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Capítulo da dissertação de GUSTAVO TRAMONTINA SEGAT - MANIFESTAÇÕES


PATOLÓGICAS OBSERVADAS EM REVESTIMENTOS DE ARGAMASSA:
ESTUDO DE CASO EM CONJUNTO HABITACIONAL POPULAR NA CIDADE DE
CAXIAS DO SUL (RS). Orientador: Angela Borges Masuero

3 MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS EM REVESTIMENTOS DE


ARGAMASSA

O revestimento de argamassa compreende um sistema constituído dos seguintes elementos:


base de revestimento (alvenaria, concreto ou qualquer outro tipo de vedação vertical),
argamassa de preparo da base (chapisco), de regularização (emboço), que pode constituir-se
num revestimento de camada única, e argamassa de acabamento (reboco). Bonin et al. (1999)
destacam que o desempenho do sistema depende da escolha adequada dessas argamassas em
relação à base, ao meio externo e localização da edificação.

A ocorrência de manifestações patológicas em fachadas externas advém, segundo Kiss


(2003), da falta de competência técnica nas obras na hora de executar o revestimento.
Relaciona como principais problemas os erros de dosagem de água e de aditivos, execução de
camadas pouco ou muito espessas, falta de uniformidade das argamassas e até falta de
limpeza do substrato.

Na maioria das vezes, diante dos prazos escassos e da necessidade de reduzir o tempo de
execução no que for possível, o sistema sacrificado na obra é o revestimento, não sendo
tomados os cuidados necessários durante o preparo da superfície, dosagem e aplicação das
argamassas. Leal (2003b) refere que o revestimento nem sempre é encarado com a devida
preocupação pelos engenheiros. Na realidade já foram verificados problemas originados em
todos os agentes envolvidos no sistema, incluindo projetistas, fabricantes de argamassa
industrializada, construtores e aplicadores, o que, via de regra, faz com que um tente repassar
a responsabilidade ao outro.

A carência de critérios de seleção de argamassas em relação às diferentes funções que o


revestimento deve cumprir (proteção, impermeabilização, acabamento decorativo, etc.), bem
como de compatibilização com as solicitações a que estará exposto (vento, chuva e agentes
poluentes), conduzem a revestimentos com desempenhos insatisfatórios. Também se mostra

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insuficiente o conhecimento acerca da formulação das argamassas para as diferentes funções


desejadas e do emprego de aditivos ou adições que melhorem as suas propriedades. Embora o
mercado das argamassas industrializadas apresente crescimento e modernização, o maior
volume de argamassas em nosso meio é ainda produzido em canteiro, primando pelo emprego
de traços tradicionais em volume, desconsiderando que a massa unitária dos materiais em
cada lote conduz a uma heterogeneidade da qualidade do revestimento ao longo da construção
(BONIN et al., 1999).

A situação é mais preocupante quando, em alguns casos, o primeiro objetivo vislumbrado


pelos profissionais envolvidos é a redução do custo do revestimento, de forma que nem
sempre o desempenho adequado é atingido. A tendência de eliminação de camadas, a título de
racionalização, tem o objetivo claro de reduzir o material empregado e conseqüentemente os
gastos das construtoras. A utilização de argamassa de camada única, o chamado reboco
paulista, lançada no mercado como adequada para revestimentos, assentamento e contrapiso,
compreende um caso inequívoco da busca pela redução de custo a qualquer preço, tendo em
vista serem mais baratas que as demais argamassas. Leal (2003b) relata acerca da dificuldade
de um material se mostrar adequado para solicitações tão diferentes, não atingindo
desempenho satisfatório para casos de maior exigência em função de suas propriedades serem
as da média do produto. Dificilmente uma única camada de revestimento terá desempenho
equivalente às três camadas de argamassa tradicional (LEAL, 2002).

Outra conseqüência da busca pela redução de custo nos revestimentos é a aplicação em


camadas muito finas, resultando em revestimento bastante suscetível às movimentações
higrotérmicas da obra e às ondulações de paredes e peças estruturais. Situação mais comum
em argamassas coloridas, que dispensam a pintura, tendo um custo mais elevado devido à
adição de pigmento. Na verdade, usar o revestimento como ferramenta para redução de custos
de um empreendimento imobiliário pode não apresentar resultados muito significativos. O
revestimento externo representa, segundo cálculos de uma construtora, na ordem de 3% do
custo total da obra, de forma que apenas uma redução muito drástica nesse custo traria uma
diferença relevante. Mesmo assim deve-se considerar ainda o aumento do risco de
manifestações patológicas e, como conseqüência, das despesas de pós-ocupação, que podem
se elevar a ponto de inviabilizar a economia inicial. Ademais, as manifestações patológicas
provocam um dano na imagem empresarial da construtora. O revestimento representa, para o
leigo, uma radiografia das condições da edificação, de modo que ter problemas na argamassa

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pode significar equivocadamente para o usuário que a obra foi, como um todo, mal construída
(LEAL, 2003b).

Thomaz (1996a) alerta que simples movimentações térmicas podem realçar problemas
congênitos do revestimento, surgindo uma falsa idéia de envelhecimento. Na verdade, o
principal agente de deterioração das argamassas, depois de endurecida, é a água.
Revestimentos convenientemente protegidos contra a umidade tendem a durar infinitamente,
como atestam construções milenares existentes. Tratando-se de um revestimento de
argamassa mista (cimento, cal hidratada e areia), os compostos resultantes da hidratação e
endurecimento são quimicamente estáveis nas condições normais de utilização, não sofrendo
nenhum processo de envelhecimento natural, como pode ocorrer, por exemplo, com plásticos
e pinturas através da ruptura de cadeias.

A grande quantidade de manifestações patológicas em revestimentos de argamassa tem


motivado algumas construtoras a mobilizar diversos agentes do setor, buscando obter
respostas para diversos problemas e tentar estabelecer padrões mínimos para os
procedimentos, do projeto à execução. Segundo Leal (2003b), o diagnóstico da situação atual
do setor, envolvendo projetistas, consultores, pesquisadores, construtores, fabricantes de
argamassa e aplicadores, não foi dos mais otimistas, sendo constatado:

a) falta de consenso sobre o que é um projeto de revestimento por parte dos


projetistas;

b) pouca preocupação de construtores com a capacitação das equipes de obra;

c) falta de conhecimento dos fabricantes sobre o comportamento dos


revestimentos;

d) emprego de práticas ultrapassadas, por vezes até erradas, de fornecedores de


serviço de aplicação;

e) insuficiente normalização de parâmetros de desempenho.

Fora das condições normais de dosagem, preparo, aplicação e utilização, as argamassas


podem sofrer diversos processos de degradação. Os principais fenômenos patológicos que
acometem as argamassas de revestimento, conforme Cincotto (1988), podem se apresentar
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como resultados de uma ou mais causas, cuja análise de origem permite classificá-las em
cinco grupos característicos (figura 5):

a) causas decorrentes da qualidade dos materiais utilizados,

- agregados: a areia natural essencialmente quartzosa é a mais utilizada em


nosso meio, sendo particularmente prejudicial a existência de impurezas
como aglomerados argilosos, pirita, mica, concreções ferruginosas e matéria
orgânica;
- cimento: não há restrição quanto ao tipo de cimento, somente quanto a sua
finura, que regulará os níveis de retração por secagem;
- cal: o maior problema está relacionado à reação incompleta de extinção da cal
virgem em fábrica, ou durante o amassamento em obra, ocasionando, após a
aplicação do revestimento, um aumento de volume em função da reação
retardada de hidratação;

b) causas decorrentes do traço de argamassa,

- argamassas de cimento: maior incidência de problemas quando a camada do


revestimento destinada a regularizar a superfície da base, ou seja, o emboço,
é excessivamente rico em cimento, como por exemplo na proporção 1:2 em
massa (aglomerante:areia);
- argamassas de cal: problemas mais comuns advêm da baixa resistência da
argamassa através de uma inadequada proporção entre areia e cal,
constituindo uma argamassa magra e pouco aderente ao substrato, ou então
relacionado à deficiente carbonatação da cal quando da execução de camadas
espessas;

c) causas decorrentes do modo de aplicação do revestimento,

- aderência à base: o principal problema é a ausência de rugosidade da camada


da base, sendo essencial que existam condições de aderência do revestimento,
o que depende da textura e da capacidade de absorção da base, bem como da
homogeneidade dessas propriedades;
- espessura do revestimento: camadas espessas de revestimento dificultam a
absorção de movimentações estruturais, principalmente pelo emboço, bem
como propiciam a falta de carbonatação no reboco;
- aplicação da argamassa: problemas relacionados ao não cumprimento do
tempo de endurecimento e secagem da camada inferior, e ao alisamento
intenso da camada de reboco criando uma película de carbonato que impede
o endurecimento uniforme da camada de revestimento;

d) causas decorrentes do tipo de pintura,

- pinturas que formam uma camada impermeável, como as tintas a óleo ou à


base de borracha clorada e epóxi, quando aplicadas prematuramente não

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permitem um grau de carbonatação suficiente para conferir resistência ao


reboco;

e) causas externas ao revestimento,

- umidade: problemas relacionados à infiltração de água através de alicerces,


lajes de cobertura mal impermeabilizadas ou argamassas de assentamento
magras;
- expansão da argamassa de assentamento: pode ser provocada por reações
químicas entre os constituintes desta argamassa ou mesmo entre compostos
do cimento e dos tijolos ou blocos que compõem a alvenaria.

QUALIDADE TRAÇO DA
DOS MATERIAIS ARGAMASSA
- agregados, cal e - argamassas de
cimento cimento e cal

REVESTIMENTO
DE ARGAMASSA:
EMBOÇO/REBOCO

MODO DE TIPO DE PINTURA


APLICAÇÃO - pinturas impermeáveis
- aderência à base, (tinta a óleo, epóxi ou à
espessura revestimento, base de borracha
aplicação da argamassa clorada)

CAUSAS EXTERNAS
- umidade, expansão da
argamassa assentamento

Figura 5: causas das manifestações patológicas nos revestimentos de


argamassa (baseado em CINCOTTO, 1988)

Os danos podem ser analisados com base na sintomatologia aparente, condição que facilita o
discernimento das causas geradoras. Conforme relacionam Cincotto (1988), Bauer (1997) e
Masuero (2001), as principais manifestações patológicas em revestimentos de argamassa
consistem em: descolamentos, vesículas, fissuras, eflorescências, manchas decorrentes da
umidade e da contaminação atmosférica, e corrosão mecânica e química por substâncias
agressivas.
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3.1 DESCOLAMENTOS

Os descolamentos consistem na separação de uma ou mais camadas dos revestimentos de


argamassa, apresentando uma extensão variável, podendo compreender áreas restritas até
dimensões que abrangem a totalidade de uma alvenaria (BAUER, 1997). Os revestimentos
afetados por descolamentos apresentam som cavo sob percussão (CINCOTTO, 1988).

A perda de aderência de um revestimento provém de tensões surgidas que ultrapassam a


capacidade de aderência das ligações, sendo proveniente de um processo em que ocorrem
falhas ou ruptura na interface das camadas que constituem o revestimento, ou então na
interface com a base ou substrato (BARROS et al., 1997). De um modo geral, Thomaz e
Chimelo (1993), bem como Leal (2003b), relacionam as seguintes causas mais comuns dos
descolamentos de argamassa, que podem atuar de forma combinada ou isoladamente:

a) proporcionamento incorreto da argamassa (traço inadequado), de modo que o


excesso de cimento resulta em material com pouca elasticidade, podendo não
absorver as movimentações da estrutura e/ou da alvenaria, enquanto a falta de
aglomerante pode prejudicar a capacidade da argamassa aderir ao substrato;

b) emprego de materiais com alto teor de finos, particularmente material silto-


argiloso (tipo saibro, caulim), resultando em revestimento com baixa
porosidade, dificultando o processo de carbonatação da cal;

c) emprego de cal hidratada adulterada ou de baixa qualidade que, se parcialmente


extinta, tem reação de hidratação retardada, acompanhada de aumento de
volume e expansão;

d) emprego de aditivos plastificantes que não substituem a propriedade de


retenção de água da cal hidratada, ou aplicação da argamassa sobre material
com elevado poder de absorção de água, sem prévio umedecimento, elevando
os níveis de retração por secagem;

e) aplicação da argamassa sobre base contaminada, engordurada ou


impermeabilizada, impedindo a penetração da nata do aglomerante no
substrato;

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f) aplicação de argamassa sobre superfície muito lisa, sem prévio chapisco do


substrato, reduzindo as condições de aderência do revestimento à base;

g) aplicação da argamassa em camada muito espessa, de modo que o peso próprio


da argamassa pode gerar uma força gravitacional maior que a adesão inicial
com o substrato;

h) operação de chapar a argamassa na parede com pouca força, não preenchendo o


material adequadamente os poros da base;

i) pintura precoce dos revestimentos à base de cal, inibindo a carbonatação da cal


principalmente na interface com a parede.

3.1.1 Descolamento com empolamento

A superfície do reboco descola do emboço, formando bolhas que aumentam


progressivamente. As causas prováveis compreendem a infiltração de umidade e a existência
de cal parcialmente hidratada na argamassa que, ao se extinguir depois de aplicada, aumenta
de volume e se expande (CINCOTTO, 1988). Especialmente o óxido de magnésio da cal tem
hidratação muito lenta e caso não tenham sido tomados os devidos cuidados, a expansão e o
empolamento podem surgir após meses da execução do revestimento (BAUER, 1997). A
figura 6 apresenta um exemplo da incidência de descolamento com empolamento da
argamassa de revestimento.

Figura 6: descolamento com empolamento da argamassa de


revestimento, efeito da umidade sobre o reboco (CINCOTTO, 1988)
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3.1.2 Descolamento em placas

Esta manifestação consiste no descolamento na forma de placas, as quais apresentam-se


endurecidas, quebrando com dificuldade. Cincotto (1988) relaciona as seguintes causas para o
descolamento em placas: argamassa muito rica e/ou aplicada em camada muito espessa;
superfície da base muito lisa e/ou impregnada com substância hidrófuga; ausência de
chapisco; superfície de contato com a camada inferior com a presença de placas de mica.

Bauer (1997) caracteriza o descolamento em placas como uma deficiência de aderência entre
as camadas de argamassa ou destas com a base, destacando ainda outras possíveis causas:
chapisco preparado com areia fina; molhagem deficiente da base comprometendo a hidratação
do cimento; base de aplicação impregnada de pó e/ou resíduos; acabamento superficial
inadequado da camada intermediária; aplicação de camadas de argamassas com resistências
inadequadas interpostas, devendo a resistência ser reduzida no sentido da base para o material
de acabamento.

Bauer (1996 apud BARROS et al., 1997) afirma também que as espessuras excessivas da
argamassa, superiores a 2 cm, propiciam em função da retração natural, a ocorrência de
tensões elevadas de tração entre a base e o chapisco, podendo provocar o seu descolamento.
Outro fator gerador de tensões corresponde às grandes variações de temperatura, que podem
gerar tensões de cisalhamento na interface entre argamassa e base, capazes de provocar o
descolamento do revestimento.

Miranda (1994) questiona a eliminação da camada de chapisco preconizada por alguns


fabricantes de materiais, o que acaba colaborando para a incidência de descolamento em
placas do revestimento (figura 7). As características básicas do chapisco, como alto teor de
cimento, elevada granulometria e pequena espessura de aplicação resultam em boa aderência
aos mais variados tipos de base, promovendo um aumento da rugosidade e conseqüente
ampliação da área de aderência, sobretudo em bases muito lisas (concreto) ou muito
absorventes (blocos e tijolos cerâmicos). Assim, na maioria dos casos o chapisco é necessário
e imprescindível, melhorando substancialmente as condições de aderência da argamassa de
revestimento que, entre outros fatores, depende também da dosagem dos componentes, da
relação água-cimento, da capacidade de absorção de água da base, da energia empregada na
aplicação da argamassa e da área de contato da base.

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Figura 7: descolamento em placa do revestimento por falta de


chapisco (CINCOTTO, 1988)

3.1.3 Descolamento com pulverulência

Caracteriza uma argamassa friável, cujo sinal mais freqüente de pulverulência é a


desagregação da argamassa ao ser pressionada manualmente. Normalmente, segundo Barros
et al. (1997), a película de tinta destaca-se juntamente com a argamassa que se desagrega com
facilidade. A figura 8 mostra um exemplo da incidência dessa manifestação patológica.

Bauer (1997) e Cincotto (1988) relacionam como principais causas do descolamento com
pulverulência, o excesso de materiais pulverulentos e/ou torrões de argila no agregado, o traço
pobre em aglomerantes ou excessivamente rico em cal, e a ausência da completa carbonatação
da cal pela execução de reboco em camada muito espessa ou pela aplicação de pinturas
prematuras.

Outras prováveis causas das argamassas friáveis, que podem atuar com ou sem
simultaneidade, são destacadas por Bauer (1997): emprego de substitutos da cal sem
propriedades de aglomerante; hidratação inadequada do cimento da argamassa; argamassa
utilizada após o tempo de pega do cimento; tempo de estocagem ou estocagem inadequada,
comprometendo a qualidade da argamassa.

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Em Leal (2003b), consta como causa da desagregação por expansão do revestimento, o


emprego de areia suja, silte, filito argiloso moído ou gesso na mistura da massa, materiais que
se expandem em contato com a umidade. Em conseqüência há um aumento volumétrico da
argamassa, podendo provocar a queda do revestimento.

Figura 8: incidência de descolamento com pulverulência em


revestimento interno

3.2 VESÍCULAS

A presença de materiais dispersos na argamassa que manifestam posterior variação


volumétrica, originam as vesículas nos revestimentos. Bauer (1997) refere que as causas estão
atreladas à presença de: pedras de cal parcialmente extintas; matéria orgânica e torrões de
argila na areia; outras impurezas como pirita e torrões ferruginosos. Mitidieri Filho (1995a)
faz referência a buracos pontuais no reboco provenientes dos óxidos não hidratados existentes
nas cales dolomíticas, em particular o óxido de magnésio, cuja hidratação é acompanhada de
expansão.

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Cincotto (1988) relaciona os aspectos observados no interior das vesículas com a anomalia ou
tipo de impureza existente nos agregados. Quando o empolamento da pintura apresenta as
partes internas das empolas na cor branca, indica a ocorrência de hidratação retardada de
óxido de cálcio da cal. Quando na cor preta, evidencia a presença de pirita ou de matéria
orgânica na areia. Quando na cor vermelha acastanhada, indica a presença de concreções
ferruginosas na areia. E quando as bolhas contêm umidade no interior, é caracterizada a
aplicação prematura de tinta impermeável.

A figura 9 apresenta um exemplo da incidência de vesícula no revestimento em argamassa.

Figura 9: vesícula no revestimento em argamassa resultante de


hidratação retardada de óxidos presentes na cal (THOMAZ, 1989)

3.3 FISSURAS

Nas argamassas de revestimento, sem que haja movimentação ou fissuração da base (estrutura
de concreto ou alvenaria), a incidência de fissuras geralmente está condicionada a fatores
relativos à execução do revestimento argamassado, solicitações higrotérmicas, e
principalmente por retração hidráulica da argamassa (BAUER, 1997). Conforme Cincotto
(1988), o revestimento pode ainda apresentar fissuras decorrentes das reações expansivas da
argamassa de assentamento por hidratação retardada do óxido de magnésio da cal ou por
ataque de sulfatos.
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Scartezini (2002) define retração como um fenômeno físico que ocorre com os materiais de
base cimentícia, no qual o volume inicialmente ocupado pelo material no estado plástico
diminui de acordo com as condições de umidade do sistema e a evolução da matriz de
cimento. A retração por secagem, associada à baixa resistência à tração, constitui
provavelmente a maior desvantagem dos materiais à base de cimento Portland, principalmente
se aplicados em grandes superfícies expostas que tenham restrição quanto a este movimento.
Tais características dos compostos de cimento possuem ligação direta com a ocorrência de
fissuração que, além de comprometer a estética, pode afetar a durabilidade do revestimento de
argamassa como um todo.

Fiess (2001) também concorda que as fissuras em argamassas de revestimento ocorrem em


geral por retração da argamassa com conseqüente diminuição do volume, fenômeno típico nos
produtos à base de cimento e/ou cal hidratada. Em função da trabalhabilidade necessária, as
argamassas normalmente são preparadas com água em excesso, o que vem acentuar a
retração. Na realidade, num produto preparado com cimento é possível ocorrer três formas de
retração (THOMAZ, 1989):

a) retração química, referente à reação química entre o cimento e a água, que em


função das grandes forças interiores de coesão faz a água combinada
quimicamente sofrer uma contração de cerca de 25% de seu volume original;

b) retração de secagem, inerente à quantidade excedente de água empregada na


preparação da argamassa, que permanece livre em seu interior, gerando forças
capilares equivalentes a uma compressão isotrópica da massa;

c) retração por carbonatação, relativa à cal hidratada, adicionada à argamassa ou


liberada a partir das reações de hidratação do cimento, que reage com o gás
carbônico presente no ar, formando o carbonato de cálcio, gerando a redução
de seu volume.

Em Scartezini (2002) é relacionada ainda a retração térmica, que ocorre pela diminuição de
temperatura após pico, devido ao acúmulo de calor de hidratação ou aquecimento por
exposição.

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Para Leal (2003b), a fissuração em argamassas de revestimento por retração de secagem é


decorrente basicamente de três causas principais: aplicação sobre base extremamente seca,
perda de água na massa por insolação excessiva e uso de areia contaminada com material
silto-argiloso.

Thomaz (2001a) menciona ainda a dosagem inadequada, a ventilação excessiva e, em


situações excepcionais como, por exemplo, na eminência de geadas e de falhas no sistema de
pintura, a possibilidade de fissuração em função respectivamente da incidência de
movimentações térmicas e higroscópicas.

3.3.1 Fissuras mapeadas

As fissuras mapeadas têm forma variada e distribuem-se por toda a superfície do


revestimento, sendo basicamente decorrentes da retração da argamassa de base (CINCOTTO,
1988).

Para Thomaz (1989), as principais causas de fissuração atreladas à retração da argamassa


compreendem o consumo elevado de cimento, o teor de finos elevado e o consumo elevado de
água de amassamento. Além desses fatores intrínsecos, diversos outros influenciam na
formação ou não de fissuras de retração, destacando-se: aderência com a base; número e
espessura de camadas; argamassa com baixa retenção de água; cura deficiente de uma camada
ou falta de cura; perda de água de amassamento por sucção da base ou pela ação de agentes
atmosféricos.

O consumo excessivo de água de amassamento, situação bastante comum quando a argamassa


apresenta um teor de finos elevado, resulta em revestimento depois de endurecido com maior
número de vazios e, em conseqüência, mais propenso à ocorrência de fissuras mapeadas em
função da retração da argamassa na secagem (BARROS et al., 1997).

Para a execução de revestimento em fachadas externas, as condições climáticas acabam tendo


grande influência, tendo em vista que a aplicação em dias muito quentes ou secos pode
provocar uma precoce desidratação da argamassa, causando, algumas vezes, fissuras do tipo
mapeadas (LEAL, 2003b).

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Masuero (2001) destaca que a retração do emboço está também relacionada ao


desempenamento excessivo. Ademais, o desempeno do revestimento antes do tempo
adequado pode provocar o aparecimento de fissuras, o que caracteriza o emprego de técnica
de execução incorreta. O ato do desempeno com força suficiente e no tempo correto é
importante, tendo em vista que nessa fase é possível comprimir a pasta e aproximar os grãos,
reduzindo o potencial de fissuração da argamassa (BARROS et al., 1997).

A figura 10 mostra um exemplo da ocorrência de mapeamento do revestimento.

Figura 10: fissuras mapeadas causadas por redução do volume da


argamassa (LEAL, 2003b)

A utilização de aditivos substitutivos da cal também pode acarretar em fissuras mapeadas no


revestimento. Conforme John (1995), o emprego de aditivos normalmente faz com que a
retirada da cal seja compensada com um aumento no teor do cimento. Ocorre que o acréscimo
de cimento intensifica a retração de secagem, de modo que o risco de fissuração deva ser
controlado através do emprego de traços com teor de finos apenas o suficiente para garantir
coesão e trabalhabilidade.

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Segundo Barros et al. (1997), as fissuras mapeadas por retração hidráulica muitas vezes não
são visíveis, a não ser que sejam molhadas e a água, penetrando por capilaridade, assinale sua
trajetória. A ocorrência de umedecimentos sucessivos pode resultar em mudanças na
tonalidade, permitindo a visualização das fissuras mesmo com o paramento seco. Tal
fenômeno tem origem na água, com cal livre, que sai das microfissuras, formando carbonato
de cálcio quando em contato com o ar, ficando as fissuras esbranquiçadas ou escurecidas se
ocorre deposição de fuligem.

As fissuras macroscópicas normalmente ocorrem em argamassas ricas em aglomerantes. O


maior limite de resistência resulta em acúmulo de tensões que, suplantando a capacidade
suporte, levam a rupturas com aparecimento de fissuras de maior abertura. Assim, para Barros
et al. (1997) a incidência de fissuras será tanto maior quanto maior for a resistência à tração e
o módulo de deformação da argamassa.

Thomaz (1989) refere que as fissuras induzidas por movimentações térmicas no corpo da
argamassa de revestimento, geralmente são regularmente distribuídas e com abertura bastante
reduzidas, constituindo uma espécie de gretagem, assemelhando-se às fissuras provocadas por
retração de secagem.

Fissuras mapeadas podem surgir ainda por movimentações higroscópicas. Quando da


deficiente impermeabilização da superfície, os ciclos de umedecimento e secagem de
argamassas de revestimento, associados às próprias movimentações térmicas do revestimento,
provocam inicialmente microfissuras na argamassa. Estas se acentuam progressivamente com
as infiltrações de água cada vez maiores, gerando conseqüentemente fissuras. As fissuras de
origem higroscópica são mais acentuadas em regiões onde ocorre uma maior incidência de
água, como em peitoris, saliências e outros detalhes arquitetônicos em fachadas (THOMAZ,
1989).

3.3.2 Fissuras horizontais

As fissuras predominantemente horizontais nas argamassas de revestimentos são decorrentes


da expansão da argamassa de assentamento por hidratação retardada do óxido de magnésio da
cal, ou da expansão da argamassa de assentamento por ataque de sulfatos (reação cimento-

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sulfatos), ou devido à presença de argilo-minerais expansivos no agregado. Como a expansão


da argamassa de assentamento ocorre predominantemente no sentido vertical, as fissuras no
revestimento resultam horizontais. Podem inclusive resultar em descolamento do
revestimento em placas (CINCOTTO, 1988).

As figuras 11 e 12 apresentam as configurações típicas de fissuras horizontais decorrentes da


expansão da argamassa de assentamento, respectivamente, por hidratação retardada do óxido
de magnésio da cal e por ataque de sulfatos.

Figura 11: fissuras horizontais no revestimento provocadas pela


expansão da argamassa de assentamento (THOMAZ, 1989)

Figura 12: fissuras na argamassa de revestimento provenientes do


ataque por sulfatos (THOMAZ, 1989)

Thomaz (1989) destaca que as fissuras horizontais, causadas pela hidratação retardada da cal
da argamassa de assentamento, ocorrem preferencialmente nas proximidades do topo da
parede, onde são menores os esforços de compressão do peso próprio. Caracteriza também as
fissuras causadas por ataque por sulfatos como semelhantes àquelas que ocorrem pela retração
da argamassa de revestimento, diferenciando-se pelas aberturas mais pronunciadas,
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acompanhando aproximadamente as juntas de assentamento horizontais e verticais, quase


sempre incidindo juntamente com eflorescências.

3.3.3 Outras fissuras lineares

O revestimento em argamassa pode apresentar fissuras lineares sobrepostas ao encontro entre


a alvenaria da parede e a estrutura em concreto, delatando um destacamento entre os
diferentes materiais, indicando a ausência de procedimentos adequados quando da execução
dessa interface. As diferentes propriedades térmicas entre o concreto estrutural e o material da
alvenaria, os gradientes térmicos nas fachadas, as dimensões dos panos e a flexibilidade da
estrutura, são fatores apontados por Thomaz (2001b) que, se não adequadamente
considerados, levam à ocorrência dessa manifestação patológica.

O encontro entre pilar e alvenaria, ou entre o topo da alvenaria e a face inferior de lajes, cintas
ou vigas de concreto, principalmente no último pavimento das construções, compreendem
interfaces entre estrutura e alvenaria que freqüentemente podem resultar em fissuras no
revestimento. As lajes de cobertura são mais suscetíveis às movimentações térmicas, de forma
que ligações demasiadamente rígidas entre alvenaria e concreto propiciam o destacamento
entre os diferentes materiais, ficando as regiões do encunhamento, e das últimas juntas de
assentamento da alvenaria, mais sujeitas à fissuração. Para evitar a manifestação patológica,
Mitidieri Filho (1995b) preconiza a colocação de junta deslizante, formada com neoprene ou
feltro betumado, quando as lajes são simplesmente apoiadas em vigas ou cintas de amarração.
No entanto, a situação mais comum em edifícios é a concretagem simultânea de lajes e vigas,
formando um conjunto único, indicando então as seguintes soluções: emprego de argamassa
com baixo módulo de deformação no encontro com a viga, se possível com adição de resina
acrílica; ou adoção de uma junta de movimentação no encontro com a viga, tratando essa
junta contra a penetração de água e também do ponto de vista arquitetônico. Salienta ainda
que o sombreamento da última laje contribui para a minimização dos efeitos térmicos,
principalmente se o átrio for ventilado.

Para evitar o destacamento entre pilar e alvenaria, Mitidieri Filho (1993) indica: fixação de
armadura nos pilares, tipo “ferros-cabelo”, regularmente espaçados e devidamente ancorados
nas juntas de assentamento da alvenaria, ou dobrados para o interior dos blocos vazados, com
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60

subseqüente grauteamento do furo; aplicação de chapisco nas faces laterais do pilar; no


assentamento, enérgica pressão do bloco contra o pilar, com refluxo de argamassa; eventual
inserção de tela metálica no revestimento com sobreposição para cada lado do pilar.

A figura 13 ilustra a incidência de fissuras lineares por movimentações térmicas diferenciadas


entre alvenaria e estrutura.

Figura 13: destacamento entre alvenaria e estrutura por


movimentações térmicas diferenciadas (THOMAZ, 1989)

Thomaz (1996b) relaciona alguns aspectos peculiares que auxiliam a identificação de fissuras
causadas por dilatações térmicas:

a) fissuras e destacamentos mais pronunciados no topo da construção,


concentrando-se em uma ou mais de suas extremidades;

b) aberturas regulares, geralmente da ordem do décimo de milímetro;

c) sazonalidade das aberturas, mais fechadas em dias quentes e mais abertas em


dias frios;

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61

d) fissuras geralmente escamadas, podendo-se constatar, pela direção das


escamas, o sentido do deslocamento de lajes ou vigas.

Bauer (1996 apud BARROS et al., 1997) aponta outra causa comum de fissuração nos
revestimentos, referindo acerca da execução de forma contínua do revestimento sobre juntas
de dilatação da estrutura, podendo inclusive ocasionar o descolamento da argamassa na região
de sobreposição.

3.4 EFLORESCÊNCIAS

Bauer (1997) define eflorescências como depósitos salinos, principalmente alcalinos e


alcalinos terrosos, na superfície de alvenarias ou revestimentos, provenientes da migração de
sais solúveis presentes nos materiais ou componentes da alvenaria. As eflorescências são
caracterizadas pela presença de manchas de umidade e pelo acúmulo de pó branco sobre a
superfície (CINCOTTO, 1988). Alteram a aparência da superfície sobre a qual se depositam
e, em determinados casos, seus sais constituintes podem ser agressivos causando
desagregação profunda, principalmente quando da existência de compostos expansivos
(BAUER, 1996 apud BARROS et al., 1997). Souza (1997) caracteriza as eflorescências como
depósitos pulverulentos, ou incrustações, com alteração de cor da superfície dos revestimentos
em tom esbranquiçado, acinzentado, esverdeado, amarelado ou preto.

A ocorrência do fenômeno está intimamente relacionada às propriedades de absorção e


permeabilidade das argamassas. A argamassa apresenta vazios e canais em seu interior
decorrentes, principalmente, da presença de água destinada a promover trabalhabilidade ao
material e necessária às reações de hidratação do cimento. Nesses vazios pode ocorrer o fluxo
da água por capilaridade ou por pressão, de modo a introduzir substâncias agressivas
presentes no substrato, na rede capilar, ou dissolver e transportar sais solúveis presentes no
próprio material (BARROS et al, 1997).

Souza (1997) refere ainda que a água que infiltra através dos poros das argamassas, atingindo
as diversas camadas, reage com íons livres podendo gerar corrosão das argamassas. Esse
processo de deterioração superficial da argamassa é causado pela exposição ao longo do
tempo aos agentes agressivos presentes na poluição, tais como anidrido carbônico e anidrido
Manifestações patológicas observadas em revestimentos de argamassa: estudo de caso em conjunto habitacional
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sulfuroso, pela ação da umidade do ar em regiões litorâneas, ou pela ação dos íons cloro que
têm origem na lavagem dos revestimentos com ácido clorídrico.

A figura 14 apresenta um exemplo de incidência da manifestação patológica em fachada de


edificação.

Figura 14: eflorescência em superfície revestida com argamassa


devido à percolação de água (UEMOTO, 1988)

Fiorito (1994) refere que, para a ocorrência de eflorescência, é determinante haver a presença
e a ação dissolvente da água, não sendo um exagero afirmar que sem água não haverá
eflorescência. Três fatores igualmente importantes devem existir concomitantemente para que
ocorram as eflorescências: o teor de sais solúveis presentes nos materiais ou componentes, a
presença de água, e a pressão hidrostática para propiciar a migração da solução para a
superfície. Se um desses três fatores for eliminado não ocorrerá o fenômeno (UEMOTO,
1988). Beichel (1997) ressalta ainda que não há problemas quando os sais estão dissolvidos,
ocorrendo eflorescência somente quando a água evapora e os sais se cristalizam.

Há, contudo, casos em que a solução salina não chega a se cristalizar, como em ambientes
constantemente úmidos, ou ainda quando da presença de sais de difícil secagem, como o
cloreto de cálcio, carbonato de potássio e silicatos alcalinos. Esse tipo de eflorescência

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aparecerá como uma exsudação na superfície, mais ou menos viscosa conforme sua
composição e concentração (BARROS et al., 1997).

Barros et al. (1997) ressaltam também que a ação dos sais solúveis do cimento Portland,
principal aglomerante das argamassas, é importante fonte de eflorescência nos revestimentos,
devendo-se buscar minimizar o seu emprego.

Uma forma distinta de ocorrência do fenômeno apresenta-se através da criptoeflorescência,


compreendendo a precipitação de sais solúveis nos poros abertos ou na interface entre
alvenaria e revestimento, enquanto a eflorescência é uma deposição de sais solúveis nas
superfícies externas dos materiais (MATERIALES DE CONSTRUCCIÓN, 2004?).

Uemoto (1988) classifica as eflorescências de acordo com o aspecto e forma de manifestação.


A eflorescência do Tipo I, segunda sua particular classificação, é a mais comum,
caracterizando-se pelo depósito de sal branco, pulverulento, muito solúvel em água. Pode ser
abundante e apresentar-se na forma de um véu. Aparecem em superfícies de alvenaria
aparentes ou revestidas com argamassa, juntas de assentamento, regiões próximas a caixilhos
mal vedados, ladrilhos cerâmicos, juntas de ladrilhos cerâmicos e azulejos. Esse tipo de
eflorescência, em geral, modifica somente o aspecto estético, não sendo prejudicial ao
substrato. Entretanto, se o acúmulo ocorre na interface entre a pintura e seu substrato
(alvenaria ou revestimento), a película de pintura poderá se destacar.

As eflorescências do Tipo I, em geral, são casos freqüentes da presença de sulfatos de sódio e


de potássio, e com menor incidência de sulfatos de cálcio e magnésio, carbonatos de sódio e
de potássio (SOUZA, 1997). Segundo Uemoto (1988), os sais podem ser provenientes de
tijolos, de cimentos, da reação química entre compostos do tijolo com o cimento, da água
utilizada no amassamento, dos agregados, da poluição atmosférica, e de substâncias contidas
em solos adensados ou contaminados por produtos químicos.

A eflorescência do Tipo II, segundo Barros et al. (1997), é menos comum, caracterizando-se
pelo depósito de cor branca com aspecto de escorrimento, muito aderente e pouco solúvel em
água. Esse depósito, quando em contato com ácido clorídrico, apresenta efervescência. Esses
sais formam-se geralmente em regiões próximas a elementos de concreto ou sobre sua
superfície e, algumas vezes, sobre superfícies de alvenaria.

Manifestações patológicas observadas em revestimentos de argamassa: estudo de caso em conjunto habitacional


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64

Na eflorescência do Tipo II, o sal formado basicamente é o carbonato de cálcio (SOUZA,


1997). Advém da reação do hidróxido de cálcio produzido na hidratação do cimento que, em
presença de água da chuva ou de infiltração de umidade, dissolve-se e deposita-se na
superfície das fachadas. Na evaporação da água, o hidróxido de cálcio reage com o anidrido
carbônico do ar, transformando-se em carbonato de cálcio, composto pouco solúvel em água.
Fenômeno correlato ocorre quando da utilização de argamassas mistas (cimento e cal) com
elevado teor de cal não hidratada que, em contato com a água, também será hidratada e
dissolvida, depositando-se na superfície e carbonatando-se. Neste caso, de modo geral, não
existe qualquer perigo à estabilidade da alvenaria, de forma que os depósitos brancos
formados apresentam apenas um efeito estético negativo, sendo de difícil eliminação
(UEMOTO, 1988).

A eflorescência também pode se manifestar como um depósito de sal branco entre juntas de
alvenaria aparente, que se apresentam fissuradas por efeito de expansão da argamassa de
assentamento. Trata-se de eflorescência do Tipo III, segundo classificação de Uemoto (1988),
cuja ocorrência, entretanto, não é freqüente, podendo incidir tanto em fachadas expostas à
ação de chuva como nas não expostas. Conforme Souza (1997), o sulfato de cálcio é o
responsável pelo fenômeno, que pode ser originário ou do tijolo ou do resultado da reação
entre os sulfatos de sódio e de potássio com a cal do cimento.

Conforme Uemoto (1988), o fenômeno de eflorescência pode ser evitado, tomando-se os


seguintes cuidados:

a) não utilizar materiais e componentes com elevado teor de sais solúveis;

b) não utilizar tijolos com elevado teor de sulfatos, a fim de evitar a formação de
substâncias solúveis em água ou produtos expansivos;

c) em caso de parede em alvenaria aparente, a absorção de água de chuva pelo


tijolo, por capilaridade, pode ser diminuída através de uma pintura
impermeável resistente à exposição em solução salina;

d) quando da execução de alvenaria em período de seca, saturar os tijolos com


água a fim de diminuir a absorção de água de amassamento da argamassa pelo
tijolo, por capilaridade, reduzindo conseqüentemente o risco de reação tijolo-
cimento;
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e) proteger sempre da chuva a alvenaria recém terminada;

f) reduzir ao máximo a penetração de água na alvenaria;

g) evitar infiltração de umidade tanto do solo como da chuva, executando-se boa


vedação e impermeabilização;

h) utilizar argamassa mista, de cimento, cal e areia, de modo a evitar a reação


tijolo-cimento;

i) a lixiviação da cal do cimento pode ser reduzida utilizando-se cimentos que


liberam menor teor de cal na sua hidratação, tais como cimento pozolânico ou
de alto-forno.

Embora, de maneira geral, o fenômeno da eflorescência nos revestimentos resulte apenas em


danos de ordem estética, sua ocorrência é efeito da umidade, que compreende outro problema
mais grave e freqüente em patologia das edificações (BARROS et al., 1997).

3.5 MANCHAS DE UMIDADE, MOFO, BOLOR

Os problemas de umidade, que podem incidir nos componentes construtivos das edificações,
nem sempre têm sua forma de manifestação associada a uma única causa, ocorrendo em geral
um conjunto de causas, sendo uma delas preponderante. Perez (1988) apresenta uma
classificação de acordo com a origem do fenômeno e a forma como se manifesta, indicando
que a umidade incidente nos revestimentos pode ser proveniente:

a) da fase de obras: umidade remanescente nos materiais utilizados na construção,


se mantendo durante um certo período após o término da obra, diminuindo
gradualmente até desaparecer;

b) da absorção e capilaridade dos materiais: absorção da água existente no solo


pelas fundações das paredes e pavimentos, migrando para as fachadas e pisos;

Manifestações patológicas observadas em revestimentos de argamassa: estudo de caso em conjunto habitacional


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66

c) de infiltrações: água da chuva que penetra nas edificações através dos


elementos constituintes de sua envoltória exterior;

d) da condensação: proveniente do vapor de água que se condensa nas superfícies,


ou no interior dos elementos de construção;

e) de eventos acidentais: umidade oriunda de vazamentos do sistema de


distribuição e/ou coleta de águas da edificação.

Sato (1997 apud BARROS et al., 1997) refere que a umidade nas fachadas, na fase de uso da
edificação, é proveniente principalmente das chuvas incidentes, de forma que o acúmulo ou
escoamento de água na superfície ocorre em função dos seguintes fatores:

a) projeto do edifício: o grau de exposição do prédio à chuva, ao vento e à


radiação solar são definidos pelos detalhes específicos para o escoamento das
águas, orientação cardeal e altura da construção;

b) condições climáticas do local da obra: influem na quantidade de água


incidente nas fachadas e no seu grau de secagem;

c) presença de defeitos superficiais: facilitam a penetração de água;

d) constituição e propriedades dos materiais que compõem a fachada;

e) forma geométrica dos componentes da parede: presença de vazios (furos) nos


componentes dificultam a difusão de umidade no interior da parede.

A incidência de umidade constante, principalmente em áreas não expostas ao sol, propicia o


surgimento de mofo ou bolor na superfície que tende a desagregar o revestimento
(CINCOTTO, 1988).

O mofo ou bolor é uma alteração observável macroscopicamente na superfície dos materiais,


sendo uma conseqüência do desenvolvimento de microorganismos pertencentes ao grupo dos
fungos. Promovem a decomposição dos revestimentos através da secreção de enzimas que
quebram moléculas orgânicas complexas até compostos mais simples, que são assimilados e
utilizados no seu desenvolvimento. Em sendo um organismo vivo, os fungos têm seu

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desenvolvimento afetado pelas condições ambientais, sendo a umidade fundamental


(ALUCCI et al., 1988).

Nos revestimentos de fachadas e/ou paredes, o mofo ou bolor causa alteração estética,
formando manchas escuras indesejáveis em tonalidades preta, marrom e verde, ou
ocasionalmente, manchas claras esbranquiçadas ou amareladas. Além dessa questão estética, a
proliferação de mofo ou bolor em edificações pode acarretar em problemas respiratórios aos
moradores, constituindo assunto relevante para a qualidade dos ambientes internos
(SHIRAKAWA, 1995).

A figura 15 apresenta um exemplo da degeneração do revestimento em argamassa devido à


presença constante de umidade.

Figura 15: revestimento em argamassa, com manchas de umidade, em


adiantado processo de degeneração (THOMAZ, 1989)

Barros et al. (1997) destacam que a presença de umidade do ambiente pode favorecer a
umidade dos materiais, todavia, somente a água absorvida por esses é utilizada pelos fungos
para o seu desenvolvimento. Ou seja, a água absorvida é fator condicionante para o
aparecimento e extensão do bolor no revestimento, sendo a temperatura também outro fator
condicionante. Nesse sentido, a umidade de condensação, a ventilação insuficiente e a
permeabilidade do revestimento à umidade exterior, constituem fatores causadores de
umidade, favorecendo o acúmulo de bolor nas superfícies.

Manifestações patológicas observadas em revestimentos de argamassa: estudo de caso em conjunto habitacional


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68

Segundo Alucci et al. (1988), as características do substrato também exercem grande


influência para o desenvolvimento de fungos, sendo a composição química do substrato sobre
o qual o esporo se deposita, fundamental para o êxito da germinação e infecção da superfície.
Situação evidenciada, por exemplo, no desenvolvimento de bolor sobre películas de tinta. O
crescimento sobre a película aumenta a retenção de poeira, que fica fortemente aderida entre
as hifas (filamentos dos fungos), de forma que as partículas podem representar uma fonte
adicional de nutrientes. Nesse sentido, o desenvolvimento de fungos é muito mais intenso
junto a trincas na película de pintura, visto que na região trincada há condições para um maior
acúmulo de poeira.

Apesar dos fungos serem os principais agentes no processo de deterioração dos revestimentos
em edificações, as bactérias e algas também têm sido freqüentemente encontradas em
superfícies interiores e exteriores. Embora as ações das bactérias e algas sejam distintas às
ações dos fungos, a deterioração provocada no revestimento é semelhante na aparência
(BARROS et al., 1997).

3.6 ESPECTRO DE JUNTAS OU “FANTASMAS”

O desenho de linhas de juntas verticais e horizontais no revestimento é denominado espectro


de juntas ou “fantasmas”, tratando-se simplesmente de depósitos diferenciais de poeiras na
superfície. Para Logeais (1989 apud BARROS et al., 1997) a causa mais freqüente da
manifestação é o fenômeno físico conhecido como termoforese. A intensidade de deposição
das poeiras da atmosfera sobre as paredes é função da temperatura superficial dessas paredes,
sendo o depósito tão mais intenso quanto mais baixa a temperatura.

Os “fantasmas” interiores têm origem nas pontes térmicas constituídas pelas juntas, enquanto
os “fantasmas” exteriores ocorrem devido às diferenças de temperatura incidente na face do
revestimento no decorrer do período de secagem, uma vez que a base de aplicação do
revestimento é heterogênea. Ou seja, as juntas de assentamento e os componentes da alvenaria
apresentam diferentes coeficientes de absorção de água, secando, assim, com velocidades
diferentes (LOGEAIS, 1989 apud BARROS et al., 1997).

O escurecimento diferencial da superfície também pode ser decorrente do desenvolvimento


preferencial de fungos nas partes mais úmidas, ou seja, os substratos mais absorventes,
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normalmente os blocos ou a alvenaria. As tintas látex, propícias para pintura de fachadas


externas desde que de boa qualidade e aplicadas em base bem seca e curada, possuem em sua
composição substâncias que são nutrientes de microorganismos que, por sua vez, só se
desenvolvem na presença de umidade excessiva na base. Assim, antes da pintura da fachada a
umidade absorvida pela base deve ser eliminada, podendo ser proveniente de águas da chuva
ou remanescente do concreto e do preparo da argamassa. Há casos ainda em que a pintura
apresenta uma elevada permeabilidade, permitindo a absorção de água da chuva pela base
(blocos ou alvenaria), sendo, em contrapartida, a evaporação lenta dessa água através da
pintura, propiciando a ocorrência dos espectros de juntas (IPT RESPONDE, 2003?).

A figura 16 apresenta um exemplo da incidência da manifestação patológica em fachada


externa de edificação.

Figura 16: incidência de espectro de juntas ou “fantasmas” em fachada


de edificação (LEAL, 2003b)
Manifestações patológicas observadas em revestimentos de argamassa: estudo de caso em conjunto habitacional
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Thomaz (2000), destacando a importância da aplicação de chapisco no revestimento de


fachadas, refere que a ausência do chapisco pode também resultar no aparecimento desta
manifestação patológica, tendo em vista que além de otimizar a aderência entre o
revestimento e a alvenaria, o chapisco visa ainda homogeneizar as condições higroscópicas da
base constituída por materiais diferentes (componentes de alvenaria e argamassa de
assentamento), regularizando a absorção de água.

3.7 MANCHAS DECORRENTES DE CONTAMINAÇÃO ATMOSFÉRICA

O pó, fuligem e outras partículas contaminantes existentes em suspensão na atmosfera, podem


recobrir os revestimentos externos das edificações, principalmente nas médias e grandes
cidades, gerando manchas nas superfícies. A adesão das partículas pode ocorrer desde um
mero apoio sobre a microplataforma, e neste caso pode ser facilmente varrida por um simples
vento, até uma verdadeira aglutinação que torna impossível sua eliminação a não ser
exclusivamente por meios de limpeza mecânica (BAUER, 1997).

Segundo Petrucci (2000), fatores extrínsecos e intrínsecos à edificação interagem no


manchamento de fachadas. Os fatores extrínsecos estão atrelados às condições ambientais
consistindo dos contaminantes atmosféricos e dos agentes climáticos. As emissões de
chaminés industriais (produzindo carvão, hidrocarbonetos, minerais, cinzas, entre outros) e as
emissões de subprodutos de combustão e semicombustão na queima de combustíveis (carvão,
hidrocarbonetos, cinza, mas principalmente, a fuligem), são as principais fontes em áreas
urbanas de contaminantes atmosféricos responsáveis pelas sujidades dos paramentos que, via
de regra, degradam esteticamente as fachadas dos edifícios. Dentre as condições ambientais, o
vento e a chuva são os fenômenos meteorológicos com maior influência na manifestação
patológica de manchamento das fachadas por contaminação atmosférica. Todavia, a
temperatura e a umidade relativa do ar contribuem para a criação de certas condições
ambientais que favorecem ou dificultam a deposição e adesão das partículas.

Os fatores intrínsecos à construção que interagem no manchamento dos paramentos por


contaminação atmosférica compreendem as características dos materiais da superfície dos
revestimentos e as formas (geometria) da fachada. Principalmente a porosidade do material,
bem como a textura e cor da superfície do revestimento, estão envolvidos no fenômeno

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patológico de manchamento por sujidades atmosféricas, sendo o material poroso mais


sensível ao fenômeno. Ademais, a maioria das edificações apresenta algum tipo de
descontinuidade por motivos de ordem estética, construtiva, funcional ou mesmo de
autoproteção, tais como aberturas, molduras, relevos, mudanças de planos, entre outros, de
modo que as formas e proporções gerais destas descontinuidades, ou seja, sua geometria, fará
com que as fachadas se exponham de maneira não uniforme aos agentes ambientais
(PETRUCCI, 2000).

As figuras 17 e 18 apresentam fachadas de edificações com a incidência de manchamentos


por contaminação atmosférica.

Figura 17: manchamento por contaminação atmosférica com


parapeitos lavados irregularmente pela ação da água da chuva
escorrida (PETRUCCI, 2000)

Manifestações patológicas observadas em revestimentos de argamassa: estudo de caso em conjunto habitacional


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Figura 18: fachada sul com acentuado manchamento em função da


baixa evaporação de umidade que estimula a adesão de contaminantes
atmosféricos (PETRUCCI, 2000)

3.8 CORROSÃO QUÍMICA POR SUBSTÂNCIAS AGRESSIVAS

Bauer (1997) classifica as substâncias agressivas aos revestimentos de argamassa em


basicamente dois grupos: salinos e gasosos. Enquanto os sais são incorporados aos materiais
principalmente através da água absorvida por capilaridade, os gasosos podem penetrar
dissolvidos na água da chuva ou na forma de gases por difusão. Contaminação ambiental por
substâncias agressivas que resultam em danos na forma de corrosão química das argamassas
de revestimento, ou na perda de isolamento térmico por umedecimento.

3.9 QUADRO RESUMO DAS MANIFESTAÇÕES

Os quadros 1 a 3 apresentam, resumidamente, as manifestações patológicas em revestimentos


de argamassa catalogadas pelo presente trabalho, relacionando-as à sintomatologia, fase do
processo construtivo e causas prováveis.

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Quadro 1: resumo das manifestações patológicas para o sub-grupo


descolamentos
Manifestações Sintomatologia Fase processo Causas prováveis que atuam
construtivo com ou sem simultaneidade
Descolamento com Superfície do reboco descola do Qualidade dos - Hidratação retardada do óxido de
empolamento emboço, formando bolhas que materiais magnésio da cal.
aumentam progressivamente. - Existência de cal parcialmente
extinta/hidratada.
Reboco com som cavo sob Externa ao - Infiltração de umidade.
percussão. revestimento
Descolamento em A placa descolada apresenta-se Modo de aplicação - Argamassa aplicada em camada muito
placas endurecida, quebrando com do revestimento espessa (maior que 2 cm).
dificuldade. - Superfície da base muito lisa ou
impregnada de substância hidrófuga.
Placa descolada endurecida, mas - Base de aplicação impregnada de pó
quebradiça. e/ou resíduos.
- Molhagem deficiente da base.
Revestimento com som cavo sob - Ausência de chapisco.
percussão. - Acabamento superficial inadequado da
camada intermediária.
- Aplicação de camadas de argamassa
interpostas com resistências inadequadas.
- Execução inadequada ao chapar a
argamassa com pouca força.
Traço da argamassa - Argamassa muito rica em cimento,
quando placa descolada rija.
- Argamassa magra, quando placa
descolada quebradiça.
- Chapisco com areia fina.
Qualidade dos - Superfície de contato com placas de
materiais mica.
Externa ao - Grandes variações de temperatura.
revestimento
Descolamento com Argamassa friável, que se Modo de aplicação - Hidratação inadequada do cimento da
pulverulência esfarela/desagrega ao ser do revestimento argamassa, molhagem deficiente da base
pressionada manualmente. ou aplicação de argamassa em condições
de alta temperatura.
Película da tinta destaca-se - Argamassa utilizada após o tempo de
juntamente com a argamassa. pega do cimento.
- Reboco aplicado em camada muito
espessa.
Reboco com som cavo sob Traço da argamassa - Proporção inadequada entre
percussão. aglomerante e agregado.
- Argamassa pobre em aglomerante.
- Excesso de finos no agregado.
- Traço excessivamente rico em cal.
Qualidade dos - Excesso de materiais pulverulentos
materiais e/ou torrões de argila na areia.
- Emprego de substitutos da cal sem
propriedades de aglomerante.
- Demasiado tempo de estocagem, ou
estocagem inadequada da argamassa,
comprometendo sua qualidade.
- Emprego de argamassa com cimento e
adição de gesso, com reação expansiva
pela formação de etringita.
Pintura - Pinturas prematuras que impedem a
completa carbonatação da cal.
(fonte: baseado em CINCOTTO, 1988; BAUER, 1997; BARROS et al., 1997)

Manifestações patológicas observadas em revestimentos de argamassa: estudo de caso em conjunto habitacional


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Quadro 2: resumo das manifestações patológicas para os sub-grupos


vesículas e fissuras
Manifestações Sintomatologia Fase processo Causas prováveis que atuam
construtivo com ou sem simultaneidade
Vesículas Empolamento da pintura, com Qualidade dos - Hidratação retardada do óxido de cálcio
partes internas das empolas na materiais da cal, quando empolas na cor branca.
cor branca, preta ou vermelho - Presença de pirita ou de matéria
acastanhada. orgânica na areia, quando empolas na cor
preta.
Empolamento da pintura com - Presença de concreções ferruginosas na
bolhas contendo umidade no areia, quando empolas na cor vermelho
interior. acastanhada.
Pintura - Aplicação prematura de tinta
impermeável, quando bolhas contêm
umidade.
Fissuras mapeadas Fissuras com formas variadas e Modo de aplicação - Desempeno excessivo ou precoce.
distribuídas por toda a superfície do revestimento - Desidratação precoce da argamassa
do revestimento. quando aplicada em dias muito quentes
ou secos.
- Perda de água de amassamento por
sucção da base.
- Excessivo número e/ou espessura de
camadas.
- Cura deficiente de uma camada ou falta
de cura.
Traço da argamassa - Consumo elevado de cimento.
- Elevado teor de finos na areia.
- Água de amassamento em excesso.
- Argamassa com baixa retenção de
água.
Qualidade dos - Utilização de aditivos substitutivos da
materiais cal.
Pintura - Movimentações higroscópicas
associadas às próprias movimentações
térmicas do revestimento, quando do
término da vida útil da pintura.
Fissuras horizontais Incidem ao longo de toda a Externas ao - Expansão da argamassa de
parede. revestimento assentamento por hidratação retardada do
óxido de magnésio da cal, por ataque de
Podem resultar em sulfatos, ou devido à presença de argilo-
descolamento do revestimento minerais expansivos no agregado.
em placas, com som cavo sob
percussão.
Outras fissuras Fissuras sobrepostas ao encontro Externas ao - Ausência de procedimentos adequados
lineares de diferentes materiais da base. revestimento na execução de interfaces entre pilar e
alvenaria, topo de alvenaria e face
inferior de lajes/vigas, e no revestimento
sobreposto em juntas de dilatação.
(fonte: baseado em CINCOTTO, 1988; THOMAZ, 1989; JOHN, 1995; MITIDIERI FILHO, 1995b;
BAUER, 1997; BARROS et al., 1997; THOMAZ, 2001b; MASUERO, 2001; LEAL, 2003b)

Gustavo Tramontina Segat -Trabalho de conclusão -Mestrado Profissionalizante-Porto Alegre: EE/UFRGS, 2005
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Quadro 3: resumo das manifestações patológicas para os sub-grupos


eflorescências, manchas de umidade, espectro de juntas, manchas por
contaminação atmosférica e corrosão química
Manifestações Sintomatologia Fase processo Causas prováveis que atuam
construtivo com ou sem simultaneidade
Eflorescências Manchas de umidade e presença Qualidade dos - Umidade constante.
de pó branco acumulado na materiais - Tipo I: sais solúveis podem ser
superfície. e/ou provenientes de tijolos, de cimentos, da
Externas ao reação química entre compostos do tijolo
Tipo I – depósito de sal branco, revestimento e o cimento, da água de amassamento,
pulverulento, muito solúvel em dos agregados, da poluição atmosférica,
água. Pode ser abundante e em e de substâncias contidas em solos
forma de véu. adensados ou contaminados por produtos
químicos.
Tipo II – depósito de cor branca - Tipo II: sal formado é o carbonato de
com aspecto de escorrimento, cálcio que advém da cal livre liberada na
muito aderente e pouco solúvel hidratação do cimento, ou do elevado
em água. teor de cal não hidratada em argamassas
mistas.
Tipo III – depósito de sal branco - Tipo III: sal formado é o sulfato de
entre juntas de alvenaria cálcio que pode ser originário do tijolo
aparente. ou da reação entre os sulfatos de sódio e
potássio com a cal do cimento.
Manchas de Manchas escuras em tonalidades Externas ao - Umidade constante que pode ser
umidade, mofo, preta, marrom e verde, ou revestimento proveniente da fase de obras, da
bolor ocasionalmente, manchas claras absorção e capilaridade dos materiais, de
esbranquiçadas ou amareladas. infiltrações, da condensação e de eventos
acidentais.
Revestimento em desagregação. - Área não exposta ao sol.
Espectro de juntas Desenho de linhas verticais e Modo de aplicação - Ausência de chapisco.
ou “fantasmas” horizontais no revestimento. do revestimento - Camada de revestimento com espessura
reduzida.
Depósitos diferenciais de poeira Traço da argamassa - Traço inadequado.
na superfície.

Desenvolvimento preferencial Pintura - Pintura com elevada permeabilidade.


de fungos nas partes mais - Pintura antes da eliminação da umidade
úmidas, com substratos mais da base.
absorventes
Manchas Depósito na superfície de pó, Externas ao - Fatores que influenciam o
decorrentes de fuligem e outras partículas revestimento manchamento: vento, chuva direta,
contaminação existentes em suspensão na lâmina d’água escorrida, temperatura,
atmosférica atmosfera. porosidade do material, textura
superficial, formas da fachada, cor dos
materiais e poluição do entorno.
Corrosão química Danos na forma de corrosão Externas ao - Sais agressivos incorporados aos
por agentes mecânica e química das revestimento materiais por capilaridade.
agressivos argamassas. - Gases que podem penetrar na
argamassa dissolvidos na água da chuva
ou na forma de gases por difusão.
(fonte: baseado em CINCOTTO, 1988; PEREZ, 1988; UEMOTO, 1988; SHIRAKAWA,
1995; BAUER, 1997; BARROS et al., 1997; THOMAZ, 2000; IPT RESPONDE, 2003?)

Manifestações patológicas observadas em revestimentos de argamassa: estudo de caso em conjunto habitacional


popular na cidade de Caxias do Sul (RS)

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