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Morfologia

Léxico - Classes

Um grupo que se comportam igualmente

Palavras lexicais plenas -------- morfemas gramaticais

Nomes, verbos, Pronomes, afixos, preposições

Advérbios... menores

Maiores

Morfema é uma forma mínima que expressa significado

Exemplo: dogs

Dog- sing

s- plural

Tipos:

Preso- precisa estar unido a outro para ser usado (afixos, raízes...) - “s”

Livre- não precisa se unir- dog

Prefixo- início

Sufixo- final

Infixo- dentro da raiz

Raiz diferente do radical

A raiz é o significado básico e não pode ser subdivida. Outro morfema pode ser necessário,
já o radical pode ser analisado

Mattoso Cap. 8

As unidades formais de uma língua: 1) formas livres- uma sequência que pode funcionar
isoladamente. Ex: Proscrever

2) formas presas- simbionte

Pro- proscrever
Vocábulo formal- é a unidade a que se chega, quando não é possível nova divisão em duas
ou mais formas livres. Uma forma livre indivisível (ex: luz), de duas ou mais formas
presas (im+pre+vis+ível) ou de uma forma livre e uma ou mais formas presas

Ex: in+feliz

A forma dependente- falta de coincidência absoluta entre vocábulo fonológico e vocábulo


formal. A parte de um voc. Fon. Que se acha ligado pelo acento- sílabas átonas- pouco
intensidade

Vocábulo composto por justaposição

2 Voc. Fon. --- 1 Voc. F.

Guarda-chuva

Locução- plano mórfico

Uso como unidade formal superior de 2 voc. Morf.

1 forma livre + forma dependente (fala-se ou se fala)

O que se opõe – vocábulo formal unitário

Uma ou mais formas presas.

Técnica da comutação --- Substituição de uma invariante por outra

Morfema Gramatical zero (0)

Singular

Lobo\lobos

Verbos- 3 classes mórficas

Conjugações

Moderna de tempo verbal

Pessoa gramatical – sujeito

Neutralização morfológica – paradigma

Koch- cap. 2

Vocábulo formal – não é possível uma nova divisão em 2 ou mais formas livres ou
dependentes.

As unidades formais – livres, presas, dependentes

Análise mórfica

- Comutação – morf. Lexical

Cant + ar

Fal
Alomorfia- a possibilidade de variação de cada forma mínima

Ordem

Ordinário

Mesma significação

VT Modo\t

Jog a ríamos

Beb e vamos

Mudança Morfofonêmica

Aglutinação de fonemas, nas partes finais e inicias, acarretando mudanças fonéticas

/in/ a /i-/

Incapaz/ imutável

Neutralização

Perda da oposição entre unidades significativas diferentes

Cantava- cantava

2 e 3 conj.

Tipos de morfemas

Classificatórios-

 Teoria Lexical - Basílio

Dois processos gerais da formação de palavras:

- Derivação: junção de um Afixo(prefixo ou sufixo) a uma base, como por exemplo em


retratista(retrato + ista); reler...

A base de uma forma derivada é uma forma livre, ou seja, uma palavra comum que tem
significado por si só.

Mas também tem casos de bases presas como em psicológ-ico.


- composição: junção de uma base a outra. Dizendo que uma palavra é composta sempre
que apresenta duas bases: guarda-chuva ; agricultura...

A diferença entre os dois processos: uma obedece às necessidades de expressão de


categorias nocionais, mas de caráter fixo e de teor geral. Já o outro, obedece a
necessidade de expressão de combinações particulares.

- Os afixos apresentam funções sintático-semânticas definidas: essas funções delimitam os


possíveis usos e significados das palavras a serem formadas pelos diferentes processos de
derivação, correspondentes aos vários sufixos.

Naturalmente, encontramos afixos de diferentes graus de generalidade. e seu teor de


produtividade está provavelmente ligado a esse grau de generalidade. Temos num
extremo, por exemplo, o caso da nominalização de verbos, isto é, do conjunto de
processos derivacionais responsáveis pela transformação de verbos em substantivos. No
extremo oposto, teríamos exemplos como o do sufixo -ada como em feijoada, camaroada,
etc. O teor de produtividade é bastante restrito, como se pode esperar pela
particularidade da função do sufixo, a de indicar um prato ou preparado feito na base do
alimento nomeado na base. A diferença de generalidade entre os dois casos é nítida; e a
diferença no teor de produtividade não é acidental. À primeira vista, no entanto,
poderíamos supor que a diferença se deve à questão da mudança ou não de classe de
palavras, já que no primeiro caso temos a formação de substantivos a partir de verbos,
enquanto no segundo temos a formação de substantivos a partir de substantivos. A
suposição não corresponde à realidade, o que pode ser observado claramente pelo fato de
termos sufixos de alto índice de produtividade formando palavras a partir de palavras da
mesma classe. Alguns exemplos: o prefixo (p. 29) negativo des-: o sufixo -ista: os vários
sufixos de expressão de grau; e assim por diante. Do mesmo modo, temos sufixos como -
udo. que, embora apresentando função de mudança de classe, pois forma adjetivos a
partir de substantivos, tem produtividade restrita. Isto é, o fator relevante na
produtividade desses sufixos não é, a função de mudança de classe, mas a generalidade
das noções envolvidas na função do processo de formação. Assim, por exemplo, noções
como a negação, o grau, a designação de indivíduos ou entidades abstratas são noções
bastante comuns e de grande generalidade; consequentemente, esperamos que processos
que incluam tais noções em sua função sejam altamente produtivos. Já processos
apresentando funções mais particulares teriam menor produtividade. Em suma, temos na
derivação funções sintático-semânticas de caráter mais geral e comum; e a produtividade
dos processos derivacionais é diretamente relacionada com o teor de generalidade de sua
função. O processo de composição, ao contrário, envolve a junção de uma base a outra
base; não há elementos fixos, não há funções predeterminadas no nível dos elementos. O
que caracteriza e define a função do processo de composição é sua estrutura, de tal
maneira que, das bases que se juntam para formar uma palavra, cada uma tem seu papel
definido pela estrutura. Por exemplo, em compostos do tipo substantivo + substantivo, o
primeiro substantivo funciona como núcleo (p. 30) da construção e o segundo como
modificador ou especificador: sofá-cama, peixe-espada, couve-flor; em composições de
substantivo + adjetivo, o núcleo é o substantivo e o modificador e o adjetivo,
independente da ordem de ocorrência: obra-prima, livre-arbítrio, caixa-alta, belas-artes.
Ainda, em composições verbo + substantivo, o substantivo tem função análoga à de objeto
direto do verbo: guardaroupa, mata-mosquito, porta-bandeira. Como vemos, a
composição é um processo de formação de palavras que utiliza estruturas sintáticas para
fins lexicais. Ou seja, mecanismos ou estruturas que são normalmente utilizados na
formação de enunciados passam a ser utilizados na função de denominar e/ou caracterizar
seres, que é uma função fundamental do léxico. A própria estruturação geral do processo
de composição se relaciona com a natureza de sua função, que é, inteiramente diferente
do da derivação: que temos a expressão de noções comuns e gerais. Com a utilização de
estruturas sintáticas para fins lexicais, os processos de composição permitem a nomeação
ou caracterização de seres pela junção de dois elementos semânticos, de existência
independente no léxico, em apenas um elemento lexical.

A nomeação de seres pode ser descritiva ou metafórica

- Na nomeação descritiva, um ser, entidade, substância. etc. é denominado a partir de suas


características objetivas mais relevantes. No caso da composição temos uma primeira
classificação geral, correspondente ao núcleo da composição, e um elemento
particularizante correspondente ao especificador. Frequentes exemplos de nomeação
descritiva são encontrados nas formações substantivo + substantivo: sofá-cama, papel-
alumínio, peixe-espada, navio-escola, carta-bilhete. Mas outras estruturas também são
possíveis: guarda-vestido, livre-arbítrio, água-de-cheiro, etc. Em alguns casos, o significado
é transparente, como em navio-escola. Comparem, por exemplo, o caso de sofá-cama com
o caso de guarda-vestido. No primeiro caso, a justaposição específica, por inferência, que
se trata de um sofá que funciona como cama. No caso de guardavestido, entretanto, não
há nada na composição que indique que se trata de uma peça de mobiliário.
Teoricamente, o termo poderia ter sido usado para designar malas, por exemplo.

- Nomeação metafórica: quando a descrição do objeto, ao invés de caracterizá-lo por


critérios objetivos, estabelece para este uma descrição em termos de propriedades
transferidas em termos associativos. Considerem, por exemplo, o caso de olho-de-sogra. O
docinho referido certamente tem algo das características de um olho, mas certamente a
associação com olho é desagradável, daí o uso do termo sogra, que é um personagem tido
como desagradável em nossa cultura. Um outro exemplo seria o de louva-a-deus, em que
a postura do inseto lembra a postura de alguém em oração. Já em peixe-espada temos um
caso misto: trata-se de um peixe descrito metaforicamente. Nas denominações
metafóricas por composição, podemos reconhecer a metáfora, uma vez conhecido o
significado. Mas não podemos inferir o significado através da simples observação das
formas. Essa é uma diferença fundamental entre compostos descritivos e compostos
metafóricos. Por exemplo, no caso de couve-flor, podemos inferir que o objeto da
denominação é um tipo de couve que se caracteriza por ter alguma coisa de flor. Mas é
impossível inferir um inseto a partir de louva-a-deus ou um docinho a partir de olho-de-
sogra. Resumindo, o distanciamento entre o significado do todo e o significado das partes
é normal nas formas compostas pela própria função da nomeação.

A combinação de elementos na formação de uma palavra composta é imprevisível, na


medida em que depende das necessidades específicas de cada caso, além da alternativa
metafórica.

(1) a. guarda-chuva, guarda-roupa, guarda-vestidos b. guarda-livros, guarda-costas (2) a.


porta-aviões, porta-copos, porta-luvas b. porta-estandarte, porta-bandeira (3) pára-
lama, pára-quedas, pára-raios (4) mata-mosquitos, saca-rolhas, salva-vidas, pega-
ladrão, mata-borrão. Podemos ver nestes dados dois tipos de regularidade. O primeiro
tipo poderia ser descrito pela afirmação de que a estrutura verbo + substantivo é
usada para a formação de agentes ou instrumentais. Esta regularidade se refere a
todos os exemplos e explica a facilidade de interpretação de formas como guarda-
vestidos, citada na seção precedente. A segunda regularidade, embutida na primeira,
mas mais restritiva, não inclui os dados de (4): temos estruturas parcialmente fixas, em
que a posição do verbo é preenchida por verbos específicos, como guarda-, porta- e
pára-. Esta última possibilidade tem alguns pontos em comum com o processo de
derivação, já que conserva uma das formas como forma fixa. Aliás, alguns afixos se
originam de cristalizações de formas de composição tais como o sufixo -mente. Um
outro caso de função constante é o da estrutura verbo + verbo, em que temos a
repetição do mesmo verbo. O processo é usado para a caracterização de tipos de
evento: corre-corre, mexe-mexe, quebra-quebra. Como vimos, a composição de
palavras é um tipo de formação bastante interessante, pois utiliza a estruturação
sintática para fins de criação lexical; constitui num processo de função semântica, mas
sem elementos semânticos em sua estrutura; e tem por objetivo fundamental a
denominação, onde se revela nitidamente a importância da função metafórica na
engrenagem da criação lexical.
As formações mais frequentes são limitadas, no entanto, a alguns poucos radicais
geralmente listados nas gramáticas normativas. Algumas dessas bases se tornaram tão
comuns que estão em vias de se transformar em verdadeiros sufixos. Um exemplo
seria a base log-, que figura em palavras como psicologia, ornitologia, patologia,
futurologia, gramatologia etc. Nesse tipo de composição, que envolve pelo menos uma
base presa, o segundo termo é o núcleo e o primeiro é o especificador, ao contrário do
que encontramos na composição de bases livres, em que o primeiro termo é o núcleo
e o segundo é o especificador.

- Derivação regressiva: apresenta uma série de pontos interessantes para a teoria


lexical. O que caracteriza basicamente a derivação regressiva é o fato de que uma nova
palavra é formada pela supressão de um elemento, ao invés de por acréscimo. Ou seja,
a palavra derivante (a palavra da qual outra deriva) tem uma parte retirada, formando-
se assim uma nova palavra.
Nos casos de derivação regressiva propriamente dita, a supressão é sempre de uma
sequência fônica tomada como afixo: e a palavra resultante não tem o mesmo
significado ou uso da palavra derivante. Assim, por exemplo, no caso de sarampão.
interpretou-se -ao como sufixo aumentativo e então foi formado sarampo, pela
supressão da sequência -ao, interpretada como sufixo. Assim, estabeleceu-se uma
oposição de significado entre sarampão e sarampo: sarampão é um ataque forte de
sarampo. É importante notar que nos casos de derivação regressiva o que é suprimido
não é um afixo, mas uma parte da palavra que é analisada como sendo um afixo. Essa
diferença é fundamental, pois, se tivéssemos a supressão de um afixo, teríamos
simplesmente a operação reversa num caso de derivação normal.

- Derivações regressivas deverbais: em que os produtos da derivação são


substantivações das formas verbais correspondentes, tais como as que se observam
nos pares abaixo:
(1) jogar/jogo; amparar/amparo; aguardar/aguardo; bambolear/bamboleio;
ensinar/ensino; começar//começo; iniciar/início (2) lutar/luta; demorar/demora;
esperar/espera; brigar/briga; buscar/busca; entregar/entrega; desovar/desova (3)
atacar/ataque; enfocar/enfoque; descartar/descarte; encaixar/encaixe;
desmamar/desmame; tocar/toque; revidar/revide;
Formações desse tipo constituem, sem dúvida, o grupo mais importante das
derivações regressivas em português, não apenas porque esse é o caso mais frequente
de formações regressivas, mas também porque é um dos processos mais comuns na
formação de substantivos a partir de verbos em português
Existem sobretudo dois problemas, a questão morfológica e a questão semântica.

A questão morfológica que se coloca nas formações deverbais é a de até que ponto
deveríamos considerar tais formações como derivações regressivas. Observem, por
exemplo, os pares apertar/aperto, ameaçar/ameaça e cortar/corte. Nesses pares,
vemos que a vogal pela qual termina o nome pode ser -a, -e ou -o. A ideia da derivação
regressiva nesses casos poderia se prender ao tema verbal, que incluiria a vogal:
teríamos a supressão da marca de infinitivo, ficando o tema verbal. Mas isso não dá
certo com o caso das formas terminadas em -o, que, aliás, constituem a maioria.
Assim, esse tipo de explicação não é viável. Um outro problema é que a supressão da
marca de infinitivo não deveria ser considerada como derivação regressiva: em todos
estes verbos (aguardar, demorar, atrasar, amparar etc.) temos uma sequência
indivisível, em que uma das partes é tomada como afixo. Ora, nesses casos trata-se de
afixo mesmo, e afixo flexional; na realidade. estamos lidando com dois níveis de
análise: o flexional. onde se situa o processo de formação do infinitivo; e o
derivacional, cuja base é o tema verbal. Se considerarmos como base o tema verbal,
nas alegadas derivações regressivas teremos apenas o acréscimo de sufixos como -e. -
o ou -a para a formação de substantivos a partir de verbos.

A questão semântica nem sempre é possível dizer se o nome deriva do verbo ou o


verbo do nome; teríamos derivação regressiva apenas no caso de substantivos
derivando de verbos — caso contrário, teríamos apenas o acréscimo de afixos verbais.
As gramáticas normativas apontam para uma distinção nítida, observando que,
quando o significado é de "ação". como em luta. a formação é deverbal e, portanto,
temos um caso de derivação regressiva: mas quando o significado é um objeto
concreto ou substância, o substantivo então é básico e não há derivação regressiva.
Este seria o caso, por exemplo, de água e perfume em relação a aguar e perfumar. O
problema é que essa distinção não cobre a grande maioria de pares desse tipo em que
a forma de substantivo nem é uma ação nem é um objeto concreto, facilmente
reconhecível como tal, ou uma substância. Por exemplo, considerem os casos de
atraso e demora. Embora bastante afastadas de uma significação do tipo "objeto
concreto" ou "substância", essas formas definitivamente não correspondem a ações.
Já que apresentam um sentido mais vizinho ao do verbo, tenderíamos a classificá-las
como derivações regressivas ou, pelo menos, formações deverbais. No entanto, nada
impede que consideremos tais formas como substantivos básicos indicando situações
de relação temporal entre eventos e expectativas; nada há na semântica dessas
formas que nos indique claramente sua origem como verbal. E esses são casos
extremos. Outros casos são grito, tosse, engasgo etc. que podem ser interpretados
como "resultado do ato de X", onde X é o verbo, caso em que seriam considerados
como formações regressivas; ou podem ser considerados como palavras primitivas de
onde os verbos correspondentes se teriam originado.
A primeira é que a formação de substantivos a partir de verbos é infinitamente mais
produtiva do que a formação de verbos a partir de substantivos. A segunda é que uma
relação sintático-semântica se estabelece entre verbo e forma nominalizada, a qual
muitas vezes é independente da origem da forma substantiva ou da forma verbal. É
essa relação que vai importar na determinação de uma formação como deverbal ou
não, independentemente de sua origem concreta. Podemos dizer que uma formação
deve ser considerada como deverbal quando puder ser usada com sentido verbal.
Assim, por exemplo, como A demora de Maria está aborrecendo Pedro pode ser
interpretada como Pedro está ficando aborrecido porque Maria está demorando,
demora deve ser considerada como uma formação deverbal. Já em O enfeite de Maria
não durou muito não podemos ter a interpretação Maria não demorou muito se
enfeitando ou Maria não demorou muito sendo enfeitada; consequentemente, enfeite
deve ser considerado como um substantivo básico.

- Derivação parassintética: o processo de formação de palavras que consiste na adição


simultânea de prefixo e sufixo a uma base para a formação de uma palavra. Por
exemplo, palavras como enriquecer, desalmado, despetalar e engavetar são de
formação parassintética. No primeiro caso, temos o acréscimo simultâneo do prefixo
en- e do sufixo -ec (e(r)) — ou simplificadamente -ecer — ao adjetivo rico. O que
caracteriza a derivação parassintética não é a presença ou ocorrência simultânea de
prefixo e sufixo junto à base, mas a estrutura de formação, que exige utilização
simultânea de prefixo e sufixo no processo de formação. Assim, nem todas as palavras
que apresentam prefixo e sufixo em sua formação devem ser consideradas como de
formação parassintética. Por exemplo, palavras como insensatez e reconsideração não
são de derivação parassintética, mas formadas em dois diferentes níveis de derivação,
um com sufixo e outro com prefixo. Em insensatez, temos em um nível de estrutura o
acréscimo do sufixo -ez ao adjetivo insensato; este, por sua vez, é formado pelo
acréscimo do prefixo negativo in- ao adjetivo sensato. Em reconsideração temos o
acréscimo de -ção ao verbo reconsiderar, o qual já é formado pelo acréscimo do
prefixo ré- ao verbo considerar.
Como saber se uma determinada construção envolvendo prefixo e sufixo é um caso de
derivação parassintética ou não? Tradicionalmente, o reconhecimento se faz pela
possibilidade ou não de se extrair um dos afixos da construção e ter como resultado
uma palavra da língua. Havendo a possibilidade, a construção não seria considerada
parassintética. Mais especificamente, dada uma palavra que apresente prefixo e sufixo
em sua construção, dizemos que esta palavra é um caso de derivação parassintética
se, ao suprimirmos qualquer dos afixos, obtivermos uma forma não existente na
língua. A base do procedimento é clara: se ao suprimirmos qualquer dos afixos o
resultado é uma forma não existente isso indica que a construção não pode ter sido
feita pelo simples acréscimo de um afixo a uma base já afixada: afinal, ninguém forma
palavra adicionando um afixo a uma forma que não existe. Por exemplo, dizemos que
desalmado é uma formação parassintética porque não temos em português *desalma
ou *almado. Ora, se não temos *desalma, é claro que não podemos dizer que
desalmado é formado pelo acréscimo do sufixo -ado à base *desalma. Do mesmo
modo, se não temos *almado, não podemos dizer que desalmado é formado pelo
acréscimo do prefixo dês- a *almado. Mas podemos dizer que desalmado é formado
pelo acréscimo simultâneo do prefixo dês- e do sufixo -ado ao substantivo alma, ou
seja, desalmado é um caso de derivação parassintética. A derivação parassintética é
um processo complexo de formação, não só morfologicamente, mas também
semanticamente. já que acopla a função semântica do prefixo com a função sintática
e/ou semântica do sufixo. Essa complexidade é bastante nítida em casos como
desalmado, onde a função de –ado, que caracteriza um ser como possuidor virtual do
que é expresso na base, é contrariada pela função semântica do prefixo des-,
resultando da combinação o sentido "sem alma" para o adjetivo.
O adjetivo desdentado significa "sem dente"; é, portanto, semanticamente paralelo a
desalmado. Há uma diferença entre os dois casos, no entanto: existe o verbo
desdentar em português. Assim, normalmente não se considera desdentado como
derivação parassintética, mas como sendo o particípio passado do verbo desdentar.
Essa análise, porém, não é adequada, visto que o sentido de desdentado é, sobretudo,
"sem dente" ou "falho de dentes", e não "paciente do ato de desdentar".

 Kehdi

Dois processos de formação lexical: a derivação e a composição.


Verifica-se, contudo, que certos prefixos em nossa língua têm uso autônomo, como se
fossem preposições; é o caso de contra- e entre-
Isso levou muitos gramáticos do passado e algumas correntes da Linguística moderna,
como a gramática gerativa, a classificar a prefixação como um caso de composição.
Entretanto, essa autonomia não é característica de todos os prefixos: alguns, como
des- e re-, só figuram como formas presas (atreladas a um radical): desigual, rever.
Entre os sufixos, alguns também tiveram uso autônomo: a forma latina mente,
“espírito”, aparecia combinada com adjetivos adequados à sua significação,
constituindo um exemplo de processo de composição: boamente. A partir do
momento em que mente pôde juntar-se a outros adjetivos, como em rapidamente,
recentemente, adquiriu o caráter de sufixo, portanto, de forma presa.
Os fatos acima apontados não impedem que se considere a sufixação como um tipo de
derivação. Esses aspectos levam a integrar também a prefixação no quadro da
derivação.
Os prefixos, ao contrário dos sufixos, só se agregam a verbos e a adjetivos, que são
uma espécie de vocábulo associado ao verbo. Lembremos que o particípio passado se
flexiona em gênero e número, à semelhança do adjetivo:
construído / construída / construídos / construídas
Certos verbos equivalem a um verbo de ligação seguido de um adjetivo em função de
predicativo:
envelhecer = ficar velho
hesitar = estar hesitante
Em alguns verbos formados por prefixação, o complemento verbal aparece regido de
preposição igual ao prefixo: conviver com... depender de... encarcerar em...
Os prefixos não contribuem para a mudança da classe gramatical do radical a que se
ligam: rever é verbo, como ver, desigual é adjetivo, como igual. Os sufixos, pelo
contrário, podem contribuir para a mudança da classe gramatical do radical: civilizar é
verbo, ao passo que civil é adjetivo.
A análise em C.I..: Tomemos como exemplo a frase (F): “O garoto chutou a bola.”
Assim, o garoto constitui um bloco perfeitamente substituível por um elemento
unitário, que não se decompõe: José. Acrescente-se que José chutou a bola é uma
frase absolutamente aceitável em português. Como a palavra central de o garoto é o
substantivo garoto, vamos dar a esse bloco a designação de sintagma nominal (SN).
Por sua vez, chutou a bola pode ser substituído por saiu, elemento igualmente
unitário. A frase O garoto saiu também é aceitável em nossa língua. Como o bloco
chutou a bola tem como elemento central o verbo chutou, designaremos esse
conjunto como sintagma verbal (SV). Podemos esquematizar essas conclusões através
da formula: F = SN + SV O SN, constituído de dois elementos, não oferece dificuldade
de segmentação: o | garoto O SV, por sua vez, constitui-se de três elementos: chutou a
bola. Como é possível substituir a bola pelo pronome pessoal oblíquo a ou pelo
pronome demonstrativo isso (chutou-a / chutou isso) e, nessas construções de dois
elementos, o corte dá-se automaticamente após o primeiro, temos que chutou a bola
é segmentado da seguinte forma: chutou | a bola A bola segmenta-se facilmente em: a
| bola.
A análise em C.I. mostra que a frase não é uma simples sucessão de vocábulos, mas
uma superposição de camadas binárias. (Todos os cortes realizados segmentaram os
blocos em dois elementos.) Essa análise prossegue ao nível do vocábulo, mostrando
que este não é uma seqüência de morfemas, mas uma superposição de blocos
binários. Vamos utilizar, a título de ilustração, o substantivo formalização. A
segmentação morfemática revela os morfemas constitutivos desse vocábulo —
{form(a)} + {al} + {iz} + {a} + {ção}¹ — e levar-nos-ia a crer que o referido vocábulo é
uma mera seqüência de morfemas. Contudo, como o sufixo -ção exprime ação ou
resultado da ação, só pode agregar-se a uma forma verbal; na verdade, o sufixo foi
anexado ao verbo formalizar (após a eliminação do -r do infinitivo). Por sua vez, os
verbos em -izar são normalmente formados a partir de bases adjetivas: formal + izar
(cp. civilizar, realizar etc.). Finalmente, o adjetivo formal constitui-se do substantivo
forma + o sufixo -al. Percebemos, assim, que o vocábulo em questão se constitui pela
superposição de camadas representadas, cada uma, por um elemento nuclear (radical)
e um elemento periférico (afixo/desinência). Os dois elementos de cada camada são os
seus C.I. Dessa forma, o vocábulo não é interpretado como uma sucessão de
morfemas e, sim, como uma superposição de blocos de C.I.
Princípio 1: “As divisões deveriam amoldar-se às relações significativas” O princípio
acima pode ser discutido, levando-se em conta, por exemplo, o adjetivo desgostoso e
o advérbio desrespeitosamente. No caso de desgostoso, o sentido é,
indiscutivelmente, “cheio de desgosto”, o que remete à segmentação desgosto + oso;
trata-se, portanto, de um derivado sufixal. Quanto a desrespeitosamente o sentido é
“de modo desrespeitoso”, e a segmentação correspondente é desrespeitosa + mente
(também um derivado sufixal).
Quando a comparação com outras formas é um elemento de confirmação tanto para
um sentido como para outro, tais palavras podem oferecer dupla possibilidade de
segmentação.
Principio 2: “As divisões são feitas na base da substituição de unidades maiores por
unidades menores pertencentes à mesma classe de distribuição externa ou a uma
classe diferente (de distribuição externa)” ² Foi esse o princípio utilizado na divisão
inicial de formalização. A comparação com cassação e constituição revelou o caráter
de bloco de formaliza-. Devemos estar atentos, aqui, à substituição por membros da
mesma classe gramatical do vocábulo inicialmente proposto.
Princípio 3: “As divisões deveriam ser tão poucas quanto possível” Por este princípio o
autor defende as partições binárias (o binarismo) ³. Um vocábulo deve ser inicialmente
dividido em dois C.I.; cada um dos C.I. será dividido em mais dois outros e assim
sucessivamente. Cada camada será, dessa forma, constituída de dois C.I. um nuclear e
outro periférico. Só excepcionalmente poderão ser aceitas divisões ternárias. Em
português, os verbos parassintéticos (de que falaremos no capítulo 3) são formados de
três C.I. simultâneos: aclarar = a + clar(o) + ar.
Esse traço distingue-os dos vocábulos cujos prefixos e sufixos não estão em relação de
simultaneidade, como em: injustiça = injust(o) + iça ou in + justiça.
Princípio 4: “As divisões deveriam ser corroboradas pela estrutura total da língua”
Tomemos, como exemplo, o adjetivo desrespeitoso. Pelo princípio 1, poderíamos
segmentá-lo em des + respeitoso (= não respeitoso), caso de derivação prefixal. A
possibilidade de interpretá-lo como “que tem desrespeito” conduz à segmentação
desrespeito + oso, derivação sufixal. Aparentemente, há aspectos formais que
confirmam as duas divisões: o prefixo des- prende-se, normalmente, a adjetivos
(respeitoso), e o sufixo - oso agrega-se a substantivos (desrespeito).
des + respeitoso. Num segundo momento, teríamos: respeito + oso. Um exame atento
de cada uma das duas camadas revela-nos que o prefixo des- aparece ligado a um
adjetivo, o que é normal em português; o sufixo -oso, por sua vez, segue-se ao
substantivo respeito, o que também é frequente em nossa língua.
Com relação à segunda possibilidade: desrespeito + oso o segundo momento nos
conduz a: des + respeito. Ocorre que, aqui, o prefixo des- está ligado a um substantivo,
o que é excepcional em português (raros são os exemplos como descaso, desfavor).
Como assinalamos no capítulo 1, os prefixos normalmente acompanham verbos e
adjetivos. Assim sendo, a primeira solução está mais de acordo com a estrutura total
de nossa língua. Nesse caso, é preferível considerar desrespeitoso como um derivado
prefixal (des + respeitoso).
Princípio 5: “No mais, não havendo diferença, uma divisão em C.I. contínuos tem
precedência sobre uma divisão em C.I. descontínuos”. Embora sejam mais frequentes
os exemplos de C.I. contínuos, não são raros, em português, os casos de C.I.
descontínuos, isto é, não contíguos. Nos verbos parassintéticos, o prefixo e o sufixo
estão em relação de solidariedade formal e semântica, e constituem, portanto, um
exemplo de C.I. descontínuos, separados pelo radical; não só não podemos excluir o
prefixo ou o sufixo, como, via de regra, o sentido do prefixo é dinâmico, reforçando,
dessa forma, o sentido do sufixo: em apedrejar (a + pedr(a) + ejar), o prefixo exprime a
ideia de movimento, direção, em reforço da noção frequentativa do sufixo.

 Mattoso

Um problema delicado da descrição LINGUÍSTICA, ligado à função distintiva dos


fonemas, é o da «homonímia», que todas as línguas apresentam. Trata-se de formas
distintas, do ponto de vista significativo, mas constituídas do mesmo segmento fônico.
Assim, temos em português pata (fêmea do pato) e pata (membro de locomoção de
um quadrúpede), canto (substantivo) e canto (1’1- pessoa do indicativo presente do
verbo cantar). Nos exemplos portugueses, que estamos trazendo à baila, cabo, com
seus 3 sentidos, é uma forma polissêmica, pois a sua distribuição, como substantivo, é
a mesma na sentença (como sujeito, como objeto e assim por diante). Já canto,
substantivo, e canto, forma verbal, são homônimos, uma vez que nos padrões das sen-
I tenças se distribuem de maneira diversa (um canto alegre I canto alegremente etc.).
Aí a distribuição diferente é sintática.
A divisão mínima na segunda articulação da língua é a dos sons vocais elementares,
que podem ser vogais ou consoantes. A divisão resulta de um processo psíquico da
parte de quem fala e quem ouve. Na realidade física a emissão vocal é um contínuo,
como assinalam quer os aparelhos acústicos, quer os aparelhos de registro
articulatório. Já se trata, pois, de uma primeira abstração intuitiva do espírito humano
em face da realidade física. Esse conceito parte do princípio doutrinário de que no som
vocal elementar o que realmente interessa na comunicação LINGUÍSTICA é um
pequeno número de propriedades articulatórias e acústicas, ou traços (ing. features) e
não todo o conjunto da emissão fônica. Esses traços, ditos distintivos, são os que
servem para distinguir numa língua dada uns sons vocais elementares dos outros. Com
isso, cada fonema, ou seja, cada conjunto de certos traços distintivos, opõe entre si as
formas da língua, que o possuem, em face de outras formas, que não o possuem, ou
possuem em seu lugar outro fonema; por exemplo, em português: ala, vala, vela, vê-la,
vila; saco, soco, soco, suco; pelas, belas, melas, telas, delas, nelas, selas, zelas, Chelas
(nome de um convento em Portugal), gelas, velas, velhas; vala, fala; amo, ano, anho
(sinônimo de «carneiro»), e assim por diante. Daí, a definição do fonema, dada por
Jakobson: «as propriedades fônicas concorrentes» (isto é, simultâneas para o ouvido
humano) «que se usam numa dada língua para distinguir vocábulos de significação
diferente» (Jakobson 1962, 231). De qualquer maneira, costuma-se distinguir da letra
o fonema, pondo este entre barras na transcrição dita «fonêmica» (assim, em
português /s/ representa o mesmo fonema tanto em aço, como em asso, ou em sala,
ou em próximo, que passam a ser transcritos foneticamente como - /asu/, /sala/,
/prosimu/. Quando não há a preocupação de indicar o fonema, mas o som vocal
elementar, total, em transcrição «fonética», põe-se a representação gráfica entre
colchetes ([. . .] ) . Assim, [sau], rimando com pau /pau/, ao lado da pronúncia «mais
correta»
Há, aliás, dois tipos muito diferentes de alofones. Um deles depende do ambiente
fonético em que o som vocal se encontra. Dá-se uma assimilação aos traços dos outros
sons contíguos ou um afrouxamento ou mesmo mudança de articulações em virtude
da posição fraca em que o fonema se acha (por exemplo, nas vogais portuguesas, a
posição átona, especialmente em sílaba final). Esses alofones, ou variantes do fonema,
são ditos posicionais. Já outro tipo é o da variação livre, quando os falantes da língua
divergem na articulação do mesmo fonema ou um mesmo falante muda a articulação
conforme o registro em que fala. São os alofones ou variantes livres, como sucede em
português com o /r/ forte, pronunciado, como vimos, pela maioria dos falantes como
um som velar, ou uvular, ou mesmo com uma mera vibração faríngea, e por outros,
em minoria, como uma dental múltipla. (isto é, resultante de uma série de vibrações
da ponta da língua junto aos dentes superiores).
Um problema delicado da descrição LINGUÍSTICA, ligado à função distintiva dos
fonemas, é o da «homonímia», que todas as línguas apresentam. Trata-se de formas
distintas, do ponto de vista significativo, mas constituídas do mesmo segmento fônico.
Assim, temos em português pata (fêmea do pato) e pata (membro de locomoção de
um quadrúpede). Mas ainda aqui o critério diacrônico falha repetidamente na
descrição sincrônica. Em primeiro lugar, pata, como muitas outras formas em
português, é de etimologia desconhecida, e talvez os dois homônimos tenham a
mesma origem, de fundo onomatopaico.
Esse problema fornece um argumento a favor da intromissão da consideração
diacrônica na descrição sincrônica. Assim se pode alegar que canto (substantivo) vem
do lato cantus e canto (verbo) do lato canto. Em latim são formas fonicamente
distintas e a homonímia se estabeleceu em português.
Mas a solução, que parece exata, é partir da distribuição das formas, isto é, da maneira
porque os morfemas aparecem nos vocábulos e os vocábulos nas sentenças. A
distribuição diferente indica a homonímia. A mesma distribuição é sinal de polissemia.
Nos exemplos portugueses, que estamos trazendo à baila, cabo, com seus 3 sentidos,
é uma forma polissêmica, pois a sua distribuição, como substantivo, é a mesma na
sentença (como sujeito, como objeto e assim por diante). Já canto, substantivo, e
canto, forma verbal, são homônimos. Nos exemplos dos nominativos latinos leõ e
homõ, já aqui comentados, a homonímia da terminação desaparece em face das
formas teóricas * leon e * homin, respectivamente. Analogamente, em português, o
sufixo -ão, que é aumentativo em valentão, gentílico em alemão e genericamente
derivativo em com,arcão, se triparte nas formas teóricas, sugeridas pelos plurais
diferentes * valentõe, * alemãe e comarcão (que é também a forma concreta no
singular). Observemos, finalmente, em referência à homonímia, que a língua escrita
tem a possibilidade de fugir a ela, mudando a letra, ou «grafema», para representar o
mesmo fonema.

 Capítulo 10 e 13 de Mattoso

o termo gramatical flexão é a tradução do alemão Biegung, introduzido pelo velho


filólogo Friedrich Schlegel (1772-1829) no seu livro clássico de 1808, para indicar que
um dado vocábulo «se dobra» a novos empregos. Apresenta-se em português sob o
aspecto de segmentos fônicos pospostos ao radical, ou sufixos. São os sufixos
flexionais, ou desinências, que não se devem confundir com os sufixos derivacionais,
destinados a criar vocábulos.
Já o gramático latino Varrão (116 aC - 26 aC) distinguia entre o processo de derivatio
voluntaria, que cria palavras, e a derivatio naturalis, para indicar modalidades
específicas de uma dada palavra.
Nem todos os verbos portugueses apresentam nomes, deles derivados, e para as
derivações existentes os processos são desconexos e variados. Por isso, temos fala,
para falar, consolação, ao lado de consolo, para consolar, julgamento, para julgar, e
assim por diante. Nem todos os nomes substantivos portugueses têm um diminutivo
correspondente, e os que existem podem ser usados, ou não, numa dada frase, de
acordo com a vontade do falante. Já na’ flexão há obrigatoriedade e sistematização
coerente. Ela é imposta pela própria natureza da frase, e é naturalis no termo de
Varrão. É a natureza da frase que nos faz adotar um substantivo no plural ou um verbo
na 1- pessoa do pretérito imperfeito. As modernas flexionais estão concatenadas em
paradigmas coesos e com pequena margem de variação. Na língua portuguesa há
ainda outro traço característico para eles. Ê a «concordância», decorrente na sua
repetição, ainda que por alomorfes, nos vocábulos encadeados. Há concordância de
número singular e plural e de gênero masculino e feminino entre um substantivo e seu
adjetivo, como há concordância de pessoa gramatical entre o sujeito e o verbo, e
depende da espécie de frase a escolha da forma temporal e modal do verbo.
Os nomes são vocábulos suscetíveis das flexões de gênero e número (apresentados
nesta ordem). O gênero, que condiciona uma oposição entre forma masculina e forma
feminina, tem como flexão básica um sufixo flexional, ou desinência -a (átono final)
para a marca do feminino. A flexão de número, que cria o contraste entre forma
singular e forma plural, decorre da presença, no plural, de um sufixo flexional, ou
desinência /S/, com que a última sílaba do nome passa a terminar. Assim, o masculino
e o singular se caracterizam pela ausência das marcas de feminino e de plural,
respectivamente, como peru, masculino singular; perus, masculino plural; perua,
feminino singular; peruàs, feminino plural. 2 Em outros termos, pode-se dizer que
ambos são assinalados por um morfema gramatical zero (\/).
Uma, para designar o «tempo», ou ocasião da ocorrência do que o verbo refere, do
ponto de vista do momento da comunicação. A outra, que se lhe segue, indica, dentro
do vocábulo verbal, a pessoa gramatical do sujeito. No sufixo flexional de tempo 85
verbal, há acumulação da noção de «modo» (indicativo, subjuntivo, imperativo), e,
num tempo do pretérito, a do aspecto inconcluso, ou «imperfeito», do processo verbal
referido. Por sua vez, a flexão de pessoa gramatical implica, automaticamente, na
indicação do número, singular ou plural, do sujeito.

As duas noções gramaticais de tempo e modo, de um lado, e, de outro lado, de pessoa


e número do sujeito, que a forma verbal indica em princípio, correspondem a duas
desinências, ou sufixos flexionais, que podemos chamar, respectivamente, sufixo
modo-temporal (SMT) e sufixo número-pessoal (SNP). Eles se aglutinam intimamente
num global sufixo flexional (SF), que se adjunge ao tema do verbo (T), constituído pelo
radical ® seguido da vogal temática (VT) da conjugação correspondente. No padrão
geral dos verbos portugueses o radical é uma parte invariável. Constituído de um
morfema lexical, acrescido, ou não, de um ou mais morfemas derivacionais, ele nos dá
a significação lexical, permanente, do verbo. A indicação das noções gramaticais (1 -
modo e tempo, 2 - número e pessoa) cabe ao sufixo flexional com seus dois
constituintes aglutinados. Assim, temos uma fórmula geral da estrutura do vocábulo
verbal português: T (R + VT) + SF (SMT + SNP)
Levando-se em conta a alomorfia de cada um dos sufixos flexionais e a possibilidade
de zero (~) para um deles ou ambos, tem-se nesta fórmula a regra geral da
constituição morfológica do verbo português. A cumulação num único morfema das
noções de modo e tempo determina evidentemente, em princípio, 13 sufixos modo-
temporais. Só esporadicamente há neles alomorfia na base da classe mórfica, ou
«conjugação», a que o verbo pertence.
As primeiras regras a descrever na análise dos verbos portugueses em seu padrão
geral são os referentes à distribuição do acento. Já sabemos como a condição de
tônica, pretônica, postônica não-final e postônica ou átona final altera
fonologicamente o vocalismo português. Daí decorrem alomorfes fonologicamente
condicionados, que apreciamos para o registro formal da língua culta da área do Rio de
Janeiro. Em regra, no verbo português, a tonicidade incide na vogal temática, que
assim entra no quadro pleno das vogais portuguesas. A vogal temática só é átona final
em P 1,2,3,6 do indicativo presente, incluindo-se neste P 2 do subjuntivo não-
subordinado ou imperativo. Temos então na l’ conjugação para /a/ o alofone
posterior, ou «abafado» da posição átona final, e na 2’ e 3’ conjugação uma
confluência de formas, determinada pela neutralização fonológica entre /ê/ e li/. A
língua escrita adota então uma grafia com a letra -e. Nos dois futuros ela é pretônica,
pois o acento incide no sufixo modo-temporal. Mas para o português do Brasil isso não
traz outra consequência senão o «abafamento» alofônico de Ia/, na l’ conjugação. A
distinção pretônica entre /é/ e /V mantém separadas as conjugações 2’ e 3’. Há,
entretanto, uma outra possibilidade para a vogal temática. É ela ser zero. Em P 1 do
indicativo presente a sua eliminação resulta da adjunção do alomorfe -o, (lu/ átono
final) do sufixo número-pessoal, em virtude da /é/ fonológica geral de que o acréscimo
de um novo constituinte que começa ou se resume numa vogal leva à superação da
vogal átona final.
Fora dessas formas verbais de vogal temática átona final, ditas «rizotônicas», porque o
acento passa a incidir na vogal do radical, a vogal temática tônica (ou pretônica nos
futuros do indicativo) caracteriza nitidamente a classe ou conjugação da forma verbal.
Há apenas uma circunstância curiosa na l’ conjugação. Nas formas, como amei e amou,
da P 1 e P 3 do indicativo pretérito perfeito, o cotejo com as formas correspondentes
da 2’ e 3’ conjugação (temi, parti; temeu, partiu) nos conduz a considerar
simetricamente -e- e -0- como alomorfes da vogal temática -a-. Em P 3, a simetria é
evidente: tem e partiam o u /u/ u /u/ u /ul em outros termos, à vogal temática se
acrescenta, como sufixo número-pessoal, a vogal assilábica -u, sendo. zero. o sufixo \
modo-temporal.
Em P 1 devemos levar em conta que a vogal temática da 2~ e da 3~ conjugação. é
igualmente - i- (neutralização. entre as duas conjugações), e um sufixo número-pessoal
-i assilábico. se funde com a vogal temática -i- da 2~ e 3~ conjugação. e se ditonga com
o alomorfe -e- da vogal temática da 1~ conjugação: tem i part i am e
o alomorfe -o~, em vez de -a-, para a vogal temática da conjugação. 1, é
compreensível, uma vez que não. há nos verbos portugueses uma vogal temática /ô/.
Para a interpretação. de amei pode-se objetar que /êl já é vogal temática da 2~
conjugação. Mas justamente nessa forma verbal a 2~ conjugação. conclui com a 3~ e
tem a vogal temática /i/. Por isso, a presença de /ê/ logo. indica que neste caso. se
trata da P conjugação, tão. bem como. indicaria a vogal/a/. Nada mais expressivo para
mostrar como. a forma LINGUÍSTICA não se identifica com a substância fônica e
continua bem individualizada enquanto se mantém a oposição, embora deslocada em
suas substâncias, que a distingue de outra forma (aqui /ê/-/i! em vez de /a/-/ê/).

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