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ara A AGRARIA BOLETIM DA ASSOCIACAO BRASILEIRA DE REFORMA AGRARIA ABRA LEIA NESTA EDICAO Editorial: Os Congressos e as Reivindicagées dos Trabalhadores Rurais .. 1 Congressos Camponeses (1953-1964) Lyin Sigmd 2.0... 205s ccece cc ecete cence ee eeseesescessaenananae 3 CONTAG: Um Balango Leonilde Sérvolo de Medeiros .........6..2.0+.00sssseeeeeseeeeee 9 A Questo Agraria na 1 CONCLAT José Francisco da Silva Gelindo Zulmiro Ferri . Estatisticas e Indicadores Direito Agrario .... Livros e Publicagées ... Noticias — Do Mundo — Da América Latina . — Do Brasil .. Os Leitores Escrevem . Reforma Agraria © QUE E A ABRA A Associacdo Brasileira de Reforma Agraria — ABRA — é uma sociedade civil, sem fins lucrativos, organizada para ajudar a promover a realizacao do processo agro-reformista no Brasil. Protocolado sob o N.* 365, no Livro A/1 e Registrado sob o Ne 204 no Livro N° A/t no Cartério de 1* Offcio de Registro Civil e Casamen tos, Titulos, Documentos e Pessoas Juridicas de Brasilia — DF Na procura de seus objetivos a ABRA baseia-se na lei em vigot que considera Reforma Agraria “o conjunto de medidas que visem a Promover a melhor distribuicio de terra, mediante modificagdes no regime de sua posse ¢ uso, a fim de atender aos principios de justica social e a0 aumento da produtividade” (ver Lei 4,504 de 30/11/1964, art. 12 § 1+, Estatuto da Terra). DIRETORIA EXECUTIVA Titulares Suplentes Diretor-Presidente Carlos Lorena Luis Carlos Guedes Pinto Diretor-Executivo Plinio Guimaraes Moraes José Graziano da Silva Diretor-Financeiro Mario A. de Moraes Biral Sonia H, Novacs G. Moraes CONSELHO DELIBERATIVO. Titutares Suplentes José Gomes da Silva José de Souza Martins José Francisco da Silva Eraldo Lirio de Azeredo Francisco Urbano de A. Filho Enes Paulo Crespo Plinio de Arruda Sampaio Fernando Pereira Sodero Tamas Szmrecsanyi Abdias Vilar de Carvalho Thomas Miguel Pressburger Maria Conceigéo D'Tncao BOLETIM “REFORMA AGRARIA” Redator Chefe — Fernando Luz Revisora — Wilma A. Silva Registro solicitado ao DNPI Enderego: Associagdo Brasileira de Reforma Agrdria Avenida Francisco Glicério, 1329, conj. 21 —~ 13.100 — CAMPINAS — SP Tel. (0192) 8-6884 — Caixa Postal, 1396 Capa: “O Lavrador” de Portinari — Estilizagdo de W. Lago E livre a transcriggo da matéria original publicada neste boletim, desde que citada a fonte, Registro de Publicacéo na Divisdo de Censura de Diversées Ptiblicas do Dep. de Policia Federal, sob n.* 1.304 — P. 209/73 em 24.9.74. Registrado sob n." 109 no 1.* Cartério de Imoveis e Anexos de Campinas, SP. Editorial Os Congressos e as Reivindicagées dos Trabalhadores Rurais O ultimo numero do Boletim da ABRA de 1981 é dedicado a um balango dos principais encontros de trabalhadores rurais no pais desde 1953. Além das secées costumeiras, este nimero traz trés importantes artigos. O primeiro, de Lygia Sigaud, faz uma andlise dos Congressos Camponeses anteriores ao golpe militar de 1964, culminando com a realizagio do I Congresso Nacional dos Trabalhadores na Agricultura, realizado no Rio de Janeiro em dezembro de 1963, no qual foi fundada a CONTAG, © segundo artigo, de Leonilde S. de Medeiros, faz um balanco do periodo pés-64, quando foram realizados trés Congressos Nacionais de Trabalhadores Rurais, todos organizados pela CONTAG (o primeiro em margo de 1966, em SA0 Paulo; o segundo em 1973, em Brasilia; e 0 terceiro em maio de 1979, também em Brasilia), “a unica das confede- ragdes que desenvolveu uma luta intransigente em defesa da categoria que representa”. Finalmente o terceiro artigo, assinado pelo presidente e pelo se- cretario-geral da CONTAG, analisa a participacdo dos trabalhadores ru- rais na I Conferéncia Nacional das Classes Trabalhadoras (CONCLAT), realizada em agosto deste ano no municipio de Praia Grande (SP) e que contou com uma significativa representacaio dos trabalhadores ru- rais de todos os estados do pais, totalizando quase 1200 delegados. O leitor poder verificar, pela sequéncia histérica representada nos trés artigos, 0 avango dos trabalhadores rurais brasileiros, nao ape- has na sua organizagaéo, como também na formulac&o de suas reivin- dicagdes e bandeiras de lutas. Nesse sentido, sAo bastante ilustrativas as conclusdes da CONCLAT, que apresentam nao somente reivindica- gdes especificas da classe trabalhadora, mas um programa alternativo para gestéo de uma sociedade verdadeiramente democratica. E oportuno também meditarmos sobre o papel exercido pela CONTAG no encaminhamento das lutas e reivindicagées dos trabalha- dores rurais de todo o pais, o que se traduziu numa lideranga inconteste 1 de sua atual diretoria durante a I CONCLAT, Ai, pela primeira vez na historia deste pais, as liderancas dos trabalhadores rurais néo eram meros figurantes nem estavam a reboque dos operarios urbanos. Tam- bém eles se perfilaram como setores mais organizados e combativos da classe trabalhadora no Brasil, o que vem dar um novo significado & alianca. dos trabalhadores do campo e da cidade. Nao é por coincidén- cia que também ai os trabalhadores rurais e urbanos se reuniram em torno de pontos comuns como a luta por melhores salarios e pela re- forma agraria, contra 0 desemprego, pela nacionalizagiio dos setores basicos da economia, contra o favorecimento do grande capital e da grande propriedade, a favor do aumento da produgio e da melhoria na distribuicéo de alimentos e pela democracia, que para todos os traba- inadores significa, antes de mais nada, autonomia sindical. J. Gr. S. ‘~ Faniente Tocal. Aqui tios limitaremo: Congressos Camponeses (1953-1964) Lygia Sigaud () Os trabalhadores rurais comecaram a se organizar a partir de 1945, quando se iniciou a redemocratizacdo do Pais. Ligas, sindicatos e associagdes de classe foram as primeiras formas de organizacao. &, no entanto, no inicio dos anos 50, que comega a haver sinais de movimen- tagéo no campo, E também a partir de ent&o que se realizam os primei- TOS congressos camponeses, os quais expressariam ja algum tipo de ar- ticulacao entre trabalhadores rurais. De 1953 a 1964 foram fei _.Ge_27 congressos, encontros e conferéncias, alguns nacionai regionais, mas com repercussao naci nal, e alguns cx OS apenas aos mais significativos. O primeiro congresso de que se tem informacées foi realizado em setembro de 1953. Chamou-se a 1.* Conferéncia Nacional de Traba- Thadores Agricolas, Os principais resultados dessa Conferéncia foram a criacdo de alguns sindicatos e a decisio de fundar uma entidade na- cional que organizasse os trabalhadores rurais e orientasse suas lutas, para 0 que se convocou uma segunda Conferéncia. Cabe ressaltar que, nesse periodo, o Pais tinha um Governo democratico e era grande a mobilizacgéo popular nos centros urbanos. No campo, a luta comecava. Conflitos importantes j& haviam ocorrido e outros continuavam se de- senrolando, Como exemplos teriamos a luta dos posseiros de Porecatu (Parana), a revolta de Dona Noca (Maranhao) e a luta dos posseiros de Formoso (Goids). Antes da 2.* Conferéncia, as Ligas Camponesas e Sindicatos do Nordeste, que ainda nao eram reconhecidos, tentaram, por sua vez, realizar uma reuniao com o objetivo de forcar o reconhecimento do direito de associagéo dos trabalhadores rurais. Esse foi o 1° Congresso Nordestino de Trabalhadores Rurais, que teve lugar na cidade pernam- bucana de Limoeiro. Desse Encontro sabemos, apenas, que 14 se decidiu impulsionar a criagéo de Ligas. Apesar do ntimero elevado de partici- pantes, a Policia fechou, violentamente, 0 Congresso. Os trabalhadores reagiram e expulsaram a Policia. Isso ocorreu em agosto de 1954, més da morte do Presidente Getulio Vargas. Logo em seguida, reunia-se em Sio Paulo a 2. Confe- réncia Nacional de Lavradores ¢ Trabalhadores Agricolas, a qual havia sido objeto de diversos encontros preparatorios em varios Estados do Pais. A 2. Conferéncia, compareceram 303 representantes de tra- balhadores rurais de Séo Paulo, Minas Gerais, Pernambuco, Goids, Parana, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Distrito Federal, Ceard, (1) Professora e Pesquisadora do Departamento de Antropologia do Museu Nacio- nal, Rio de Janeiro, Mato Grosso, Espirito Santo, Alagoas, Pard, Paraiba e Rio Grande do Norte. L. Foi nessa reuniado que os trabalhadores decidiram fundar a Unido - e prestar asistencia | \ \ ‘dos Lavradores € Trabalhadores Agricolas do Brasil (ULTAB), cujo objetivo era congregar as associagées de trabalhadores ja existentes, or- ganizar novas associacdes ou sindicatos, promover a unidade entre elas idica: Durante a Conferéncia, os trabalhadores aprovaram ‘tamibém uma Carta de Direitos e Reivindicagées onde exi- giam direitos civis, Reforma Agraria, previdéncia e seguro social, além de reivindicagées especificas de trabalhadores da lavoura canavieira, de assalariados agricolas, de trabalhadores das fazendas de café, de lavra- dores da zona sul da Bahia e das mulheres lavradoras e trabalhadoras agricolas. Ainda nesse Encontro, os trabalhadores resolveram iniciar uma campanha para a coleta de cinco milhédes de assinaturas em defesa da Reforma Agréria. O préximo Congresso é o que se realiza em Recife, em setembro de 1955. Trés mil camponeses compareceram a essa Reuniao, que ficou conhecida como o 1° Congresso de Camponeses de Pernambuco. 14, eles elegeram um Presidente para as Ligas Camponesas. A Reunido terminou com uma passeata pelas ruas do Recife. No ano seguinte surge a Liga da Galiléia, no municipio de Vitoria de Santo Antao (Pernam- buco), que veio a se constituir no nucleo do movimento que em poucos anos mobilizaria milhares de camponeses do Nordeste. Enquanto isto, em Sao Paulo, a ULTAB, através de seu jornal, Terra Livre, estimulava os trabalhadores a lutarem por melhores con- digdes de trabalho e pela conquista do salario-minimo, ao mesmo tempo que se empenhava na campanha de assinaturas em prol da Reforma , Agraria. Por outro lado, havia todo um esforgo no sentido de organizar sindicatos. Em 1956, Terra Livre registrava a existéncia de 49 Sindica- tos de Trabalhadores Rurais no Pais, cuja fundacio havia se amparado, juridicamente, no Decreto, 7.038, de novembro de 1944. O movimento desencadeado a partir do engenho Galiléia ganhou rapidamente Pernambuco e Paratha, e se tornou manchete nos jornais. As Ligas levantam a bandeira de luta pela Reforma Agraria, através de um movimento que j4 mobilizava milhares de camponeses, e, em 1958, realizam o 1.° Congresso das Ligas. No ano seguinte, os campone- ses conseguem a desapropriagao do engenho Galiléia, Esse fato dé novo impulso as Ligas. Do ponto de vista legal, as Ligas eram associagoes civis e toda sua luta pela terra se apoiava no Cédigo Civil. O préximo acontecimento importante foi a 1." Conferéncia Na- cional da ULTAB, que se realizou em S40 Paulo, em setembro de 1959. A convocacio dessa Conferéncia, além de atender a exigéncias estatu- tarias da ULTAB, parece se ligar ao momento politico que o Pais vivia. 4 A multiplicacdo de conflitos no campo e o fortalecimento do movimen- to camponés no Nordeste colocaram na ordem do dia a questao da Re- forma Agraria. O problema chega ao Congresso Nacional, e comecam a surgir os primeiros projetos para alterar a estrutura fundiéria do Pais. Sensivel a essa mudanga, a ULTAB convoca a conferéncia para discutir a Reforma Agraria e os problemas de organizacfio dos traba- Ihadores rurais, Durante a Conferéncia fez-se um balanco das organizagédes trabalhadores rurais, tendo sido registrada a existéncia de 122 organi- zagOes independentes, isto 6, que nio se encontravam Subordinadas & Confederacao Rural Brasileira, entidade dos grandes proprietarios. A! nivel regional j4 se contava com 9 associagées. Essas organizacoes re-! presentavam cerca de 35 mil trabalhadores rurais. Quanto aos Sindica-' tos, registrava-se a existéncia de 50, representando 30 mil trabalhadores.| Esses eram sinais seguros de que o movimento dos trabathadores rurais! crescia. A questéo principal discutida nessa Conferéncia foi a Reforma Agraria. Os delegados dos trabalhadores reivindicaram uma Reforma Agraria que Jevasse em conta as particularidades Tegionais e a modifi- cacao do artigo 141 da Constituicao Federal, que previa a desapropria- ¢&o das terras e a indenizacio prévia em dinheiro. Sobre esse ponto, @ posigfo da Conferéncia era de que o pagamento correspondesse ao valor fiscal da propriedade. Ainda em. Telagio a questées de terra, a Conferéncia pronunciou-se a favor da obrigatoriedade do aforamento, do loteamento das terras estaduais e municipais e da regulamentagéio dos contratos agricolas, Constam, também, como reivindicagdes do Encontro, um estatuto que assegurasse protecao juridica ao trabalhador a defesa do direito de livre organizagao dos trabalhadores rurais. Um ano apés a 1+ Conferéncia da ULTAB, em agosto de 1960,) realizou-se em Londrina o 1° Congresso dos Trabalhadores Rurais do Parana, Embora tivesse cardter regional, a repercusséo da reunido foi muito grande em todo o Pais. KE que apés muitas lutas essa era a pri- meira vez que OS camponeses paranaenses conseguiam se reunir sem repressdo policial. Tinha havido tentativas em 1956, mas os trabalha- dores foram perseguidos e até o emprego muitos dos lideres perderam, ; A Reuniao de 1960 compareceram 307 trabalhadores representando seus companheiros de mais de 200 fazendas do Parana. A ULTAB e as Ligas estiveram nesse Encontro. As principais reivindicagdes foram uma le- gislagao trabalhista para o campo, a Reforma Agraria, a previdéncia social, o financiamento ao lavrador sem terra, o aumento da industria de tratores e mdquinas agricolas, a garantia de precos minimos, uma politica em defesa de nossas riquezas petroliferas e minerais e o reco- nhecimento dos Sindicatos de Trabalhadores Rurais. Desde 0 inicio dos anos 50 os trabalhadores paranaenses lutavam 5 pela posse da terra (no Oeste do Estado) e por melhores condicées de trabalho (no Norte). Intimeros conflitos ocorreram em virtude da acao de grileiros e da resisténcia dos fazendeiros em dar algum direito aos trabalhadores. Isso explicaria por que 0s camponeses dessa regido sen- tiam tanta necessidade de se reunir para discutir seus problemas e também justifica que, um ano apés o encontro de Londrina, tenham voltado a se reunir em Maringa, também no més de agosto, para o 2.° Congresso dos Lavradores e Trabalhadores Agricolas do Parana. Desta Reuniao participaram dois mil delegados camponeses provenientes das fazendas do Paranda. A Reforma Agraria foi o centro das discussdes. Os camponeses consideraram que tanto os problemas dos assalariados quanto a dos posseiros sé poderiam ser resolvidos com a liquidacéo do Jatifindio. O ano de 1961 foi atribulado na vida politica brasileira. Em agos- to, o Presidente da Reptiblica renunciou ao mandato, desencadeando, assim, uma grave crise politica. As forgas conservadoras se opunham & posse do Vice-Presidente. No campo, o que se assistia era a um cres- cimento das organizagées de irabalhadores rurais e a um acirramento dos conflitos. Além da ULTAB e das Ligas, novas forgas se organiza- vam no campo, como por exemplo, 0 Movimento dos Agricultores sem Terra (MASTER). O movimento dos trabalhadores rurais ji havia se espalhado por todo o Nordeste, chegado a Minas Gerais, Estado do Rio, Parana, Rio Grande do Sul e Pard. A Reforma Agraria era tema de discussio no Congresso, na imprensa, nas cidades, entre os operdrios, estudantes e intelectuais. Foi nessa conjuntura que se realizou o 1.° Congresso Nacional de Lavradores e Trabalhadores Agricolas do Brasil, também conhecido co- mo 0 1° Congresso Nacional dos Camponeses, nos dias 15, 16 e 17 de novembro de 1961, na cidade de Belo Horizonte. —_—— Promovido pela ULTAB e por intimeras organizagdes de traba- Ihadores rurais, a partir de uma idéia surgida na Conferéncia de 1959, 0 Congresso reuniu entre 1600 e 1800 delegados de todo o Pais, nado apenas dirigentes experientes, como trabalhadores de fazenda, sem passado de movimento. Definido, na época, como a Assembléia Constituinte dos trabalhadores rurais, o Congresso teve grande repercussdo. Dele resul- tou um documento intitulado “Declaragéo do 1° Congresso Nacional de Trabalhadores Agricolas sobre o Carater da Reforma Agraria”, Em- bora tivessem discutido em comissdes um temario de varios itens, 0s trabalhadores presentes ao Congresso preferiram firmar sua posicao num tnico documento e em torno de uma unica idéia: a Reforma Agraria radical. Em resumo, a Declaragio de Belo Horizonte, como fi- cou conhecido o documento, afirmava que para os homens que traba- Iham a terra, a Reforma Agraria é a maneira de resolver seus proble- mas. Néo uma Reforma Agraria qualquer, mas uma Reforma feita pelos trabalhadores rurais, os mais interessados em sua realizacio. A 6 Declaracao exigia a transformacdo radical da estrutura agraria e a substituigfo da grande pela pequena propriedade. Como condigéo para @ solugao da questo agraria, o Congresso reivindicava o direito & livre organizagao dos trabalhadores, a elaboragao de um estatuto que assegu- tasse protegao juridica aos trabalhadores. Para a realizagao da Refor- ma Agraria, defendia a alteragio do artigo 141 da Constituigéo e uma série de outras medidas visando facilitar 0 acesso & terra aos pequenos, bem como melhores condigdes de produciio. A Declaragao termina con- vocando o povo brasileiro a adotar a bandeira de luta da Reforma Agra- ria ¢ a torné-la vitoriosa, Os efeitos do Congresso foram importantes. A Declaracéo de Belo Horizonte foi uma tomada de posic¢dio firme do Moivmento a nivel nacional e uma definigdo dos interesses dos trabalhadores Turais, que nao poderiam mais ser ignorados. Meses apés 0 Congresso, 0 Governo acelerou o reconhecimento de Sindicatos de Trabalhadores Rurais e, em 1963, 0 Congresso Nacio- nal aprovou o Estatuto do Trabalhador Rural. Internamente o Movi- mento cresceu, com o surgimento de novas associagées e sindicatos. Apos o Congresso, um novo parceiro entrou na luta, A Igrejé Catolica, a partir de entéo, constituiu-se numa forca importante, ao Jado das Ligas, d2 ULTAB e do MASTER. As duas reunides que se seguiram 4 de Belo Horizonte contaram com a sua Pparticipagao ativa. A primeira foi o Congresso dos Lavradores e Trabalhadores Rurais do Norte e Nordeste do Brasil, realizado em Itabuna, em maio de 1962. Dois mil camponeses estiveram nesse Congresso, no qual foram distri- buidas 23 cartas sindicais. Da reuniao saiu uma declaracao de 26 itens, cujos pontos principais eram a defesa do Sindicalismo Rural, a priori- dade da Reforma Agraria e a criagéo de uma comissio organizadora de uma Confederagio Nacional de Sindicatos Rurais. Em margo seguinte, o Congresso Nacional aprovou o Estatuto do Trabalhador Rural no qual eram atendidas, principalmente, duas importantes reivindicagdes do Movimento, expressas em seus Congres- SoS consecutivos: a sindicalizagao rural e a legislacao trabathista pare © campo. A alteracéo do quadro juridico exigia uma nova tomada de posigao. Assim, em julho de 1963, realizava-se, em Natal, a 1= Conven- ¢do Nacional de Sindicatos Rurais. Dessa Reunido participaram a Igreja e a ULTAB, bem como 400 dirigentes sindicais. Do Encontro saiu um manifesto pedindo a aplicacéo do Estatuto do Trabalhador Rural, res- peito aos direitos de sindicalizacio, criacéo da previdéncia social para © campo e a imediata realizaciio da Reforma Agraria, mediante a alte- ragdo do artigo 141 da Constituigaéo. Ainda durante a Reunido, deci- diu-se constituir uma comissio visando tratar da fundacaio da CONTAG. A Convencio terminou com uma grande concentragéo de 30 mil cam- Poneses numa praca publica em Natal.

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