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Ensino Superior
Núcleo de Pós-Graduação
1
Sumário
MÓDULO I _____________________________________________________ 3
Comênio
Didática
Prática educativa e sociedade
MÓDULO II _______________________________________________________ 12
Políticas de formação
Formação Pedagógica do professor universitário: uma necessidade?
MÓDULO IV _______________________________________________________ 27
Didática – técnicas, estratégias e tendências
Didática e metodologia
Tendências pedagógicas da prática escolar
A didática e a tecnologia
BIBLIOGRAFIA ____________________________________________________ 37
2
MÓDULO III MÓDULO I
Quando se fala de uma escola em que as crianças são respeitadas como seres humanos
dotados de inteligência, aptidões, sentimentos e limites, logo pensaram em concepções
modernas de ensino. Também acreditamos que o direito de todas as pessoas -
absolutamente todas - à educação é um princípio que só surgiu há algumas dezenas de
anos. De fato, essas ideias se consagraram apenas no século XX, e assim mesmo não em
todos os lugares do mundo. Mas elas já eram defendidas em pleno século XVII por
Comenius (1592-1670), o pensador tcheco que é considerado o primeiro grande nome da
moderna história da educação.
3
DIDÁTICA
Consideraremos, em primeiro lugar, que o processo de ensino – objeto de estudo da
Didática – não pode ser tratado como atividade restrita ao espaço da sala de aula. O
trabalho docente é uma das modalidades específicas da prática educativa mais ampla que
ocorre na sociedade. Para compreendermos a importância do ensino na formação
humana, é preciso considerá-lo no conjunto das tarefas educativas exigidas pela vida em
sociedade. A ciência que investiga a teoria e a prática da educação nos seus vínculos com
a prática social global é a Pedagogia. Sendo a Didática uma disciplina que estuda os
objetivos, os conteúdos, os meios e as condições do processo de ensino tendo em vista
finalidades educacionais, que são sempre sociais, ela se fundamenta na Pedagogia; é,
assim, uma disciplina pedagógica.
4
PRÁTICA EDUCATIVA E SOCIEDADE
O trabalho docente é parte integrante do processo educativo mais global pelo qual os
membros da sociedade são preparados para a participação na vida social. A educação –
ou seja, a prática educativa – é um fenômeno social e universal, sendo uma atividade
humana necessária à existência e funcionamento de todas as sociedades. Cada sociedade
precisa cuidar da formação dos indivíduos, auxiliar no desenvolvimento de suas
capacidades físicas e espirituais, prepará-los para a participação ativa e transformadora
nas várias instâncias da vida social. Não há sociedade sem prática educativa nem prática
educativa sem sociedade. A prática educativa não é apenas uma exigência da vida em
sociedade, mas também o processo de prover os indivíduos dos conhecimentos e
experiências culturais que os tornam aptos a atuar no meio social e a transformá-lo em
função de necessidades econômicas, sociais e políticas da coletividade.
Através da ação educativa o meio social exerce influências sobre os indivíduos e estes, ao
assimilarem e recriarem essas influências, tornam-se capazes de estabelecer uma relação
ativa e transformadora em relação ao meio social. Tais influências se manifestam através
de conhecimentos, experiências, valores, crenças, modos de agir, técnicas e costumes
acumulados por muitas gerações. Em sentido amplo, a educação compreende os
processos formativos que ocorrem no meio social, nos quais os indivíduos estão
envolvidos de modo necessário e inevitável pelo simples fato de existirem socialmente;
neste sentido, a prática educativa existe numa grande variedade de instituições e
atividades sociais decorrentes da organização econômica, política e legal de uma
sociedade, da religião, dos costumes, das formas de convivência humana. Em sentido
estrito, a educação ocorre em instituições específicas, escolares ou não, com finalidades
explícitas de instrução e ensino mediante uma ação consciente, deliberada e planificada,
embora sem separar-se daqueles processos formativos gerais.
5
Os estudos que tratam das diversas modalidades de educação costumam caracterizar as
influências educativas como não intencionais e intencionais. A educação não
intencional refere-se às influências do contexto social e do meio sobre os indivíduos. Tais
influências, também denominadas de educação informal, correspondem a processos de
aquisição de conhecimentos, experiências, ideias, práticas, que não estão ligados
especificamente a uma instituição e nem são intencionais e conscientes. São situações e
experiências, por assim dizer, casuais, espontâneas, não organizadas, embora influam na
formação humana. É o caso, por exemplo, das formas econômicas e políticas de
organização da sociedade, das relações humanas na família, no trabalho, na comunidade,
dos grupos de convivência humana, do clima sociocultural da sociedade.
6
Cumpre acentuar, no entanto, que a educação propriamente escolar se destaca entre as
demais formas de educação intencional por ser suporte e requisito delas. Com efeito, é a
escolarização básica que possibilita aos indivíduos aproveitar e interpretar, consciente e
criticamente, outras influências educativas. É impossível, na sociedade atual, com o
progresso dos conhecimentos científicos e técnicos, e com o peso cada vez maior de
outras influências educativas (mormente os meios de comunicação de massa), a
participação efetiva dos indivíduos e grupos nas decisões que permeiam a sociedade sem
a educação intencional e sistematizada provida pela educação escolar.
As formas que assume a prática educativa sejam não intencionais, formais ou não formais,
escolares ou extraescolares, se interpenetram. O processo educativo, onde quer que se
dê, é sempre contextualizado social e politicamente; há uma subordinação à sociedade
que lhe faz exigências, determina objetivos e lhe provê condições e meios de ação.
Vejamos mais de perto como se estabeleçam os vínculos entre sociedade e educação.
Conforme dissemos, a educação é um fenômeno social. Isso significa que ela é parte
integrante das relações sociais, econômicas, políticas e culturais de uma determinada
sociedade. Na sociedade brasileira atual, a estrutura social se apresenta dividida em
classes e grupos sociais com interesses distintos e antagônicos; esse fato repercute tanto
na organização econômica e política quanto na prática educativa. Assim, as finalidades e
meios da educação subordinam-se à estrutura e dinâmica das relações entre as classes
sociais, ou seja, são socialmente determinados.
7
social e as formas sociais pelas quais a sociedade se organiza são uma decorrência do
fato de que, desde o início da sua existência, os homens vivem em grupos; sua vida está
na dependência da vida de outros membros do grupo social, ou seja, a história humana, a
história da sua vida e a história da sociedade se constituem e se desenvolvem na
dinâmica das relações sociais. Este fato é fundamental para se compreender que a
organização da sociedade, a existência das classes sociais, o papel da educação estão
implicados nas formas que as relações sociais vão assumindo pela ação prática concreta
dos homens.
8
As relações sociais no capitalismo são, assim, fortemente marcadas pela divisão da
sociedade em classes, onde capitalistas e trabalhadores ocupam lugares opostos e
antagônicos no processo de produção. A classe social proprietária dos meios de produção
retira seus lucros da exploração do trabalho da classe trabalhadora. Esta, à qual
pertencem cerca de 70% da população brasileira, é obrigada a trocar sua capacidade de
trabalho por um salário que não cobre as suas necessidades vitais e fica privada, também,
da satisfação de suas necessidades espirituais e culturais. A alienação econômica dos
meios e produtos do trabalho dos trabalhadores, que é ao mesmo tempo uma alienação
espiritual, determina desigualdade social e consequências decisivas nas condições de vida
da grande maioria da população trabalhadora. Este é o traço fundamental do sistema de
organização das relações sociais em nossa sociedade.
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... Problemas que são decorrentes da estrutura social são tomados como problemas
individuais. Entretanto, são meias verdades, são concepções parciais da realidade que
escondem os conflitos sociais e tentam passar uma ideia positiva das coisas. Pessoas
desavisadas acabam assumindo essas crenças, valores e práticas, como se fizessem
parte da normalidade da vida; acabam acreditando que a sociedade é boa, os indivíduos é
que destoam.
A prática educativa, portanto, é parte integrante da dinâmica das relações sociais, das
formas da organização social. Suas finalidades e processos são determinados por
interesses antagônicos das classes sociais. No trabalho docente, sendo manifestação da
prática educativa, estão presentes interesses de toda ordem – sociais, políticas,
econômicas, culturais.
– que precisam ser compreendidos pelos professores. Por outro lado, é preciso
compreender, também, que as relações sociais existentes na nossa sociedade não são
estáticas, estabelecidas para sempre. Elas são dinâmicas, uma vez que se constituem pela
ação humana na vida social. Isso significa que as relações sociais podem ser
transformadas pelos próprios indivíduos que a integram. Portanto, na sociedade de
classes, não é apenas a minoria dominante que põe em prática os seus interesses.
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Fizemos essas considerações para mostrar que a prática educativa, a vida cotidiana, as
relações professor-aluno, os objetivos da educação, o trabalho docente, nossa percepção
do aluno estão carregados de significados sociais que se constituem na dinâmica das
relações entre classes , entre raças, entre grupos religiosos, entre homens e mulheres,
jovens e adultos. São os seres que, na diversidade das relações recíprocas que travam em
vários contextos, dão significado às coisas, às pessoas, às ideias; é socialmente que se
formam ideias, opiniões, ideologias. Este fato é fundamental para compreender como cada
sociedade se produz e se desenvolve, como se organiza e como encaminha a prática
educativa através dos seus conflitos e suas contradições. Para quem lida com a educação
tendo em vista a formação humana dos indivíduos vivendo em contextos sociais
determinados, é imprescindível que se desenvolva a capacidade de descobrir as relações
sociais reais implicadas em cada acontecimento, em cada situação real da sua profissão,
em cada matéria que ensina como também o discurso, nos meios de comunicação de
massa, nas relações cotidianas na família e no trabalho.
Vê-se que a responsabilidade social da escola e dos professores é muito grande, pois
cabe-lhes escolher qual concepção de vida e de sociedade deve ser trazida à
consideração dos alunos e quais conteúdos e métodos lhes propiciam o domínio dos
conhecimentos e a capacidade de raciocínio necessários à compreensão da realidade
social e à atividade prática na profissão, na política, nos movimentos sociais. Tal como a
11
educação, também o ensino é determinado socialmente. Ao mesmo tempo que cumpre
objetivos e exigências da sociedade conforme interesses de grupos e classes sociais que a
constituem, o ensino cria condições metodológicas e organizativas para o processo de
transmissão e assimilação de conhecimentos e desenvolvimento das capacidades
intelectuais e processos mentais dos alunos tendo em vista o entendimento crítico dos
problemas sociais.
MÓDULO II
LDB - ENSINO SUPERIOR
A Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996, também conhecida como Lei Darcy Ribeiro,
define a educação escolar brasileira em dois níveis:
Educação Básica – compreendendo a Educação Infantil, o Ensino Fundamental e o
Ensino Médio;
Educação Superior – com os cursos sequenciais, de graduação, pós-graduação e
extensão.
Segundo o artigo 22 da LDB, a Educação Básica tem por objetivo: “desenvolver o
educando e assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania
e fornecer ao educando meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores”.
A Educação Superior tem os seguintes objetivos:
I – estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito científico e do
pensamento reflexivo;
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II – formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em
setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira,
e colaborar na sua formação contínua;
III – incentivar o trabalho de pesquisa e investigação científica, visando ao
desenvolvimento da ciência, da tecnologia e da criação e difusão da cultura e, desse
modo, desenvolver o entendimento do homem e do meio em que vive;
IV – promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que
constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber por meio do ensino, de
publicações ou de outras formas de comunicação;
V – suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento cultural e profissional e
possibilitar a correspondente concretização, integrando os conhecimentos que vão
sendo adquiridos numa estrutura intelectual sistematizadora do conhecimento de cada
geração;
VI – estimular o conhecimento dos problemas do mundo presente, em particular os
nacionais e regionais, prestar serviços especializados à comunidade e estabelecer com
esta uma relação de reciprocidade;
VII – promover a extensão aberta à participação da população, visando à difusão das
conquistas e benefícios resultantes da criação cultural e da pesquisa científica e
tecnológica geradas na instituição (LDB, art. 43).
(...)
Na sociedade brasileira contemporânea, as rápidas transformações no mundo do trabalho,
o avanço tecnológico configurando a sociedade virtual e os meios de informação e
comunicação invadem fortemente a instituição de Ensino Superior, aumentando os
desafios para torná-la uma conquista democrática efetiva.
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A Lei de Diretrizes e Bases e a formação de docentes
Art. 66. A preparação para o exercício do magistério superior far-se-á em nível de pós-
graduação, prioritariamente em programas de mestrado e doutorado.
Essa questão tem sido considerada, tanto no âmbito da pesquisa sobre os processos de
formação como nas formulações das políticas de Ensino Superior, no que se refere ao
ensino e à pesquisa, exigências que caracteriza o exercício da profissão em geral.
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A universidade como instituição educativa tem por finalidade o permanente exercício da
crítica, que se sustenta no ensino, na pesquisa e na extensão.
Para Edgard Morin (2000), “a universidade conserva, memoriza, integra e ritualiza uma
herança cultural de saberes, ideias e valores que acaba por ter um efeito regenerador,
porque a universidade se incumbe de reexaminá-la e transmiti-la”.
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Nas sociedades contemporâneas, essas atribuições do ensino universitário exigem uma
ação docente na qual o professor universitário precisa atuar como profissional reflexivo,
crítico, responsável e competente no âmbito de sua disciplina, diferentemente do que
ocorria no passado. Além disso, ele precisa ter capacidade para exercer a docência e
realizar atividades de investigação.
As reformas educativas levadas a efeito em nosso país e nos outros países da América
Latina desde o final da década de 1970, com o objetivo de adequar o sistema educacional
ao processo de reestruturação produtiva e aos novos rumos do Estado, vêm reafirmando a
centralidade da formação dos profissionais da educação. Nesse contexto, debatem-se
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diferentes propostas para a formação, fundadas em projetos políticos e perspectivas
históricas diferenciadas, o que faz com que a formação desses profissionais seja tratada
ou como elemento impulsionador e realizador dessas reformas, ou como elemento que cria
condições para a transformação da própria escola, da educação e da sociedade.
A importância dada à questão da formação pelas políticas atuais tem por objetivo
equacionar o problema da formação para elevar os níveis de “qualidade” da educação nos
países subdesenvolvidos, qualidade que, na concepção do Banco Mundial, é determinada
por vários fatores, entre os quais situam-se o tempo de instrução, os livros didáticos e a
melhoria do conhecimento dos professores (privilegiando a capacitação em serviço sobre a
formação.
17
nível de satisfação das necessidades básicas de aprendizagem”, pilar do plano de ação
Educação Para Todos que fundamentou, em nosso país, o Plano Decenal. A “qualidade”
da educação e da escola básica passa a fazer parte das agendas de discussões e do
discurso de amplos setores da sociedade, e das ações e políticas do MEC, que busca a
cooptação (agregar, associar, atrair alguém para seus objetivos) para criar consensos
facilitadores das mudanças necessárias na escola básica e, principalmente, no campo da
formação de professores (FREITAS, 1994).
Faz parte também dessa trajetória na luta pela formação a definição de uma política
nacional global de formação dos profissionais da educação e valorização do magistério,
que contemple de forma prioritária no quadro das políticas educacionais, e em condições
de igualdade, a sólida formação inicial no campo da educação, condições de trabalho,
salário e carreira dignas e a formação continuada como um direito dos professores e
obrigação do Estado e das instituições contratantes.
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Este trabalho analisa, em um primeiro momento, as reformas no campo da formação de
professores a partir da LDB 9.394/96, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional,
destacando a posição da Anfope e do movimento dos educadores em relação a elas. Em
seguida, são retomados os pontos principais da política nacional de formação dos
profissionais da educação, enfatizando as condições da formação inicial a base comum
nacional e a intervenção no processo de discussão das diretrizes curriculares para os
cursos de formação. Por último, é discutida a proposta de escola única de formação, uma
alternativa de reorganização e estruturação dos cursos de formação de profissionais da
educação no interior das faculdades e dos centros de educação e das universidades.
(...)
... o Decreto 2.032 de agosto de 1997, que alterou o sistema federal de Ensino Superior e
a organização acadêmica das IES, regulamenta essa nova instituição e seu lugar no
“concerto” do Ensino Superior brasileiro. O decreto estabelece que as Instituições de
Ensino Superior podem assumir diferentes formatos:
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A criação de novos cursos e instituições – como os Institutos Superiores de Educação –
específicos para a formação de professores é parte da estratégia adotada pelo governo
brasileiro, em cumprimento às exigências dos organismos internacionais, para o que seria
a segunda etapa da reforma educacional: a reforma no campo da formação de
professores.
MÓDULO III
POLÍTICAS DE FORMAÇÃO
No entanto, uma das críticas mais comuns dirigidas aos cursos superiores diz respeito à
didática dos professores universitários, ou seria melhor dizer, à falta dela. Tal fato pode ser
constatado tanto através da literatura específica da área, como através de conversas com
alunos em diferentes tipos de instituição e em diferentes cursos.
Relatos de que o professor sabe a matéria, porém não sabe como transmiti-la ao aluno, de
que não sabe como conduzir a aula, não se importa com o aluno, é distante, por vezes
arrogante, ou que não se preocupa com a docência, priorizando seus trabalhos de
pesquisa, são tão frequentes que parecem fazer parte da “natureza”, ou da “cultura”, de
qualquer instituição de ensino superior.
20
Os programas de pós-graduação, de maneira geral, tendem a priorizar em suas atividades
a condução de pesquisas, tornando-se responsáveis, mesmo que não intencionalmente,
por reproduzir e perpetuar a crença de que para ser professor basta conhecer a fundo
determinado conteúdo ou, no caso específico do ensino superior, ser um bom pesquisador.
Acreditamos que possam existir pelo menos três fatores contribuindo para que, na cultura
universitária, a tarefa de ensinar – e consequentemente a formação pedagógica dos
professores – sejam relegadas a segundo plano.
21
Em segundo lugar, também decorrência dessa ênfase na condução de pesquisas, os
critérios de avaliação de produtividade e qualidade docente concentram-se, hoje, na
produção acadêmica destes professores. Ou seja, ensino e pesquisa passam a ser
atividades concorrentes, e como os critérios de avaliação premiam apenas a segunda, uma
cultura de desprestígio à docência acaba sendo alimentada no meio acadêmico,
comprometendo, como ressalta Pimentel (1993, p. 89), a almejada indissociabilidade
ensino-pesquisa-extensão.
É possível, portanto, concluir que a prática usual nas universidades concorre para esta
desvalorização do ensino, transmitindo em sua cultura valores díspares para as duas
atividades (ensino e pesquisa).
A título de exemplo, é válido mencionar que a legislação brasileira sobre educação, mais
especificamente a LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional) é omissa em
relação à formação pedagógica do professor universitário. Num acompanhamento
detalhado dos diversos momentos de discussão da LDB (cf. SAVIANI, 1998, p. 144), é
possível observar-se que na proposta inicial do então senador Darcy Ribeiro, a
preocupação com a formação pedagógica dos professores universitários era contemplada:
22
“Art. 66 - A preparação para o exercício do magistério superior far-se-á em nível de pós-
graduação, prioritariamente em programas de mestrado e doutorado.”.
Marcelo García (1999, p. 244), fazendo referência a trabalhos realizados por Aparício e
Felman, ressalta que, em diversas investigações, a correlação encontrada entre a
produção científica dos professores e a avaliação que seus alunos fazem deles tem sido
muito baixa (em torno de 0,21), concluindo as relações entre produtividade científica e
eficácia docente são escassas, ou como refere Felman (1987, apud MARCELO GARCÍA,
1999), são essencialmente independentes uma da outra.
(...)
Considerando as diferenças entre as atividades de pesquisar e ensinar, as autoras
concluem que não seja difícil compreender por que ser um reconhecido pesquisador,
produzindo acréscimos significativos aos quadros teóricos existentes, não é garantia de
excelência no desempenho pedagógico e, consequentemente, por que os programas de
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pós-graduação não oferecem, necessariamente, melhoria na qualidade docente: como a
pesquisa e a produção de conhecimentos são objetivos da pós-graduação, os docentes,
quando participam desses programas, sistematizam e desenvolvem habilidades próprias
ao método de pesquisa, deixando de lado o desenvolvimento das características
necessárias para o desenvolvimento do ensino.
24
Tendo em vista as recentes políticas de expansão e flexibilização do sistema de ensino
superior brasileiro, essa situação de diferenciação entre instituições voltadas
predominantemente ao ensino ou à pesquisa, e consequentemente a discrepância entre a
formação oferecida ao pós-graduando e as tarefas a serem exercidas em sua futura
atuação como professor, torna-se mais acentuada.
Esse processo, no entanto, não tem se dado de modo proporcional entre os diferentes
tipos de instituição existentes no país, havendo uma diferenciação cada vez maior entre os
programas que incentivam a pesquisa e programas que priorizam o ensino (GAMBOA,
1999 apud SAVIANI, 1998).
25
A este movimento de expansão desigual entre os diferentes tipos de IES brasileiras alia-se
outro: o processo de flexibilização do sistema (diversificação da oferta), diferenciação que
tende a se aprofundar, refletindo a adequação do sistema em face do crescimento da
demanda e dos novos perfis profissionais exigidos pelo mercado. Aponta-se, hoje, para a
necessidade de criação de cursos mais curtos e/ou voltados a novas especialidades,
sejam elas decorrentes de abordagens interdisciplinares, do avanço da ciência e da
tecnologia, da flexibilização dos campos do saber ou das necessidades criadas pelo
gerenciamento de sistemas de novas tecnologias. Questiona-se, inclusive, qual a formação
que o ensino superior deve oferecer e a quais interesses deve atender.
Hoje, portanto, é necessário ao professor saber lidar com uma diversidade cultural que
antes não existia no ensino superior, decorrente do ingresso de um público cada vez mais
heterogêneo. Um público que pode, por um lado, não estar tão bem preparado, tanto
emocional quanto intelectualmente, para o ingresso no ensino superior; um público talvez
mais jovem, mais imaturo, e, por vezes, pouco motivado e comprometido com sua
aprendizagem, tendo em vista que o ensino superior hoje não é mais garantia de um
emprego estável no futuro, mas um público que pode, por outro lado, ser muito mais
exigente quanto à qualidade do curso oferecido, tendo em vista especialmente o alto grau
de competitividade do mercado de trabalho (MILLAR, 1996, BRIDGES, 1995; SANTOS,
1997; RIBEIRO JÚNIOR, 2002).
26
Além disso, os professores passam a ter necessidade de aprender a lidar com turmas cada
vez mais numerosas, pois a baixa correlação do número de alunos por professor, antes
tomada como índice de qualidade de um curso, hoje passa a identificar a “ineficiência do
sistema”.
É necessário destacar também que o ensino superior, por muito tempo considerado ponto
terminal da educação e voltado à formação profissional, tem agora para si outras funções
e, dependendo do ponto de vista que adotarmos, configura-se apenas como um primeiro
passo rumo a um processo de “lifelong learning” (aprendizado ao longo da vida,
educação permanente), fenômeno que vem ocorrendo não apenas no Brasil.
Tais constatações nos levam a uma preocupação em relação à formação dos professores
para atuar no ensino superior e que culminam nos questionamentos propostos por
Morosini (2000, p. 11): “quem são (serão) esses novos professores? Estarão preparados
didaticamente?”.
Como destaca Morosini (2000, p. 13), embora o sistema nacional de avaliação não
estabeleça normas de capacitação didática do docente, há uma íntima relação entre o
desempenho didático do professor e o desempenho do aluno e, dessa forma, sugere que
tais avaliações, mesmo não incidindo diretamente na qualidade docente, indiretamente,
afetam-na.
A partir dos pontos até aqui abordados, podemos concluir que o professor universitário não
se forma, hoje, para atuar necessariamente em uma universidade, porém, num complexo
sistema de ensino superior, que envolve diferentes instituições e tipos de cursos. Mas,
27
mais que isso, além de preparar-se para agir neste meio, para trabalhar com o novo perfil
de alunos que chegam ao ensino superior, como também com o novo perfil exigido dos
egressos do ensino superior, acreditamos que seja necessário a este professor conhecer
esta realidade e saber entendê-la e analisá-la, ou seja, torna-se necessário que o
professor desenvolva estratégias que permitam a ele refletir sobre sua docência e o
contexto mais amplo no qual ela se acha inserida.
Os autores apontam que as funções que fazem parte do trabalho do professor universitário
são, principalmente, as seguintes: o estudo e a pesquisa; a docência, sua organização e o
aperfeiçoamento de ambas; a comunicação de suas investigações; a inovação e a
comunicação das inovações pedagógicas; a orientação (tutoria) e a avaliação dos alunos;
a participação responsável na seleção de outros professores;
28
Pimenta e Anastasiou (2002, p. 39), por sua vez, lembram que, para além da docência,
espera-se dos professores seu envolvimento na administração e gestão em seus
departamentos, na universidade, tomando decisões sobre currículos, políticas de pesquisa
e financiamento, não apenas no seu âmbito, mas também no âmbito dos sistemas públicos
estaduais, do sistema nacional de educação e das instituições científicas de fomento, de
políticas de pesquisa, de ensino e de avaliação, aspectos que, de maneira geral, não são
contemplados num processo de formação profissional do docente do ensino superior.
(...)
MÓDULO IV
29
Em síntese, conforme Libâneo (1985), o objetivo pedagógico se configura na
relação entre os elementos da prática educativa e :
o sujeito que se educa;
o educador;
o saber;
os contextos em que ocorrem.
À didática cabe:
converter objetivos sociopolíticos e pedagógicos em objetos de ensino;
estabelecer conteúdos e métodos em função dos objetivos de ensino;
estabelecer os vínculos entre ensino e aprendizagem, tendo em vista o
desenvolvimento das capacidades dos alunos.
DIDÁTICA GERAL - estuda princípios, normas e técnicas que devem regular qualquer
tipo de ensino, para qualquer tipo de aluno. Ela nos dá uma visão geral da atividade
docente.
DIDÁTICA E METODOLOGIA
30
A didática, por sua vez, faz um julgamento ou uma crítica do valor dos métodos de ensino.
Podemos dizer que a metodologia nos dá juízos de realidade e a didática, juízos de valor.
Juízos de realidade são juízos descritivos e constativos, por exemplo:
três mais três são seis;
acham-se presentes na sala 45 alunos.
Juízos de valor são juízos que estabelecem valores ou normas, por exemplo:
os idosos merecem respeito;
a democracia é a melhor forma de governo.
Assim, é possível concluir que podemos ser metodológicos sem sermos didáticos, mas
não podemos ser didáticos sem sermos metodológicos, pois não podemos julgar sem
conhecer. Por isso, o estudo da metodologia é importante, para escolher o método mais
adequado de ensino, precisamos conhecer os métodos que existem.
Os princípios, normas e técnicas de ensino são postos em prática por meio das
atividades de planejamento, orientação e controle do processo ensino-aprendizagem.
Planejamento – previsão e programação dos trabalhos escolares para todo o ano
letivo, ou um semestre, ou um módulo de ensino disciplinar.
Orientação – o professor executa o que planejou.
Controle – supervisão constante do processo de aprendizagem.
31
A - Pedagogia liberal
a) Tradicional.
b) Renovada progressista.
c) Renovada não diretiva.
d) Tecnicista.
B - Pedagogia progressista
a) Libertadora.
b) Libertária.
c) Crítico-social dos conteúdos.
A saber:
A - PEDAGOGIA LIBERAL
O termo liberal não tem o sentido de avançado, democrático, como costuma ser
usado.
A doutrina liberal defende a predominância da liberdade e dos interesses individuais
da sociedade e estabelece uma forma de organização social baseada na propriedade
privada dos meios de produção, também denominada sociedade de classes.
A pedagogia liberal sustenta a ideia de que a escola tem por função preparar os
indivíduos para o desempenho de papéis sociais, de acordo com as aptidões individuais,
por isso os indivíduos precisam aprender a se adaptar aos valores e às normas vigentes
na sociedade de classes por meio do desenvolvimento cultural individual.
32
Em suas várias correntes, caracteriza as concepções de educação em que predomina a
ação de agentes na formação do aluno, a prioridade do objeto de conhecimento, a
transmissão do saber constituído na tradição e nas grandes verdades acumuladas pela
humanidade e uma concepção de ensino como impressão de imagens propiciadas ora
pela palavra do professor, ora pela observação sensorial.
33
indivíduos competentes para o mercado de trabalho, transmitindo, eficientemente,
informações precisas, objetivas e rápidas.
B - Pedagogia progressista
O termo progressista, emprestado por Snydres, é usado para designar as tendências que,
partindo de uma análise crítica das realidades sociais, sustentam as finalidades
sociopolíticas da educação, implicitamente. Há de ser um instrumento de luta dos
professores ao lado de outras práticas sociais.
As tendências de cunho progressista interessadas em propostas pedagógicas voltadas
para os interesses da maioria da população foram adquirindo importância a partir dos anos
1980. São também denominadas teorias críticas da educação.
34
Há, portanto, um sentido político, na medida em que se afirma o indivíduo como produto do
social e o desenvolvimento individual somente se realiza no coletivo.
A pedagogia progressista crítico-social dos conteúdos propõe uma síntese superadora das
pedagogias tradicional e renovada, valorizando a ação pedagógica enquanto inserida na
prática social concreta. Entende a escola como mediação entre o indivíduo e o social,
exercendo aí a articulação entre a transmissão dos conteúdos e a assimilação por parte do
aluno concreto, ou seja, inserido num contexto de ralações sociais, resultando dessa
articulação o saber crítico. Assim, a difusão dos conteúdos é a tarefa primordial, mas
conteúdos vivos, concretos e indissociáveis das realidades sociais. Há nela a valorização
da escola como instrumento de apropriação do saber, já que ela pode contribuir para
eliminar a seletividade social e torna-la democrática.
Nesse sentido, a educação é entendida como uma atividade mediadora no seio da prática
social global. Dentro dessas linhas, podemos citar: Makarenko, B. Charlot, Manacorda, G.
Snydres, Dermeval Saviani. Atribuem grande importância à didática, cujo objetivo de
estudo é o processo de ensino nas suas relações e ligações coma a aprendizagem. Toma
o partido dos interesses majoritários da sociedade, atribuindo à instrução e ao ensino o
papel de proporcionar aos alunos o domínio dos conteúdos científicos, os métodos de
estudo e habilidades e hábitos de raciocínio científico, de modo a formarem a consciência
crítica face às realidades sociais e capacitando-se a assumir no conjunto das lutas sociais
a sua condição de agentes de transformação da sociedade e de si próprio.
35
Concluindo
É preciso compreender essa imbricação de sujeitos com instituições, de ação com prática,
que se pretende alterar as instituições de ensino superior com a contribuição das teorias.
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A DIDÁTICA E A TECNOLOGIA
Sabemos que o conhecimento não é algo estanque, mas ele nunca foi atualizado,
revisitado ou revisado com tanta rapidez. Portanto, a questão que formulamos é como
essa velocidade de informações tem entrado nas escolas e universidades?
Com certeza a sociedade caminha para um novo tempo. Hoje temos os analfabetos e os
analfabetos digitais, uma vez que a fluência digital é uma exigência cada vez maior, nas
empresas, nos bancos e na sociedade de modo geral.
A Didática em seu propósito de revisitar melhores formas de ensinar deve rever o papel
destas tecnologias no cenário educacional. Vamos nos limitar ao espaço das Faculdades e
Universidades, para focar a discussão.
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A ideia não é fazer um uso técnico das ferramentas multimídias, mas trazer instrumentos
que tragam novas possibilidades para uma relação pedagógica dialógica e reflexiva.
A utilização de filmes e curtas podem ilustrar a aula, sensibilizar para uma boa discussão.
Como toda ação educativa, esta também dever ser planejada, o professor deve assistir ao
filme, saber quais serão os pontos que serão abordados na discussão. Na Universidade a
maioria dos alunos vem estudar após um dia de trabalho; por mais que eles queiram
assistir a um filme longo pode cansá-los, a solução poderia ser passar em capítulos e a
cada passagem distribuir pontos de observação para os alunos e construir um registro
reflexivo do filme que culminará em uma discussão coletiva, ou escolher o trecho do filme
que mais se adequa a proposta.
A instituição escolar tem o compromisso de refletir sobre esses impactos trazendo para as
escolas novas dinâmicas, novos recursos em pró de uma metodologia que não se faz
inovadora somente porque usa tecnologia, mas porque dá outro tipo de acesso aos alunos,
o acesso ao pensar, ao questionar, ao criticar e o de vislumbrar novas possibilidades para
a sociedade, que humaniza e minimiza gradativamente as injustiças. É preciso usar a
tecnologia para o benefício da Didática, eis nosso desafio.
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Bibliografia
FREITAS, Helena Costa Lopes de. A reforma do Ensino Superior no campo da formação
dos profissionais da educação: as políticas educacionais e o movimento dos educadores.
Educação & Sociedade, Brasília, v.20, n.68, p.17-44, dez. 1999.
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SAVIANI, Dermeval. A nova lei da educação: trajetória, limites e perspectivas. 4.ed.
Campinas, SP: Autores Associados, 1998.
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