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ISSN: 1981-8963 DOI: 10.5205/reuol.9302-81402-1-RV.

1105sup201704

Faria TNT de, Carbogim FC, Alves KR et al. Cuidados paliativos em unidade de terapia...

ARTIGO ORIGINAL
CUIDADOS PALIATIVOS EM UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA: PERCEPÇÕES
DOS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM
PALLIATIVE CARE IN AN INTENSIVE THERAPY UNIT: PERCEPTIONS OF NURSING
PROFESSIONALS
CUIDADOS PALIATIVOS EN UNIDAD DE TERAPIA INTENSIVA: PERCEPCIONES DE LOS
PROFESIONALES DE ENFERMERÍA
Thais Nayara Tavares de Faria1, Fábio Costa Carbogim2, Katiusse Resende Alves3, Luana Vieira
Toledo4, Dionasson Altivo Marques5
RESUMO
Objetivo: compreender a percepção da equipe de Enfermagem sobre os cuidados paliativos a
pacientes em estado terminal. Método: estudo descritivo, de abordagem qualitativa, realizado com
15 profissionais de Enfermagem inseridos nas Unidades de Terapia Intensiva adulto. As entrevistas
foram realizadas utilizando-se questionário aberto. As falas foram submetidas à técnica de Análise
de Conteúdo, na modalidade Análise Categorial. Resultados: após a exploração dos dados, foram
encontradas três categorias: << A percepção e a vivência da equipe de Enfermagem sobre cuidados
paliativos>>; << Como o cuidado paliativo é aplicado>> e << Atuando junto à família no
enfrentamento do estado terminal >>. Conclusão: o cuidado paliativo ainda é pouco conhecido e
integrado às ações da Enfermagem em Unidade de Terapia Intensiva, necessitando maior
preparação da equipe. Descritores: Cuidados Paliativos; Terminalidade; Cuidados de Enfermagem;
Assistência Integral à Saúde; Humanização da Assistência.
ABSTRACT
Objective: to understand the perception of the Nursing team about palliative care in terminally ill
patients. Method: a descriptive study, with a qualitative approach, carried out with 15 Nursing
professionals enrolled in Adult Intensive Care Units. The interviews were conducted using an open
questionnaire. The speeches were submitted to the Content Analysis technique, in the category
Analysis category. Results: after the data exploration, three categories were found: << The
perception and experience of the nursing team about palliative care >>; << How palliative care is
applied >> and << Working with the family in facing the terminal state >>. Conclusion: palliative
care is still poorly understood and integrated into the actions of Nursing in an Intensive Care Unit,
requiring greater staff preparation. Descriptors: Palliative Care; Hospice Care; Nursing Care;
Comprehensive Health Care; Humanization of Assistance.
RESUMEN
Objetivo: comprender la percepción del personal de Enfermería sobre cuidados paliativos en
pacientes terminales. Método: estudio descriptivo, de abordaje cualitativo, realizado con 15
profesionales de Enfermería inseridos en Unidades de Cuidados Intensivos Adultos. Las entrevistas se
llevaron a cabo mediante cuestionario abierto. Las hablas fueron sometidas a la técnica de Análisis
de Contenido, en modo de Análisis Categorial. Resultados: después de registrar los datos, se
encontraron tres categorías: << La percepción y experiencia del personal de cuidados paliativos de
Enfermería >>; << Como el cuidados paliativo es aplicado>> y << Trabajado con la familia en la
confrontación a la terminal >>. Conclusión: el cuidado paliativo es aún poco conocido e integrado a
las acciones de Enfermería en la Unidad de Terapia Intensiva, que requiere una mayor preparación
del equipo. Descriptores: Cuidados Paliativos; Cuidados Paliativos al Final de la Vida; Atención de
Enfermería; Atención Integral de Salud; Humanización de la Atención.
1
Enfermeira (egressa), Universidade Federal de Viçosa/UFV. Viçosa (MG), Brasil. E-mail: thaisnayara-@hotmail.com; 2Enfermeiro,
Professor Mestre em Enfermagem, Curso de Graduação em Enfermagem, Universidade Federal de Juiz de Fora/UFJF. Juiz de Fora (MG),
Brasil. E-mails: fabiocarbogim@gmail.com; 3Enfermeira, Professora Mestre em Enfermagem, Departamento de Medicina e Enfermagem,
Universidade Federal de Viçosa/UFV. Viçosa (MG), Brasil. E-mail: katiussealves@gmail.com; 4Enfermeira, Professora Mestre em Saúde
Coletiva, Departamento de Medicina e Enfermagem, Universidade Federal de Viçosa/UFV. Viçosa (MG), Brasil. E-mail:
luana.toledo@ufv.br; 5Enfermeiro, Mestre em Enfermagem, Universidade Federal de Juiz de Fora/UFJF. Juiz de Fora (MG), Brasil.
Email: dionmarques@hotmail.com

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Em 2004, a Organização Mundial da Saúde


INTRODUÇÃO
(OMS) redefiniu o conceito de cuidados
Nas últimas décadas, com os avanços paliativos, entendendo-o como uma
científicos e tecnológicos, juntamente com o abordagem que promove qualidade de vida
desenvolvimento biomédico houve também aos pacientes e seus familiares diante de
um aumento significativo da doenças que ameaçam a continuidade da vida,
institucionalização de pacientes terminais em pela prevenção e alívio do sofrimento.
Unidades de Terapia Intensiva (UTI). O Demanda, dessa forma, a identificação
indivíduo, que antes passava seus últimos antecipada, bem como a avaliação, o
momentos de vida junto aos seus familiares, acompanhamento e o tratamento efetivo da
passa agora a morrer em centros de saúde.1 dor e outros problemas de ordem física,
Trabalhar com a terminalidade sempre foi psicológica, espiritual e familiar.7
um problema para muitas pessoas, devido aos Acredita-se que, para uma abordagem
inúmeros mistérios e tabus que a rodeiam, integral e adequada na terminalidade, há a
contudo, na atualidade, tornou-se possível necessidade de preparo efetivo em
retardar, atenuar e diminuir a dor do paliativismo ou exercício da arte do cuidar
indivíduo em estado terminal. O morrer deixa durante o morrer, vinculando, assim, o
de ser um acontecimento para se tornar um conhecimento científico ao alívio do
processo nas fases da vida.2 sofrimento. Como parte fundamental da
Essa condição impõe aos profissionais de prática clínica, pode desenvolver-se
saúde, em especial aos enfermeiros, paralelamente ou complementarmente ao
preparação para prestar um atendimento que paradigma biomédico de cura e
vai além da técnica, mas que se baseia no prolongamento da vida.8 Nesse processo, o
cuidado integral, tendo como foco o doente e enfermeiro assume um papel primordial na
não a doença. Assim, tem se modificado o previsão e provisão de recursos necessários ao
paradigma do cuidado na terminalidade, cuidado, bem como a avaliação das demandas
exigindo dos profissionais, habilidades de cada paciente, planejando e
específicas para ajudar o paciente a adaptar- implementando ações que permitam ao
se às mudanças e promover a reflexão indivíduo passar pela terminalidade sem
necessária para o enfrentamento desta sofrimento. Em suma, oferecer cuidados
condição de vida, para si e no contexto paliativos em Enfermagem é vivenciar e
familiar.2-3 compartilhar momentos de fé, amor e
compaixão, compreendendo que é possível
Em UTIs, os profissionais da saúde ocupam
morrer com dignidade, acompanhado de
lugares e papéis distintos, participando do
profissionais, familiares e apoio espiritual.9-10
atendimento ao paciente com risco de vida
e/ou eminência de morte. Nesses casos, Como mostram os estudos9-11, os cuidados
admitem-se diferentes desfechos, onde o paliativos, apesar de bem descritos, ainda são
paciente pode sair recuperado ou, em outros pouco conhecidos e desempenhados pelos
casos, apenas prorrogar o seu tempo de vida.3- profissionais de Enfermagem no contexto
4 nacional. Considerando a necessidade de
aprofundamento para posteriores
O modelo de assistência geralmente
intervenções, justifica-se este trabalho, que
adotado nestas unidades, pautado no
tem por objetivo compreender a percepção e
intervencionismo e no curativismo, não
a vivência da equipe de Enfermagem em uma
permite o cuidado em todas as suas
UTI adulto sobre os cuidados paliativos
dimensões, ou seja, atendendo às diversas
prestados aos pacientes em estado terminal.
necessidades do paciente, independente da
fase de vida em que ele se encontra.1 MÉTODO
Na perspectiva da terminalidade, a
utilização dos mais sofisticados recursos para Para melhor compreender o significado
a manutenção da vida não será suficiente a atribuído aos cuidados paliativos a pacientes
esse paciente.1,3 Nesse contexto, entram em terminais pela equipe de Enfermagem,
prática os cuidados paliativos, os quais, utilizou-se do estudo descritivo com
12
embora ainda pouco utilizados em pacientes abordagem qualitativa.
terminais de UTIs, são considerados alvo de Os participantes do estudo foram
estudos, especialmente os critérios para a sua enfermeiros e técnicos de Enfermagem
aplicação. Com isso, torna-se importante a vinculados à UTI adulto de um Hospital
aceitação da morte, interpretando-a como um Filantrópico, de médio porte, credenciado
evento natural, sem descuidar do respeito à como hospital de ensino, localizado em uma
autonomia e não maleficência do paciente.4-6 cidade de pequeno porte da Zona da Mata
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Mineira. Utilizou-se, como critério de clínicas dos pacientes impossibilitados de


inclusão, a presença do vínculo profissional cura. Logo, constitui-se em uma proposta
com a instituição e como critério de exclusão, terapêutica aos diversos sintomas que podem
o fato de estarem afastados do trabalho por acarretar o sofrimento físico, psíquico, social
qualquer motivo, incluindo-se o período de ou espiritual.1,10 Logo, o paliativismo se insere
férias. no momento em que a recuperação e a
Para captar as informações desejadas, estabilização de uma doença já não são mais
foram realizadas entrevistas com questionário possíveis.
aberto, entre os meses de julho e agosto, Nos depoimentos a seguir, os entrevistados
utilizando gravador digital. As questões descrevem o que entendem por cuidados
norteadoras foram: O que você entende por paliativos.
cuidado paliativo? Como e quando você aplica Cuidado paliativo, no caso, é você dar um
esse tipo de cuidado? Como você atua junto conforto para o paciente que não tem mais
com a família/cuidador no enfrentamento do perspectiva de se investir (T11).
estado terminal? Pra mim, cuidados paliativos são aqueles
Após as entrevistas, as falas foram com pacientes fora de possibilidade
terapêutica de melhora, mas são cuidados
transcritas na íntegra, formando o corpus de
essenciais para manter o bem-estar. Não é
análise que foi submetido à análise temática.
porque ele está fora de possibilidade
Para isso, foi realizada, incialmente, leitura terapêutica que você vai deixar de fazer, de
flutuante, seguida de leitura criteriosa do continuar cuidando dele. Então, eu entendo
texto, identificando os núcleos de sentido da cuidado paliativo você continuar cuidando,
comunicação, cuja presença ou frequência se continuar acreditando, zelando pelo
destacaram para a análise nas categorias12. paciente e proporcionar o conforto, o bem-
Como forma de garantir o anonimato dos estar até pra família do paciente (E2).
participantes, as falas dos enfermeiros foram São todos os cuidados que você poderá fazer
representadas pela letra E seguida de um para minimizar a dor ou você deixar aquela
pessoa confortável porque, por mais que
número aleatório, e as falas dos técnicos pela
não tenha mais o que você fazer por ela em
letra T também acompanhada por um número.
relação à doença, a gente pode oferecer
Para a realização da pesquisa, o projeto foi cuidados para que ele esteja confortável,
apresentado e aprovado pelo Comitê de Ética não sinta dor no restinho de tempo que ele
em Pesquisa com seres humanos da ainda tem (E4).
Universidade Federal de Viçosa, sob o número As falas reiteram aspectos fundamentais a
de protocolo 1.119.631. serem considerados na terminalidade, como o
RESULTADO E DISCUSSÃO conforto, o bem-estar e o alívio da dor do
paciente. Nesse sentido, o foco do cuidado
Foram realizadas entrevistas individuais prestado pelo enfermeiro não será o tempo de
com 15 profissionais de Enfermagem dos quais vida que ainda resta ao paciente, mas o
quatro eram enfermeiros e 11, técnicos de conforto e a qualidade de vida necessários,
Enfermagem. Em relação ao perfil da amostra, com o suporte de uma equipe
13
sete profissionais eram do sexo masculino e multiprofissional e dos familiares.
oito do sexo feminino, com idade variando de Além das competências técnico-científicas
24 a 43 anos. O tempo de atuação profissional inerentes à Enfermagem, o profissional deve
também foi uma variável considerada no estar apto ao desenvolvimento de
estudo, encontrando-se profissionais com comportamentos e atitudes, como
experiência de dois meses a 20 anos de compreensão da finitude, empatia, respeito à
atuação na Enfermagem. dignidade humana e habilidade para lidar com
Após a organização e análise das crises. Dessa forma, na medida em que busca
entrevistas, surgiram as seguintes categorias minimizar os efeitos de uma situação
de análises: a percepção e a vivência da fisiológica desfavorável, o profissional de
equipe de Enfermagem sobre cuidados Enfermagem ampara, acolhe e defende a
paliativos; Como o cuidado paliativo é autonomia do paciente.14 Por sua vez, mesmo
aplicado e Atuando junto à família no atuando em um mesmo ambiente de trabalho
enfrentamento do estado terminal; dos profissionais que sabem definir cuidado
 A percepção e a vivência da equipe de paliativo, é possível encontrar outros
Enfermagem sobre cuidados paliativos profissionais que desconhecem-no, como
verificado nas falas abaixo:
De uma forma abrangente, cuidados
Nunca ouvir falar em cuidado paliativo.
paliativos compreendem a avaliação e o
Como funciona esse cuidado? Esse termo eu
manuseio apropriados às manifestações

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desconheço, talvez já tenha até ouvido (...) as questões das vontades do paciente
falar, mas com outro nome (T1). também, a questão de conforto mesmo. Não
Nunca ouvi essa palavra, não sei mesmo o é porque não tem o que ser feito em relação
que é. Às vezes, a gente até sabe o que é e à doença que a gente vai deixar uma ferida,
pratica, só não sabe o nome que tem (T10). então, é oferecido alimentação, mudança de
Percebe-se, pelas falas, a falta de decúbito, hidratação pra pele, todos os
cuidados que vão deixar ele confortável,
compreensão do termo ou palavras,
sem dor... ele vai ter também a questão do
denotando possível falta de treinamento
ente religioso muitas vezes solicitado pela
formal e/ou fragilidade na formação família (E4).
profissional. Embora, durante a formação, o
Nota-se, a partir das falas, que aplicar o
profissional tenha tido contato com a
cuidado paliativo consiste, entre outras
temática em aulas ou disciplinas, a
coisas, em prestar os cuidados básicos ao
abordagem ainda é fragmentada e
paciente como alimentação, hidratação,
superficial.11,15 Esse hiato curricular pode
higiene, conforto e alívio da dor. Além de
influenciar diretamente no cuidado prestado
manter sempre um diálogo, mesmo que o
pelos profissionais, mantendo o pressuposto
paciente esteja inconsciente e, sempre que
de que paciente terminal é paciente sem
possível, atender os seus desejos e
possibilidade terapêutica.8,11
necessidades pessoais.
Nesse contexto, a discussão de conceitos
Assim, o foco da atenção não será a doença
básicos em cuidados paliativos, bem como
a ser curada ou controlada, mas o indivíduo,
suas diferentes formas de abordagem,
entendido como um ser ativo, com direito à
tornam-se relevantes não apenas nas
informação e com autonomia, quando
instituições de ensino, mas também nos locais
possível, para decidir a respeito de seu
de trabalho. No âmbito de uma UTI, local
tratamento. Nesse sentido, a prática
onde geralmente se privilegiam a técnica e os
desejável de cuidados paliativos leva em
procedimentos, também deve haver espaços
conta a atenção particular ao paciente e sua
para significar o cuidado na terminalidade,
família, almejando excelência da assistência e
disseminando, nos intensivistas, os ideais do
prevenção do sofrimento.16
paliativismo.
A prática de Enfermagem sistematizada
 Como o cuidado paliativo é aplicado favorece a identificação das necessidades de
Unir os cuidados paliativos a uma proposta cuidado manifestadas e/ou referidas pelos
de cuidado integral é fundamental não apenas pacientes e familiares, permitindo que
como uma obrigação, mas como um ato de cuidador e ser cuidado enfrentem juntos essa
respeito e solidariedade ao paciente. fase da vida, valendo-se de estratégias e
Nesse sentido, aspectos do cuidar, como a recursos pertinentes.17
percepção de manifestações verbais e não  Atuando junto à família no enfrentamento
verbais, da necessidade de contato ou do estado terminal
privacidade, da expressão cultural e religiosa
A família representa núcleo fundamental
são basilares, independente do estado no qual
na constituição dos valores, crenças e
se encontra o paciente.15
princípios, bem como entendimento e
As falas dos profissionais deixam explícita a conhecimentos dos seus entes e, em geral,
importância desse cuidado, do respeito pelo quando alguém adoece, a família padece.18
outro em sua totalidade, ratificando como o Diante da terminalidade, a família sofre com o
cuidado paliativo deve ser aplicado. A esse adoecer e com a proximidade de morte do seu
respeito, relatam que: familiar, vindo à tona as questões de luto,
Os mesmos cuidados com os que têm chance afeto, medo e também as tentativas de
de cura são com os em fase terminal. Ter tomadas de decisão ou conclusão de processos
atenção à queixa de dor, sensibilidade à
inacabados.18-20
dor, pra poder amenizar. Barba feita, deixar
bem higienizado (T2). Ao se tratar de um paciente hospitalizado,
Mesmo ele inconsciente você estar
manter a proximidade da família não é uma
explicando pra ele, você proporcionar pra tarefa tão simples, uma vez que o hospital é
ele os melhores cuidados de Enfermagem, uma instituição dotada de normas e rotinas
você vai ter que ter o cuidado de trocar, de que devem ser cumpridas rigorosamente.18-9
mudar de decúbito, os mesmo cuidados que Contudo, em situações de terminalidade, os
teria com outro paciente, tentar, dentro das profissionais devem ser capazes de superar
possibilidades, ver se ele está com dor, não algumas dessas regras, como em relação aos
deixar sem dieta, não deixar fora dos horários de visitas e permanência no setor,
parâmetros (E2).
tendo como objetivo proporcionar ao paciente
e à família uma maior interação, a partir de
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maior contato. A esse respeito, os Estas falas refletem algumas estratégias


profissionais afirmam: utilizadas para maior envolvimento e
Eu tive uma família de uma senhora de meia entendimento da família acerca da situação
idade, que a gente chegou a liberar doze de saúde/doença do paciente e também em
familiares em um dia, era uma família de relação ao ambiente do cuidado.
muitos filhos, e ela estava em um quadro Essas ações são de grande valor, uma vez
muito grave... foi uma coisa diferente, a
que representam um movimento de
gente quebrou a rotina do CTI e colocou
envolvimento da família no processo de
doze pessoas para dentro para proporcionar
esse momento de despedida e, de certa cuidado. Contudo, há sempre a necessidade
forma, até de bem-estar para a paciente e de explicar, ensinar aspectos importantes
para a família (E3). para a manutenção da saúde do paciente e do
Quando se trata de um paciente mais grave familiar, com destaque para as precauções
eu sempre pergunto para família se tem biológicas. Dessa maneira, ressalta-se que, no
mais alguém que queira ver, que pode ir. A processo de cuidados paliativos em UTI, a
gente sempre acaba dando um jeitinho para comunicação, a orientação e o treinamento
que a família e outras pessoas importantes devem permear as ações dos profissionais,
possam estar mais próximos dos pacientes favorecendo o cuidado prestado aos pacientes
em momentos assim (E2).
e família, com vista a melhores resultados.
Conforme expresso nas falas, apesar de
todo o critério e normas necessários, CONCLUSÃO
estabelecer de forma criteriosa a flexibilidade
Os resultados deste estudo demostram que
pode ser importante e tornar-se mais uma
cuidados paliativos em UTI consistem, entre
experiência de cuidado positiva,
outras coisas, em prestar assistência básica ao
estabelecendo-se, assim, um estreitamento da
paciente, valendo-se de competências
relação entre equipe e familiares. Salienta-se
técnico-científicas aliadas a comportamentos
que todas as vivências da morte e do morrer
e atitudes específicas.
podem perpetuar-se positiva ou
negativamente na vida dos familiares, Apesar da sua evidente importância, o
determinando, assim, os sentidos e cuidado paliativo ainda não é conhecido de
significados em torno do processo de perda do forma uniforme pela equipe de Enfermagem
ente.15 da UTI, o que revela fragilidade no processo
de formação e treinamento profissional.
Dessa forma, em qualquer situação se faz
necessário o envolvimento de todos em busca A família assume papel fundamental no
de um cuidar voltado para o paciente, enfrentamento da terminalidade, sendo uma
conforme evidenciado nos depoimentos a aliada ao tratamento no processo de cuidado.
seguir: Contudo, os familiares devem ser
Durante a visita do dia, a equipe sempre
esclarecidos, a todo momento, sobre as
reúne com a família fora do CTI e conversa, particularidades da situação.
explica a situação, orienta, fala como ele Por fim, as limitações deste estudo
vem evoluindo. Durante o dia, existe o relacionam-se ao número de sujeitos e ao
contato família, paciente e equipe. Durante local do estudo, um único setor, o que impede
a noite, é só família e paciente. Então, o a generalização dos achados. Porém, estes são
que a gente faz é orientar a família na beira considerados válidos, pois refletem condições
do leito, dizendo, por exemplo, que mesmo
semelhantes verificadas em pesquisas de
o paciente estando inconsciente que a
maior abrangência, destacando-se a
família pode conversar com ele, segurar a
mão, valorizando o contato, isso é necessidade de estudos complementares que
importante para o paciente (E2). envolvam o tema.
Então, a gente começou implantando que REFERENCIAS
antes das visitas a gente conversa com os
familiares, explica o ambiente da UTI para 1. Germano KS, Meneguin S. Meanings
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Submissão: 02/02/2016
Aceito: 11/04/2017
Publicado: 15/05/2017
Correspondência
Fábio da Costa Carbogim
Rua Alberto Guedes, 41
Bairro Jardim Esperança
CEP: 36072-280  Juiz de Fora (MG), Brasil

Português/Inglês
Rev enferm UFPE on line., Recife, 11(Supl. 5):1996-2002, maio., 2017 2002

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