares lânguidos sobre o chefe. Sem dúvida
ali tinha coisa.
GUILHERME ferida, humilhada e furiosa. Mas não sem antes ameaçar: vai en-
trar na justiça e pedir a guarda dos irmãos. E vai ganhar!
Ela volta para seu pequeno apartamento sem emprego, sem dinheiro e com o
coração partido. CRISTIANO RONALDO PONTES descobre que a ex-
assistente está mandando currículos para clínicas dermatológicas e, como re-
ferência dela, detona a reputação de VALENTINA. Ele acha que, assim, só
restará à moça voltar para “seus braços”.
Desarvorada, acaba indo parar num pequeno salão de beleza do Bairro de Fá-
tima. Ela está tentando relaxar fazendo as unhas quando vê a dona do salão,
IVETE, examinando alguns currículos. Imediatamente se candidata à vaga de
assistente de cabeleireira, na falta de algo melhor. IVETE acha muito estra-
nho uma médica formada querer trabalhar ali, mas VALENTINA a convence,
dizendo que o mercado estava difícil, ela já tinha tentado tudo e agora preci-
sava pagar suas contas. Como a moça é bonita, delicada e mal nenhum poderia
causar, IVETE concorda.
A CLÍNICA SECRETA
Para surpresa da dermatologista, IVETE faz uma proposta para a nova e ta-
lentosa amiga. Por causa de VALENTINA, a clientela de IVETE aumentou mui-
to. E se ela abrisse uma clínica de estética, dessa vez num bairro mais chique?
Era um sonho antigo de IVETE, que já tinha um bocado de dinheiro economi-
zado para isso, apenas não via chegar o momento, só sabia que ia ter um sinal.
E esse sinal era VALENTINA!! Ela toparia assumir a direção? VALENTINA
esquece as mágoas passadas e se lança de cabeça ao trabalho. Pede apenas
que o pequeno salão permaneça aberto, agora como uma clínica dermatológica
para a população pobre da área. Elas podem correr atrás do alvará e pronto.
IVETE concorda. VALENTINA sabe que precisa ganhar dinheiro e ter um em-
prego estável se deseja ganhar a guarda dos irmãos. E se, além disso, ela pu-
der ter o prazer de continuar atendendo aquela gente e de derrotar GUI-
LHERME no campo que ela conhece melhor, ótimo.
Mas quando não tem ninguém olhando, nem sua própria mente, VALENTINA
lembra de GUILHERME e chora seu grande amor perdido.
OS ATAQUES DE NORMA
Tudo o que NORMA não quer é ter aquelas crianças insuportáveis no pé, quan-
do GUILHERME “voltar” para ela. Ela se aproxima do amigo para consolá-lo da
perda de VALENTINA e põe em prática seu plano. Trata de fazer KLAUS
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descobrir a mesma coisa que VALENTINA: que GUILHERME tinha sido o res-
ponsável pela morte da mãe dele. O rapaz fica transtornado e briga com GUI-
LHERME. Influenciado por NORMA, começa a desafiar GUILHERME com ati-
tudes beligerantes. Numa dessas, resolve dar uma festa em casa, com bebida,
música alta, etc. GUILHERME volta e a discussão é terrível. NORMA certifi-
ca-se de que muitos vizinhos testemunhem a cena.
Quando descobre o que NORMA quer de verdade, RAUL entra em crise. Por
um lado, ama NORMA e não quer perdê-la. Por outro, a amizade por GUI-
LHERME é preciosa. Mas pensando bem... GUILHERME nunca se preocupou
com ele. RAUL imagina se, em seu lugar, GUILHERME o ajudaria. E mais, à
custa do seu amor.
A fidelidade fala mais alto e RAUL, embora furioso, resolve salvar o amigo.
Vai lá e conta tudo para ele. GUILHERME não acredita e os dois amigos bri-
gam. Não sem antes RAUL jogar na cara de GUILHERME todas as suas falhas
de caráter.
Quando a raiva passa, GUILHERME pensa e resolve, por via das dúvidas, falar
com NORMA. Ela nega tudo, mas GUILHERME acaba desconfiando e entra na
casa dela escondido. Procura e acha o dossiê. Ele joga na cara dela a traição e
declara a amizade acabada. NORMA chora, se descabela. Finalmente, confes-
sa sua paixão e diz que fez tudo por amor. Só queria viver em paz com GUI-
LHERME, longe daquelas crianças grudentas. Mesmo aparvalhado com a decla-
ração, GUILHERME não a desculpa.
Ele tenta fazer as pazes com RAUL, mas ainda vai demorar para que essa ami-
zade se recomponha. Ao descobrir que foi RAUL quem a delatou, NORMA ar-
ranja um jeito de fazer com que ele seja demitido da firma.
Mas, para desgosto da vilã, a BELEZA PURA, clínica de GUILHERME, está in-
do bem e VALENTINA abriu a sua clínica, a Flor da Pele, bem em frente à de
GUILHERME.
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A CONCORRÊNCIA
Ele tem que superar a concorrência da Clínica de VALENTINA que está fa-
zendo muito sucesso. Os dois empresários inventam novos tratamentos, pro-
moções, eventos. GUILHERME tem uma clínica toda romântica, rosa, perfu-
mada, herança de SÔNIA. VALENTINA faz o contrário: a sua é high tech,
cheia de aço e vitalidade.
GUILHERME chega à mansão num dia em que Robson está terminando de cor-
rer em sua nova esteira eletrônica. Falta luz e Robson confunde GUILHERME
com o técnico que chamara. Como engenheiro, GUILHERME conserta a tra-
quintana e não desfaz o engano. Os dois acabam ficando amigos e GUILHER-
ME só esperando um momento propício para levar seu problema a ROBSON.
Só que JOSÉ HENRIQUE, o advogado, descobre a manobra do engenheiro e o
delata para ROBSON. Os dois brigam e se separam. Mas um dia GUILHERME,
ao voltar novamente e tentar recomeçar as conversações, acaba intervindo
numa briga entre ROBSON E RAKELLY, sua noiva, e os ajuda a fazerem as
pazes. ROBSON fica muito agradecido e concorda em conversar. Ele alivia o
lado de GUILHERME em relação ao congelamento dos bens. E GUILHERME
acaba descobrindo o último desejo do falecido OLAVO: fazer um programa de
tv sobre estética. ROBSON descobre o material que OLAVO acumulara para
fazer o show e o mostra para GUILHERME. Os dois se entusiasmam e ROB-
SON resolve até bancar o novo programa, se GUILHERME resolver levá-lo
adiante.
GUILHERME toma coragem. Ele se sentiria bem fazendo isso pelo morto – sua
vítima no final das contas. E se lança com entusiasmo ao projeto.
ROBSON acha que fazer o programa é uma espécie de retribuição que pode
dar à memória do primo que tanto fez por ele, mesmo sem saber. Tanto que
resolve financiar o piloto do show, exatamente como imagina que o primo o
faria.
Ele exulta, mas é logo surpreendido com a falência da Flor da Pele. Como? Por
quê? Ao mesmo tempo em que, como empresário, fica aliviado com o fim da
concorrência, GUILHERME se preocupa com VALENTINA. O que terá acon-
tecido?
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Enquanto isso, NORMA trabalha para destruir a clínica. Ela deseja que VA-
LENTINA fique na rua. E aí será uma presa fácil para CRISTIANO RONAL-
DO . E sairá da sua vida e da de GUILHERME definitivamente. NORMA con-
seguiu infiltrar novos empregados, pagos especialmente para sabotarem o es-
tabelecimento. São péssimas esteticistas, recepcionistas mal-educados, “es-
quecem” de fazer a dedetização do lugar, a equipe é ruim. Não satisfeita,
NORMA arma acidentes graves, com ajuda luxuosa e incógnita de CRISTIA-
NO RONALDO: uma mulher que passa mal após um tratamento e um famoso
gay que dá uma declaração pública contando como foi envenenado. O episódio
periga virar um escândalo de grandes proporções, mas CRISTIANO RONAL-
DO consegue, à custa de um caminhão de dinheiro, abafar o caso. Mas é radi-
cal: a clínica acabou. Melhor fechar logo, antes que a notícia se espalhe de bo-
ca em boca. VALENTINA fecha e IVETE acaba tendo de reabrir o seu salão
de periferia, ainda bem que não tinha se desfeito dele.
A briga ia continuar.
BARRACO AO VIVO
Mas VALENTINA arranja desculpas, diz que precisa do dinheiro, etc. No fun-
do, ela quer mesmo a concorrência. E mais no fundo ainda, ela quer estar em
contato com GUILHERME, nem que seja brigando. Vencido, CRISTIANO RO-
NALDO a ajuda com seus contatos e com dinheiro. Aos poucos, a moça vai ce-
dendo ao amor do cirurgião. Não o ama, mas gosta dele, têm uma profissão
complementar, ele é um homem bonito, interessante...
No mesmo dia em que chega a essa razoável conclusão, ela sai com disposição
assassina rumo ao estúdio onde GUILHERME está gravando. Invade o lugar e
os dois brigam ali. Tudo ao vivo. É uma confusão digna dos melhores pastelões,
mas os telespectadores adoram. Recebem dezenas de e-mails e os diretores
resolvem que os dois especialistas em beleza têm que fazer um programa jun-
tos. GUILHERME e VALENTINA não acreditam na má sorte. Fazem de tudo
para evitar, mas não tem jeito. Começam a apresentar o show juntos. As dis-
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cussões no ar entre eles viram atração até para quem não está nem aí para a
qualidade da sua pele.
Mas uma outra onda inesperada começa a se formar pelas costas de GUI-
LHERME...
Os problemas dos adolescentes batem nos pais, que são contra o namoro.
GUILHERME vai pedir satisfações para EDUARDO e os dois brigam. O mais
interessante é que nem GUILHERME é pai legítimo de KLAUS, nem EDUAR-
DO é pai legítimo de FERNANDA. Mas os dois homens amam tanto os filhos-
estepe que agem como se fossem. E então a briga é grande e dura bastante.
Até então, nem GUILHERME nem EDUARDO sabem que estão envolvidos no
mesmo caso da queda dos helicópteros.
Portanto, os dois têm que escrever juntos. Eles concordam, desde que o autor
permaneça sendo ALEX, com os nomes deles em letrinhas menores. As reuni-
ões entre os dois autores são tensas. Ficavam na mesma sala, mas evitam se
olhar, se tocar ou mesmo esbarrar um no outro. As horas entre os encontros
de trabalho são angustiantes, porque é tudo em que GUILHERME e VALEN-
TINA conseguem pensar: em estar juntos novamente. E quando se encontram...
começa tudo de novo. Até que um dia, GUILHERME, mais consciente de seus
sentimentos, beija VALENTINA à força. Ela resiste, se entrega, e acaba dan-
do um tapa nele. Eles resolvem que é melhor ir cada um para seu canto, “es-
crever” sua parte em separado, depois eles juntariam e pronto.
Um dia, GUILHERME encontra com HUGO e sua mãe, HELENA. Ele fica pena-
lizado com a diferença entre a energia de DOMINIQUE e a fragilidade de
HUGO. Eles conversam e, para horror de GUILHERME, ele descobre que HE-
LENA era uma das viúvas do “seu” helicóptero. Não conta nada para ela, mas
passa dias e dias se torturando com aquela culpa.
O produto faz um sucesso absurdo. Carecas vêem nascer cabelos da noite pa-
ra o dia e GUILHERME é incensado. Ele bem que tenta tirar de sobre si a res-
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Nesse momento da nossa história, tudo parece que está indo bem, muito bem
até. GUILHERME e VALENTINA estão juntos finalmente, a família está unida.
Os negócios vão bem. As obras na escola de estética estão no fim e é só isso
que falta. GUILHERME já tem um plano: assim que a escola inaugurar, ele casa
com VALENTINA. E aí será feliz para sempre.
Esse também é o prazo que NORMA se deu para acabar de vez com toda essa
alegria.
DESASTRE
É uma comoção. SÔNIA então não tinha morrido na queda do helicóptero. Ela
não apenas aparece ali, naquela hora crucial, como chega se fazendo de vítima:
diz que quase morreu por causa de GUILHERME e está sem a sua clínica por-
que ele roubou todos os projetos, roubou seus filhos também. GUILHERME
perplexo. Ela chora, dissimulada. VALENTINA fica chocada, desiludida, arra-
sada. Vai embora.
SÔNIA simula uma carência que não tem, se enfia na casa dele e começa a
trabalhar para ter sua clínica de volta. E para destruir GUILHERME. Ela ma-
nipula os dois filhos, fazendo chantagem, querendo forçar a barra, dizer que
os quatro podem ser uma família feliz. Procura VALENTINA e se comporta
como a mãe que a moça sonhara em ter: atenciosa, amorosa e, claro, apaixona-
da por GUILHERME, apesar de tudo o que ele a fez passar. VALENTINA, que
tem aquela imagem idealizada da mãe e que não sabia do relacionamento entre
ela e GUILHERME, é facilmente manipulada por SÔNIA e fica totalmente
contra o amado.
Para completar a derrocada do nosso herói, eles recebem o laudo com a análi-
se do xampu contra a calvície: ele contém uma substância retirada de animais
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que estão em extinção. Pior, o processo demanda que o animal sofra terrivel-
mente. Ao mesmo tempo em que descobrem isso, CRISTIANO RONALDO
também descobre. E divulga. O nome de GUILHERME vai para o ralo mais uma
vez. Os patrocinadores suspendem o programa. A clínica ele já não tem, por-
que SÔNIA já a assumiu. Para culminar a sucessão de desgraças, GUILHERME
é preso por conta do uso da substância proibida.
NORMA o tira da cadeia. Como SÔNIA não o quer aceitar em casa, ele acaba
indo morar com NORMA. SÔNIA já tinha conseguido o que queria: suas coisas
de volta com muitos juros. Sua parte no trato está feita. Agora NORMA pode
ficar com ele...
Para GUILHERME a única coisa que restou foi a escola de estética. Ele vai
tocando o projeto, sem dinheiro e cheio de dificuldades.
Não foi apenas SÔNIA que sobreviveu. Todos os “mortos” no acidente do he-
licóptero começam a voltar. E cada um, ao voltar para sua antiga vida, causa
um rebuliço na vida dos que ficaram. (V. Histórias Paralelas)
SEQUESTRO DE MATEUS
Foi outro “trabalhinho” de NORMA, que não quer que GUILHERME seja ino-
centado.
CASAIS TROCADOS
Quando ALEX e MÁRCIA chegam em casa, dão de cara com seus respectivos
cônjuges morando juntos e absolutamente apaixonados. Por algum tempo, en-
quanto o embrulho não se resolve, ficam morando todos juntos: os quatro a-
dultos e as duas adolescentes.
ALEX fica super feliz quando vê que seu livro foi publicado. E MÁRCIA tam-
bém, ao descobrir que a escola dos seus sonhos está funcionando. Eles procu-
ram GUILHERME e serão os únicos a ajudá-lo nas tramas que se complicam.
o mesmo homem que a subornou a está chantageando. Ela percebe que VA-
LENTINA está desconfiada, embora ainda não saiba de toda a verdade. Agora
a situação é grave, muito grave para NORMA. Não dá mais para brincar de
despistamento. Ela precisa é se livrar de VALENTINA, para sempre.
Para isso, NORMA começa a envenenar literalmente a médica. Ela não conta
isso para OLAVO, porque sabe que ele é estupidamente apaixonado por VA-
LENTINA. Quer que a médica morra como se fosse conseqüência da manipula-
ção inadequada de alguma substância que ela usaria normalmente em seu tra-
balho. Se aquilo incriminasse CRISTIANO RONALDO, tanto pior. VALENTI-
NA começa a ficar debilitada e logo está muito doente.
Agora nossos heróis têm mais algumas missões pela frente: desmascarar
NORMA, descobrir onde está MATEUS, prender CRISTIANO RONALDO,
tirar HELENA da cadeia, devolver a fortuna para OLAVO, arrumar os casais
românticos, salvar a clínica para o povo carente, resolver todos os imbróglios
e, principalmente, descobrir a verdade por trás do acidente do helicóptero,
porque, é claro que tudo isso, desde o início, foi plano de alguém...
Finalmente!
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HISTÓRIAS PARALELAS
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HISTÓRIAS PARALELAS
Essa é a história de Helena Astragão, seu marido Mateus, seu filhinho Hugo,
um amigo da família, Elizabeto Jorge e de como os percalços da vida fizeram
essa mulher pacata enganar meio mundo para poder salvar seu filho e sua fa-
mília. E de como ela também quase enganou a si mesma!
Helena sempre lutou com dificuldades. Casou com Mateus por amor, mas ulti-
mamente tem sido difícil agüentar o que ela chama de “sonhos malucos de ci-
entista doido” do marido. É que Mateus é farmacêutico como ela e vive que-
rendo achar uma fórmula fantástica de alguma coisa, qualquer coisa, que lhe
dê muito dinheiro e fama. Mateus é muito talentoso e tem o jovem Elizabeto
Jorge, que foi colega de colégio de Helena para ajudá-lo e apoiá-lo. O proble-
ma é que o filho de Mateus e Helena, Hugo, de 10 anos, tem uma doença com-
plicada, limitante e cujo tratamento é caríssimo. E a dedicação à pesquisa de
Mateus não dá dinheiro nenhum. Ao contrário. Ele é tão envolvido com isso que
não liga muito para seu trabalho num laboratório. Nunca é promovido e ganha
pouco, apesar de seu talento. Mas ele sabe que seu salário de químico jamais
conseguiria pagar o tratamento do filho, aliás foi por causa de baixo salário
que Helena abandonou a profissão e resolveu economizar sendo dona de casa.
Mateus está obsecado por dar uma tacada só, e grande. Com isso iria tapar a
boca da mulher, que o critica, ganharia dinheiro suficiente para melhorar e
muito as condições da família e, melhor de tudo, teria mais do que o suficiente
para o tratamento do pequeno Hugo.
É então que o helicóptero em que estava Mateus cai. Ainda atordoada com a
notícia do falecimento do marido, numa situação mais desesperadora ainda,
Helena recebe um telegrama...
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Helena fica olhando para o telegrama arrasada. Tinha conseguido aquilo e ago-
ra... não servia de nada. Mateus tinha morrido. Nesse estado de prostração,
ela recebe a visita de Elizabeto Jorge, que odeia ser chamado de Elizabeto.
Mas Elizabeto é um gay bonito, carinhoso e que adora maquiagem. Foi ele quem
deu força para Helena inscrever Mateus no novo emprego. É que Elizabeto já
trabalhava na clínica e achava que essa podia ser a saída para o casal. Elizabe-
to chateado, que pena, era o emprego perfeito... E agora vão ter que desistir.
Nesse momento, Hugo chega, com uma pequena crise e Helena o atende até
acalmá-lo. Depois desaba. Lá está ela, desesperada, sem dinheiro para pagar
um bom médico, sente que precisa fazer alguma coisa. E rápido. Elizabeto la-
menta a perda da oportunidade do trabalho no laboratório, Helena cogita ir à
empresa com seu diploma, mas não tinha, nem de longe, um currículo compará-
vel ao do marido, certamente perderia a posição. De repente Helena olha para
o telegrama, pensa, e tem uma idéia: vai assumir o emprego no lugar do marido.
Mas como, quer saber Elizabeto. Ela diz que é simples, vai disfarçada de Ma-
teus. Vai se vestir de homem. Ninguém no novo emprego conhece Mateus. Ela
vai conseguir! Ainda mais se Elizabeto a ajudar com a maquiagem e produção.
Elizabeto acha aquilo meio louco, meio arriscado, mas não tem tempo para pen-
sar. Helena quer ver como fica vestida de homem bota o amigo para trabalhar.
Uma hora depois, a pessoa que levanta da cadeira é outra: um rapazinho. Sim-
pático, delicado, jovem, mas definitivamente um homem. Helena respira fundo
surpresa com a própria ousadia. Elizabeto ainda tem dúvidas. Digamos que es-
sa loucura funcione, e a parte prática do trabalho? Ela tem seu diploma, pode
não ter tanta prática, mas para isso conta com Elizabeto, que está lá e pode
ajudá-la. Depois, eles só farão isso até ganharem o processo que estão moven-
do contra a empresa que construiu o helicóptero. Pouca coisa. Um, dois meses.
Helena toma coragem e vai. Para seu espanto, ninguém repara nem um pouco
que ela é uma mulher se fazendo passar por homem. Todos parecem querer
apenas agradar ao novo chefe. Com a ajuda de Elizabeto, vai se desincumbindo
razoavelmente das novas atribuições, embora cause algumas atrapalhadas.
Como faz uma figura delicada, alguns funcionários insinuam que duvidam de
sua masculinidade – e aí Helena fica furiosa e não leva desaforo para casa. O
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medo dela é que descubram a farsa. Por isso, acaba passando por um homem
explosivo e meio complexado. Isso não impede que uma ou outra funcionária o
ache lindo, uma graça e sensível e comece a arrastar sua asinha para ela. E,
pior, que ela não resista uma olhadela um pouco mais ousada a algum homem
interessante que trabalha a seu lado.
E assim Helena vai levando sua dupla vida como pode. Esconder da vizinhança é
uma dificuldade, e uma ou outra fofoqueira já desconfia que ela tem um aman-
te (“nem esperou o defunto esfriar, imagina!”).
mente inclusive. Eles resolvem que Mateus deve se entregar e pagar o que de-
ve, mesmo sem advogado, livrando Guilherme da responsabilidade.
Débora e Alex, Márcia e Eduardo. Eram dois casais que não se conheciam. Até
que o destino juntou no mesmo acidente o médico Alex e a jornalista Márcia.
Os dois morreram e os viúvos, Débora e Eduardo, ficaram como ficam os viú-
vos, perplexos, arrasados, sem chão.
Débora era uma dona-de-casa. Nasceu para isso. Até tentou fazer outras coi-
sas, mas a única atividade extra em que ela se dava bem era o crochê que fa-
zia com perfeição. É claro que no mundo não há tanta demanda assim para cro-
chê, e sua produção se empilhava no armário dos fundos da casa, assim como
seus suspiros por uma vida mais romântica, menos previsível. Mas sinceramen-
te ela não estava esperando tanto. A tragédia da morte do marido a deixou
com uma mão na frente e outra atrás. Havia o aluguel para pagar, a filha para
sustentar, nunca tinha trabalhado na vida. E agora?
Débora conhece Eduardo nas reuniões das famílias das vítimas do helicóptero.
A simpatia é imediata e mútua. Da mesma maneira que a antipatia entre as
filhas deles é recíproca. Apesar das duas adolescentes viverem em pé de
guerra, Débora e Eduardo se aproximam e se consolam. Até que um dia a situ-
ação dela fica periclitante. Não há mais nada a vender. Então Eduardo chama
as duas para irem morar com ele e com a filha – com todo o respeito, é claro.
Uma coisa temporária, até que as duas conseguissem tomar pé na nova situa-
ção.
adora o jeito competente e amoroso com que ela cuida da casa e da família, e
também os paninhos de crochê que ela faz! Levou até um porta-papel-higiênico
para botar no banheiro do posto! Ele bem que não é um médico, que nem o fa-
lecido, mas é tão... sedutor! Leva flores, compra goiabada, que ela adora, e a
preocupação dele com a Fernanda? Nem filha de sangue é, até é bem mal-
educada com ele, mas Eduardo a ama como a uma filha. Dá uns “chega pra lá”
nela, mas bem que Fernanda anda precisando de limites nessa vida mesmo. O
pai não dava, ela foi se criando assim, solta.
Para Eduardo, Débora é também uma descoberta. Ele admirava a esposa fale-
cida. Márcia era uma jornalista. Eles haviam se conhecido no colégio e namora-
ram desde sempre. Ele a ajudou a bancar os estudos e sempre deu suporte.
Mas ele mesmo acabou seguindo um outro caminho. Herdou o posto do pai e se
integrou de tal forma ao negócio que não se via fazendo outra coisa na vida. O
fato é que ele e Márcia não eram exatamente um casal afinado, embora gos-
tassem um do outro. Havia brigas e desentendimentos, assim como algum res-
sentimento pelas diferenças culturais. Quando Eduardo encontrou Débora, viu
nela tudo o que gostaria de ver na sua esposa. Débora era calma, cordata, de-
licada, estava sempre “ali”. E como cozinhava bem! Tinha a filha complicada,
mas ele também tinha uma garota meio esquisita.
Débora e Eduardo resolvem ficar juntos, mesmo contra a vontade das filhas.
Acham que a belicosidade das duas adolescentes passará com o tempo e com
paciência.
Demora um tempo para que os seis envolvidos nesse conflito inusitado enten-
dam o que está acontecendo. Márcia volta para casa e vê outra mulher no seu
lugar. Alex volta pra casa e... descobre que não tem mais casa. As duas adoles-
centes ficam felicíssimas porque seus pais voltaram e tudo será como antes. E
Débora e Eduardo, que julgavam já ter passado por todos os perrengues da
viuvez inesperada e que agora estavam felizes juntos, descobrem que não, que
não são mais viúvos.
transforma praticamente numa república, onde cada um tem seu canto sepa-
rado.
O MILIONÁRIO E O FAVELADO
Robson estava na favela onde morava, batendo a terceira laje do dia quando
recebe a notícia: um primo distante havia morrido e deixado toda a sua heran-
ça para ele. Robson precisava aparecer lá o mais rápido possível. Robson ter-
mina sua laje, toma seu banho e ruma para o escritório do “doutor adevogado”.
Afinal, ele pensa, se um primo deixou seja lá o que for para ele, foi de bom
coração. E lá foi Robson, esperando trazer de volta uma mula velha, um saco
de roupas ou algumas panelas batidas.
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Quando chegou lá e descobriu o que havia herdado e por quê, quase tem um
treco. Seu primo de quarto grau, Olavo Pederneiras, havia morrido num aci-
dente de helicóptero e ele era o único herdeiro de toda a sua fortuna. Uma
mansão, para começar. Terras, imóveis, uma empresa de importação e expor-
tação de equipamentos de ponta de estética e beleza, coisas que Robson não
tinha a menor idéia de que sequer existiam.
Quem apresentou tudo isso a ele foi José Henrique, advogado e secretário de
Olavo. E um sujeito nem um pouco confiável. José Henrique imediatamente se
colocou como advogado de Robson e este deixou, já que parecia que ele e o
primo tinham alguma relação boa no passado. Robson já gostava muito desse
primo distante e não queria contrariar sua falecida alma, Deus a guarde. Mas
ele não gostava desse José Henrique, não.
Realmente, José Henrique não era confiável. Ele se achava no direito usurpado
de ter herdado os bens de Olavo, já que considerava que fizera muito pelo
milionário nos anos anteriores. Tinha convicção de que Olavo teria feito um
testamento beneficiando-o (e como ele procurou alguma cópia, um rascunhozi-
nho qualquer desse testamento), mas que o acidente o impediu de registrar.
De maneira que quando Robson tomou posse de toda aquela riqueza, José Hen-
rique começou a fazer de tudo para tirá-la dele.
Só que o pobretão era muito esperto. Não passava recibo, não era ludibriado
com boas maneiras, nada. Pior ainda foi quando Guilherme apareceu na vida
dele. Por mais que José Henrique tivesse feito de tudo para “abrir os olhos”
de Robson, os dois estabeleceram uma amizade sólida, concretizada na reali-
zação de um programa de tv cujo projeto Olavo havia deixado incompleto.
A trajetória de Robson como novo rico tem altos e baixos. Desde o deslum-
bramento inicial, o mostrar a casa aos amigos, às crises de solidão, às cente-
nas de solicitações batendo à sua porta, convites para festas da sociedade,
programas de tv, o ridículo e a zombaria, o abandono pelos amigos pobres. O
pior de tudo foi o término do namoro com Rakelly, sua namoradinha desde
sempre. Isso acontece quando ele conhece Sheila, namorada de José Henrique,
que é insinuada de maneira melíflua na vida de Robson. É somente Sheila quem
consegue virar a cabeça do nosso ex-favelado e deixá-lo desprotegido nas
mãos do inescrupuloso José Henrique. O advogado toma tudo de Robson.
Olavo volta para o que não tem mais. Robson perdeu tudo. Olavo não acredita.
Não acredita que a vida possa ser tão madrasta com ele, um cara que sempre
cultivou a beleza, as coisas boas, que nunca fez mal a uma mosca... (não fez
bem também, mas isso é outro assunto). Seu helicóptero cai, ele quase morre,
passa meses numa droga de uma ilha deserta que nem banheiro tem, e quando
volta tem um favelado fechando o que restou de sua casa? Todo o seu patri-
mônio ardilosamente roubado pelo homem que ele ajudou a vida inteira, seu
advogado e secretário José Henrique?? Se isso quer dizer alguma coisa, ele
desespera, alguém tem que desenhar, que assim não dá pra entender.
Então Robson convence Olavo de que eles têm que batalhar juntos para recu-
perar o dinheiro de Olavo. Que história é essa, deixar aquele pilantra do José
Henrique com todos os louros? E com a loura também, já que Sheila voltou pa-
ra ele.
E então os dois vão. Juntos, braços dados, rumo ao infinito e além, rezando
para que em algum momento as coisas comecem a dar certo!
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PERSONAGENS DETALHADOS
NÚCLEOS E FAMÍLIAS.
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PERSONAGENS
OS RICOS DE IPANEMA.
GUILHERME MEDEIROS
Nosso herói é bem egocêntrico, sim. Não gosta que desarrumem sua rotina tão
bem organizada em volta dele próprio e de seu trabalho. Guilherme nunca pre-
cisou dividir sua vida, suas coisas. Nunca sentiu essa necessidade. Ele não tem
nem plantas em sua casa. Embora goste de seus poucos amigos, mal sabe o que
acontece na vida íntima deles. É muito mulherengo, sedutor, uma arte na qual
ele é mestre sem fazer força. Guilherme é bonito e usa isso. Casamento ja-
mais passou pela sua cabeça. Para quê? Guilherme só vive o presente.
Guilherme escolheu ser engenheiro aeronáutico porque desde muito novo ado-
ra consertar aparelhos. Elétricos, eletrônicos, mecânicos, tanto faz. Desde os
mais simples, como ferro de passar, até as mais sofisticadas, como um laser
de última geração. E sempre, mesmo que demore um pouco, consegue fazer
tudo funcionar. Mas o problema é que quando se imbui desse tipo de tarefa,
sua concentração é tamanha, que nada o faz parar. Mesmo coisas bem mais
urgentes ficam em segundo ou terceiro plano quando ele está concentrado nos
seus gadgets. Nestes momentos (e apenas nestes), Guilherme é um distraído.
Dominique – e nunca se sentiu responsável por nada antes em sua vida. Mais do
que responsabilidade, Guilherme ama pela primeira vez: as crianças e Valentina.
E em sua caminhada, vai encontrando mais pessoas, as famílias das vítimas do
helicóptero que ele construiu e caiu, vai se envolvendo, vai entendendo que ele
não é a única pessoa no mundo – e vai gostar disso.
NORMA GUSMÃO
De família rica, ela foi educada para só querer o melhor do melhor. Por isso
rejeitava Guilherme quando ele ainda era um estudante pobre: não por causa
dela, mas pela pressão da própria criação. Mas assim que melhora de vida, ela
se dá a liberdade de se apaixonar de verdade. Só que aí é muito tarde. Ele já a
vê como um amigo, o que não é difícil por causa dos tailleurs escuros que ela
sempre veste. Esse amor frustrado e as humilhações que ela julga que passou
a deixam furiosa com Guilherme. Ela trabalha na mesma empresa que ele e
quando um concorrente oferece suborno para ela prejudicar o projeto de Gui-
lherme – que renderia milhões à fábrica, além do prestígio internacional -, ela
vê aí uma oportunidade de se vingar do homem que sempre a rejeitara. Além,
claro, de ganhar uma fortuna. Mesmo assim, Norma não consegue tirar Gui-
lherme da cabeça e continua perseguindo-o. Mente, engana, dissimula, sabota.
Ela quer que Guilherme perca tudo e fique nas mãos dela e não vai sossegar
enquanto não conseguir seu intento.
Norma tem um gato. Preto, que todos acham que dá azar, mas ela ama. Pura
carência, claro. Depois de quebrar a cara algumas vezes, ela começa a olhar
para o gatinho enviesado. Será que devia ter escolhido um gatinho branco??
Chega a botar o gato pra fora, tenta se livrar dele despachando-o na porta de
uma vizinha, mas ele sempre volta... E ela o aceita, afinal é seu ponto fraco.
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RAUL FREIRE
Uns 35/40 anos. Melhor amigo de Guilherme. Bem ao contrário do amigo, Raul
é um cara com uma alma bem feminina (não, não é gay). Ele gosta das pessoas,
valoriza os sentimentos, é um romântico, intenso, passional. Até o momento,
ele dedicou toda essa paixão à Norma, mas nunca teve coragem de se declarar.
Ele sabe que ela é apaixonada por Guilherme, embora não saiba quanto. Ele a
vê de uma maneira idealizada, e só vai cair na real quando ela o usar desaver-
gonhadamente. Raul se ressente do que ele considera frieza em Guilherme,
que é nada mais que o egocentrismo do amigo. Mas gosta muito de Guilherme e
ficará ao seu lado para o que der e vier. Raul é fiel. Ele só tem um probleminha,
mas bem pequeno. É extremamente sensível a odores. Por isso acabou esco-
lhendo a carreira na informática, um lugar onde não há cheiros. Alérgico, ele
pode passar dias espirrando se sente um cheiro muito forte. Mas tem um
cheiro que ele adora: o de Norma. Além disso, Raul é peladeiro profissional.
Talvez a única paixão que rivalize com a que sente por Norma. Por causa das
peladas, ele esquece os compromissos mais importantes. E não raramente
comparece a outros todo enfaixado, conseqüência de uma entrada mal-feita
ou uma falta bem-feita. Raul vai ser um apoio importante para Guilherme em
sua nova vida. Também vai ajudar bastante Klaus, o adolescente complicado e
rebelde, que jamais pensará que o doce Raul pode ser bem capaz de atitudes
radicais.
CRISTIANO RONALDO
nariz, o queixo, esticar o pescoço. Vende seu peixe como ninguém e por isso é
um dos cirurgiões mais disputados da cidade.
FAMÍLIA AMARANTE
Em torno de 25/30 anos. Órfã desde cedo, abandonada pela mãe, ela lutou e
se formou em dermatologia. Por isso o sobrenome “Da Silva”, dado aleatória-
mente no orfanato. Quando ela descobre que o nome da mãe é “Amarante”, se
toma de amores por esse nome e luta para assiná-lo como seu. Talentosa, habi-
lidosa, é o contrário de Guilherme: sempre quis pertencer a alguém, a alguma
coisa. Ela sempre quis ter uma família de verdade. É romântica, carinhosa,
humilde, mas decidida. Leva desaforos para casa até certo ponto.
Não sendo uma pessoa vaidosa, Valentina também não despreza a própria apa-
rência. Por isso não concebe sair de dia sem filtro solar e, à noite, gasta sem-
pre um bom tempo exercitando sua habilidade em se maquiar sem deixar ves-
tígios. Claro que isso a torna também extremamente observadora do estado
da pele alheia. Alguns homens quando aproximam o rosto do dela acabam des-
cobrindo que tem acne, ou dermatite seborreica, ou caspa nas sobrancelhas.
Mas é uma crítica saudável, para a qual ela tem remédio, naturalmente. Essa
mania da Valentina já custou a ela alguns rompimentos. Muitos homens se sen-
tem inseguros com uma mulher capaz de achar “caspa em sobrancelha.” Mas
ela não consegue se controlar. Não deixa passar nada, mesmo que isso lhe cus-
te o namorado.
Seu grande sonho de menina é conhecer a mãe, Sônia, que ela idealiza. Quando
conhece Guilherme e seus meio-irmãos, Klaus e Dominique, acha que finalmen-
te tem a família com que sempre sonhou. Quando ela briga com Guilherme e
ela é obrigada a se separar dos irmãos momentaneamente, Valentina descobre
outra família: a de Ivete, a cabeleireira do Bairro de Fátima. É apoiada na fa-
mília de Ivete que Valentina vai lutar para ter seus irmãos sob sua guarda e,
finalmente, formar sua tão querida família.
Mas Valentina também é aficionada por seu trabalho. Sabe que é boa médica e
acredita no que faz. No início de nossa história, ela ainda é insegura, muito por
causa do patrão, Cristiano Ronaldo, que cultiva o medo nos seus funcionários e
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SÔNIA AMARANTE
KLAUS AMARANTE
se um pouco criança ao lado daquela garota tão assertiva. Com Luisa, os papéis
se invertem, ele é o protetor, é o conselheiro. Ela espera tudo dele. Como nem
mesmo Klaus sabe o que quer da vida, vai viver entre esses dois amores.... até
ser confrontado com Felipe e Anderson, que têm estilos de vida completamen-
te diferentes. A convivência vai ser conturbada de início, mas Klaus acabará
aprendendo muito com os outros rapazes, mais práticos, mais vividos mesmo
para sua pouca idade. Klaus vai acabar se metendo em problemas com a polícia,
fruto de sua inexperiência mais do que tudo.
DOMINIQUE AMARANTE
10 anos. Garota que teve que crescer rápido para fazer face à falta da mãe
(que mesmo quando era viva não era exatamente uma mãe exemplar), e à dis-
plicência do irmão mais velho. Transformou-se numa pequena dona-de-casa,
mas obviamente com todas as deficiências e limitações de uma menina de 10
anos. Ela quer muito parecer adulta, e é de certo modo. Dominique faz logo
amizade com Guilherme e não o culpa pela queda do helicóptero que matou a
mãe. Madura nesse sentido, ela acha que tudo foi uma tragédia dessas sem
muita explicação. Mas não se livra do trauma. Desde essa época, ela tem algu-
mas pequenas crises de pânico, nas quais dá uma espécie de “congelada’ e tem
“brancos” rápidos, com efeito mais cômico do que qualquer coisa. Aos poucos,
com a ajuda de Guilherme, ela vai superando esse trauminha. Embora o ex-
engenheiro adore a menina, ele fica algumas vezes preocupado. Dominique é
muito sincera. E fala na lata. Sem medir conseqüências. Então ele precisa con-
trolar muito bem as condições de temperatura e pressão antes de deixar a
menina ir para qualquer lugar ou sozinha na frente das visitas. Mas, ao mesmo
tempo, ela é uma alegria para o atormentado ex-engenheiro. É através de Do-
minique que ele vai chegar a uma das famílias que prejudicou, a família de He-
lena e Mateus.
FAMÍLIA SANTOS
IVETE SANTOS
Uns 45 anos. Adora ser reconhecida como a Ivete “Chiclete”, uma ex-
chacrete do programa de Abelardo Barbosa, o Chacrinha. Na verdade foi a
chacrete mais desconhecida do antigo programa. Ninguém lembra dela. Talvez
porque só tenha dançado uns dois dias, quebrando o galho, substituindo uma
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amiga que ficou doente. Mas foi o suficiente para Ivete tirar fotos com todos,
e achar que conquistou seus 15 minutos de fama. Seu salão de cabeleireiro, o
Belezoca, no bairro de Fátima, é cheio de fotos suas com o velho guerreiro e
vários cantores da antiga como Odair José, Valdick Soriano, Claudia Barroso,
etc... Com temperamento expansivo, a cabeleireira não gosta de ver ninguém
triste a seu lado. Mas Ivete guarda um grande segredo: é careca, conseqüên-
cia de uma doença que teve há alguns anos. Sempre troca de peruca sem que
ninguém veja e todos acham que ela é a mais rápida e criativa cabeleireira do
mundo!... Mulher batalhadora, Ivete nunca deixa a peteca cair. Com seu estilo
de perua brega e moradora numa vila no mesmo bairro onde tem o salão, ela
está sempre alegre e inventando uma novidade para atrair clientes. Desde que,
claro, não tenha que gastar dinheiro. Ivete é muito econômica. Precavida, co-
mo ela diz. O fato é que conseguiu juntar um belo pé-de-meia para realizar um
sonho de juventude: abrir uma bela clínica de estética na Zona Sul! Quando
conhece Valentina, Ivete vê ali uma oportunidade real de mudar sua vida. Per-
cebe que a nossa heroína é uma mulher decidida e talentosa. Então Ivete de-
cide investir a economia de anos, numa clínica de estética, em Ipanema, a Flor
da Pele. Valentina entra com seus conhecimentos e Ivete com o capital e o ge-
renciamento. É claro que nossa cabeleireira perua vai ficar muito decepciona-
da ao ver que o décor da clínica é todo high tech, cheio de aço e cores... “sem
graça”. Volta e meia ela contrabandeia para dentro um paninho de renda ou
uns vasos coloridos que compra nessas lojas chinesas e acha lindos. Valentina
tem o maior trabalho para driblar aqueles caprichos da cabeleireira.
RAKELLY SANTOS
Uns 25 anos. Filha de Ivete, manicure. Muito mais do que uma manicure. Rakel-
ly é uma PHD em unhas, uma antropóloga das unhas. Ela sabe tudo sobre o as-
sunto. O esmalte que fica melhor, a forma mais bonita, detecta doenças só de
olhar as unhas, assim como detecta o caráter do proprietário das unhas. Mas o
brilhantismo dela vai até aí. Do resto, Rakelly deixa muito a desejar. É burra
como uma porta, mas um encanto de pessoa. O sonho de Rakelly é ser dançari-
na do Faustão e repetir o feito da mãe, que dançou no Chacrinha. Vai fazer
qualquer coisa pra alcançar seu objetivo. Namora o humilde Robson, um pe-
dreiro gente boa, que mora numa favela, embora ela ainda não saiba disso, e
acha que ele não entende seu sonho. Rakelly não tem muitos amigos e desen-
volveu o hábito de falar com coisas. Sua melhor amiga é uma bolsa que ela leva
para todos os lugares. Mas também fala com cadeiras, espelhos, vassouras e o
que mais esteja disposto a “ouvi-la”. Quando Robson fica rico, ela acha que ele
vai ajudá-la a dançar no Faustão e fica decepcionadíssima ao ver que o amado
só quer casar e ter filhinhos. Fica mais decepcionada ainda quando Robson a
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troca pela gostosa Sheila. Então vai usar toda a sua energia e os conhecimen-
tos estéticos de Valentina para reconquistar o amado.
ANDERSON SANTOS
Aparenta ter uns 30 anos, mas a idade certa ele não revela nem morto. Único
e melhor amigo de Helena, especialmente após a morte do marido dela. Eliza-
beto é assistente de farmácia e ajudante de Mateus Astragão, nas suas pes-
quisas. Elizabeto é um gay um pouco afetado, um pouco egoísta, vaidoso, mas
nada muito grave, só o suficiente para que ele se meta em algumas situações
engraçadas. Odeia o nome Elizabeto, prefere ser chamado de Jorge, mas
sempre alguém acaba descobrindo e caindo em cima dele. Trabalha como as-
sistente farmacêutico na clínica de Cristiano Ronaldo Pontes e faz um bico na
equipe de maquiagem no salão de Ivete. É Elizabeto quem vai ajudar Helena,
quando chegar o aviso do emprego no laboratório da clínica de Cristiano Ronal-
do, para seu marido. Graças às dicas sobre farmacêutica e a maquiagem de
Elizabeto, é que Helena vai tomar o lugar do marido e assumir o emprego. Eli-
zabeto tem um segredo no passado desconhecido até para ele e que vai cair
como uma bomba no seu presente: ele é pai de Anderson. A paternidade foi
fruto de um deslize proporcionado por excesso de comemorações numa festa
distante 17 anos. Ivete, a mãe de Anderson, nunca contou isso para nenhum
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dos dois. Quando descobre tudo e começa de boa-fé a tentar ser um pai como
ele acha que um pai macho deve ser, vai entrar em muitos e muitos conflitos.
FAMÍLIA ASTRAGÃO
HELENA ASTRAGÃO
MATEUS ASTRAGÃO
HUGO ASTRAGÃO
curada, ele é preservado ao máximo pela mãe e por todos adultos em volta. O
resultado é uma existência quieta e infeliz, apesar do carinho da mãe. Ele faz
amizade com DOMINIQUE, que acaba sendo o único respiradouro dessa in-
fância chata. Hugo é uma criança muito infantil para a idade. Por causa da do-
ença, não desenvolveu a mínima independência. É a mãe que prepara o seu milk-
shake, amarra o seu sapato, compra bonecos de super-heróis no aniversário
dele (e ele adora!). Ao conhecer a independente Dominique, o menino começa a
mudar. Dominique diz coisas como: “é a sua mãe que escolhe a sua roupa???
Não acredito! Faço isso sozinha desde três anos!” Isso assusta um pouco He-
lena. Ela se sente insegura, como se o filho fosse escapar da sua proteção e,
assim, correr mais riscos.
Uns 45 anos. Trabalha há uns sete com Guilherme. Ele não sabe o seu nome,
porque nunca se interessou. Por isso a chama apenas de “meu bem”, mas ela
sabe bem que ele não tem a menor idéia de quem ela é, do que faz, do que gos-
ta. Para Guilherme Meu Bem é apenas um utensílio doméstico. Ela nunca teve
filhos, por mais que tentasse. Por isso, quando Guilherme a chama para traba-
lhar com ele novamente, no auge do desespero como dono-de-casa, ela só acei-
ta porque se apaixona pelas crianças. Afinal, seu trabalho vai triplicar e seu
salário cair pela metade. Mas diz que só vai ensinar a Guilherme a ser um bom
dono-de-casa e depois vai embora. Mas vai ficando, ficando... Durante um
tempo, ela trabalha em duas casas para completar o salário: na de Norma e na
de Guilherme. Além disso, ela tem um marido dinamarquês que a explora. Meu
bem é louca por aquele viking de cabelo louro e olhos azuis.
ERIK JENSEN
Uns 40 anos. Dinamarquês malandro que fugiu de seu país por conta de alguma
confusão que armou por lá. É um encostado espertalhão que vive às custas de
Meu Bem. Casou-se com ela apenas para obter a cidadania brasileira e não ser
mandado de volta para a Dinamarca, onde responde a um ou dois processos.
Não é exatamente lindo, mas seus olhos azuis e cabelo louro mexem com as
brasileiras. Assim foi com Meu Bem. Vive fazendo bicos, apenas para calar a
boca de Meu Bem. Também dá aulas de dinamarquês para qualquer um que
consiga convencer de como o dinamarquês é importante no mundo atual. Além
52
disso, Erik gosta de tocar pandeiro (muito mal!) o dia inteiro. O que deixa Meu
Bem, sua mãe, e toda a vizinhança (a vila onde moram) irritados.
Cerca de 65 anos. Mãe de Valmiréia. Não gosta, detesta, o genro. Vive buzi-
nando no ouvido da filha: gringo bonito, cheio de malandragem, que vem parar
no Brasil boa coisa não é! Está sempre provocando o genro, que devolve falan-
do qualquer coisa naquela língua esquisita. Meu bem sai em defesa da mãe, mas
Eric logo se safa, inventando que estava só elogiando o penteado da velha ou
qualquer outra mentira bem cara de pau, ao melhor estilo nórdico trambiquei-
ro. Maria é acompanhante de idosos e um pit bull na vida de Erik. Ela acha que
seus velhinhos em estado terminal, se mexem mais do que o genro boa vida.
Vive tentando arrumar um emprego decente pro marido da filha, que sempre
vai arranjar um jeito de se livrar do trabalho pesado. Mais tarde vai vasculhar
o passado do genro e tentar extraditá-lo de volta pra Dinamarca.
CATRINA BARBOSA
tes. Além disso, é magra “de ruim” e não pára de comer. Acha que é uma fra-
cassada. E velha.
FELIPE CASCUDO
OS REMEDIADOS DE LARANJEIRAS
DÉBORA BORGES:
De repente, Débora está sem trabalho, tendo que sustentar a filha adolescen-
te, pagar o aluguel, contas, comida. Coisas com as quais ela jamais se preocu-
para. Nem o cheque da conta conjunta ela sabia preencher. Há anos fora do
mercado de trabalho, desatualizada, ela tenta algumas coisas, mas nada dá em
nada. Até que encontra Eduardo, que passou por uma situação semelhante à
dela: perdeu a esposa no mesmo acidente de helicóptero. E ele também tem
uma filha adolescente para sustentar! Eduardo a surpreende. Ele dá valor a ela.
Acha-a linda. Admira-a. Coloca logo no seu banheiro o lindo porta-papel higiê-
nico feito em crochê, encomenda paninhos para uma tia velha e acha lindo o
cinto colorido que ela mesma fez. A sensibilidade daquele homem simples, que
dá valor a esse talento de família, começa a conquistar a dona de casa.
O casal se apaixona e Débora começa a descobrir alegrias na vida com as quais
nem sonhava. A grande pedra no sapato é sua própria filha, Luisa, que não se
conforma com a passividade da mãe e acha que aquele casamento não só foi
precipitado, mas foi de conveniência porque a mãe não tinha coragem de se
lançar ao mundo e conquistar sua própria independência. Além disso, odeia E-
duardo, odeia a outra garota e odeia tudo.
ALEX BORGES
Médico ginecologista que há alguns anos deu uma guinada na vida. Estudou me-
dicina estética e se apaixonou pelo assunto. É um homem que gosta da família,
mas que sempre priorizou o trabalho. Antes de morrer no acidente do helicóp-
tero, estava escrevendo um livro, a obra da sua vida. Ele pesquisou a “estética
popular do Brasil”. Percorreu o país inteiro e colheu receitas de beleza e cura,
desde os indígenas, até dicas das favelas da grande cidade. Foram anos de
pesquisa por água abaixo, depois do acidente. Mas seu livro será publicado e aí
muitas outras confusões virão.
FERNANDA BORGES
Em torno de 17 anos. Não leva desaforo para casa. Mas não precisa levar: ela é
bonita, linda, encantadora. Uma garota do seu tempo, carinhosa, com preocu-
pações políticas e ecológicas. Mas ela não é perfeita: tem noção do que é e
orgulho disso. Acha que a sua visão de mundo é a certa e não consegue deixar
de criticar quem tem opinião contrária. Por isso, implica com Luisa, uma garota
do colégio que é arredia, que a critica muito. Fernanda acha que Luisa é um
bicho-do-mato complexado e Luisa acha que Fernanda é uma galinha superfici-
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EDUARDO PASSOS
MÁRCIA PASSOS
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Cerca de 30 anos. Jornalista de moda e beleza, que tinha uma coluna regular
num caderno feminino de um grande jornal. Tinha um projeto em andamento,
que era a construção de uma escola de beleza e estética para jovens carentes
na comunidade vizinha à sua casa.
LUIZA PASSOS
Algo em torno dos 17 anos. Uma menina tímida, que se acha mais feia do que
realmente é. Ressentida em relação ao pai, porque ele sempre dizia que ela já
era linda e não a ajudava em suas inseguranças. A própria personalidade dele
sempre a esmagou. Também gosta muito da mãe, que sempre foi uma amiga e
sua maior confidente. Luiza não tem muitos amigos, porque é muito retraída.
Mas ela sonha muito. É muito romântica e perde horas e horas olhando para o
nada e sonhando lindas histórias de amor. É uma garota inteligente e tem ver-
gonha de ser tão romântica. Disfarça como pode e acaba às vezes sendo a-
gressiva. Sua insegurança faz com que veja em pessoas diferentes uma amea-
ça. Por isso tem horror de Fernanda, sua colega de classe, que ela considera
uma “galinha metida”. Para seu horror, as duas são obrigadas a morar juntas.
Pior ainda, elas se apaixonam pelo mesmo garoto, Klaus. Para ela, seu namoro
com Klaus é história de fadas, era o príncipe encantado que esperava.
OLAVO PEDERNEIRAS
Tem uns 50, 55 anos e desaparece no desastre do helicóptero junto com Sônia
e os outros três passageiros. Bem conservado, milionário, solitário, tradicional
morador de uma imensa mansão no Cosme Velho. É dono de uma bem-sucedida
importadora de produtos e maquinaria relacionadas ao ramo da estética. Fino
e sofisticado, gosta do bom e do melhor e aproveita muito bem a vida e as coi-
sas boas que o dinheiro pode comprar. Não sabe exatamente por que não se
casou nem teve filhos. Talvez sua vida tenha sido sempre tão boa que nem te-
ve tempo para pensar nesses assuntos. Por conta de sua vida profissional bem-
sucedida, é um pouco arrogante, o que o torna um pouco antipático aos outros.
Olavo é vaidosíssimo. Seu armário é cheio de Armanis, e ele tem uma incrível
coleção de sapatos e colônias inglesas. Excêntrico, usa um terno duas ou três
vezes e logo dava para José Henrique que, ao invés de ficar agradecido, senti-
a-se humilhado. Ao decidir fazer um programa de televisão, estava unindo o
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útil ao agradável: além de exercitar sua vaidade, fazendo ótima figura diante
das câmeras, promoveria o negócio que o enriqueceu.
ROBSON SILVEIRA
SHEILA CABRAL
pouco irritante, que é falar sempre aos gritos ao celular em qualquer lugar que
esteja. Mas não há quem a convença de que meio metro não é uma distancia
imensa, nem que o bocal do telefone é perfeitamente adaptado para uma con-
versa em tom normal. Sheila agora é instrutora de dança de salão, adora dan-
çar e tenta sempre fazer Robson, que é tímido, gostar de dançar com ela.
Sexo para ela não é trabalho, é diversão, esporte, mas se der dinheiro e aju-
dá-la a melhorar de vida, fica mais excitada
Quando conhece Robson, aceita entrar no jogo de José Henrique para recupe-
rar” o dinheiro que acham que é de direito dele. Mas até que seduzir Robson
não é um trabalho tão penoso assim para ela, bem ao contrário. Tenta não dar
muita bandeira para José Henrique, mas volta e meia deixa escapar um furo,
fazendo comparações sobre a “performance” dos dois o que irrita profunda-
mente José Henrique. É insuportável saber que além de ter ficado com a gra-
na de Olavo, Robson, aos olhos de Sheila, é mais “homem” que ele.
SUZY ROCHA
Em torno de 30 anos. Perua rica e que não faz nada. Freqüenta todas as clíni-
cas de estética, sempre falando mal de uma para a outra. Grande amiga de
Norma, embora não seja tão má quanto esta. Mas adora uma fofoca! Enfim,
uma mulher rica, fútil e inútil com um segredo guardado a sete chaves. Vem de
família muito humilde, ficou rica num golpe que deu em seu primeiro marido e,
pior de tudo, é irmã de Sheila!!!
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