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REDE GLOBO

apresenta

BELEZA PURA
(título provisório)

novela de

ANDREA MALTAROLLI

Supervisão de texto

SILVIO DE ABREU

19 HORAS
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SINOPSE
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BELEZA PURA
(título provisório)

GUILHERME tem mais de quarenta anos. É um bem-sucedido engenheiro ae-


ronáutico de uma grande montadora de helicópteros. Ele acabou o maior pro-
jeto de muitos anos da fábrica. Um novo motor, capaz de gastar muito menos
combustível. Centenas de novos aparelhos foram vendidos, o modelo é um su-
cesso internacional. GUILHERME é bonito, charmoso, mulherengo, solteiro,
bem-humorado, egocêntrico. Está acostumado a uma vida de alto padrão de
conforto. As mulheres caem por ele. GUILHERME tem sempre várias alterna-
tivas de conquista à mão, enquanto sai com outras.

Uma ainda não caiu na conversa dele. E é dessas que ele gosta mais. Nada co-
mo um desafio na vida de GUILHERME, especialmente quando o desafio é uma
mulher. É a vizinha de prédio, a moradora do primeiro andar, SÔNIA, uma mu-
lher no esplendor de sua beleza. Ela é ranzinza, ambiciosa, egoísta e muito
prepotente. Tem dois filhos, KLAUS de 16 anos e DOMINIQUE de 10, mas
não está muito aí para as crianças. Freqüentemente esquece a hora de buscá-
los no colégio e eles acabam na rua. Com exceção das vezes em que acabam na
casa de GUILHERME por conta disso. Não que ele abra a porta, porque está
sempre fora, trabalhando (e se não estivesse arranjaria uma péssima desculpa
para não abrir). Mas sua empregada deixa as crianças entrarem, para desgos-
to dele, que não gosta de “surpresas” na sua rotina tão bem organizada em
torno de si mesmo. Mas GUILHERME quer conquistar a mãe – ou pelo menos
dar uma saidinha com ela. E por isso se esforça para engolir a bagunça que as
crianças deixam quando vão embora.

GUILHERME costuma acordar ao som do techno bombardeado pelas potentes


caixas-de-som. Imediatamente, enquanto se espreguiça, tudo em sua confor-
tável cobertura começa a funcionar: a cafeteira, a torradeira, o chuveiro es-
quenta a água, o computador busca os emails, o porteiro lustra seu BMW, a
empregada, VALMIRÉIA, da qual ele não sabe o nome e só a chama de “Meu
Bem”, chega e começa a fazer sua vitamina de frutas. É a única coisa caseira
que ele ingere. De resto, passa com sanduíches ou restaurantes. A vida é cor-
rida, o trabalho toma quase todo o tempo. Mas ele adora seu trabalho. Vive
para aquilo. GUILHERME sempre acorda de bom-humor. Afinal, sua vida é ó-
tima e nada pode dar errado.

E então, tudo dá errado ao mesmo tempo.


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COMO TUDO DÁ ERRADO AO MESMO TEMPO:

Um dos novos helicópteros projetados por GUILHERME funde o motor. O


mesmo problema acontece em São Paulo. E também na França, para onde fo-
ram vendidos alguns aparelhos. Todos os novos modelos têm que ser recolhi-
dos. O prejuízo é imenso, milhões de dólares. GUILHERME vê repentinamente
sua vida profissional ir pelo ralo.

Além disso, o presidente da empresa o flagra numa posição para lá de com-


prometedora com sua mulher. GUILHERME é demitido. O presidente jura que
ele nunca mais arranjará emprego no país. E nem em nenhum país onde a em-
presa tem fábrica.

Com isso, GUILHERME é impedido de voltar para ver seus projetos. Ele es-
braveja, nenhum projeto dele jamais deu errado! Tem certeza de que a culpa
não é dele! Mas é jogado na rua pelos seguranças. Sem entregar os pontos,
GUILHERME apela para sua grande amiga e também engenheira dentro da
empresa, NORMA. A amiga consegue ver os projetos, analisa tudo e... confir-
ma para GUILHERME que houve sim um problema de cálculo. Coisa pequena
que ele deixou passar, mas o suficiente para que a empresa faça um recall.
Talvez por causa do stress, talvez por causa do cansaço, talvez por causa das
mulheres que ele não larga, alfineta. NORMA tenta consolá-lo, mas em vão. Já
RAUL, seu melhor amigo e gerente da área de informática da empresa, tem
uma idéia melhor: leva GUILHERME para beber e tentar esquecer as mágoas.
Isso dá um pouco mais certo.

Algumas horas depois, atordoado, GUILHERME vai para casa.

GUILHERME encontra com SÔNIA, a vizinha que, subitamente, está muito


amável com ele. Confuso com tudo o que aconteceu e praticamente obrigado
pelo inefável DNA masculino, GUILHERME se deixa envolver sem questionar o
milagre, já que a santa era boa. Alguma coisa tem que dar certo hoje! Ela o
leva para a casa dela. Tomam vinho, o clima esquenta.

Quando GUILHERME acorda, horas depois, vê SÔNIA chorando sentada na


cama. Confuso ele pergunta o que houve. SÔNIA explica que precisa viajar
para um trabalho muito importante, mas não tem ninguém nesse mundo, quem
ficará com seus filhos? Eles não têm família, avós, tios, nada. São sozinhos no
mundo. Acuado pelos próprios hormônios, ele jura que fica com as crianças,
afinal são apenas dois dias, né? Ela pensa muito rapidamente... e aceita a gen-
tileza dele! GUILHERME sorri satisfeito, mas antes que ele relaxe, ela vai
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para o quarto e volta com a mala, despedindo-se. Na volta, promete com um


sorriso inflamado, ela vai agradecê-lo como ele merece. GUILHERME, que tal-
vez por causa da bebida e da tensão não lembra da primeira transada, ainda
tenta requentar o clima, segura-a pela mão sedutor e pergunta “como?”. Mas
SÔNIA se desvencilha, avisando que as instruções sobre as crianças estão
num papel grudado na geladeira. Até domingo à noite! E prepare-se!

GUILHERME acorda com os garotos olhando para ele. O final de semana é


conturbado. Ele nunca cuidou de crianças ou de adolescentes. Na verdade,
GUILHERME nunca cuidou de ninguém além dele próprio. Depois, a tv só fala
do recall dos helicópteros e do fiasco do motor. A montadora está processan-
do GUILHERME por negligência e divulgando para todo o mercado que ele era
o engenheiro-chefe e autor do projeto fracassado, uma vergonha para o país.
Isso com direito a fotos dele nos jornais especializados. GUILHERME acha
que está no fundo do poço. KLAUS e DOMINIQUE não sabem o que está a-
contecendo, mas têm uma certa admiração por aquele homem de quem só co-
nhecem a casa, e que casa ! De maneira tímida os dois é que acabam cuidando
do engenheiro. Ou melhor, ex-engenheiro. Fazem sanduíches, compram refri-
gerantes, arrumam uma cama para ele. Em alguma parte relegada do cérebro
ele registra os cuidados. Em alguma parte empoeirada do coração ele fica co-
movido.

Mas então o fundo do poço fica mais embaixo.

SÔNIA não volta na data marcada e seu celular não atende. Então, no domingo
à tardinha, ele assiste no telejornal local a notícia de que outro helicóptero
havia caído e desaparecido, desta vez em alto-mar. Pelas buscas conclui-se que
não havia sobreviventes dentre os quatro passageiros e o piloto. E entre os
mortos, SÔNIA AMARANTE. O helicóptero era um dos que usava o motor
projetado por ele.

CULPA, CULPA, CULPA!

O choque é demais para GUILHERME. Mas nada é pior do que a cena pela qual
ele teve que passar, um déjà-vu do que já havia acontecido em sua própria his-
tória. Foi quando ele teve que entrar no quarto dos meninos para contar que a
mãe estava morta. GUILHERME passou por aquilo quando tinha a mesma idade
de KLAUS. A tia entrou no seu quarto para avisar que os pais haviam morrido
num acidente de carro. GUILHERME ainda lembra que só tomou consciência
do que havia acontecido alguns dias depois. Depois do enterro, depois das fé-
rias, no primeiro dia de aula, sua mãe não foi acordá-lo como costumava fazer.
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Então ele entendeu que não tinha mais os pais. E agora lá estava ele. Dando a
mesma notícia para outro rapazinho, que o olhava com o mesmo olhar atônito,
incrédulo, e que assim ficaria até que um dia acordasse e entendesse que ago-
ra estava sozinho. A diferença é que, se não fosse por ele, GUILHERME, a
mãe das crianças ainda estaria viva. Nem queria pensar na reação delas se
soubessem que ele havia construído aquele helicóptero defeituoso. E, ao pen-
sar nisso, ele não consegue deixar de voltar a pensar em como ele tinha come-
tido um erro... ele nunca tinha cometido nenhum erro! Mas, por mais que se
esforce, nada vêm à cabeça. Está feito. Sua vida estava acabada. E as daque-
las pessoas também.

Consumido pela culpa, GUILHERME não tem nem tempo de ficar deprimido,
pois precisa consolar e cuidar das crianças. E agora? Eles não têm família, vão
acabar indo para um orfanato. Pior, estão totalmente endividadas, porque
SÔNIA investira tudo o que tinha e bela parte do que não tinha num novo ne-
gócio. A viagem, ele descobre, era para conseguir um novo empréstimo.

As famílias das vítimas processam a empresa fabricante do helicóptero – e


esta processa GUILHERME. Assim inicia-se um daqueles históricos e inacabá-
veis processos judiciais, com o qual GUILHERME terá que lidar ao longo de
toda a sua aparentemente triste história.

Depois de muito pensar e sofrer, GUILHERME resolve que vai fazer de tudo
para adotar as crianças. Elas concordam. Ele dá entrada na papelada. GUI-
LHERME consegue a guarda provisória dos filhos de SÔNIA. Ele nem tenta
contar sua versão sobre o helicóptero para as crianças. Sabe que algum dia
esse assunto será inevitável, mas já é o bastante agora para ele e para os me-
ninos terem que conviver com a falta de SÔNIA.

GUILHERME achava que com isso estaria apaziguando sua consciência. Mas,
contra todas as suas expectativas, não é o que acontece. Ele sonha com SÔ-
NIA e com os outros mortos que nem conheceu, mas viu as fotos na televisão
e nos jornais. Pesadelos horríveis, nos quais eles o acusam de ter cortado suas
vidas pela metade, de tê-los impedido de realizar seus sonhos e projetos.

ESTÉTICA DA IGNORÂNCIA

Nos dias seguintes, GUILHERME pensa obsessivamente no assunto. Descobre


que todos naquele helicóptero tinham profissões correlatas. Com quantas vi-
das ele acabou? Quantas famílias destruiu? Quantos sonhos frustrou? A culpa
o atordoa e ele não consegue fazer mais nada, só pensar, só se desesperar,
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mas sem imaginar como ficar quite com a própria consciência. Além disso, está
numa situação econômica deplorável. Ainda tem a cobertura e algum pouco di-
nheiro – ele nunca foi econômico. Assim, faz tudo para reduzir os gastos, e a
primeira providência é despedir Meu Bem. Entre pesadelos com as vítimas,
crises de raiva e de depressão, problemas infinitos causados pela sua nova
condição de “pai e dono–de-casa”, o tempo passa.

Talvez, se GUILHERME fosse outra pessoa, apenas mandasse rezar missas


pelas vítimas. Ou talvez ele se virasse para conseguir dinheiro para tentar in-
denizá-las. Mas para o engenheiro não existia nada mais importante e valioso
que a realização profissional. GUILHERME emerge dessa tortura com uma
firme convicção: vai realizar o sonho de SÔNIA. Vai abrir o negócio no qual
ela havia depositado todas as suas esperanças e poupanças, afinal já esta tudo
pronto é só tocar em frente. Vai também botar todo o resto do seu dinheiro lá.
E vai ter sucesso. Como engenheiro aeronáutico estava acabado, tinha que
tentar uma nova vida e nada parecia mais justo do continuar o projeto profis-
sional que SÔNIA tinha programado para si e para os filhos e que ele frustrou.
Quem sabe assim sua consciência o deixe em paz, os pesadelos sumam e ele
consiga uma maneira de se sustentar junto com as crianças que a vizinha dei-
xou-lhe de herança. Afinal, o projeto estava mais do que adiantado...

Só tem um problema: SÔNIA não era engenheira aeronáutica, como ele. Nem
balconista, nem professora, nem atriz, nem comerciante. SÔNIA era esteti-
cista. E GUILHERME rói as unhas e acha que creme hidratante serve para
matar a sede.

RAUL

RAUL fica embasbacado com o que aconteceu com o amigo e tenta apoiá-lo de
todas as maneiras. Mas quando GUILHERME fala de sua decisão, RAUL não se
contém: “cara, você tá maluco??”. Mas no final compreende, afinal conhece a
personalidade impulsiva e workaholic de GUILHERME há longos anos.

RAUL é apaixonado por NORMA e sofre com isso. Primeiro porque NORMA
não dá a mínima para ele. Depois porque sabe que ela gosta de GUILHERME,
embora não calcule o tanto. E finalmente porque GUILHERME nunca, jamais
percebeu seus sentimentos. Ele achava que o amigo poderia ajudá-lo a conquis-
tar NORMA. Mas também entende que prestar atenção nos outros não é uma
especialidade de GUILHERME.
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VALENTINA

Ninguém levanta um sorriso como VALENTINA. Para ela não existe gente feia,
só as que não passaram pelas suas prendadas mãos de dermatologista. Mas o
renomado cirurgião plástico CRISTIANO RONALDO PONTES não dá trégua à
sua assistente. Por qualquer bobagem, humilha-a aos berros, na frente de toda
a equipe que trabalha com ele na estrelada Clínica Cristiano Ronaldo Pontes.
Todos tremem ao vozeirão dele, porque CRISTIANO RONALDO é cruel. Ele
faz de tudo para que a moça não adquira autoconfiança, não indo assim traba-
lhar com algum concorrente. Além disso, ele tem uma queda, uma bela queda
pela moça. Então, os gritos e humilhações são em seu coraçãozinho perturbado
uma maneira de ter alguma comunicação com ela. Por mais que VALENTINA se
esforce, ele sempre descobre uma falha. Ela acaba muitas vezes chorando de
madrugada, sozinha no apartamentinho que aluga no Bairro de Fátima, centro
do Rio de Janeiro. VALENTINA sonha sim em ter sua própria clínica. Mas...
Como? Quando? Por que sua vida é tão diferente da dos outros?

Ela está quase desistindo. Tudo parece negro e perdido, não fosse um sonho
antigo que está quase concretizado. VALENTINA acabou de descobrir onde
mora sua mãe. A mãe que a deixou num orfanato, recém-nascida. A nossa de-
dicada dermatologista idealiza essa mulher. Para ela, a mãe desconhecida é
uma espécie de fada, que certamente teve um motivo imperioso para deixá-la
naquele orfanato. VALENTINA juntou dinheiro e comprou um lindo vestido
para impressionar a mãe. Ela já tem o endereço, seu coração bate rápido
quando pensa que vai lá no dia seguinte. E fantasia. Sonha que a mãe vai chorar
ao vê-la, abraçá-la, pedir perdão e elas serão felizes juntas para sempre. O
nome dessa mãe VALENTINA sabe de cor de tanto dizê-lo, como um mantra
que tem o poder mágico de acabar com qualquer tristeza. Ela o repete sem
parar: SÔNIA AMARANTE.

NORMA, A AMANTE QUE NUNCA FOI.

NORMA foi quem socorreu GUILHERME nos primeiros tempos de demissão.


Eles são amigos de longa data. Desde a faculdade. NORMA é engenheira me-
cânica e fora GUILHERME quem conseguira o emprego para ela na mesma
montadora. NORMA dirigia uma equipe, assim como GUILHERME dirigia a dele.
Ele admirava e confiava na amiga. Mal sabia que NORMA alimentava por ele
uma paixão desvairada, jamais percebida, quanto mais correspondida.

NORMA é uma mulher bonita, inteligente, ótima profissional. Quando se co-


nheceram na faculdade, GUILHERME até que arrastou uma asa, ou duas, para
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ela. Mas NORMA, embora atraída por ele, nunca quis nada com o bolsista po-
bre e galinha demais para os padrões dela. O affair não consumado acabou
numa amizade. Ambos eram muito bons e faziam ótimos projetos juntos. De-
pois, GUILHERME se destacou, enriqueceu. E NORMA se apaixonou. Sempre
achando que o melhor a fazer era bancar a durona, para ser diferente das
“outras”. Usava roupas, ou melhor, tailleurs caríssimos, achando que sua pos-
tura profissional e beleza iriam enfim enfeitiçar GUILHERME. Além disso, era
inteligente, muito inteligente. NORMA não suporta gente burra. Especialmen-
te homem burro. Seja como for, GUILHERME não a notava. Mulheres ele ti-
nha várias à disposição. Para que se estressar por uma só? Ademais, ele a-
prendeu a gostar de NORMA como um amigo. E a moça sofria vendo-o sair
com outras mulheres e ainda servindo de eventual confidente. GUILHERME a
tratava com tapas nas costas e a chamava para tomar chope no bar da esquina.
Cinema? Nunca. Jantar? Só se fosse de negócios. A frustração crescia em
NORMA e o despeito também.

A gota dágua foi uma festa de aniversário de NORMA. GUILHERME foi espe-
cialmente simpático e carinhoso nos dias precedentes, até a chamou para al-
moçar, só os dois. NORMA viveu num paraíso durante duas semanas. Tinha
certeza de que GUILHERME finalmente havia compreendido que ela é que era
a mulher da vida dele. Iria pegar na sua mão, beijá-la, iriam ter um caso de
amor daqueles de esfregar na cara de todo mundo, especialmente daquelas...
“zinhas” com quem ele saía. Veio a festa, patrocinada por GUILHERME. E nela,
GUILHERME se declarou. Não para ela, mas para uma subordinada dela. Uma
linda profissional, muito recatada, que nunca saía de casa nem dava bola a nin-
guém do escritório. Mas que, certamente, compareceria à festa de aniversário
da chefe. NORMA descobriu que GUILHERME armara tudo.

Nada podia ser pior. Como...?, ela pensava. Como ele faz tudo isso e depois diz
que está apaixonado por uma vigaristazinha qualquer? O mundo de NORMA
caiu, e foi necessário todo o seu orgulho, que nunca foi pouco, para mantê-la
estável sobre os escarpins, sempre pretos. Como era do seu feitio, contou
mentiras sobre a moça, pessoais e profissionais e demitiu-a na primeira opor-
tunidade. Mas jurou que aquilo jamais aconteceria de novo. Iria se vingar de
GUILHERME, fazê-lo pagar por todo aquele desprezo. Mais que isso, iria fa-
zê-lo ficar a seus pés.

Quando um concorrente da fábrica de helicópteros a contatou com uma pro-


posta indecente, oferecendo suborno para ela sabotar o projeto de GUI-
LHERME, NORMA sentiu que era um “sinal dos céus”. Não só arruinaria o ho-
mem que a desprezara, como também ganharia um dinheirão. Assim, quando o
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novo motor em que GUILHERME trabalhava estava para sair do papel, NOR-
MA fez, com gosto, uma leve, levíssima, imperceptível, modificação no projeto.
Arriscou-se, mas conseguiu. Foi ela quem criou as condições e depois armou o
flagrante com a mulher do presidente da empresa. NORMA não podia permitir
que GUILHERME ficasse nem mais um dia na fábrica. Só GUILHERME poderia
descobrir a modificação, e esse risco ela não poderia correr.

Portanto, nos dias seguintes, NORMA continuou a se comportar como a melhor


amiga de GUILHERME. Apoiou-o, prometeu ajuda, vinha visitar GUILHERME
constantemente.

Soube da intenção de GUILHERME de realizar o projeto inacabado da faleci-


da, uma história de uma clínica de estética. SÔNIA queria abrir um estabele-
cimento de alta categoria. Já havia trabalhado por anos com vários cirurgiões
plásticos e agora decidira que podia abrir a BELEZA PURA, clínica dos seus
sonhos e fazer as coisas à sua maneira. Por isso tanto investimento. Estava
quase tudo pronto, a imprensa especializada ansiosa, os concorrentes também.
E aí... o acidente. Nesse ponto da história, faltava pouco para a data prevista
para a inauguração e GUILHERME com aquele plano maluco: ia não apenas vi-
rar pai dos pequenos órfãos, mas também tocar o BELEZA PURA e fazê-lo dar
certo, por eles e pela memória de SÔNIA. NORMA dá força. Tanta que até se
oferece para comprar a cobertura de GUILHERME, que ele já não pode mais
sustentar e que servirá para terminar o projeto da clínica. Eles acertam um
preço e NORMA ri da cara de felicidade de GUILHERME, que chega a ficar
grato a ela. NORMA quer que ele fracasse, que fique nas mãos dela. Se de-
pender de NORMA, a derrocada de GUILHERME será espetacular.

O INCRÍVEL STAFF DO “BELEZA PURA”

GUILHERME convence a ex-empregada, “Meu Bem”, a voltar para ajudá-lo


com as inacreditáveis tarefas caseiras e “paternas”, que ele jamais pensou que
fossem tão estressantes. “Meu Bem” aceita, dizendo que vai apenas ensiná-lo
a fazer as tarefas, já que não perdoa o patrão por tê-la despedido, mas adora
as crianças. Ele topa.

Assuntos domésticos parcialmente resolvidos, ele parte para realizar o sonho


de SÔNIA. Coloca todo o dinheiro que ainda lhe resta na clínica. Em seguida,
se apresenta à equipe da BELEZA PURA, a clínica de estética projetada por
SÔNIA. Está cheio de energia e boas intenções.
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GUILHERME se considera um homem safo. Inteligente. Cheio de ginga. Tudo


bem, não sabe absolutamente nada sobre estética, beleza, com exceção do
que aprendeu em “O programa Kelson de rejuvenescimento”, “Seja magro res-
pirando magro”, e “Minha pele, minha casa”, recém-adquiridos como forma de
instrução relâmpago no novo empreendimento. GUILHERME está tranqüilo. Vai
tirar aquilo de letra. Qualquer coisa, imagina, é mais fácil do que fazer feijão
e arroz, lavar e passar roupas.

Mas por que Kelson, os magros e o cara que morava na própria pele não expli-
caram em lugar nenhum o que significava “carboxiterapia”? E um “peeling de
diamante”, usa-se no dedo ou no pescoço?? E desde quando estão empregando
a tecnologia laser para matar celulites e não mais os inimigos do Império??
Aos poucos, e de maneiras bem degradantes para sua auto-estima, GUI-
LHERME perde a mão completamente da clínica. Nada dá certo e ele acumula
bobagens que dão bastante prejuízo. E olha que o estabelecimento ainda nem
abriu.

A equipe de ótimos e respeitados profissionais que havia sido empregada


por SÔNIA para a clínica, percebe: vai dar tudo errado, melhor saltar fora.
Há uma debandada geral de esteticistas, massagistas, dermatologistas. Nu-
ma manhã desolada, quando Meu Bem resolveu fazer forfait, após ter quei-
mado todo o café-da-manhã das crianças e tê-las deixado no colégio com
uma banana e um copo de leite no estômago, ele ouve um grupo de mães con-
versando sobre o fechamento de um salão de cabeleireiro próximo. As mu-
lheres lamentavam porque era um salão barato e, melhor do que os cabelei-
reiros propriamente ditos, oferecia alguns serviços de estética bem em
conta. Ele se interessa e entra na conversa. Descobre que todos os profis-
sionais foram postos na rua sem mais nem menos. Imediatamente, pega o
endereço do local e ruma para lá. Consegue o telefone dos desempregados e
vai encontrá-los.

E aí ele conhece os novos desempregados:

GASPAR: por volta dos 60 anos, um cirurgião plástico aposentado, que já tra-
balhou em várias clínicas não muito boas do Rio de Janeiro. No passado, teve
sua própria clínica e era respeitado no circuito. No entanto, desde que alguma
coisa muito ruim, sobre a qual ele não fala, aconteceu, se desencantou da vida
e do bisturi. Acabou indo trabalhar no tal salão, fazendo procedimentos sim-
ples, que davam pra pagar as contas e ele não se aborrece muito. GASPAR,
longe de ser um totem de beleza, tem um borogodó incrível com as mulheres.
Todas ficam loucas por ele, mas GASPAR não está nem aí. No fundo, só queria
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achar sua cara-metade, casar e ter uma vida tranqüila. Nunca conseguiu. Acha
que é um fracassado.

CATRINA: mais ou menos 30 anos. CATRINA é uma acupunturista excepcional,


profissão que aprendeu com o pai, um chinês. Mas ela tem um trauma em rela-
ção a isso e evita a acupuntura a todo o custo. Por isso, tentou de tudo na vida.
Foi decoradora, atriz de teatro, promotora de eventos. Mas nunca teve talen-
to para nada, além de pular de galho em galho. Hoje, é massagista, ou masso-
terapeuta como prefere ser chamada. E CATRINA é muito boa... em massa-
crar as pessoas. Vive inventando e testando novos métodos para embelezar as
clientes. Além disso, é magra “de ruim” e não pára de comer. Acha que é uma
fracassada. E velha.

FELIPE: por volta dos 22 anos. Auxiliar de cabeleireiro, auxiliar de esteticista,


auxiliar de quem esteja precisando. Um faz tudo. Odeia o que faz, até porque
não tem a menor idéia do que faz. Queria mesmo era ser surfista. Infelizmen-
te, não tem muito talento. Ex- interno da Febem, faz tudo para esconder esse
passado. Para sobreviver, trabalha no salão. Acha sua vida uma droga, mas nem
tenta se matar, porque sabe que não dará certo. Tem certeza de que é um
fracassado.

GUILHERME, sem dinheiro pra conseguir coisa melhor, oferece emprego a


todos na nova clínica de luxo. Eles acham estranho, mas não discutem o as-
sunto com medo que o maluco desista da idéia. Aceitam na hora. Através de-
les e de anúncios nos jornais, outros profissionais são contratados e GUI-
LHERME forma um grupo de profissionais que lembra muito o exército de
Brancaleone.

NORMA se diverte assistindo tudo à distância, apostando que GUILHERME


vai quebrar a cara mais uma vez. Avisa a uma jornalista de revista de fofo-
cas que houve uma debandada na clínica, que corre o risco de nem abrir.
Doida para dar o "furo", a jornalista procura GUILHERME e conhece a nova
"equipe". GUILHERME sustenta que aquela equipe é melhor que a anterior, e
o incrível staff é obrigado a dar uma de sofisticado/excêntrico para enga-
nar a jornalista, que fica desconfiada, mas, afinal, sem o furo.

A clínica abre em fase experimental, sem anúncios, enfim, só para que GUI-
LHERME tenha oportunidade de testar seu novo empreendimento. O pro-
blema é que tudo vai dando errado. GASPAR se recusa a usar os tratamen-
tos e aparelhos de ponta oferecidos pela clínica, tem resistência a qualquer
coisa nova e acha que os velhos métodos ainda funcionam muito bem. FELIPE,
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promovido a recepcionista, só atende ao telefone com um “Aêêê...!” e faz um


escândalo cada vez que vê um homem entrando na clínica ou fazendo trata-
mentos. CATRINA ataca a cozinha: só trabalha comendo, e comendo coisas
altamente engordativas. Isso não é muito simpático para a clientela feminina
que geralmente iria ali para perder peso. A data da inauguração está che-
gando e a situação é desesperadora.

O ENCONTRO

VALENTINA, nervosa e linda, bate à porta de SÔNIA. GUILHERME, que está


morando lá com as crianças desde que vendeu sua cobertura para NORMA,
atende e fica deslumbrado com a moça. E vice-versa. Um não consegue des-
grudar os olhos do outro, a mágica acontece.

Mas quando VALENTINA sabe da morte de SÔNIA, desaba. GUILHERME a


consola, sob o olhar desconfiado de KLAUS e DOMINIQUE. A afinidade en-
tre o casal é imediata, e até as crianças gostam sem dificuldades de VALEN-
TINA. Desolada, ela passa a freqüentar a casa da única coisa parecida com
família que já teve. GUILHERME está encantado. Vai buscar a moça no traba-
lho algumas vezes. E assim ela toma conhecimento da história da clínica. Uma
visita rápida ao estabelecimento a faz reconhecer o caos, o fracasso iminente
e as soluções para evitá-lo. Dá instruções a GUILHERME, felicíssima em saber
que a mãe que ela nunca conheceu tinha praticamente a mesma profissão que
ela. Destino! Genética! A essa altura, GUILHERME acha de bom-tom não con-
tar a boa bisca que SÔNIA era. Certamente abandonara a filha no orfanato
porque não estava a fim de cuidar de uma criança aos 16 anos de idade. Acha
melhor, a essa altura, deixar VALENTINA com seu sonho. Mas também não
conta que o responsável pela morte de SÔNIA tinha sido ele. Sabe que vai ter
que contar. Mas suspeita que esse não seja o melhor momento. E fica adiando.

Ademais, GUILHERME já jogou a toalha. Está estudando, já leu “O grande


manual de ouro da medicina estética”, sempre se prezou como um grande co-
nhecedor do corpo feminino. Mas na prática é um fracasso. Já distingue uma
celulite de uma estria. Já consegue notar se as sobrancelhas de alguém esta-
vam feitas ou não. Mas falta muito, muito ainda. São centenas de tratamentos,
dezenas de máquinas, e novos lançamentos praticamente todo mês. Então,
propõe a VALENTINA que ela seja a gerente executiva dele.

VALENTINA não cabe em si de alegria. Pede demissão para CRISTIANO


RONALDO PONTES, numa cena tragicômica que recebe aplausos silenciosos
de todo o resto da equipe torturada pelo cirurgião das estrelas. VALENTINA
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assume a clínica de GUILHERME. Rapidamente coloca ordem no local. Ensina


GASPAR, que resiste no princípio, mas acaba adorando as novas técnicas e
aparelhos. VALENTINA descobre o grande talento de CATRINA, a acupuntu-
ra, e a estimula a investir na acupuntura estética. FELIPE recebe lições in-
tensivas de boas maneiras (de GUILHERME) e de como discorrer sobre os
tratamentos oferecidos (de VALENTINA). Como não se aprende tudo do dia
para a noite, ela inventa um jeito de tornar os maus hábitos do staff uma a-
tração a mais no estabelecimento.

A clínica abre e é um sucesso.

PERDIDOS

Agora tudo parece ter voltado ao normal para GUILHERME. Melhor ainda,
agora ele tem a mulher que ama ao lado e tudo está dando certo. Por incrível
que pareça, não tem mais vontade de procurar outras. VALENTINA é tudo!
KLAUS e DOMINIQUE se apegaram a ela – são meio-irmãos afinal -, e GUI-
LHERME começa a pensar em noivado.

Mas ele não consegue esquecer os outros mortos no acidente do helicóptero.


Além de SÔNIA, havia mais quatro pessoas.

OLAVO PEDERNEIRAS: mais de 50 anos, piloto e dono do helicóptero. Milio-


nário excêntrico e sem herdeiros. Homem solitário, ranzinza e vaidoso. Tinha
uma empresa muito lucrativa de importação e exportação de aparelhos de es-
tética de última linha. Aparecia muito em colunas sociais e estava para estrear
um programa sobre beleza e negócios na TV, do qual seria o apresentador.

ALEX GOMES: por volta dos 35 anos. Médico ginecologista que fez especiali-
zação, anos depois, em medicina estética. Apaixonou-se pelo tema e, pouco
antes do acidente, estava escrevendo um livro sobre medicina estética para
leigos. ALEX era casado com DÉBORA, uma dona-de-casa e tem uma filha,
LUÍSA, de 17 anos.

MATEUS SISTER: um pouco mais de 30 anos. Químico. Sempre trabalhou em


laboratórios de produtos de beleza. No último ano estava desempregado. Vivia
em seu laboratório caseiro buscando uma grande invenção que levaria seu no-
me ao pináculo dos cientistas do mundo e o faria tirar o pé da lama definitiva-
mente. O acidente com o helicóptero o impede de ter o seu grande momento:
ele havia desenvolvido um produto revolucionário contra a calvície. Deixa HE-
LENA, sua esposa, e HUGO, um filho de 10 anos muito doente.
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MÁRCIA PASSOS: aparentando mais ou menos 30 anos. Jornalista de estéti-


ca e moda. Adorava sua profissão e tinha como grande projeto de vida, abrir
um curso para formar esteticistas entre jovens carentes. Era casada com
EDUARDO PASSOS, dono de um posto de gasolina no Centro e deixou uma
filha, FERNANDA, de 17 anos.

Além da dor na consciência, em parte aplacada pelo trabalho que está fazendo
na Clínica BELEZA PURA e por estar cuidando das crianças, Guilherme está
enfrentando um processo movido pelas famílias das vítimas do acidente com o
helicóptero. O advogado que tomou à frente da ação foi JOSÉ HENRIQUE,
que já era advogado de OLAVO PEDERNEIRAS e que foi “herdado” pelo so-
brinho ROBSON.

VALENTINA DESCOBRE A VERDADE

Preocupada com o sucesso da BELEZA PURA, NORMA faz algumas incursões


ao estabelecimento, sempre sob a desculpa de ser a melhor amiga de GUI-
LHERME. E certamente para fazer um ou outro tratamento de graça. O que
ela quer mesmo é descobrir o porquê daquele sucesso. E, se possível, sabotá-lo.
Quando conhece VALENTINA e vê que ela e GUILHERME estão juntos e feli-
zes, seu ciúme vai à Lua e dá três voltas no satélite.

NORMA resolve jogar com todas as suas armas. De um jeito “inocente” conta
para VALENTINA tudo que incrimina GUILHERME. Do helicóptero no qual a
mãe morreu, cujo motor defeituoso tinha sido projetado por ele. E que matou
não só a mãe dela, como mais quatro pessoas. VALENTINA fica arrasada.
Também fala das infidelidades constantes. Conta, acrescentando um ponto,
que GUILHERME seduziu sua subordinada, que estava noiva. Que não conse-
guia ficar com aquele zíper das calças fechado. Olha só quem vai criar seus
irmãos!, ela adverte. Também envenena-a em relação a CATRINA, a esteticis-
ta da clínica, que vivia lançando olhares lânguidos sobre o chefe. Sem dúvida
ali tinha coisa.

VALENTINA, transtornada, termina tudo com GUILHERME. Joga na cara


dele o que descobriu sobre a morte da mãe e o acusa de esconder a verdade e
de usá-la para se dar bem nos negócios. GUILHERME tenta, mas não consegue
contra-argumentar. VALENTINA fica tentada a contar a verdade sobre o
acidente para os irmãos, mas não o faz. Seria um choque terrível para os garo-
tos, que já estavam apegados a GUILHERME. VALENTINA sai da vida de
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GUILHERME ferida, humilhada e furiosa. Mas não sem antes ameaçar: vai en-
trar na justiça e pedir a guarda dos irmãos. E vai ganhar!

Ela volta para seu pequeno apartamento sem emprego, sem dinheiro e com o
coração partido. CRISTIANO RONALDO PONTES descobre que a ex-
assistente está mandando currículos para clínicas dermatológicas e, como re-
ferência dela, detona a reputação de VALENTINA. Ele acha que, assim, só
restará à moça voltar para “seus braços”.

Realmente, após dezenas de recusas inexplicáveis, VALENTINA chega a pen-


sar em pedir de volta seu emprego para CRISTIANO RONALDO. Mas a idéia
a enoja.

Desarvorada, acaba indo parar num pequeno salão de beleza do Bairro de Fá-
tima. Ela está tentando relaxar fazendo as unhas quando vê a dona do salão,
IVETE, examinando alguns currículos. Imediatamente se candidata à vaga de
assistente de cabeleireira, na falta de algo melhor. IVETE acha muito estra-
nho uma médica formada querer trabalhar ali, mas VALENTINA a convence,
dizendo que o mercado estava difícil, ela já tinha tentado tudo e agora preci-
sava pagar suas contas. Como a moça é bonita, delicada e mal nenhum poderia
causar, IVETE concorda.

A CLÍNICA SECRETA

Aos poucos, VALENTINA ganha a confiança da dona do salão, IVETE. Uma


mulher peruíssima, alegre e super gente boa. As duas viram amigas. Tão ami-
gas que IVETE geralmente deixa a cargo de VALENTINA fechar o salão. VA-
LENTINA é muito discreta sobre seu passado. IVETE até acha que aquilo po-
de ser timidez da moça, mas é esperta o suficiente para desconfiar de que
existe algum mistério por trás da sua melhor funcionária.

Uma tarde, VALENTINA observa uma adolescente fazendo o cabelo ali no


salão, triste, triste. VALENTINA se comove e vai conversar com ela. A moci-
nha acaba conta que todo mundo no colégio zoava com ela por causa das espi-
nhas. VALENTINA se certifica de que não tem ninguém prestando atenção e
diz pra garota que pode fazê-la ficar perfeita em duas semanas. Só tem uma
condição: a garota não pode contar a ninguém que está se tratando com ela. A
menina, obviamente, concorda. VALENTINA tinha prometido a IVETE que não
usaria seus conhecimentos, já que o salão não tinha alvará para funcionar como
clínica.
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Em duas semanas, à custa de alguns remédios e tratamentos estéticos, a me-


nina fica ótima. Como prometeu para VALENTINA, não conta a ninguém que
ela é médica. Só a uma vizinha, cujo filho tem um problema sério nas unhas,
que ninguém deu jeito até hoje. VALENTINA acaba atendendo-o depois do
expediente, nos fundos do salão. E assim, sua “clientela” secreta vai crescendo.
VALENTINA não cobra nada daquelas pessoas pobres, só pede o silêncio. A-
judar aos outros sempre foi uma das metas de sua vida, é assim que ela en-
tende sua profissão e nunca se sentiu tão útil, valorizada e feliz como profis-
sional, embora como mulher, seu coração ainda sinta a falta de GUILHERME.

A GUERRA DOS ESTETICISTAS

Finalmente, IVETE descobre as atividades clandestinas de VALENTINA e


arma um discurso sobre leis, alvarás, ética profissional e a própria reputação.
VALENTINA fica mortificada e pede milhões de desculpas. É que ela via o
sofrimento daquela gente, sem ter para onde ir, a quem recorrer... mas pro-
mete que não fará mais aquilo. Realmente não pode botar em risco o estabele-
cimento de IVETE, que tão bem a acolheu.

Para surpresa da dermatologista, IVETE faz uma proposta para a nova e ta-
lentosa amiga. Por causa de VALENTINA, a clientela de IVETE aumentou mui-
to. E se ela abrisse uma clínica de estética, dessa vez num bairro mais chique?
Era um sonho antigo de IVETE, que já tinha um bocado de dinheiro economi-
zado para isso, apenas não via chegar o momento, só sabia que ia ter um sinal.
E esse sinal era VALENTINA!! Ela toparia assumir a direção? VALENTINA
esquece as mágoas passadas e se lança de cabeça ao trabalho. Pede apenas
que o pequeno salão permaneça aberto, agora como uma clínica dermatológica
para a população pobre da área. Elas podem correr atrás do alvará e pronto.
IVETE concorda. VALENTINA sabe que precisa ganhar dinheiro e ter um em-
prego estável se deseja ganhar a guarda dos irmãos. E se, além disso, ela pu-
der ter o prazer de continuar atendendo aquela gente e de derrotar GUI-
LHERME no campo que ela conhece melhor, ótimo.

Mas quando não tem ninguém olhando, nem sua própria mente, VALENTINA
lembra de GUILHERME e chora seu grande amor perdido.

OS ATAQUES DE NORMA

Tudo o que NORMA não quer é ter aquelas crianças insuportáveis no pé, quan-
do GUILHERME “voltar” para ela. Ela se aproxima do amigo para consolá-lo da
perda de VALENTINA e põe em prática seu plano. Trata de fazer KLAUS
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descobrir a mesma coisa que VALENTINA: que GUILHERME tinha sido o res-
ponsável pela morte da mãe dele. O rapaz fica transtornado e briga com GUI-
LHERME. Influenciado por NORMA, começa a desafiar GUILHERME com ati-
tudes beligerantes. Numa dessas, resolve dar uma festa em casa, com bebida,
música alta, etc. GUILHERME volta e a discussão é terrível. NORMA certifi-
ca-se de que muitos vizinhos testemunhem a cena.

NORMA está arrumando um dossiê com todos os podres da vida de GUI-


LHERME para dá-lo para VALENTINA, de maneira que ele perca a tutela das
crianças. Para isso, começa a seduzir RAUL, de modo que ele a ajude com sub-
sídios para esse relatório. Afinal, ninguém sabe melhor da vida de GUILHER-
ME que o melhor amigo. RAUL, na inocência e cego de amor, vai mostrando
fotografias, contando casos de ex-namoradas, farras, enfim, entrega o jogo.

Quando descobre o que NORMA quer de verdade, RAUL entra em crise. Por
um lado, ama NORMA e não quer perdê-la. Por outro, a amizade por GUI-
LHERME é preciosa. Mas pensando bem... GUILHERME nunca se preocupou
com ele. RAUL imagina se, em seu lugar, GUILHERME o ajudaria. E mais, à
custa do seu amor.

A fidelidade fala mais alto e RAUL, embora furioso, resolve salvar o amigo.
Vai lá e conta tudo para ele. GUILHERME não acredita e os dois amigos bri-
gam. Não sem antes RAUL jogar na cara de GUILHERME todas as suas falhas
de caráter.

Quando a raiva passa, GUILHERME pensa e resolve, por via das dúvidas, falar
com NORMA. Ela nega tudo, mas GUILHERME acaba desconfiando e entra na
casa dela escondido. Procura e acha o dossiê. Ele joga na cara dela a traição e
declara a amizade acabada. NORMA chora, se descabela. Finalmente, confes-
sa sua paixão e diz que fez tudo por amor. Só queria viver em paz com GUI-
LHERME, longe daquelas crianças grudentas. Mesmo aparvalhado com a decla-
ração, GUILHERME não a desculpa.

Ele tenta fazer as pazes com RAUL, mas ainda vai demorar para que essa ami-
zade se recomponha. Ao descobrir que foi RAUL quem a delatou, NORMA ar-
ranja um jeito de fazer com que ele seja demitido da firma.

Mas, para desgosto da vilã, a BELEZA PURA, clínica de GUILHERME, está in-
do bem e VALENTINA abriu a sua clínica, a Flor da Pele, bem em frente à de
GUILHERME.
19

A CONCORRÊNCIA

Arrasado com o término do namoro com VALENTINA, com o término da ami-


zade com RAUL, além de ter descoberto a traição de NORMA, GUILHERME
se apóia no seu estranho staff. GASPAR, CATRINA e FELIPE, acabam virando
grandes amigos. GUILHERME estuda como nunca.

Ele tem que superar a concorrência da Clínica de VALENTINA que está fa-
zendo muito sucesso. Os dois empresários inventam novos tratamentos, pro-
moções, eventos. GUILHERME tem uma clínica toda romântica, rosa, perfu-
mada, herança de SÔNIA. VALENTINA faz o contrário: a sua é high tech,
cheia de aço e vitalidade.

Um quer ser melhor que o outro. Volta e meia VALENTINA e GUILHERME se


encontram. E brigam. Aquela mulher o tira do sério, mas ele a ama, por mais
que queira esquecer. Muitas vezes CATRINA, GASPAR e FELIPE o vêem sozi-
nho e melancólico. Já sabem que o patrão está sofrendo de amor. A única coi-
sa que o tira desse estado é a pequena DOMINIQUE com sua alegria. Com
KLAUS a relação ainda é conturbada. O rapaz já ameaçou sair de casa e ir mo-
rar com VALENTINA, mas não agüentou a linha-dura da meia-irmã mais velha.
Nos tribunais, a disputa pela guarda das crianças continua, o que angustia tan-
to GUILHERME quanto VALENTINA.

NEM TUDO O QUE VAI PARA O AR SÃO HELICÓPTEROS

OLAVO PEDERNEIRAS, piloto e dono do helicóptero que caiu, só tinha um


herdeiro, um distante primo de quarto grau do qual ele nunca ouvira falar,
ROBSON. ROBSON é pedreiro, mora numa favela e herda a mansão e todas
as propriedades de OLAVO. Ninguém gostava muito do milionário, mas ROB-
SON ama o primo que nem conheceu e lhe é grato. Logo que assume sua ines-
perada fortuna, ROBSON começa a ter problemas com o ambicioso advogado
JOSÉ HENRIQUE, que deseja passar a perna no “favelado” e ficar com todo
o dinheiro. (V. Histórias Paralelas)

Nesse momento, o advogado de ROBSON está em cima de GUILHERME como


representante de todas as vítimas. Ele está quase conseguindo com que os
bens de GUILHERME sejam congelados – o que impediria o funcionamento da
BELEZA PURA. Então GUILHERME corre atrás de ROBSON numa tentativa
desesperada de convencê-lo de que pelo menos a clínica continue funcionando.
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GUILHERME chega à mansão num dia em que Robson está terminando de cor-
rer em sua nova esteira eletrônica. Falta luz e Robson confunde GUILHERME
com o técnico que chamara. Como engenheiro, GUILHERME conserta a tra-
quintana e não desfaz o engano. Os dois acabam ficando amigos e GUILHER-
ME só esperando um momento propício para levar seu problema a ROBSON.
Só que JOSÉ HENRIQUE, o advogado, descobre a manobra do engenheiro e o
delata para ROBSON. Os dois brigam e se separam. Mas um dia GUILHERME,
ao voltar novamente e tentar recomeçar as conversações, acaba intervindo
numa briga entre ROBSON E RAKELLY, sua noiva, e os ajuda a fazerem as
pazes. ROBSON fica muito agradecido e concorda em conversar. Ele alivia o
lado de GUILHERME em relação ao congelamento dos bens. E GUILHERME
acaba descobrindo o último desejo do falecido OLAVO: fazer um programa de
tv sobre estética. ROBSON descobre o material que OLAVO acumulara para
fazer o show e o mostra para GUILHERME. Os dois se entusiasmam e ROB-
SON resolve até bancar o novo programa, se GUILHERME resolver levá-lo
adiante.

GUILHERME toma coragem. Ele se sentiria bem fazendo isso pelo morto – sua
vítima no final das contas. E se lança com entusiasmo ao projeto.

ROBSON acha que fazer o programa é uma espécie de retribuição que pode
dar à memória do primo que tanto fez por ele, mesmo sem saber. Tanto que
resolve financiar o piloto do show, exatamente como imagina que o primo o
faria.

O problema vem com JOSÉ HENRIQUE, o advogado de OLAVO que “herdou”


ROBSON como cliente. JOSÉ HENRIQUE planeja há tempos ficar com toda a
fortuna de ROBSON e acha esse programa um desperdício grande de dinheiro.
Ele faz de tudo para criar problemas e afastar GUILHERME de ROBSON.
Mas os dois superam os obstáculos.

GUILHERME estréia seu programa, BELEZA PURA, e é um sucesso.

Ele exulta, mas é logo surpreendido com a falência da Flor da Pele. Como? Por
quê? Ao mesmo tempo em que, como empresário, fica aliviado com o fim da
concorrência, GUILHERME se preocupa com VALENTINA. O que terá acon-
tecido?
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QUILOS A MAIS... DE PROBLEMAS

Aconteceu que NORMA sabotou a clínica. Paranóica de ciúmes, NORMA per-


cebe que as constantes brigas entre GUILHERME e VALENTINA apenas a-
proximam os dois. Então tem uma grande idéia.

Há muito tempo NORMA percebeu que o renomado CRISTIANO RONALDO


PONTES, além de prepotente, habilidoso e despeitado, estava é apaixonado
por VALENTINA. Mas por algum motivo não conseguia chegar perto dela. A-
lém do quê, VALENTINA jamais daria bola para ele; ao contrário, detestava-o.
Mas NORMA arranja um jeito de ficar amiga do cirurgião e diz que pode aju-
dá-lo a até casar com VALENTINA.

NORMA se aproxima mais de VALENTINA por conta da briga com GUI-


LHERME. Sem contar o porquê da separação, apenas envenena mais a mocinha:
GUILHERME é um egoísta, me expulsou da vida dele, vai acabar ficando sozi-
nho. VALENTINA acaba abrindo a guarda para NORMA. NORMA bola uma
aproximação entre CRISTIANO RONALDO e VALENTINA. O cirurgião se
faz de humilde, de reconhecedor do talento da moça, pede desculpas. Manda
pacientes para ela e elogia o trabalho da sua ex-assistente. Aos poucos e relu-
tantemente, VALENTINA aceita sair com ele.

Enquanto isso, NORMA trabalha para destruir a clínica. Ela deseja que VA-
LENTINA fique na rua. E aí será uma presa fácil para CRISTIANO RONAL-
DO . E sairá da sua vida e da de GUILHERME definitivamente. NORMA con-
seguiu infiltrar novos empregados, pagos especialmente para sabotarem o es-
tabelecimento. São péssimas esteticistas, recepcionistas mal-educados, “es-
quecem” de fazer a dedetização do lugar, a equipe é ruim. Não satisfeita,
NORMA arma acidentes graves, com ajuda luxuosa e incógnita de CRISTIA-
NO RONALDO: uma mulher que passa mal após um tratamento e um famoso
gay que dá uma declaração pública contando como foi envenenado. O episódio
periga virar um escândalo de grandes proporções, mas CRISTIANO RONAL-
DO consegue, à custa de um caminhão de dinheiro, abafar o caso. Mas é radi-
cal: a clínica acabou. Melhor fechar logo, antes que a notícia se espalhe de bo-
ca em boca. VALENTINA fecha e IVETE acaba tendo de reabrir o seu salão
de periferia, ainda bem que não tinha se desfeito dele.

Na noite desolada do fechamento, VALENTINA fica sozinha terminando de


encaixotar suas coisas. Como está triste, resolve aproveitar uma última vez
22

um dos famosos banhos de relaxamento da clínica. Entra numa banheira mor-


ninha cheia de leite e fica lá, marinando.

Ao saber da notícia da falência da clínica de VALENTINA, GUILHERME não


resiste e vai até ela. Quer oferecer ajuda, quem sabe uma sociedade na BE-
LEZA PURA? Entra e a vê sozinha, linda e relaxada na banheira. Não é ele que
vai perder aquela oportunidade de ouro, então pega um banquinho e senta-se
calmamente ao lado da moça, só então revelando sua presença. VALENTINA
abre os olhos surpresa e, em seguida, envergonhada. Vê que não tem saída da-
quela banheira, e GUILHERME não aceita seus reiterados e não muito delica-
dos convites para deixar o local, permitindo que ela se vista e o expulse com-
me il faut. Ao contrário, GUILHERME começa a fazer a sua proposta. VA-
LENTINA tapa os ouvidos, mas GUILHERME enfia a mão na banheira e tira a
tampa do ralo. O leite vai descendo e VALENTINA percebe que aquilo vai ser
pior do que ela imagina. Recua, furiosa, e é obrigada a ouvi-lo. Ele começa a
falar de sua intenção em ajudá-la, mas VALENTINA, que já está muito mago-
ada, interpreta mal. Acha que ele está tripudiando dela. E rebate violenta-
mente. Não quer saber: por causa dele ela jamais conheceu a mãe, os irmãos
ficaram órfãos também. E ele ainda roubou a clínica da mãe que ela nunca co-
nheceu! Vai ver que foi ele quem planejou que o helicóptero caísse para se a-
possar da clínica! Vai ver foi ele quem mandou aquelas pessoas darem os falsos
testemunhos e acabarem com a Flor da Pele! GUILHERME fica chocado, ela
participou de tudo, sabe que ele não roubou nada, até botou dinheiro dele lá,
estava fazendo o que SÔNIA mais queria na vida! E que história de sabotagem
era aquela?! A discussão vai num crescendo, até que GUILHERME se destem-
pera e acaba dizendo tudo que sabia sobre SÔNIA. Que ela era uma bisca,
devia é ter abandonado VALENTINA, da mesma maneira que abandonava os
menores! Aí VALENTINA roda a baiana e quase ataca GUILHERME. Nesse
momento entra CRISTIANO RONALDO com champanhe em punho, dizendo
para ela não ficar triste, que eles iriam comemorar o futuro e/.... dá de cara
com aquela cena. Dessa vez é GUILHERME que entende tudo. Manda os dois
passearem e sai furioso e com dor-de-cotovelo.

A briga ia continuar.

BARRACO AO VIVO

A pequena clínica no Bairro de Fátima para a população carente tinha rendido


à VALENTINA respeito e notoriedade, e ela é chamada por uma produtora
independente a fazer um outro programa de tv. CRISTIANO RONALDO é
contra, não quer vê-la concorrendo com o calhorda do assassino da mãe dela.
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Mas VALENTINA arranja desculpas, diz que precisa do dinheiro, etc. No fun-
do, ela quer mesmo a concorrência. E mais no fundo ainda, ela quer estar em
contato com GUILHERME, nem que seja brigando. Vencido, CRISTIANO RO-
NALDO a ajuda com seus contatos e com dinheiro. Aos poucos, a moça vai ce-
dendo ao amor do cirurgião. Não o ama, mas gosta dele, têm uma profissão
complementar, ele é um homem bonito, interessante...

O programa de GUILHERME, na TV a cabo, é simpático. Ele tem sido um bom


aluno e já desenvolveu algumas habilidades e até opiniões próprias sobre cui-
dados estéticos. Além disso, o staff da BELEZA PURA está no ar junto com
ele, para qualquer eventualidade. GUILHERME tem desenvoltura em frente às
câmeras, é bonitão, as donas de casa caem por ele.

Os momentos tristes são quando GUILHERME lembra que VALENTINA e


CRISTIANO RONALDO estão namorando. Fica arrasado. Lança-se ao traba-
lho com mais afinco para evitar pensar no seu amor perdido.

O programa de VALENTINA, na mesma TV a cabo, também vai bem. Ela é uma


consultora que fala para o público, de maneira prática e simples. Ensina recei-
tas caseiras de produtos de beleza, apela para os sentimentos românticos e
para a vaidade dos telespectadores. Além de ser bonita, claro, um cartão de
visitas e tanto para sua profissão. Até que numa tarde tudo dá errado no seu
programa. A centrífuga gira muito rápido e espalha creme hidratante por to-
dos os cantos. Uma modelo fica com o rosto queimado por uma máscara. Um
horror. Por mais que verifique depois, não consegue descobrir o porquê daquilo.
No próximo programa, desastres semelhantes acontecem. Uma espectadora
reclama no ar que o creme para cabelos que ela ensinou fez cair seus cabelos,
uma outra diz que vai reclamar com o Procon porque suas unhas estão verdes.
Um vexame. VALENTINA só tem uma certeza: foi sabotagem e o culpado é
GUILHERME!

(A verdade é que foi sabotagem, mas de NORMA. Com ajuda de CRISTIANO


RONALDO.)

No mesmo dia em que chega a essa razoável conclusão, ela sai com disposição
assassina rumo ao estúdio onde GUILHERME está gravando. Invade o lugar e
os dois brigam ali. Tudo ao vivo. É uma confusão digna dos melhores pastelões,
mas os telespectadores adoram. Recebem dezenas de e-mails e os diretores
resolvem que os dois especialistas em beleza têm que fazer um programa jun-
tos. GUILHERME e VALENTINA não acreditam na má sorte. Fazem de tudo
para evitar, mas não tem jeito. Começam a apresentar o show juntos. As dis-
24

cussões no ar entre eles viram atração até para quem não está nem aí para a
qualidade da sua pele.

A briga entre nossos heróis se intensifica, assim como o ódio de NORMA e o


despeito de CRISTIANO RONALDO, que tem medo do interesse de VALEN-
TINA por GUILHERME.

Ao final de um dos programas na tv, NORMA forja um acidente, como se VA-


LENTINA o tivesse provocado e que machuca GUILHERME com alguma serie-
dade. Certamente ele não poderá mexer o braço por algum tempo. Com isso,
NORMA se aproxima, dizendo que vai cuidar dele. VALENTINA é que acha
que deve fazer isso, afinal foi ela quem provocou o acidente, os irmãos dela é
que moram com GUILHERME! Mas NORMA inventa que GUILHERME não a
quer ver nem pintada de ouro. Ressabiada, VALENTINA deixa. E GUILHERME,
por falta de opção, é obrigado a aceitar a ajuda e a reaproximação da antiga
amiga, apesar de não ter esquecido ainda a história do dossiê.

E NORMA começa uma gloriosa (e engraçada) estadia na casa de GUILHERME.


Cuida dele, dá banho, faz comida, tudo.

GUILHERME faz as pazes com RAUL e oferece um emprego na clínica. Mais


que isso, o convida para assumir seu lugar provisoriamente no BELEZA PURA.
O amigo acaba topando. Lá se interessa por CATRINA, mas não consegue se
livrar da atração pela nossa vilã, NORMA, que vai usá-lo algumas vezes para
concretizar seus planos.

JUNTOS NOVAMENTE... PARA BRIGAR

Mas uma outra onda inesperada começa a se formar pelas costas de GUI-
LHERME...

Arrasados após as mortes dos cônjuges na queda do helicóptero, DÉBORA e


EDUARDO acabam consolando um ao outro. A aproximação cria laços afetivos
mais fortes. E quando EDUARDO descobre que DÉBORA está passando por
dificuldades, sem ter como pagar o aluguel de seu apartamento, a convida para
morar com ele. O problema é que as filhas adolescentes deles, FERNANDA
(de EDUARDO E MÁRCIA) e Luiza (de ALEX E DÉBORA), se odeiam, odeiam
os novos namorados dos pais, e odeiam mais ainda idéia de morarem juntas. (V.
Histórias Paralelas)
25

KLAUS começa a se envolver com LUIZA, filha de DÉBORA. E também se in-


teressa por FERNANDA, o que cria uma série de problemas, incidentes e do-
res-de-cotovelo para essa trinca.

Os problemas dos adolescentes batem nos pais, que são contra o namoro.
GUILHERME vai pedir satisfações para EDUARDO e os dois brigam. O mais
interessante é que nem GUILHERME é pai legítimo de KLAUS, nem EDUAR-
DO é pai legítimo de FERNANDA. Mas os dois homens amam tanto os filhos-
estepe que agem como se fossem. E então a briga é grande e dura bastante.
Até então, nem GUILHERME nem EDUARDO sabem que estão envolvidos no
mesmo caso da queda dos helicópteros.

Quando KLAUS também se envolve com FERNANDA, a história começa a fi-


car mais complicada. É que a adolescente tenta continuar o trabalho que a mãe
deixou apenas começado e se alia a VALENTINA, a quem foi procurar depois
de ler uma reportagem sobre ela e sua dedicação aos pobres. O sonho de sua
falecida mãe era fazer uma escola de estética para jovens carentes na favela
próxima do colégio e da casa deles. FERNANDA não sabe como fazer isso,
mas com a consultoria de VALENTINA sobe todos os dias na favela e vai, no
braço, continuando a obra. KLAUS acaba indo à favela de vez em quando e a
ajudando (mais interessado na garota do que na obra, naturalmente). KLAUS,
consciente das brigas entre os pais das adolescentes e GUILHERME, não con-
ta para ele o que está fazendo. Até que num dia KLAUS é obrigado por uns
bandidos da favela a assaltar um cara. KLAUS vai acabar na delegacia, geran-
do mais confusão. No final, a história é esclarecida e GUILHERME vê como
aquela comunidade poderia ser diferente se a escola realmente existisse, se
MÁRCIA não tivesse morrido por sua culpa e tivesse parado com as obras.
Então ele decide levar a cabo a idéia de MÁRCIA o que também o aproxima de
VALENTINA.

Enquanto as obras da escola estão em andamento, GUILHERME se vê numa


situação complicada: DÉBORA, cujo falecido tinha deixado um livro incompleto
sobre beleza, quer também realizar o sonho do marido. O fato de EDUARDO
estar, com ajuda de GUILHERME, realizando o sonho da mulher (MÁRCIA), a
deixa mais dolorida ainda. A filha, LUIZA, que namora KLAUS, toma as dores
da mãe. Ambas resolvem fazer uma greve do sexo, até que se faça alguma coi-
sa em relação a isso. E então GUILHERME acha que pode ajudar sim. Pede
para ver os originais e decide que vai lançar o livro.

Mas há dois problemas. Primeiro, o livro está incompleto. Segundo, os patroci-


nadores do programa dele e de VALENTINA é que resolvem bancar o livro.
26

Portanto, os dois têm que escrever juntos. Eles concordam, desde que o autor
permaneça sendo ALEX, com os nomes deles em letrinhas menores. As reuni-
ões entre os dois autores são tensas. Ficavam na mesma sala, mas evitam se
olhar, se tocar ou mesmo esbarrar um no outro. As horas entre os encontros
de trabalho são angustiantes, porque é tudo em que GUILHERME e VALEN-
TINA conseguem pensar: em estar juntos novamente. E quando se encontram...
começa tudo de novo. Até que um dia, GUILHERME, mais consciente de seus
sentimentos, beija VALENTINA à força. Ela resiste, se entrega, e acaba dan-
do um tapa nele. Eles resolvem que é melhor ir cada um para seu canto, “es-
crever” sua parte em separado, depois eles juntariam e pronto.

VALENTINA passa as noites debruçada sobre a sua parte, mas GUILHERME


sofre, não consegue dar um formato para tantas informações que a sua parte
contém. Aí NORMA se aproveita novamente da situação. Ele não pode escre-
ver mesmo por causa do braço quebrado e ela se oferece para ajudar. Sem
saída, ele aceita. NORMA o surpreende: entrega páginas e mais páginas bela-
mente escritas. Só ela sabe o segredo do sucesso: contratou um ghost-writer
que trabalha para ela à noite.

Na noite de autógrafos, VALENTINA vê a intimidade do casal e fica magoada.


E se surpreende com a intensidade dessa mágoa.

CRISTIANO RONALDO percebe e dá o bote: pede-a em casamento. VALEN-


TINA reluta e acaba concordando, mas vão noivar antes. O noivado é uma ma-
neira que ela acha para se acostumar com a idéia, para ver se as coisas real-
mente darão certo e depois... sempre quis ser noiva de alguém. CRISTIANO
RONALDO fica feliz.

FELIZES PARA SEMPRE

Quando MATEUS morre no acidente do helicóptero, deixa HELENA, sua mu-


lher e HUGO, seu filho, numa situação desesperadora. Com o filho muito doen-
te e precisando de remédios caros e com dívidas deixadas pelo marido, ela
acaba assumindo o lugar do marido num novo emprego. Para isso se veste de
homem e passa a ter uma vida dupla.(V. História Paralelas).

DOMINIQUE tem um colega da escola de quem gosta muito, HUGO. A garota


se aproximou dele porque, ao contrário dela e da maior parte das crianças,
HUGO não brinca. Ele vive quieto, lendo seus livrinhos, num canto e às vezes
apresenta umas horríveis manchas vermelhas na pele. DOMINIQUE já apre-
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sentou o menino à GUILHERME e de vez em quando HUGO vai brincar na casa


dele ou de VALENTINA, sempre acompanhada de DOMINIQUE.

Um dia, GUILHERME encontra com HUGO e sua mãe, HELENA. Ele fica pena-
lizado com a diferença entre a energia de DOMINIQUE e a fragilidade de
HUGO. Eles conversam e, para horror de GUILHERME, ele descobre que HE-
LENA era uma das viúvas do “seu” helicóptero. Não conta nada para ela, mas
passa dias e dias se torturando com aquela culpa.

GUILHERME decide fazer o que é correto: resolve contar para HELENA


quem é e oferecer toda a ajuda possível – embora ele duvide de que possa fa-
zer alguma coisa de efetiva em relação ao tratamento do garoto, que é carís-
simo. Ele toma coragem e conta. HELENA fica transtornada e o nervosismo da
mãe abala HUGO. O garoto começa a passar muito mal, as manchas pioram
visivelmente e o menino já quase não consegue respirar. GUILHERME pega
HUGO e o leva correndo para a melhor dermatologista que ele conhece: VA-
LENTINA.

VALENTINA atende a criança e a salva. Eles a levam para um hospital, onde


acabam passando a noite com o menino em observação. É uma noite cheia de
peripércias, que acaba com nossos heróis se beijando e fazendo as pazes. Ne-
nhum dos dois agüentava mais. VALENTINA, feliz, diz que vai terminar o noi-
vado com CRISTIANO RONALDO.

HELENA fica gratíssima à dupla e acaba concordando em conversar com GUI-


LHERME e, quem sabe, receber alguma ajuda dele. No papo, acaba contando
sobre um projeto inacabado do marido. MATEUS estava desenvolvendo um
remédio revolucionário para calvície, em forma de xampu. Mais um dos inven-
tos malucos e provavelmente inócuos do marido. Estava tudo pronto para o
lançamento do produto. Inclusive já existiam cinco mil frascos prontos. Ela
mostra o xampu para a dupla. Eles testam, a coisa realmente funciona. Cabelos
crescem em carecas! VALENTINA fica fascinada, mas quer estudar a fórmula.
Só que GUILHERME acha que eles devem aproveitar o quanto antes uma opor-
tunidade que não vai se repetir: a Feira Internacional de Beleza e Estética,
que vai começar daí a uma semana. Além disso, a viúva precisa do dinheiro, o
menino precisa fazer o tratamento, que é caríssimo...! VALENTINA resolve
mandar o produto para análise de qualquer maneira, mas concorda com o lan-
çamento-relâmpago.

O produto faz um sucesso absurdo. Carecas vêem nascer cabelos da noite pa-
ra o dia e GUILHERME é incensado. Ele bem que tenta tirar de sobre si a res-
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ponsabilidade, falando do verdadeiro autor da façanha, mas agora GUILHER-


ME já é um homem famoso e respeitado. Todos os louros vão para ele. E o di-
nheiro vai para a viúva.

Nesse momento da nossa história, tudo parece que está indo bem, muito bem
até. GUILHERME e VALENTINA estão juntos finalmente, a família está unida.
Os negócios vão bem. As obras na escola de estética estão no fim e é só isso
que falta. GUILHERME já tem um plano: assim que a escola inaugurar, ele casa
com VALENTINA. E aí será feliz para sempre.

Esse também é o prazo que NORMA se deu para acabar de vez com toda essa
alegria.

DESASTRE

No dia da inauguração da escola, no dia do casamento de GUILHERME e VA-


LENTINA, na hora do “sim”, uma pessoa interrompe a cerimônia. GUILHERME
não acredita no que está vendo, mas é ela sim. É SÔNIA.

É uma comoção. SÔNIA então não tinha morrido na queda do helicóptero. Ela
não apenas aparece ali, naquela hora crucial, como chega se fazendo de vítima:
diz que quase morreu por causa de GUILHERME e está sem a sua clínica por-
que ele roubou todos os projetos, roubou seus filhos também. GUILHERME
perplexo. Ela chora, dissimulada. VALENTINA fica chocada, desiludida, arra-
sada. Vai embora.

Secretamente, NORMA aplaude. Fora ela quem descobrira SÔNIA e armara


tudo. As duas biscas estavam em conluio.

SÔNIA simula uma carência que não tem, se enfia na casa dele e começa a
trabalhar para ter sua clínica de volta. E para destruir GUILHERME. Ela ma-
nipula os dois filhos, fazendo chantagem, querendo forçar a barra, dizer que
os quatro podem ser uma família feliz. Procura VALENTINA e se comporta
como a mãe que a moça sonhara em ter: atenciosa, amorosa e, claro, apaixona-
da por GUILHERME, apesar de tudo o que ele a fez passar. VALENTINA, que
tem aquela imagem idealizada da mãe e que não sabia do relacionamento entre
ela e GUILHERME, é facilmente manipulada por SÔNIA e fica totalmente
contra o amado.

Para completar a derrocada do nosso herói, eles recebem o laudo com a análi-
se do xampu contra a calvície: ele contém uma substância retirada de animais
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que estão em extinção. Pior, o processo demanda que o animal sofra terrivel-
mente. Ao mesmo tempo em que descobrem isso, CRISTIANO RONALDO
também descobre. E divulga. O nome de GUILHERME vai para o ralo mais uma
vez. Os patrocinadores suspendem o programa. A clínica ele já não tem, por-
que SÔNIA já a assumiu. Para culminar a sucessão de desgraças, GUILHERME
é preso por conta do uso da substância proibida.

NORMA o tira da cadeia. Como SÔNIA não o quer aceitar em casa, ele acaba
indo morar com NORMA. SÔNIA já tinha conseguido o que queria: suas coisas
de volta com muitos juros. Sua parte no trato está feita. Agora NORMA pode
ficar com ele...

Para GUILHERME a única coisa que restou foi a escola de estética. Ele vai
tocando o projeto, sem dinheiro e cheio de dificuldades.

O escândalo resvala em VALENTINA, que perde o programa também e vê a


clientela na clínica abandoná-la. Sem saída e estimulada pela mãe, ela aceita o
oferecimento de CRISTIANO RONALDO, que lhe dá um emprego em sua clí-
nica.

Todos os planos de NORMA estão dando certo.

A VOLTA DOS QUE NÃO FORAM

Não foi apenas SÔNIA que sobreviveu. Todos os “mortos” no acidente do he-
licóptero começam a voltar. E cada um, ao voltar para sua antiga vida, causa
um rebuliço na vida dos que ficaram. (V. Histórias Paralelas)

PRIMO PROBRE, PRIMO RICO.

OLAVO chega pouco depois de JOSÉ HENRIQUE, o advogado dele, tomar


toda a fortuna de ROBSON. O milionário quer matar o primo de quarto grau,
mas não tem remédio: tem que ir morar com ele na favela. O pedreiro desco-
bre que o milionário se apaixonou por SÔNIA enquanto ficaram isolados em
uma ilha. Mas OLAVO sabe muito bem como a amada é interesseira e só ficará
com ele se ele tiver sua fortuna de volta. Para ele, que não é muito melhor,
isso não é um defeito, apenas um traço de caráter “forte”. ROBSON, que ado-
ra o primo ex-rico, o convence a lutarem juntos para recuperarem a fortuna
de OLAVO.
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SEQUESTRO DE MATEUS

MATEUS, o farmacêutico, volta causando constrangimento na mulher, HELE-


NA. Porque até então todos acham que HELENA é MATEUS e ela não quer ir
para a cadeia por falsidade ideológica. Por isso, obriga o marido a se vestir de
mulher e se passar como esposa “dele”. O artifício se revela mais do que prá-
tico por um tempo até que GUILHERME é preso por causa do produto contra
calvície criado por MATEUS. Se o verdadeiro responsável aparecer, é ele
quem será preso no lugar do ex-engenheiro e se HELENA continuar se pas-
sando por MATEUS, quem vai em cana é ela. O casal fica dividido: por um lado
querem ficar juntos e criar o filho. Por outro, ficam com a consciência pesada
por causa de GUILHERME, que, embora quase tenha matado MATEUS no co-
meço, foi um cara legal com HELENA. E agora está pagando por isso.

Então MATEUS resolve se entregar e assumir sua responsabilidade, com o


apoio de HELENA. Mas ele nunca chega à delegacia.

Foi outro “trabalhinho” de NORMA, que não quer que GUILHERME seja ino-
centado.

CASAIS TROCADOS

Quando ALEX e MÁRCIA chegam em casa, dão de cara com seus respectivos
cônjuges morando juntos e absolutamente apaixonados. Por algum tempo, en-
quanto o embrulho não se resolve, ficam morando todos juntos: os quatro a-
dultos e as duas adolescentes.

ALEX fica super feliz quando vê que seu livro foi publicado. E MÁRCIA tam-
bém, ao descobrir que a escola dos seus sonhos está funcionando. Eles procu-
ram GUILHERME e serão os únicos a ajudá-lo nas tramas que se complicam.

VALENTINA COMEÇA A DESCOBRIR A VERDADE

Trabalhando com CRISTIANO RONALDO, VALENTINA começa a recolher


pistas de que o cirurgião e NORMA andaram mancomunados contra GUI-
LHERME. Como os nossos vilões são espertos, eles descobrem que a médica
andou fuxicando. OLAVO trata de se livrar das provas e fazer de tudo para
despistar VALENTINA.

Só que VALENTINA descobre indícios de que NORMA foi subornada no epi-


sódio da falha nos projetos do helicóptero. NORMA está nervosíssima, porque
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o mesmo homem que a subornou a está chantageando. Ela percebe que VA-
LENTINA está desconfiada, embora ainda não saiba de toda a verdade. Agora
a situação é grave, muito grave para NORMA. Não dá mais para brincar de
despistamento. Ela precisa é se livrar de VALENTINA, para sempre.

Para isso, NORMA começa a envenenar literalmente a médica. Ela não conta
isso para OLAVO, porque sabe que ele é estupidamente apaixonado por VA-
LENTINA. Quer que a médica morra como se fosse conseqüência da manipula-
ção inadequada de alguma substância que ela usaria normalmente em seu tra-
balho. Se aquilo incriminasse CRISTIANO RONALDO, tanto pior. VALENTI-
NA começa a ficar debilitada e logo está muito doente.

GUILHERME larga tudo e vai cuidar da amada. É difícil descobrir o veneno,


mas para isso ele conta com a ajuda de seus novos amigos. Aos poucos VA-
LENTINA vai se recuperando e conta de suas suspeitas.

Agora nossos heróis têm mais algumas missões pela frente: desmascarar
NORMA, descobrir onde está MATEUS, prender CRISTIANO RONALDO,
tirar HELENA da cadeia, devolver a fortuna para OLAVO, arrumar os casais
românticos, salvar a clínica para o povo carente, resolver todos os imbróglios
e, principalmente, descobrir a verdade por trás do acidente do helicóptero,
porque, é claro que tudo isso, desde o início, foi plano de alguém...

Mas quem????... E por quê????...

Depois de tudo resolvido, quem sabe, GUILHERME e VALENTINA poderão


ser felizes para sempre.

Finalmente!
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HISTÓRIAS PARALELAS
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HISTÓRIAS PARALELAS

A MULHER QUE ERA O PRÓPRIO MARIDO

Essa é a história de Helena Astragão, seu marido Mateus, seu filhinho Hugo,
um amigo da família, Elizabeto Jorge e de como os percalços da vida fizeram
essa mulher pacata enganar meio mundo para poder salvar seu filho e sua fa-
mília. E de como ela também quase enganou a si mesma!

Helena sempre lutou com dificuldades. Casou com Mateus por amor, mas ulti-
mamente tem sido difícil agüentar o que ela chama de “sonhos malucos de ci-
entista doido” do marido. É que Mateus é farmacêutico como ela e vive que-
rendo achar uma fórmula fantástica de alguma coisa, qualquer coisa, que lhe
dê muito dinheiro e fama. Mateus é muito talentoso e tem o jovem Elizabeto
Jorge, que foi colega de colégio de Helena para ajudá-lo e apoiá-lo. O proble-
ma é que o filho de Mateus e Helena, Hugo, de 10 anos, tem uma doença com-
plicada, limitante e cujo tratamento é caríssimo. E a dedicação à pesquisa de
Mateus não dá dinheiro nenhum. Ao contrário. Ele é tão envolvido com isso que
não liga muito para seu trabalho num laboratório. Nunca é promovido e ganha
pouco, apesar de seu talento. Mas ele sabe que seu salário de químico jamais
conseguiria pagar o tratamento do filho, aliás foi por causa de baixo salário
que Helena abandonou a profissão e resolveu economizar sendo dona de casa.
Mateus está obsecado por dar uma tacada só, e grande. Com isso iria tapar a
boca da mulher, que o critica, ganharia dinheiro suficiente para melhorar e
muito as condições da família e, melhor de tudo, teria mais do que o suficiente
para o tratamento do pequeno Hugo.

A situação mina a relação do casal. Helena, mais prática e pé-no-chão, insiste


para que Mateus procure um emprego melhor, que ganhe melhor para que eles
possam pagar o tratamento de Hugo. Mas Mateus sempre diz para ela esperar
que daí a pouco vão tirar o pé da lama. Helena, que ouve essa história há anos,
já está exasperada. Para completar o orçamento familiar, ela dirige uma velha
Kombi e leva crianças para o colégio. Mas as brigas entre o casal são constan-
tes.

É então que o helicóptero em que estava Mateus cai. Ainda atordoada com a
notícia do falecimento do marido, numa situação mais desesperadora ainda,
Helena recebe um telegrama...
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O telegrama é a resposta de uma aplicação para um novo emprego feito por


Mateus. Um emprego mais exigente, mas que pagava bem mais. Na verdade,
era a resposta sobre um currículo que a própria Helena, no auge do desespero,
mandara. Ela planejava conseguir a colocação e só então mostrar tudo para
Mateus. O emprego era irrecusável. Numa clínica de alto luxo, como farma-
cêutico-chefe. Folga todos os finais de semana, décimo-terceiro, férias, e até
plano de saúde para a família! Tirando o salário, bem melhor.

Helena fica olhando para o telegrama arrasada. Tinha conseguido aquilo e ago-
ra... não servia de nada. Mateus tinha morrido. Nesse estado de prostração,
ela recebe a visita de Elizabeto Jorge, que odeia ser chamado de Elizabeto.
Mas Elizabeto é um gay bonito, carinhoso e que adora maquiagem. Foi ele quem
deu força para Helena inscrever Mateus no novo emprego. É que Elizabeto já
trabalhava na clínica e achava que essa podia ser a saída para o casal. Elizabe-
to chateado, que pena, era o emprego perfeito... E agora vão ter que desistir.
Nesse momento, Hugo chega, com uma pequena crise e Helena o atende até
acalmá-lo. Depois desaba. Lá está ela, desesperada, sem dinheiro para pagar
um bom médico, sente que precisa fazer alguma coisa. E rápido. Elizabeto la-
menta a perda da oportunidade do trabalho no laboratório, Helena cogita ir à
empresa com seu diploma, mas não tinha, nem de longe, um currículo compará-
vel ao do marido, certamente perderia a posição. De repente Helena olha para
o telegrama, pensa, e tem uma idéia: vai assumir o emprego no lugar do marido.
Mas como, quer saber Elizabeto. Ela diz que é simples, vai disfarçada de Ma-
teus. Vai se vestir de homem. Ninguém no novo emprego conhece Mateus. Ela
vai conseguir! Ainda mais se Elizabeto a ajudar com a maquiagem e produção.
Elizabeto acha aquilo meio louco, meio arriscado, mas não tem tempo para pen-
sar. Helena quer ver como fica vestida de homem bota o amigo para trabalhar.
Uma hora depois, a pessoa que levanta da cadeira é outra: um rapazinho. Sim-
pático, delicado, jovem, mas definitivamente um homem. Helena respira fundo
surpresa com a própria ousadia. Elizabeto ainda tem dúvidas. Digamos que es-
sa loucura funcione, e a parte prática do trabalho? Ela tem seu diploma, pode
não ter tanta prática, mas para isso conta com Elizabeto, que está lá e pode
ajudá-la. Depois, eles só farão isso até ganharem o processo que estão moven-
do contra a empresa que construiu o helicóptero. Pouca coisa. Um, dois meses.

Helena toma coragem e vai. Para seu espanto, ninguém repara nem um pouco
que ela é uma mulher se fazendo passar por homem. Todos parecem querer
apenas agradar ao novo chefe. Com a ajuda de Elizabeto, vai se desincumbindo
razoavelmente das novas atribuições, embora cause algumas atrapalhadas.
Como faz uma figura delicada, alguns funcionários insinuam que duvidam de
sua masculinidade – e aí Helena fica furiosa e não leva desaforo para casa. O
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medo dela é que descubram a farsa. Por isso, acaba passando por um homem
explosivo e meio complexado. Isso não impede que uma ou outra funcionária o
ache lindo, uma graça e sensível e comece a arrastar sua asinha para ela. E,
pior, que ela não resista uma olhadela um pouco mais ousada a algum homem
interessante que trabalha a seu lado.

E assim Helena vai levando sua dupla vida como pode. Esconder da vizinhança é
uma dificuldade, e uma ou outra fofoqueira já desconfia que ela tem um aman-
te (“nem esperou o defunto esfriar, imagina!”).

As coisas começam a melhorar quando ela entra em contato com Guilherme e


Valentina. Eles resolvem botar no mercado a última invenção de Mateus, um
xampu contra calvície, e a coisa é um sucesso. Helena antevê a possibilidade
de voltar a ser apenas uma mulher como as outras, de fazer o tratamento do
filho... quando o produto vira um escândalo nacional. Mateus havia usado uma
substância proibida. O produto é recolhido e Guilherme, como responsável, é
preso.

Nesse momento, Mateus reaparece.

A VOLTA DO FARMACÊUTICO QUE NÃO FOI

Após a perplexidade inicial, após as explicações (o helicóptero havia caído sim,


mas eles conseguiram nadar até uma ilha e se salvar, sobrevivendo até achar a
civilização) após o desabafo de Helena e as desculpas de Mateus – ele estava
desesperado, não agüentava mais ver a mulher e o filho sofrendo por causa
dele, por isso usou a substância proibida -, os dois pensam no que fazer.

Uma coisa é certa: ou Mateus se entrega e vai preso no lugar de Guilherme, ou


some novamente. Mateus diz que não agüenta mais. Passou meses de provações,
não vai agüentar a cadeia. Helena acha que ele tem que se entregar e tirar
Guilherme da prisão injusta e ele argumenta que se ela está passando por ele,
se Guilherme for inocentado, quem vai presa é ela, ou pelo uso indevido da tal
substância ou por falsidade ideológica. O casal acaba concordando em conse-
guir primeiro um advogado que dê conta desse “imbróglio” porque ambos não
têm a menor idéia de como sair da enrascada.

Enquanto nada se resolve e a vizinhança já está aguçada, Mateus precisa de-


saparecer. Então Helena, com ajuda de Elizabeto, faz a operação contrária:
veste Mateus de mulher e começa a tratá-lo como sua esposa. E assim o casal
vai se virando por algum tempo, até que a situação fica insustentável, moral-
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mente inclusive. Eles resolvem que Mateus deve se entregar e pagar o que de-
ve, mesmo sem advogado, livrando Guilherme da responsabilidade.

Só que, no caminho para a delegacia, Mateus simplesmente desaparece. Nos-


sos personagens descobrem que o sumiço foi patrocinado por Norma, mas não
sabem o que aconteceu com o farmacêutico. Estará morto – de vez, agora? Ou
seqüestrado, amarrado na linha do trem e ainda de saltos altos? Todos saem
atrás dele, que pode ser a chave para desmascarar a vilã-mor, Norma.

UMA HISTÓRIA DE DUAS FAMÍLIAS

Débora e Alex, Márcia e Eduardo. Eram dois casais que não se conheciam. Até
que o destino juntou no mesmo acidente o médico Alex e a jornalista Márcia.
Os dois morreram e os viúvos, Débora e Eduardo, ficaram como ficam os viú-
vos, perplexos, arrasados, sem chão.

Débora era uma dona-de-casa. Nasceu para isso. Até tentou fazer outras coi-
sas, mas a única atividade extra em que ela se dava bem era o crochê que fa-
zia com perfeição. É claro que no mundo não há tanta demanda assim para cro-
chê, e sua produção se empilhava no armário dos fundos da casa, assim como
seus suspiros por uma vida mais romântica, menos previsível. Mas sinceramen-
te ela não estava esperando tanto. A tragédia da morte do marido a deixou
com uma mão na frente e outra atrás. Havia o aluguel para pagar, a filha para
sustentar, nunca tinha trabalhado na vida. E agora?

Débora conhece Eduardo nas reuniões das famílias das vítimas do helicóptero.
A simpatia é imediata e mútua. Da mesma maneira que a antipatia entre as
filhas deles é recíproca. Apesar das duas adolescentes viverem em pé de
guerra, Débora e Eduardo se aproximam e se consolam. Até que um dia a situ-
ação dela fica periclitante. Não há mais nada a vender. Então Eduardo chama
as duas para irem morar com ele e com a filha – com todo o respeito, é claro.
Uma coisa temporária, até que as duas conseguissem tomar pé na nova situa-
ção.

Débora acaba aceitando. A situação se estende, parecendo interminável para


as duas filhas adolescentes e revoltadas. Mas piora. Aos poucos, o dia-a-dia,
as pequeninas e doces coisas do convívio vão aproximando Eduardo e Débora.
Daí a pouco os dois namoram – e as adolescentes se odeiam. Débora, embora
amasse o marido, se sente realmente valorizada pela primeira vez. Eduardo
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adora o jeito competente e amoroso com que ela cuida da casa e da família, e
também os paninhos de crochê que ela faz! Levou até um porta-papel-higiênico
para botar no banheiro do posto! Ele bem que não é um médico, que nem o fa-
lecido, mas é tão... sedutor! Leva flores, compra goiabada, que ela adora, e a
preocupação dele com a Fernanda? Nem filha de sangue é, até é bem mal-
educada com ele, mas Eduardo a ama como a uma filha. Dá uns “chega pra lá”
nela, mas bem que Fernanda anda precisando de limites nessa vida mesmo. O
pai não dava, ela foi se criando assim, solta.

Para Eduardo, Débora é também uma descoberta. Ele admirava a esposa fale-
cida. Márcia era uma jornalista. Eles haviam se conhecido no colégio e namora-
ram desde sempre. Ele a ajudou a bancar os estudos e sempre deu suporte.
Mas ele mesmo acabou seguindo um outro caminho. Herdou o posto do pai e se
integrou de tal forma ao negócio que não se via fazendo outra coisa na vida. O
fato é que ele e Márcia não eram exatamente um casal afinado, embora gos-
tassem um do outro. Havia brigas e desentendimentos, assim como algum res-
sentimento pelas diferenças culturais. Quando Eduardo encontrou Débora, viu
nela tudo o que gostaria de ver na sua esposa. Débora era calma, cordata, de-
licada, estava sempre “ali”. E como cozinhava bem! Tinha a filha complicada,
mas ele também tinha uma garota meio esquisita.

Débora e Eduardo resolvem ficar juntos, mesmo contra a vontade das filhas.
Acham que a belicosidade das duas adolescentes passará com o tempo e com
paciência.

E então Márcia e Alex voltam.

DE GRANDE A ENORME FAMÍLIA

Demora um tempo para que os seis envolvidos nesse conflito inusitado enten-
dam o que está acontecendo. Márcia volta para casa e vê outra mulher no seu
lugar. Alex volta pra casa e... descobre que não tem mais casa. As duas adoles-
centes ficam felicíssimas porque seus pais voltaram e tudo será como antes. E
Débora e Eduardo, que julgavam já ter passado por todos os perrengues da
viuvez inesperada e que agora estavam felizes juntos, descobrem que não, que
não são mais viúvos.

Os casais, perplexos, são obrigados pelas circunstâncias a morarem juntos.


Mais as duas filhas. As intimidades anteriores não podem ser restabelecidas
imediatamente nem as novas plenamente vividas. Então a casa de Eduardo se
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transforma praticamente numa república, onde cada um tem seu canto sepa-
rado.

O problema é que Márcia e Alex também têm um segredo. Enquanto estavam


perdidos na ilha, tiveram um breve caso. Muito mais cheio de culpa, porque
sabiam que os cônjuges estavam vivos. Pior ainda quando voltam e descobrem
que seus sonhos profissionais interrompidos haviam sido realizados por Gui-
lherme, com ajuda de Débora e Eduardo. Márcia e Alex gostam de suas famí-
lias e sentiram falta esse tempo todo, mesmo com o “deslize” cometido, que
atribuem mais à solidão e ao medo no lugar desconhecido. Ao mesmo tempo,
ficam enciumados ao verem que eles haviam se arranjado tão bem sem a pre-
sença deles.

Passado o primeiro choque, as camadas de sentimentos e ressentimentos co-


meçam a querer se acomodar. Débora lembra do seu sonho de casar com um
médico e acha que deve voltar para o marido. Mas a essa altura Eduardo não
vai largar seu osso de crochê tão fácil assim. Os dois disputam a dona-de-casa,
provocando ciúmes em Márcia, que quer seu marido de volta, mas não consegue
esquecer os dias de muito sol e pouca roupa que viveram na ilha. E não é só
isso. Eles tem filhos! Alguma aparência há que ser mantida! E bem que Márcia,
Alex, Eduardo e Débora se esforçam. No meio dessa confusão, as duas ado-
lescentes aproveitam para fazer tudo ficar mais complicado e delicado. No
início eram as únicas que tinham certeza do que queriam: se separar e para
sempre. Mas quando viram a loucura que se apossou dos adultos, nem elas sa-
bem mais. Chegam a unir as forças para separar os casais. Mas quem são os
casais agora?? A casa outrora pacata se transforma numa imensa república
de estudantes, cheia de quartos e portas batendo. À noite as coisas não são
diferentes, apenas mais abafadas.

O MILIONÁRIO E O FAVELADO

Robson estava na favela onde morava, batendo a terceira laje do dia quando
recebe a notícia: um primo distante havia morrido e deixado toda a sua heran-
ça para ele. Robson precisava aparecer lá o mais rápido possível. Robson ter-
mina sua laje, toma seu banho e ruma para o escritório do “doutor adevogado”.
Afinal, ele pensa, se um primo deixou seja lá o que for para ele, foi de bom
coração. E lá foi Robson, esperando trazer de volta uma mula velha, um saco
de roupas ou algumas panelas batidas.
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Quando chegou lá e descobriu o que havia herdado e por quê, quase tem um
treco. Seu primo de quarto grau, Olavo Pederneiras, havia morrido num aci-
dente de helicóptero e ele era o único herdeiro de toda a sua fortuna. Uma
mansão, para começar. Terras, imóveis, uma empresa de importação e expor-
tação de equipamentos de ponta de estética e beleza, coisas que Robson não
tinha a menor idéia de que sequer existiam.

Quem apresentou tudo isso a ele foi José Henrique, advogado e secretário de
Olavo. E um sujeito nem um pouco confiável. José Henrique imediatamente se
colocou como advogado de Robson e este deixou, já que parecia que ele e o
primo tinham alguma relação boa no passado. Robson já gostava muito desse
primo distante e não queria contrariar sua falecida alma, Deus a guarde. Mas
ele não gostava desse José Henrique, não.

Realmente, José Henrique não era confiável. Ele se achava no direito usurpado
de ter herdado os bens de Olavo, já que considerava que fizera muito pelo
milionário nos anos anteriores. Tinha convicção de que Olavo teria feito um
testamento beneficiando-o (e como ele procurou alguma cópia, um rascunhozi-
nho qualquer desse testamento), mas que o acidente o impediu de registrar.
De maneira que quando Robson tomou posse de toda aquela riqueza, José Hen-
rique começou a fazer de tudo para tirá-la dele.

Só que o pobretão era muito esperto. Não passava recibo, não era ludibriado
com boas maneiras, nada. Pior ainda foi quando Guilherme apareceu na vida
dele. Por mais que José Henrique tivesse feito de tudo para “abrir os olhos”
de Robson, os dois estabeleceram uma amizade sólida, concretizada na reali-
zação de um programa de tv cujo projeto Olavo havia deixado incompleto.

A trajetória de Robson como novo rico tem altos e baixos. Desde o deslum-
bramento inicial, o mostrar a casa aos amigos, às crises de solidão, às cente-
nas de solicitações batendo à sua porta, convites para festas da sociedade,
programas de tv, o ridículo e a zombaria, o abandono pelos amigos pobres. O
pior de tudo foi o término do namoro com Rakelly, sua namoradinha desde
sempre. Isso acontece quando ele conhece Sheila, namorada de José Henrique,
que é insinuada de maneira melíflua na vida de Robson. É somente Sheila quem
consegue virar a cabeça do nosso ex-favelado e deixá-lo desprotegido nas
mãos do inescrupuloso José Henrique. O advogado toma tudo de Robson.

E então Olavo volta.

A VOLTA DO MILIONÁRIO POBRE


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Olavo volta para o que não tem mais. Robson perdeu tudo. Olavo não acredita.
Não acredita que a vida possa ser tão madrasta com ele, um cara que sempre
cultivou a beleza, as coisas boas, que nunca fez mal a uma mosca... (não fez
bem também, mas isso é outro assunto). Seu helicóptero cai, ele quase morre,
passa meses numa droga de uma ilha deserta que nem banheiro tem, e quando
volta tem um favelado fechando o que restou de sua casa? Todo o seu patri-
mônio ardilosamente roubado pelo homem que ele ajudou a vida inteira, seu
advogado e secretário José Henrique?? Se isso quer dizer alguma coisa, ele
desespera, alguém tem que desenhar, que assim não dá pra entender.

Olavo chega e dá com aquele quadro desanimador. A sua primeira providência


é sair na porrada com Robson e eles até que resolvem a disputa a contento,
sem vencedores. Depois, Olavo se dá conta que tem um outro problema, muito
mais grave: simplesmente não tem onde dormir. Não dá para ir para um hotel,
porque ele não tem nada, nem um tostão. Robson acaba levando-o para seu
barraco na favela. A partir daí, os dois vivem às turras. Robson mais cordato,
mas que não leva desaforo pra casa – principalmente quando as recebe na sua
própria casa! E Olavo com a certeza de que Robson foi o culpado por sua deca-
dência atual. Além disso, Olavo tem uma dorzinha no coração: se apaixonou por
Sonia, na ilha dos tripulantes do helicóptero caído. E a mulher, agora que ele
está pobre, não quer nada com ele. Robson, com seu olhar ético, acha que é
muito bom para ele, se livrou de uma mulher interesseira. Mas Olavo não acha.
Considera Sonia uma mulher forte e batalhadora. Enfim, os dois se merecem e
caminham juntos naquele estreito corredor entre o que é certo e o que é er-
rado.

Então Robson convence Olavo de que eles têm que batalhar juntos para recu-
perar o dinheiro de Olavo. Que história é essa, deixar aquele pilantra do José
Henrique com todos os louros? E com a loura também, já que Sheila voltou pa-
ra ele.

E então os dois vão. Juntos, braços dados, rumo ao infinito e além, rezando
para que em algum momento as coisas comecem a dar certo!

..........................................................................
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PERSONAGENS DETALHADOS
NÚCLEOS E FAMÍLIAS.
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PERSONAGENS
OS RICOS DE IPANEMA.

GUILHERME MEDEIROS

Em torno de 40 anos. É um homem de caráter, embora nunca tenha precisado


usá-lo muito. É que a vida de Guilherme sempre foi muito confortável e previ-
sível. Embora o início de sua vida não tenha sido fácil – seus pais morreram
num acidente quando ele era criança e ele foi criado por uma tia já falecida
também - ele rapidamente se organizou em torno de seu trabalho. Guilherme é
engenheiro aeronáutico e projeta helicópteros. Sua vida é tão fechada sobre o
trabalho que ele praticamente não tem idéia de como é o “mundo lá fora”. Gui-
lherme gosta das coisas boas, tanto que não economiza dinheiro. Tem uma ó-
tima casa, dá um ótimo salário para a empregada da qual ele nem sabe o nome,
tem o melhor da tecnologia dentro do seu apartamento e seu carro é invejado
pelos vizinhos. Mas tem poucos amigos. Basicamente só Norma, sua colega
desde a faculdade e que é secretamente apaixonada por ele, e Raul, também
colega do trabalho, embora labutem em áreas diferentes.

Nosso herói é bem egocêntrico, sim. Não gosta que desarrumem sua rotina tão
bem organizada em volta dele próprio e de seu trabalho. Guilherme nunca pre-
cisou dividir sua vida, suas coisas. Nunca sentiu essa necessidade. Ele não tem
nem plantas em sua casa. Embora goste de seus poucos amigos, mal sabe o que
acontece na vida íntima deles. É muito mulherengo, sedutor, uma arte na qual
ele é mestre sem fazer força. Guilherme é bonito e usa isso. Casamento ja-
mais passou pela sua cabeça. Para quê? Guilherme só vive o presente.

Guilherme escolheu ser engenheiro aeronáutico porque desde muito novo ado-
ra consertar aparelhos. Elétricos, eletrônicos, mecânicos, tanto faz. Desde os
mais simples, como ferro de passar, até as mais sofisticadas, como um laser
de última geração. E sempre, mesmo que demore um pouco, consegue fazer
tudo funcionar. Mas o problema é que quando se imbui desse tipo de tarefa,
sua concentração é tamanha, que nada o faz parar. Mesmo coisas bem mais
urgentes ficam em segundo ou terceiro plano quando ele está concentrado nos
seus gadgets. Nestes momentos (e apenas nestes), Guilherme é um distraído.

Quando toda a derrocada acontece na sua vida, ele é violentamente lançado ao


mundo “dos outros”. De repente, sente-se culpado pelo mal que fez, involunta-
riamente, para outras pessoas. Sente-se responsável pelas crianças, Klaus e
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Dominique – e nunca se sentiu responsável por nada antes em sua vida. Mais do
que responsabilidade, Guilherme ama pela primeira vez: as crianças e Valentina.
E em sua caminhada, vai encontrando mais pessoas, as famílias das vítimas do
helicóptero que ele construiu e caiu, vai se envolvendo, vai entendendo que ele
não é a única pessoa no mundo – e vai gostar disso.

NORMA GUSMÃO

Uns 30 anos, executiva poderosa, inteligente, ótima engenheira aeronáutica,


linda, elegante, bem vestida, discreta, culta, mas uma mulher fria e calculista,
que não admite perder nem ficar em segundo plano. Quando quer alguma coisa,
tem que ter e nada vai impedi-la, custe o que custar. Ética, moral, escrúpulos
nada tem o poder de detê-la, é movida por uma vontade férrea e passa por
cima do que for. Mas não usa a agressidade, envolve suas vítimas com inteli-
gencia e astúcia. É apaixonada por GUILHERME, mas até hoje não conseguiu
conquistá-lo, embora já tenha visto o amado ter nos braços quase todas as
suas colegas da faculdade e do escritório, menos nos dela. Por esta paixão es-
ta disposta a ir às últimas conseqüências. É inteligente e odeia gente burra,
especialmente homem burro. É uma frase que ela solta à vontade e com des-
prezo: “Odeio homem burro!”.

De família rica, ela foi educada para só querer o melhor do melhor. Por isso
rejeitava Guilherme quando ele ainda era um estudante pobre: não por causa
dela, mas pela pressão da própria criação. Mas assim que melhora de vida, ela
se dá a liberdade de se apaixonar de verdade. Só que aí é muito tarde. Ele já a
vê como um amigo, o que não é difícil por causa dos tailleurs escuros que ela
sempre veste. Esse amor frustrado e as humilhações que ela julga que passou
a deixam furiosa com Guilherme. Ela trabalha na mesma empresa que ele e
quando um concorrente oferece suborno para ela prejudicar o projeto de Gui-
lherme – que renderia milhões à fábrica, além do prestígio internacional -, ela
vê aí uma oportunidade de se vingar do homem que sempre a rejeitara. Além,
claro, de ganhar uma fortuna. Mesmo assim, Norma não consegue tirar Gui-
lherme da cabeça e continua perseguindo-o. Mente, engana, dissimula, sabota.
Ela quer que Guilherme perca tudo e fique nas mãos dela e não vai sossegar
enquanto não conseguir seu intento.

Norma tem um gato. Preto, que todos acham que dá azar, mas ela ama. Pura
carência, claro. Depois de quebrar a cara algumas vezes, ela começa a olhar
para o gatinho enviesado. Será que devia ter escolhido um gatinho branco??
Chega a botar o gato pra fora, tenta se livrar dele despachando-o na porta de
uma vizinha, mas ele sempre volta... E ela o aceita, afinal é seu ponto fraco.
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RAUL FREIRE

Uns 35/40 anos. Melhor amigo de Guilherme. Bem ao contrário do amigo, Raul
é um cara com uma alma bem feminina (não, não é gay). Ele gosta das pessoas,
valoriza os sentimentos, é um romântico, intenso, passional. Até o momento,
ele dedicou toda essa paixão à Norma, mas nunca teve coragem de se declarar.
Ele sabe que ela é apaixonada por Guilherme, embora não saiba quanto. Ele a
vê de uma maneira idealizada, e só vai cair na real quando ela o usar desaver-
gonhadamente. Raul se ressente do que ele considera frieza em Guilherme,
que é nada mais que o egocentrismo do amigo. Mas gosta muito de Guilherme e
ficará ao seu lado para o que der e vier. Raul é fiel. Ele só tem um probleminha,
mas bem pequeno. É extremamente sensível a odores. Por isso acabou esco-
lhendo a carreira na informática, um lugar onde não há cheiros. Alérgico, ele
pode passar dias espirrando se sente um cheiro muito forte. Mas tem um
cheiro que ele adora: o de Norma. Além disso, Raul é peladeiro profissional.
Talvez a única paixão que rivalize com a que sente por Norma. Por causa das
peladas, ele esquece os compromissos mais importantes. E não raramente
comparece a outros todo enfaixado, conseqüência de uma entrada mal-feita
ou uma falta bem-feita. Raul vai ser um apoio importante para Guilherme em
sua nova vida. Também vai ajudar bastante Klaus, o adolescente complicado e
rebelde, que jamais pensará que o doce Raul pode ser bem capaz de atitudes
radicais.

CRISTIANO RONALDO

Cerca de 40 anos, bonitão, excelente cirurgião plástico, dono da clínica de ci-


rurgia plástica mais sofisticada e bem-sucedida da cidade. É apaixonado por
Valentina, mas nunca teve coragem de se declarar por ter grandes dificulda-
des para se relacionar com mulheres, característica que disfarça muito bem
no dia-a-dia. Mas sempre que é obrigado a se relacionar com mais intimidade
com alguma mulher, foge imediatamente, sendo agressivo e ríspido. Herdou o
trauma da época de faculdade, uma história que ele não conta nem sob tortura.
Cristiano Ronaldo parece ter dupla personalidade. Com seus empregados, é
intratável, grosseiro, arrogante. Diante de uma cliente, torna-se o homem
mais compreensivo e gentil que existe na face da terra. Dá uma de psicólogo,
finge se interessar pelos problemas conjugais das suas clientes inseguras e, no
final, reforça que depois da plástica a vida delas vai mudar da água pro vinho.
Com apenas uma consulta, ele consegue convencer qualquer mulher a operar o
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nariz, o queixo, esticar o pescoço. Vende seu peixe como ninguém e por isso é
um dos cirurgiões mais disputados da cidade.

FAMÍLIA AMARANTE

VALENTINA DA SILVA / AMARANTE

Em torno de 25/30 anos. Órfã desde cedo, abandonada pela mãe, ela lutou e
se formou em dermatologia. Por isso o sobrenome “Da Silva”, dado aleatória-
mente no orfanato. Quando ela descobre que o nome da mãe é “Amarante”, se
toma de amores por esse nome e luta para assiná-lo como seu. Talentosa, habi-
lidosa, é o contrário de Guilherme: sempre quis pertencer a alguém, a alguma
coisa. Ela sempre quis ter uma família de verdade. É romântica, carinhosa,
humilde, mas decidida. Leva desaforos para casa até certo ponto.

Não sendo uma pessoa vaidosa, Valentina também não despreza a própria apa-
rência. Por isso não concebe sair de dia sem filtro solar e, à noite, gasta sem-
pre um bom tempo exercitando sua habilidade em se maquiar sem deixar ves-
tígios. Claro que isso a torna também extremamente observadora do estado
da pele alheia. Alguns homens quando aproximam o rosto do dela acabam des-
cobrindo que tem acne, ou dermatite seborreica, ou caspa nas sobrancelhas.
Mas é uma crítica saudável, para a qual ela tem remédio, naturalmente. Essa
mania da Valentina já custou a ela alguns rompimentos. Muitos homens se sen-
tem inseguros com uma mulher capaz de achar “caspa em sobrancelha.” Mas
ela não consegue se controlar. Não deixa passar nada, mesmo que isso lhe cus-
te o namorado.

Seu grande sonho de menina é conhecer a mãe, Sônia, que ela idealiza. Quando
conhece Guilherme e seus meio-irmãos, Klaus e Dominique, acha que finalmen-
te tem a família com que sempre sonhou. Quando ela briga com Guilherme e
ela é obrigada a se separar dos irmãos momentaneamente, Valentina descobre
outra família: a de Ivete, a cabeleireira do Bairro de Fátima. É apoiada na fa-
mília de Ivete que Valentina vai lutar para ter seus irmãos sob sua guarda e,
finalmente, formar sua tão querida família.

Mas Valentina também é aficionada por seu trabalho. Sabe que é boa médica e
acredita no que faz. No início de nossa história, ela ainda é insegura, muito por
causa do patrão, Cristiano Ronaldo, que cultiva o medo nos seus funcionários e
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em especial em Valentina. Mas aos poucos, com a necessidade de cuidar de si


própria e de tomar a frente de uma clínica de beleza, conhecendo Ivete e seu
salão de cabeleireiro, ela vai se transformando em numa mulher forte, deter-
minada, interessante e linda.

SÔNIA AMARANTE

Por volta de 40/45 anos, mulher independente, moderna e determinada. Mais


para gostosa do que para bonita. Sabe que é sensual e usa isso. Se for neces-
sário, ela atende o bombeiro camisola e descola o conserto da pia de graça.
Sônia não se considera uma má pessoa. Simplesmente age de maneira prática
quando percebe que alguma coisa pode atrapalhar seus planos. Por isso aban-
donou a filha Valentina num orfanato: sabia que aquela criança, que pariu com
apenas 16 anos, iria arruinar sua vida e vice-e-versa. A essa altura, ela já es-
tava de olho num outro homem, mais rico, e não poderia deixar passa a oportu-
nidade por causa de um “deslize”. Achou mais prático deixá-la no orfanato do
que fazer as duas sofrerem juntas. Depois que ganhou um pouco mais de di-
nheiro, até pensou em procurá-la, mas achou que ela provavelmente já estaria
encaminhada na vida e que o encontro poderia atrapalhar a vida de ambas. Por
isso desistiu da idéia e não pensou mais no assunto. Com esse outro homem, o
rico, ela teve dois filhos, Klaus e Dominique. O pai das crianças morreu, mas
deixou dinheiro suficiente que a permitirá realizar o grande sonho de sua vida:
abrir uma clínica de estética. Como era de se esperar, Sonia não é uma mãe
muito atenciosa e vive esquecendo dos filhos. Mas é uma mulher batalhadora,
que corre atrás de seus sonhos e necessidades sem nunca desistir.

KLAUS AMARANTE

16/ 17 anos. Um adolescente com todas as suas prerrogativas. Impulsivo, do-


no-da-verdade, carinhoso, arredio. Adorava a mãe, apesar de ela não ser exa-
tamente uma mãe modelo. Ao contrário, sempre deixava os filhos praticamen-
te à própria sorte. Com isso Klaus foi crescendo sozinho e sem disciplina. É um
bom garoto, mas perdido. Gosta de surf e muitas vezes escapa para pegar on-
da e pensar na vida balança sobre as ondas. Quando a mãe morre, fica mais
perdido ainda. Tenta se apegar a Guilherme, mas quando descobre a “traição”
deste (foi ele quem construiu o helicóptero defeituoso que levou a mãe à mor-
te), seu mundo acaba de vez. Também tenta ficar com a irmã, Valentina, mas a
rigidez dela na educação o espanta. Ele encontra refúgio nas duas adolescen-
tes e suas colegas de colégio, Fernanda e Luisa. Com Fernanda, ele se sente
seguro, sente que ela ensina alguma coisa para ele e, ao mesmo tempo, sente-
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se um pouco criança ao lado daquela garota tão assertiva. Com Luisa, os papéis
se invertem, ele é o protetor, é o conselheiro. Ela espera tudo dele. Como nem
mesmo Klaus sabe o que quer da vida, vai viver entre esses dois amores.... até
ser confrontado com Felipe e Anderson, que têm estilos de vida completamen-
te diferentes. A convivência vai ser conturbada de início, mas Klaus acabará
aprendendo muito com os outros rapazes, mais práticos, mais vividos mesmo
para sua pouca idade. Klaus vai acabar se metendo em problemas com a polícia,
fruto de sua inexperiência mais do que tudo.

DOMINIQUE AMARANTE

10 anos. Garota que teve que crescer rápido para fazer face à falta da mãe
(que mesmo quando era viva não era exatamente uma mãe exemplar), e à dis-
plicência do irmão mais velho. Transformou-se numa pequena dona-de-casa,
mas obviamente com todas as deficiências e limitações de uma menina de 10
anos. Ela quer muito parecer adulta, e é de certo modo. Dominique faz logo
amizade com Guilherme e não o culpa pela queda do helicóptero que matou a
mãe. Madura nesse sentido, ela acha que tudo foi uma tragédia dessas sem
muita explicação. Mas não se livra do trauma. Desde essa época, ela tem algu-
mas pequenas crises de pânico, nas quais dá uma espécie de “congelada’ e tem
“brancos” rápidos, com efeito mais cômico do que qualquer coisa. Aos poucos,
com a ajuda de Guilherme, ela vai superando esse trauminha. Embora o ex-
engenheiro adore a menina, ele fica algumas vezes preocupado. Dominique é
muito sincera. E fala na lata. Sem medir conseqüências. Então ele precisa con-
trolar muito bem as condições de temperatura e pressão antes de deixar a
menina ir para qualquer lugar ou sozinha na frente das visitas. Mas, ao mesmo
tempo, ela é uma alegria para o atormentado ex-engenheiro. É através de Do-
minique que ele vai chegar a uma das famílias que prejudicou, a família de He-
lena e Mateus.

O PESSOAL DO BAIRRO DE FÁTIMA

FAMÍLIA SANTOS

IVETE SANTOS

Uns 45 anos. Adora ser reconhecida como a Ivete “Chiclete”, uma ex-
chacrete do programa de Abelardo Barbosa, o Chacrinha. Na verdade foi a
chacrete mais desconhecida do antigo programa. Ninguém lembra dela. Talvez
porque só tenha dançado uns dois dias, quebrando o galho, substituindo uma
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amiga que ficou doente. Mas foi o suficiente para Ivete tirar fotos com todos,
e achar que conquistou seus 15 minutos de fama. Seu salão de cabeleireiro, o
Belezoca, no bairro de Fátima, é cheio de fotos suas com o velho guerreiro e
vários cantores da antiga como Odair José, Valdick Soriano, Claudia Barroso,
etc... Com temperamento expansivo, a cabeleireira não gosta de ver ninguém
triste a seu lado. Mas Ivete guarda um grande segredo: é careca, conseqüên-
cia de uma doença que teve há alguns anos. Sempre troca de peruca sem que
ninguém veja e todos acham que ela é a mais rápida e criativa cabeleireira do
mundo!... Mulher batalhadora, Ivete nunca deixa a peteca cair. Com seu estilo
de perua brega e moradora numa vila no mesmo bairro onde tem o salão, ela
está sempre alegre e inventando uma novidade para atrair clientes. Desde que,
claro, não tenha que gastar dinheiro. Ivete é muito econômica. Precavida, co-
mo ela diz. O fato é que conseguiu juntar um belo pé-de-meia para realizar um
sonho de juventude: abrir uma bela clínica de estética na Zona Sul! Quando
conhece Valentina, Ivete vê ali uma oportunidade real de mudar sua vida. Per-
cebe que a nossa heroína é uma mulher decidida e talentosa. Então Ivete de-
cide investir a economia de anos, numa clínica de estética, em Ipanema, a Flor
da Pele. Valentina entra com seus conhecimentos e Ivete com o capital e o ge-
renciamento. É claro que nossa cabeleireira perua vai ficar muito decepciona-
da ao ver que o décor da clínica é todo high tech, cheio de aço e cores... “sem
graça”. Volta e meia ela contrabandeia para dentro um paninho de renda ou
uns vasos coloridos que compra nessas lojas chinesas e acha lindos. Valentina
tem o maior trabalho para driblar aqueles caprichos da cabeleireira.

RAKELLY SANTOS

Uns 25 anos. Filha de Ivete, manicure. Muito mais do que uma manicure. Rakel-
ly é uma PHD em unhas, uma antropóloga das unhas. Ela sabe tudo sobre o as-
sunto. O esmalte que fica melhor, a forma mais bonita, detecta doenças só de
olhar as unhas, assim como detecta o caráter do proprietário das unhas. Mas o
brilhantismo dela vai até aí. Do resto, Rakelly deixa muito a desejar. É burra
como uma porta, mas um encanto de pessoa. O sonho de Rakelly é ser dançari-
na do Faustão e repetir o feito da mãe, que dançou no Chacrinha. Vai fazer
qualquer coisa pra alcançar seu objetivo. Namora o humilde Robson, um pe-
dreiro gente boa, que mora numa favela, embora ela ainda não saiba disso, e
acha que ele não entende seu sonho. Rakelly não tem muitos amigos e desen-
volveu o hábito de falar com coisas. Sua melhor amiga é uma bolsa que ela leva
para todos os lugares. Mas também fala com cadeiras, espelhos, vassouras e o
que mais esteja disposto a “ouvi-la”. Quando Robson fica rico, ela acha que ele
vai ajudá-la a dançar no Faustão e fica decepcionadíssima ao ver que o amado
só quer casar e ter filhinhos. Fica mais decepcionada ainda quando Robson a
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troca pela gostosa Sheila. Então vai usar toda a sua energia e os conhecimen-
tos estéticos de Valentina para reconquistar o amado.

ANDERSON SANTOS

Uns 16 anos. Filho de Ivete, rebento de um romance pouco provável. Ivete


transou no passado com Elizabeto, que é gay, mas numa noite de farra e bebe-
deira, acabou tendo uma recaída e partiu pra cima de Ivete. Mas nem Ander-
son, nem Elizabeto sabem do parentesco que os une. É outro segredo guardado
a sete chaves por Ivete. Depois da morte do pai de Rakelly, que ele também
tinha como seu pai legítimo, Anderson botou na cabeça que precisava traba-
lhar para ajudar a mãe. Por um lado é um desejo legítimo. Por outro, é preguiça
de estudar mesmo. Mas Ivete o manobra com mão-de-ferro e, no máximo,
permite que ele ajude um pouco no salão. Anderson é um flamenguista fanático.
Tão fanático que seu quarto é coberto de pôsteres de jogadores... Ele chega
ao cúmulo de imitar o corte de cabelo de algum jogador famoso, colecionar
camisas usadas e outras coisas. Ao descobrir que o pai é gay, pode entrar em
crise: afinal, gosta de futebol ou das pernas dos craques? Triste conflito para
um adolescente ainda inseguro.

ELIZABETO JORGE MARTINS

Aparenta ter uns 30 anos, mas a idade certa ele não revela nem morto. Único
e melhor amigo de Helena, especialmente após a morte do marido dela. Eliza-
beto é assistente de farmácia e ajudante de Mateus Astragão, nas suas pes-
quisas. Elizabeto é um gay um pouco afetado, um pouco egoísta, vaidoso, mas
nada muito grave, só o suficiente para que ele se meta em algumas situações
engraçadas. Odeia o nome Elizabeto, prefere ser chamado de Jorge, mas
sempre alguém acaba descobrindo e caindo em cima dele. Trabalha como as-
sistente farmacêutico na clínica de Cristiano Ronaldo Pontes e faz um bico na
equipe de maquiagem no salão de Ivete. É Elizabeto quem vai ajudar Helena,
quando chegar o aviso do emprego no laboratório da clínica de Cristiano Ronal-
do, para seu marido. Graças às dicas sobre farmacêutica e a maquiagem de
Elizabeto, é que Helena vai tomar o lugar do marido e assumir o emprego. Eli-
zabeto tem um segredo no passado desconhecido até para ele e que vai cair
como uma bomba no seu presente: ele é pai de Anderson. A paternidade foi
fruto de um deslize proporcionado por excesso de comemorações numa festa
distante 17 anos. Ivete, a mãe de Anderson, nunca contou isso para nenhum
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dos dois. Quando descobre tudo e começa de boa-fé a tentar ser um pai como
ele acha que um pai macho deve ser, vai entrar em muitos e muitos conflitos.

FAMÍLIA ASTRAGÃO

HELENA ASTRAGÃO

Uns 30 anos, personalidade forte e temperamento explosivo. Ex-nadadora,


possui um corpo meio masculino, com costas largas. Esposa de Mateus, um
farmacêutico sonhador, especializado em estética, mas que sempre vivia de-
sempregado. Helena era o “pé no chão” do casal, mas nunca conseguiu trazer o
marido para a realidade. Os dois sofrem com a doença do filho Hugo, 10 anos,
que tem crises de alergia que quase chegam a matá-lo. O tratamento é muito
caro e o casal não tem como pagar. Pressionada pelas circunstâncias, Helena
acaba tomando uma atitude drástica para defender a si e ao filho: toma o lu-
gar do marido falecido num emprego. Para isso, precisa se vestir de homem e
convencer a todos. É claro que aquele homem meio delicado e feminino é sem-
pre visto no ambiente de trabalho meio de lado. Mas quando o chamam de gay,
Helena parte para cima: ela não pode deixar que ninguém desconfie de seu
disfarce para não perder seu ganha-pão. E aí algumas situações embaraçosas
surgem naturalmente.

MATEUS ASTRAGÃO

Cerca de 35 anos. Farmacêutico, convivia com um grande sonho: inventar al-


gum produto que o lançasse ao pináculo dos criadores da humanidade. Ou pelo
menos do Brasil. Ou do Rio de Janeiro. Ele queria é sair da vala comum e ser
alguém. Passava horas em seu laboratório particular testando novas fórmulas.
A maioria delas terminava em desastre, mas ele não desanimava. Seu outro
grande objetivo era ganhar dinheiro com isso, pois aí poderia financiar o tra-
tamento de seu filho, Hugo, que era muito caro. Tem um amigo, Elizabeto, que
o ajuda em suas pesquisas. Quando o helicóptero cai, ele estava com uma fór-
mula pronta.

HUGO ASTRAGÃO

10 anos. Um garoto quieto, irritadiço até, pela falta de brincadeiras e amigos.


Por causa de uma doença que precisa de um longo e caro tratamento para ser
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curada, ele é preservado ao máximo pela mãe e por todos adultos em volta. O
resultado é uma existência quieta e infeliz, apesar do carinho da mãe. Ele faz
amizade com DOMINIQUE, que acaba sendo o único respiradouro dessa in-
fância chata. Hugo é uma criança muito infantil para a idade. Por causa da do-
ença, não desenvolveu a mínima independência. É a mãe que prepara o seu milk-
shake, amarra o seu sapato, compra bonecos de super-heróis no aniversário
dele (e ele adora!). Ao conhecer a independente Dominique, o menino começa a
mudar. Dominique diz coisas como: “é a sua mãe que escolhe a sua roupa???
Não acredito! Faço isso sozinha desde três anos!” Isso assusta um pouco He-
lena. Ela se sente insegura, como se o filho fosse escapar da sua proteção e,
assim, correr mais riscos.

FAMILIA DE “MEU BEM”

MEU BEM (VALMIRÉIA DE JESUS JENSEN)

Uns 45 anos. Trabalha há uns sete com Guilherme. Ele não sabe o seu nome,
porque nunca se interessou. Por isso a chama apenas de “meu bem”, mas ela
sabe bem que ele não tem a menor idéia de quem ela é, do que faz, do que gos-
ta. Para Guilherme Meu Bem é apenas um utensílio doméstico. Ela nunca teve
filhos, por mais que tentasse. Por isso, quando Guilherme a chama para traba-
lhar com ele novamente, no auge do desespero como dono-de-casa, ela só acei-
ta porque se apaixona pelas crianças. Afinal, seu trabalho vai triplicar e seu
salário cair pela metade. Mas diz que só vai ensinar a Guilherme a ser um bom
dono-de-casa e depois vai embora. Mas vai ficando, ficando... Durante um
tempo, ela trabalha em duas casas para completar o salário: na de Norma e na
de Guilherme. Além disso, ela tem um marido dinamarquês que a explora. Meu
bem é louca por aquele viking de cabelo louro e olhos azuis.

ERIK JENSEN

Uns 40 anos. Dinamarquês malandro que fugiu de seu país por conta de alguma
confusão que armou por lá. É um encostado espertalhão que vive às custas de
Meu Bem. Casou-se com ela apenas para obter a cidadania brasileira e não ser
mandado de volta para a Dinamarca, onde responde a um ou dois processos.
Não é exatamente lindo, mas seus olhos azuis e cabelo louro mexem com as
brasileiras. Assim foi com Meu Bem. Vive fazendo bicos, apenas para calar a
boca de Meu Bem. Também dá aulas de dinamarquês para qualquer um que
consiga convencer de como o dinamarquês é importante no mundo atual. Além
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disso, Erik gosta de tocar pandeiro (muito mal!) o dia inteiro. O que deixa Meu
Bem, sua mãe, e toda a vizinhança (a vila onde moram) irritados.

MARIA NAZARÉ DE JESUS

Cerca de 65 anos. Mãe de Valmiréia. Não gosta, detesta, o genro. Vive buzi-
nando no ouvido da filha: gringo bonito, cheio de malandragem, que vem parar
no Brasil boa coisa não é! Está sempre provocando o genro, que devolve falan-
do qualquer coisa naquela língua esquisita. Meu bem sai em defesa da mãe, mas
Eric logo se safa, inventando que estava só elogiando o penteado da velha ou
qualquer outra mentira bem cara de pau, ao melhor estilo nórdico trambiquei-
ro. Maria é acompanhante de idosos e um pit bull na vida de Erik. Ela acha que
seus velhinhos em estado terminal, se mexem mais do que o genro boa vida.
Vive tentando arrumar um emprego decente pro marido da filha, que sempre
vai arranjar um jeito de se livrar do trabalho pesado. Mais tarde vai vasculhar
o passado do genro e tentar extraditá-lo de volta pra Dinamarca.

O FUTURO STAFF BRANCALEONE DO BELEZA PURA.

GASPAR MONTEIRO SALDANHA

Por volta dos 60 anos, um cirurgião plástico aposentado, que já trabalhou em


várias clínicas não muito boas do Rio de Janeiro. No passado, teve sua própria
clínica e era respeitado no circuito. No entanto, desde que alguma coisa muito
ruim, sobre a qual ele não fala, aconteceu, se desencantou da vida e do bisturi.
Acabou indo trabalhar no tal salão, fazendo procedimentos simples, que davam
pra pagar as contas e ele não se aborrece muito. Acha que é um fracassado.

CATRINA BARBOSA

Mais ou menos 30 anos. CATRINA é uma acupunturista excepcional, profissão


que aprendeu com o pai, um tailandês. Mas ela tem um trauma em relação a
isso e evita a acupuntura a todo o custo. Por isso, tentou de tudo na vida. Foi
decoradora, atriz de teatro, promotora de eventos. Mas nunca teve talento
para nada, além de pular de galho em galho. Hoje, é massagista, ou massotera-
peuta como prefere ser chamada. E CATRINA é muito boa... em massacrar as
pessoas. Vive inventando e testando novos métodos para embelezar as clien-
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tes. Além disso, é magra “de ruim” e não pára de comer. Acha que é uma fra-
cassada. E velha.

FELIPE CASCUDO

Por volta dos 22 anos. Auxiliar de cabeleireiro, auxiliar de esteticista, auxiliar


de quem esteja precisando. Um faz tudo. Odeia o que faz, até porque não tem
a menor idéia do que faz. Queria mesmo era ser surfista. Infelizmente, não
tem muito talento. Ex- interno da Febem, faz tudo para esconder esse passa-
do. Para sobreviver, trabalha no salão. Vai se meter me confusão mesmo quan-
do passar a ser o vigilante da clínica de Guilherme. Vai sofrer pressão da anti-
ga turminha barra pesada e terá muito trabalho pra não cair na vida errada,
novamente.Acha sua vida uma droga, mas nem tenta se matar, porque sabe que
não dará certo. Tem certeza de que é um fracassado.

OS REMEDIADOS DE LARANJEIRAS

FAMÍLIA BORGES & PASSOS

DÉBORA BORGES:

Cerca de 35 anos, dona-de-casa.. Mulher de Alex, que desapareceu na queda


do helicóptero. Débora é uma mulher gentil e meiga, que faz de tudo para não
entrar numa briga. Por conta de uns tantos sapos engolidos na vida, os mais
chegados só ficam esperando o “dia em que a Débora vai estourar”. Mas esse
dia não chega nunca. Contemporizadora, tenta unir pontos de vista tão dife-
rentes quanto o do Hamas e o do governo de Israel, jurando que tudo “é só
problema de comunicação”. Quando era enfermeira, casou-se com Alex, já
médico na época. Ela era doida por médicos e admirava o marido mais que tudo.
Quando ela engravidou, o casal resolveu que Débora pararia de trabalhar por
uns anos. Mas ela gostou da vida doméstica e nunca mais voltou à labuta pro-
fissional. Débora herdou da avó mineira um incrível talento para o crochê. A-
dora pegar a agulha para distrair a cabeça e cria peças inusitadas, como por-
ta-garrafa de vinho, porta-fita métrica, cúpula de abajur, etc. O marido e a
filha achavam tudo brega, e boicotavam muitas das suas criações. Ela acabava
enfiando tudo no armário, suspirava, entendia que nem todos podem gostar
das coisas singelas da vida e continuava, tranqüila. Para ela, a vida já estava
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inteiramente satisfatória e definida. Até que aquele maldito helicóptero caiu


e levou com ele o marido e todas as suas certezas.

De repente, Débora está sem trabalho, tendo que sustentar a filha adolescen-
te, pagar o aluguel, contas, comida. Coisas com as quais ela jamais se preocu-
para. Nem o cheque da conta conjunta ela sabia preencher. Há anos fora do
mercado de trabalho, desatualizada, ela tenta algumas coisas, mas nada dá em
nada. Até que encontra Eduardo, que passou por uma situação semelhante à
dela: perdeu a esposa no mesmo acidente de helicóptero. E ele também tem
uma filha adolescente para sustentar! Eduardo a surpreende. Ele dá valor a ela.
Acha-a linda. Admira-a. Coloca logo no seu banheiro o lindo porta-papel higiê-
nico feito em crochê, encomenda paninhos para uma tia velha e acha lindo o
cinto colorido que ela mesma fez. A sensibilidade daquele homem simples, que
dá valor a esse talento de família, começa a conquistar a dona de casa.
O casal se apaixona e Débora começa a descobrir alegrias na vida com as quais
nem sonhava. A grande pedra no sapato é sua própria filha, Luisa, que não se
conforma com a passividade da mãe e acha que aquele casamento não só foi
precipitado, mas foi de conveniência porque a mãe não tinha coragem de se
lançar ao mundo e conquistar sua própria independência. Além disso, odeia E-
duardo, odeia a outra garota e odeia tudo.

ALEX BORGES

Médico ginecologista que há alguns anos deu uma guinada na vida. Estudou me-
dicina estética e se apaixonou pelo assunto. É um homem que gosta da família,
mas que sempre priorizou o trabalho. Antes de morrer no acidente do helicóp-
tero, estava escrevendo um livro, a obra da sua vida. Ele pesquisou a “estética
popular do Brasil”. Percorreu o país inteiro e colheu receitas de beleza e cura,
desde os indígenas, até dicas das favelas da grande cidade. Foram anos de
pesquisa por água abaixo, depois do acidente. Mas seu livro será publicado e aí
muitas outras confusões virão.

FERNANDA BORGES

Em torno de 17 anos. Não leva desaforo para casa. Mas não precisa levar: ela é
bonita, linda, encantadora. Uma garota do seu tempo, carinhosa, com preocu-
pações políticas e ecológicas. Mas ela não é perfeita: tem noção do que é e
orgulho disso. Acha que a sua visão de mundo é a certa e não consegue deixar
de criticar quem tem opinião contrária. Por isso, implica com Luisa, uma garota
do colégio que é arredia, que a critica muito. Fernanda acha que Luisa é um
bicho-do-mato complexado e Luisa acha que Fernanda é uma galinha superfici-
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al, já que a outra sequer consegue escolher um vestido ou um namorado sem


experimentar pelo menos uns três. Só que as duas tem um destino em comum:
vão se apaixonar pelo mesmo garoto e ser obrigadas a conviver na mesma casa.
No mesmo quarto! Eca!... Mas o que vai fazer Fernanda sofrer de verdade é
perceber que Eduardo e Débora são um casal de verdade, como seus pais bio-
lógicos nunca foram. E que a mãe está esquecendo o pai.

EDUARDO PASSOS

Cerca de 40 anos. Marido de Márcia, que desapareceu na queda do helicóptero.


Eduardo sofre muito com a falta da mulher, ainda mais que tem que cuidar da
filha, Luiza, uma garota tímida e complexada, que acha que é muito feia. Edu-
ardo é proprietário de um pequeno posto de gasolina, que tem uma loja de con-
veniência 24hs – ponto de encontro da galera.
Eduardo teve uma infância de classe média baixa no subúrbio. Pegou muito
trem da Central e seu primeiro emprego foi como office boy. Já se vão quinze
anos e o adolescente batalhador continua enxergando o mundo como uma com-
petição onde só os mais aptos conseguem um lugar ao sol. Nesse sentido, sua
visão de mundo é tacanha, se comparada à da família de Débora – e até à pró-
pria. Está sempre fazendo regime porque acha que engordou uns quilinhos nos
últimos anos, mas programão pra ele é churrascaria rodízio. Seu contato com o
passado “zona norte”, acontece uma vez por semana, no sábado de pelada nu-
ma quadra da Barra. E continua torcedor do Vasco. Vasco-ôôô...)
Eduardo é um homem conservador, exigente, que segue os princípios morais
herdados dos pais e desempenha bem a função de chefe da família. Não é um
homem de grandes sonhos, mas dos que ficam satisfeitos com as pequenas
coisas de todos os dias: uma mesa farta, pessoas felizes à volta, a vitória do
Vascão. Além disso, Eduardo é um homem que exala vigor e boa disposição,
deixando Débora cheia de sonhos e desejos. Mas também gosta que as coisas
sejam do jeito dele. Quando herdou o posto do pai, já meio falido e velhinho,
não mediu sacrifícios conseguiu reformá-lo, deixando-o exatamente do jeito
que queria.
O encontro e a paixão por Débora não poderiam ser melhores para ambos. A
personalidade dominante dele combinava perfeitamente com o perfil indulgen-
te de Débora. Além do mais, embora adorasse e admirasse a esposa falecida
(MÁRCIA), ele se surpreende com a doce dona-de-casa, que embora tenha
algum nível cultural além do dele, é mais amorosa e caseira.

MÁRCIA PASSOS
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Cerca de 30 anos. Jornalista de moda e beleza, que tinha uma coluna regular
num caderno feminino de um grande jornal. Tinha um projeto em andamento,
que era a construção de uma escola de beleza e estética para jovens carentes
na comunidade vizinha à sua casa.

LUIZA PASSOS

Algo em torno dos 17 anos. Uma menina tímida, que se acha mais feia do que
realmente é. Ressentida em relação ao pai, porque ele sempre dizia que ela já
era linda e não a ajudava em suas inseguranças. A própria personalidade dele
sempre a esmagou. Também gosta muito da mãe, que sempre foi uma amiga e
sua maior confidente. Luiza não tem muitos amigos, porque é muito retraída.
Mas ela sonha muito. É muito romântica e perde horas e horas olhando para o
nada e sonhando lindas histórias de amor. É uma garota inteligente e tem ver-
gonha de ser tão romântica. Disfarça como pode e acaba às vezes sendo a-
gressiva. Sua insegurança faz com que veja em pessoas diferentes uma amea-
ça. Por isso tem horror de Fernanda, sua colega de classe, que ela considera
uma “galinha metida”. Para seu horror, as duas são obrigadas a morar juntas.
Pior ainda, elas se apaixonam pelo mesmo garoto, Klaus. Para ela, seu namoro
com Klaus é história de fadas, era o príncipe encantado que esperava.

O EMERGENTE DA ZONA NORTE

OLAVO PEDERNEIRAS

Tem uns 50, 55 anos e desaparece no desastre do helicóptero junto com Sônia
e os outros três passageiros. Bem conservado, milionário, solitário, tradicional
morador de uma imensa mansão no Cosme Velho. É dono de uma bem-sucedida
importadora de produtos e maquinaria relacionadas ao ramo da estética. Fino
e sofisticado, gosta do bom e do melhor e aproveita muito bem a vida e as coi-
sas boas que o dinheiro pode comprar. Não sabe exatamente por que não se
casou nem teve filhos. Talvez sua vida tenha sido sempre tão boa que nem te-
ve tempo para pensar nesses assuntos. Por conta de sua vida profissional bem-
sucedida, é um pouco arrogante, o que o torna um pouco antipático aos outros.
Olavo é vaidosíssimo. Seu armário é cheio de Armanis, e ele tem uma incrível
coleção de sapatos e colônias inglesas. Excêntrico, usa um terno duas ou três
vezes e logo dava para José Henrique que, ao invés de ficar agradecido, senti-
a-se humilhado. Ao decidir fazer um programa de televisão, estava unindo o
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útil ao agradável: além de exercitar sua vaidade, fazendo ótima figura diante
das câmeras, promoveria o negócio que o enriqueceu.

ROBSON SILVEIRA

Aparenta uns 30 anos. Um suburbano, pedreiro, cara humilde e digno. É primo


de quarto grau de Olavo Pederneiras e único a receber a herança do milionário
desaparecido. Um rapaz sério, ético, esperto, apesar de não ter estudo. No
começo acha bom ganhar tanto dinheiro e se muda para a mansão de Olavo. Ao
contrário do que pensavam os que tentam explorá-lo, Robson não é um bobão.
Acostumado a ter todas as contas na ponta da língua, ele verifica cada nota de
compra, quer saber cada detalhe sobre o funcionamento da casa e não se dei-
xa enganar. No entanto, não tem traquejo social e é ridicularizado em socie-
dade. Vendo como é difícil enganar Robson, secretário particular de Jorge, o
mau-caráter José Henrique, usa sua namorada, Sheila, para seduzir o rapaz e
tentar tirar toda a fortuna dele. Infelizmente, Robson se apaixona por ela,
deixando até sua eterna namorada, Rakelly, a ver navios.

JOSÉ HENRIQUE PINTO

Cerca de 35 anos. Advogado e secretário de Olavo, agora advogado de Robson.


De origem humilde, lutou muito na vida para se formar e chegar aonde chegou.
Ajudou muito Olavo no passado e foi por ele muito ajudado também. Por isso
se acha o genuíno herdeiro de sua fortuna e vai fazer de tudo para reverter
esse terrível engano do destino e botar a mão naquela grana deixando Robson
de volta na miséria.

SHEILA CABRAL

Cerca de 25 anos. Boazuda, gostosona, despachada. Namorada de José Henri-


que. De origem pobre, largou os estudos no ginásio porque não era boa estu-
dante e também porque não acredita que nada que esteja escrito tenha a ver
com a vida. Acha que só se aprende com o que se vive. Usa, de certa maneira, a
falta de educação como um troféu, repetindo erros de concordância que ou-
tros caem na besteira de corrigir, como: “os vidro tão precisando ser lustra-
do“. Trabalhou como manicure, depois cabelereira. Sempre foi adepta de cur-
sos práticos(não teóricos) para melhorar de vida. Essa origem humilde faz de-
la uma pessoa simpática aos olhos de Robson. Ela tem uma característica um
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pouco irritante, que é falar sempre aos gritos ao celular em qualquer lugar que
esteja. Mas não há quem a convença de que meio metro não é uma distancia
imensa, nem que o bocal do telefone é perfeitamente adaptado para uma con-
versa em tom normal. Sheila agora é instrutora de dança de salão, adora dan-
çar e tenta sempre fazer Robson, que é tímido, gostar de dançar com ela.
Sexo para ela não é trabalho, é diversão, esporte, mas se der dinheiro e aju-
dá-la a melhorar de vida, fica mais excitada
Quando conhece Robson, aceita entrar no jogo de José Henrique para recupe-
rar” o dinheiro que acham que é de direito dele. Mas até que seduzir Robson
não é um trabalho tão penoso assim para ela, bem ao contrário. Tenta não dar
muita bandeira para José Henrique, mas volta e meia deixa escapar um furo,
fazendo comparações sobre a “performance” dos dois o que irrita profunda-
mente José Henrique. É insuportável saber que além de ter ficado com a gra-
na de Olavo, Robson, aos olhos de Sheila, é mais “homem” que ele.

SUZY ROCHA

Em torno de 30 anos. Perua rica e que não faz nada. Freqüenta todas as clíni-
cas de estética, sempre falando mal de uma para a outra. Grande amiga de
Norma, embora não seja tão má quanto esta. Mas adora uma fofoca! Enfim,
uma mulher rica, fútil e inútil com um segredo guardado a sete chaves. Vem de
família muito humilde, ficou rica num golpe que deu em seu primeiro marido e,
pior de tudo, é irmã de Sheila!!!

ATENÇÃO: ENTRARÃO AINDA OUTROS PERSONAGENS COMO EMPRE-


GADOS, PESSOAL DAS CLÍNICAS, PESSOAL DA TELEVISÃO, QUE SE-
RÃO DESENVOLVIDOS A PARTIR DA NECESSIDADE DAS HISTÓRIAS.

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