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O reizinho O reizinho devia ser coroado no dia seguinte. Os corte- sios retiraram-se, curvando as cabegas até 0 chao, e ele fi- cou sozinho. Tinha 16 anos; respirou, aliviado, quando os homens solenes partiram. Reclinando a cabega nas almofadas do leito, ali ficou de olhos acesos, como um bicho selvagem apanhado na armadilha. Nascera da filha dnica do rei, que se casara em segredo com um pobre estrangeiro, mtisico ou pintor. Fora ar- rebatado do leito, enquanto a mae dormia, e dado a criar a um casal de camponeses sem filhos, habitantes da flo- resta. O pai desaparecera do reino; a mae morrera logo ao despertar, de dot, de peste ou envenenada, nao se sabe como, Quando o escudeiro desceu do cavalo e entregou a crianga aos camponeses, a filha do rei baixava sepultura de um cemitério isolado. Ali também repousava, diziam, um jovem de rara beleza, as mos atadas atras das costas € © peito retalhado por ferimentos. Essa, pelo menos, é a histéria que uns contavam aos outros, em segredo. O certo é que o velho rei, antes de SI Principe Feliz ¢ outros contos morrer, movido pelo remorso, ou para evitar que uma pes- soa de outra linhagem ocupasse © trono, mandara buscar © neto, reconhecendo-o como seu sucessor na Ptesenga dos conselheiros. O menino demonstrou desde logo intensa paixio pelas coisas belas; isso exerceria grande influéncia em sua vida, Deu gritos de alegria ao ver os trajes suntuosos ¢ as jéias que Ihe eram destinadas. Desfez-se com um prazer feroz da grosseira tunica de couro ¢ da aspera capa de pele de carneiro. As vezes, é certo, sentia saudade da liberdade na flores- ta, e aborrecia-se com os rituais interminaveis da corte; mas o maravilhoso palacio, de que se tornara senhor, pare- cia-lhe um mundo novo, ctiado para ele. Logo que podia, fugia das audiéncias ¢ precipitando-se pela escadaria cin- tilante, ia de sala em sala, de corredor a corredor, como quem procura encontrar na beleza um alivio para a dor ou uma espécie de cura para uma doenga estranha. Contavam-se muitas histérias a respeito dele. Dizia-se que fora surpreendido ajoclhado diante de um quacro, trazido de Veneza, cujo tema parecia ser a adoragio de deuses desconhecidos. De outra vez desapareceu, ¢ sé foi encontrado seis horas depois, extasiado, defronte de uma jOia, que trazia esculpida a imagem de um jovem deus da Grécia. E fora visto também pousando os labios na face de marmore de uma estdtua antiga. Tudo o que era raro e Ptecioso o fascinava. Enviou mer- cadores em todas as direcdes para que comprassem 0 im- bar, a Curquesa verde, os tapetes da Pérsia, os marmores da India, as opalinas, o sindalo, o esmalte azul. Sua maior Preocupacio era o traje que devia usar ao set coroado, tecido de ouro, coroa cravejada de rubis e cetto 52 O reizinho coberto de pérolas. Artifices trabalharam noite ¢ dia; pe- dras preciosas foram procuradas em todo o mundo. Naquela noite, reclinado no Ieito, o reizinho imagina- ya-se no altar-mor da catedral, vestido na deslumbrante roupagem de soberano. Depois, levantou-se e¢ olhou pelo aposento imerso cm penumbra. Das paredes pendiam ri- cas tapegarias representando o Triunfo da Beleza. Os mé- veis eram de gata ¢ lapis-lazili com painéis de mosaico dourado. Os vasos cram de cristal e énix. Na colcha de seda da cama estavam bordadas papoulas palidas, como se tivessem caido de mios sonolentas. Sobre a mesma havia uma taca de ametista. Via-se 14 fora a imensa ctipula da catedral. Viam-se tam- bém as sentinelas fatigadas que iam e vinham, na platafor- ma enevoada, junto ao rio. Mais longe, no pomar, cantava um rouxinol. Pela janela aberta chegava um perfume de jasmim. O reizinho deixou os dedos correrem pelas cordas de um alatide. Pesavam-lhe as palpebras. Nunca sentira tio intensamente a magia ¢ o mistétio das coisas belas. A meia-noite, depois que os pajens o despiram cerimo- niosamente de suas ricas roupagens, adormeceu. E teve um sonho assim: Estava em um soto comprido e baixo, onde se ouvia o barulho de numerosos teares. Pelas janelas gradeadas en- trava sé um pouco da luz do sol, mostrando-lhe as ma- gras figuras dos tecelées, curvados no trabalho. Criangas doentias agachavam-se sob as imensas vigas, os rostos marcados pela fome, as mios trémulas e descarnadas. Sentadas a um canto, mulheres macilentas costuravam. O cheiro era repugnante e o ar, irrespiravel. As paredes umi- das gotejavam. 53 O Principe Feliz ¢ outros contos O reizinho aproximou-se dos teceldes. Um deles per. guntou-lhe, com raiva — Por que esta me olhando? Deve ser um espiio do chefe. — Quem é 0 seu chefe? — perguntou o reizinho, — O nosso chefe! — replicou 0 tecelio com amargura, — E um homem igual a mim. Com uma tinica diferen, ga: ele usa roupas de luxo, e eu ando todo esfarrapado; e, enquanto passo fome, ele passa mal por excesso de comida, — A terra é livre — disse 0 reizinho —, e vocé nio é escravo de ninguém. — Na guerra — respondeu o tecelo —, os fortes es- cravizam os fracos; na paz, os ricos escravizam os pobres. Temos de trabalhar para viver, mas os mesquinhos salarios que nos dao levam 4 morte. Damos duro o dia inteiro, en- quanto eles juntam ouro nos cofres. Nossos filhos defi- nham antes do tempo; as fisionomias dos que amamos tornam-se duras e envelhecidas. Pisamos as uvas e os ou- tros bebem o vinho. Semeamos o trigo e precisamos de pio. Embora ninguém veja as nossas correntes, continuamos escravos... — Isso acontece a todos? — A todos! — respondeu o homem. — Com os jovens € os adultos, com os homens e as mulheres, com as crian- gas € os velhinhos. Os comerciantes nos exploram. O vi- gario passa por nés, no alto de seu cavalo, rezando 0 tetso. Ninguém se preocupa conosco, A pobreza arrasta-se em nossas vielas sombrias, com seus olhos famintos, acom- panhada pela falta de educagio, Quem nos acorda de ma nhi é a miséria, e quem dorme conosco, em nossa cama, ¢ a vergonha. Mas isso pouco lhe importa. Vocé nio ¢ dos nossos; pode-se ler a felicidade no seu rosto. 3 ; O reizinho E retomou o trabalho, de cara fechada. O reizinho no- tou que o fio que ele tecia era de ouro. Horrorizado, per- guntou-lhe: — Que roupa é esta? — E 0 traje da coroacio do rei. O jovem deu um grito e, despertando, viu que estava no leito. Uma lua enorme andava no céu escuro. E dormiu outra vez ¢ sonhou: Viajava agora numa galera, movida a remo por cem es- cravos. Sobre um tapete, a seu lado, estava sentado 0 co- mandante. Era negro, usava um turbante escarlate e gran- des argolas de prata pendiam de suas orelhas; segurava nas mios uma balanga de marfim. Tangas esfarrapadas cobriam os escravos, cada um de- les acorrentado ao vizinho. O sol batia-Ihes em cheio. Chicotadas fustigavam os remadores, que retesavam os bragos esqueléticos, lutando contra a forga das aguas. Chegaram por fim a uma pequena enseada. Trés 4rabes apareceram na praia, disparando flechas contra a galera. Respondendo, o comandante conseguiu atingir um deles na garganta, ¢ os outros dois fugiram. Envolta em um véu amarelo, uma mulher passou a contemplar com tristeza 0 guerreiro morto. Assim que deitaram ancora € arriaram as velas, os ma- rinheiros trouxeram do porao uma comprida escada de corda, cheia de pesos de chumbo. O comandante atirou a escada ao mar, prendendo as pontas em dois ganchos de ferro. Os marinheiros agarraram © mais jover dos escra- vos, tiraram-lhe as correntes, taparam-lh riz e os ouvidos ¢ amarraram uma grande pedi cintura. © infeliz desceu a escada e desapareceu no mat. e com cera o na- ra em sua 55 OP: \cipe Feliz ¢ outros contos Na proa, um homem procurava enfeitigar os tubardes, hp tendo em um tambor. Passado algum tempo, 0 escravo surgiu da Agua, oft. gante, ¢ subiu a escada, trazendo uma pérola na mio di- reita. Os marinheiros agarraram a pérola e 0 obrigaram a descer outra vez. Os outros escravos dormiam, fatigados, sobre os remos. As vezes, 0 mergulhador voltava a superficie, sempre com uma pérola. O comandante, depois de pesa-la, guar- dava-a em um saquinho de couro verde. O reizinho tentou falar, mas sua lingua parecia colada ao céu da boca. Os marinheiros discutiam. Duas aves re- voavam em redor da galera. O mergulhador reapareceu pela tiltima vez, trazendo uma pérola linda, redonda como a lua cheia. Mas o rosto dele estava palido; quando se deitou no convés, o sangue brotou-lhe do nariz e dos ouvidos. Teve um estremeci- mento e ficou imével. Os marinheiros, com a maior indi- ferenga, atiraram o corpo do mergulhador ao mar. Rindo, 0 comandante arrebatou a pérola, curvando-se em uma reveréncia: — Esta enfeitaré o cetro do nosso reizinho! — e fez um gesto para que os marinheiros levantassem a Ancora. O reizinho deu um grito e despertou. No céu, os dedos da aurora iam apagando as tiltimas estrelas. E de novo adormeceu e teve este sonho: Andava ao acaso por uma floresta sombria, cheia de frutos estranhos e lindas flores venenosas. As serpent silvavam em redor dele; Papagaios de cores viv algazarra nas 4rvores, Tartarugas enormes dormiam na lama tépida, 56 aa | on nce npg nnn O teizinho Atingindo a orla da floresta, viu uma multidio traba- Ihando no Ieito seco de um rio. Uns abriam fundos bura- cos no chao e entravam neles. Outros quebravam as ro- chas com picaretas. Chamavam uns pelos outros, todos ativos como formigas. Da escuridio de uma caverna, duas figuras os vigiavam: A Morte ¢ a Avareza. Disse a primeir — Estou cansada. Se vocé me der uma terga parte de- les, vou-me embora. Mas a Avareza abanou a cabega: — Nio. Sio meus servos. — Que é isso em sua mao? — perguntou a outra. — Trés graos de trigo. — Quero um. Vou planti-lo em minha terra. E vou-me embora. — Nao Ihe dou nenhum — disse a Avareza, esconden- do a mio na prega do vestido. ‘A Morte, rindo, apanhou um pouco da Agua do rio com uma vasilha; e desta surgiu a Maléria. Avangou depois através da multido e um terco dos homens caiu morto. Quando a Avareza viu que a terga parte dos operdrios tinha morrido, bateu no peito e chorou, gritando bem alto: — Vocé matou um tergo dos meus servos. V4-se em- bora. HA guerra nas montanhas ¢ os reis de ambos os la- dos precisam de vocé. V4 e nao volte nunca mais. — S6 irei — respondeu a Morte — se vocé me der um grao de trigo. Mas a Avareza fechou as mios e cerrou os dentes. — Nio lhe darei nada — resmungou. E a Morte, rindo, atirou uma pedra escura na floresta; ede la saiu a Febre, vestida de fogo, avangando para a mul- tidao; morriam todos nos quais ela tocava. 57 O Principe Feliz. ¢ outros contos A Avareza ficou trémula, cobrindo-se de cinzas, — Como vocé é cruel! — exclamou. — Ha fome ng {india ¢ as cisternas dos caminhos esto secas. Ha fome na Africa ¢ os gafanhotos invadiram as cidades, V4 para junto dos que precisam de vocé e me deixe em paz. —— S6 se me deres um grao de trigo — respondeu a Morte. _— Nao lhe darei nada! — repetiu a Avareza. A Morte riu de novo e assoviou com os dedos. Uma mulher apareceu voando pelos ares. Na sua testa estava es- crita a palavra “Peste” ¢ um bando de abutres revoava em torno dela. A sombra de suas asas cobriu o vale, e todos morreram. A Avareza fugiu, guinchando como um rato; a Morte montou em seu cavalo e saiu a galope, mais veloz que o vento. No fundo lodoso do vale comesaram a rastejar mons- tros horriveis, cobertos de escamas. Os chacais chegaram de focinho erguido, farejando. O reizinho disse, chorando: — Que faziam aqui aqueles homens? — Procuravam rubis para a coroa do rei — respondeu alguém atras dele. Estremecendo, voltou-se e viu um peregrino segurando na mio um espelho de prata. — Para qual rei? — perguntou 0 reizinho, muito palido. — Olhe para este espelho. Ao ver © proprio rosto no espelho, o reizinho deu um grito e despertou. O Sol iluminava 0 quarto, ¢ OS passati- nhos cantavam no jardim. Os altos funcionarios da corte entraram no aposent, curvando-se diante do monarca, Os pajens trouxeram-lhe 58 ini an silent testa ‘ a veste tecida de ouro ¢ apresentaram-lhe a coroa ¢ 0 cetro. Eram as coisas mais belas que tinha visto. — Nao usarei nada disso; levem tudo daqui! Ficaram todos espantados. Chegaram a rir, pensando que o rei estivesse brincando. — Levem isso daqui! Nao usarei esta veste, tecida no tear da tristeza pelas mos brancas da dor. Hé sangue no co- ragio do rubi ¢ morte no coragdo da pérola: nao usarei coroa nem cetro. E contou-lhes os sonhos que tivera. Os cortesios, de- pois de ouvi-lo, comesaram a cochichar: — Deve ter ficado louco. Um sonho nao passa de um sonho, Nao € coisa real, nfo pode preocupar ninguém. Nao temos nada com a vida daqueles que trabalham para nés. E preciso ver 0 camponés que semeia o trigo para comer 0 pio? E 0 Grande Conselheiro dirigiu-se ao rei: _— Meu senhor, rogo-vos que ponhais de lado esses ne- gtos pensamentos, que envergueis 0 vosso belo traje e que coloqueis essa coroa em vossa cabega. Pois como 0 povo poderd saber que sois um rei, se nfo estiverdes vestido como um rei? — verdade? Nao me reconhecero se eu nao estiver vestido como um rei? —E verdade. — Pois eu pensava que havia homens com aparéncia de rei... Talvez esteja errado. De qualquer forma, nao usarei essa veste nem cingirei essa coroa. Como vim para © pala- io, assim sairei dele. Mandou que todos se retirassem, menos um pajem que escolhera para companheiro, quase da sua idade. Tirou da 39 © Principe Feliz ¢ outros contos arca a tunica de couro ¢ a capa grosseira de pele de car. neiro. Vestiu-se de pastor e empunhou o cajado. O pajem arregalou os olhos azuis ¢ disse-lhe, sorrindo: — Majestade, tendes a tinica e 0 cetro, mas onde esta a coroa? O reizinho cortou um ramo de roscira silvestre e o en- rolou na cabega. — Pois também nio me falta a coroa E assim dirigiu-se ao salio nobre, onde o esperavam os fidalgos, que se riram do seu aspecto. Comentou um deles: — Majestade, 0 povo aguarda o rei ¢ vs Ihe mostrais um mendigo. Outro declarou, indignado: — Este rapaz enche de vergonha o nosso pais ¢ é in- digno de ser 0 soberano. Sem dizer nada, 0 reizinho desceu a escadari , transpds © portao de bronze, montou no seu cavalo e dirigiu-se 4 catedral, seguido pelo pajem. O povo ria, dizendo: — Deve ser 0 bobo da corte. — Sou o proprio rei. E, refreando 0 cavalo, contou-lhes os trés sonhos que tvera, Um homem adiantou-se na multidio e falou-lhe em tom severo: — Majestade, nao sabeis que a vida dos pobres de- pende do luxo dos ricos? E da vossa pompa que nos ali- mentamos. E duro trabalhar para um senhor, mas no ter um senhor é mais duro ainda. Portanto, voltai para 0 vos- © palicio, vesti a vossa piirpura. Que vos importam 05 nossos sofrimentos? 60 O revzinh — Os ricos ¢ os pobres nio sio irmios? — perguntou o rei. _ Sio — respondeu o homem —, ¢ 0 nome do irmao rico é Caim. Os olhos do reizinho ficaram cheios de lagrimas, ¢ ele continuou a marcha entre murmtiios do povo. O pajem, amedrontado, fugiu. Quando chegou ao adro da catedral, os soldados er- gueram as armas ¢ disseram: — Por esta porta s6 pode entrar o ret. Vermelho de célera, ele replicou: — O rei sou eu. — E, afastando as armas, entrou. O bispo, a0 vé-lo chegar vestido de pastor, levantou-se. espantado: — Meu filho, é esta a indumentiria de um rei? Hoje deveria ser para vés um dia de gléria, e nao de humilhagio. — Pode a Gléria usar o que a Dor fabricou? — per- guntou o rei, contando-lhe em seguida os trés sonhos. O bispo franziu a testa: _— Meu filho, sou um velho, jé no inverno dos meus dias, e sei que hd muita maldade do mundo. Ha ladrées que roubam e vendem criangas. Os ledes devoram os ca- melos das caravanas; as raposas comem as uvas das en- costas; os piratas incendeiam os barcos dos pescadores; os mendigos andam pela cidade e comem com os cies. Podeis impedir que tudo isso acontega? Acolhereis o leproso na vossa cama? Sentareis o mendigo a vossa mesa? O leio cumprira as vossas ordens? Aquele que fez a mis¢ria nio seré mais sabio do que vos. Nao vos louvo: mando-vos que volteis ao palacio. Com uma expresso alegre no ros- . - , : ©, vestireis os trajes reais, e eu colocarei em vos: ol Principe Feliz ¢ outros contos a coroa de ouro, ¢ em vossa mio 0 cetto de pérolas. Nig pen: masiado — O senhor diz isto na casa de Deus? — replicou o reizinho. E, passando pelo bispo, subiu os degraus do al- tar ¢ ajoelhou-se diante da imagem de Cristo. seis mais em vossos sonhos. O peso deste mundo é de. para que um sé homem o suporte. Os cirios queimavam junto do sacrario engastado de jdias e 0 fumo do incenso subia. De stibito, chegou da rua o rumor de um tumulto, Os nobres entraram no templo de espada na mio e escudos de aso polido. — Onde esta o sonhador? — perguntaram. — Onde esta esse rei que se veste de mendigo, humilhando-nos a todos? Temos de mata-lo! De novo 0 reizinho baixou a cabega e rezou. Termina- da a ora¢io, levantou-se, olhando para eles com tristeza. E eis que a luz do Sol, entrando pelos vitrais, teccu em torno do reizinho uma roupagem mais bela ainda que as vestes reais. © ramo silvestre floresceu, coroando-lhe a cabega de rosas mais rubras do que os rubis. Do cajado nasceram lirios mais brancos do que as pérolas. E li ele ficou, vestido de rei, e as portas do sacrario se abriram, ¢ no ostensério brilhou uma luz deslumbrante ¢ divina. E lf ele ficou, vestido de rei, ¢ a gloria de Deus tomou conta do espaco, e os santos nos nichos pareciam ter vida. E lé ele ficou, vestido de rei, diante de todos, e © 6rgio Tessoou, e as trombetas retiniram, e os meninos do coro cantaram, E © povo caiu de joelhos, estarrecido, e oS nobres guardaram as espadas, em submissao. a2 \ inho — Alguém maior do que eu vos coroou — disse o bis- po, trémulo, ajoclhando-se. Eo reizinho desceu do altar e seguiu para o palacio por entre a multiddo. Mas ninguém teve a coragem de fitar-lhe a face, que parecia a face de um anjo. 63

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