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Na maioria das vezes, diante dos prazos escassos e da necessidade de reduzir o tempo de
execução no que for possível, o sistema sacrificado na obra é o revestimento, não sendo
tomados os cuidados necessários durante o preparo da superfície, dosagem e aplicação das
argamassas. Leal (2003b) refere que o revestimento nem sempre é encarado com a devida
preocupação pelos engenheiros. Na realidade já foram verificados problemas originados em
todos os agentes envolvidos no sistema, incluindo projetistas, fabricantes de argamassa
industrializada, construtores e aplicadores, o que, via de regra, faz com que um tente repassar
a responsabilidade ao outro.
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pode significar equivocadamente para o usuário que a obra foi, como um todo, mal construída
(LEAL, 2003b).
Thomaz (1996a) alerta que simples movimentações térmicas podem realçar problemas
congênitos do revestimento, surgindo uma falsa idéia de envelhecimento. Na verdade, o
principal agente de deterioração das argamassas, depois de endurecida, é a água.
Revestimentos convenientemente protegidos contra a umidade tendem a durar infinitamente,
como atestam construções milenares existentes. Tratando-se de um revestimento de
argamassa mista (cimento, cal hidratada e areia), os compostos resultantes da hidratação e
endurecimento são quimicamente estáveis nas condições normais de utilização, não sofrendo
nenhum processo de envelhecimento natural, como pode ocorrer, por exemplo, com plásticos
e pinturas através da ruptura de cadeias.
como resultados de uma ou mais causas, cuja análise de origem permite classificá-las em
cinco grupos característicos (figura 5):
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QUALIDADE TRAÇO DA
DOS MATERIAIS ARGAMASSA
- agregados, cal e - argamassas de
cimento cimento e cal
REVESTIMENTO
DE ARGAMASSA:
EMBOÇO/REBOCO
CAUSAS EXTERNAS
- umidade, expansão da
argamassa assentamento
Os danos podem ser analisados com base na sintomatologia aparente, condição que facilita o
discernimento das causas geradoras. Conforme relacionam Cincotto (1988), Bauer (1997) e
Masuero (2001), as principais manifestações patológicas em revestimentos de argamassa
consistem em: descolamentos, vesículas, fissuras, eflorescências, manchas decorrentes da
umidade e da contaminação atmosférica, e corrosão mecânica e química por substâncias
agressivas.
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3.1 DESCOLAMENTOS
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Bauer (1997) caracteriza o descolamento em placas como uma deficiência de aderência entre
as camadas de argamassa ou destas com a base, destacando ainda outras possíveis causas:
chapisco preparado com areia fina; molhagem deficiente da base comprometendo a hidratação
do cimento; base de aplicação impregnada de pó e/ou resíduos; acabamento superficial
inadequado da camada intermediária; aplicação de camadas de argamassas com resistências
inadequadas interpostas, devendo a resistência ser reduzida no sentido da base para o material
de acabamento.
Bauer (1996 apud BARROS et al., 1997) afirma também que as espessuras excessivas da
argamassa, superiores a 2 cm, propiciam em função da retração natural, a ocorrência de
tensões elevadas de tração entre a base e o chapisco, podendo provocar o seu descolamento.
Outro fator gerador de tensões corresponde às grandes variações de temperatura, que podem
gerar tensões de cisalhamento na interface entre argamassa e base, capazes de provocar o
descolamento do revestimento.
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Bauer (1997) e Cincotto (1988) relacionam como principais causas do descolamento com
pulverulência, o excesso de materiais pulverulentos e/ou torrões de argila no agregado, o traço
pobre em aglomerantes ou excessivamente rico em cal, e a ausência da completa carbonatação
da cal pela execução de reboco em camada muito espessa ou pela aplicação de pinturas
prematuras.
Outras prováveis causas das argamassas friáveis, que podem atuar com ou sem
simultaneidade, são destacadas por Bauer (1997): emprego de substitutos da cal sem
propriedades de aglomerante; hidratação inadequada do cimento da argamassa; argamassa
utilizada após o tempo de pega do cimento; tempo de estocagem ou estocagem inadequada,
comprometendo a qualidade da argamassa.
3.2 VESÍCULAS
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Cincotto (1988) relaciona os aspectos observados no interior das vesículas com a anomalia ou
tipo de impureza existente nos agregados. Quando o empolamento da pintura apresenta as
partes internas das empolas na cor branca, indica a ocorrência de hidratação retardada de
óxido de cálcio da cal. Quando na cor preta, evidencia a presença de pirita ou de matéria
orgânica na areia. Quando na cor vermelha acastanhada, indica a presença de concreções
ferruginosas na areia. E quando as bolhas contêm umidade no interior, é caracterizada a
aplicação prematura de tinta impermeável.
3.3 FISSURAS
Nas argamassas de revestimento, sem que haja movimentação ou fissuração da base (estrutura
de concreto ou alvenaria), a incidência de fissuras geralmente está condicionada a fatores
relativos à execução do revestimento argamassado, solicitações higrotérmicas, e
principalmente por retração hidráulica da argamassa (BAUER, 1997). Conforme Cincotto
(1988), o revestimento pode ainda apresentar fissuras decorrentes das reações expansivas da
argamassa de assentamento por hidratação retardada do óxido de magnésio da cal ou por
ataque de sulfatos.
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Scartezini (2002) define retração como um fenômeno físico que ocorre com os materiais de
base cimentícia, no qual o volume inicialmente ocupado pelo material no estado plástico
diminui de acordo com as condições de umidade do sistema e a evolução da matriz de
cimento. A retração por secagem, associada à baixa resistência à tração, constitui
provavelmente a maior desvantagem dos materiais à base de cimento Portland, principalmente
se aplicados em grandes superfícies expostas que tenham restrição quanto a este movimento.
Tais características dos compostos de cimento possuem ligação direta com a ocorrência de
fissuração que, além de comprometer a estética, pode afetar a durabilidade do revestimento de
argamassa como um todo.
Em Scartezini (2002) é relacionada ainda a retração térmica, que ocorre pela diminuição de
temperatura após pico, devido ao acúmulo de calor de hidratação ou aquecimento por
exposição.
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Segundo Barros et al. (1997), as fissuras mapeadas por retração hidráulica muitas vezes não
são visíveis, a não ser que sejam molhadas e a água, penetrando por capilaridade, assinale sua
trajetória. A ocorrência de umedecimentos sucessivos pode resultar em mudanças na
tonalidade, permitindo a visualização das fissuras mesmo com o paramento seco. Tal
fenômeno tem origem na água, com cal livre, que sai das microfissuras, formando carbonato
de cálcio quando em contato com o ar, ficando as fissuras esbranquiçadas ou escurecidas se
ocorre deposição de fuligem.
Thomaz (1989) refere que as fissuras induzidas por movimentações térmicas no corpo da
argamassa de revestimento, geralmente são regularmente distribuídas e com abertura bastante
reduzidas, constituindo uma espécie de gretagem, assemelhando-se às fissuras provocadas por
retração de secagem.
Thomaz (1989) destaca que as fissuras horizontais, causadas pela hidratação retardada da cal
da argamassa de assentamento, ocorrem preferencialmente nas proximidades do topo da
parede, onde são menores os esforços de compressão do peso próprio. Caracteriza também as
fissuras causadas por ataque por sulfatos como semelhantes àquelas que ocorrem pela retração
da argamassa de revestimento, diferenciando-se pelas aberturas mais pronunciadas,
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O encontro entre pilar e alvenaria, ou entre o topo da alvenaria e a face inferior de lajes, cintas
ou vigas de concreto, principalmente no último pavimento das construções, compreendem
interfaces entre estrutura e alvenaria que freqüentemente podem resultar em fissuras no
revestimento. As lajes de cobertura são mais suscetíveis às movimentações térmicas, de forma
que ligações demasiadamente rígidas entre alvenaria e concreto propiciam o destacamento
entre os diferentes materiais, ficando as regiões do encunhamento, e das últimas juntas de
assentamento da alvenaria, mais sujeitas à fissuração. Para evitar a manifestação patológica,
Mitidieri Filho (1995b) preconiza a colocação de junta deslizante, formada com neoprene ou
feltro betumado, quando as lajes são simplesmente apoiadas em vigas ou cintas de amarração.
No entanto, a situação mais comum em edifícios é a concretagem simultânea de lajes e vigas,
formando um conjunto único, indicando então as seguintes soluções: emprego de argamassa
com baixo módulo de deformação no encontro com a viga, se possível com adição de resina
acrílica; ou adoção de uma junta de movimentação no encontro com a viga, tratando essa
junta contra a penetração de água e também do ponto de vista arquitetônico. Salienta ainda
que o sombreamento da última laje contribui para a minimização dos efeitos térmicos,
principalmente se o átrio for ventilado.
Para evitar o destacamento entre pilar e alvenaria, Mitidieri Filho (1993) indica: fixação de
armadura nos pilares, tipo “ferros-cabelo”, regularmente espaçados e devidamente ancorados
nas juntas de assentamento da alvenaria, ou dobrados para o interior dos blocos vazados, com
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Thomaz (1996b) relaciona alguns aspectos peculiares que auxiliam a identificação de fissuras
causadas por dilatações térmicas:
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Bauer (1996 apud BARROS et al., 1997) aponta outra causa comum de fissuração nos
revestimentos, referindo acerca da execução de forma contínua do revestimento sobre juntas
de dilatação da estrutura, podendo inclusive ocasionar o descolamento da argamassa na região
de sobreposição.
3.4 EFLORESCÊNCIAS
Souza (1997) refere ainda que a água que infiltra através dos poros das argamassas, atingindo
as diversas camadas, reage com íons livres podendo gerar corrosão das argamassas. Esse
processo de deterioração superficial da argamassa é causado pela exposição ao longo do
tempo aos agentes agressivos presentes na poluição, tais como anidrido carbônico e anidrido
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sulfuroso, pela ação da umidade do ar em regiões litorâneas, ou pela ação dos íons cloro que
têm origem na lavagem dos revestimentos com ácido clorídrico.
Fiorito (1994) refere que, para a ocorrência de eflorescência, é determinante haver a presença
e a ação dissolvente da água, não sendo um exagero afirmar que sem água não haverá
eflorescência. Três fatores igualmente importantes devem existir concomitantemente para que
ocorram as eflorescências: o teor de sais solúveis presentes nos materiais ou componentes, a
presença de água, e a pressão hidrostática para propiciar a migração da solução para a
superfície. Se um desses três fatores for eliminado não ocorrerá o fenômeno (UEMOTO,
1988). Beichel (1997) ressalta ainda que não há problemas quando os sais estão dissolvidos,
ocorrendo eflorescência somente quando a água evapora e os sais se cristalizam.
Há, contudo, casos em que a solução salina não chega a se cristalizar, como em ambientes
constantemente úmidos, ou ainda quando da presença de sais de difícil secagem, como o
cloreto de cálcio, carbonato de potássio e silicatos alcalinos. Esse tipo de eflorescência
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aparecerá como uma exsudação na superfície, mais ou menos viscosa conforme sua
composição e concentração (BARROS et al., 1997).
Barros et al. (1997) ressaltam também que a ação dos sais solúveis do cimento Portland,
principal aglomerante das argamassas, é importante fonte de eflorescência nos revestimentos,
devendo-se buscar minimizar o seu emprego.
A eflorescência do Tipo II, segundo Barros et al. (1997), é menos comum, caracterizando-se
pelo depósito de cor branca com aspecto de escorrimento, muito aderente e pouco solúvel em
água. Esse depósito, quando em contato com ácido clorídrico, apresenta efervescência. Esses
sais formam-se geralmente em regiões próximas a elementos de concreto ou sobre sua
superfície e, algumas vezes, sobre superfícies de alvenaria.
A eflorescência também pode se manifestar como um depósito de sal branco entre juntas de
alvenaria aparente, que se apresentam fissuradas por efeito de expansão da argamassa de
assentamento. Trata-se de eflorescência do Tipo III, segundo classificação de Uemoto (1988),
cuja ocorrência, entretanto, não é freqüente, podendo incidir tanto em fachadas expostas à
ação de chuva como nas não expostas. Conforme Souza (1997), o sulfato de cálcio é o
responsável pelo fenômeno, que pode ser originário ou do tijolo ou do resultado da reação
entre os sulfatos de sódio e de potássio com a cal do cimento.
b) não utilizar tijolos com elevado teor de sulfatos, a fim de evitar a formação de
substâncias solúveis em água ou produtos expansivos;
Os problemas de umidade, que podem incidir nos componentes construtivos das edificações,
nem sempre têm sua forma de manifestação associada a uma única causa, ocorrendo em geral
um conjunto de causas, sendo uma delas preponderante. Perez (1988) apresenta uma
classificação de acordo com a origem do fenômeno e a forma como se manifesta, indicando
que a umidade incidente nos revestimentos pode ser proveniente:
Sato (1997 apud BARROS et al., 1997) refere que a umidade nas fachadas, na fase de uso da
edificação, é proveniente principalmente das chuvas incidentes, de forma que o acúmulo ou
escoamento de água na superfície ocorre em função dos seguintes fatores:
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Nos revestimentos de fachadas e/ou paredes, o mofo ou bolor causa alteração estética,
formando manchas escuras indesejáveis em tonalidades preta, marrom e verde, ou
ocasionalmente, manchas claras esbranquiçadas ou amareladas. Além dessa questão estética, a
proliferação de mofo ou bolor em edificações pode acarretar em problemas respiratórios aos
moradores, constituindo assunto relevante para a qualidade dos ambientes internos
(SHIRAKAWA, 1995).
Barros et al. (1997) destacam que a presença de umidade do ambiente pode favorecer a
umidade dos materiais, todavia, somente a água absorvida por esses é utilizada pelos fungos
para o seu desenvolvimento. Ou seja, a água absorvida é fator condicionante para o
aparecimento e extensão do bolor no revestimento, sendo a temperatura também outro fator
condicionante. Nesse sentido, a umidade de condensação, a ventilação insuficiente e a
permeabilidade do revestimento à umidade exterior, constituem fatores causadores de
umidade, favorecendo o acúmulo de bolor nas superfícies.
Apesar dos fungos serem os principais agentes no processo de deterioração dos revestimentos
em edificações, as bactérias e algas também têm sido freqüentemente encontradas em
superfícies interiores e exteriores. Embora as ações das bactérias e algas sejam distintas às
ações dos fungos, a deterioração provocada no revestimento é semelhante na aparência
(BARROS et al., 1997).
Os “fantasmas” interiores têm origem nas pontes térmicas constituídas pelas juntas, enquanto
os “fantasmas” exteriores ocorrem devido às diferenças de temperatura incidente na face do
revestimento no decorrer do período de secagem, uma vez que a base de aplicação do
revestimento é heterogênea. Ou seja, as juntas de assentamento e os componentes da alvenaria
apresentam diferentes coeficientes de absorção de água, secando, assim, com velocidades
diferentes (LOGEAIS, 1989 apud BARROS et al., 1997).
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